UMA FÁBRICA DE ÁRVORES Amado de Oliveira Filho Visitei a fazenda Triângulo - Guaporé S/A, no município de Pontes e Lacerda que pode ser considerada uma fábrica de árvores. No entanto, é de domínio público que o Brasil já foi o maior produtor de borracha natural, a Hevea brasiliensis. Hoje o Brasil poderia ser um grande exportador de borracha natural, no entanto, é um grande importador, já que, produz em torno de 110 mil toneladas e consome aproximadamente 310 mil toneladas/ano. Várias iniciativas foram implementadas para recuperar a heveicultura no Brasil. Em 1927 Henry Ford fundava a Fordlândia no Estado do Pará e planejava plantar 70 milhões de mudas numa área de 1 milhão de hectares. Não deu certo, surgiu uma doença conhecida como “Mal das folhas” causado pelo fungo micrfocyclus ulei, que dizimou toda a iniciativa de Henry Ford. Outra iniciativa foi a criação do Instituto Agronômico do Norte (IAN) também no Pará para buscar materiais geneticamente resistentes ao fungo. Já em Mato Grosso em 1951 e depois, seguiram os programas conhecidos como PROBOR I, II e III. Todos eles foram importantes para o Brasil, no entanto de concreto, contribuíram para a disseminação dos fungos do mal das folhas, sendo que hoje já são conhecidas 40 raças diferentes. O Governo Federal aceitou sua derrota na atividade e saiu de cena em 1989 e extinguindo todos os órgãos federais que cuidavam da borracha natural, como Sudhevea que passou a ser do IBAMA e o Conselho Nacional da Borracha que teve suas atribuições passadas à cargo do Conselho Nacional do Meio Ambiente. Como hoje, pensava o Governo Federal à época, “se não produzir eu importo”. Com isto a grande produção de borracha natural migra para o Estado de São Paulo que produz mais de 54% da borracha brasileira. Porém, com determinação o Grupo empresarial Ovídio de Brito vem pesquisando a 25 anos uma alternativa para se produzir borracha natural em Mato Grosso. Conseguiu! Trata-se do que chamam de Tri-composto, ou seja, uma planta composta de 3 (três) partes. A Raiz da planta é de hevea brasilienses de clones variados multiplicado por sementes, o caule, é constituído por clones asiáticos de hevea brasilienses selecionados e de alta produção por meio de enxerto e, a copa é composta por clones de hevea pauciflora, resistente a doença e praga. Construíram uma árvore, muito estudo, muitos esforços e ainda muitos recursos financeiros investidos, porém, os resultados são visíveis mesmos aos leigos que visitam os 3.300 hectares de heveicultura consorciadas com cacau e café com viabilidade financeira comprovada. Mais que isso, a importância ambiental é extremamente positiva, já que além de produzir borracha natural, a fazenda seqüestra 593 t de CO2 (gás carbônico) por hectare durante 35 anos ininterruptos e evita a emissão pela substituição da borracha sintética derivada de petróleo, fixa o homem no campo e gera renda aos seus trabalhadores. Os números impressionam. São 400 trabalhadores, portanto, mais de 1.000 pessoas na fazenda, distribuídas em 6 vilas, num total de 360 casas com excelentes condições de habitabilidade. Os visitantes percebem o orgulho dos gerentes ao citar estes números. É um projeto privado que merece toda a atenção do Governo Estadual e do Governo Federal para viabilizar a expansão da borracha natural no Estado de Mato Grosso. São Paulo está na frente, a Lei nº. 12.927/08 permite a recomposição da Reserva Legal com seringueira. No Estado de Mato Grosso isto ainda não é possível, porém, é hora do Ministério do Meio Ambiente acordar para as atividades de reflorestamento com espécies que permitam tanto a recuperação ambiental como a geração de emprego e renda. Afinal, a seringueira produzida na Fazenda Triângulo pode florestar grandes áreas degradadas no Estado de Mato Grosso, e ainda, nada mais é que uma árvore amazônica melhorada. Amado de Oliveira Filho é economista, especialista em mercados de commodities agropecuárias e direito ambiental e escreve excepcionalmente hoje neste espaço. [email protected]