UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO E SISTEMAS PERSPECTIVA DO USO DO BAGAÇO DA CANA-DE-AÇÚCAR PARA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA JEISON MÁRCIO BITTENCOURT JOINVILLE – SC – BRASIL 2008 1 UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO E SISTEMAS JEISON MÁRCIO BITTENCOURT PERSPECTIVA DO USO DO BAGAÇO DA CANA-DE-AÇÚCAR PARA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA Trabalho de graduação apresentado a Universidade do Estado de Santa Catarina como requisito parcial para a obtenção do título de Engenheiro de Produção e Sistemas. Orientador: Lírio Nesi Filho JOINVILLE – SC – BRASIL 2008 2 JEISON MÁRCIO BITTENCOURT PERSPECTIVA DO USO DO BAGAÇO DA CANA-DE-AÇÚCAR PARA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA Trabalho aprovado como requisito parcial para a obtenção do título de Engenheiro, no curso de Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas da Universidade do Estado de Santa Catarina. Banca examinadora Orientador _____________________________________ Professor Lírio Nesi Filho, Dr. Membro _____________________________________ Professor Adalberto José Tavares Vieira, Dr. Membro _____________________________________ Professor Valdésio Benevenutti, M. Sc. Joinville, 15 de outubro de 2008 3 A minha esposa Tatiane, e filha Janaína, pelo apoio, paciência e abdicação de parte da minha presença durante estes cinco anos. Aos amigos conquistados na universidade, em especial ao Sérgio Teixeira e Mayara Sombrio pelo apoio e incentivo na continuidade dos estudos. 4 JEISON MÁRCIO BITTENCOURT PERSPECTIVA DO USO DO BAGAÇO DA CANA-DE-AÇÚCAR PARA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA RESUMO Este trabalho visa comentar as diversas possibilidades de geração de energia elétrica alternativa e renovável, mencionado as vantagens e desvantagens de cada matriz, a tecnologia de aproveitamento e os processos de conversão. Serão apresentados exemplos de geração alternativa aplicada em outros países da Europa, que buscam diversificar a geração de energia elétrica desde 1970. Será abordado a política energética adotada no Brasil, e as mudanças que estão ocorrendo visando diversificar a matriz energética, dispondo assim, incentivos do governo para a implantação de usina de cogeração de energia elétrica alternativa. É feito a comparação da energia existente no bagaço da cana-de-açúcar e o barril do petróleo relacionando o custo de cada combustível. A metodologia utilizada para o trabalho foi dividida em quatro fases, a seleção e formulação do problema, a coleta e interpretação dos dados, um estudo de caso e a interpretação dos resultados encontrados. Dessa forma, o presente trabalho pretende contribuir no debate acerca da promoção da fonte de geração de energia elétrica através da biomassa, usando um estudo de caso da empresa USACIGA, que aproveita o bagaço da cana-de-açúcar para gerar energia, e consequentemente diversifica a matriz produtiva, aufere uma boa fonte de renda, minimiza o impacto ambiental provocado pela empresa e promove o desenvolvimento sustentável da sociedade. Palavras-chave: Cogeração. Energia Elétrica. Biomassa. Desenvolvimento Sustentável. 5 SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS ...................................................................................................... 07 LISTA DE TABELAS ..................................................................................................... 08 LISTA DE ABREVIATURAS ........................................................................................ 09 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 11 1.1. DESCRIÇÃO DO PROBLEMA ................................................................................ 13 1.2. OBJETIVO GERAL ................................................................................................... 13 1.3. OBJETIVO ESPECÍFICO .......................................................................................... 14 1.4. JUSTIFICATIVA ....................................................................................................... 14 1.5. DELIMITAÇÃO DO TRABALHO ........................................................................... 14 1.6. ESTRUTURA DO TRABALHO ............................................................................... 15 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................................. 16 2.1. ENERGIA ALTERNATIVA ...................................................................................... 16 2.2. FONTES DE ENERGIA ALTERNATIVA ............................................................... 17 2.3. VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS FONTES RENOVÁVEIS .................... 19 2.4. ENERGIA TÉRMICA BIOMASSA ........................................................................... 21 2.4.1. Sistemas de Co-Geração da Biomassa ..................................................................... 23 2.4.1.1. Usinas de Açúcar a Álcool ................................................................................... 23 2.4.1.2. Indústria de Papel e Celulose ................................................................................ 25 2.4.1.3. Outras Indústrias ................................................................................................... 25 2.4.2. Disponibilidade de Recursos e Consumo de Biomassa ........................................... 26 2.4.3. Tecnologias de Aproveitamento .............................................................................. 32 2.5. INCENTIVOS A ENERGIA ALTERNATIVA ......................................................... 35 2.5.1 Programa de Incentivo às Fontes Alternativas – PROINFA ..................................... 40 2.5.2. Crédito de Carbono .................................................................................................. 41 6 3. METODOLOGIA DA PESQUISA ............................................................................. 44 4. USO DO BAGAÇO DA CANA-DE-AÇÚCAR PARA GERAR ENERGIA .......... 48 4.1. MERCADO DE ENERGIA ........................................................................................ 48 4.1.1. Ambientes de Contratação de Energia ..................................................................... 49 4.1.2. Relações Contratuais ................................................................................................ 50 4.2. ESTUDO DE CASO DA USACIGA .......................................................................... 53 4.2.1. A Empresa ................................................................................................................ 53 4.2.2. Investimentos na Cogeração ..................................................................................... 55 4.2.3. Capacidade de Geração ............................................................................................ 57 4.2.4. Retorno de Investimento .......................................................................................... 58 4.2.5. Seguros, Garantias e Mecanismos Mitigadores do Risco ........................................ 58 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 61 REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS............................................................................... 64 ANEXO ............................................................................................................................. 68 7 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Diagrama de Fontes de Energias ....................................................................... 18 Figura 2 – Potencial Sucroalcooleiro de geração no Brasil ................................................ 24 Figura 3 – Potencial de geração de Energia com Resíduo Agrícola na Região Sul ........... 26 Figura 4 – Potencial de geração de energia elétrica a partir do óleo de palma (dendê) ..... 30 Figura 5 – Potencial de geração de energia elétrica a partir da casca de arroz .................. 30 Figura 6 – Potencial de geração de energia elétrica a partir da casca de castanha de caju . 31 Figura 7 – Potencial de geração de energia elétrica a partir da casca de coco-da-baía ...... 31 Figura 8 – Diagrama dos Processos de Conversão Energética da Biomassa ..................... 32 Figura 9 – Evolução da Geração de Fontes de Energia Renovável na Alemanha ............. 39 Figura 10 – Fases dos Métodos de Pesquisa ...................................................................... 47 Figura 11 – Ambiente de Contratação ................................................................................ 49 Figura 12 – Mapa das Relações Contratuais ...................................................................... 51 Figura 13 – Instalações Parciais da Empresa ..................................................................... 53 Figura 14 - Preparação do Bagaço para Incineração na Caldeira ...................................... 55 Figura 15 – Subestação de Energia da Empresa USACIGA ............................................. 57 Figura 16 – Capacidade de Geração .................................................................................. 58 8 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Cenário Mundial das Fontes de Energia ............................................................ 19 Tabela 2 – Geração Alternativa – Vantagens e Desvantagens ........................................... 20 Tabela 3 - Consumo de Biomassa ...................................................................................... 27 Tabela 4 – Metas individuais relativa à promoção de FER na União Européia ................. 37 Tabela 5 – Classificação dos Instrumentos de Políticas ..................................................... 38 Tabela 6 - Distribuição Regional de Projetos de Crédito Carbono no Brasil .................... 42 Tabela 7 – Recursos para implantação da usina de biomassa .......................................... 56 9 LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS. • ACL – Ambiente de Contratação Livre • ACR – Ambiente de Contratação Regulada • AIE – Agência Internacional de Energia • ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica • AVD – Aviso de Débito • BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento • CCVE – Contrato de Compra e Venda de Energia • CENBIO – Centro Nacional de Referência em Biomassa • CO2 – Gás Carbônico • SOx – Óxido de Enxofre • CUST – Condição do Uso do Sistema de Transmissão • ELETROBRÁS – Centrais Elétricas Brasileiras • FER – Fonte de Energia Renovável • GW – Gigawatts • GW/h – Gigawatts por hora • IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente • IGCC – Integrated Gasification Combined Cicle – Gaseificação Integral do Ciclo Combustão • IGPM – Índice Geral de Preços no Mercado • Kcal – Quilocalorias • Kg – Quilograma • KW – Quilowatts • KW/h – Quilowatts por hora 10 • MW – Megawatts • MW/h – Megawatts por hora • MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo • MME – Ministério de Minas e Energia • ONS – Operador Nacional do Sistema • PCHs – Pequenas Centrais Hidrelétricas • PLD – Preço de Liquidificação Diferenciada • PNE – Plano Nacional de Energia • PNPB – Programa Nacional de Produção e Uso do Biogás • PROINFA – Programa de Incentivo às Fontes Alternativas • SIN – Sistema Interligado Nacional • Ton – Toneladas • UFPR – Universidade Federal do Paraná • UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro • USACIGA – Usina Cidade Gaúcha 11 1. INTRODUÇÃO A preocupação mundial sobre os níveis de emissões de poluentes, ocasionados por um crescente consumo de combustíveis fósseis para produção de energia, e o conseqüente impacto à base de recursos do planeta e ao clima global, trouxeram a tona o papel das fontes de energia renovável para a construção de um futuro energético mais sustentável. Aliado a isso, as discussões, que vem ocorrendo desde á década de 90, sobre a necessidade de garantir o acesso à energia elétrica de qualidade aos pobres nos países em desenvolvimento, vem estimulando reflexões de como alcançar isso sem degradar o meio ambiente. Neste sentido, vários organismos e iniciativas internacionais vem apoiando sistematicamente uma maior penetração de fontes de energia renovável. A política energética no Brasil é baseada principalmente em geração de energia elétrica através de hidrelétricas, haja vista o enorme potencial energético que o país possui. Porém nos últimos anos os questionamentos sobre a permanência desta política vem causando grande discussão. Em 2001 após uma longa estiagem e a falta de investimentos em geração de energia ocorreu um apagão deixando sete estados brasileiros sem energia e forçando um racionamento sem precedentes. Desde o acontecimento até hoje pouca coisa foi feita para que este fato não mais ocorra, e neste trabalho será abordado estes assuntos e a sugestão de aplicação de tecnologias em geração alternativa, utilizando o bagaço da cana-de-açúcar. As hidrelétricas são responsáveis por grande parte da geração no Brasil, sendo destas a usina de Itaipu a maior do mundo, gerando mais de 20% da energia consumida no Brasil e 95% da energia consumida no Paraguai. Este tipo de geração é o que apresenta o menor custo e menor impacto ambiental, apesar da construção das barragens e os alagamentos para a formação do lago que se fazem necessária para a contenção da água que fornecerá energia potencial e cinética para ser transformada em energia elétrica. O maior problema enfrentado, neste caso, é a liberação das licenças ambientais dos órgãos competentes para a construção das hidrelétricas, que além de demorarem, a maioria são negadas, tornando-se um obstáculo para o governo, que tem que correr contra o tempo, para que em 2009 ou 2010, não haja um novo apagão. Nesse confronto, o governo usa como alternativa a diversificação da matriz energética, recorrendo a planos que contemplam fontes polêmicas como a energia nuclear e a térmica a carvão, óleo e gás, existem 3,3 mil megawatts do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA) para energias renováveis, como a eólica (ventos), biomassa e pequenas centrais hidrelétricas. 12 Nas décadas de 60 e 70 a fumaça negra expelida pela chaminé das fábricas era tida como o principal vilão ambiental. Símbolo da evolução industrial. A poluição era sempre analisada de forma local, havia cidades limpas, pouco ou muito poluídas. A intensidade da poluição era diretamente proporcional ao grau de industrialização e número de veículos. Hoje, a forma de enxergar a poluição e o impacto ambiental causado por ela é bem mais clara e abrangente. Se por um lado houve uma diminuição das emissões locais, devido ao avanço da tecnologia sobre indústrias e veículos, por outro lado, a descoberta do efeito estufa obrigounos, em curto espaço de tempo, a mudar radicalmente alguns procedimentos seculares na utilização de energia, produção de alimentos, descarte de resíduos e preservação de florestas. Grande parcela das emissões de gás carbônico (CO2) – responsável por 80% do efeito estufa – são provenientes da geração de energia elétrica, produzida a partir de combustíveis fósseis. Faz-se, portanto necessário substituir a fonte primária fóssil, por energia renovável, e, entre as renováveis, a biomassa tem um local de destaque no Brasil. A biomassa residual já existente em indústrias de açúcar e álcool, papel e celulose, produção de madeira e beneficiamento de arroz. O aumento do custo da energia, tornou mais atraente a utilização do bagaço da cana-de-açúcar para cogeração de energia. Como ainda o país está no alvorecer do processo, existe um grande espaço de melhoria tecnológica para maximizar a eficiência da cogeração na cadeia da cana-de-açúcar. Inicialmente, o bagaço, que significa 25% a 30% do peso da cana-de-açúcar processada com 50% de umidade, foi utilizado nas usinas para geração de calor, substituindo a lenha. Apenas recentemente o bagaço vem sendo utilizado para gerar vapor, com grande flexibilidade para ser transformado em formas de energia como calor, eletricidade ou tração. Outro fator que incentiva é a autorização do consumidor livre em adquirir o excedente de eletricidade de autoprodutores. Além disso, existe o produtor independente de energia, conceituado como a pessoa jurídica, ou empresas reunidas em consórcio, que recebem concessão ou autorização para produzir energia elétrica destinada ao comércio, podendo ser vendida parte ou toda a energia produzida. Com este enfoque será feito o estudo da USACIGA (Usina Cidade Gaúcha), empresa do setor sucroalcooleiro, que possui capacidade de exportação de energia elétrica de mais de 40 MWh, através do processo de co-geração de energia elétrica a partir da queima do bagaço da cana-de-açúcar. Essa energia é suficiente para abastecer uma cidade de mais de 100 mil habitantes. Portanto este trabalho pretende contribuir para o uso do bagaço da cana-de-açúcar para gerar energia elétrica. 13 1.1. DESCRIÇÃO DO PROBLEMA O Brasil é um País reconhecidamente produtor de energia limpa devido a grande participação de hidroeletricidade na matriz energética. No entanto, o uso de geração de energia elétrica novas e renováveis, como PCH (Pequenas Centrais Hidrelétricas), eólica, solar e biomassa é considerado pequeno em relação ao potencial existente. Para exemplificar pode-se citar a situação do grande potencial hídrico brasileiro, no entanto hoje somente 26% desse potencial são utilizados, e levando em consideração que o custo deste tipo de geração é relativamente baixo. O grande marco para o setor veio com o incentivo em 2002 com a aprovação da Lei 10.438 (Brasil, 2002), que criou o PROINFA (Programa de Incentivo as Fontes Alternativas de Energia), fixando metas para a participação das fontes de energia renovável no SIN (Sistema Interligado Nacional). Com a posse do novo governo, em 2003, maior foco foi dado à universalização do acesso, com a criação do programa “Luz para Todos”. Além disso, uma das prioridades do novo governo empossado passou a ser a implantação do “Novo Modelo do Setor Elétrico” (que foi lançado em Março de 2004), aumentando o papel regulador do estado e modificando o quadro regulatório brasileiro. Nesse novo contexto do setor elétrico, o PROINFA, que previa duas fases distintas de promoção das fontes renováveis, ficou com a segunda fase comprometida, pois é incerto como se dará a contratação dessas fontes dentro do Novo Modelo e qual será o papel dessas fontes dentro da política do setor elétrico, uma vez que a preocupação principal é a redução dos custos e a modicidade tarifária. Torna-se assim evidente, que a promoção das fontes novas e renováveis de energia no Brasil, ainda carece de um enfoque no planejamento e de marcos regulatórios, que permitam sua expansão sem comprometer a confiança na continuidade da política, assim como resolva o problema dos custos mais elevados e de financiamento. 1.2. OBJETIVO GERAL Diante do exposto, o presente trabalho pretende contribuir em promover o uso do bagaço da cana-de-açúcar para geração de energia elétrica, visando o desenvolvimento sustentável da sociedade. 14 1.3. OBJETIVO ESPECÍFICO O objetivo do estudo é promover a geração de energia elétrica através de fontes renováveis, propondo-se a avaliar e analisar os principais instrumentos de políticas adotados pelo governo brasileiro, examinando o desenvolvimento do uso de fontes limpas na geração de eletricidade. Destacar o desenvolvimento de sistema de aproveitamento do bagaço da cana-deaçúcar para a produção de energia elétrica através da queima deste insumo. Divulgar a atividade de comercialização de energia, fornecendo conhecimento sobre leis e contratos disponíveis para o setor. Fornecer dados quantitativos referente ao insumo necessário para gerar energia elétrica, os custos de investimento e o retorno financeiro que este empreendimento fornecerá. 1.4. JUSTIFICATIVA A produção de energia elétrica em larga escala a partir da biomassa é um tema que vem sendo estudado, com grande interesse, em vários países do Mundo. Esse interesse deve ser atrelado á dois fatores: • A geração de energia através da biomassa têm um ciclo de Carbono praticamente fechado, configurando pouca emissão de SOx, eliminando-se menos cinza residual em comparação com o de carvão mineral; • A conveniência da redução da dependência dos combustíveis fósseis e, em especial, aos derivados de petróleo, que emitem gás que agride ao meio ambiente. 1.5. DELIMITAÇÃO DO TRABALHO O presente trabalho terá como enfoque principal a utilização do bagaço da cana-deaçúcar na produção de energia elétrica, usando um estudo de caso de uma empresa sucro alcooleira, situada no estado brasileiro do Paraná. 15 1.6. ESTRUTURA DO TRABALHO O trabalho é dividido em capítulos, além das considerações finais, referências bibliográficas e anexo. No primeiro capítulo apresenta-se a introdução da pesquisa, envolvendo a descrição do tema, identificação do problema, objetivos, justificativas e delimitação do estudo. No segundo capítulo discute-se a fundamentação teórica com ênfase na energia alternativa e os incentivos do governo brasileiro. No terceiro capítulo destaca-se a metodologia utilizada no desenvolvimento da pesquisa. No quarto capítulo descreve-se sobre a biomassa e contribuições do trabalho. Finaliza-se o estudo com as considerações finais, referências bibliográficas e anexos. 16 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1. ENERGIA ALTERNATIVA Segundo Facioli (2008), na atualidade são cada vez maiores as necessidades energéticas para a produção de alimentos, bens de consumo, bens de serviço e de produção, lazer, e finalmente para promover o desenvolvimento econômico, social e cultural. É assim, evidente a importância da energia não só no contexto das grandes nações industrializadas, mas principalmente naquelas em via de desenvolvimento, cujas necessidades energéticas são ainda mais dramáticas e prementes. As fontes alternativas de energia vem através dos tempos ganhando mais adeptos e força no seu desenvolvimento e aplicação, tornando-se uma alternativa viável para a atual situação em que o mundo se encontra, com as crises de petróleo, pela dificuldade de construção de centrais hidroelétricas, termoelétricas, carvão mineral, xisto, usinas nucleares e outras formas de energia suja, como são classificadas, em via de que a utilização destas geram uma grande degradação ambiental, do ponto de vista social, econômico e humano. Estes acontecimentos tem de certa forma, fortalecido o movimento em busca de novas fontes alternativas de energia. O termo fonte alternativa de energia não deriva apenas de uma alternativa eficiente, ele é sinônimo de uma energia limpa, pura, não poluente, a principio inesgotável e que pode ser encontrada em qualquer lugar pelo menos a maioria na natureza. O Brasil dispõe de fontes de recursos naturais abundantes, grande potencial energético, tecnologia e expertise comprovada para ampliar suas fontes renováveis de energia. Enquanto os países desenvolvidos utilizam 14% de fontes renováveis em suas matrizes, o Brasil utiliza 45% e deve elevar o patamar a quase 47 %, conforme previsão do PNE (Plano Nacional de Energia) 2030. Os programas de álcool, biodiesel e às fontes alternativas de energia se consolidam num momento de desenvolvimento sustentável da economia (LOBÃO, 2008). Viana (2008) afirma que a energia de biomassa deve ocupar um papel crescente nesta matriz, particularmente como combustível, e o álcool na substituição das fontes fósseis que movem as frotas mundiais de automóveis. Com o programa mais bem sucedido de produção de energia via biomassa (Proálcool), o Brasil tende a ser beneficiado com o aumento das exportações para países como Estados Unidos e Japão; segundo estimativas, 1% de álcool introduzido na mistura de combustível nestes países, equivale a 50% da produção brasileira. O Brasil pode, portanto, contar com um amplo mercado de biocombustível, principalmente à 17 medida que se amplie a demanda de álcool dos Estados Unidos e diminuam os seus subsídios aos produtores internos. O Brasil produz 41% da produção mundial de etanol e exporta apenas 690 milhões de galões de álcool por ano. Estima-se que o Brasil poderia, em 2013, atender uma demanda mundial de 4,4 bilhões de litros anuais (VIANA, 2008). 2.2. FONTES DE ENERGIA ALTERNATIVA Falar de energia, isoladamente, sem citar de qual fonte ela provém, qual a sua natureza e em que estado - sólido, líquido ou gasoso - ela se encontra disponível, muito pouco ou quase nada terias de conhecimento sobre ela. De acordo com Silva (2004) a vida sobre a Terra interagiu com três fontes primárias de energia, a saber: Fonte Solar, Fonte Geotérmica e Fonte Gravitacional. Todas as três são fontes renováveis de energia, ou seja, fontes eternas produtoras de energia. É importante observar que as Fontes Primárias de Energia, apresentam-se disponíveis aos seres vivos na forma ou estado, que os ciclos da natureza oferece e determina . A figura 1 mostra que no primeiro caso é a fonte solar que contribui com a formação da biomassa, com o movimento das águas (ciclos pluviométricos e rios), com a formação dos ventos (ciclos climáticos) e com o movimento dos oceanos (ondas e marés). No segundo caso, a fonte gravitacional, altamente instável, porém, dinâmica, influi nos ciclos climáticos das águas (evaporação e chuvas), na atividade eólica (formação e deslocamento das massas de ar e ventos) e atua também nos movimentos naturais dos oceanos. No terceiro caso, a Fonte Geotérmica, que produz calor irradiado do centro da Terra, e em casos extremos se apresenta ao mundo exterior na forma de vulcões e fontes de gêiser (fontes térmicas de líquidos e gases acompanhados de altas pressões (SILVA, 2004). 18 Figura 1 – Diagrama de Fontes de Energias Fonte: Silva (2004) Com a evolução dos tempos a humanidade passou a relacionar-se com a natureza através de outras quatro fontes secundárias renováveis de energia. A energia dos oceanos (mareomotriz), a energia dos ventos (eólica), a energia hidráulica (deslocamentos e/ou quedas das águas – centrais hidrelétricas) e a energia da biomassa, composta pelas seguintes fontes secundárias – madeira, cana-de-açúcar, resíduos agrícola, carvão vegetal, óleos vegetais e biogás (este proveniente de processos de fermentação do tipo aterros sanitários). Das fontes secundárias de energia, o destaque fica para a utilização intensa pelo homem da energia hidráulica, disponível nas regiões de grandes bacias hídricas formadas por grandes, médios e pequenos rios, além de quedas d’água. Em confronto com o conjunto das energias primárias e secundárias renováveis, o uso da energia nuclear, que também é uma fonte primária de energia que produz calor através de reatores atômicos alimentados por elementos radiativos processados como urânio e plutônio, a fonte nuclear de energia é uma fonte não renovável. O outro grupo importante de fontes de energia não renovável é o grupo das fontes secundárias não renováveis de energia, composto pelo petróleo (e seus derivados), gás natural, 19 carvão mineral, xisto e turfa. Grupo este proveniente da biomassa fóssil que se armazenou e se transformou no subsolo terrestre. Silva (2004) destaca, que a opção feita pelo homem pelo uso intenso do petróleo e seus derivados, do carvão mineral e do gás natural deu como conseqüência o altíssimo grau de poluição ambiental no qual o mundo está mergulhado hoje, apesar de que estas fontes de energia sustentaram até o presente o desenvolvimento tecnológico mundial. Como se fosse castigo do destino, tem-se hoje um preocupante fato relevante que é o aquecimento global, também conhecido como “efeito estufa”. Com as dificuldades encontradas para a geração de energia hidráulica e com o aquecimento global que as térmicas provocam, fontes de geração alternativa já estão sendo aplicadas tanto no âmbito nacional como internacional. A tabela 1 mostra as gerações mais utilizadas nos continentes, demonstrando que grande parte da energia gerada no mundo é do tipo térmica, isto é, através da queima do petróleo, carvão, nuclear e a gás. A geração hídrica é mais utilizada somente na América Latina, onde há mais abundância de rios com potencial. Área Analisada Energia Petróleo Carvão Nuclear Hidro Gás América do Norte 2158 40 23 7 4 26 Europa Ocidental 1384 46 22 12 2 18 CEI e Europa Oriental 1607 30 25 4 2 39 Ásia 1619 38 49 5 2 6 Oceânia 101 36 41 - 3 20 África e Oriente Médio 422 49 33 1 2 15 América Latina 517 38 26 2 10 24 Total Global 7808 40 28 7 3 22 Obs.: Unidade de referência = Milhões de toneladas métricas de equivalente petróleo (MtEP) e participação por fonte de energia (%). Tabela 1 - Cenário Mundial das Fontes de Energia Fonte: CENBIO (2008) 2.3. VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS FONTES RENOVÁVEIS Nesse contexto, nossa matriz energética passa por profundas e promissoras mudanças. A tabela 2 mostra as vantagens e desvantagens das principais fontes de geração de energia elétrica alternativa disponível. 20 Fonte Vantagens Desvantagens Carvão Barato. Nuclear O combustível é barato; É a fonte mais concentrada de geração de energia; O resíduo é mais compacto de todas as fontes; Base cientifica extensiva para todo o ciclo; Nenhum efeito estufa ou chuva ácida; Muito barato após a represa ser construída; Investimento considerável do governo. Hidroelétrica Gás/óleo Fácil de obter; Melhor fonte de energia aquecimento de espaços. para Requer controles de alto custo de poluição do ar (por exemplo mercúrio e dióxido de enxofre); Contribuinte significativo a chuva ácida e aquecimento global; Requer um sistema extensivo de transporte. É a fonte de maior custo por causa dos sistemas de emergência, de contenção, de resíduos radioativos e de armazenamento; Requer uma solução a longo prazo para os resíduos armazenados em alto nível na maioria dos paises; Proliferação nuclear potencial. Fonte muito limitada, pois depende da elevação da água; As represas afetam os peixes que sobem o rio até a foz; Danos ambientais para as áreas inundadas. Disponibilidade muito limitada; Contribuinte principal para o aquecimento global; Grande oscilação dos preços conforme oferta e demanda. Necessita três vezes a quantidade de geração instalada para atingir a demanda; Limitado a poucas áreas; O custo de manutenção é alto; Necessita de armazenamento de energia de alto custo (por exemplo baterias); Altamente dependente do clima. Limitado às áreas ensolaradas; Requer materiais especiais para espelhos/painéis que pode afetar o meio ambiente; A tecnologia atual requer áreas grandes de terra para quantidades pequenas de geração de energia. Ineficientes se forem usadas plantas pequenas; Poderia ser um contribuinte significativo para o aquecimento global, pois o combustível tem baixo índice de contenção de calor; As cinzas podem conter metais como o cádmio e chumbo; Libera no ar e nas cinzas substancias tóxicas como dioxinas e furanas. O ponto rentabilidade ainda não foi alcançado após aproximadamente 40 anos de pesquisa de alto custo e as plantas comercialmente viáveis são esperadas daqui a 35 anos. Vento O vento é grátis se disponível; Boa fonte de geração para locais isolados como fazendas. Solar A luz solar é grátis se disponível. Biomassa O combustível pode ter baixo custo; Emissões baixas de dióxido de enxofre. Fusão O hidrogênio e o trítio podem ser usados como fonte de combustível; Geração mais elevada por unidade de massa do que na fissão; Níveis mais baixos de radiação associados ao processo do que em reatores baseados em fissão. Tabela 2 – Geração Alternativa – Vantagens e Desvantagens Fonte: Facioli (2008) 21 Observa-se na tabela 2, que a biomassa é uma boa opção para o setor energético, levando em consideração as tecnologias disponíveis e visando atender as necessidades básicas de consumo para a sociedade. 2.4. ENERGIA TÉRMICA BIOMASSA Através da fotossíntese, as plantas capturam energia do sol e transformam em energia química. Esta energia pode ser convertida em eletricidade, combustível ou calor. As fontes orgânicas que são usadas para produzir energias usando este processo são chamadas de biomassa (PORTAL SÃO FRANCISCO, 2008). Os combustíveis mais comuns da biomassa são os resíduos agrícolas, madeira e plantas como a cana-de-açúcar, que são colhidos com o objetivo de produzir energia. O lixo municipal pode ser convertido em combustível para o transporte, indústrias e mesmo residências. A produção de energia elétrica a partir da biomassa, atualmente, é muito defendida como uma alternativa importante para países em desenvolvimento e também outros países. Programas nacionais começaram a ser desenvolvidos visando o incremento da eficiência de sistemas para a combustão, gaseificação e pirólise da biomassa. Entre os programas nacionais bem sucedidos no mundo citam-se: • O PROÁLCOOl no Brasil; • Aproveitamento de biogás na China; • Aproveitamento de resíduos agrícolas na Grã – Bretanha; • Aproveitamento do bagaço de cana-de-açúcar nas Ilhas Maurício; • Coque vegetal no Brasil; Uma das principais vantagens da biomassa é que, embora de eficiência reduzida, seu aproveitamento pode ser feito diretamente, por intermédio da combustão em fornos e caldeiras. Para aumentar a eficiência do processo e reduzir impactos socioambientais, tem-se desenvolvido e aperfeiçoado tecnologias de conversão mais eficientes, como a gaseificação e a pirólise, também sendo comum a co-geração em sistemas que utilizam a biomassa como fonte energética. Pode-se observar a participação da biomassa em 30% dos empreendimentos de co-geração em operação no País. 22 A médio e longo prazo, a exaustão de fontes não-renováveis e as pressões ambientalistas poderão acarretar maior aproveitamento energético da biomassa. Atualmente, a biomassa vem sendo cada vez mais utilizada na geração de eletricidade, principalmente em sistemas de co-geração e no suprimento de eletricidade para demandas isoladas da rede elétrica. Segundo dados da Agência Internacional de Energia (AIE), divulgados no Brasil pelo Ministério de Minas e Energia (MME, 2008), em vinte anos, cerca de 30% do total de energia consumida pela humanidade será através da biomassa. Em geral, esse tipo de energia é limpa. Ou seja, não produz poluição nem se esgota e é renovável. Essa forma está crescendo rapidamente em todo o mundo. O governo federal está aproveitando a novidade para aumentar o incentivo à produção dessas novas fontes energéticas. A biomassa ou bioenergia é produzida através da combustão, gaseificação, fermentação ou produção de substâncias líquidas, a partir de material vegetal, entre eles diversos tipos de árvores (lenhas e carvão vegetal), alguns óleos vegetais (amendoim, girassol, soja e dendê), resíduos agrícolas, agroindustriais e urbanos (BIOENERGIA, 2008). Com a aprovação do Programa Nacional de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia (PROINFA), o País passa a investir pesado no desenvolvimento dessas novas energias. O professor e pesquisador da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Dimas Silva, destaca que no uso de biomassa para a produção energética o custo é mais baixo, já que são realizados com resíduos abundantes em todo o País. O Brasil, nesse sentido, é privilegiado em relação aos demais países. Ele é responsável por 1/4 de toda a produção vegetal mundial. Nesse tipo de produção se aproveita tudo e a maioria dos resíduos está em falta em vários países (CHUEIRE, 2008). Mas o professor alerta que, mesmo tendo grandes quantidades de resíduos, o potencial não é totalmente aproveitado. Segundo ele, apesar de ser a forma de energia mais popular, ainda falta um incentivo para que ela se desenvolva e atenda uma demanda de energia elétrica em grande quantidade. Ela ainda não é utilizada em larga escala, como deveria. Somente algumas empresas, como siderúrgicas, de papel e madeireiras, do Sul e Sudeste, por exemplo, aproveitam os resíduos (CHUEIRE, 2008). Um dos exemplos de usina termelétrica a base de biomassa está no Paraná: é a Ecoluz. A usina funciona em Guarapuava, no centro do Estado, e aproveita a madeira para produzir cerca de 10 mil kW/h (quilowatts por hora) de energia elétrica. 23 Aos poucos algumas iniciativas destacam a importância da renovação das fontes energéticas e utilizam á biomassa como combustível para a produção de energia elétrica. Os projetos mais elaborados e com menos custos são implantados em pequenas comunidades, distantes dos grandes centros urbanos. Um exemplo é o projeto desenvolvido pelo Centro Nacional de Referência em Biomassa (CENBIO). O coordenador de pesquisas em óleos vegetais do CENBIO, Orlando Cristiano ressalta a evolução do processo que está sendo implantado em pequenas comunidades. O primeiro projeto implantado ocorreu na cidade de Moju, no Pará (CENBIO, 2008). O projeto Programa para geração de energia a partir de óleos vegetais na Amazônia foi realizado para o desenvolvimento e comercialização do sistema de geração de eletricidade, com tecnologia nacional, e de fácil operação e manutenção. Esse programa foi desenvolvido em parceria com a coordenação de engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Prefeitura de Moju. "A distribuição de eletricidade foi feita por meio do uso de geradores a diesel convencionais, adaptados para funcionar com óleo vegetal. O uso é fácil e qualquer morador da comunidade pode comandar as ações. Depois de instaladas, nós só acompanhamos os resultados para ver como está sendo feita a geração de energia. Esse tipo de produção de energia é o essencial para pequenos vilarejos, além de ter baixo custo" (CENBIO, 2008). 2.4.1. Sistemas de Co-Geração da Biomassa Os sistemas de co-geração, que permitem produzir simultaneamente energia elétrica e calor útil, configuram a tecnologia mais racional para a utilização de combustíveis, além de demandar potência elétrica e térmica, dispõem de combustíveis residuais que se integram de modo favorável ao processo de co-geração. A co-geração é usada em grande escala no mundo, inclusive com incentivos de governos e distribuidoras de energia. 2.4.1.1. Usinas de Açúcar a Álcool A produção elétrica nas usinas de açúcar e álcool, em sistemas de co-geração que usam o bagaço de cana-de-açúcar como combustível, é uma prática tradicional deste segmento, em todo o Mundo. O que diferencia seu uso é a eficiência com que o potencial do bagaço é aproveitado. 24 No Brasil, maior produtor mundial de cana-de-açúcar (Kitayama, 2008), a co-geração nas usinas de açúcar e álcool também é uma prática tradicional, produzindo-se entre 20 a 30 kWh por tonelada de cana-de-açúcar moída, como energia elétrica e mecânica, esta última usada no acionamento direto das moendas. A figura 2 mostra o potencial da geração excedente de energia elétrica no setor sucroalcooleiro. Figura 2 – Potencial Sucroalcooleiro de geração no Brasil Fonte: CENBIO (2008) A co-geração com bagaço irá certamente melhorar a economicidade da produção sucroalcooleira, aumentando a competitividade do álcool carburante. O bagaço volumoso é de difícil transporte, implicando em gasto adicional, tornando a geração de eletricidade na própria região da usina mais barata. Mais econômica é gerar eletricidade associada à geração de calor de processo para uso na usina, conservando-se energia (SEBRAE ,2005). A disponibilidade de combustíveis derivados do petróleo é superior a de bagaço de cana-de-açúcar, pois existe uma rede de distribuição de combustíveis em todo o país. Trata-se de substituir o óleo combustível pelo bagaço da cana-de-açúcar apenas em regiões onde há viabilidade. O conteúdo de energia do álcool produzido chega a 6,23 unidades para cada unidade de energia utilizada em sua fabricação (SEBRAE, 2005). 25 A forma mais eficiente e limpa de gerar energia elétrica com bagaço é através de tecnologias modernas, como a Integrated Gasification Combined Cicle (IGCC). O processo gaseifica o bagaço e o gás produzido alimenta a câmara de combustão de uma turbina a gás. Esta tecnologia possibilita o aproveitamento integral da cana-de-açúcar. 2.4.1.2. Indústria de Papel e Celulose Do mesmo modo que na indústria sucro-alcooleira, a produção de papel e celulose apresenta interessantes perspectivas para a produção combinada de energia elétrica e calor útil, tendo em vista suas relações de demanda de eletricidade e vapor de baixa/média pressão e a disponibilidade de combustíveis residuais de processo, como o licor negro e as cascas e resíduos de biomassa. A tecnologia de produção de celulose mais difundida no Brasil é o processo Kraft, que emprega uma solução de hidróxido de sódio/sulfito de sódio, o licor branco, para separar a celulose da matéria-prima lenhosa, na etapa denominada digestão. 2.4.1.3. Outras Indústrias Ainda podem ser citadas as agroindústrias que empregam este combustível em sistemas de co-geração, como é o caso de diversas unidades de processamento de suco de laranja no Estado de São Paulo, e resíduos agrícolas utilizados no sul do país, que adotam tecnologias bastante similares às usinas de açúcar e álcool, utilizando turbinas a vapor de contrapressão com tipicamente 21 bar e 280 °C como condições para o vapor vivo (CENBIO, 2008) No sul do país há um grande potencial a ser explorado como mostra a figura 3. 26 Figura 3 – Potencial de geração de Energia com Resíduo Agrícola na Região Sul Fonte: CENBIO (2008) Pode-se ainda citar neste contexto o aproveitamento de resíduos sólidos urbanos gerados à taxa média diária de 1 kg per capita – cada vez mais problemáticos quanto à sua disposição final, pois estes resíduos contém: • Material reciclável (vidro, metais, papel limpo, alguns plásticos); • Compostos biodegradáveis passíveis de serem convertidos em adubo orgânico. 2.4.2. Disponibilidade de Recursos e Consumo de Biomassa Embora grande parte da biomassa seja de difícil contabilização, devido ao uso nãocomercial, segundo a ANEEL (2008) estima-se que, atualmente, ela possa representar até 14% de todo o consumo mundial de energia primária. Em alguns países em desenvolvimento, essa parcela pode aumentar para 34%, chegando a 60% na África conforme demonstrado na tabela 3. 27 País ou Região Biomassa Outros Mundial 930 5.713 China 206 649 Leste Asiático 106 316 Sul da Ásia 235 188 América Latina 73 342 África 205 136 Países em Desenvolvimento 825 1.632 Países da OCDE 81 3.044 Tabela 3 – Consumo de Biomassa Fonte: ANEEL (2008) Total 6.643 855 422 423 415 341 2.457 3.125 Atualmente, várias tecnologias de aproveitamento estão em fase de desenvolvimento e aplicação. Mesmo assim, estimativas da Agência Internacional de Energia (AIE) indicam que, futuramente, a biomassa ocupará uma menor proporção na matriz energética mundial – cerca de 11% em 2020 (CENBIO, 2008). Segundo Kitayama (2008), a precariedade e a falta de informações oficiais, sobre o uso da biomassa, para fins energéticos, deve-se principalmente aos seguintes fatores: • Trata-se de um energético tradicionalmente utilizado em países pobres e setores menos desenvolvidos; • Trata-se de uma fonte energética dispersa, cujo uso, via de regra, é ineficiente; • O uso da biomassa para fins energéticos é indevidamente associado a problemas de desflorestamento e desertificação. Entretanto, essa imagem da biomassa está mudando, devido aos seguintes fatores: • Esforços recentes de mensuração mais acurada do seu uso e potencial, por meio de novos estudos, demonstrações e plantas-piloto; • Uso crescente da biomassa como um vetor energético moderno (devido ao desenvolvimento de tecnologias eficientes de conversão), principalmente em países industrializados; • Reconhecimento das vantagens ambientais do uso racional da biomassa, principalmente no controle das emissões de CO2 e enxofre. No Brasil, a imensa superfície do território nacional, quase toda localizada em regiões tropicais e chuvosas, oferece excelentes condições para a produção e o uso energético da biomassa em larga escala. Além da produção de álcool, queima em fornos, caldeiras e outros 28 usos não-comerciais, a biomassa apresenta grande potencial no setor de geração de energia elétrica. No caso específico do Estado de São Paulo, Miranda (2008) afirma que é intensa a produção de biomassa energética por meio da cana-de-açúcar, sendo comparável à produção de energia hidráulica. O Estado é importador de eletricidade (40% do que consome) e exportador de álcool para o resto do País. Verifica-se, portanto, que, apesar da produção de biomassa ser mundialmente considerada uma atividade extremamente demandante de terras, mesmo numa região com alta densidade demográfica é possível encontrar áreas para essa atividade. A maior parte da energia dessa biomassa é utilizada na produção do etanol – combustível líquido. A produção de madeira, em forma de lenha, carvão vegetal ou toras, também gera uma grande quantidade de resíduos, que podem igualmente ser aproveitadas na geração de energia elétrica. Os Estados brasileiros com maior potencial de aproveitamento de resíduos da madeira, oriunda de silvicultura, para a geração de energia elétrica são Paraná e São Paulo. O tipo de produção de madeira, atividade extrativista ou reflorestamento, influi na distribuição espacial dos resíduos gerados. Nos casos de extração seletiva e beneficiamento descentralizado, o aproveitamento de resíduos pode se tornar economicamente inviável. Atualmente, o recurso de maior potencial para geração de energia elétrica no País é o bagaço de cana-de-açúcar. A alta produtividade alcançada pela lavoura canavieira, acrescida de ganhos sucessivos nos processos de transformação da biomassa sucroalcooleira, têm disponibilizado enorme quantidade de matéria orgânica sob a forma de bagaço nas usinas e destilarias de cana-de-açúcar, interligadas aos principais sistemas elétricos, que atendem a grandes centros de consumo dos Estados das regiões Sul e Sudeste. Além disso, o período de colheita da cana-de-açúcar coincide com o de estiagem das principais bacias hidrográficas do parque hidrelétrico brasileiro, tornando a opção ainda mais vantajosa (KITAYAMA, 2008). Na produção de etanol, cerca de 28% da cana-de-açúcar é transformada em bagaço. Em termos energéticos, o bagaço equivale a 49,5%, o etanol a 43,2% e o vinhoto a 7,3%. Mesmo com esse alto valor energético, o bagaço é pobremente utilizado nas usinas, sendo praticamente incinerado na produção de vapor de baixa pressão (20 kgf/cm2). Esse vapor é utilizado em turbinas de contrapressão nos equipamentos de extração (63%) e na geração de eletricidade (37%). A maior parte do vapor de baixa pressão (2,5 kgf/cm2) que deixa as turbinas é utilizada no aquecimento do caldo (24%) e nos aparelhos de destilação (61%); o restante (15%) não é aproveitado (ANEEL, 2008). 29 A análise de Kitayama (2008), compara o preço do etanol ao petróleo da seguinte forma: Temos um trabalho no qual procuramos mostrar que em uma tonelada de cana-de-açúcar, um terço da energia primária está nos açúcares de caldo, que é usado para produzir açúcar e etanol. O outro um terço está no bagaço e o terceiro terço, na palha. A soma dos três terços corresponde a 1,718 milhão de quilocalorias. Potencialmente, dois terços do potencial de energia está na biomassa. Se compararmos 1,718 milhão de quilocalorias com um barril de petróleo (que tem 1,385 milhão de quilocalorias) significa que a energia primária em uma tonelada de cana-de-açúcar representa 120% da energia contida em um barril de petróleo. Um barril de petróleo, hoje, custa U$140,00. Uma tonelada de cana-de-açúcar está custando cerca de U$15,00 (KITAYAMA, 2008). Em média, cada tonelada de cana-de-açúcar processada requer cerca de 12 kWh de energia elétrica, o que pode ser gerado pelos próprios resíduos da cana-de-açúcar (palha, bagaço, vinhoto). Os custos de geração já são competitivos com os do sistema convencional de suprimento, o que possibilita a auto-suficiência do setor em termos de suprimento energético, por meio da co-geração (Kitayama, 2008). Em alguns Estados brasileiros, principalmente na Região Amazônica, verifica-se também a importância de várias plantas para a produção de óleo vegetal, que pode ser queimado em caldeiras e motores de combustão interna, para a geração de energia elétrica e o atendimento de comunidades isoladas do sistema elétrico. Entre essas plantas destaca-se o dendê, com produtividade média anual de 4 toneladas de óleo por hectare (dez vezes maior que a da soja, por exemplo) e a maior disponibilidade tecnológica para o uso do óleo. Outras culturas e grande potencial são o buriti, o babaçu e a andiroba, fartamente encontrados naquela região (CENBIO, 2008). A figura 4 apresenta uma estimativa do potencial para geração de energia elétrica a partir de óleo de palma (dendê). 30 Figura 4 – Potencial de geração de energia elétrica a partir do óleo de palma (dendê) Fonte: CENBIO (2008) Outros resíduos agrícolas também apresentam grande potencial no setor de geração de energia elétrica. Os mapas das Figuras 5, 6 e 7 ilustram os potenciais de aproveitamento da casca de arroz, da casca de castanha de caju e da casca de coco-da-baía, respectivamente. Figura 5 – Potencial de geração de energia elétrica a partir da casca de arroz Fonte: CENBIO (2008) 31 Figura 6 – Potencial de geração de energia elétrica a partir da casca de castanha de caju Fonte: CENBIO (2008) Figura 7 – Potencial de geração de energia elétrica a partir da casca de coco-da-baía Fonte: CENBIO (2008) 32 2.4.3. Tecnologias de Aproveitamento O aproveitamento da biomassa pode ser feito por meio da combustão direta (com ou sem processos físicos de secagem, classificação, compressão, corte/quebra), de processos termoquímicos (gaseificação, pirólise, liquefação e transesterificação) ou de processos biológicos (digestão anaeróbia e fermentação). A Figura 8 apresenta um diagrama relacionando as fontes de biomassa com os processos de conversão e o tipo energético de combustível resultante. Figura 8 – Diagrama dos Processos de Conversão Energética da Biomassa Fonte: CENBIO (2008) Segundo Costa (2006), as principais tecnologias de aproveitamento energético da biomassa são: Combustão direta: combustão é a transformação da energia química dos combustíveis em calor, por meio das reações dos elementos constituintes com o oxigênio fornecido. Para fins energéticos, a combustão direta ocorre essencialmente em fogões (cocção de alimentos), fornos (metalurgia, por exemplo) e caldeiras (geração de vapor, por exemplo). Embora muito prático, o processo de combustão direta é normalmente muito ineficiente. Outro problema da combustão direta é a alta umidade (20% ou mais no caso da lenha) e a 33 baixa densidade energética do combustível (lenha, palha, resíduos), o que dificulta o seu armazenamento e transporte. Gaseificação: como o próprio termo indica, gaseificação é um processo de conversão de combustíveis sólidos em gasosos, por meio de reações termoquímicas, envolvendo vapor quente e ar, ou oxigênio, em quantidades inferiores à estequiométrica (mínimo teórico para a combustão). Há vários tipos de gaseificadores, com grandes diferenças de temperatura e/ou pressão. Os mais comuns são os reatores de leito fixo e de leito fluidizado. O gás resultante é uma mistura de monóxido de carbono, hidrogênio, metano, dióxido de carbono e nitrogênio, cujas proporções variam de acordo com as condições do processo, particularmente se é ar ou oxigênio que está sendo usado na oxidação. A gaseificação de biomassa, no entanto, não é um processo recente. Atualmente, esse renovado interesse deve-se principalmente à limpeza e versatilidade do combustível gerado, quando comparado aos combustíveis sólidos. A limpeza se refere à remoção de componentes químicos nefastos ao meio ambiente e à saúde humana, entre os quais o enxofre. A versatilidade se refere à possibilidade de usos alternativos, como em motores de combustão interna e turbinas a gás. Um exemplo é a geração de eletricidade em comunidades isoladas das redes de energia elétrica, por intermédio da queima direta do gás em motores de combustão interna. Outra vantagem da gaseificação é que, sob condições adequadas, produz gás sintético, que pode ser usado na síntese de qualquer hidrocarboneto. Pirólise: a pirólise ou carbonização é o mais simples e mais antigo processo de conversão de um combustível (normalmente lenha) em outro de melhor qualidade e conteúdo energético (carvão, essencialmente). O processo consiste em aquecer o material original (normalmente entre 300°C e 500°C), na “quase-ausência” de ar, até que o material volátil seja retirado. O principal produto final (carvão) tem uma densidade energética duas vezes maior que aquela do material de origem e queima em temperaturas muito mais elevadas. Além de gás combustível, a pirólise produz alcatrão e ácido piro-lenhoso. A relação entre a quantidade de lenha (material de origem) e a de carvão (principal combustível gerado) varia muito, de acordo com as características do processo e o teor de umidade do material de origem. Em geral, são necessárias de quatro a dez toneladas de lenha para a produção de uma tonelada de carvão. Se o material volátil não for coletado, o custo relativo do carvão produzido fica em torno de dois terços daquele do material de origem (considerando o conteúdo energético). 34 Nos processos mais sofisticados, costuma-se controlar a temperatura e coletar o material volátil, visando melhorar a qualidade do combustível gerado e o aproveitamento dos resíduos. Nesse caso, a proporção de carvão pode chegar a 30% do material de origem. Embora necessite de tratamento prévio (redução da acidez), o líquido produzido pode ser usado como óleo combustível. Nos processos de pirólise rápida, sob temperaturas entre 800°C e 900°C, cerca de 60% do material se transforma num gás rico em hidrogênio e monóxido de carbono (apenas 10% de carvão sólido), o que a torna uma tecnologia competitiva com a gaseificação. Todavia, a pirólise convencional (300°C a 500°C) ainda é a tecnologia mais atrativa, devido ao problema do tratamento dos resíduos, que são maiores nos processos com temperatura mais elevada. A pirólise pode ser empregada também no aproveitamento de resíduos vegetais, como subprodutos de processos agroindustriais. Nesse caso, é necessário que se faça a compactação dos resíduos, cuja matéria-prima é transformada em briquetes. Com a pirólise, os briquetes adquirem maiores teores de carbono e poder calorífico, podendo ser usados com maior eficiência na geração de calor e potência. Ensaios de laboratório têm sido realizados no Laboratório de Combustíveis Alternativos da Universidade Estadual de Campinas. Digestão anaeróbia: a digestão anaeróbia, assim como a pirólise, ocorre na ausência de ar, mas, nesse caso, o processo consiste na decomposição do material pela ação de bactérias (microrganismos acidogênicos e metanogênicos). Trata-se de um processo simples, que ocorre naturalmente com quase todos os compostos orgânicos. O tratamento e o aproveitamento energético de dejetos orgânicos (esterco animal e resíduos industriais) podem ser feitos pela digestão anaeróbia em biodigestores, onde o processo é favorecido pela umidade e aquecimento. O aquecimento é provocado pela própria ação das bactérias, mas, em regiões ou épocas de frio, pode ser necessário calor adicional, visto que a temperatura deve ser de pelo menos 35°C. Em termos energéticos, o produto final é o biogás, composto essencialmente por metano (50% a 75%) e dióxido de carbono. Seu conteúdo energético gira em torno de 5.500 kcal por metro cúbico. O efluente gerado pelo processo pode ser usado como fertilizante. Fermentação: fermentação é um processo biológico anaeróbio em que os açúcares de plantas como a batata, o milho, a beterraba e, principalmente, a cana-de-açúcar são convertidos em álcool, por meio da ação de microrganismos (usualmente leveduras). Em termos energéticos, o produto final, o álcool, é composto por etanol e, em menor proporção, 35 metanol, e pode ser usado como combustível (puro ou adicionado à gasolina – cerca de 20%) em motores de combustão interna. Transesterificação: transesterificação é um processo químico que consiste na reação de óleos vegetais com um produto intermediário ativo (metóxido ou etóxido), oriundo da reação entre álcoois (metanol ou etanol) e uma base (hidróxido de sódio ou de potássio). Os produtos dessa reação química são a glicerina e uma mistura de ésteres etílicos ou metílicos (biodiesel). O biodiesel tem características físicoquímicas muito semelhantes às do óleo diesel e, portanto, pode ser usado em motores de combustão interna, de uso veicular ou estacionário. 2.5. INCENTIVOS A ENERGIA ALTERNATIVA As energias alternativas renováveis aparecem como solução para complementar as energias convencionais e responder de forma ecologicamente correta às demandas de populações mais distantes sem acesso à energia. Diante dessa necessidade, os governantes mundiais criaram vários programas, colocando em pauta o novo modelo do setor elétrico e o papel das energias alternativas nestes determinados países. Outro incentivo a energia alternativa veio através do crédito de carbono, criado com o Protocolo de Quioto e em vigor desde 2004. Criado em dezembro de 1997 na cidade de Quioto no Japão, que segundo o qual os países industrializados reduziriam suas emissões combinadas de gases de efeito estufa em pelo menos 5% em relação aos níveis de 1990 até o período entre 2008 e 2012. Esse compromisso, com vinculação legal, promete produzir uma reversão da tendência histórica de crescimento das emissões iniciadas nesses países há cerca de 150 anos (GREENPEACE, 2008). As metas de redução não são homogêneas a todos os países, colocando níveis diferenciados para os 38 países que mais emitem gases. Países em franco desenvolvimento (como Brasil, México, Argentina e Índia) não receberam metas de redução. Segundo o Greenpeace (2008), a redução dessas emissões deverá acontecer em várias atividades econômicas. O protocolo estimula os países signatários a cooperarem entre si, através de algumas ações básicas: • Reformar os setores de energia e transportes; • Promover o uso de fontes energéticas renováveis; • Eliminar mecanismos financeiros e de mercado inapropriados aos fins da Convenção; 36 • Limitar as emissões de metano no gerenciamento de resíduos e dos sistemas energéticos; • Proteger florestas e outros sumidouros de carbono. São ações promissoras com vistas à definição de políticas públicas de fomento às fontes energéticas sustentáveis. Todavia, a isonomia considerada revela um equívoco ao não reconhecer as distintas condições envolvendo custos diferenciados de geração, nem as enormes vantagens que podem advir da geração distribuída, principalmente para o atendimento nas comunidades isoladas do país, distantes das redes de distribuição de energia elétrica. No continente Europeu, pode-se dizer que o início para o estabelecimento de uma estratégia comunitária, envolvendo todos os países-membros originou-se pelo motivo de que alguns desses países, incentivados inicialmente por questões ambientais, e posteriormente por causa do aumento de emissões de gases de efeito estufa, começaram a estudar e a estabelecer políticas de fomento às fontes de energia renovável, principalmente na geração de eletricidade. Essa ação, além de demonstrar a viabilidade das fontes alternativas influenciou a Comissão Européia na aplicação de políticas e marcos regulatórios específicos para o incentivo a essas fontes. O primeiro passo que mostrou claramente essa posição foi o documento “White Paper for a Community Strategy and Action Plan” (Papel Branco para a Comunidade Estratégia e Plano de Ação), em 1997. Esse documento comentou sobre a exploração desigual da fonte de energia renovável nos diferentes países da comunidade Européia, e reconheceu o papel dessas fontes como um dos passos necessário ao cumprimento das metas de redução de gases de efeito estufa, que na época estavam em negociação para o Protocolo de Quioto. Outro fator importante para a adoção destas políticas era o fato da fragilidade européia em termos de dependência energética – cuja importação ficava em torno de 50% no ano de 1997, com estimativas de aumento para 70% em 2020 face ao aumento da demanda; e sendo assim, o maior uso de energia renovável permitiria uma diminuição no nível das importações de energia, com implicações positivas para a balança comercial e para a segurança do abastecimento (COSTA, 2006). Nesse documento os países Europeus propunham como meta dobrar a contribuição de fonte de energia renovável de 6% para 12% na produção de energia primária em 2010, o que correspondia a 22% no consumo de eletricidade gerada a partir de fontes de energia renovável. O documento também sinalizava o estabelecimento de objetivos por cada Estado 37 membro de forma a somar esforços para uma crescente exploração do potencial disponível de energia e a importância disso para o desenvolvimento das indústrias nacionais e para a criação de empregos. A Tabela 4 apresenta as metas para a promoção de fontes de energia renovável (FER) diferenciadas para cada Estado-Membro da Comunidade Européia: Tabela 4 – Metas individuais relativa à promoção de FER na União Européia Fonte: Costa (2006) Os principais instrumentos de incentivo utilizados na Europa para promoção de energia renovável são: Sistema de Leilão - “Tender System”; Sistema de Quotas - “Quota Obligation Systems” (com certificados verdes) e Tarifa de Suprimento Interno “Feed-in Tariffs”. Esses instrumentos normalmente coexistem com outros instrumentos tais como incentivos fiscais e apoio à pesquisa e desenvolvimento (COSTA, 2006). 38 O Sistema de Quotas é visto como sendo o mais alinhado com o mercado europeu. No entanto, uma análise elaborada, mostra que nem o sistema de quotas com certificados verdes nem o “feed-in” podem ser classificados como totalmente alinhado com as premissas de mercado. No sistema de quotas a quantidade de energia de fontes renováveis é especificado pelo governo, enquanto o preço é determinado pelo mercado. Já no “feed-in”, o preço da energia é especificado pelo governo, enquanto a quantidade é determinada pelo mercado. Portanto ambos os modelos são uma mistura de mercado e regulação. Para que se possa compreender melhor a aplicação de cada instrumento de promoção é necessário classificá-los apresentando todas as opções e enfoques existentes atualmente. Isso é importante para sistematizar a forma de atuação de cada instrumento e fornecer aos tomadores de decisão melhor clareza na condução da política de promoção. A classificação é apenas teórica, uma vez que os instrumentos de políticas são implementados através de marcos regulatórios e estão inter-relacionados com uma política mais ampla. Estes instrumentos de política podem ser divididos de acordo com diferentes critérios, por exemplo, se eles interferem na demanda ou na produção ou se subsidiam aumento na capacidade ou na geração. A Tabela 5 demonstra a classificação desses instrumentos, apresentando todas as opções que são atualmente aplicadas na promoção de fontes de energia renovável na Comunidade Européia. Essa classificação é uma das tentativas de se colocar juntos todos os instrumentos e enfoques. Tabela 5 – Classificação dos Instrumentos de Políticas Fonte: Costa (2006) Para Costa (2006), todos estes programas incentivaram os países europeus a aumentarem a geração de energia elétrica através de fontes renováveis. A Figura 9, mostra o crescimento expressivo de capacidade de geração da Alemanha destes tipos de fontes. 39 Figura 9 – Evolução da Geração de Fontes de Energia Renovável na Alemanha Fonte: Costa (2006) Observa-se que a partir de 1997 quando começou os incentivos a disponibilidade de energia renovável obteve um forte crescimento, chegando próximo dos 1000%. No Brasil, a maior parte da matriz energética é de fonte renovável como a hídrica, os incentivos vieram um pouco mais tarde. O governo brasileiro instituiu através da Eletrobrás programas de incentivo a energia alternativa, o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas - PROINFA (2002), dividido em duas fases: na primeira fase, contratos de longo prazo prevêem inclusão de 3.300 MW, atribuindo a cada uma das fontes energéticas consideradas – eólica, biomassa e PCHs – uma participação de 1.100 MW para cada. Outro programa é a garantia pela Eletrobrás da aquisição da energia produzida, por um período de 20 anos, através de Contratos de Compra e Venda de Energia (CCVE). O Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel - PNPB (2005), é apresentado pelo governo como um instrumento de inclusão social e de desenvolvimento regional, a partir da produção e uso do Biodiesel de forma sustentável (ELETROBRÁS, 2008). Segundo Bermann (2007), a diferenciação entre as três fontes ficou evidenciada nos resultados da 1ª chamada pública, em maio de 2004, quando foram apresentados projetos 40 totalizando 6.600 MW, assim distribuídos: 3.700 MW para eólica; 1.900 para PCHs; e somente 995 MW para biomassa. 2.5.1 Programa de Incentivo às Fontes Alternativas – PROINFA O programa promoverá a implantação de 3.300 MW de capacidade, em instalações de produção de energia elétrica renovável, sendo assegurada, pela Eletrobrás, a compra da energia a ser produzida, no período de 20 anos, dos empreendedores que preencherem todos os requisitos de habilitação e tiverem seus projetos selecionados de acordo com os procedimentos da Lei 10.438/02 (Brasil, 2002). O processo de habilitação consiste no atendimento de uma série de requisitos estabelecidos pela Eletrobrás, por meio de chamada pública. Tais requisitos consistem nos documentos necessários às habilitações jurídica, fiscal, econômica e técnica. A habilitação técnica compreende a apresentação de ato autorizativo emitido pela ANEEL, que habilita o empreendedor a atuar como produtor de energia elétrica, licença ambiental de instalação, avaliação preliminar concedida pela NOS (Operador Nacional do Sistema) ou pelas concessionárias de energia elétrica e documento emitido pela ANEEL que comprove que a energia proposta para venda ao PROINFA é acréscimo de geração, acima do auto-consumo e da geração existente. A Eletrobrás (2008) definirá a listagem dos empreendedores selecionados, em conformidade com os seguintes critérios: • Antigüidade da licença ambiental de instalação em plena vigência, emitida pelo órgão estadual competente, ou, em caráter supletivo, pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA; • Enquadramento do empreendedor como produtor independente autônomo (quando sua sociedade não é controlada ou coligada de concessionária de serviço público ou de uso de bem público de geração, transmissão ou distribuição de energia elétrica) ou como produtor independente não autônomo; • Distribuição da potência gerada pelos empreendedores pelas unidades da federação. A participação dos empreendedores no PROINFA se formaliza por intermédio de Contratos de Compra e Venda de Energia (CCVE), conforme anexo 1, celebrados entre a Eletrobrás e os empreendedores autorizados a construir, implantar e operar Pequenas Centrais 41 Hidrelétricas, Centrais de Geração de Energia Eólica e Centrais de Geração de Energia de Biomassa. O PROINFA (Brasil, 2002), oferece alguns mecanismos de garantia de pagamento aos agentes financiadores da construção das centrais energéticas, tais como: • Os recursos do programa são destinados exclusivamente à Conta PROINFA e somente podem ser utilizados para: pagamentos das parcelas dos CCVE aos Empreendedores, reembolso à Eletrobrás dos custos administrativos, financeiros e dos encargos tributários decorrentes da contratação da energia no PROINFA e demais despesas necessárias ao regular desenvolvimento do PROINFA. A Conta PROINFA representa um fundo de recursos criado especificamente para o cumprimento dos CCVE e é gerida pela Eletrobrás. • A Eletrobrás assegurará aos agentes financiadores, nos termos dos CCVE, um piso mínimo de faturamento mensal correspondente a 70% (setenta por cento) da energia contratada, ao preço definido no CCVE, durante todo o período de vigência do contrato de financiamento da construção das Centrais Geradoras. O pagamento da energia a ser adquirida pela Eletrobrás e o custeio das demais despesas relacionadas ao cumprimento do PROINFA serão rateados proporcionalmente entre todos os consumidores finais do SIN, com exceção dos consumidores pertencentes à Subclasse Residencial de Baixa Renda. 2.5.2. Crédito de Carbono O Protocolo de Quioto (Greenpeace, 2008) é uma resposta das nações às ameaças de mudanças climáticas no planeta que decorrem da degradação ambiental e, particularmente, do efeito estufa gerado pela emissão de gás carbônico. Diante das dificuldades que alguns países poderiam ter para cumprir as metas de redução de emissão, o Protocolo de Quioto criou um sistema, chamado de MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo), através do qual os países podem comprar direitos de emissão a países em desenvolvimento e emergentes que realizem uma redução da emissão ou retirada de gás da atmosfera através de projetos ambientais. O tamanho dessa redução ou retirada de gás constitui “créditos de carbono” que podem ser negociados amplamente num mercado mundial. 42 Este mercado cresce bastante nos últimos anos e mesmo empresas de países não signatários do Protocolo, como os Estados Unidos, estão comprando créditos de emissão. Nascimento (2008) afirma que em 2004 teriam sido negociados US$ 600 milhões de créditos. Embora não sejam muito imprecisas, estimativas indicam um movimento anual de título de crédito de carbono flutuando entre US$ 5 e US$ 17 bilhões de dólares, a partir de 2010, podendo saltar para US$ 20 bilhões por ano, quando os mecanismos estiverem devidamente definidos e aceitos. Segundo Nascimento (2008) o Brasil já capta cerca de 10% do mercado de crédito de carbono, e pode ocupar espaços mais amplos nas vendas mundiais. Os projetos que podem constituir crédito de carbono devem promover a redução das emissões ou a retirada da atmosfera, concentrando nas seguintes áreas: fontes renováveis e alternativas de energia eólica, solar, co-geração, termoelétricas movidas a biomassa, bagaço de cana-de-açúcar, restos de madeira, serragem, e lixo - aterros sanitários, biodegestores de fezes animais, eficiência e conservação de energia; reflorestamento e estabelecimento de florestas novas, que serviriam como filtros, que retiram gás carbônico da atmosfera e o fixam na madeira. No Brasil já foram realizados vários contratos de crédito de carbono, como o replantio de 10 mil hectares de florestas em Juína, norte do Mato Grosso, pela Peugeot em parceria com o Office National des Forets International e Pró-Natura; produção de biomassa na geração de energia pela empresa Mil Madeireira, em Itacoatiara (AM), queima de gás metano em biodigestores instalados em granjas de suínos (Sadia), com investimento de R$ 65 milhões que devem ser recuperados em cinco anos. O Centro-Oeste tem participado com cerca de 6,9% dos projetos de crédito de carbono aprovados no Brasil, como mostra a tabela 6, a região Sudeste é a que tem mais projetos aprovados, a maioria deles vinculados a aterros sanitários urbanos (VIANA, 2008). Região Centro-Oeste % Participação 3,9216 Nordeste 3,9216 Norte 3,9216 Sudeste 66,667 Sul 19,6078 Tabela 6 - Distribuição Regional de Projetos de Crédito Carbono no Brasil Fonte: Viana (2008) 43 A aplicação de uma política de incentivo a geração de energia alternativa é primordial para o desenvolvimento sustentável da sociedade, partindo desta visão a sociedade deve buscar constantemente uma solução para a geração de energia elétrica, que tornou-se um bem indispensável a vida. Portanto com a utilização de um insumo renovável, como o bagaço da cana-de-açúcar, além de resolver o problema do descarte deste material no meio ambiente, gera-se energia limpa e ainda proporciona uma fonte de renda atraente. 44 3. METODOLOGIA DA PESQUISA Para Rudio (2003), a pesquisa no sentido mais amplo, é um conjunto de atividades orientadas para a busca de um determinado conhecimento. A fim de merecer o qualitativo de científica, a pesquisa deve ser feito de modo sistematizado, utilizando para isto método próprio e técnicas específicas e procurando um conhecimento que se refira à realidade empírica. Os resultados assim obtidos devem ser apresentados de forma peculiar. Os métodos de pesquisa são as bases para a criação do conhecimento sendo os instrumentos para compreendermos a realidade. A busca do homem na produção de conhecimento que possa melhorar suas condições de vida não é nova. Ela remonta um período anterior aos filósofos gregos passando pela idade média e modernidade. Assim a ciência pode ser caracterizada como a tentativa do homem entender e explicar racionalmente os fenômenos procurando formular leis que forneçam principalmente a explicação e a predição (KÖCHE, 2006). Na história da metodologia do conhecer, muitas modificações foram feitas baseadas no surgimento de novas concepções filosóficas, físicas e sociais. Dessa forma, qualquer que seja o método científico, esse campo da investigação deve cumprir, segundo Barros e Lehfeld (2006), etapas de: 1. Desenvolvimento do problema ou lacuna em um conjunto de conhecimentos; 2. Colocação precisa do problema ou, ainda, a recolocação de um velho problema à luz de novos conhecimentos; 3. Procura de conhecimentos ou instrumentos relevantes do problema (dados empíricos, teorias, aparelhos de medição e técnica de medição); 4. Tentativa de uma solução (exata ou aproximada do problema com auxilio de instrumento conceitual ou empírico disponível); 5. Investigação da conseqüência da solução obtida; 6. Prova (comprovação da solução, isto é, confronto da solução com a totalidade das teorias e das informações empíricas pertinentes); 7. Correção das hipóteses, teorias, procedimentos ou dados empregados na obtenção da solução incorreta (BARROS E LEHFELD, 2006). 45 Rudio (2003), afirma que toda pesquisa científica começa pela formulação de um problema e tem por objetivo buscar a solução do mesmo. O problema da pesquisa costuma ser apresentado geralmente na forma de uma proposição interrogativa. “A identificação do problema e sua delimitação pressupõe uma emersão do pesquisador na vida e no contexto, no passado e nas circunstâncias presentes que condicionam, influenciam ou mistificam o problema. Pressupõem, também, uma partilha prática nas experiências e percepções que os sujeitos possuem desses problemas para descobrir os fenômenos além das suas aparências imediatas” (BARROS E LEHFELD, 2006). Segundo Gil (2002) é usual a classificação de pesquisas com base em seus objetivos gerais, como forma de possibilitar uma aproximação conceitual. Mas também é necessário traçar um modelo conceitual e operativo da pesquisa, como forma de confrontar a visão teórica com os dados da realidade. A pesquisa pode ser classificada, quanto aos objetivos, em três tipos: • Pesquisa exploratória: visa a particularidade com o problema, visando a torná-lo explícito ou à construção de hipóteses; • Pesquisa descritiva: descreve as características de determinada população ou fenômeno; • Pesquisa explicativa: identifica os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos fenômenos. O presente trabalho é classificado como uma pesquisa exploratória, pois visa se familiarizar com o problema, torná-lo explícito e promover soluções para resolvê-los. O problema levantado neste trabalho é o descarte do resíduo do bagaço da cana-de-açúcar, e a solução encontrada é o uso deste material para a geração de energia elétrica. O método utilizado para a formação do trabalho foi de caráter indutivo, pois parte-se das observações realizadas sem a formação de hipóteses prévias ou construções lógicas a partir da Teoria. Em termos de procedimentos técnicos, utilizou a pesquisa bibliográfica através de buscas realizadas em artigos de revistas, jornais, livros e sites. Inicialmente foi elaborada a questão de pesquisa que motivou investigação. Em seguida foram selecionados textos da área de geração de energia elétrica renovável, e de outras áreas, que procuravam avaliar os problemas e procedimentos metodológicos adotados pelos pesquisadores. Para fundamentar as questões apresentadas se realizou uma revisão de 46 livros e artigos que tratavam exclusivamente de temas ligados à energia elétrica. O objetivo central da revisão era determinar alguns critérios para analisar a produção científica da área. A coleta de dados, para Barros e Lehfeld (2006), significa a fase da pesquisa em que se indaga e se obtêm dados da realidade pela aplicação de técnicas. A escolha do instrumento de pesquisa, porém, dependerá do tipo de informação que deseja obter ou do tipo do objeto de estudo. De acordo com o tipo de informações que se deseja obter, há uma variedade de instrumentos que podem ser utilizados e maneiras diferentes para operá-los. Os instrumentos mais úteis para à pesquisa são os que, além de assinalar as presenças ou ausências de um fenômeno, são ainda capazes de quantificá-lo, dando-nos uma medida sobre o mesmo (RUDIO, 2003). Os critérios, apresentados no referencial teórico, serviram para a construção do instrumento de coleta de dados. Os critérios de avaliação visam a clareza no processo de coleta de dados, neste trabalho foi utilizado a comparação entre dados oriundos de diferentes fontes no intuito de tornarem mais convincentes e precisas as informações obtidas. As triangulações foram vistas através da utilização de diferentes métodos sobre um mesmo objeto. Cada unidade ou membro do universo é denominado elemento. Um conjunto de elementos representativos desse universo ou população compõe a amostra. Portanto a amostra é um subconjunto representativo do conjunto da população (BARROS E LEHFELD, 2006). A amostra foi selecionada por questões de conveniência e acessibilidade, focando periódicos que tratassem especificamente de produção e geração de energia elétrica. Concluído o preenchimento do instrumento de coleta de dados foram realizadas análises utilizando basicamente estatística descritiva. O uso desse instrumento está alinhado aos propósitos do trabalho, pois as análises se limitaram à caracterização do uso dos aspectos metodológicos, identificação de pontos convergentes, divergentes e tendências. A perspectiva examinada nos artigos durante a presente pesquisa foi à análise de dados, cujo objetivo é identificar os procedimentos adotados pelos autores para extrair informações dos dados coletados. Os critérios adotados se referem à clareza na análise dos dados, encadeamento lógico de evidências, utilização de teste empírico. Barros e Lehfeld (2006) caracteriza o estudo de caso como uma modalidade de estudo nas ciências sociais, que se volta a coleta de dados e ao registro de informações sobre um ou vários casos particularizados, elaborando relatórios críticos organizados e avaliados, dando margens a decisões e intervenções sobre o objeto escolhido para a investigação. 47 O estudo de caso deste trabalho refere-se a uma usina de cana-de-açúcar, localizado no estado brasileiro do Paraná, onde utiliza o bagaço da cana-de-açúcar para gerar energia elétrica. A Figura 10 representa graficamente, as fases do método utilizado para esta pesquisa. Figura 10 – Fases dos Métodos de Pesquisa Fonte: Primária (2008) 48 4. USO DO BAGAÇO DA CANA-DE-AÇÚCAR PARA GERAR ENERGIA 4.1. MERCADO DE ENERGIA A atividade de comercialização de energia é regulada pela Lei nº 10848 (Brasil, 2004c), pelos Decretos nº 5163 (Brasil, 2004a) e 5177 (Brasil, 2004b), tendo este último instituído a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), e pela Resolução Normativa ANEEL nº 109/2004, que instituiu a Convenção de Comercialização de Energia Elétrica. Em síntese, todos os contratos celebrados entre os Agentes no âmbito do Sistema Interligado Nacional devem ser registrados na CCEE. Estes registros devem incluir apenas as partes envolvidas, os montantes de energia transacionados e os respectivos prazos de vigência. Os preços de energia dos contratos não são registrados na CCEE, sendo utilizados especificamente pelas partes envolvidas em suas liquidações bilaterais. A CCEE contabiliza as diferenças entre os valores produzidos ou consumidos e os valores contratados. As diferenças positivas ou negativas são liquidadas no Mercado de Curto Prazo e valoradas ao PLD (Preço de Liquidação das Diferenças), determinado semanalmente para cada patamar de carga e para cada submercado, tendo como base o custo marginal de operação do sistema, sendo este limitado por um preço mínimo e por um preço máximo. O mercado de curto prazo é, portanto, o mercado das diferenças entre os montantes contratados e os montantes medidos. Segundo o Art. 2º do Decreto nº 5177 (Brasil, 2004b) a CCEE tem as seguintes atribuições principais: • Manter o registro dos montantes de potência e energia objeto de contratos celebrados no ACR (Ambiente de Contratação Regulada) e no ACL (Ambiente de Contratação Livre); • Promover a Medição e o registro de dados relativos às operações de compra e venda e outros dados inerentes aos serviços de energia elétrica; • Apurar o Preço de Liquidação de Diferenças - PLD do Mercado de Curto Prazo por Submercado; • Efetuar a Contabilização dos montantes de energia elétrica comercializados e a Liquidação Financeira dos valores decorrentes das operações de compra e venda de energia elétrica realizadas no Mercado de Curto Prazo; 49 • Apurar o descumprimento de limites de contratação de energia elétrica e outras infrações e, quando for o caso, por delegação da ANEEL, nos termos da Convenção de Comercialização e aplicar as respectivas penalidades; • Apurar os montantes e promover as ações necessárias para a realização do depósito, da custódia e da execução de Garantias Financeiras relativas às Liquidações Financeiras do Mercado de Curto Prazo, nos termos desta Convenção; • Promover leilões de compra e venda de energia, conforme delegação da ANEEL. 4.1.1. Ambientes de Contratação de Energia O Decreto nº 5163 (Brasil, 2004a), introduziu uma grande mudança no modelo do setor com a criação de dois ambientes de comercialização de energia, conforme a ilustrado na figura 11. Criou-se dois ambientes, um para consumidores cativos e outro para consumidores livres. Figura 11 – Ambiente de Contratação Fonte: vs5energia (2008). O Art. 1, § 2º, do Decreto 5163 (Brasil, 2004a) estabelece as seguintes definições para os ambientes de contratação de energia: 50 • Ambiente de Contratação Regulada (ACR): Segmento do mercado onde se realizam as operações de compra e venda de energia elétrica entre, agentes vendedores e agentes de distribuição, precedidas de licitação, ressalvados os casos previstos em lei, conforme regras e procedimentos de comercialização específicos. • Ambiente de Contratação Livre (ACL): Segmento do mercado no qual se realizam as operações de compra e venda de energia elétrica, objeto de contratos bilaterais livremente negociados, conforme regras e procedimentos de comercialização específicos. O Art. 47 do Decreto 5163 (Brasil, 2004a) estabelece: A contratação no ACL dar-se-á mediante operações de compra e venda de energia elétrica envolvendo os agentes concessionários, permissionários e autorizados de geração, comercializadores, importadores, exportadores de energia elétrica e consumidores livres. • Parágrafo único: As relações comerciais entre os agentes no ACL serão livremente pactuadas e regidas por contratos bilaterais de compra e venda de energia elétrica onde estarão definidos, entre outros, os prazos e volumes. 4.1.2. Relações Contratuais A figura 12 esquematiza um diagrama de todas as relações contratuais existentes no atual contexto regulatório do setor elétrico brasileiro: 51 Figura 12 – Mapa das Relações Contratuais Fonte: vs5energia (2008) No caso de uma usina de álcool, que utilizará o bagaço da cana-de-açúcar para gerar energia, será considerado como Gerador Conectado a rede Básica, caso ele esteja conectado diretamente na rede de transmissão ou como Gerador Conectado à Distribuição, para o caso que está conectado diretamente na rede de distribuição. Para a contração ou venda da energia existem sete tipos contratos firmados entre as partes, conforme descrito com siglas na figura 12 e detalhado a seguir: CPST - Contrato de Prestação de Serviços de Transmissão. Assinado entre o ONS e empresas transmissoras de energia elétrica. É o instrumento legal que outorga ao ONS poderes para representar as transmissoras perante os usuários da Rede Básica, garantindo a prestação dos serviços de transmissão conforme as determinações da ANEEL e os Procedimentos de Rede. CUST - Contrato de Uso do Sistema de Transmissão Assinado entre o ONS e as empresas usuárias dos serviços de transmissão, a saber: distribuidoras; geradores e consumidores livres diretamente conectados à Rede Básica; geradores conectados à rede de distribuição, mas despachados centralmente pelo ONS. O CUST (Condições do Uso do Sistema de Transmissão) é o instrumento legal que 52 estabelece as condições de uso da Rede Básica e os valores mensais a serem creditados às empresas transmissoras, bem como ao próprio ONS pela administração dos serviços de transmissão. Um determinado consumidor livre conectado à Rede Básica, por exemplo, deverá assinar um CUST com o ONS e passará a integrar o pool de usuários da alta tensão, recebendo mensalmente um Aviso de Débito (AVD) indicando os montantes financeiros a serem pagos. Os montantes de uso do sistema de transmissão são definidos no CUST a partir da tarifa nodal calculada para o ponto de conexão da carga, no caso de consumidores livres e/ou distribuidores, ou da geração, no caso de geradores. CCT - Contrato de Conexão à Transmissão Assinado entre as empresas proprietárias de ativos da Rede Básica e as empresas usuárias dos serviços de transmissão a elas conectadas fisicamente, tendo como interveniente o ONS. CCG - Contrato de Constituição de Garantia Contrato associado ao CUST, assinado entre o ONS e as empresas usuárias dos serviços de transmissão, com interveniência dos respectivos bancos gestores. Tem como objetivo o estabelecimento de garantias comerciais para liquidação mensal dos encargos de uso da Rede Básica. CUSD - Contrato de Uso do Sistema de Distribuição Contrato celebrado entre as empresas de distribuição e os usuários conectados diretamente a seus sistemas, no caso: consumidores livres e geradores. Visa estabelecer os procedimentos para pagamento dos encargos de uso das redes de baixa tensão, cuja memória de cálculo é baseada nas tarifas de uso da distribuição. CCD - Contrato de Conexão à Distribuição Assinado entre as empresas de distribuição e as empresas conectadas fisicamente á seus sistemas. CCVE - Contrato de Compra e Venda de Energia (Anexo I e II) É o contrato assinado entre o consumidor livre e o agente gerador de energia elétrica, esteja este ligado à rede de distribuição ou diretamente à Rede Básica. Para os consumidores livres são necessários os seguintes contratos: 53 • Conectados à distribuição: CCVE, CUSD, CCD • Conectados à Rede Básica: CCVE, CUST-CCG, CCT 4.2. ESTUDO DE CASO DA USACIGA 4.2.1. A Empresa Operando com recursos tecnológicos de última geração, a USACIGA (Usina Cidade Gaúcha), sediada em Cidade Gaúcha, no noroeste paranaense, está entre as mais modernas empresas do segmento sucroalcooleiro no país. O perfil empreendedor é uma de suas marcas, o que a torna uma referência nas atividades agrícola, industrial e comercial. A figura 13 mostra a USACIGA que foi fundada em 1980 e desde 1988 passou a ser controlada pela família Barea que, em 1990, iniciou um vigoroso processo de modernização das áreas industrial e agrícola. Primeira usina da américa do sul a automatizar totalmente o setor industrial, foi também a primeira a adotar o sistema de cozimento do açúcar por vácuo contínuo, em 1994, melhorando ainda mais a qualidade e a produtividade, além de evitar as constantes paradas para limpeza do maquinário. Figura 13 – Instalações Parciais da Empresa Fonte: USACIGA (2008) Todo processo industrial é controlado e acompanhado de uma única sala por monitores de computador, sendo possível aumentar ou diminuir a produção e fazer manutenção nos maquinários. Em 2004 a USACIGA também adquiriu uma das mais modernas moendas do mundo, com acionamento hidráulico, sendo a única no Brasil a possuir o sistema. Outro item que diferencia o processo industrial da USACIGA é o sistema de limpeza da cana-de-açúcar 54 por ventilação. Além de evitar perdas de açúcar na lavagem da cana-de-açúcar, não polui o meio ambiente. A capacidade instalada de moagem diária é de 6.500 toneladas para produção de 12 mil sacas de açúcar e 250 mil litros de álcool por dia. Com a mecanização do plantio e da colheita, a cultura canavieira evolui constantemente, registrando a cada safra superação do volume de matéria-prima. Com 65% de mecanização no campo, a usina é a mais mecanizada do estado, resolvendo o problema de falta de mão-de-obra na região e otimizando o trabalho no campo. Na busca incessante do aumento da produtividade, a USACIGA racionaliza os custos de produção, obtendo cada vez mais médias de produtividade acima da nacional, além de reduzir custos. Enquanto a média nacional de produtividade é de 61 toneladas de cana-deaçúcar por hectare, na usina de cidade gaúcha a média das últimas cinco safras foi de 75,27 toneladas por hectare, com a perspectiva de atingir 85 toneladas por hectare na safra 2008. Os processos são programados de forma a otimizar a mão-de-obra, desde a colheita feita com nove colheitadeiras e até na indústria. O que se busca é o tempo mínimo possível de parada. Enquanto a maioria das usinas do estado do Paraná aproveita de 72 a 77 dias em 100, a USACIGA consegue um aproveitamento de 84 dias. Com frota própria de carretas fechadas, que evita a queda de cana-de-açúcar na estrada, o transporte é programado para que o produto seja descarregado direto na mesa de moagem, não ficando cana-de-açúcar armazenada, sendo fundamental o sistema de gerenciamento e o uso de equipamento central de controle de tráfego e computadores de bordo, agilizando todo o serviço. Visando ainda maior rendimento no transporte, a empresa implantou o carregamento por transbordo, com isso foi reduzida a frota de caminhões de 28 para 17, com a mesma produção. O mapeamento e medição das áreas também são feitos por satélite, através de sistema GPS. A informatização do sistema chegou até mesmo na coleta de informações da área de colheita, através de um coletor de dados, e no setor de carregamento e transporte de cana-deaçúcar, com a implantação do sistema de código de barras. Totalmente informatizada (nas áreas administrativa, industrial, agrícola e mecânica), a USACIGA tem ainda cartão ponto eletrônico em todos os setores, inclusive na área rural. Seus principais produtos são álcoois, açúcar e levedura. Tais produtos representam, respectivamente, 43,30%, 56,50% e 0,20% do faturamento da empresa que, no ano de 2004, atingiu o montante de R$ 77,471 milhões. 55 4.2.2. Investimentos na Cogeração Com grandes investimentos de expansão e crescimento nas áreas agrícola, industrial e comercial a USACIGA passou da produção de 1 milhão de toneladas de cana-de-açúcar em 2001/2002, para 2,5 milhões de toneladas em 2005/06, o que implicou em um investindo de R$ 114,3 milhões e a expansão da área cultivada em mais 18.200 hectares. Com isso é possível produzir 4,2 milhões de sacas de açúcar e 60 milhões de litros de álcool. A figura 14 trata-se do equipamento adquirido para preparação do bagaço da cana-de-açúcar para incineração na caldeira que fornecerá vapor para a geração de energia elétrica. Figura 14 - Preparação do bagaço para incineração na caldeira Fonte: USACIGA (2008) O projeto de financiamento terá a duração de 90 meses, sendo que 10 meses correspondem à fase de construção da central geradora e que 80 meses representam a fase pós-operacional, quando a central geradora estará gerando a energia a ser entregue à Eletrobrás, nos termos do CCVE. Além do Fundo, o projeto de financiamento da central geradora contará, também, com recursos de alguns fornecedores e da própria USACIGA. A tabela 7 mostra a origem dos recursos investimentos na construção desta usina, sendo que 61,38% do montante provem do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento). 56 Origem dos Recursos Valor (R$) % Fundo 39.181.250 61,38 Fornecedores 15.066.429 23,60 USACIGA 9.588.927 15,02 Total 63.836.606 100 Tabela 7 – Recursos para implantação da usina de biomassa Fonte: PROINFA (2008) O Fundo foi constituído para ser utilizado como veículo de captação de recursos para o projeto de financiamento da construção da Central Geradora da USACIGA. O projeto de construção da central geradora foi homologado e selecionado em 2004, no âmbito do PROINFA. O processo de seleção garantiu à USACIGA a celebração de um CCVE com a Eletrobrás, com a duração de 20 anos. O preço da energia estabelecido no CCVE é reajustado anualmente de acordo com a variação do IGP-M. A estrutura de quotas do Fundo revela que 70% (setenta por cento) dos direitos de crédito, durante 66 (sessenta e seis) meses a contar do início da fase operacional, serão cedidos pela USACIGA ao Fundo e os respectivos pagamentos serão destinados para a amortização e resgate das quotas seniores. Durante tal período, as quotas subordinadas absorverão 30% (trinta por cento) do fluxo de recursos relativos aos direitos creditórios. Dessa forma, o fluxo financeiro derivado da amortização e do resgate das quotas seniores será totalmente coberto pela garantia concedida pela Eletrobrás ao agente financiador das centrais geradoras. O Fundo será administrado pela Mellon Serviços Financeiros Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários S.A. e gerido pela Acrux Administração de Recursos Ltda. Para prestação dos serviços de custódia e controle dos Direitos de Crédito e demais Ativos Financeiros integrantes da Carteira do Fundo, o Fundo, representado pelo Administrador, contratou o Deutsche Bank S.A. As Quotas Sênior do Fundo são avaliadas pelas Agências Classificadoras de Risco Fitch Ratings e Austing Rating. A avaliação das Quotas Sênior do Fundo será revisada trimestralmente e divulgada aos Quotistas na forma prevista no Regulamento. Para prestação dos serviços de auditoria independente das contas do Fundo, foi contratada a KPMG Auditores Independentes. 57 4.2.3. Capacidade de Geração Apenas 1/3 da energia da cana-de-açúcar é aproveitado para a produção de açúcar e álcool, 2/3 estão contidos no bagaço e na palha da cana-de-açúcar, matéria-prima empregada para produzir vapor e eletricidade necessários ao processamento do etanol. As usinas de álcool e açúcar, além de gerar a energia que consomem no processo industrial, são fontes potenciais de geração de excedentes para venda às concessionárias de eletricidade. A USACIGA produz energia para consumo próprio, tendo uma potência instalada de 8,6 MW, a figura 15 mostra a subestação de energia na unidade da empresa em Cidade Gaúcha. Figura 15 – Subestação de Energia da Empresa USACIGA Fonte: USACIGA (2008) A central geradora da USACIGA (central termelétrica de biomassa), tem uma capacidade de gerar 40MWh, conforme demonstrado na figura 16, mediante a instalação de dois geradores, energia suficiente par atender uma cidade de 100 mil habitantes. Portanto terá uma energia excedente de 31,4 MWh, que é vendida nos leilões de energia elétrica promovido pela CCEE. 58 45 40 MWh 35 30 Total de Eneriga Gerada 25 Excedente de Energia 20 Total de Energia Consumida 15 10 5 0 Figura 16 – Capacidade de Geração Fonte: Primária (2008) 4.2.4. Retorno de Investimento A renda gerada com a co-geração de energia, representa 10% do total movimentado pela empresa, com a vantagem de ter um custo operacional baixo e não ter entressafra ou oscilações de preços como os mercados de álcool e açúcar. Além de ser uma fonte de energia renovável e limpa, torna-se um produto diferenciado com renda constante. A energia excedente da empresa que será vendida através do leilão de energia promovido pela CCEE, e garantida a venda pela Eletrobrás. No último ano a energia excedente vendida no mercado foi de 56.000 MW, o valor pago por MW está em R$ 140,00. Portanto, além de promover o desenvolvimento sustentável e diversificar os negócios da empresa a geração de energia da usina dá um incremento na receita anual de R$ 7.840.000,00. 4.2.5. Seguros, Garantias e Mecanismos Mitigadores do Risco A empresa USACIGA com o intuito de dar garantias ao empreendimento e minimizar os riscos possuem vários seguros, conforme descritos: a) Seguro de Garantia Completion Durante a fase de construção da central geradora, a USACIGA estará obrigada a contratar Seguro Garantia de Geração e Transmissão de Energia Elétrica - Completion, nos 59 temos da regulamentação da SUSEP. Tal apólice garantirá, ao Fundo, indenização, pelo valor patrimonial inicial das quotas seniores, em virtude de inadimplência da USACIGA em relação à sua obrigação de iniciar a geração de energia elétrica até a data de entrada em operação comercial prevista no CCVE. Caracterizará sinistro, também, a possibilidade de a USACIGA não ser capaz de produzir, até a data de entrada em operação comercial, pelo menos 70% da energia contratada no CCVE, em razão de problemas relacionados à execução do projeto e sua montagem, além da qualidade e capacidade dos equipamentos instalados. b) Seguro de Garantia Performance Durante a fase operacional, a USACIGA contratará um Seguro de Garantia de Fornecimento de Energia Contratada, que deverá cobrir eventuais inadimplências da Originadora no fornecimento de energia elétrica contratada pela Eletrobrás nos termos do CCVE que venham a comprometer os termos acordados no Contrato de Cessão. O Seguro de Garantia Performance terá vigência de dois anos, com prorrogação automática por igual período, desde que a seguradora não se manifeste contrariamente com antecedência mínima de 180 (cento e oitenta) dias do fim do prazo de vigência previamente estipulado. A importância segurada é de R$ 26 milhões e o único beneficiário é o Fundo. c) Seguro de Riscos de Engenharia Durante a fase de construção da central geradora, a USACIGA estará obrigada a contratar um seguro de Riscos de Engenharia, que garante a cobertura contra acidentes de origem súbita e imprevista, dos quais possam resultar danos ou destruição das obras de engenharia civil, dos equipamentos, máquinas e outros bens instalados durante todo o período da obra. d) Conta Vinculada Durante a fase de construção da central geradora, a parcela dos recursos captados pelo Fundo junto aos quotistas seniores e destinados ao pagamento pelas obras civis de construção da Central Geradora serão transferidos para uma conta corrente de titularidade da originadora, que será movimentada com exclusividade pelo custodiante (o Banco Itaú) sob determinação do gestor (a Acrux Invest). Os recursos serão liberados para a originadora mensalmente de 60 acordo com o cronograma físico-financeiro das obras de construção da Central Geradora Termelétrica da USACIGA. A liberação se fará mediante o parecer de uma empresa Gerenciadora de Obras a ser contratada pelo Fundo. e) Parcela Garantida O Fundo foi declarado pela Eletrobrás como sendo um agente financiador da Central Geradora Termelétrica da USACIGA e o Contrato de Cessão é o Contrato de Financiamento nos termos do CCVE. Desse modo, a Parcela Garantida de 70% conforme estabelecido no CCVE estará validada durante todo o período de duração do Fundo. 61 CONSIDERAÇÕES FINAIS A geração de energia no Brasil e no mundo ainda depende dos meios tradicionais de produção, porém a procura constante de novas formas de geração de energia, aliado ao grande avanço tecnológico e de desenvolvimento em que nossa geração presencia, nos mostra que é possível buscar alternativas mais viáveis, e que tenham, por objetivo, a não agressão ao meio ambiente. A primeira vista, as propostas apresentadas supõem-se de alto investimento financeiro, porém após breve avaliação, pode-se inferir que os investimentos retornam ao longo dos anos, sob forma dos programas de incentivo do governo federal, de proteção ao meio ambiente e garantia de uma fonte inesgotável de energia. Conforme apresentado neste trabalho, o governo brasileiro nos últimos anos vem demonstrando um interesse na expansão do uso de fontes de energia renovável na geração de energia elétrica. O grande marco regulatório veio com o lançamento do PROINFA. O país apresenta uma grande variedade de opções de geração de energia elétrica renovável, como a eólica, biogás, nuclear, solar e biomassa, esta última como sendo a mais viável para aplicação considerando a tecnologia disponível. Vários países do mundo já adotam políticas com programas de incentivo a energia renovável. A Alemanha vem apresentando um bom resultado no crescimento da geração de fontes alternativas e no contexto europeu vem influenciando na formatação de políticas em outros países – no entanto nem todo País que adota o “Feed-in” tem um resultado tão expressivo como a Alemanha (apesar de normalmente ser mais expressivo quando comparado à países que atuam com outros instrumentos de promoção). No Brasil esse sistema pode ser interessante no futuro caso haja a possibilidade de transação dos certificados verdes a nível internacional. Mas por enquanto ainda é um instrumento mais complexo e mais caro, e maior experiência deve ainda ser obtida na operacionalidade desse instrumento. 62 O ambiente brasileiro está propício para a geração de energia renovável, principalmente conforme abordado no capítulo 4, com a geração através da biomassa. Onde pôde-se observar a legislação em vigor, os tipos de contrato possíveis e necessários para a implantação de uma usina. As garantias de compra da energia excedente por parte do governo através da Eletrobrás, pelos próximos 20 anos, dão credibilidade e confiabilidade de retorno do capital investido. O fato de apenas 1/3 da energia disponível na cana-de-açúcar é aproveitado para obtenção do álcool e do açúcar, o restante está na palha e no bagaço da cana-de-açúcar. A palha é geralmente utilizada como adubo para preparar a terra para o novo plantio ou também pode ser utilizado para a geração de energia. O bagaço que também possui aproximadamente 1/3 da energia disponível na cana-de-açúcar, e que até então este resíduo era descartado no meio ambiente, pode ser utilizado para a geração de energia elétrica. Uma tonelada de cana-de-açúcar possuí 1,718 milhão de quilocalorias e custa U$15,00, comparando com o barril do petróleo que possuí 20% a menos de energia, 1,385 milhão de quilocalorias, e custa U$140,00, pode-se concluir que a cana-de-açúcar é um potencial energético atraente e a um preço bem inferior ao tradicional petróleo. Cada tonelada do bagaço de cana-de-açúcar gera de 20 a 30 KWh, a USACIGA processa diariamente 6500 toneladas de cana-de-açúcar, sendo que 25 a 30% deste material vira o bagaço. Então em média a empresa produz 1800 toneladas de bagaço, conseqüentemente podendo gerar aproximadamente 50 mil kWh por dia. Enfim, exemplos não faltam. A busca por energias renováveis é um dos caminhos mais lógicos para minimizar todo esse impacto ambiental. O homem precisa da energia e, de preferência, uma energia neutra, que desfaça o próprio mal que ele provocou. Essa é uma característica da geração com biomassa. Fontes como cana-de-açúcar, resíduos de madeira, casca de arroz e licor negro podem ser utilizadas para gerar energia local, reduzindo também os custos e poupando a natureza de seus malefícios. Com a necessidade imperiosa do meio ambiente mundial, de não mais se queimar combustíveis fósseis, além de vivenciar uma crise latente no setor de geração de energia elétrica no Brasil, trabalhar com essas possibilidades é o caminho certo a ser seguido. Pode-se concluir que a coogeração de energia elétrica através do bagaço da cana-deaçúcar tem uma série de benefícios, tais como: o aproveitamento do resíduo, disponibilização em grande quantidade, o fácil processamento, o baixo custo se comparado com a construção de hidrelétricas que causam enorme degradação ambiental, sem contar que o país está em crescente ascensão no setor, com construção de inúmeras usinas sucroalcooleiras, que tem 63 como subproduto, o bagaço que servirá para a geração de energia bem no período de escassez das chuvas, quando os reservatórios das hidrelétricas estão com baixo nível. Outro ponto positivo é que 78,5% da energia gerada é excedente, isto é, está disponível para a comercialização, possibilitando uma diversificação da matriz produtiva e conseqüentemente, proporcionando uma confiabilidade financeira à organização. Este excedente que é de 31,4 MWh, é suficiente para atender a um município com 100 mil habitantes. A implantação deste empreendimento ainda contribui para o desenvolvimento sustentável da sociedade, através da proteção ambiental, minimizando o impacto da empresa junto ao meio ambiente. Portanto, este trabalho contribuiu, para disseminação das vantagens em promover a construção de uma usina termelétrica utilizando o bagaço da cana-de-açúcar para gerar energia elétrica, visando que o país está em franco crescimento na produção da cana-deaçúcar, e que os resíduos que até então eram descartados, podem auferir uma fonte de renda atraente. Para a realização de trabalhos futuros recomenda-se: • Um estudo sobre medidas de soluções para a entre safra, no qual o insumo para a geração de energia (bagaço da cana-de-açúcar) não existirá. • Um estudo para utilizar a casca do arroz para a geração de energia elétrica, levando em consideração a significante produção do arroz na região de Joinville. 64 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ANEEL, Agência Nacional de Energia Elétrica, Legislação básica do Setor Elétrico, Disponível http://www.aneel.gov.br, em 01/09/2008. BARROS, Aidil Jesus da Silveira, e LEHFELD, Neide Aparecida de Souza Lehfeld. Fundamentos de Metodologia Científica – Um guia para a iniciação científica. 2ª edição ampliada, ed. Pearson Makron Books, São Paulo, 2006. BERMANN, Célio. Impasses e perspectivas para as energias renováveis no Brasil. Correio da cidadania – São Paulo, 28/ago/2007 BIOENERGIA, Revista Brasileira de, ano 1 – n° 2 – outubro/2007. Proposta ousada que se tornou referência nacional e internacional em biomassa. BRASIL. Decreto n° 5163, de 30 de julho de 2004a – Regulamenta a comercialização de energia elétrica, Atos do Poder Executivo. Disponível http://www.abraceel.com.br/anexos_antigos/20082004154311.pdf, em 17/09/2008 BRASIL. Decreto n° 5177, de 30 de julho de 2004b – Regulamenta a contratação de energia de reserva de que trata o paragrafo 3 do artigo 3 e o artigo 3-a da lei 10.848, de 15 de março de 2004, altera o artigo 44 do decreto 5.163, de 30 de junho de 2004, e o artigo 2 do decreto 5.177, de 12 de agosto de 2004, e da outras providencias. Disponível http://www6.senado.gov.br/sicon/ListaReferencias.action?codigoBase=2&codigoDocumento =239210, em 17/09/2008 65 BRASIL. Lei n° 10848, de 15 de março de 2004c – Dispõe sobre a comercialização de energia elétrica, Casa Civil – Planalto do Governo. Disponível http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.848.htm, em 17/09/2008. BRASIL. Lei n° 10.438, de 26 de abril de 2002 - Dispõe sobre a expansão da oferta de energia elétrica emergencial, recomposição tarifária extraordinária, cria o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), Casa Civil – Planalto do Governo. Disponível http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10438compilada.htm, em 17/09/2009. CCEE, Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, Resultados dos Leilões de Energia. Disponível http://www.ccee.org.br, em 21/07/2008. CENBIO, Centro Nacional de Referência em Biomassa. Disponível http://cenbio.iee.usp.br/ em 09/09/2008. CHUEIRE, Rubens Jr. Biomassa, o futuro da energia – Jornal O Estado do Paraná. 17 de julho de 2008. COSTA, Claudia do Vale. Políticas de promoção de fontes novas e renováveis para geração de energia elétrica: lições da experiência européia para o caso brasileiro. Tese de Doutorado em Ciências de Planejamento Energético. Rio de Janeiro, 2006. 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Disponível http://www.vs5energia.com.br/comercializacao.htm, em 05/09/2008. 68 ANEXOS 69 ANEXO I CCVE - CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE ENERGIA ELÉTRICA SISTEMA ELETRÔNICO DE COMERCIALIZAÇÃO DO CONSUMIDOR LIVRE CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE ENERGIA ELÉTRICA, QUE ENTRE SI CELEBRAM [ ] E [ ]. Pelo presente instrumento, de um lado, [...], concessionária do serviço público de geração de energia elétrica/produção independente/autoprodução ou comercializador de energia elétrica, com sede na [...], na Cidade de [...], Estado de [...], inscrita no CNPJ/MF sob o n.º [...], neste ato representada nos termos do seu Contrato/Estatuto Social, doravante denominada VENDEDORA; de outro lado, [...], consumidor livre/comercializador de energia elétrica, com sede na [...], na Cidade de [...], Estado de [...], inscrita no CNPJ/MF sob o n.º [...], neste ato representada nos termos do seu Contrato/Estatuto Social, doravante denominada COMPRADORA; qualquer delas tratadas indistintamente PARTE e quando em conjunto denominadas PARTES, CONSIDERANDO: a legislação aplicável ao setor elétrico brasileiro, em especial o contido na Lei 9.074/95, na Lei 9.648/98, na Lei 10.438/04, na Lei 10.848/04, no Decreto 2.655/98, no Decreto 4.667/03, no Decreto 5.163/04 e nas Resoluções da ANEEL; que a COMPRADORA, caracterizada como [consumidor livre de energia elétrica na forma da Lei 9.074/95, ou comercializadora] participou dos Leilões do SECC de comercialização nos termos do Edital SECC 01-2007; que a VENDEDORA, autorizada a comercializar energia elétrica na forma da legislação vigente, participou dos Leilões do SECC nos termos do Edital SECC 01-2007; Resolvem celebrar o presente Contrato de Compra e Venda de Energia Elétrica, doravante denominado “CONTRATO”, que se regerá pelas seguintes Cláusulas e condições: CLÁUSULA 1ª – Objetivando o perfeito entendimento e precisão da terminologia técnica empregada neste CONTRATO e seu anexo, fica desde já acordado entre as PARTES o conceito dos seguintes vocábulos e expressões: Aneel: Agência Nacional de Energia Elétrica, órgão normativo e fiscalizador dos serviços de energia elétrica, instituída pela Lei nº 9.427/96 e regulamentada pelo Decreto nº 2.335/97; Autoridade Competente: qualquer órgão governamental que tenha competência para interferir neste CONTRATO ou nas atividades das PARTES; 70 CCEE: Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, pessoa jurídica autorizada pela ANEEL para viabilizar as operações de compra e venda nos sistemas elétricos interligados, nos termos da Lei nº 10.433/02 e Decreto nº 5.177/04 e Resolução ANEEL nº 109/04; de direito privado, de energia elétrica Lei nº 10.848/04, Centro de Gravidade: ponto virtual definido nas Regras e Procedimentos de Comercialização da CCEE, onde a geração total é igual ao consumo total daquele Submercado; Edital: é o Edital SECC 01-2007; Energia Contratada: montante em MW médio contratado pela COMPRADORA e vendido pela VENDEDORA, para o Período de Suprimento, e colocado à disposição no Ponto de Entrega , conforme Anexo I deste CONTRATO; Leilões do SECC: processo de leilões simultâneos de compra e venda de energia elétrica, realizados no âmbito do SECC e regido nos termos do Edital; Período de Suprimento: corresponde ao período da 00:00 horas do dia 1º às 24:00 horas do último dia de cada mês. Preço de Venda: significa o preço em R$/MWh (Reais por megawatt hora) da Energia Contratada indicado no Anexo I deste CONTRATO, definido conforme regras do Edital; Ponto de Entrega: é o Centro de Gravidade especificado no Anexo I deste CONTRATO; Regras e Procedimentos de Comercialização: é o conjunto de regras comerciais, suas formulações algébricas e procedimentos operacionais, definidos pela ANEEL e de cumprimento obrigatório pelos agentes participantes da CCEE; SECC: é o Sistema Eletrônico de Comercialização do Consumidor Livre, utilizado para o cadastramento de agentes participantes e para o recebimento de ofertas de compra e ofertas de venda, de acordo com a sistemática prevista no Edital; Submercados: são as subdivisões do mercado de energia elétrica, correspondentes a determinadas áreas do Sistema Interligado, para as quais são estabelecidos preços específicos, de acordo com as Regras e Procedimentos de Comercialização; Tributos: são todos os impostos, taxas e contribuições incidentes sobre o objeto deste CONTRATO, excluído qualquer outro existente ou que venha a ser criado sobre o lucro líquido ou resultado de qualquer das PARTES. Tal exclusão abrange, não estando limitada a, o imposto sobre a renda da pessoa jurídica, a contribuição social sobre o lucro e impostos ou contribuições sobre movimentações financeiras. Parágrafo Único – Todos os termos acima definidos, quando usados na forma singular, no âmbito deste CONTRATO e seu anexo significarão sua forma plural e vice-versa. CLÁUSULA 2ª – As PARTES concordam em se submeter às Regras e Procedimentos de Comercialização, à legislação vigente e suas modificações. CLÁUSULA 3ª – É parte integrante do presente CONTRATO o Anexo I – Energia Contratada. CLÁUSULA 4ª – O presente CONTRATO tem por objeto estabelecer os termos e condições referentes à comercialização da Energia Contratada, a ser disponibilizada pela VENDEDORA à COMPRADORA no Ponto de Entrega descrito no Anexo I deste CONTRATO, no Período de Suprimento. 71 CLÁUSULA 5ª - A VENDEDORA obriga-se a efetuar o registro deste CONTRATO na CCEE e a COMPRADORA obriga-se a validá-lo, de acordo com as disposições previstas nas Regras e Procedimentos de Comercialização, observado o disposto nos parágrafos abaixo. Parágrafo Primeiro – A VENDEDORA efetuará o registro do CONTRATO no Sistema Sinercom da CCEE, com montantes horários e mensais zerados, em favor da COMPRADORA, até o 4º dia útil do mês subseqüente ao mês de consumo (MS+4). Parágrafo Segundo – A COMPRADORA efetuará a validação do CONTRATO no Sistema Sinercom da CCEE até o 6º dia útil do mês subseqüente ao mês de consumo (MS+6). Parágrafo Terceiro – A COMPRADORA efetuará o pagamento da Energia Contratada até o 7º dia útil do mês subseqüente ao mês de consumo (MS+7), conforme Cláusula 9a abaixo. Parágrafo Quarto - A VENDEDORA deverá alterar o registro do CONTRATO no Sistema Sinercom da CCEE, incluindo os montantes de Energia Contratada, até o 8º dia útil do mês subseqüente ao mês de consumo (MS+8), após confirmação do pagamento efetuado pela COMPRADORA. Parágrafo Quinto - A COMPRADORA validará no Sistema Sinercom da CCEE os montantes alterados pela VENDEDORA, conforme parágrafo quarto acima, até o último dia permitido pelas Regras e Procedimentos de Comercialização. CLÁUSULA 6ª – Os montantes de Energia Contratada vendidos pela VENDEDORA à COMPRADORA sob as condições deste CONTRATO, representam a quantidade de MW médio especificada no Anexo I. CLÁUSULA 7ª – A energia elétrica em MW médio será tomada em base mensal com patamar único e será disponibilizada no Submercado especificado no Anexo I. CLÁUSULA 8ª – A COMPRADORA pagará à VENDEDORA, pelo montante da Energia Contratada, o Preço de Venda especificado no Anexo I deste CONTRATO. Parágrafo Primeiro – As PARTES concordam que será de inteira responsabilidade da VENDEDORA arcar com todos os riscos, obrigações, responsabilidades, Tributos, tarifas, encargos de transmissão, distribuição e conexão e perdas de transmissão porventura devidas e/ou verificadas em face da disponibilização da Energia Contratada até o Ponto de Entrega. Parágrafo Segundo – As PARTES concordam que será de inteira responsabilidade da COMPRADORA arcar com todos os riscos, obrigações, responsabilidades, Tributos, tarifas, encargos de transmissão, distribuição e conexão e perdas porventura devidas e/ou verificadas após a disponibilização da Energia Contratada no Ponto de Entrega. CLÁUSULA 9a – A VENDEDORA emitirá contra a COMPRADORA uma única Nota Fiscal/Fatura de Energia Elétrica até o 4o dia útil do mês subseqüente ao mês de consumo (MS+4), conforme disposto na Cláusula 5a acima, e cujo valor será definido de acordo com a seguinte fórmula: Valor da Fatura = Energia Contratada x nº de horas do Período de Suprimento x Preço de Venda Parágrafo Único - O valor faturado será acrescido, se aplicável, do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), calculado na forma da legislação específica e outros tributos e encargos que venham a incidir sobre a fatura. 72 CLÁUSULA 10a - O pagamento da Nota Fiscal/Fatura de Energia Elétrica de que trata a Cláusula 9a deverá ser efetuado pela COMPRADORA até o 7o dia útil do mês subseqüente ao mês de consumo da Energia Contratada (MS+7). Parágrafo Primeiro – Caso a data limite de vencimento não ocorra em dia útil na praça do município da COMPRADORA, o pagamento da Nota Fiscal/Fatura de Energia Elétrica poderá ser efetuado no primeiro dia útil subseqüente. Parágrafo Segundo – Caso o documento original de cobrança seja apresentado em data posterior à prevista nesta Cláusula, por motivo não imputável à COMPRADORA, a data de vencimento da Nota Fiscal/Fatura de Energia Elétrica será automaticamente prorrogada pelo mesmo número de dias do atraso verificado. Parágrafo Terceiro – A COMPRADORA aceitará o envio de cópia do documento original de cobrança através de fac-símile ou qualquer meio eletrônico seguro acordado entre as PARTES, apenas para agilizar o processo de pagamento, devendo a VENDEDORA encaminhar o documento original de cobrança até 1 (um) dia útil antes da data do vencimento da Nota Fiscal/Fatura de Energia Elétrica. Parágrafo Quarto – O pagamento da Nota Fiscal/Fatura de Energia Elétrica será efetuado por meio de depósito em conta corrente a ser indicada pela VENDEDORA à COMPRADORA na praça de pagamento referida no parágrafo primeiro desta Cláusula. CLÁUSULA 11 – Se ocorrerem divergências quanto aos valores constantes da Nota Fiscal/Fatura de Energia Elétrica, a COMPRADORA solicitará à VENDEDORA a revisão da parte controversa, efetuando o pagamento do valor incontroverso na data de vencimento estipulada na Cláusula 10 acima. Parágrafo Primeiro – Caso a divergência decorra de erro no faturamento e a solicitação seja procedente, a VENDEDORA se compromete a emitir nova Nota Fiscal/Fatura de Energia Elétrica, até 1 (um) dia útil após o recebimento da solicitação de revisão. Parágrafo Segundo – Caso permaneçam as divergências em relação aos valores faturados, as PARTES concordam em proceder de acordo com o disposto na Cláusula 19 e seguintes. CLÁUSULA 12 – Caso alguma das PARTES não possa cumprir qualquer de suas obrigações, por motivo de caso fortuito ou força maior, nos termos do disposto no art. 393 do Código Civil Brasileiro, o presente CONTRATO permanecerá em vigor, mas a PARTE afetada pelo evento não responderá pelas conseqüências do não cumprimento das obrigações durante o tempo de duração do evento e proporcionalmente aos seus efeitos. Parágrafo Único – A PARTE afetada por evento que caracterize caso fortuito ou força maior dará notícia à outra, no máximo em 48 (quarenta e oito) horas, das circunstâncias do evento, detalhando sua natureza, a expectativa de tempo para que possa cumprir a obrigação atingida e outras informações que sejam pertinentes, além de, regularmente, renovar as mesmas informações. CLÁUSULA 13 – Este CONTRATO poderá ser rescindido de pleno direito, pela PARTE adimplente, na ocorrência de qualquer das seguintes hipóteses: (i) Caso a outra PARTE tenha revogada qualquer autorização legal, governamental ou regulatória indispensável ao cumprimento das atividades e obrigações previstas neste CONTRATO, inclusive, mas não se limitando a concessão de serviço público, termo de permissão e autorização, ou tenha qualquer de seus direitos como Agente da CCEE suspensos; 73 (ii) Caso o registro deste CONTRATO seja, eventualmente, cancelado pela CCEE, de acordo com as Regras e Procedimentos de Comercialização ou por Autoridade Competente; (iii) No caso de inadimplemento de quaisquer obrigações previstas neste CONTRATO. CLÁUSULA 14 – A PARTE inadimplente deverá ser avisada para sanar a irregularidade apontada e terá o prazo de 5 (cinco) dias para sanar tal irregularidade após o referido aviso. Transcorrido esse prazo, e sem que a irregularidade seja sanada, o CONTRATO poderá ser rescindido pela PARTE adimplente. A rescisão deverá ser formal e comunicada por escrito às entidades regulatórias competentes para as providências cabíveis. CLÁUSULA 15 – A PARTE que, por sua ação ou omissão, der causa à rescisão do presente CONTRATO por incorrer nas hipóteses tratadas na Cláusula 13 acima, ficará obrigada a ressarcir à outra PARTE, mediante o pagamento de multa rescisória equivalente a 150% (cento e cinqüenta por cento) do valor deste CONTRATO, conforme a seguinte fórmula: Multa = Energia Contratada x nº horas do Período de Suprimento x Preço de Venda x 1,5 Parágrafo Único – No caso de rescisão por evento de força maior ou caso fortuito, não incidirá a multa rescisória, ficando as PARTES desobrigadas do cumprimento deste CONTRATO, exceto quanto às obrigações ainda pendentes. CLÁUSULA 16 – A responsabilidade de cada uma das PARTES no âmbito deste CONTRATO estará, em qualquer hipótese, limitada ao valor estabelecido na Cláusula 15 acima, sendo que nenhuma das PARTES assumirá qualquer obrigação de indenizar a outra por quaisquer danos emergentes, inclusive lucros cessantes, danos morais ou qualquer outra modalidade de indenização dessa mesma natureza. CLÁUSULA 17 – O término deste CONTRATO não afetará quaisquer direitos ou obrigações anteriores a tal evento e nem obrigações ou direitos de quaisquer das PARTES, ainda que seu exercício ou cumprimento se dê após o término do CONTRATO. CLÁUSULA 18 – Sem prejuízo das demais obrigações aqui previstas, as PARTES obrigamse a: a) Observar e cumprir rigorosamente toda a legislação aplicável aos seus negócios sociais e/ou às atividades a serem desempenhadas nos termos do presente CONTRATO; e b) Informar a outra PARTE, num prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas contado da data do conhecimento do evento, sobre quaisquer eventos, de qualquer natureza, que possam representar uma ameaça ao cumprimento integral e pontual das obrigações assumidas neste CONTRATO. Parágrafo Único – A VENDEDORA obriga-se a não celebrar quaisquer contratos de venda de energia elétrica, nem aditar os ora existentes, com o intuito de assumir quaisquer compromissos de fornecimento de energia elétrica em montantes que impeçam ou inviabilizem a disponibilização da Energia Contratada nos termos deste CONTRATO. CLÁUSULA 19 – Uma controvérsia se inicia com a NOTIFICAÇÃO DE CONTROVÉRSIA de uma PARTE à outra. CLÁUSULA 20 – Caso ocorram controvérsias derivadas deste CONTRATO, as PARTES buscarão solucionar a controvérsia amigavelmente no prazo de até 10 (dez) dias contados do recebimento da NOTIFICAÇÃO DE CONTROVÉRSIA. 74 CLÁUSULA 21 – Não sendo possível a solução da controvérsia nos termos da Cláusula 20 acima, as PARTES poderão, se assim acordarem, submetê-la à mediação da ANEEL, conforme as normas específicas aplicáveis. CLÁUSULA 22 – Caso a controvérsia não seja solucionada na forma das Cláusulas anteriores, as PARTES poderão recorrer à via judicial para dirimi-las em caráter definitivo. CLÁUSULA 23 – O presente CONTRATO entra em vigor na data de sua assinatura e vigorará até o efetivo cumprimento de todas as obrigações contratuais. CLÁUSULA 24 - Este CONTRATO não poderá ser alterado, nem haver renúncia às suas disposições, exceto por meio de aditamento escrito firmado pelas PARTES, observado o disposto na legislação aplicável. CLÁUSULA 25 – Na hipótese da VENDEDORA, durante a vigência deste CONTRATO, vir a ser objeto de reestruturação societária e/ou patrimonial, inclusive para fins de desestatização, mediante sua cisão, fusão, incorporação, alienação de ativos, fica desde logo ajustado entre as PARTES que o presente CONTRATO deverá ser integralmente assumido pela empresa geradora que resultar de tal processo. CLÁUSULA 26 – Nenhum atraso ou tolerância, por qualquer das PARTES, relativamente ao exercício de qualquer direito, poder, privilégio ou recurso contido neste CONTRATO, será tido como passível de prejudicar tal direito, poder, privilégio ou recurso, nem será interpretado como renúncia do(s) mesmo(s) ou novação da(s) obrigação(ões). CLÁUSULA 27 – Qualquer aviso ou outra comunicação de uma PARTE à outra a respeito deste CONTRATO deverá ser feita por escrito, em língua portuguesa, e poderá ser entregue ou ser enviada por correio registrado, fac-símile ou meio eletrônico, em qualquer caso com prova formal do seu recebimento, nos endereços constantes do preâmbulo do presente instrumento, ou para os endereços que, no futuro, venham as PARTES a indicar expressamente. CLÁUSULA 28 – Na hipótese de qualquer das disposições previstas neste CONTRATO vir a ser declarada ilegal, inválida ou inexeqüível, as disposições remanescentes não serão afetadas, permanecendo em plena vigência e aplicação. Na ocorrência da hipótese aqui prevista, as PARTES se obrigam, desde já, a buscar uma disposição que a substitua e que atenda aos objetivos da disposição considerada ilegal, inválida ou inexeqüível, e que mantenham, tanto quanto possível, em todas as circunstâncias, o equilíbrio dos interesses comerciais das PARTES. CLÁUSULA 29 - Este CONTRATO é reconhecido pelas PARTES como título executivo, na forma dos Artigos 583 e 585, inciso II, do Código de Processo Civil Brasileiro, para efeito de cobrança dos valores devidos. CLÁUSULA 30 – Este CONTRATO será regido e interpretado, em todos os seus aspectos, de acordo com as leis brasileiras. CLÁUSULA 31 – Fica eleito o Foro da Comarca de São Paulo, para dirimir qualquer dúvida ou questão decorrente deste CONTRATO e/ou a ele relacionada, com expressa renúncia de qualquer outro, por mais privilegiado que seja. 75 E, POR ESTAREM ASSIM JUSTAS E CONTRATADAS, AS PARTES CELEBRAM O PRESENTE INSTRUMENTO EM [ ] VIAS DE IGUAL TEOR, FORMA e EFEITOS, NA PRESENÇA DAS DUAS TESTEMUNHAS ABAIXO ASSINADAS. (Local e data). VENDEDORA: _____________________________ _______________________ COMPRADORA ___________________________ ________________________ Testemunhas: __________________________ ________________________ 76 ANEXO II CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE ENERGIA ELÉTRICA Energia Contratada ENERGIA CONTRATADA Energia Contratada ........ MW médios Ponto de Entrega Centro de Gravidade do Submercado ............... Modulação Flat Período de Suprimento de ...... a ...... de ......... de 20. Preço de Venda R$______/MWh (valor por extenso)