ESTUDO 61: INDÚSTRIA DE CIMENTO Pesquisador WillIiam Wills Coordenador Emílio Lébre La Rovere SIGLAS ABCP BNDES CADE CBIC CCS CO2 CSI DNPM EC EPA EPE UE FAKS GEEs INMETRO MCT NOx SNRC SNIC SO2 SRC UTE WBCSD Associação Brasileira de Cimento Portland Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social Conselho Administrativo de Defesa Econômico Câmara Brasileira da Indústria da Construção Captura e Armazenagem de Carbono Dióxido de Carbono The Cement Sustainability Initiative Departamento Nacional de Produção Mineral European Commission United States Environmental Protection Agency Empresa de Pesquisa Energética União Européia Sistema avançado de forno de cimento com leito fluidizado Gases de efeito estufa Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial Ministério da Ciência e Tecnologia Óxidos de nitrogênio Redução Não Catalítica Seletiva Sindicato das Indústrias de Cimento Dióxido de enxofre Redução Catalítica Seletiva Usina Termelétrica World Business Council for Sustainable Development INTRODUÇÃO A utilização do cimento tem sido considerada desde o início do século XX a solução econômica e em grande escala tanto para o problema da moradia humana, como para a construção das grandes obras da engenharia moderna. Por sua matéria prima ser abundante e barata, grandes e pequenas obras realizadas em todo o mundo utilizam o cimento. Embora a indústria de cimento tenha um grande papel na construção das cidades e da civilização atual em geral, ela gera diversos impactos ambientais e sociais, com conflitos tanto no entorno de suas áreas de fabricação como em outras localidades que tenham relação com a sua produção. Conflitos com comunidades próximas a plantas de fabricação também não são raros. Quase todas as fases de produção de cimento geram impactos ao meio ambiente, e embora o setor esteja se aprimorando com o uso de técnicas e equipamentos mais modernos, ainda há registros de danos gerados pelas fábricas em algumas regiões. Somente a partir década de 70 do século XX as questões ambientais ganharam maior projeção, e fazem parte das preocupações de governos e sociedade, e desde então, o meio industrial vem percebendo a necessidade de controlar suas emissões de poluentes para o meio ambiente. Infelizmente, até a década de 90 do mesmo século, a principal busca era a de mitigar ou remediar os impactos sem preveni-los ou evitá-los. Foi quando então se percebeu que a tentativa de controle da poluição deveria ser aplicada a todo o processo produtivo, reduzindo-se assim perdas resultantes de ineficiências de uma produção mal planejada. É nessa perspectiva que se insere a Ecologia Industrial, que busca diminuir as entradas e saídas de recursos naturais e rejeitos, minimizando os desperdícios e otimizando o processo produtivo como um todo por meio de fechamento de ciclos. O reaproveitamento, reutilização e reciclagem são práticas aplicáveis ao processo produtivo do cimento, que é propício ao fechamento de ciclos e à integração com outros tipos de fábricas e processos produtivos, abrindo um grande leque de opções para tornar esse setor menos impactante ao meio ambiente. Entretanto, os impactos gerados pelo setor não se resumem à dimensão ambiental. Algumas das vezes o processo produtivo do cimento gera também conflitos sociais, atingindo tanto os trabalhadores das fábricas quanto os habitantes de seu entorno (Maury de Carvalho, 2008). Este estudo tem como objetivo descrever o processo produtivo do cimento, desde a extração de matérias-primas, passando pela clinquerização, e chegando à produção final, e identificar seus principais impactos ambientais e sociais. Estes itens comporão a Parte 1 do estudo. A proposição de conceitos da que pertencem à Ecologia Industrial também faz parte desse estudo, que apresenta, na Parte 2, as melhores práticas nacionais e internacionais para a solução de tais impactos. Dentre outros aspectos que serão abordados nesse estudo, podem-se citar as falhas de mercado, a estrutura de financiamento do setor. Na Parte 3 serão apresentadas as principais tendências e desafios do setor, a fim de tornar essa indústria mais sustentável sem perder a sua competitividade. Para que se tenha sucesso por essa busca de uma sustentabilidade do setor, é necessário uma conscientização por parte de todos os agentes, incluindo governos, órgãos financiadores e os grupos produtores no sentido de incentivar uma produção mais limpa e eficiente, que gere menos impactos ambientais e sociais. Somente dessa forma é possível construir uma nova realidade para a indústria do cimento, com processos produtivos mais sustentáveis, que podem contribuir também para a solução de problemas de rejeitos de processos de outras indústrias. PARTE 1 – DIAGNÓSTICO SOCIOECONÔMICO E AMBIENTAL Diagnóstico Socioeconômico e Ambiental Descrição do Setor O cimento começou a ser produzido no Brasil em escala industrial a partir de 1926. Na década de 70, a produção cresceu intensamente, com uma elevação do patamar de 9,8 milhões de toneladas por ano para 27,2 milhões de toneladas no início dos anos 80, período em que a recessão da economia nacional provocou queda no consumo. Ao longo dos anos 90, houve uma retomada no crescimento do consumo, o que provocou grande aumento de produção. A produtividade alcançada no período de estagnação foi extremamente eficaz para a obtenção dos resultados nessa fase. O ano de 1999 foi excepcional, chegando a 40,2 milhões de toneladas de cimento devido, especialmente, à estabilização econômica provocada pelo Plano Real. Entre os anos 2000 e 2003 a produção sofreu queda, resultante das sucessivas crises mundiais e conseqüente instabilidade econômica. Desde 2004, o consumo se estabilizou, indicando o início de uma retomada que culminou, em 2006, com o consumo voltando ao patamar de 40 milhões de toneladas, reflexo da expansão das construções imobiliárias ocorrida em todas as regiões do país, tanto nas capitais quanto no interior. Na figura 1.1, a seguir é apresentada a produção de cimento no Brasil entre 1970 e 2008. Figura 1.1 – Produção Anual de Cimento no Brasil entre 1970 e 2008 (106 ton). Fonte: SNIC, 2009 Na figura 1.1 pode-se observar a recente recuperação a partir de 2004, e um intenso crescimento nos últimos anos. A produção de cimento em 2008 bateu todos os recordes. Na figura 1.2, a seguir, vemos o mesmo gráfico, porém mais detalhado, com a produção mensal. Figura 1.2 - Produção mensal de Cimento (mil ton). Fonte: www.ipeadata.gov.br A figura 1.2 deixa claro que a produção de cimento não se dá de maneira constante ao longo do ano. Também podemos observar nessa figura os efeitos da recente crise mundial. Apesar de manter trajetória de alta, no começo de 2009 a produção teve uma queda, significativa, porém já mostrando sinais de recuperação no inicio de 2010, em parte devido aos incentivos fiscais, como a redução de IPI para produtos da construção civil. Apesar da grande crise mundial iniciada em 2008, o Brasil apresentou consumo recorde de cimento superando a marca de 51 milhões de toneladas, colocando o país como o 5º maior consumidor mundial do produto. Ao analisarmos o consumo per capita, porém, vemos que o Brasil ainda se encontra em um estágio inferior a outros países desenvolvidos, estando à frente somente da média dos países africanos, como pode ser observado na figura 1.3, a seguir. Figura 1.3 – Consumo per capita de cimento (kg/hab). Fonte: SNIC, 2008 O Brasil lidera tanto a produção quanto o consumo na América Latina, sendo responsável por 1,6% do consumo mundial. Se a produção da China fosse excluída, a participação do Brasil alcançaria 3% do mercado mundial. O País está entre os 10 maiores produtores e consumidores mundiais de cimento (SNIC, 2009). No ano de 2007, as exportações haviam crescido 19%, atingindo 1,2 milhões de toneladas, representando 2,7% da venda total de cimento. Em 2008, esta tendência não se manteve, e devido ao aquecimento no mercado brasileiro, a produção foi totalmente direcionada para consumo interno. Dessa forma, as exportações caíram para 512 mil toneladas, como pode ser visto na figura 1.4, a seguir. Figura 1.4 – Evolução da Exportação de Cimento (mil ton). Fonte: SNIC, 2009 Para suprir o aumento de demanda, em 2008, que apresentou consumo recorde de 51,8 milhões de toneladas (crescimento de 14,4% sobre 2007), as exportações cairam 58%. Atualmente, operam no Brasil 68 fábricas, pertencentes a 10 grupos industriais nacionais e estrangeiros, com capacidade instalada da ordem de 63 milhões t/ano, suficiente para atender à demanda interna. A tabela 1.1, a seguir, apresenta os números da produção e da participação dos 9 principais grupos cimenteiros do país. 3 Tabela 1.1 – Produção e participação dos maiores grupos cimenteiros (10 ton). Empresa Votorantin João Santos CIMPOR Camargo Corrêa Holcim Lafarge Ciplan Itambé Outros Total (103 ton) 18.967 5.526 4.237 3.547 3.342 3.155 1.343 939 4.858 45.914 2007 % variação 41,3 12,0 9,2 77 7,3 6,9 2,9 2,0 10,6 100 (103 ton) 21.057 6.467 4.648 4.669 3.976 3.485 1.365 1.241 4.814 51.722 2008 % variação 40,7 12,5 9,0 9,0 7,7 6,7 2,6 2,4 9,3 100 Fonte: SNIC, 2009 Algumas características específicas da produção do cimento tornam sua logística bastante complexa: trata-se de produto consumido durante o ano inteiro, sem interrupções; deve estar presente em todas as regiões do País, pois é imprescindível em quase todos os tipos de obras; dois terços são distribuídos através da cadeia da revenda; apresenta baixa relação preço/peso; requerer estocagem em condições especiais, pois é perecível e em prazos limitados a poucos dias. Por todos esses motivos, o peso da logística do cimento é maior do que em diversos outros segmentos de bens de consumo. Dessa forma, a localização das fábricas deve se dar a distâncias relativamente pequenas de seu mercado alvo. O modal de transporte mais utilizado pela indústria é o rodoviário, com 94% do total de cimento transportado, o que, também, contribui para o já citado elevado peso da logística no setor. A figura 1.5, a seguir, mostra a localização das principais fábricas de cimento no Brasil. Figura 1.5 – Localização das fábricas de cimento no Brasil. Fonte: SNIC, 2009 O raio de distribuição do cimento atinge em média 300 a 500 quilômetros nas regiões Sul/Sudeste, e pode chegar a mais de 1000 quilômetros no Norte/Nordeste. Na região Norte existe a necessidade do uso do modal hidroviário devido às características da região. O sistema ferroviário, apesar de ter adquirido mais qualidade com as privatizações, ainda tem pouquíssima utilização para o transporte de cimento, em parte devido à disputas com outros produtos. Os principais concorrentes no transporte do cimento são o aço, os minérios e os produtos agrícolas. Estes últimos são sazonais, mas a concorrência é direta ao longo do ano. Geração de empregos na indústria do cimento Para analisar o número e qualidade dos empregos no setor de cimento, foi utilizada a base de dados RAIS (Relação Anual de Informações Sociais). O RAIS, com abrangência de 90% do setor organizado da economia, têm informações prestadas pelas empresas formalmente ao Ministério do Trabalho e do Emprego. As limitações principais são erros e omissões no preenchimento dos questionários, mais comuns em pequenos municípios e em alguns setores específicos (agrícola, construção civil, gerenciamento público). Também, pela estrutura dos questionários, não são incluídos no setor usuário os terceirizados, nem os empregos indiretos. Na avaliação de rendimentos, o 13º salário não é incluído. Por esses motivos, valores de emprego e renda apresentados pelas companhias do setor podem conflitar com os dados apresentados nesta parte do estudo. Entretanto, cabe ressaltar que os dados oficiais do setor são estes apresentados nesta seção. Segundo a base RAIS, um total de 16.154 pessoas trabalhavam na indústria do cimento no ano de 2008, sendo o estado de Minas Gerais o maior produtor do país (cerca de 12,5 milhões de toneladas) e maior gerador de empregos (3.185 empregados), conforme figura 1.6, a seguir. Figura 1.6 – Distribuição dos empregos da indústria de cimento no Brasil. Fonte: RAIS, 2008. A figura 1.7, a seguir, apresenta o percentual de trabalhadores da indústria do cimento por faixa de rendimento médio. Cerca de 62% dos empregados dessa indústria recebem até 5 salários mínimos, enquanto 25% deles receberam entre 5 e 10 salários mínimos. Na faixa de rendimentos acima de 10 salários mínimos se encontram 13% dos trabalhadores do setor. Figura 1.7 – Percentual de trabalhadores da indústria do cimento por faixa de renda. Fonte: Elaboração própria, a partir de RAIS, 2008. Ainda segundo os dados de 2008 da base RAIS, 68% dos trabalhadores da indústria de cimento possuem o ensino médio concluído, enquanto 11% possui apenas o ensino fundamental e quase 21% possuem o ensino superior. O percentual de trabalhadores do sexo masculino é de 90% do total (RAIS, 2008). a. A Produção de Cimento Há hoje basicamente três principais métodos utilizados para a fabricação de cimento: o processo seco (via seca) e o processo úmido (via úmida), há ainda um terceiro, por via semi-seca. Em todos os métodos, os materiais são extraídos das minas e britados de forma mais ou menos parecidas, a maior diferença é no processo de moagem, mistura e queima. A partir desses dois métodos produz-se clínquer e o cimento obtido no final do processo é idêntico nos dois casos. No processo “via úmida” a mistura é moída com a adição de aproximadamente 40% de água, entra no forno rotativo sob a forma de uma pasta de lama. Já no processo “via seca”, a mistura é moída totalmente seca e alimenta o forno em forma de pó. Para secar a mistura no moinho aproveita-se os gases quentes do forno ou de gerador de calor. O processo “via úmida” foi o originalmente utilizado para o inicio da fabricação industrial de cimento, pois é bem mais simples na sua operação e não necessita de sistemas avançados de filtragem de material particulado. Já o processo seco tem a vantagem determinante de economizar combustível já que não tem água para evaporar no forno, o que reduz custos e diminui a emissão de poluentes. O forno de um processo por via seca é mais curto que um forno por via úmida, porém suas instalações de moagem e do forno são muito mais complexas. A homogeneização é mais difícil e as instalações requerem equipamento de filtragem de material particulado muito mais complexos. O processo tecnológico de fabricação de cimento implantado na maioria das cimenteiras instaladas no Brasil é o processo “via seca”, que será detalhado mais a frente (SANTI, 2003). Principais Etapas do Processo Produtivo “Via Seca” Duas grandes atividades constituem o processo de fabricação de cimento: a mineração de calcário (frentes de lavra) e a fabricação de cimento (indústria de transformação). Estas duas atividades estão interligadas fisicamente por correias transportadoras ou vagonetes teleféricas, que levam o minério britado até a planta industrial. A grande proximidade das plantas de fabricação às áreas de mineração é uma forte característica do processo de produção do cimento (Santi, 2003). A fabricação do cimento demanda os seguintes insumos de base-mineral: calcário, argila e gipsita (gesso), recursos minerais que são considerados relativamente abundantes na crosta terrestre. O calcário apresenta a maior participação proporcional na combinação de substâncias exigidas para a produção de cimento, calculando-se uma relação da ordem de 1,4t de rochas calcíticas para cada tonelada de cimento produzida. A figura 1.8, a seguir, apresenta a participação de cada uma dessas matérias primas na composição final do cimento. Figura 1.8 – Participação das matérias primas na composição do cimento. Fonte: SNIC, 2009, apud DNPM, 2009 A produção de cimento, como já mencionado anteriormente, exige elevados investimentos em equipamentos pesados, tornando a atividade bastante intensiva em capital. Na figura 1.9, a seguir, são apresentadas as principais etapas de fabricação do cimento, desde a fase de mineração até o transporte final. Essas etapas serão descritas a seguir, a partir de WBCSD (2009). Figura 1.9 – Principais etapas do processo de fabricação do cimento. Fonte: Adaptado de WBCSD, 2009a. Etapa 1 – Mineração: Depósitos naturais de calcário fornecem o carbonato de cálcio (CACO3), extraídos de minas a céu aberto, localizadas quase sempre bem próximas às plantas de fabricação. Pequenas quantidades de minério de ferro, bauxita, argila, xisto ou areia podem ser necessárias para prover óxido de ferro (Fe2O3), trióxido de alumínio (Al2O3), e sílica (SiO2) para adaptar a composição química do mix de matérias primas aos requisitos do processo e do produto. Etapa 2 – Britagem: As matérias primas são então encaminhadas aos trituradores primários e secundários, de onde saem em pedaços de cerca de 10 cm. Essa granulometria é adequada à sua alimentação nos moinhos de matérias primas da planta de fabricação de cimento. Etapa 3 – Pré-homogeneização: A qualidade do produto e a estabilidade do processo de produção requerem materiais quimicamente homogêneos. A préhomogeneização é o processo que mantém a mistura de matérias primas na sua composição química adequada. Os pedaços triturados são então moídos novamente em conjunto para produzir a “farinha crua”. Etapa 4 – Pré-aquecimento: Quase todos os fornos de cimento hoje em funcionamento contam com torres de pré-aquecimento, que são responsáveis por remover a umidade ainda restante no material (inferior a 1%) e por iniciar a descarbonatação do calcário. Os fornos de maior capacidade e mais modernos contam com torres maiores capazes de completar quase totalmente o processo de descarbonatação. Quanto mais eficaz o pré-aquecimento, mais curtos são fornos. Os pré-aquecedores mais utilizados são torres de ciclones, que são equipamentos capazes de retirar partículas sólidas de uma corrente de gases. Dispostos em elevadas estruturas, que freqüentemente ultrapassam 100 metros de altura, diversos separadores ciclônicos são interligados entre si através de dutos de imersão utilizados para troca térmica que ocorre entre a farinha alimentada e gases quentes provenientes do forno. Através da seqüência de ciclones fluem os gases quentes provenientes do forno, em contracorrente com a matéria prima. À medida que esta se mistura com o fluxo de gases, ocorre transferência de calor e transferência de massa. Nos primeiros trechos do processo, elimina-se a umidade superficial, enquanto a temperatura permanece próxima à temperatura de ebulição da água. A partir deste ponto, o material sólido contendo apenas umidade intergranular passa a ser aquecido gradativamente. No fim do processo, o material atinge de 700°C a 1000°C, suficiente para a água esteja eliminada e para se iniciarem decomposições químicas da matériaprima. Para uma maior produção e redução de custos, é adicionado mais um estágio no pré-aquecedor conhecido como calcinador. Ele é responsável por 60% a 95% da calcinação da farinha crua nos fornos rotativos para cimento, baixando a carga térmica na zona de queima e aumentando da vida útil do revestimento refratário. Etapa 5 – Pré-calcinação: A calcinação é a decomposição de calcário em óxido de cálcio. Parte da reação acontece no “pré-calcinador. Aqui, a decomposição química do calcário emite entre 60 a 65% das emissões de GEEs totais. O restante das emissões é gerado pela queima de combustíveis. Etapa 6 - Produção de Clínquer: O clínquer é o principal componente do cimento Portland, sendo a fonte de Silicato tricálcico (CaO)3SiO2 e Silicato dicálcico (CaO)2SiO2. Estes compostos tem uma forte característica de ligante hidráulico e estão diretamente relacionados com a resistência mecânica do material após a hidratação. A produção do clínquer é a parte central do processo de fabricação de cimento, sendo a etapa mais complexa e crítica em termos de qualidade e custo. No início do processo de fabricação do clínquer, a farinha pré-calcinada é levada ao forno rotativo. Parte das reações de descarbonatação e a formação de silicatos de cálcio e aluminatos de cálcio ocorrem no interior desse forno. Os fornos rotativos consistem em cilindros horizontais de até 160 metros de comprimento. Um pequeno ângulo de inclinação combinado ao lento movimento de rotação (entre 0,5 e 5,0 rpm) permite que o material percorra o cilindro a medida que desliza pelas paredes. Internamente, há um revestimento de material refratário que protege a carcaça do forno das altas temperaturas e conservam o calor em seu interior. A matéria prima permanece no forno por aproximadamente 4 horas e atinge temperaturas de até 1.230°C (uma menor temperatura produz cal e maior temperatura apenas aumenta o consumo energético). Essa elevada temperatura causa reações químicas e físicas, tornando a mistura incandescente e pastosa, e transformando a farinha em clínquer. A capacidade de produção de um forno médio é 3.000 a 4.000 toneladas por dia (próximo à média brasileira), já os maiores fornos do mundo produzem até 10.000 toneladas por dia. Etapa 7 – Resfriamento e armazenagem: Hoje em dia emprega-se dois principais tipos de resfriadores. Os fornos mais antigos ainda em operação utilizam resfriadores satélites, que são cilindros menores solidários ao movimento de rotação do forno, sendo acoplados à carcaça do mesmo. Os fornos construídos a partir da década de 1980 freqüentemente são dotados de resfriadores de grelha, possuindo ventilação forçada. Esse tipo de resfriador possibilita uma maior taxa de transferência de calor entre o clínquer e o ar entrante. Desta forma, reduz-se a temperatura de saída do material, possibilitando a recuperação de parte da energia associada ao mesmo, o que aumenta a eficiência do sistema. Além da eficiência energética, os resfriadores têm grande importância na qualidade do produto. O tempo e o perfil de resfriamento do mesmo são elementos chave para a determinação de suas propriedades químicas finais. Lentos processos de resfriamento levam à transformação de silicato tricálcico, instável à alta temperatura, em silicato dicálcico o que diminui a resistência do cimento. Hoje os resfriadores modernos, além de propiciarem uma ótima troca térmica, também possibilitam a recuperação de gases quentes que são reutilizados no processo de fabricação: o ar secundário auxilia na combustão na zona de queima, o ar terciário auxilia na combustão do calcinador e o ar de excesso em alguns na troca de calor do moinho de matéria prima. O produto (clínquer) ainda é moído e diluído em gesso, calcário e/ou escória siderúrgica para se chegar ao produto final. Etapa 8 – Adições: Nessa fase do processo o clínquer é misturado com outros componentes minerais. Todos os tipos de cimento contem em torno de 4 a 5% de gesso, que é utilizado para controlar o tempo de secagem do produto. O clínquer também pode ser misturado com outros componentes, como, por exemplo, resíduos de outras indústrias. Entretanto, diversos requisitos devem ser atendidos para que um resíduo possa ser empregado como matéria-prima secundária numa fábrica de cimento. Além de sua compatibilidade com as matérias-primas e com o clínquer, do ponto de vista tecnológico, esses materiais devem apresentar propriedades estruturais semelhantes às do cimento e garantir uniformidade e qualidade ao produto final, além de manter um custo competitivo em relação às matérias-primas tradicionais. Quando quantidades significativas de escória, cinzas, calcário, ou outros materiais são usados na mistura com o clínquer, o produto é chamado de cimento composto. Etapa 9 – Moagem do cimento: A mistura de clínquer resfriado e gesso é triturada, dando origem ao cimento Portland comum, ou então triturada em conjunto com outros componentes minerais ou outros resíduos para chegar ao cimento composto. Etapa 10 – Armazenagem e transporte: O produto final é então homogeneizado e armazenado em silos. O despacho do cimento é feito para uma central de empacotamento, no caso de cimento ensacado ou para um caminhão silo, no caso de venda a granel. O Consumo de Energia O setor de cimento no Brasil possui um parque industrial moderno e opera com altos níveis de eficiência energética, como já foi mencionado no item anterior, devido ao parque instalado utilizar, na grande maioria de suas fábricas, o processo “via seca”. O nível médio de consumo específico de energia térmica na indústria do cimento brasileira encontra-se em 825 kcal/kg de cimento e o consumo específico de energia elétrica em 107 kWh/ton (SNIC, 2009). Esses valores estão abaixo daqueles apresentados pelos EUA e principais produtores da União Européia, conforme figura 1.10, que demonstra a eficiência energética da indústria nacional. Essa eficiência é traduzida em menores impactos ao meio ambiente, com menor emissão de gases poluentes locais e globais. Figura 1.10 – Comparação do consumo de energia entre países selecionados. Fonte: SNIC, 2009 A tabela 1.2, a seguir, apresenta uma comparação do consumo de energia das principais tecnologias de fabricação de clínquer. Tabela 1.2 – Consumo de energia por tipo de tecnologia. TECNOLOGIA VIA ÚMIDA VIA SEMI-SECA VIA SECA (FORNO LONGO) VIA SECA COM PRÉ-AQUECEDOR VIA SECA COM PRÉ-CALCINADOR CONSUMO ESPECÍFICO (kcal/kg Clínquer) 1.250 – 1.400 920 1.000 – 1.100 720 – 760 730 – 750 Fonte: LIMA, 2009b. De acordo com o Balanço Energético Nacional (EPE, 2009), elaborado pelo Ministério de Minas e Energia, MME, o setor atinge níveis de consumo térmico da ordem de 653 kcal/kg cimento e elétrico de 104 kWh/t cimento, ainda menores que o divulgado por SNIC (2009), confirmando a posição da indústria nacional do cimento como uma das mais eficientes em consumo específico de energia, significativamente abaixo dos padrões médios mundiais (MCT, 2010). A figura 1.11 a seguir apresenta a evolução do consumo de energia na indústria do cimento conforme o tipo de combustível (BEN, 2007, apud MCT, 2010). Figura1.11 – Evolução de consumo de combustíveis na indústria do cimento Fonte: (EPE, 2007 apud MCT, 2010) A figura 1.11 deixa claro que o uso de combustíveis alternativos está ganhando importância no setor, tendo atingido cerca de 15% de substituição em 2008. O uso de carvão vegetal e o de coque de petróleo também vêm aumentando a sua participação desde o final da década de 1990, frente a quase total substituição de fontes antes bastante importantes, como o carvão mineral e o óleo combustível, que no ano de 2008 somaram pouco mais de 2% da energia total consumida pelo setor (EPE, 2009). i. A Utilização de Combustíveis Alternativos A utilização de energias alternativas está cada vez mais presente na produção do cimento, a partir do co-processamento, que é a queima de resíduos industriais e de passivos ambientais, entre outros, nos fornos usados para fazer cimento. A grande maioria das fábricas no Brasil está licenciada para co-processar resíduos. Essas fábricas representam mais de 80% da produção nacional de clínquer. A figura 1.12 mostra a evolução do co-processamento na indústria de cimento no Brasil. Figura 1.12 – Evolução do co-processamento no Brasil entre 1999 e 2008. Fonte: SNIC, 2009 Segundo MOKRZYCKI e ULIASZ- BOCHENCZYK (2003), o uso de resíduos como combustíveis alternativos pela indústria de cimento é justificado tanto ecologicamente quanto economicamente. Eles concluem que o uso desses combustíveis alternativos pode ajudar a reduzir os custos da produção de cimento. Apesar do co-processamento estar aumentando no Brasil, ao se comparar os números da indústria brasileira de cimento com os números de outros países, percebe-se que ainda há muito que se fazer. O índice de substituição de combustível por resíduos chega a 83%% na Holanda, e a 47% na Suíça (WBCSD, 2009a), enquanto no Brasil, esse percentual atualmente é de, aproximadamente, 15% (SNIC, 2009). O percentual de substituição pelo uso de combustíveis alternativos é apresentado na figura 1.13, a seguir. Figura 1.13 – Percentual de uso de combustíveis alternativos em países selecionados. Fonte: Elaboração própria a partir de WBCSD, 2009a. Num cenário de maiores preocupações com as mudanças climáticas, os preços dos combustíveis alternativos tendem a aumentar devido a limites de emissão mais rígidos, ou devido à instituição de taxas de emissão de CO2. Nesse contexto a indústria pode vir a ter dificuldades crescentes para adquirir quantidades significativas de biomassa a preços aceitáveis (WBCSD, 2009a). Ainda segundo o relatório do WBCSD (2009a), o uso de combustíveis alternativos seria viável economicamente para a indústria de cimento até o ano de 2030, quando os preços alcançariam valores 30% superiores ao dos combustíveis tradicionais. Até o ano de 2050 é esperado um aumento no preço dos combustíveis alternativos de até 70%. Os fornos de cimento são particularmente bem adaptados para receber combustíveis alternativos por duas razões: devido à alta temperatura do forno e ao longo tempo de exposição, a queima desses combustíveis se dá de forma quase completa, diminuindo a emissão de poluentes perigosos como dioxinas e furanos. O segundo motivo é a possível utilização das cinzas inorgânicas serem integradas ao clínquer. Os combustíveis alternativos podem ser substitutos eficientes, proporcionando uma menor emissão de GEEs que os combustíveis tradicionais (WBCSD, 2009a). Os combustíveis alternativos tipicamente utilizados no mundo pela indústria de cimento são: • Pneus usados; • • • Óleo usado ou solventes; Plásticos, tecidos e resíduos de papel, e Biomassa (resíduos agrícolas, animais e de madeira). Em relação ao uso de pneus, estima-se que cerca de 1 bilhão deles atinjam o fim de sua vida útil a cada ano. Os fornos de cimento podem utilizá-los inteiros ou em pedaços. Os pneus tem um conteúdo de energia mais elevado que o carvão, e quando queimados num ambiente controlado, as emissões não são maiores do que a de outros combustíveis, devido ás especificidades desses fornos, conforme já mencionado. Em alguns casos o uso dos pneus promove até uma redução nas emissões de CO2, NO2 e de SO2 (WBCSD, 2009a). O uso de combustíveis alternativos ainda gera muita controvérsia no que diz respeito à queima de substancias perigosas, incluindo a preocupação de ONGs, comunidades locais e agencias reguladoras sobre as emissões de metais pesados e dioxinas. Entretanto, medições sob condições controladas mostram que a queima desses resíduos não resulta necessariamente em maiores emissões. Estudos recentes mostram que as emissões de dioxinas de um forno médio de cimento são tipicamente bem mais baixas que os seus limites de emissão, e na maioria dos casos, essas emissões podem ser facilmente controladas (WBCSD, 2009a). SANTI (1997, 2003) concorda que a utilização de combustíveis alternativos em fornos de cimento pode ser considerada uma destinação mais segura que a simples queima ou disposição em um aterro sanitário. Entretanto SANTI e SEVÁ (1999) ressaltam a importância de mais estudos que possibilitem quantificar as emissões de poluentes perigosos sob diversas condições de operação, a fim de se conhecer o real custo social e ambiental dessa prática. Segundo a Comissão Européia, os resíduos depositados no queimador principal serão decompostos na zona primária de queima, em temperaturas de até 2000oC. Já os resíduos depositados no queimador secundário, pré-aquecedor, ou précalcinador, queimarão a temperaturas mais baixas, que nem sempre são suficientes para decompor os compostos orgânicos halogenados (EC, 2001). Ainda segundo a Comissão Européia, os fornos de cimento na Europa raramente são identificados como emissores de dioxinas e furanos. Entretanto, MATERIALIEN (1997) citado pela própria Comissão Européia nesse relatório conclui que ainda existem incertezas consideráveis no que diz respeito às emissões desses perigosos compostos. Apesar dos fornos de cimento poderem utilizar tecnicamente até 100% de combustíveis alternativos, existem limitações práticas. As propriedades físicas e químicas dos combustíveis alternativos variam bem mais do que a dos combustíveis convencionais. Combustíveis com baixo conteúdo energético e de elevada umidade podem significar um desafio técnico a mais. Por exemplo, metais voláteis como o mercúrio devem ter um cuidado extra, e as cinzas do forno de cimento devem ser retiradas do sistema. Outras barreiras legais, financeiras e políticas podem ser observadas, como a legislação de gerenciamento de resíduos, o custo do combustível alternativo, e o nível de aceitação social do uso de substâncias perigosas (WBCSD, 2009). ii. O Uso de Adições ao Cimento A produção de cimento requer grandes quantidades de matérias-primas e de combustíveis, o que gera impactos ambientais e a emissão de poluentes. Para minimizar esses impactos, a produção de cimento pode utilizar alguns tipos de adições ao cimento, como escórias siderúrgicas, cinzas de termelétricas e fíler calcário. O concreto reciclado também pode servir de aditivo, desde que o processo seja realizado com quantidades controladas (WBCSD, 2009d), entretanto a sua utilização não reduz significativamente as emissões de GEEs (WBCSD, 2009e). FRÍAS e RODRÍGUEZ (2008) concluem que a utilização de SiMn e de óxido de manganês é química e tecnicamente viável, mas destaca a necessidade de estudos adicionais. A economia de energia se dá devido à menor utilização do forno rotativo, equipamento onde há o maior consumo energético do processo de obtenção do cimento tipo Portland, onde se produz o clínquer (LIMA, 2009b). A utilização desses materiais diminui a utilização de clínquer no processo produtivo e, conseqüentemente, reduz a emissão de CO2, proveniente não só do consumo de combustíveis no forno, mas também da transformação química do calcário (calcinação). Dessa forma, são reduzidas significativamente as emissões totais de gases do efeito estufa por tonelada de cimento produzido, assim como a de outros poluentes. Essa prática, ao mesmo tempo, ajuda a resolver os problemas de destinação de resíduos de outras indústrias, diminui o uso de minerais como o calcário e preserva recursos energéticos, entre outras vantagens, contribuindo de forma importante para uma maior sustentabilidade ambiental do setor. A tabela 1.3, a seguir, apresenta os principais tipos de cimento Portland segundo os percentuais de adições utilizados. Tabela 1.3 – Tipos de cimento conforme os percentuais de adição. Tipo Clínquer e Sulfato (%) Escória de Alto Forno (%) Material Pozolânico (%) Material Carbonático (%) 100 0 CPI – S 99 - 95 1-5 CPII – E 94 - 56 6 – 34 - 0 – 10 CPII - Z 94 - 75 - 6 - 14 0 – 10 CPII – F 94 - 09 - - 6 – 10 CPIII 66 - 25 35 - 70 - 0–5 CPI CPIV 85 - 45 - 15 – 50 0–5 CPV 100 - 95 - - 0–5 CPB estrutural CPB não estr. 100 - 75 74 - 50 - - 0 – 25 26 – 50 Fonte: LIMA, 2009b. A tabela 1.4 a seguir apresenta as principais características das adições mais utilizadas, assim como sua fonte, características positivas ou limitantes, sua produção anual estimada e a sua disponibilidade futura. Tabela 1.4 – Principais características de cada tipo de adição. Substituto do clinquer Fonte Características positivas Características limitantes Escória de alto forno Produção de ferro e aço Melhora na resistência química e aumento da resistência a longo prazo Maior demanda de eletricidade para moagem e diminuição da resistência inicial Cinzas Gases de combustão de fornos a carvão Pozolanas naturais ( ex. cinzas vulcânicas, casca de arroz, sílica. Vulcões, algumas rochas sedimentar es, outras industrias Pozolanas artificiais Manufatura especifica Menor demanda de água, melhoramento das condições de trabalho, aumento da força a longo prazo, melhor durabilidade(dependendo da aplicação) Contribui para um desenvolvimento forte, pode apresentar melhoras condições de trabalho, melhora na resistência química aumento da resistência a longo prazo Similar a pozzolana natural Diminuição da resistência inicial; disponibilidade pode ser afetada por trocas de combustível no setor de geração de energia elétrica. A maioria das pozzolanas naturais levam a uma redução na força a curto prazo, as propriedades do cimento podem variar significamente Requirimento de energia extra em decorrência da calcinação Calcário Pedreiras Melhora nas condições de trabalho Para manter a força talvez seja necessário aumento de energia para moer o clinquer Estimativa anual do nível de produção 200 milhões de toneladas (2006) 500 milhões de toneladas (2006) 300 milhões de toneladas (2003), mas apenas 50% é usado Desconhecido Desconhecido Disponibilidade Os volumes da produção futura de ferro e aço são difíceis de prever Depende dos planos de expansão do setor elétrico. A disponibilidade depende da situação local – muitas regiões não tem a matéria prima disponível Disponibilidade muito limitada devido a restrições econômicas Imediatamente disponível Fonte: Elaboração própria a partir de WBCSD, 2009a. SOARES (1998), atesta que os cimentos com adições produzidos no país não exploram toda a sua potencialidade de uso, e que essa alternativa representa uma ótima alternativa para a redução do consumo de energia térmica por tonelada de cimento. Entretanto, o autor ressalta que a viabilidade econômica dessa prática é limitada pela distância da fábrica das matérias-primas como escórias de alto forno, oriundas de siderúrgicas, ou pozolanas, a partir de cinzas de termelétricas a carvão. A figura 1.14, a seguir, apresenta uma comparação entre a produção de clínquer, a produção de cimento, e o conteúdo de clínquer no cimento, que é um indicativo do percentual de adições que utilizado na indústria. Figura 1.14 – Produção de clínquer X produção de cimento e conteúdo de clínquer no cimento. Fonte: MCT, 2010 A figura 1.14 mostra que a indústria do cimento vem diminuindo a cada ano o conteúdo de clínquer no cimento, através do uso de adições. Ainda segundo o MCT (2010), o fator de emissão de GEEs devido à fabricação do clínquer está praticamente estável desde os anos 1990, o que indica a consolidação do processo. Já o fator de emissão de emissão de GEEs para fabricação do cimento vêm caindo consistentemente, refletindo um uso cada vez maior de adições de outros materiais alternativos. A figura 1.15 apresenta as emissões absolutas da indústria do cimento e a sua produção anual desde a década de 1990 até 2005. Figura 1.15 – Produção anual de cimento X Emissões de GEEs. Fonte: MCT, 2010. b. Principais Impactos Ambientais A produção de cimento tem importantes impactos positivos e negativos a nível local. Do lado positivo, podemos citar os empregos gerados pela indústria e novas oportunidades de negócios para a população local, particularmente em regiões mais remotas, onde existem poucas opções de desenvolvimento econômico. Os impactos negativos incluem danos à paisagem, poeira e ruídos, e emissões de gases poluentes. O modo que as companhias valoram e gerenciam os aspectos sociais e ambientais afeta diretamente a qualidade de vida das comunidades envolvidas, e também a reputação da indústria cimenteira. i. Fase de Projeto A consideração de alternativas na fase de projeto, antes de firmado qualquer compromisso é extremamente importante para mitigar ou eliminar os impactos ambientais decorrentes da implantação e operação da fábrica. As alternativas devem ser consideradas durante diferentes fases de desenvolvimento do projeto de engenharia. Para a indústria do cimento, as principais alternativas consistem na escolha do local onde serão instaladas as fábricas e as minas, no modo escolhido para a exploração e transporte da matéria prima, e nas opções de processos a serem utilizados na fabricação do cimento. É importante salientar que a escolha locacional é em parte limitada pela necessidade de proximidade ao mercado consumidor alvo, assim como de uma reserva de calcário. ii. Fase de Construção Na fase de construção de uma fábrica de cimento ou mina, o transporte de material gera impactos ambientais e sociais. Os principais impactos ambientais são: ruídos e vibração no solo, potencial contaminação dos solos por combustíveis, destruição de ecossistemas, e emissões de GEEs e de poluentes locais pela queima de combustíveis fósseis. Os resíduos gerados durante a fase de construção de uma fábrica de cimento ou mina são basicamente resíduos sólidos resultantes das operações mecânicas de escavação ou de instalação de grandes equipamentos. WBCSD (2005a) sugere a criação de um programa de gerenciamento de resíduos perigosos e não perigosos o mais cedo possível, e deste modo, criar uma base sustentável para as futuras operações no local. Reduções significativas no volume final de resíduos pode ser atingida desde que seja estabelecido um regime de reuso e de reciclagem, com treinamento adequado de funcionários para dar suporte ao processo. Efluentes líquidos podem ser gerenciados através da criação de um sistema de drenagem, a fim de minimizar a contaminação de outros cursos d’água. A erosão também pode ser minimizada, por exemplo, replantando os solos expostos o mais rápido possível. Ainda segundo WCBSD (2005a), as pilhas de material minerado podem ter efeitos negativos sobre o solo, além do já conhecido impacto visual, e sugere que essas pilhas sejam utilizadas como barreiras anti-ruído, ou para recuperação do solo após o término da construção do empreendimento. iii. Fase de Operação A fase de operação de uma fábrica de cimento pode durar por muito tempo, freqüentemente por mais de 50 anos, ou mais. A indústria de cimento vêm reduzindo os seus impactos ambientais, mas os desafios continuam. Em algumas regiões, o nível de poluição total pode eventualmente exceder a capacidade natural dos ecossistemas, e as fábricas de cimento, assim como outros empreendimentos industriais, podem sofrer com limites de emissão cada vez mais restritivos. As opções atuais para o controle dos impactos negativos incluem sistemas de gerenciamento, que monitoram as emissões e os efeitos sobre a saúde pública, e pesquisam sobre os avanços tecnológicos e novos processos de controle para reduzir as emissões. As melhores práticas disponíveis devem ser utilizadas para evitar, minimizar e remediar potenciais impactos ambientais negativos que surjam na fase de operação de uma fábrica de cimento. Ainda devem ser considerados o treinamento adequado dos funcionários, e a elaboração de um guia de procedimentos ótimos de operação, e assim conseguir evitar, minimizar e mitigar os impactos ambientais da maneira mais custo-efetiva e simples possível (WBCSD, 2005a). Mineração A produção de cimento envolve a utilização de diversos materiais minerados, como o calcário, a argila, o xisto e o gesso. Como já mencionado antes, o calcário é o principal minério utilizado no processo de fabricação do cimento, é encontrado em abundância na natureza e é uma dos minerais mais versáteis para a indústria. Entretanto a sua extração causa impactos ao meio ambiente, biodiversidade e à estética da região. Algumas regiões ricas em calcário são notáveis pelas características de sua biodiversidade, pelos seus registros fósseis, ou pelos seus valores culturais, principalmente para as comunidades locais. Esses elementos possuem um valor econômico considerável, e portanto, as avaliações ambientais e sociais não devem menosprezar sítios com biodiversidade única, ou aspectos culturais, geológicos e cênicos importantes para tais comunidades quando da avaliação de impacto ambiental causado pelas minas. (WBCSD, 2005a). Algumas atividades do empreendimento podem eliminar espécies e sítios culturais, o que poderia ser evitado por simples etapas preventivas, como, por exemplo, a escolha e o favorecimento de locais já degradados em detrimento a outros ainda intocados. A reabilitação progressiva no decorrer da vida útil da mina também pode assegurar que os impactos são mantidos num nível mínimo. WBCSD (2005a) sugere as seguintes medidas para reduzir os impactos durante a fase de operação das minas: • • • • • Estabelecimento de uma zona de amortecimento para separar a área de mineração de outras áreas adjacentes; Proteção de áreas ricas em biodiversidade; Recuperação e reabilitação do sítio; Reabilitação e restauração dos habitats no entorno do sítio, e Aumento da conscientização pública e dos trabalhadores sobre a biodiversidade. Novas técnicas de mineração podem minimizar a poeira e os ruídos, como técnicas computacionais para avaliação de depósitos minerais, e planejamento de um esquema ótimo de mineração. O uso do local após o encerramento das atividades também deve ser levado em consideração desde as etapas iniciais de planejamento, minimizando a necessidade de reabilitação do sítio e sua restauração ao final da vida útil da mina (WBCSD, 2005a). Uso de energia e de matérias-primas As operações da indústria de cimento requerem grandes quantidades de energia e de matérias primas, e a dependência de combustíveis fósseis é ainda muito grande, principalmente de carvão, óleo combustível e gás natural para os fornos. A quantidade de energia necessária varia conforme as diferentes tecnologias, conforme foi explicado anteriormente, e a demanda por eletricidade gira em torno de 20% de todo o consumo energético do empreendimento, o que pode colocar pressão sobre a infra-estrutura locais de eletricidade. Existem diversas opções disponíveis para aumentar a eficiência de recursos minerais e energéticos do empreendimento, como por exemplo a utilização do gás rejeitado pelo forno para pré-aquecer a matéria-prima que entra no sistema, o uso de energias renováveis ou alternativas, redução efetiva da quantidade de resíduos gerados, e uma mineração mais eficiente (WBCSD, 2005a). O reaproveitamento de resíduos nas adições, conforme explicado anteriormente, pode reduzir bastante a necessidade de recursos não renováveis e diminuir os custos de produção do cimento. Além disso a utilização de aditivos diminui a quantidade de rejeitos a serem dispostos em aterros sanitários e diminui a emissão de GEEs (WBCSD, 2005a; Soares, 1998; WBCSD, 2009a). O uso de alguns tipos de rejeitos como combustíveis alternativos nas fábricas de cimento pode criar outras oportunidades de negócios, uma vez que a preparação desses materiais para o uso como combustível é normalmente feita fora da fábrica. Entretanto, WBCSD (2005a) salienta que o uso desses combustíveis alternativos deve assegurar não apenas a proteção do meio ambiente, mas a saúde e segurança dos trabalhadores e da população local. O uso de qualquer combustível alternativo requer procedimentos especiais de operação e de monitoramento, assim como de planos de emergência com o envolvimento da comunidade potencialmente afetada. Emissão de poluentes locais A poluição do ar, além de causar desconforto, pode ter efeitos perigosos nos seres humanos, animais e plantas, assim como nas comunidades biológicas, habitats e solo. A exploração de matérias-primas e a sua preparação criam diferentes fontes de emissões na produção de cimento, dentre esses fontes podemos destacar: a trituração do carvão e de outras matérias primas, a sua mistura, processos de combustão, trituração do cimento e seu empacotamento, assim como o transporte e armazenamento. WBCSD (2005a) destaca a importância da criação de um protocolo de monitoramento de emissões nos empreendimentos do setor. Historicamente, as emissões de material particulado (poeira) tem sido a principal preocupação na fabricação de cimento. O processo de fabricação do cimento também causa a emissão significativa de óxidos de nitrogênio (NOx) e de dióxido de enxofre (SO2). Inventários de emissão conduzidos na Europa mostram que a contribuição da indústria de cimento é significativa em relação a outros setores, mas que o setor não é o maior emissor de poluentes. Segundo LIMA (2009b), o controle das emissões atmosféricas provenientes da queima de combustíveis fósseis pode ser aplicado em várias etapas do processo: antes, durante ou após o processo de combustão. A escolha de cada uma dessas opções deve levar em conta a redução necessária, a eficiência e os custos de aplicação: • Controle pré-combustão ― os controles pré-combustão consistem basicamente no tratamento do combustível. Como exemplo, pode-se citar algumas técnicas utilizadas para redução das emissões de SOx provenientes da queima do carvão. Uma delas é a substituição do carvão utilizado por outro de menor teor de enxofre, uma vez que as emissões são uma função do conteúdo de enxofre presente no combustível. Outra é a remoção física do enxofre mineral presente no carvão, porém não se aplica ao enxofre orgânico. Também, há a remoção química do enxofre, pela limpeza por meio de processos de refino com solventes para remoção de enxofre orgânico. Tal conceito é aplicado em UTEs. • Controle na combustão ―os controles aplicados na combust ão incluem qualquer modificação física no equipamento de queima, ou mudança do próprio ou na sua operação. A manutenção regular do sistema de combustão, por exemplo, é importante para assegurar a atomização e, conseqüentemente, minimizar a quantidade de combustível não queimado. Foi adotado que todas as fontes de emissão do Condomínio Industrial utilizam as melhores tecnologias de controle na combustão, além de adotarem as melhores práticas operacionais. • Controle pós-combustão ― o controle pós -combustão, ou melhor, o controle com o tratamento de gases gera grandes reduções nas emissões de poluentes, porém envolve custos maiores que o controle no processo de combustão (USEPA AP- 42, 2007, apud LIMA, 2009b). Em alguns casos, principalmente para as emissões de NOx, a variedade de tecnologias de controle é tão extensa quanto no caso da alteração do processo de queima. Para que o Condomínio Industrial seja viável, ambientalmente, algumas fontes deverão ser dotadas de controles pós-combustão, de forma a atender os limites de emissão estabelecidos. Esse controle é normalmente recomendado para atividades já em operação, onde nem sempre é possível alterar o processo de combustão, ou quando os demais controles não são aplicáveis. Para os óxidos de nitrogênio (NOx), a variedade de tecnologias de controle de tratamento pós-combustão é tão extensa quanto no caso da alteração do processo de queima. É importante mencionar que em ambos o princípio é o mesmo: reação química do NOx com amônia (NH4) obtendo-se a formação de N2 e H2O. Os vários tipos de controle empregados para a redução das emissões de NOx são apresentados na tabela 1.5, a seguir. Tabela 1.5 — Técnicas para Controle de NOx Tecnologia Controle de Flame cooling Low-NO x burner Staged combustion Mid-kiln firing Mineralized clinker SNCR SCR piloto – plantas Aplicabilidade ao Sistema de fornos Eficiência de Redução Todos Todos Pré-calcinador e Préaquecedor Forno longo Todos Pré-calcinador e Préaquecedor 0 - 50% 0 - 30% Possivelmente todos 10 - 50% 20 - 40% 10 - 15% 10 - 85% 85 - 95% Fonte: EC, 2001. As várias tecnologias empregadas para a redução de emissões de dióxido de enxofre (SO2), são resumidas na tabela 1.6, a seguir. Tabela 1.6 — Técnicas de Controle de de SO2 Tecnologia de Controle Absorbent addition Dry scrubber Wet scruber Activated carbon Aplicabilidade ao Sistema de Fornos Todos Seco Todos Seco Fonte: EC, 2001. Eficiência de Redução 60 – 80% Até 90% Maior que 90% Até 95% Emissão de material particulado A emissão de material particulado tem sido a maior preocupação da indústria de cimento. Em adição à poeira gerada pela etapa de mineração, o material particulado é gerado também durante a trituração, no forno de clínquer, no resfriador de clínquer e na trituração do cimento. A dispersão do material particulado se dá devido às atividades de manuseio, empacotamento, armazenamento e pelo movimento de veículos pesados e de transporte do produto final, que muitas das vezes é feito sobre estradas não-pavimentadas, o que agrava a situação. As principais tecnologias utilizadas para o controle das emissões de material particulado provenientes da queima de combustíveis fósseis incluem precipitadores eletrostáticos, múltiplos ciclones, filtros-manga e lavadores. O controle de maior eficiência é o precipitador eletrostático que chega a alcançar 99,9% e os filtros-manga que atingem até 99,8%. Embora os lavadores também sejam utilizados, seu maior emprego está ligado ao controle das emissões de SOx (EPA, 2008). Essas tecnologias não são consideradas como de alto custo (WBCSD, 2005a). Além disso, um gerenciamento bem planejado das atividades de carga e descarga de material pode reduzir bastante a geração de poeira, com um custo adicional relativamente pequeno. Ainda segundo o relatório do WBCSD (2005a), as principais opções para o controle do material particulado durante as operações das fábricas de cimento são: • • • • Uso de trituradores com cobertura; Pontos de transferência de material e de armazenamento com cobertura; Instalação de coletores de material particulado ou outros filtros onde necessário; Para as estradas dentro do empreendimento, onde o fluxo é grande: o Pavimentação; o Utilização de varredores a vácuo e sprinklers; • • Utilização de sprinklers e sprays estabilizadores nas pilhas de armazenamento, e Paisagismo e re-vegetação do sítio. ABDUL-WAHAB (2006) afirma que as emissões de material particulado podem afetar a saúde de moradores de áreas adjacentes às fábricas de cimento, e recomenda que mais estudos sejam feitos para avaliar os impactos das emissões de SO2, NOx, e de metais pesados. O autor recomenda também a elaboração de estudos que contemplem os cenários de pior caso, que levam às concentrações mais altas de poluentes, e que contemplem fenômenos como o de inversão térmica, que agravam os efeitos da poluição. O modo de dispersão do material particulado varia muito de uma área para outra, e depende da natureza e intensidade das fonte, e de outros fatores como da geomorfologia da região e das condições do tempo (freqüência e volume de ventos e de precipitação) (BRANQUINHO et al 2008). Dessa forma, apesar da indústria cimenteira dominar completamente as tecnologias de controle de material particulado, fica evidente a necessidade de elaboração de estudos locais, que contemplem os fatores citados neste estudo. Relatório elaborado pela EPA (2008) também atesta a necessidade de elaboração de mais estudos, para teste e monitoramento das fontes emissoras. Emissão de gases de efeito estufa O controle das emissões de gases causadores do efeito estufa (GEE) representa um dos maiores desafios da indústria do cimento, no que diz respeito ao meio ambiente. O setor contribui com, aproximadamente, 5% das emissões antrópicas de gás carbônico do mundo (WBCSD, 2009a, 2009b, 2005a; SNIC 2009). No Brasil, onde as queimadas florestais são as principais emissoras de CO2, o 1º Inventário Nacional de Gases de Efeito Estufa, que levantou dados de 1990 a 1994, classificou a participação do setor como de menos de 2% do total das emissões nacionais (SNIC, 2009). Aliado à alta eficiência energética da indústria nacional, a crescente utilização de adições misturadas ao clínquer, como a escória de alto forno siderúrgico, também reduz as emissões de GEE por tonelada de cimento, uma vez que estes poluentes se formam durante a produção do clínquer. Com isso, o Brasil atingiu um fator de emissão de, aproximadamente, 610 kg CO2 / ton. cimento, bem abaixo de países como a Espanha (698 kg CO2 / ton. cimento), Inglaterra (839 kg CO2 / ton. cimento) e China (848 kg CO2 / ton. cimento) (SNIC, 2009). Segundo o MCT (2010), aproximadamente 90% das emissões de CO2 oriundas da indústria de cimento ocorrem durante a produção de clínquer (50%), seja na calcinação ou na descarbonatação da matéria-prima ou com a queima de combustíveis no interior do forno (40%) (WBCSD 2009a, 2009b). Os 10% restantes resultam do transporte de matérias-primas e das emissões pelo consumo de energia elétrica nas fábricas. A indústria de cimento reconhece que a intensificação do efeito estufa é um problema importante e através da “Cement Sustainability Initiative” (CSI), diversos importantes grupos internacionais se juntaram, assumindo responsabilidades e buscando a sustentabilidade do setor, em particular traçando planos de redução das emissões de GEES. Essa iniciativa identificou três níveis de melhorias que podem ser aplicadas na indústria cimenteira (WBCSD 2005a): • • • Aumento da eficiência energética; Aumento do uso de combustíveis alternativos, em substituição a combustíveis fósseis, e Aumento no uso de adições ao cimento, como escória de alto forno e cinzas. A força tarefa do CSI produziu e testou um detalhado protocolo de contabilização de emissões de CO2, em associação com o WRI. Esse protocolo está disponível em uma planilha de EXCEL, e pode ser acessado livremente (ver: www.wbcsdcement.org/pdf/co2-protocol.pdf) (WBCSD, 2009a, 2009b). É importante notar que essas iniciativas já vinham sendo aplicadas há bastante tempo, principalmente porque todas as melhorias citadas pela CSI são excelentes oportunidades de investimento para essas indústrias, como já mencionado anteriormente nesse estudo, pois diminuem custos e melhoram a aceitação desse tipo de indústria pela sociedade e pelos órgãos reguladores, obtendo portanto um retorno econômico (SOARES, 1998; SOARES e TOLMASQUIM, 2000; MOKRZYCKI e ULIASZ- BOCHENCZYK, 2003; WBCSD, 2009a). Cenários simulados por SZABO (2006) mostram que as emissões globais de CO2 pela indústria de cimento deve aumentar mais de 50% até o ano de 2030. Entretanto, o crescimento dessas emissões se daria em uma velocidade menor que o crescimento da produção de cimento, basicamente devido à implementação de tecnologias mais limpas e aumento na eficiência energética. Os resultados encontrados pelo autor também sugerem que a fração de combustíveis intensivos em carbono permanecerão altos nos dois cenários por ele simulados. O autor conclui que ainda existem diversos problemas no que diz respeito à disponibilidade de dados, e sugere que mais estudos a respeito sejam elaborados. A tabela 1.7, a seguir, apresenta o potencial de redução de emissões de dióxido de carbono pela indústria do cimento devido ao emprego de algumas ações específicas. Segundo BATTELLE (2002), a indústria do cimento poderá reduzir as suas emissões mundiais de CO2 em até 30% até o ano de 2020. Tabela 1.7 - Potencial de redução de CO2 pela indústria do cimento. Área de melhorias Emissões do processo Emissões dos combustíveis Transporte Geração elétrica Ação Planta - Cimento com adições Eficiência da planta Mundo <1-35% 7% <20 5-15% 11% <1-7% 3% <5% <1% <1% <5% <1% <1% AFR - 6-16% 12% Todos acima - ~20%-50% ~30% Mudança de combustível Eficiência no transporte e transportes com biocombustiveis Eficiência energética e geração de eletricidade com baixo conteúdo de carbono Offset e outras reduções Total Subregiao/ Região Fonte: BATTELLE, 2002. Segundo SOARES (1998), as ações de conservação de energia e mitigação de gases de efeito estufa devem dar prioridade ao aumento do teor de adições ativas e a penetração de tecnologias mais eficientes de produção, o que é um processo natural nesse tipo de indústria. Além disso, o uso dessas medidas que promovam a eficiência energética aliada ao aumento do uso de combustíveis alternativos diminuem a solicitação do parque gerador de eletricidade, e de emissões futuras devido à expansão via termelétricas. Ainda segundo o autor, o setor de cimento encontra-se bem inserido quanto à questão ambiental e está em conformidade com a legislação pertinente às emissões de poluentes locais. Em relação ao efeito estufa, o setor vem cooperando com o Ministério de Ciência e Tecnologia, mostrando-se disposto a ajudar no que for possível. Ruído e vibração As máquinas pesadas normalmente utilizadas na fabricação do cimento (trituradores, sopradores, compressores e etc.) são as principais fontes de ruído e vibração. Atividades relativas á mineração também contribuem com esse tipo de impacto. Os efeitos acumulados de várias fontes de ruído e vibração podem afetar a saúde e bem estar dos trabalhadores, assim como animais, plantas e a comunidade local. Medidas de mitigação incluem supressores de ruído, regulação da distância mínima entre as fontes de ruído e os trabalhadores, isolamento das fontes de ruído, e a provisão de protetores auriculares para os empregados em áreas em que o nível de ruído excede o limite. O agendamento de atividades como a de explosões controladas nas minas podem minimizar o impacto nas comunidades locais. Resíduos sólidos Os resíduos sólidos produzidos durante a fabricação do clínquer consistem basicamente de rochas e material sólido que não são desejados no processo, e que são removidos das matérias-primas. O material particulado removido do forno também é uma importante fonte de resíduos. Entre as medidas para evitar, minimizar e mitigar os impactos dos resíduos sólidos de uma fábrica de cimento estão (WBCSD 2005a): • • • • Reciclagem do material particulado para diminuir o volume final de resíduos; Incineração dos resíduos durante o processo de queima, quando aplicável; Uso de rochas e outros resíduos sólidos para a recuperação das minas, e Disposição adequada do material que não pode ser queimado ou reaproveitado nos processos ou para recuperação da área da mina. Drenagem de águas superficiais A água das chuvas pode ser um vetor de poluição, e medidas para desviar o fluxo de água superficial para fora do sítio e prevenir a sua contaminação (por poluentes ou outros materiais utilizados no processo de fabricação do cimento) devem ser tomadas quando necessário. Esse sistema de drenagem do sítio é importante para reduzir o fluxo superficial de água das chuvas, e o carreamento de sedimentos. iv. Fase de Descomissionamento A decisão de encerrar as atividades de uma fábrica de cimento ou mina é feita levando-se em consideração a disponibilidade e qualidade das matérias primas, custos de produção, competição e demanda de mercado. O processo de descomissionamento pode levar vários anos, e depende de acordos locais e da legislação vigente, assim como do tamanho do empreendimento. Aspectos sociais, ambientais, de saúde e segurança dos trabalhadores e da população do entorno devem ser levados em consideração, assim como as oportunidades de melhorias no local onde se encontrava o empreendimento (WBCSD 2005a). Como as fábricas de cimento operam por longos períodos, as comunidades acabam crescendo no entorno do empreendimento. Normalmente a área total do empreendimento excede bastante a área afetada pela mineração. Esses locais, depois de reabilitados e restaurados, podem se tornar bem valorizados, e partes intocadas do terreno podem se tornar importantes reservas de fauna e flora para a região. A reabilitação é um processo pelo qual a área do empreendimento é restaurada a um nível estético e ambiental aceitável. Esse nível depende do tipo de uso que o local vai ter no futuro. Para minas e fábricas de cimento, esse processo de reabilitação deve se dar em modo contínuo, durante as fases de construção e operação (WBCSD 2005a). Antes do encerramento das atividades, uma avaliação de riscos deve ser conduzida para identificar possíveis áreas que possam afetar a segurança da comunidade e dos funcionários. As opções de utilização da área depois do descomissionamento dependem fortemente dos proprietários do terreno, que podem não ser os donos do empreendimento que está encerrando as suas atividades. Um plano de uso futuro do sítio deve ser desenvolvido, levando em conta o nível de remediação e reabilitação necessários. Os usos futuros dessas áreas podem incluir a sua reabilitação como reservas naturais, áreas agropecuárias ou silvícolas, área de lazer para a comunidade, ou até mesmo zonas comerciais ou industriais (WBCSD 2005a, 2005b). O monitoramento após o encerramento das atividades é importante para medir o nível de contaminação do solo e da água. Substâncias como metais pesados e compostos orgânicos são normalmente monitoradas em águas subterrâneas e no solo, de acordo com a legislação aplicável. Dependendo do país, existem exigências de monitoramento por certos períodos após o encerramento das atividades. No Reino Unido, esse monitoramento deve continuar por até 20 anos após o descomissionamento do sítio. Esse monitoramento deve ser planejado através de diálogos entre os principais envolvidos, envolvendo agências ambientais, autoridades públicas e representantes da comunidade, entre outros atores. O monitoramento poderá demonstrar que a área já foi reabilitada e que não apresenta mais riscos ao meio ambiente e à saúde humana (WBCSD 2005a). Como resumo das boas práticas referentes ao presente item “Principais Impactos Ambientais”, MARLOWE e MANSFIELD (2002) sugerem que algumas medidas importantes não podem deixar de ser tomadas na busca pela sustentabilidade ambiental: • • • Melhorias no sistema de monitoramento de emissão de gases poluentes como o NOx, SO2, material particulado e dioxinas; Apresentação de relatórios públicos apresentando a performance ambiental do empreendimento e da companhia como um todo; Adoção das melhores práticas disponíveis para controle de emissões, e promover o seu uso em todos os empreendimentos, sendo esta melhor prática uma tecnologia ou metodologia. c. Principais Impactos Sociais A indústria do cimento, como já mencionado anteriormente nesse estudo, é uma indústria altamente intensiva em capital. No que diz respeito à geração de empregos, a participação do setor de cimento é bastante limitada, gerando, relativamente a outros setores, poucos empregos diretos e indiretos. Investimentos da ordem de 1 bilhão de dólares (Capacidade instalada de 3,3 Mt/ano) geram aproximadamente 500 empregos diretos e 830 empregos indiretos (LIMA, 2009a). i. Fase de projeto Estrutura social e população O estágio mais crucial de uma análise social é durante a fase de projeto, quando todas as dimensões sociais relevantes são examinadas e incorporadas ao projeto. A principal característica de uma análise social é o reconhecimento que a redução da pobreza é um dos principais objetivos, e que há uma relação íntima entre a pobreza e a condição ambiental local. A introdução de grandes indústrias como a de cimento podem introduzir mudanças significativas no uso da terra, água e outros recursos naturais, podendo trazer impactos econômicos e sociais importantes na comunidade local que se utiliza de tais recursos. A proposta de implementação de uma fábrica de cimento (e mina) pode requerer o deslocamento de pessoas. Se esse deslocamento é inevitável, um detalhado plano de reassentamento é necessário. A compensação financeira em troca da terra e do deslocamento compulsório não é adequada, e os planos de reassentamento devem ser construídos em torno de uma estratégia desenvolvimento que inclui medidas compensatórias diversas, e deve melhorar a base econômica e social das pessoas reassentadas. O reassentamento adequado da população pode aumentar os custos iniciais de investimento do projeto, mas haverão benefícios a longo prazo, incluindo menos atrasos e aumentos de custos durante a implementação do projeto, menor perda de bem estar para a sociedade. O perfil da população afetada deve ser levantado, através de avaliações de impacto na saúde, como os previstos pela Organização Mundial da Saúde (WHO, 1999, apud WBCSD, 2005a). Essa avaliação procura avaliar os impactos de políticas, programas ou projetos antes de sua implementação, e idealmente bem cedo no processo de planejamento. Essa metodologia fornece uma linha de base sobre a qual os potenciais impactos sobre a saúde pode ser avaliado. Esse perfil deve conter as seguintes informações: • • • • • Características gerais da população (tamanho, distribuição, idade, sexo, etc.); Estado de saúde da população; Indicadores de comportamento (uso de álcool, etc.); Localização dos grupos de risco, e Outras condições sociais e ambientais. Se a população da comunidade for pequena, é mais simples fazer o perfil de todos os habitantes. Alternativamente, em comunidades grandes, apenas parte da população mais próxima ao empreendimento a rotas de transporte precisará ter o seu perfil levantado. ii. Fase de Construção Aumento transitório da população A chance de obter um emprego e acesso a novos serviços pode atrair grande número de pessoas para a área no entorno do novo empreendimento. Do lado positivo, pode haver um aumento temporário na atividade econômica e no número de empregos disponíveis para a comunidade local, desenvolvimento de competências locais e um possível aumento de financiamento de obras de infra-estrutura por parte do governo para atender o aumento populacional. Os potenciais impactos sócioeconômicos negativos incluem o reassentamento da população local, o fluxo de pessoas estranhas nas comunidades locais, a ruptura dos sistemas sociais e nas estruturas da comunidade, afetando valores e religião, maior demanda de serviços e infra-estrutura, efeitos negativos devido ao aumento do padrão de vida da comunidade durante a fase de construção (quando os empregos acabarem quando do término da obra), e aumento do número de crimes na região. Infra-estrutura A fase de construção de uma fábrica de cimento vai requerer a criação de infra-estrutura temporária e permanente, ou o uso da infra-estrutura da comunidade local. A qualidade e quantidade de infra-estrutura da comunidade deve ser avaliado antes de se construir novas instalações. Do lado positivo, o desenvolvimento de nova infra-estrutura pode ajudar no desenvolvimento da comunidade, e aumentar o seu padrão de vida. Os impactos negativos do desenvolvimento de nova infra-estrutura pode ser gerenciado através de instalações que possam ser facilmente desmontadas após o término da fase de construção, ou desenvolvendo e melhorando a infraestrutura já existente da comunidade, para o seu proveito após o término das obras. Saúde e segurança A fase de construção pode gerar perigos à segurança devido ao aumento de tráfego nos acessos ao local do empreendimento, assim como potenciais impactos na saúde devido a ruídos, poeira, vibrações, etc. Do lado positivo, a implementação de medidas gerais de higiene e segurança pode se tornar uma política sustentável para o futuro, principalmente durante a fase de operação. iii. Fase de Operação Impactos sociais Os aspectos sociais que podem ser afetados pelas operações da fábrica de cimento incluem a população local, o seu meio ambiente e a sua economia. Os impactos sociais dependem da escala, localização e das operações realizadas pelo empreendimento, entretanto tais impactos podem ser mitigados se houver foco na promoção de bem estar da comunidade local, o que inclui a saúde pública, a satisfação de necessidades básicas, o meio ambiente, acesso a serviços públicos e aspectos estéticos da paisagem. Impactos sociais positivos e negativos são esperados sobre a comunidade local devido ás operações do empreendimento em questão. Segundo a WBCSD (2005a), exemplos desses impactos negativos incluem: • • • • Pressão adicional sobre a infra-estrutura física e social existente; Impactos na saúde da população local; Rompimento das redes sociais devido ao fluxo de pessoas estranhas; Diminuição da coesão da comunidade; • • • Aumento no número de crimes e de casos de conduta inadequada; Mudanças de percepções sociais (riqueza, pobreza, etc.), e Mudança de valores culturais. Olhando pelo lado positivo, as companhias de cimento podem prover ajuda financeira para melhoria de bem-estar da comunidade local e de grupos desfavorecidos (melhoria no acesso da comunidade local a hospitais, etc.). As companhias podem também fornecer melhorias na infra-estrutura já existente na comunidade, como em hospitais e postos de saúde, escolas e etc. Esses investimentos da companhia em benefícios sociais às comunidades no entorno do empreendimento devem ser parte de um projeto maior, que vise mitigar da melhor forma possível os impactos causados pelo empreendimento. Novos empregos podem ser criados e o crescimento econômico estimulado através das atração de indústrias de suporte à indústria cimenteira. A economia local pode se beneficiar do crescente fluxo de capital e do aumento da renda, que pode se manifestar como efeito multiplicador no sistema econômico. Como resultado, a qualidade da força de trabalho local e do seu padrão de vida irá aumentar, assim como a maior estabilidade social causada pela maior prosperidade econômica. Os responsáveis pelo empreendimento também tem uma grande responsabilidade ao empregar grande número de pessoas, e fornecer casa e serviços locais, o que ajuda a desenvolver pequenos negócios locais. Esses benefícios e oportunidades precisam ser desenvolvidos para atingir todo o seu potencial. As operações de um empreendimento desse tipo envolve parcerias entre a companhia e atores sociais importantes, a fim de se encontrar uma base comum para uma melhor gestão das questões ambientais e sociais. A indústria de cimento pode entender as necessidades da comunidade através de tais diálogos, e num trabalho conjunto com os representantes da comunidade, pode ajudar a comunidade a obter soluções para as suas maiores carências (infra-estrutura, treinamento profissional, assistência médica, educação e nutrição) (WBCSD, 2005a). Saúde ocupacional e segurança O bem estar dos empregados requer considerações sobre a saúde ocupacional e segurança dos trabalhadores e contratantes, das condições do local de trabalho, assim como a satisfação no emprego e orgulho. Os riscos á saúde e à segurança numa fábrica de cimento durante a sua fase de operação podem incluir doenças respiratórias, queimaduras, alergias e acidentes industriais. Outros perigos podem surgir pelo uso de produtos químicos no processo e de matérias explosivos durante as atividades de mineração. Todos esses perigos podem ser controlados pela adoção de métodos seguros de operação da fábrica, programas de treinamento e sistemas de gerenciamento da saúde ocupacional e segurança dos funcionários. Segundo a WBCSD (2005a) as medidas para evitar, minimizar e mitigar os impactos negativos na saúde e na segurança dos funcionários durante a fase de operações de uma fábrica de cimento incluem: • • • • • • • Atendimento a todos os padrões de saúde e segurança, nacionais e internacionais; Treinamento de pessoal para o uso adequado dos equipamentos de segurança; Marcação clara dos pontos perigosos da fábrica, assim como treinamento para o reconhecimento dos símbolos de perigo; Treinamento de todos os funcionários na prevenção e proteção ao fogo; Desenvolvimento de programas de inspeção, teste e manutenção dos equipamentos; Iniciativas de prevenção e investigação de acidentes, e Desenvolvimento e treinamento para planos de resposta a emergências. i. Fase de Descomissionamento Envolvimento com a comunidade local Levar em consideração as necessidades da comunidade e da companhia em relação à fase de descomissionamento é essencial, e evita maiores atrasos, que podem levar a protestos e ações na justiça. Uma avaliação sócio-ambiental deve ser conduzida para identificar possíveis impactos na comunidade e nos empregados da companhia devido ao encerramento das atividades. Trabalho Devido à localização dos depósitos de matérias-primas, as fábricas de cimento e minas podem se localizar em locais remotos, sendo a principal fonte de recursos econômicos para uma comunidade ou região, através dos empregos diretos e indiretos gerados pelo empreendimento. Planos de descomissionamento devem ser completamente avaliados para se determinar a magnitude de tais impactos sociais. Esses impactos podem ser minimizados através da realocação das pessoas para outras regiões ou ajudá-las a encontrar trabalho em outras atividades. Se o descomissionamento resultar num uso futuro da área que vai gerar formas alternativas de emprego, os antigos funcionários podem receber novo treinamento, mitigando assim os impactos relativos à fase de descomissionamento. d. Indicadores Socioeconômicos e Ambientais Indicadores socioeconômicos e ambientais podem ajudar a identificar o progresso de políticas ou ações que visem combater os diversos tipos de impactos analisados anteriormente nesse estudo. A identificação desses indicadores é muito importante no desenvolvimento de marcos regulatórios e de políticas mitigadoras. O relatório da WBCSD (2009a) sugere que esses indicadores cubram a implementação das melhores práticas disponíveis, o uso de combustíveis alternativos, e o percentual de adições ao clínquer, entre outros. Esses indicadores tentam ilustrar quais tipos de inovações são necessários para atingir uma produção de cimento mais sustentável. A seguir, a seleção de indicadores sugeridos pela Cement Sustainability Initiative (WBCSD, 2009b) é apresentada em 5 grupos distintos, conforme a tabela 1.9, a seguir. Tabela 1.9 – Indicadores sugeridos pela Cement Sustainability Initiative Tipo de Monitoramento Impactos Locais Uso de Energia Uso de matériasprimas Indicadores Sugeridos Percentual de sítios com planos de engajamento da comunidade local; Percentual de sítios ativos com processos de reabilitação em andamento; Percentual de sítios ativos onde questões relativas à biodiversidade são levadas em consideração. Consumo específico de calor para a produção de clínquer (MJ/ton); Percentual de uso de combustível alternativo, e Percentual de uso de combustíveis renováveis. Percentual de utilização de adições em relação á produção de clínquer, e Razão entre o consumo de clínquer e a produção final de cimento Percentual de clínquer produzido por fornos com sistema de monitoramento de emissões, em tempo integral ou não; Percentual de clínquer produzido por fornos com sistema de monitoramento em tempo integral, e Nível de emissões dos seguintes poluentes, em “g/ton clínquer” e “ton/ano” o NOx o SO2 o Material particulado Número de instalações utilizando o protocolo de emissões de CO2 da WBCSD no seu inventário de emissões; Total de emissões de CO2 (ton/ano); Total de emissões de CO2 por tonelada de cimento fabricado (ton CO2/ ton cimento). Monitoramento de Emissões Emissões de GEEs. Saúde e Segurança Número de fatalidades e taxa de fatalidades por 10.000 empregados; Número de fatalidades por empregos terceirizados; Número de fatalidades envolvendo terceiros; Tempo perdido por lesões e freqüência de lesões por 1.000.000 horas/homem, para empregados diretos, e Número de afastamentos por lesão para empregos terceirizados. Fonte: Elaboração própria, a partir de WBCSD, 2009b. Diagnóstico do Quadro Institucional a. Quadro Institucional e de Gestão O setor de cimento é representado por duas principais instituições. A Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) e o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC). Os grupos de associados a essas duas entidades são compostos de 8 membros principais. São eles (www.abcp.org.br e www.snic.org.br): • • • • • • • • Votorantin Cimentos LTDA; Camargo Corrêa Cimentos S.A.; Holcim Brasil S.A.; Lafarge Brasil S.A.; Ciplan S.A.; Cia de Cimento Itambé; Grupo João Santos, e Cimpor Cimentos do Brasil. A ABCP foi fundada em 1936 com o objetivo de promover estudos sobre o cimento e suas aplicações. É uma entidade sem fins lucrativos, que é mantida voluntariamente pela indústria brasileira do cimento. Essa entidade é reconhecida como centro de referência em tecnologia do cimento, e tem usado sua expertise para o suporte a grandes obras da engenharia brasileira e para a transferência de tecnologia através de diferentes formas, como a promoção de cursos, parcerias com universidades, apoio à indústria de produtos à base de cimento e através da publicação de livros e documentos técnicos. Também oferece suporte à elaboração de normas técnicas brasileiras (ABCP, 2006; ABCP, 2008). A ABCP possui um laboratório com certificação ISO 9001 e acreditação no INMETRO. Este laboratório é um centro de referência para a indústria de cimento e seus usuários. Os serviços oferecidos utilizam tecnologias atualizadas e testadas para a realização de análises físico-mecânicas e químicas, mineralógicas, e para a realização de testes em matérias-primas, combustíveis, resíduos industriais, clínqueres, cimentos e concretos. O laboratório da ABCP serve também de assistência técnica a centrais de concreto e produtores de artefatos de cimento, centralizando estudos de causas e patologias em obras civis. Adicionalmente, serviços de calibração de equipamentos nas áreas de força, dimensional, massa e volume também são fornecidos pela entidade. A ABCP também tem atuação na área ambiental, realizando a medição e o monitoramento de emissões de gases e partículas, bem como estudos de apropriação de resíduos pela própria indústria de cimento e seus produtos (ABCP, 2008). O Sindicato Nacional da Indústria do Cimento é uma entidade constituída para fins de estudo, divulgação e representação legal da categoria econômica da indústria do cimento no Brasil. O SNIC foi fundado em 1953 com o objetivo de representar as empresas produtoras de cimento do Brasil, além de promover estudos, estatísticas e relatórios de interesse do setor (SNIC, 2008). Ao longo de sua existência, o SNIC vem negociando questões institucionais com entidades governamentais, apresentando soluções para problemas individuais e coletivos das empresas associadas, e orientando o posicionamento da indústria em meio às constantes alterações políticas, econômicas e sociais vividas pelo país. O Sindicato representa, junto às autoridades administrativas e judiciárias, os interesses gerais da categoria e os interesses individuais de seus associados. O SNIC também tem colaborado com o Estado, como órgão técnico e consultivo, no estudo e solução dos problemas relacionados à indústria do cimento, e a prestação de serviços de assistência judiciária e técnica para os associados, em relação a assuntos econômicos e à prevenção de acidentes e segurança do trabalho (SNIC 2008; SNIC, 2009). b. Estrutura de Financiamento A indústria de cimento necessita de grandes quantidades de capital para a instalação de novos empreendimentos, e o sistema BNDES vem apoiando a indústria de cimento no Brasil em projetos de implantação, ampliação e modernização de seu parque industrial. Os grupos nacionais tem adotado uma postura conservadora, mantendo seus projetos de investimentos baseados primordialmente na sua própria capacidade de financiamento. Este comportamento conservador decorre da estrutura de propriedade predominante no setor cimenteiro. Em geral, empresas de propriedade familiar tendem a manter tal postura, evitando recorrer a outras formas de financiamento (como a abertura de capital ou um maior grau de alavancagem financeira), por não desejarem ter seu controle e suas decisões questionadas por outros. Dessa forma, grupos que poderiam estar se expandindo a um ritmo bem mais elevado, têm tido o seu desenvolvimento limitado. A tabela 2.1, a seguir, apresenta o volume de recursos desembolsados pelo BNDES, tendo em vista o apoio aos projetos do setor. Tabela 2.1 – Desembolsos do sistema BNDES para o setor cimenteiro – 1990/2001 (mil US$) Ano Valores (mil US$) 1990 4.563 1991 6.482 1992 12.089 1993 65.819 1994 14.054 1995 83.896 1996 127.896 1997 178.721 1998 61.396 1999 9.856 2000 22.576 2001 19.736 Fonte: BNDES, 2002, 1997, 1995. Na tabela 2.1 é interessante notar que alguns anos como 1993, 1996 e 1997 receberam valores bem superiores aos dos outros anos, o que aconteceu, de modo geral, devido a operações de fusões e aquisições de alguns grupos, e que foram apoiadas pelo sistema BNDES. c. Falhas de Mercado Em todo o mundo, a indústria do cimento, com sua característica de capital altamente intensivo, é um oligopólio natural e tem poucos players. O oligopólio é uma situação de mercados concentrados, onde a produção se concentra num pequeno número de concorrentes, e oferece o mesmo produto homogêneo (Simonsen, 1998). O atual índice de concentração da indústria cimenteira nacional, apesar de alto, não está distante da média mundial, uma vez que o setor, como dito anteriormente, apresenta características típicas de um oligopólio natural. Dentre as barreiras naturais de entrada podemos citar: a necessidade de grande volume de investimentos para iniciar uma fábrica; os ganhos de escala da produção; o acesso restrito à matériaprima próxima dos grandes centros consumidores; a disponibilidade de energia barata e abundante, e os altos custos de transporte e de armazenamento, devido ao baixo valor relativo do produto e à sua perecibilidade, constituem barreiras quase naturais à entrada de novas empresas no mercado. Nesse contexto, de acordo com a teoria econômica, o preço do cimento em um determinado mercado deve o mesmo, justificando a baixa flutuação dos preços do produto de diferentes produtores e de diferentes estados em uma determinada região (BNDES, 2003). O Brasil é um dos países onde existe maior concorrência, com cerca de 10 grandes grupos industriais que responderam por mais de 90% de toda a produção no ano de 2008 (SNIC, 2009). Entre os países americanos, apenas os EUA o supera em número de empresas cimenteiras. Esse oligopólio natural vem sendo reforçado pelas recentes fusões e aquisições no mercado de cimento nacional, proporcionando um aumento das escalas de produção e conseqüentemente de maiores barreiras à entrada de novos grupos concorrentes (CBIC, 2005), apesar das vantagens de maior flexibilidade operacional das empresas de menor porte (PROCHNIK et al, 1998). A escala de produção determina a capacidade de competição das empresas produtoras e dificultam o acesso de pequenos investidores, contribuindo para a concentração do mercado. A grande parcela de custos fixos sobre os custos totais contribui para que a indústria seja fortemente penalizada caso esteja funcionando com capacidade ociosa (CBIC, 2005). No quarto trimestre de 2009, especulou-se uma provável onda de fusões e aquisições no mercado de cimento, envolvendo os principais grupos do setor, como Lafarge, Cimpor, Holcim, Votorantim, Itambé e o grupo João Santos. Confirmando-se essas notícias, impõe-se um novo desafio para o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) do Ministério da Justiça, que tem como dever zelar pelo bom funcionamento dos mercados, na perspectiva do combate à cartelização e defesa da concorrência perfeita, contrapondo-se à indesejável intensificação do oligopólio, que é típico no mercado de cimento nacional e mundial (DNPM, 2009). d. Legislação Aplicada Os limites de emissão de poluentes vem se tornando cada vez mais rígidos em todo o mundo. A tabela 2.2, a seguir, apresenta a evolução dos limites de emissão para a indústria do cimento na União Européia (UE). Estudos desenvolvidos por BATTELLE (2002) evidenciam que em alguns empreendimentos as medições feitas são incompletas ou inexistentes, e que apesar dos limites regulatórios estabelecidos, o seu cumprimento não é uniforme, principalmente devido à falta de recursos ou atenção a outras prioridades. A legislação brasileira vem se comportando da mesma forma, buscando seguir, embora com certo atraso, os padrões mais rígidos observados nos países desenvolvidos. Tabela 2.2 – Evolução dos limites de emissão para a indústria do cimento na UE Antes de 1994 Diretiva da Diretiva da UE Poluente (mg/Nm³) UE1994(mg/Nm³) 2000(mg/Nm³) MP (material particulado) 20-200 50 30 500(plantas novas) NOx 500-3000 800 800(plantas antigas) SO2 10-2500 400 50 Compostos Orgânicos 10-500 10 10 totais CO 500-2000 500 Cloro 25 30 10 Dioxinas 0-10(ng/Nm³) n.a. 0.1(ng/Nm³) Metais pesados classe 1: 0.3 0.2 0.1 Cd, Ti and Hg Metais pesados classe 2: 0.5(metais pesados 0.3 1 As, Co, Ni, Se, Te 2+3) Metais pesados classe 3: 0.5(metais pesados Sb, Cr, Cu, Mn, Sn, Pb, V, 0.3 5 2+3) Zn Fonte: BATTELLE, 2002. Nos últimos 30 anos a legislação brasileira buscou diminuir os danos ambientais causados pelas emissões de poluentes na atmosfera, através de resoluções e leis repreensivas para quem não cumprir os padrões de emissão. Nesse período, alguns estados definiram suas próprias legislações sobre poluição atmosférica, mas poucos foram os limites máximos de emissão definidos em nível nacional para as fontes fixas (KAWANO, 2008). A tabela 2.3 apresenta um panorama desse cenário, fazendo um resgate cronológico sobre a legislação ambiental em nível nacional sobre o tema poluição atmosférica, incluindo as restrições para as industrias de cimento Portland. Tabela 2.3 – Evolução da legislação referente à poluição atmosférica no Brasil. Requisito legal Descrição Decreto-Lei no Dispõe sobre o controle da poluição do meio ambiente provocada por 1.413, de 14 de atividades industriais agosto de 1975 Portaria MINTER Estabelece padrões de qualidade do ar e diretrizes sobre controle da no 231 27/04/1976 poluição do ar Resolução CONAMA no05 Institui o PRONAR – Programa Nacional de Controle de Qualidade do ar 15/06/1989 Resolução Estabelece novos padrões de qualidade do ar (como previa a Portaria CONAMA no 03 28/06/1990 Resolução CONAMA no 08 06/12/1990 Resolução CONAMA no 264 26/08/1999 Resolução CONAMA no 316 29/10/2002 Resolução CONAMA no 382 26/12/2006 MINTER no 231/1976) e os níveis de qualidade do ar para elaboração do plano de emergência para episódios críticos de poluição do ar Estabelece limites máximos de emissão de poluentes do ar (padrões de emissão) para processos combustão externa em fontes fixas por faixa de potência térmica nominal Estabelece para o co-processamento em fornos rotativos de clínquer critérios para utilização de resíduos, Limites máximos de emissão e requisitos sobre monitoramento ambiental Dispõe sobre procedimentos e critérios para o funcionamento de sistemas de tratamento térmico de resíduos e cadáveres, estabelecendo procedimentos operacionais, limites de emissão e critérios de desempenho, controle tratamento e disposição final de efluentes. Define os limites de emissão de poluentes atmosféricos gerados na indústria de cimento Portland. Fonte: Elaborado a partir de Kawano, 2008. Observa-se que apenas as 4 ultimas resoluções apresentadas na tabela 2.3 definem limites máximos de emissão. Milanez (2007) destaca que as principais normas federais para o controle de emissões dos fornos de cimento são a Resolução CONAMA 264/1999, que dispõe sobre procedimentos e critérios específicos da coincineração, e a Resolução CONAMA 316/2002, que trata dos procedimentos e os critérios para o funcionamento de sistemas de tratamento térmico de resíduos. A maior parte dos critérios de emissões é definida na primeira, assim como as substâncias que não podem ser tratadas em fornos de cimento (resíduos de serviços de saúde, radioativos, explosivos, organoclorados e agrotóxicos), enquanto que a segunda faz referência específica aos limites de emissão de dioxinas e furanos. Mesmo com o avanço da legislação nos últimos anos, os padrões de emissão ainda estavam muito aquém de outros países desenvolvidos. Com incremento de novas tecnologias na matriz energética brasileira, utiliza atualmente uma maior diversidade de combustíveis além dos relacionados pelo CONAMA 08/1990. Assim, com a elaboração da Resolução CONAMA 382/2006 a legislação brasileiro abordou outros tipos de combustíveis, assim como outros tipos de fontes fixas presentes no parque industrial nacional. A Resolução CONAMA 382/2006 “estabelece limites máximos de emissão de poluentes atmosféricos para fontes fixas” (art.1), para 13 tipos de fontes, tais como: caldeira a óleo, caldeira a gás, caldeira movida a bagaço de cana, caldeira movida a energia gerada por madeira, turbinas, refinarias, fabrica de celulose, fabrica de fusão de chumbo, de fusão de vidro, fornos de cimento, fabricas de fertilizantes e siderúrgicas. Monitorado pelos órgãos ambientais estaduais, as quantidades de óxido de enxofre, óxido de nitrogênio, monóxido de carbono e material particulado (MP). Na tabela 2.4, são apresentados os limites de emissão para a industria de cimento Portland, de acordo com o anexo XI da Resolução CONAMA 382/2006. Tabela 2.4 - Limites de emissão para a indústria de cimento Portland segundo a Resolução CONAMA 382/2006. Equipamentos Material Particulado (MP) Fornos Resfriadores Moinhos de cimento Secadores de escória e de areia Ensacadeiras 50 (1) 50 50 50(2) 50 Óxidos de Nitrogênio (expresso como NO2) 650(3) N.A. N.A. N.A. N.A Os resultados devem ser expressos na unidade de concentração mg/Nm3, em base seca e com o teor de oxigênio definido para cada fonte. (1) - teor de oxigênio - 11%. (2) - teor de oxigênio - 18%. (3) - teor de oxigênio - 10%. N.A. Não aplicável. Fonte: Resolução CONAMA 382/2006, anexo XI. A aplicação da resolução de 2006 implicou em discussão entre pesquisadores, organizações não-governamentais e empresários devido a “flexibilização” dessa lei, pois os padrões de emissão ainda estão altos em comparação a outros países desenvolvidos, Para representantes de ONGs ambientalistas, a polêmica está no fato de que a resolução separou os conceitos de padrões de qualidade de padrões de emissão, alegando, desse modo, que o ambiente ao redor dessas fontes fixas de emissão iriam sofrer conseqüências negativas por esses excessos de poluentes na atmosfera. Kawano (2009) por sua vez rebate as criticas com os seguintes argumentos: • Esta Resolução se aplica às fontes fixas de poluentes atmosféricos cuja Licença de Instalação (LI) venha a ser solicitada aos órgãos licenciadores após a data de publicação desta Resolução, isto é, os critérios desta Resolução não se aplicam às fontes já existentes e sim para as fontes ditas “novas”; • Esta Resolução define no Art. 6º (§ 1º) que o órgão ambiental licenciador poderá determinar limites de emissão mais restritivos em áreas onde o gerenciamento da qualidade do ar assim o exigir; • Os limites máximos de emissão ao serem estabelecidos devem ser desafiadores, mas também factíveis, isto é, os limites devem sim ser restritivos, mas também alcançáveis pelas fontes. Não seria possível definir limites extremamente restritivos e que somente seriam alcançadas com altos investimentos financeiros, pois deve-se levar em conta a compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação do meio ambiente; • Como o CONAMA 382/2006 tem sua aplicação em nível nacional, a definição dos limites levou em consideração se seria também possível o atendimento destes limites em Estados que possuem menores recursos e níveis tecnológicos. Milanez (2007) aponta algumas falhas que possibilitam que as empresas, mesmo estando dentro das normas brasileiras, coloquem em risco a saúde de seus trabalhadores e da sociedade local. Pela comparação dos limites de emissão do Brasil e da União Européia, apresentada na tabela 2.5, a seguir, os padrões brasileiros ainda são considerados muito altos, existindo então uma brecha que permite que sejam adotadas no Brasil tecnologias de co-incineração obsoletas nos países dos blocos econômicos mais ricos. Outra observação de Milanez (2007), foi que o artigo 10 da Resolução 264/1999 obriga que os empreendimentos obtenham licença para a queima a partir da análise dos resíduos individuais, porém, nesse artigo, foi desconsiderado que durante o co-processamento poderá haver a formação de novos composto químicos com a reação desses resíduos. Além disso, a mesma Resolução 264/1999 não apresenta o periodicidade das análises dos resíduos a serem tratados, conseqüentemente, as industrias cimenteiras não necessitam verificar se os resíduos mantiveram as mesmas composições e propriedades durante sua queima. Tabela 2.5 – Comparação dos limites de emissão do Brasil e da União Européia Parâmetros União Européia mg/Nm3 Brasil Material Particulado 30 50 mg/Nm3(1) Definido pelas autoridades CO 100 ppmv(2) competentes SOx 50 Definidos pelos órgãos estaduais 800(plantas existentes) NOx Definidos pelos órgãos estaduais 500(novas plantas) (2) HCl 10 1,8 kg/h ou 99% de redução (2) HF 1 5 mg/Nm3 (2) Dioxinas e furanos 0,1 0,4 ng/Nm3 (1) (2) Resolução CONAMA 382/2006 Resolução CONAMA 264/1999 Fonte: Milanez (2007) – Modificado Outro problema também verificado está na não determinação da validade da licença de operação para a co-incIneração, ficando ao poder do órgão ambiental estadual a criação de um processo de renovação de licença, em decorrência dessa falha, alguns fornos ainda continuam operando independente da qualidade da manutenção e operação dos mesmo (MILANEZ,2007). Desse modo, há algumas falhas do ponto de vista legal que não beneficiam a correta utilização da co-incineração no Brasil. O ponto de maior gravidade é como a coincineração é posta em pratica, pois além das brechas na legislação, no Brasil as agências ambientais estaduais não estão tendo capacidade técnica (e/ou política) para garantir a funcionamento do mesmo, colocando em risco a saúde dos trabalhadores e da população que moram nas proximidades dessas indústrias. Milanez (2007) sugere que para minimizar esses problemas deveria aumentar o investimento em pessoal e infra-estrutura de forma aumentar o poder de fiscalização dessas agências, assim como, desenvolver novas estratégias que aumentem o controle social, principalmente da comunidades residente próximo às emissões fixas, nos processos de monitoramento das atividades das empresas. Existe uma proposta de resolução que estabelece os limites máximos de emissão de poluentes atmosféricos para as fontes fixas já existentes, já que a CONAMA 382/2006 estabelece os limites para as fontes novas. Foi criado um grupo de trabalho no CONAMA com esse objetivo, e sua primeira reunião ocorreu em setembro de 2008. A proposta inicial à indústria de cimento era a de se estabelecer para as fontes já existentes os mesmo limites de emissão das fontes novas (Resolução CONAMA 382), concedendo, porém, prazos para a adequação do setor. Entretanto, depois de algumas reuniões e muita discussão entre os atores envolvidos, poucos avanços foram feitos, não se chegando a nenhum consenso até a data de realização deste estudo. Perspectivas a. Projeções de Expansão do Setor A indústria de cimento no Brasil atravessa um grande fase de expansão, e os cenários continuam extremamente favoráveis ao setor, principalmente devido aos recentes anúncios feitos pelo Governo Federal sobre programas e planos de desenvolvimento de infra-estrutura e construção de habitação para a população de baixa renda, na perspectiva de combater os déficits de saneamento básico e habitacional, assim como assegurar a provisão de energia para o setor produtivo, associados aos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, em relação às Metas do Milênio (Organização das Nações Unidas – ONU), Copa 2014 (Federação Internacional de Futebol – FIFA), e Olimpíadas – 2016 (Comitê Olímpico Internacional). Nesse contexto, o SNIC (2009), na elaboração de um cenário bastante conservador, estima que o consumo aparente de cimento no Brasil deva evoluir em taxas superiores a 6,0% a.a. no período 2010-2011. Configurada essa projeção, a expectativa é de que se duplique o consumo do País a partir de 2010, em relação ao consumo observado na década de 1990, que foi de cerca de 30 milhões de toneladas de cimento ao ano. A tabela 3.1 apresenta as perspectivas de ampliação da capacidade instalada dos principais grupos cimenteiros do Brasil. Tabela 3.1 – Perspectivas de ampliação da capacidade instalada no período 2008-2012. Empresa Votorantin João Santos CIMPOR Holcim Camargo Corrêa Lafarge Ciplan Itambé Outros CSN Capacidade Instalada Atual (2008) Planejada (2012) 19,3 40,0 5,5 7,2 4,4 8,0 3,6 7,0 3,3 9,0 2,5 3,3 1,3 1,7 0,9 2,8 5,3 7,0 0 3,0 Incremento (ton) (% variação) 20,7 107,5 1,7 30,91 3,6 81,82 3,4 94,44 5,7 172,73 0,8 32,00 0,4 30,77 1,9 211,11 1,7 32,08 3 - Investimento (R$ bilhões) 3,2 n.d. 0,40 2,00 0,44 n.d. n.d. 0,40 n.d. 0,19 Fonte: DNPM, 2009. Os números apresentados na tabela anterior impressionam, já que refletem um aumento de capacidade instalada de quase 43 milhões de toneladas por ano, num período de apenas 4 anos, representando um aumento de 93% nesse período. Já a confecção de cenários de aumento de produção de médio e longo prazo passa pela análise de outras variáveis econômicas e sociais. O consumo per capita de cimento no Brasil pode ser considerado baixo (272 kg/hab/ano em 2008), principalmente se comparados a países em desenvolvimento que fazem parte dos BRIC, como China e Índia, cujos consumos per capita do produto estão em patamares acima de 1.000 kg/hab/ano. Este baixo consumo per capita contrasta com o potencial do mercado consumidor do Brasil, que vem sendo cada vez mais reconhecido internacionalmente (DNPM, 2009), e espera-se que o consumo per capita no Brasil vá se aproximando lentamente do consumo verificado em outros países desenvolvidos. A grande extensão territorial do Brasil traz outros desafios, no que se refere ao enfrentamento e superação da reconhecida deficiência habitacional (7 a 8 milhões de moradias) e infra-estrutura (energia, rodovias, ferrovias, portos, aeroportos etc.), o que demanda a implementação coordenada de políticas públicas para o desenvolvimento do país, alicerçada na Indústria de Cimento, como condição à sustentabilidade desses programas e planos, na perspectiva de curto, médio e longo prazos. Finalmente, as projeções apresentadas para o crescimento da produção de cimento no Brasil são fortemente dependentes da estabilidade político-social do país e da manutenção de um baixo nível de inflação. Dentro dessa conjuntura econômica será possível realizar mais investimentos em infra-estrutura básica, que por ser extremamente dependente da oferta de cimento, continuará estimulando o crescimento do setor. PARTE 2 – POLÍTICAS E MELHORES PRÁTICAS Políticas e Melhores Práticas Nacionais e Internacionais Neste item serão apresentados alguns estudos de caso que mostram a aplicação das melhores práticas disponíveis à indústria do cimento, e que foram aplicadas com sucesso, no Brasil e no mundo, no combate aos impactos ambientais e sociais causados pelo setor. a. Melhores Práticas Nacionais Ao analisar os relatórios de sustentabilidade das principais empresas produtoras de cimento no Brasil, constata-se que o setor acompanha a tendência mundial de inserir melhorias sócio-ambientais como forma de buscar atender a legislação e melhorar sua imagem frente aos consumidores. A tabela 4.1 1 resume as certificações e premiações destacadas pelas empresas, assim como sua participação ou não no CSI (Cement Sustainability Initiative). 1 Apenas as empresas que tinham o relatório de sustentabilidade disponível foram analisadas nesse tabela. Tabela 4.1 – Certificações e premiações das empresas brasileiras de cimento Grupo Relatório de Sustentabilidade VOTORANTIM Disponível CIMPOR Disponível CAMARGO CORREA Disponível LAFARGE Disponível ITAMBÉ Disponível HOLCIM 2 Disponível Certificações ISO 14001 nas areas saúde e segurança (unidade Cimento Rio Branco) ISO 14064-3; ISO 14001; ISO 9001, OHSOS 18001 A maior parte das operações está certificada pela norma ISO 14001 Certificações 14001:2004* (Meio Ambiente), ISO 9001:2008* (Qualidade) e OHSAS 18001:2007* (Saúde e Segurança). SST; ISO 9001 – fábrica de Pedro Leopoldo (MG) e terminais de cimento de Ribeirão Preto e Santo André (SP) e Marechal Hermes; ISO 14001 no Brasil – fábricas de Pedro Leopoldo e Barroso e Terminal Barbacena (MG). Parte do CSI x Premiações • CNI- ecologia • Presente no índice Dow Jones 2 de sustentabilidade x - x - x • presente na lista GLOBAL 100 - - x • Presente no índice Dow Jones de sustentabilidade; • Prêmio ECO 2007 Responsabilidade Social Empresarial, da Câmara de Comércio Americana; • Prêmio Parceria Responsável, da Petrobras • Prêmio Anamaco – Menção Honrosa em 2005, 2006 e 2007; • Prêmio Sinaprocim/Sinprocim Personalidade do Ano 2006, para Carlos F. Bühler, presidente da Holcim Brasil, em reconhecimento aos esforços do Holcim Awards for Sustainable Construction; • Prêmio Vitae 2006, pelo Sinduscon do Rio de Janeiro – Construção Segura; • Prêmio Pini 2005 – Melhor Concreteira. O índice Dow Jones de sustentabilidade reúne ações das empresas consideradas as melhores do mundo em desempenho econômico, boas práticas ambientais e sociais. NASSAU CIPLAN Não disponível Não disponível - - - Fonte: Elaboração própria, a partir dos relatórios de sustentabilidade das empresas. Das empresas analisadas, 5 possuem certificações de gestão ambiental, de segurança, saúde e qualidade em pelo menos parte de suas unidades operacionais. Cinco delas fazem parte da CSI (Cement Sustainability Initiative), esta iniciativa contém empresas que juntas somam cerca de metade da produção mundial de cimento, excluindo o volume produzido na China. O grupo possui uma agenda de metas e compromissos para mitigar e compensar os impactos da indústria de cimentos no ambiente. Estas metas circundam entre cinco temas principais; CO2 e proteção do clima; uso responsável de combustíveis e matérias-primas; segurança e saúde dos trabalhadores; monitoramento e redução das emissões e impactos nas terras e comunidades locais. As empresas participantes destacam em seus relatório como estão em relação as metas do CSI, em especial o percentual de redução de gases de efeito estufa em relação a 1990. Todas as grandes empresas brasileiras do setor destacam o co-processamento como um grande avanço ambiental. Este processo, que consiste no aproveitamento de resíduos diversos como combustível e matéria-prima, colabora para a redução de gases de efeito estufa ao reduzir o aporte de combustíveis de origem fóssil no processo produtivo, além de reduzir o montante de resíduos descartados. A Holcim destaca outras melhorias, como ações de redução de gases poluentes, que seguem a implementação de sistemas de monitoramento, com revisões periódicas nas frotas de caminhões, instalação de equipamentos exaustores que sugam o pó emitido pelos caminhões-betoneira e inserção de filtros autolimpantes substituindo filtros de manga. Algumas dessas empresas garantem fazer além do exigido pela legislação na recuperação das minas exploradas, a Lafarge, por exemplo, realizou na unidade de Cantagalo a recuperação do acesso à mina do Valente, com o escoamento das águas pluviais, recuperação de taludes e plantio de 5,5 mil mudas nativas de Mata Atlântica. No total, a empresa utilizou 55 mil mudas nas suas unidades para recuperação e reflorestamento, além de ter doado 56 mil mudas para as comunidades vizinhas de Cantagalo, Matozinhos, Arcos e Montes Claros no biênio 2005/06. A preocupação das empresas com seus trabalhadores é demonstrada através de programas de saúde, capacitação e segurança. Este último quesito se mostra importante, já que o setor possui altos índices de acidentes de trabalho quando comparado a outros setores. Como conseqüência disto, as empresas apresentam programas de redução do risco de acidentes, algumas inclusive nomeiam seus programas de segurança de “acidente zero” para enfatizar o esforço na diminuição dos acidentes de trabalho. As maiores empresas do setor também apresentam um grande número de ações e projetos em prol das comunidades que as cercam. Esses projetos vão desde projetos de nutrição (Camargo Correa), educação física (LAFARGE), educação (CIMPOR) e cultura (HOCIM) até a doação de cimento ou o financiamento para a construção, ou melhoramento, da estrutura de educação e saúde dos habitantes dos municípios em que estão presentes. Como exemplo existe o Programa Itambé de Participação Social (PIPA) que foi instituído para promover a integração da empresa com essas comunidades vizinhas. A empresa definiu juntamente com a comunidade quais ações iriam nortear as atividades do programa, e assim catalisa recursos financeiros, materiais e humanos para desenvolver melhorias sociais e na qualidade de vida dessas comunidades. Nos municípios de Balsa Nova e Campo Largo foram programadas melhorias na infraestrutura de escolas, ao ter sido promovida uma reforma nas escolas, com a construção de novas salas de aula e quadras de esportes, além de ter sido implantado um posto de saúde em área carente do entorno da fábrica. Outro exemplo de boa prática é dado pela Cimpor. Essa empresa reabilitou três áreas de relevante importância em termos de biodiversidade, já que estão inseridas na Mata Altântica, que é um dos biomas tropicais mais devastados. Foram plantadas cerca de 8.600 mudas de 20 diferentes espécies nativas da região numa área de 8 hectares, e que antes de pertencer à empresa era um bananal. Segundo a WBCSD (2009c), a floresta reabilitada reequilibrou os ecossistemas da região e contribuiu para a melhoria da qualidade de vida da população. A área reabilitada permite que a fauna e a flora se desenvolvam, protegendo a biodiversidade da região. Essa área também é utilizada para a educação ambiental de alunos de escolas primárias da região, aumentando a preocupação da população local e dos tomadores de decisão com a sustentabilidade ambiental. b. Melhores Práticas Internacionais Reconhecendo a necessidade de resposta às questões ambientais e sociais que vinham sendo feitas à indústria do cimento, diversas companhias criaram o Cement Sustainability Initiative – CSI, patrocinado pelos membros do programa, e fazendo parte do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD). A iniciativa é composta hoje por 23 membros, representando mais de 40% da produção mundial do produto. As companhias que entraram após a criação da CSI tem quatro anos para a adequação aos requisitos da iniciativa. Na tabela 4.2, a seguir, são apresentadas as companhias que fazem parte da CSI, e o ano a partir do qual elas deverão começar a apresentar seus resultados publicamente. Tabela 4.2 – Empresas participantes e ano de adequação aos requisitos da CSI. Company Ash Grove Camargo Correa Cementos Molins CEMEX Cimentos Liz Cimpor CNBM CRC CRH HeidelbergCement Holcim Italcementi Lafarge Secil Shree Cement Siam Sinoma Taiheiyo Tianrui Group Titan Ultratech Votorantin Yatai 2006 2007 2008 X 2009 2010 2012 2013 X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X Fonte: http://www.wbcsdcement.org/index.php?option=com_content&task=view&id=38&Itemid=93 Desde que a iniciativa foi criada, em 2002, os membros da CSI concordaram em apresentar publicamente os resultados de indicadores de performance, auditados de forma independente. Esses indicadores foram descritos na parte “1.e” deste trabalho. A seguir, alguns estudos de caso serão apresentados, refletindo as melhores práticas internacionais na indústria do cimento. • RMC Readymix Zement, Alemanha – Reestruturação da produção Em 1990 a RMC adquiriu a Rudersdofer e começou a investir em um programa intensivo envolvendo grandes modificações nas tecnologias de produção, gerenciamento de recursos humanos e materiais, readequação do número de funcionários, e melhorias no relacionamento com a comunidade local. Essas mudanças foram guiadas por uma estratégia que visava maiores ganhos econômicos, levando em conta os princípios da sustentabilidade e da responsabilidade social corporativa. Depois de uma década do início dessas mudanças, a fábrica, antes com tecnologia obsoleta, utiliza agora tecnologia de ponta, sendo exemplo também em inovação e em gerenciamento ambiental. Dentre as ações aplicadas pode-se destacar: o Redução da força de trabalho, com assistência aos trabalhadores demitidos; o Engajamento da comunidade local; o Suporte de atividades em favor da comunidade; o Investimentos em novas tecnologias de: Extração de matéria prima; Controle de poluição; Redução de ruídos; Redução de uso de água; Gerenciamento de consumo de energia, e Gerenciamento de resíduos. Melhorias sensíveis puderam ser sentidas pela comunidade local em termos da qualidade do ar, nível de ruídos e de poluição, assim como da aparência da paisagem em torno do empreendimento. Os empregados foram beneficiados pelas melhorias na segurança e nas condições de trabalho, assim como pelos novos programas de treinamento e pela possibilidade de participação nos lucros da empresa (Battelle, 2002). • Lafarge Cement, Filipinas – Substituição de combustíveis A fábrica da Lafarge localizada nas Filipinas utiliza cascas de arroz, abundante no país, como substituto aos combustíveis fósseis tradicionais. O objetivo inicial do projeto era o de reduzir os custos com combustíveis fósseis. A matérias primas utilizadas na produção de clínquer tem um grande conteúdo de umidade, conteúdo este que deve ser reduzido antes da moagem. O secador rotativo utilizado nesse processo usualmente utiliza óleo combustível como fonte de energia. Nas Filipinas, entretanto, o principal alimento básico é o arroz, que é cultivado extensivamente por todo o país. Depois da colheita, o grão é separado da casca, gerando uma quantidade significativa de resíduos. Tradicionalmente, essas cascas são queimadas a céu aberto, sem nenhum controle, desperdiçando um grande quantidade de energia. A Lafarge decidiu instalar um sistema de recuperação de energia da casca do arroz para abastecer o secador rotativo. Uma cooperativa rural coleta as cascas de arroz em sacos grandes (1m3), e então as cascas são jogadas diretamente sobre a chama no secador rotativo. Como resultado, cerca de 35% do combustível fóssil foi substituído, evitando a queima de cerca de 2 milhões de litros de óleo combustível por ano. A utilização da biomassa residual como fonte de combustível permitiu economia na compra de combustíveis fósseis, solucionou o problema de destinação das cascas de arroz, e também contribuiu para uma significativa melhoria na qualidade do ar. • Cemex Espana, Espanha – Restauração da área de mineração A Cemex vinha plantando espécies ornamentais, majoritariamente o pinho, no entorno de suas minas, mas as árvores não estavam sobrevivendo ao clima local (semi-árido). A empresa decidiu então mudar o plano de reflorestamento e passou a usar árvores frutíferas, obtendo excelentes resultados. O objetivo inicial do reflorestamento era definir um cinturão verde no entorno da fábrica e das minas, para diminuir o impacto visual dos empreendimentos, melhorar o relacionamento com os fazendeiros locais, e contribuir com a redução das emissões de GEEs ao plantar 150 hectares de árvores. Em adição aos resultados esperados, o sistema inovador de reflorestamento transformou a área no entorno das minas numa produtiva plantação de frutas, que hoje gera emprego para a comunidade local e benefícios adicionais para a fábrica. No momento o programa cobre 118 hectares, com 10 hectares de ameixa, 38 hectares de pêssegos, 10 hectares de amêndoas, 34 hectares de nectarina, 26 hectares de vinhedos, entre outros. • Japão - Uso de correias transportadoras no transporte de calcário da pedreira para a planta Cerca de metade da produção de calcário no Japão é transportada por correias transportadoras, muitas vezes cobrindo distâncias maiores que 20 km. O sistema de correias transportadoras é capaz de superar complicadas características geográficas, e pode ser benéfica ao meio ambiente, caso a correia seja devidamente coberta, para evitar a emissão de material particulado e para diminuir o nível de ruídos. O sistema é benéfico porque reduz o tráfego na região, e promove o uso eficiente do solo. Comparados ao transporte rodoviário, marítimo ou ferroviário, o sistema é mais econômico, resultando num menor consumo de combustíveis,e proporcionando um transporte mais estável e limpo sob quaisquer condições climáticas. • Itacementi Group Agadir, Marrocos – Bem estar da comunidade e integração ambiental O empreendimento entrou em operação em 1952 com uma modesta capacidade de 60 mil toneladas por ano. Esta capacidade foi aumentando gradualmente até atingir 1 milhão de toneladas anuais nos dias de hoje. Localizada inicialmente numa área rural, a fábrica de cimento acabou envolvida pela malha urbana que continua crescendo. Desde 1991, a fábrica vem implementando um programa para melhorar o seu desempenho ambiental e social, a fim de diminuir os impactos sobre a comunidade local. As ações incluem: o Integração ambiental da fábrica de cimento; o Separação do acesso à mina do acesso à comunidade; o Melhoria das estradas no entorno do empreendimento, melhorando o acesso à comunidade; o Estabilização da encosta localizada atrás da fábrica e recuperação da área da mina; o Melhoria do aspecto visual do empreendimento; o Encontros regulares com os representantes da comunidade local, firmando acordos diversos; o Instalação de planta de dessalinização de água, com fornecimento de água potável para toda a comunidade local; o Integração das mulheres ao meio rural e desenvolvimento de um programa de alfabetização Para exemplo de melhores práticas disponíveis na indústria de cimento, no que diz respeito à saúde e segurança do trabalhador, consultar WBCSD, 2004. c. Lições Aprendidas As melhores práticas nacionais e internacionais apresentadas na Parte 2 provam que é possível que a indústria do cimento possa ser ambientalmente e socialmente amigável sem perder a competitividade econômica. Aliás, nos dias de hoje, a responsabilidade sócio-ambiental não é mais considerada com um custo extra às empresas, mas verdadeiramente como uma oportunidade de negócios, já que a sociedade está a cada dia mais envolvida com os problemas ambientais e sociais que são vividos hoje no mundo. Segundo diversos autores ( ), o aumento da eficiência energética nas fábricas, aliada a utilização de resíduos de outras indústrias como adições ou como combustível alternativo, pode melhorar significativamente a qualidade ambiental da região do empreendimento. Soluções simples para questões sociais também foram observadas, e dependem mais da preocupação da fábrica com os moradores do entorno do que com os recursos financeiros necessários para que a ação seja tomada. Segundo Battelle (2002), é possível que a qualidade ambiental das áreas do entorno do empreendimento seja elevada a níveis superiores ao nível antes da instalação da fábrica, entretanto, o relatório ressalta que é imprescindível a presença de um líder comprometido e visionário, para dar suporte ao processo de decisão na corporação, assim como acompanhamento e participação efetiva do governo local e dos representantes comunitários. Ainda segundo o relatório, o investimento na melhoria das condições ambientais e sociais melhora a percepção do empreendimento frente grupos de investidores e governos, trazendo mais oportunidades de negócios, e trazendo retorno ao investimento feito nas práticas sustentáveis. PARTE 3 – TENDÊNCIAS E DESAFIOS PARA O SETOR Tendências e Desafios a. Inovações Tecnológicas Os principais avanços tecnológicos vividos nos últimos anos pelo processo produtivo têm se concentrado nas áreas de controle de processo e de automação industrial, buscando a redução do consumo de combustíveis e de energia elétrica, além de melhorias ambientais. Algumas companhias de cimento tem obtido um progresso considerável na performance ambiental e na conservação de recursos, através de melhorias incrementais nas suas operações e pelo uso cada vez maior de combustíveis alternativos e adições ao clínquer. Entretanto, a introdução de novas tecnologias e processos pode alavancar o progresso na conservação de recursos e de proteção ao meio ambiente. Segundo o relatório de Battelle (2002), a inovação será especialmente importante no momento em que a indústria do cimento tiver que enfrentar o desafio de mitigar a sua emissão de gases de efeito estufa de maneira significativa. Ainda segundo o relatório, as inovações devem ainda: aumentar o uso de resíduos nos fornos de cimento; gerenciar mais efetivamente o ciclo de vida do cimento (reciclar concreto, por ex.); melhorar a qualidade ambiental na região do empreendimento e incentivar a utilização do cimento de formas mais sustentáveis (concreto com maior vida útil, com menos conteúdo de matérias-primas virgens, aumento da reciclagem, e desenvolvimento de novos produtos). Dessa forma, a inovação pode levar a menores custos de produção, aumento das vendas, produtos com maior valor agregado, produtos com menos competidores, e finalmente maiores ganhos para a companhia (Battelle, 2002; Soares, 1998; WBCSD, 2005a, 2009a). Entretanto, a indústria de cimento não é considerada muito inovadora. Devido aos baixos níveis de rentabilidade, os grupos fabricantes de cimento tipicamente investem muito pouco em pesquisa e desenvolvimento. A solução desse problema passa pela adoção das tecnologias mais avançadas que já estão atualmente disponíveis nas novas fábricas de cimento a serem implantadas. As companhias de cimento devem também aumentar as verbas destinadas a pesquisa e desenvolvimento, no que diz respeito a novas tecnologias e processos. Para a pesquisa de tecnologias que ainda não são economicamente viáveis, esforços conjuntos com outras companhias, governos, universidades e outras instituições de pesquisa podem ser a forma de diluir os custos de financiamento da pesquisa entre os interessados (Battelle, 2002). Como regra geral, as companhias de cimento gastam a maior parte do seu limitado orçamento para pesquisa e desenvolvimento em esforços de desenvolvimento de novos produtos. Entretanto, poucas companhias perseguem de maneira pró-ativa novos produtos que busquem especificamente a melhoria das condições ambientais ou sociais (Battelle, 2002). Algumas Tecnologias Emergentes na Indústria do Cimento • Cogeração em Ciclo de Fundo – Ciclo Rankine a Vapor Nessa proposta os gases de combustão do forno de cimento são utilizados para geração de energia elétrica e de vapor, reaproveitando a energia térmica que eles ainda possuem ao serem ejetados do sistema. Para isso é necessário a criação de um circuito de vapor, que deve estar acoplado ao circuito de gases quentes. Esse vapor gerado produziria energia elétrica através da utilização de um ciclo Rankine. Os gases quentes passam por uma caldeira de recuperação em que trocariam calor com um escoamento de água líquida, que recendo o calor dos gases, se torna vapor. O vapor, expandido, faz girar uma turbina conectada a um gerador, produzindo energia elétrica. Após essa fase, o vapor seria novamente condensado e bombeado para a caldeira de recuperação, onde o ciclo recomeçaria. A figura 5.1, a seguir, apresenta o diagrama do processo. Figura 5.1 - Cogeração com ciclo Rankine a vapor na fabricação de cimento Portland. Fonte: CAMPOS, 2008. Segundo CAMPOS (2008),dentre os benefícios obtidos pela implantação de um sistema de cogeração de energia elétrica a partir da recuperação dos gases do forno de clínquer, tem-se uma grande melhoria do rendimento energético, que para o caso adiabático, salta de pouco mais de 70% para quase 100%. Já o rendimento exergético sobe de menos de 40% para mais de 50%. CAMPOS (2008) ainda sugere outras configurações possíveis para o aproveitamento da energia térmica dos gases para a geração de eletricidade. São elas: Cogeração em Ciclo de Fundo com Reator de Leito Fluidizado; Cogeração em Ciclo de Fundo com Ciclo Rankine Orgânico; Cogeração em Ciclo de Fundo com Ciclo Kalina, e Cogeração em Ciclo de Topo. O ciclo Kalina pode recuperar gases a temperaturas mais baixas que o ciclo Rankine Orgânico. Já o ciclo Rankine a Vapor é o que exige a temperatura dos gases mais alta dentre os três. O ciclo Rankine a Vapor tem a menor geração elétrica entre eles, mas apresente o custo mais baixo. Dada a viabilidade termodinâmica do processo e o nível atual de maturidade dessa tecnologia, percebe-se que a decisão de implantação ou não desse tipo de sistema em uma fábrica é estritamente econômica e política. • Nova tecnologia de forno para utilização de material secundário O novo forno desenvolvido pelo grupo RMC, na Alemanha, foi o primeiro no mundo equipado com um gaseificador de leito fluidizado de tipo circulante para utilização de material secundário. Materiais secundários são normalmente materiais contaminados pos óleo, restos de madeira, e papel e plástico que não podem ser reciclados. O gás produzido é queimado no calcinador, e as cinzas do material são processadas no moinho, se juntando a outras matérias primas. Dessa forma, soluciona-se o problema de utilização de materiais alternativos com grande conteúdo de material orgânico, que não pode ser utilizado na ponta fria do forno, juntamente com outras matérias primas (Battelle, 2002). Na entrada do forno, um by-pass é instalado para remover cloro e SO3, permitindo a utilização desses combustíveis secundários. Extensivas medições das emissões, com uso de 25% de combustíveis secundários, não mostraram nenhum efeito significativo em comparação a uma situação sem uso desses combustíveis (Battelle, 2002). • Sistema avançado de forno de cimento com leito fluidizado (FAKS) O Sistema avançado de forno de cimento com leito fluidizado (FAKS) queima eficientemente carvão de baixa qualidade, diminuindo significativamente as emissões de NOx, e aumentando a eficiência de recuperação de calor entre os rejeitos sólidos e os gases ejetados do processo. Isto é realizado através do aproveitamento das vantagens do processo de leito fluidizado, incluindo a eficiência de combustão e da transferência de calor, bem como das características de dispersão das partículas e da granulação. Dessa forma, essa tecnologia contribui para a preservação do meio ambiente e para a conservação de energia. Essa tecnologia inclui um forno de leito fluidizado e um resfriador de dois estágios. O forno de cimento de leito fluidizado reduz as matérias primas a um tamanho específico para a sua transformação em cimento de alta qualidade, sinterizando as matérias primas granuladas a uma alta temperatura. A figura 5.2 a seguir apresenta o diagrama do processo. A tecnologia FAKS começou a ser desenvolvida em 1984, como um projeto voluntário pela Kawasaki Heavy Industries Ltd, e pela Sumitomo Osaka Cement Co., Ltd. Em 1989 uma planta piloto com capacidade de produção de 20 toneladas de cimento por dia foi criada em conjunto pela Japan Energy Center, Heavy Industries, Coal Kawasaki Ltd., e Sumitomo Osaka Cement Co., Ltd. Em 1993 essa escala foi aumentada para 200 toneladas por dia. Em maio de 2005 uma planta piloto com capacidade de produção de 1000 toneladas por dia foi criada na Shandong Paoshan Biological Building Materials Co., Ltd., na China. Uma comparação da performance entre a tecnologia convencional (forno Figura 5.2 – Diagrama da tecnologia FAKS Fonte: XXXX, 2008 rotativo) e a FAKS numa planta comercial com capacidade de produção de 1000 toneladas/dia é apresentada na tabela 5.1, a seguir. Tabela 5.1 – Comparação da performance da FAKS com um forno rotativo convencional. Quantidade descartada NO2 1% N e 10% O2 contem nas emissões de carvão da Rotary Klin & AQC FAKs CO2 Depende do consumo elétrico e de combustível Emissão (mg/Nm³) Emissão anual (tons CO2/ano) Emissão (g/Nm³) Emissão anual (tons CO2/ano) Rotary Klin & AQC FAKs 708 476 341 233 245 220 118*10³ 118*10³ 1,000 1,000 1,050 1,050 330 330 3,411*10³ 2,993*10³ 27 36 1.46 25,116 1.49 25,116 Base de cálculo Capacidade produtiva Tempo de operação anual Consumo de calor Consumo de energia Quantidade especifica de gases de exaustão Poder calorífico inferior do carvão Tonelada de clínquer/dia Tonelada de cimento/dia Dias/ano KJ/tonelada de clínquer kWh/ tonelada de clínquer Nm³/kg-clínquer KJ/kg-carvão Fonte: http://www.brain-c-jcoal.info/cctinjapan-files/english/2_3B1.pdf Devido aos ganhos em termos de redução de emissões, espera-se que a FAKS seja comercialmente adotada como uma tecnologia inovativa e alternativa na indústria de cimento. • Captura e Armazenamento de Carbono (CCS) A tecnologia de captura e armazenamento de carbono é uma tecnologia emergente, que ainda não foi testada em uma escala industrial na indústria do cimento, mas que é potencialmente promissora. O CO2 é capturado ao ser emitido pelos processos de produção do cimento, comprimido até o estado líquido, e então transportado em dutos para ser permanentemente armazenado em grandes profundidades, no subsolo. Na indústria do cimento, o CO2 é emitido na queima dos combustíveis e no processo de calcinação, no forno. Essas duas fontes de emissão de CO2 requerem técnicas de captura específicas para a indústria do cimento que sejam eficientes e de baixo custo (WBCSD, 2005a). Segundo a IEA (2008), algumas tecnologias já desenvolvidas de CCS parecem ser mais apropriadas para a indústria de cimento que outras. Ainda segundo a IEA (2008), até o ano de 2050, o setor de cimento será responsável por 57% da captura de CO2 proveniente do setor industrial. Na tabela 5.2, a seguir, são apresentadas as expectativas da Agência Internacional de Energia (IEA, 2008) em relação ao desenvolvimento da tecnologia de CCS. Tabela 5.2 – Prospectos tecnológicos para o CCS na indústria de cimento. Estágio tecnológico 2008 – 2015 P&D Custos (US$/ton CO2) Redução de emissões(%) CO2 reduction (Gton CO2/ano) 500 95 0 2015 – 2030 Demonstração de P&D 250 – 350 95 0 – 0,25 2030 - 2050 Demonstração Comercial 150 – 200 95 0,4 – 1,4 Fonte: IEA, 2008. A indústria de cimento já possui programas de pesquisa e desenvolvimento de CCS. Mas é importante ter em mente que as tecnologias de captura necessitam da cadeia completa do CCS, incluindo infra-estrutura de transportes e locais apropriados para o seu armazenamento, monitoramento e verificação. b. Necessidades Investimento de Financiamento e Oportunidades de Além dos aspectos técnicos, a estrutura econômica vai ser decisiva para o desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias na indústria do cimento. Como já foi mencionado no decorrer deste estudo, devido ao elevado custo dos equipamentos, existe uma grande inércia no que diz respeito à mudanças tecnológicas na indústria de cimento, e as receitas destinadas à pesquisa e desenvolvimento no setor também podem ser consideradas insuficientes. Segundo diversos estudos (Battelle, 2002; Soares, 1998; WBCSD, 2005a, 2009a), a implementação de tecnologias menos poluentes e mais eficientes em relação ao consumo de energia e de matérias primas, de modo geral, acabam por aumentar o lucro das companhias a longo prazo, apesar de demandarem grande investimento inicial, característico do setor. Surge daí uma necessidade crescente de obtenção de recursos financeiros, visto que as restrições sócio-ambientais vem aumentando nos últimos anos, e a preocupação com as emissões de gases de efeito estufa devem se intensificar num futuro não muito distante. Dessa forma surge, em particular nos países desenvolvidos e com metas de redução de emissão de CO2, a preocupação com o financiamento para P&D na tecnologia de CCS, que teoricamente só aumentariam os custos do setor, sem acarretar em ganhos privados como outras diversas tecnologias que visam diminuir as emissões através da redução de consumo de matérias primas e energia. Estrategicamente, no curto e médio prazo, o Brasil deve focar os seus esforços em investimentos que possam ao mesmo tempo reduzir os impactos ambientais e sociais, diminuir custos, e tornar as empresas mais competitivas. Há um consenso (Battelle, 2002; Soares, 1998; WBCSD, 2005a, 2009a) que investimentos em programas de eficiência energética, na utilização de combustíveis alternativos, na utilização racional de matérias primas, e no uso crescente de adições ao cimento levam à redução dos impactos ambientais causados pelo setor, e ao mesmo tempo tornam as indústrias mais competitivas, reduzindo seus custos, e recuperando em alguns anos o volume investido. O relatório publicado por Battelle (2002) aponta 5 áreas em que os investimentos em P&D devem aumentar. São elas: • Produção de cimento integrada com o gerenciamento de resíduos para redução do uso de combustíveis fósseis; • Fornos mais avançados; • Co-produção de eletricidade e cimento; • Novas técnicas de gerenciamento de emissões de CO2, e • Processos de combustão avançados e controle de emissão de poluentes. Segundo Rasul et al (2005), a implementação de medidas de conservação de energia são óbvias particularmente para países em desenvolvimento, e contribuem, dentre outros fatores, para a otimização do consumo de energia na indústria, redução do custo da energia por unidade de produto, e redução da poluição gerada pelo setor. Segundo o estudo, a recuperação da energia de resíduos também deve ser incorporada no projeto de novas plantas para minimizar o consumo de energia e os custos, e para aumentar a qualidade do produto. Mandal e Madheswaran (2010) afirmam que as empresas podem diminuir seus custos ao utilizar substituir combustíveis fósseis por alternativos, e utilizando adições em substituição ao clínquer na fabricação de cimento. Os autores indicam que as principais companhias de cimento tem tido sucesso ao utilizar resíduos não-tóxicos de siderúrgicas, e ao utilizar cinzas provenientes de termelétricas a carvão, e que as variedades de cimento produzidas sob estas condições são de alta qualidade, e possuem propriedades especiais como maior durabilidade e resistência a ambientes hostis, tornando-os superiores a cimentos comuns. Segundo Mandal e Madheswaran (2010), e Kabir e Madugu (2010), tais substituições ajudam a diminuir o consumo de matérias-primas e de combustíveis fósseis, reduzindo as emissões de CO2. c. Suporte Político Necessário A implementação bem sucedida das diversas ações propostas ao longo deste trabalho somente serão possíveis se houver um quadro político que crie as condições necessárias para a disseminação das novas tecnologias e das melhores práticas ambientais e sociais. Políticas nacionalmente adequadas devem então ser desenvolvidas com esse fim. Segundo Santi (2003), as políticas públicas, no que se refere à indústria do cimento devem: “ a) Desenvolver um ambiente favorável à participação e ao controle efetivos por parte da sociedade nos processos decisórios envolvendo políticas e controle de riscos ambientais relacionados à produção de cimento com emprego de resíduos que resultem na interação dos diversos atores sociais e interesses em jogo em foros abrangentes de discussão e negociação efetivamente democráticos; b) Desenvolver meios e procedimentos para avaliação da percepção de riscos pelos trabalhadores envolvidos na cadeia de produção uso do cimento e pela população exposta aos riscos da atividade; c) Rever a legislação e as regulamentações ambientais e ocupacionais, uma vez que foram copiadas ou adaptadas de legislações e informações técnicocientíficas existentes em países industrializados, e que nem sempre se aplicam ou são relevantes para as condições e situações locais; d) Possibilitar a integração dos órgãos e das instituições públicas com interveniência no assunto, de modo a otimizar as ações e os recursos humanos e materiais necessários à prevenção e ao controle dos riscos ambientais da produção de cimento com emprego de resíduos; e) Implantar sistemas estaduais de informação, dinâmicos e abrangentes, de modo a possibilitar às próprias instituições públicas e à sociedade atuar na prevenção da contaminação e dos danos às pessoas e ao meio ambiente e dar respostas imediatas nas emergências; f) Cobrar posturas e práticas comprometidas com o Direito de Saber, o Princípio da Precaução, a Segurança Química, e estabelecer métodos coercivos para os casos onde as diretrizes não forem consideradas. No que diz respeito às mudanças climáticas, Rehan e Nehdj (2005) afirmam que diversos instrumentos políticos estão disponíveis para favorecer a mitigação das emissões de GEEs, como: metas voluntárias, instrumentos de comando e controle, e regulações específicas para o setor, dentre outros. Estes instrumentos possuem variados graus de efetividade, de eficiência econômica, e de aceitação frente os empreendedores. Segundo os autores do estudo, a melhor estratégia seria a de adotar uma combinação balanceada desses instrumentos, considerando as melhores oportunidades disponíveis e os diferentes agentes econômicos na sociedade. Segundo a WBCSD (2009a), algumas políticas específicas ao setor devem ser aplicadas para garantir a sustentabilidade da indústria de cimento, favorecendo a utilização de combustíveis alternativos, uso de adições ao cimento, eficiência energética e responsabilidade social-corporativa. O estudo sugere a implementação de políticas que: a) Promovam a adoção da melhor e mais eficiente tecnologia disponível para novos fornos; b) Encorajem e facilitem um uso crescente de combustíveis alternativos; c) Encorajem e facilitem o uso de adições ao cimento, diminuindo a demanda por clínquer; d) Facilitem o desenvolvimento de tecnologias de CCS; e) Assegurem restrições previsíveis, objetivas e estáveis de emissão de GEEs, assim como o suporte energético a nível internacional; f) Incentivem a Pesquisa e Desenvolvimento (P&D); g) Promovam a colaboração internacional e as parcerias público-privadas na implementação de tecnologias. Identificação de Necessidades de Modificações e Inovações Institucionais Embora as questões sociais e ambientais resultantes do processo produtivo do cimento ainda sejam relevantes, verifica-se uma busca pela sustentabilidade no setor, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, onde a realização de novas práticas e iniciativas vem conduzindo a um aprimoramento ambiental, social e econômico da produção do setor. Dentre essas práticas pode-se destacar a adoção de novas metodologias, técnicas, equipamentos e pesquisas, além do importante envolvimento de diversos atores sociais e instituições, com o objetivo de trocar experiências e aprimorar o processo produtivo. Para que a sustentabilidade do setor seja alcançada, não é necessário que sejam implementadas grandes modificações na sua estrutura institucional. Segundo Maury de Carvalho (2008), a aproximação e diálogo entre as diversas instituições envolvidas pode ajudar a solucionar a maioria dos conflitos ambientais e sociais que são vistos hoje. A autora ressalta que o estabelecimento de ações integradas e o diálogo entre os atores, no âmbito da produção de cimento no Brasil, especialmente entre empresas e as comunidades locais ainda é incipiente. Ainda segundo a autora, é necessária uma grande aliança entre os atores e instituições para encontrar medidas e soluções que gerem ações mais efetivas, integradas e sistêmicas. Para isso necessita-se da boa vontade do setor industrial para aplicar técnicas e metodologias mais amigáveis com o meio ambiente e com as comunidades próximas. O poder público precisa ser mais pró-ativo e determinado, buscando influenciar diretamente o processo, exercendo plenamente suas funções. A comunidade também deve contribuir participando ativamente de encontros e reuniões, esclarecendo suas necessidades e dando aos outros atores subsídios para que posam cumprir seus papéis. Para que seja atingida a sustentabilidade na indústria do cimento é fundamental uma plena compreensão e busca por soluções, com a percepção de que os diversos atores apresentados precisam estar alinhados. Segundo Maury de Carvalho (2008), é necessário fomentar uma cultura de complementaridade, coresponsabilidade e comprometimento em torno desse objetivo comum. Exercício Prospectivo Socioambientais com Aumento das Restrições As companhias de cimento podem tomar medidas para aumentar a sua sustentabilidade caso haja um aumento das restrições socioambientais. Segundo WBCSD (2009a), um grande número de inovações pode ser possível em diversas dimensões, incluindo a maneira pela qual os impactos ambientais e sociais são abordados pelos tomadores de decisão, a maneira pela qual os projetos de P&D são escolhidos, e a maneira que os empregados são recompensados por seu trabalho. Segundo o relatório da WBCSD (2009a), com um aumento da pressão pela diminuição dos impactos sociais e ambientais, o desenvolvimento de soluções inovadoras será necessário. À medida que as pressões para um aumento das restrições socioambientais se tornem mais fortes, a indústria do cimento deve procurar por novas abordagens de seus problemas, e experimentar novos conceitos. A indústria do cimento pode dar incentivos a esse tipo de inovação, à medida que a consideração dos impactos leve a uma escolha de projetos de Pesquisa e Desenvolvimento com esse objetivo. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES A indústria de cimento tem tido um grande papel na construção das cidades e da civilização atual, entretanto o setor gera diversos impactos ambientais e sociais, positivos e negativos, com conflitos tanto no entorno de suas áreas de fabricação como em outras localidades que tenham relação com a sua produção. Do lado positivo, podemos citar os empregos gerados pela indústria e novas oportunidades de negócios para a população local, particularmente em regiões mais remotas, onde existem poucas opções de desenvolvimento econômico. Os impactos negativos incluem danos à paisagem, poeira e ruídos, e emissões de gases poluentes. No decorrer do estudo foi observado que o Brasil possui um parque industrial moderno e opera com altos níveis de eficiência energética, principalmente devido a utilização do processo “via seca” na grande maioria das fábricas. O consumo energético e térmico da indústria nacional encontra-se abaixo daqueles apresentados pelos EUA e principais produtores da União Européia. Um dos problemas observados no decorrer desse estudo é que essa indústria possui uma limitação logística. Apesar do sistema ferroviário ter adquirido mais qualidade com as privatizações, esse meio ainda é muito pouco utilizado para o transporte de cimento, em parte devido à disputas com outros produtos. A transposição desse problema pode representar uma redução de custos significativa para o setor, já que o peso da logística do cimento é maior do que em diversos outros segmentos de bens de consumo. O estudo mostrou também que o uso de combustíveis alternativos está ganhando importância no setor, tendo atingido cerca de 15% de substituição em 2008. Esta tendência é apoiada por diversos autores (MOKRZYCKI e ULIASZ- BOCHENCZYK ,2003; Seyler et al, 2006; Soares, 2008, entre outros), que afirmam que o uso de resíduos como combustíveis alternativos pela indústria de cimento é justificado tanto ecologicamente quanto economicamente, já que os fornos de cimento são particularmente bem adaptados para receber combustíveis alternativos por duas razões: devido à alta temperatura do forno e ao longo tempo de exposição, a queima desses combustíveis se dá de forma quase completa, diminuindo a emissão de poluentes perigosos. Eles concluem afirmando que o uso desses combustíveis alternativos pode ajudar a reduzir os custos da produção de cimento. Entretanto, o uso de combustíveis alternativos ainda gera muita controvérsia no que diz respeito à queima de substancias perigosas, incluindo a preocupação de ONGs, comunidades locais e agencias reguladoras (Aubert, 2007). A produção de cimento é conhecida por requerer grandes quantidades de matérias-primas e de combustíveis, gerando impactos ambientais e emissão de poluentes. Para minimizar esses impactos, a produção de cimento pode utilizar alguns tipos de adições ao cimento, como escórias siderúrgicas, cinzas de termelétricas e fíler calcário. O uso de adições promove grande economia de energia, que se dá devido à menor utilização do forno rotativo, equipamento onde há o maior consumo energético do processo de obtenção do cimento tipo Portland. A utilização desses materiais diminui a utilização de clínquer no processo produtivo e, conseqüentemente, reduz a emissão de CO2, proveniente não só do consumo de combustíveis no forno, mas também da transformação química do calcário. Dessa forma, são reduzidas significativamente as emissões totais de gases do efeito estufa por tonelada de cimento produzido, assim como a de outros poluentes locais. O uso de adições ao cimento ajuda então a resolver os problemas de destinação de resíduos de outras indústrias, diminui o uso de minerais como o calcário e preserva recursos energéticos, entre outras vantagens, contribuindo de forma importante para uma maior sustentabilidade ambiental do setor. Nesse estudo verificou-se que os principais avanços tecnológicos vividos nos últimos anos pelo processo produtivo têm se concentrado nas áreas de controle de processo e de automação industrial, buscando a redução do consumo de combustíveis e de energia elétrica, além de melhorias ambientais. Como regra geral, as companhias de cimento gastam a maior parte do seu limitado orçamento para pesquisa e desenvolvimento em esforços de desenvolvimento de novos produtos. Entretanto, poucas companhias perseguem de maneira pró-ativa novos produtos que busquem especificamente a melhoria das condições ambientais ou sociais (Battelle, 2002). Segundo Bahr et al (2002), há também a necessidade da criação de bancos de dados padronizados e acessíveis aos atores interessados, com o fim de promover uma maior transparência dessa indústria. Segundo Maury de Carvalho (2008), para que a sustentabilidade do setor seja alcançada, não é necessário que sejam implementadas grandes modificações na sua estrutura institucional. A aproximação e diálogo entre as diversas instituições envolvidas pode ajudar a solucionar a maioria dos conflitos ambientais e sociais que são vistos hoje. Segundo o relatório da WBCSD (2009a), com um aumento da pressão pela diminuição dos impactos sociais e ambientais, o desenvolvimento de soluções inovadoras será necessário, o que pode ser alcançado com um maior direcionamento das atividades de P&D na busca por esse objetivo. A conclusão do estudo é que o reaproveitamento, a reutilização e a reciclagem são práticas aplicáveis ao processo produtivo do cimento, que é extremamente propício ao fechamento de ciclos e à integração com outros tipos de fábricas e processos produtivos, abrindo um grande leque de opções para diminuir os impactos sociais e ambientais deste importante setor. Agradecimentos Agradeço aos colegas Fábio Luís Fortes Gama, da Unifei, e, Ana Carolina Fiorini, e Patrícia Turano de Carvalho, do Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente (LIMA/COPPE/UFRJ), pelas valiosas contribuições nessa pesquisa. BIBLIOGRAFIA ABCP, 2006. Associação Brasileira de Cimento Portland. 70 anos: Uma história de Sucesso. São Paulo, SP. ABCP, 2008. Associação Brasileira de Cimento Portland.Press Kit, 2008. São Paulo, SP. ABDUL-WAHA, S. A., 2006. Impact of fugitive dust emissions from cement plants on nearby communities. Ecological Modelling 195 (2006) 338–348. AUBERT, J.E., HUSSON, B., SARRAMONE, N., 2007. 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