i INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FUNORTE / SOEBRÁS ÉDNA PEREIRA SOARES EXTRAÇÃO DE INCISIVO INFERIOR NO TRATAMENTO ORTODÔNTICO Lages, 2011 ii ÉDNA PEREIRA SOARES EXTRAÇÃO DE INCISIVO INFERIOR NO TRATAMENTO ORTODÔNTICO Monografia apresentada ao Programa de Especialização em Ortodontia do ICS – FUNORTE/SOEBRÁS NÚCLEO Lages, como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista. ORIENTADOR: Gisela Crippa Furtado Lages, 2011 iii DEDICATÓRIA “A paixão torna-se uma força quando encontra saída no trabalho dos nossos braços, na perícia da nossa mão ou na atividade criadora do nosso espírito.”George Eliot iv AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, grande Arquiteto do Universo, meu imutável orientador por guiar meus caminhos em todos os trabalhos que realizo. Aos professores e colegas que me acompanharam nesse percurso pelos quais tenho grande admiração, em especial, agradeço imensamente ao Dr. Álvaro e a Dra. Gisela pelo carinho e compreensão, pois contribuíram muito pela minha formação, a amizade de vocês é especial para mim... v SOARES, E.P. Extração de incisivo inferior no tratamento ortodôntico – Revisão de Literatura 2011, 31p [Monografia de Especialização]. Instituto de Ciências Da Saúde - Funorte/Soebras; Lages, 2011. RESUMO A extração de incisivos inferiores pode ser considerada como opção de tratamento em má oclusão Classe I com apinhamento inferior, principalmente quando é observada desproporção dentária entre a arcada superior e inferior, o que pode ser demonstrado através da análise de Bolton. Em casos bem selecionados a extração de incisivos inferiores é uma alternativa eficaz associada ao tratamento ortodôntico na obtenção de uma adequada harmonização do equilíbrio dentário e estética facial. Entretanto, para sua correta indicação o ortodontista precisa conhecer as variáveis que envolvem este tipo de terapia para não correr o risco de provocar algumas conseqüências indesejáveis e efeitos colaterais. Palavras chave: Apinhamento, Extração de Incisivo inferior, Tratamento Ortodôntico vi SOARES, E. P. lower incisor extraction in orthodontic treatment - Literature Review 2011, 31p [Specialization Monograph]. Institute of Health Sciences - Funorte / Soebras; Lages, 2011. ABSTRACT The extraction of lower incisors can be considered as a treatment option in Class I malocclusion with mandibular crowding, especially when dental discrepancy is observed between the upper and lower, which can be demonstrated through the analysis of Bolton. In carefully selected cases, the extraction of lower incisors is associated with an effective alternative to orthodontic treatment in obtaining a proper balance matching dental and facial aesthetics. However, the correct indication the orthodontist needs to know the variables that surround this type of therapy to avoid the risk of causing some undesirable consequences and side effects. Key- words: Crowding, lower incisor extraction, Orthodontic Treatment. vii SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 8 2. PROPOSIÇÃO ..................................................................................................................... 11 3. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................ 12 3.1. APINHAMENTO ÂNTERO INFERIOR ......................................................................... 12 3.1.1 Relações de tamanho dos grupos dentários: .............................................. 12 3.1.2 Discrepância dento alveolar ............................................................................... 13 3.1.3 Atresia do arco ........................................................................................................ 14 3.2. ESTABILIDADE DA CORREÇÃO DO APINHAMENTO ANTERIOR ..................... 15 3.3. EXTRAÇÃO DO INCISIVO INFERIOR ......................................................................... 16 3.3.1 Indicações ................................................................................................................. 16 3.3.2 Contra-indicações .................................................................................................. 19 3.3.3 Setup .......................................................................................................................... 20 3.4. DESGASTES INTERPROXIMAIS NA REGIÃO ÁNTERO-INFERIOR ...................... 21 3.5. EXPANSÃO DO ARCO X EXTRAÇÃO NO TRATAMENTO DA MÁ OCLUSÃO ... 22 4.DISCUSSÃO ......................................................................................................................... 24 5.CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 28 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 29 8 1. INTRODUÇÃO A evolução da Ortodontia por meio de pesquisas científicas e observações clínicas, possibilitaram compreender que para atingir a oclusão normal, muitas vezes é necessária a remoção de dentes, sejam eles pré-molares - os mais comumente indicados - ou então outros dentes. Diversas opções de tratamento têm sido sugeridas para a resolução de casos com apinhamento ântero inferior, tais como: movimento distal de dentes posteriores, expansão da arcada, projeção de incisivos, desgaste interproximal de dentes, extração de pré-molares e extração de incisivos. Todavia, é necessário planejamento cuidadoso de cada caso, avaliando, inclusive, o potencial de recidiva para a opção escolhida. A indicação da extração de dentes saudáveis como coadjuvante no tratamento ortodôntico já data de alguns anos, entretanto, a escolha do dente a ser extraído depende de algumas condições clínicas, como: discrepância do arco dentário, desproporção entre dentes superiores e inferiores e facial. A decisão por uma conduta ou outra deve estar baseada em alguns aspectos: Discrepância de modelo, discrepância cefalométrica, curva de Spee, perfil da face, relação sagital das bases ósseas e padrão facial. Por outro lado, o tratamento sem extrações pode promover a falta de selamento labial, recessões gengivais e maior tendência à recidiva. Assim, as remoções de dentes tornaram-se comuns nos tratamentos ortodônticos e os primeiros pré-molares eram quase sempre os selecionados, devido à sua proximidade com os incisivos, permitindo a correção e a retração desses dentes. Se, por um lado, as extrações vieram facilitar a mecânica ortodôntica; por outro lado, elas abriram um leque de opções de tratamento e, para que o melhor planejamento seja estabelecido e praticado, é necessário um diagnóstico completo e bem executado. Além de radiografias periapicais, panorâmica, oclusal, 9 telerradiografia e fotografias de modelos é imprescindível a realização do setup para o diagnóstico. A exodontia de um incisivo inferior torna-se uma alternativa de tratamento para más oclusões que não se enquadram nas formas convencionais de extração, uma vez que são mais estáveis a longo prazo, a extração de um incisivo inferior poderia ser uma opção terapêutica bastante eficaz em casos criteriosamente selecionados. 10 A extração de incisivos inferiores tem sido cada vez mais utilizada na Ortodontia contemporânea, fato este inconteste pelo crescente aumento de pacientes adultos no cotidiano da clínica. Os pacientes submetidos a tal procedimento encontram-se geralmente na dentadura permanente madura, onde a queixa estética é proporcional à ansiedade para o término do tratamento. 11 2. PROPOSIÇÃO A proposta deste trabalho foi realizar uma revisão na literatura sobre a opção ortodônticos. de se extrair incisivos inferiores em tratamentos 12 3. REVISÃO DE LITERATURA 3.1. APINHAMENTO ÂNTERO INFERIOR 3.1.1 Relações de tamanho dos grupos dentários: As discrepâncias individuais ou em grupos de dentes, podem estar associadas ao surgimento de alterações na oclusão. Portanto, para que os dentes superiores possam ocluir de forma correta e harmoniosa com os seus antagonistas inferiores, deve existir uma proporcionalidade adequada entre o tamanho dos mesmos. Essa proporcionalidade se dá pela somatória do maior diâmetro mésio distal dos dentes do arco inferior em relação aos dentes do arco superior. O estudo dessa relação ajuda a avaliar a sobremordida e a sobressaliência, que serão obtidos ao final do tratamento, os efeitos das extrações projetadas na oclusão posterior e nas relações incisivas, e também ajuda na identificação dos desajustes oclusais produzidos pelas incompatibilidades de tamanho dentário interarcos. (PIZZOL et al.,2005) A não identificação da desproporção do tamanho dos dentes na fase de diagnóstico e planejamento invariavelmente levará o profissional menos atendo a ter dificuldades na finalização dos casos, principalmente no que se refere à relação correta de molares e caninos, respeitando-se a sobressaliência e a sobremordida ideal. (PIZZOL et al.,2005) Os problemas relacionados à anatomia dentária, determinando uma discrepância de tamanho dentário de Bolton, no excesso ou na redução de largura, ocorrem em um número considerável de casos de pacientes que procuram por tratamento ortodôntico. Essa situação pode influenciar os objetivos do tratamento, ocorrendo muitas vezes nas últimas fases do tratamento ortodôntico e impedindo a finalização do caso adequadamente. Na prática diária, essas situações são resolvidas, muitas vezes, desgastando-se o excesso de massa dentária ou refazendo o contorno dos 13 dentes proporcionalmente menores com material resinoso. (SOUZA et al.,2006) 3.1.2 Discrepância dento alveolar O interesse pelo tamanho dentário surgiu há mais de um século e a medida que as pesquisas foram se desenvolvendo,tornou-se cada vez mais evidente a importância da forma, das dimensões e das proporções dentárias para o bom engrenamento dos dentes em busca da oclusão ideal. Ao diagnosticar e planejar um tratamento, o ortodontista deve ter conhecimento da alta prevalência da discrepância de Bolton, a qual afeta mais o segmento anterior e mais comumente a mandíbula. Deve estar atento no sentido de não negligenciar uma acurada análise de modelos para não se discrepâncias surpreender que podem nos afetar estágios a finais finalização, com os assimetrias resultados e e a estabilidade da terapia empregada. (CECÍLIO; ABRÃO, 2004) Diante do diagnóstico de discrepância de tamanho dentário, vários recursos terapêuticos podem ser empregados, incluindo-se entre eles a extração de um incisivo inferior, desgastes interproximais, aumento de coroa com materiais estéticos, alterações de angulação e torques de incisivos e caninos, correções parciais de sobressaliência (alteração da curvatura anterior do arco) e aumento ou redução de sobremordida. O uso desses recursos procuram adequar o melhor possível a oclusão, baseados no bom senso e experiência de cada profissional. (CECÍLIO; ABRÃO, 2004) 14 3.1.3 Atresia do arco A literatura tem mostrado que tratamentos ortodônticos sem extração, em casos com grave apinhamento dentário ântero inferior, normalmente apresentam recidiva do mesmo. Provavelmente isto se deve à forte tendência de diminuição do comprimento do arco inferior e no aumento da largura inter-caninos. (PINTO et al., 2006) Em pacientes com grave apinhamento no arco inferior, a remoção de um ou mais incisivos inferiores pode ser tomada como alternativa lógica para aumentar a estabilidade da região ântero inferior sem a necessidade de contenção permanente. Em alguns casos, a extração de dois incisivos inferiores satisfaz os requisitos de manter a forma do arco sem alterar a largura inter-caninos. (PINTO et al., 2006) A extração dos incisivos inferiores no tratamento ortodôntico e em casos criteriosamente selecionados, onde é feito um planejamento cuidadoso, a discrepância oclusal resultante pode ser resolvida satisfatoriamente com uma mecânica relativamente simples, produzindo bons resultados. Além disso, extração do incisivo inferior, para resolver apinhamento ântero inferior, pode reduzir o tempo de tratamento. (PINTO et al., 2006) 15 3.2. ESTABILIDADE DA CORREÇÃO DO APINHAMENTO ANTERIOR Um dos maiores desafios à prática ortodôntica refere-se à estabilidade dos resultados do tratamento. A extração de um incisivo inferior tem menor probabilidade de recidiva de apinhamento póscontenção, uma vez que este, localiza-se mais próximo da área onde está o problema, necessitando menor movimento e esforço sobre as condições originais dos demais dentes. Entretanto, a extração de um incisivo inferior pode conceder maior estabilidade pós-contenção. (MATSUMOTO et al.,2010) A simples manutenção ou redução da distância intercaninos durante o tratamento não garante estabilidade total a longo prazo, mas contribui para um menor grau de recidiva quando comparado aos casos tratados com extrações de pré-molares. Recomenda-se ainda, como estratégia para minimizar recidivas, a remoção do incisivo mais ectópico (REZENDE, 2002; LIMA et al.,2005) Tratamentos ortodônticos sem extração, em casos com grave apinhamento dentário ântero inferior, normalmente apresentam recidiva do mesmo. Provavelmente isto se deve à forte tendência de diminuição do comprimento do arco inferior e no aumento da largura inter-caninos. Em pacientes com grave apinhamento no arco inferior, a remoção de um ou mais incisivos inferiores pode ser tomada como alternativa lógica para aumentar a estabilidade da região ântero inferior sem a necessidade de contenção permanente. Em alguns casos, a extração de dois incisivos inferiores satisfaz os requisitos de manter a forma do arco sem alterar a largura inter-caninos. (PINTO et al.,2006) 16 3.3. EXTRAÇÃO DO INCISIVO INFERIOR 3.3.1 Indicações: A extração de um incisivo inferior em casos bem selecionados e com correta indicação pode ser considerada como rápida e excelente opção terapêutica. (MATSUMOTO et al., 2010; NAZARETH., 2010) Más oclusões de Classe I de Angle com severa discrepância de volume dentário anterior (maior que 4,5mm), devido à agenesia de incisivos superiores, ou deficiência no diâmetro mesio distal dos incisivos superiores (estreitos) ou, inversamente, excesso no diâmetro mesio distal dos incisivos inferiores. Más oclusões dentárias de Classe I com dentição superior normal, adequada intercuspidação posterior e apinhamento ântero inferior, com falta de espaço para aproximadamente um incisivo inferior. (LIMA et al., 2006; BAYRAM & OZER, 2007; JUNIOR et al., 2011) Más oclusões dentárias de Classe I com mordida cruzada anterior devido ao apinhamento e protrusão dos incisivos inferiores, intercuspidação posterior apropriada, estética facial aceitável e ausência de discrepância osseodentária na arcada superior. (LIMA et al., 2006; BAYRAM & OZER, 2007; JUNIOR et al., 2011) Casos com fissura labiopalatina, onde, após a cirurgia de mandíbula, não foi possível estabelecer sobremordida e sobressaliência adequadas, tornando-se necessária a exodontia de um incisivo inferior para favorecer a estabilidade do resultado cirúrgico. (LIMA et al., 2006; BAYRAM & OZER, 2007; JUNIOR et al., 2011) Casos em que se deseja evitar aumento da largura intercaninos em determinadas más oclusões. Más oclusões com tendência à Classe III. (LIMA et al., 2006; BAYRAM & OZER, 2007; JUNIOR et al., 2011) Como alternativa não cirúrgica em tratamentos de Classe III. Como compromisso na solução de tratamento em adulto ou em situações de recidiva. Pacientes adultos com má oclusão de Classe III suave a 17 moderada, com apinhamento relativamente pequeno e forma não triangular dos incisivos. (MATSUMOTO et al., 2010; NAZARETH., 2010) Más oclusões de Classe III moderadas, com mordida cruzada anterior ou relação topo-a-topo dos incisivos, com tendência à mordida aberta anterior. (MATSUMOTO et al., 2010; NAZARETH., 2010) Má oclusão esquelética e dentária de Classe II, 1ª divisão com protrusão da maxila e protrusão ou apinhamento dos incisivos inferiores. Normalmente, a extração de um incisivo inferior deve ser associada às extrações de pré-molares superiores, mantendo a relação molar de Classe II, mas estabelecendo chave de oclusão de caninos. (MATSUMOTO et al., 2010; NAZARETH., 2010) Má oclusão com incisivo inferior mal formado ou comprometido periodontalmente, cujo benefício de mantê-lo é praticamente nulo, devido à estabilidade da dentição como um todo. É importante salientar que a principal indicação para extrair um incisivo inferior é a presença de discrepância de volume dentário igual ou superior a 4,5mm, devido ao excesso ântero inferior ou deficiência ântero superior. (MATSUMOTO et al., 2010; NAZARETH., 2010) A melhor indicação para essa abordagem constitui-se na má oclusão de Classe I, com apinhamento ântero inferior que se aproxime das dimensões de um incisivo inferior, nenhum apinhamento no arco superior, perfil dos tecidos moles aceitáveis e intercuspidação posterior. (LIMA et al., 2006; BAYRAM & OZER, 2007; JUNIOR et al., 2011) Os requisitos necessários para se indicar a terapia com extração de um incisivo são: relação molar de Classe I, apinhamento inferior moderado, apinhamento superior leve ou inexistente, perfil mole equilibrado, overjet e overbite mínimos ou moderados. Outra indicação seria casos de Classe II leves, onde a discrepância de modelos seja menor que o tamanho do incisivo, valendo-se do espaço remanescente para correção da chave de canino. (LIMA et al., 2006; BAYRAM & OZER, 2007; JUNIOR et al., 2011) 18 Esta é uma opção terapêutica para pacientes adultos Classe III leve a moderada com overjet e overbite reduzidos. Anomalia de número dos dentes anteriores, alterações de tamanho dentário e incisivos ectópicos também são citados como indicações para essa mecânica. Ainda, os casos em que esses dentes sofreram traumas ou apresentam cáries severas. (LIMA et al., 2006; BAYRAM & OZER, 2007; JUNIOR et al., 2011) Dentre as indicações para a extração de incisivos inferiores estariam o apinhamento extremo e/ou protrusão, particularmente quando acompanhado da perda de tecido gengival ou perda da tábua óssea vestibular na região das raízes dos incisivos inferiores. As indicações para a extração de incisivo inferior resumem-se a anomalias de número dos dentes anteriores; anomalias de tamanho dos dentes (possível discrepância de Bolton); erupção ectópica de incisivos; má oclusão tipo Classe III moderada e perímetro do arco superior deficiente em relação ao inferior, onde o desgaste interproximal inferior não é suficiente. (TORRE & RAMOS, 2007) Em determinados casos onde existe perda do incisivo central ou lateral superiores permanentes, indica-se a extração do incisivo inferior permanente, quando ocorre a perda do incisivo lateral superior, o espaço pode ser ocupado pelo canino, que te a largura mesio distal maior que os a dos incisivos permanentes, devendo assim ser esteticamente corrigido.Quando houver perda, má formação ou patologia envolvendo incisivos inferiores permanentes indica-se o tratamento ortodôntico associado à extração do incisivo inferior permanente, cabendo ao ortodontista decidir se conserva o espaço para uma prótese ou se fecha o espaço,sempre avaliando a possibilidade de se acentuar o trespasse dentário anterior vertival. (JUNIOR et al., 2011) 19 3.3.2 Contra-indicações Apesar de muitos resultados favoráveis, o tratamento ortodôntico com extração de incisivo inferior ainda não é bem aceito. Dentre as situações mais encontradas e relatadas na literatura foram aquelas em casos com: 1) Overjet e overbite aumentados, quando o setup de diagnóstico demonstrar que um excessivo trespasse vertical (overbite) pode ser criado, não sendo possível corrigí-lo através de movimentação dentária e/ou redução de esmalte mesio distal dos dentes ântero superiores. Más oclusões com relação de Classe I de canino que requerem extrações de primeiros pré-molares superiores, discrepância de Bolton com incisivos inferiores pequenos ou superiores grandes e pacientes com overbite profundo e padrão de crescimento horizontal. (LIMA et al., 2005; PINTO et al., 2006; JUNIOR et al., 2011) 2) Pacientes com predisposição a doenças periodontais ou Freio labial inferior com inserção inadequada, pois a extração de um incisivo inferior permanente poderá causar recessão gengival no local da extração. (JUNIOR et al., 2011) 3) Oclusão insatisfatória, recorrência de apinhamento entre os incisivos remanescentes e perda de estética da papila gengival interdentária na região da extração. (JUNIOR et al., 2011) 4) Casos com apinhamento bimaxilar sem discrepância no tamanho dentário na região anterior, apinhamento dentário moderado, até 4 mm não está indicado esse procedimento, apinhamento dentário nas arcadas superior e inferior com discrepância de tamanho dentário na região dos incisivos inferiores permanentes. (PINTO et al., 2006; JUNIOR et al., 2011). 5) A anatomia dos incisivos, dentes normalmente uniradiculares, favorece, no entanto a fragilidade óssea na região anterior da sínfise mandibular é muitas vezes negligenciada no procedimento cirúrgico. Uma 20 fratura da tábua óssea alveolar pode acarretar prejuízos para a posterior movimentação dentária. O ortodontista depende sobremaneira de um procedimento cirúrgico bem executado, possibilitando a movimentação ortodôntica imediatamente após a realização da extração. (MAZZOTTINI et al., 2005) 6) Possibilidade de extrações de pré molares superiores quando os caninos estiverem em boa relação, para que a relação canino seja mantida ao final da retração ântero superior. (JUNIOR et al., 2011) 3.3.3 Setup O setup é uma montagem de diagnóstico que permite visualizar o resultado do tratamento ortodôntico, em modelos de estudo, para reconhecer a melhor opção de tratamento. É possível simular diferentes opções de tratamento, como, por exemplo, sem extrações, com stripping, com aumento das inclinações axiais, com extrações de pré-molares ou com associações de procedimentos. (MATSUMOTO et al.,2010) É necessário que, para cada caso onde pretenda-se solicitar a extração de um incisivo como parte da terapia ortodôntica, seja realizado um criterioso setup de diagnóstico, como um importante auxiliar na confirmação do resultado esperado. Quando corretamente confeccionado, o setup auxilia na tomada de decisões quanto às exodontias, aos desgastes interproximais, ao grau de ancoragem necessária, entre outros, indicando a melhor opção na decisão do planejamento de um tratamento, uma vez que permite a avaliação das limitações do caso antes de ser tratado. O setup, juntamente com uma boa radiografia interproximal, orientará o ortodontista com relação à quantidade de esmalte mesio distal que deverá ser removida dos incisivos superiores, caso necessário. (PINTO et al., 2006; JUNIOR et al.,2011). 21 A decisão de extração deverá ser apoiada por registros iniciais, cera de diagnóstico setup, análise de Bolton, quantidade de esmalte interproximal, experiência e clínica. (BAYRAM & OZER, 2007) 3.4. DESGASTES INTERPROXIMAIS NA REGIÃO ÁNTERO-INFERIOR O procedimento de desgaste interproximal de dentes anteriores para correção de apinhamento está se tornando cada vez mais conhecido. Entretanto, é extremamente importante entender que esta abordagem não está indicada para a correção de casos de apinhamento severo, mas um suplemento para eliminação de apinhamentos suaves e moderados, proporcionando um resultado estético mais favorável. Tradicionalmente, o desgaste de esmalte nas regiões interproximais foi idealizado para o tratamento de casos com discrepâncias entre as larguras dos dentes superiores e inferiores. Radiograficamente, existe esmalte suficiente para permitir o desgaste dentário sem comprometimento da face proximal. Aproximadamente 20% dos pacientes apresentam discrepância de tamanho dentário, decorrente de um excesso de massa dentaria no arco inferior, a opção pelo desgaste dentário é a alternativa mais indicada para casos limítrofes de extração. (CUOGHI et al., 2007) O desgaste interproximal é indicado para pacientes com presença de discrepância de modelo negativa (suave ou moderada), ou seja, nos casos onde existe a necessidade de espaço em regiões localizadas e a expansão ou a extração não estão indicadas. Este procedimento pode ser realizado de diversas maneiras e com a utilização de diversos materiais, como a lixa para amálgama, a broca de alta rotação diamantada, a broca de tungstênio multilaminada e os discos de lixa mono ou dupla face, tanto na arcada dentária superior como na inferior e na região anterior e/ou posterior. Independente do material escolhido deve-se estar atento para os limites do desgaste, que devem estar por volta de 0,5mm para cada face dos dentes anteriores e 0,8mm para os dentes posteriores. Outros 22 pontos importantes são os procedimentos de acabamento e polimento dental após a finalização dos desgastes. (MONDELLI et al., 2002) 3.5. EXPANSÃO DO ARCO X EXTRAÇÃO NO TRATAMENTO DA MÁ OCLUSÃO A atresia maxilar e mordida cruzada posterior são alterações frequentemente encontradas, a atividade funcional incorreta das estruturas do sistema estomatognático proporcionará a remodelação do tecido ósseo. A deglutição atípica, respiração bucal e sucção do polegar são fatores etiológicos da má oclusão. O aparelho expansor proposto por Haas, em 1961, utilizou um parafuso para separar as duas partes da maxila. O aparelho era composto por bandas cimentadas nos pré-molares e molares superiores, unidas por barras de contenção vestibular e lingual e uma placa acrílica contendo o parafuso expansor. A estabilidade dos resultados obtidos na expansão depende da utilização de um aparelho de ancoragem máxima, com blocos de acrílico. A abertura do parafuso expansor deve ser de 12 a 16mm. A contenção nos primeiros três meses deve ser feita com o próprio aparelho, para que ocorra a ossificação completa da sutura palatina. Posteriormente, faz-se uma contenção com placa acrílica por um ano. A sobrecorreção das deficiências transversais da maxila é fundamental na obtenção de resultados estáveis. (MARTINS et al., 2007) A recidiva das distâncias intermolares e intercaninos superiores e inferiores após a expansão rápida da maxila parece não ter correlação com a quantidade de expansão durante a fase ativa. Os pacientes submetidos à expansão rápida apresentam um ligeiro decréscimo destas distâncias, mesmo com o uso de contenção, enquanto pacientes não submetidos à expansão não apresentam diminuição destas grandezas transversais. Outro método para expansão rápida da maxila é o uso do 23 aparelho Hyrax. Este expansor difere do aparelho de Haas por não possuir resina acrílica na região do palato. Portanto, apresenta algumas vantagens como, por exemplo, a maior facilidade de higienização no palato. A menor probabilidade do aparecimento de lesões, por não estar em contato com a mucosa, também constitui uma vantagem deste aparelho. A expansão rápida da maxila também proporciona um aumento no perímetro do arco superior, favorecendo o alinhamento dentário. (MARTINS et al., 2007) Os efeitos indesejáveis mais comumente relatados na literatura são as inclinações vestibulares dos dentes posteriores, que normalmente são corrigidas após o término do tratamento. A estabilidade da correção está relacionada à alteração no formato dos arcos dentários, sendo que o maior ganho em largura ocorre na região dos pré-molares. A expansão no arco dentário superior pode minimizar as inclinações dentárias nos casos com apinhamento tratados sem extrações, tanto em pacientes que apresentam mordida cruzada posterior, quanto nos casos de maxila atrésica. A expansão rápida apresenta estabilidade decrescente em direção à região anterior do arco dentário, analogamente oposto ao formato da abertura da sutura palatina. Apesar da recidiva em 20% dos casos, a expansão rápida da maxila mostra-se mais eficiente que a expansão lenta. (MARTINS et al., 2007) 24 4.DISCUSSÃO De acordo com Matsumoto et al., (2010) se por um lado, as extrações vieram a facilitar a mecânica ortodôntica; por outro lado, elas abriram um leque de opções de tratamento e, para que o melhor planejamento seja estabelecido e praticado, é necessário um diagnóstico completo e bem executado. Martins et al. (2007) o tratamento sem extrações apresentam a vantagem de uma mecânica mais simples e conservadora. Já Pinto et al. (2006) dizem que tratamentos ortodônticos sem extração, em casos com grave apinhamento dentário antero-inferior, normalmente apresentam recidiva do mesmo. 25 A indicação de extração de dentes saudáveis no tratamento ortodôntico depende de algumas condições clinicas, por outro lado, o tratamento sem extrações pode promover a falta de selamento labial, recessões gengivais e maior tendência à recidiva. (LIMA et al.,2005) Lima et al. (2006); Bayram & Ozer (2007); Torre, Ramos (2007); Junior et al. (2011) a melhor indicação para extração de incisivo inferior constitui-se na má oclusão de Classe I, com apinhamento ântero inferior que se aproxime das dimensões de um incisivo inferior, nenhum apinhamento no arco superior, perfil dos tecidos moles aceitáveis e intercuspidação posterior. Lima et al. (2005) Pinto et al. (2006; Junior et al. (2011) contra indicam a extração de incisivos inferiores em pacientes com overjet aumentado, overbite profundo, padrão de crescimento horizontal, más oclusões com relação de Classe I de canino que requerem extrações de primeiros pré-molares superiores, discrepância de Bolton com incisivos inferiores pequenos ou superiores grandes, não sendo possível corrigí-lo através de movimentação dentária e/ou redução de esmalte mesio distal dos dentes ântero superiores. Matsumoto et al. (2010) e Nazareth (2010) relataram que é indicado a extração de incisivos inferior em más oclusões com tendência à Classe III ou como alternativa não cirúrgica. Torre & Ramos (2007) concordam com essa opção terapêutica. Segundo Adriano, et al. (2002) e Cuoghi, et al. (2007) o desgaste interproximal não está indicado para a correção de casos de apinhamento severo, e sim indicado para pacientes com presença de apinhamentos suaves e moderados. De acordo com Matsumoto et al. (2010) através do setup é possível simular diferentes opções de tratamento, como, por exemplo, tratamentos sem extrações, com stripping, com aumento das inclinações axiais, com extrações de pré-molares ou com associações de procedimentos. Para Pinto et al. (2006); Junior et al. (2011) o setup, juntamente com uma boa 26 radiografia interproximal, orientará o ortodontista com relação à quantidade de esmalte mesio distal que deverá ser removida dos incisivos superiores, caso necessário. Bayram & Ozer (2007) sugeriram que a decisão de extração deverá ser apoiada por registros iniciais, cera de diagnóstico setup, análise de Bolton, quantidade de esmalte interproximal, experiência e clínica. Matsumoto et al. (2010) dizem que a extração de um incisivo inferior tem menor probabilidade de recidiva de apinhamento póscontenção. Pinto et al. (2006) concordam que tratamentos ortodônticos sem extração, em casos com grave apinhamento dentário ântero-inferior, normalmente apresentam recidiva do mesmo. Provavelmente isto se deve à forte tendência de diminuição do comprimento do arco inferior e no aumento da largura inter caninos. A simples manutenção ou redução da distância inter caninos durante o tratamento não garante estabilidade total a longo prazo, mas contribui para um menor grau de recidiva quando comparado aos casos tratados com extrações de pré-molares. (REZENDE, 2002; LIMA et al.,2005) Pizzol et al.,2005, a não identificação da desproporção do tamanho dos dentes na fase de diagnóstico e planejamento, levará o profissional menos atendo a ter dificuldades na finalização dos casos principalmente no que se refere à relação correta de molares e caninos, respeitando-se a sobressaliência e a sobremordida ideal. Segundo Souza et al. (2006) a situação pode influenciar os objetivos do tratamento, ocorrendo, muitas vezes, nas últimas fases do tratamento ortodôntico, e impedindo a finalização do caso adequadamente. 27 28 5.CONCLUSÃO Com base nos aspectos avaliados na literatura podemos concluir que a extração de um ou mais incisivos pode ter indicações concretas na ortodontia utilizando-se aparelhos fixos. Embora tenha uma indicação bastante limitada, a extração de um incisivo inferior é mais um recurso que o profissional deve considerar no plano de tratamento, podendo ser uma abordagem bastante eficaz em situações criteriosamente selecionadas. 29 REFERÊNCIAS BAYRAM, M.; OZER, M. Extração de incisivos inferiores, tratamento de uma oclusão de Classe I com Discrepância de Bolton: Relato de caso. Eur J Dent, Turquia, v.1, n.1, p.54-59, jan. 2007. CECILIO, E.; ABRÃO, J. Estudo comparativo das características de tamanho e proporções estéticas dos dentes em relação ao índice de Bolton. 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