INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR E DESENVOLVIMENTO REGIONAL: UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCA. Katia Daniele Dutra Brito1 Maria da Conceição Parente Jardim2 RESUMO Entender o fenômeno do desenvolvimento regional requer uma leitura das varias áreas que o constitui, entendam que ele acontece a partir da sinergia entre a política, cultura, economia e educação de uma região. Acreditando que a educação é o alicerce para que ele aconteça de maneira sustentável e não apenas como crescimento é que o artigo objetivou identificar a relação existente entre as Instituições de Ensino Superior (IES) e o desenvolvimento regional; analisar como uma sociedade cresce quando investe em educação superior; verificar os benefícios qualitativos que a Universidade produz para sociedade; e apresentar a relevante influência da URCA no desenvolvimento do Cariri. A pesquisa foi realizada por meio de um estudo bibliográfico e documental de natureza exploratória descritiva, desenvolvida na Universidade Regional do Cariri. E conseguiu demonstrar que a instituição é uma promotora do desenvolvimento por meio de sua ação no tripé: ensino, pesquisa e extensão. Palavras-chave: Instituições de Ensino Superior; Desenvolvimento Regional e URCA. 1 INTRODUÇÃO A relação existente entre o nível de formação dos indivíduos de uma sociedade e o grau de desenvolvimento desta é diretamente proporcional e possui natureza intrínseca. Acreditar que uma região é desenvolvida considerando apenas o aspecto econômico significa ter visão míope da realidade. O processo de crescimento de uma região se dá por meio da sinergia existente de diversos fatores, dentre eles se destaca: a política, a cultura, a economia e a educação. Cada um desses fatores exerce influência na construção desse conceito. A situação econômica pode abrir ou fechar portas aos novos negócios e investimentos. O sistema político pode viabilizar as políticas públicas, para que estas sejam eficazes e favoreça o desenvolvimento social. A cultura de um povo fortalece sua identidade e a possibilidade de comunicação da mesma aos outros grupos sociais. E certamente a junção dos efeitos gerados por esses fatores desembocam num processo de amadurecimento e desenvolvimento. 1 Especialista em Gestão Estratégica do Capital Humano pela Faculdade Leão Sampaio: [email protected]; Professora do Curso de Administração de Faculdade Leão Sampaio. 2 Orientadora, Professora Doutora do Departamento de Educação da Universidade Regional do Cariri: [email protected] 749 Mas a base de estruturação dos referidos aspectos se encontra na educação. Nenhuma ação se concretiza de forma consciente, sem a presença de uma instrução de qualidade. Acredita-se que sem educação não é possível crescer e desenvolver, pois é esta que faz o homem construir o senso crítico da sociedade, problematizar a realidade e buscar soluções viáveis que garantam o bem estar social. Somente quando houver educação de qualidade poderá se visualizar um desenvolvimento regional sustentável, pois a formação do individuo e sua capacitação técnica/intelectual direciona sua atuação na sociedade e seu grau de comprometimento com a mesma. Daí o porquê desse trabalho objetivar identificar a relação existente entre as Instituições de Ensino Superior (IES) e o desenvolvimento regional, analisando como uma sociedade cresce quando investe em educação superior, verificando os benefícios qualitativos que a Universidade produz para sociedade e apresentando a relevante influência da URCA no desenvolvimento do Cariri. A pesquisa foi realizada por um estudo bibliográfico e documental de natureza exploratória descritiva, desenvolvida na Universidade Regional do Cariri. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Concepções de Desenvolvimento Regional O conceito de desenvolvimento tem recebido diferentes significados ao longo das últimas décadas, e permite compreensão nas mais variadas áreas de conhecimento. Para Saviani (2004) desenvolvimento “designa originalmente a relação do homem com a natureza em que ele nega envolvimento natural, transformando a natureza, extraindo o potencial nela envolvido, realizando as possibilidades que ela contém.” (p.76). Assim esse homem modifica o meio para satisfazer suas necessidades. Para esse estudo se detenha ao conceito empregado as ciências sociais, o qual entendimento inicial tem sua origem na Revolução Industrial, onde crescer está ligado à presença das fabricas, que eram vista como sinônimo de prosperidade, e traziam consigo a possibilidade de riqueza, por isso as cidades foram consideradas desenvolvidas e atraia tantas pessoas da zona rural. A segunda fase da Revolução Industrial, que fortalece agora o capitalismo financeiro também influência esse conceito, aqui ainda se acreditava que o desenvolvimento tinha relação direta com crescimento, assim sendo, entenda-se crescimento como o aumento de oportunidades num dado espaço ou território, e veja esse leque de oportunidades como maior 750 número de empresas, conseqüentemente de empregos, melhor qualidade de vida do ponto de vista econômico financeiro. Mas o que realmente significa desenvolver? Segundo Rios (2009) desenvolvimento é “crescimento, progresso, ampliação” (p.167) de fato é impossível desvincular-se dessa interpretação, devido à carga histórica que essa palavra trás em seu sentido. Percebe-se nessa leitura que desenvolvimento esta relacionado ao ato de produzir e desemboca no conceito de mercado, influenciando apenas a esfera econômica. Mas hoje desenvolver entrelaça muito mais e possui uma significação complexa e sofisticada, envolvendo outros aspectos, como política, cultura e educação. Assim não basta crescer é preciso ter qualidade, essa idéia quebra a concepção quantitativa do desenvolvimento e lhe dá uma visão qualitativa. É o que defende Nogueira (2009): Já chegamos a um ponto da discussão em que aprendemos a distinguir desenvolvimento de crescimento. Não faz muito sentido, hoje em dia, falar somente de crescimento, ainda que todo processo de desenvolvimento tenha, de modo inevitável, uma dimensão fortemente concentrada na expansão econômica. O conceito de desenvolvimento tem um componente “qualitativo” forte, com o que adquire outro estatuto. Ele é um fato muito mais abrangente e complexo, que envolve e exige uma idéia de sociedade, de comunidade política, de justiça social, de Estado e de economia. (p.47) É dentro desse contexto que se pretende trabalhar o tema, fazendo-se entender que desenvolvimento vai além de crescimento, é crescer com qualidade e responsabilidade sócioambiental. É nesse momento que a concepção de desenvolvimento regional sustentável se apresenta, ele sugere que a utilização dos recursos naturais para suprimento das nossas necessidades deva ser de maneira que não comprometa a capacidade das necessidades das gerações futuras também serem atendidas Esse entendimento deve ser voltado para a esfera regional, deixa-se de pensar num crescimento geral, para ver que a soma das partes é que forma o todo, então, é o desenvolvimento das regiões que faz com que um Estado se torne maior e melhor. Maior por que cresce, e melhor por que consegue trazer junto a esse crescimento a valorização da cultura regional, da dignidade humana e do meio ambiente. É esse desenvolvimento que se busca encontrar nas regiões onde se verifica uma forte presença das IES, embora se saiba que a conscientização, formação de senso crítico e atitudes proativas sejam necessárias para sua efetividade e que esse ator social se forma num período de longo prazo, acredita-se que essa seja a função social das instituições. 751 2.2 Educando para o Desenvolvimento Regional Antes de entrar propriamente dito no papel das instituições de ensino superior no desenvolvimento regional reflita-se sobre o real papel da educação em seu aspecto geral. Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) “A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.” (LEI 9.934/96, p.1). Dessa forma se perceba educar como um processo que vê o indivíduo global, pleno em suas relações e inter-relações. Por isso a compreensão do que seja educação pode assumir diferentes interpretações, dependendo do contexto sócio-político que o indivíduo esteja vivendo e de sua carga de experiência. Educação vai muito mais além do que apenas transferência de conhecimentos e de informações, transcende o conceito de ensino e se coloca diante de uma postura transformadora do indivíduo. Que consegue perceber o mundo a sua volta com um olhar crítico e transformador. ARANHA (1996): Educação é um conceito genérico, mais amplo, que supõe o processo de desenvolvimento integral do homem, isto é, de sua capacidade física, intelectual e moral, visando não só a formação de habilidades, mas também do caráter e da personalidade social. (p.51) Aqui Aranha fortalece a idéia construindo a imagem de uma educação ativa, onde a pessoa educada, não apenas é detentora de conhecimentos específicos, mas alguém que usa desse conhecimento para melhorar a si mesmo e a comunidade. Seria está então à principal finalidade da educação: melhorar a sociedade através das pessoas que nela vivem, porque somos os únicos seres capazes de modificar a realidade. Já dizia Freire (1996, p.77), apud, Magalhães (2001): Mulheres e homens, somos os únicos seres que, social e historicamente, nos tornamos capazes de aprender. Pôr isso somos os únicos em quem aprender é uma aventura criadora, algo, por isso mesmo, muito mais rico do que meramente repetir a lição dada. Aprender para nós é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à aventura do espírito (p.109) As pessoas agem de acordo com aquilo que acreditam, e acreditam naquilo que aprenderam. Educar é acima de tudo, ajudar a formar cidadãos, capazes de analisar criticamente a conjuntura social presente, a ponto de contribuir na construção de uma nova. 752 Essa pausa para pensar é proposital, e a partir dela olha-se para as IES de uma forma mais consciente e com maior criticidade. 2.3 Organização das Instituições de Ensino Superior – IES A educação superior acontece nas IES (Instituições de Ensino Superior). De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) “A educação superior será ministrada em instituições de ensino superior, públicas ou privadas, com variados graus de abrangência ou especialização.” (LEI 9.934/96, p.13). São nelas que os estudantes podem desenvolver suas habilidades e fortalecer suas competências. As Instituições de Ensino Superior hoje, ainda segundo a LBD, Lei 9.934/96 estão divididas em quatro modalidades: Universidade – tem autonomia didática, administrativa e financeira, desenvolve o ensino, a pesquisa e extensão; Centro Universitário – atua em uma ou mais áreas, tem autonomia para abrir e fechar cursos e vagas de graduação e ensino; Faculdades Integradas – reúne instituições de diferentes áreas do conhecimento, oferecem ensino, às vezes pesquisa e extensão; e Institutos ou Escolas Superiores – atuam em área especifica do conhecimento, podem facultativamente fazer pesquisa, e não tem autonomia para abrir cursos. Essa é a conjuntura legal que rege as IES, suas estruturas organizacionais e pedagógicas devem observar o cumprimento da lei, no entanto, é necessário ressaltar a importância de considerar o meio em que a instituição está inserida: a política, a cultura e a economia local. Com base nessa analise, suas estratégias de atuação devem respeitar esse cenário, vale lembrar, que respeitar aqui não significa conformar-se com o proposto, as IES existem para formar profissionais críticos, capazes de problematizar a vida social para renovála. Em fim, se quer dizer que toda instituição, independente de sua conjuntura, tem um papel social que precisa ser conhecido por todos e vivenciado no dia a dia das escolas superiores, através de sua prática de ensino, pesquisa e extensão. 2.4 A Universidade e o Desenvolvimento Regional A universidade tem papel fundamental no desenvolvimento de uma região, a sua presença e atuação diz muito sobre o que é e o que será de uma localidade. O trabalho das IES afeta diretamente a comunidade local e é afeta por esta, hoje nesse contexto de globalização da informação e na busca de um crescimento saudável e consistente das regiões a universidade se depara com novos desafios. A começar ela encontra-se em uma situação de 753 crise, onde a educação é desvalorizada pelo sistema e por seus agentes cotidianos (professores e alunos). Por esse motivo se fez necessário a analise anterior sobre o papel da educação. Esse cenário exige primeiramente que elas reformulem seus planos de ações, para que estes atendam as reais necessidades acadêmicas e os anseios populares. É difícil pensar elas como promotoras do desenvolvimento, sem que antes estejam organizadas internamente. Mas é fato, a universidade é a sociedade, porque faz a sociedade. E essa produz o desenvolvimento. Já diz Almeida (1980), apud Sabiá (1995, p.27). “O desenvolvimento é o envolvimento do homem com a natureza e a sociedade; neste ínterim é necessário frisar que as universidades possuem dois papeis básicos e fundamentais: a criação e reprodução”. O autor acima citado vem trazer a essência do papel social da universidade nesse contexto do desenvolvimento. Através de suas práticas de ensino, pesquisa e extensão, esta deve vivenciar a reprodução, com ações que resgate as manifestações da cultura, da religiosidade, valores e crendices de um povo. E aqui se reafirma não apenas reproduzir, mas registrar, comunicar e fazer alusões que fortaleça seu exercício. É o que defende Sabiá (1995): “O desenvolvimento é transformação, mas nunca descaracterização, perda de personalidade, abandono de valores válidos.” (p.27). E como casa da intelectualidade, produtora do saber e do pensar, as universidades também devem criar, trazendo respostas viáveis, caminhos novos e seguros para os problemas acadêmicos e regionais que venham a identificar. Dessa maneira seria um equivoco pensar o desenvolvimento e não considerar as universidades, elas são formadoras de consciência, de cidadãos, formadora de sociedade. Da mesma forma é errôneo as universidades pensarem sua atuação, seu crescimento e deixarem os apelos da comunidade local de lado. Ambas se completam e influenciam o macroambiente que estão inseridas. 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Foi desenvolvida na Universidade Regional do Cariri – URCA. A pesquisa levantada é caracterizada por um estudo bibliográfica e documental do tipo exploratória descritiva, ao qual se baseou em autores do assunto estudado, que segundo Lakatos e Marconi, (2001) “A finalidade da pesquisa bibliográfica é colocar o pesquisador em contato direto com tudo aquilo que foi escrito sobre determinado assunto”. (p. 44). E tem natureza qualitativa. 754 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Histórico da Universidade Regional do Cariri Foto: Universidade Regional Cariri- Campus Pimenta Fonte: Dados da Pesquisa A Diocese de Crato tinha fundamental importância na educação da região, que estava centrada no Seminário São José, e que atendia as demandas de elite. Foi ela quem promoveu e manteve a Faculdade de Filosofia, como Instituto de Ensino Superior do Cariri, o primeiro projeto que viria a tornar o sonho da universidade uma realidade futuramente, e que nasce dentro de um momento histórico e político do país que visa à descentralização do ensino superior, levando o mesmo as cidades do interior. Assim em 1959 é criada a Faculdade de Filosofia, na cidade de Crato, responsável pela formação dos quadros administrativos e da formação de professores das escolas de 20 grau, com cursos de Letras Neo-Latinas, Letras Anglo- Germânicas, História e Pedagogia. Na década de 80, houve uma reorientação das políticas educacionais de ensino superior, e as idéias de educação como promotora da melhoria da qualidade de vida foram sendo disseminadas. Fato que favoreceu a criação da universidade no cariri, mas que não foi o suficiente. 755 Brito (1995) “a política educacional do Estado, por si só, não seria capaz de possibilitar tal intento se do Cariri não emanassem forças sociais e culturais (atores sociais) que, reunidas, liberassem a luta pela construção da universidade” (p.62). Já Sabiá traz em seu trabalho a fala de um antigo funcionário da Faculdade de Filosofia: “O processo de consolidação da Universidade Regional do Cariri foi complexo e tem como ponto base o anseio popular, o apoio da Diocese e a coragem dos nossos governantes.” Concorda-se com os autores no que se refere a esse sentimento de identidade regional tão presente ate hoje na cultura pedagógica da URCA, e que fomenta suas atividades de pesquisa e extensão. Como resultado de tão grande empenho histórico: A Universidade Regional do Cariri foi criada pela Lei Estadual nₒ 11191/86, é uma Universidade Pública Estadual, tem autonomia didática, administrativa e financeira, desenvolve o ensino, a pesquisa e extensão. Sua estrutura física atual se compõe de sete campi e três unidades descentralizadas: Pimenta I, Pimenta II, São Miguel e São Francisco, em Crato; dois campi em Juazeiro do Norte: Pirajá e Crajubar, um campus em Santana do Cariri, onde se localiza o Museu de Paleontologia da URCA. 4.2 A URCA e o Desenvolvimento Regional A idéia de que a universidade trás consigo o desenvolvimento regional está tão presente na historia da URCA, quanto seu próprio nome o diz. Registra-se que a comunidade ainda na ânsia de sua chegada já manifestava suas aspirações acerca da mesma. Brito (1995) diz: As exigências da demanda social à URCA vão desde reivindicações por oferta de cursos para as classes mais carentes, incluindo o resgate do folclore regional, até o cumprimento de atividades de assistência social, a exemplo do amparo ao menor carente, criação de áreas de lazer, creches, hortas, postos de saúde, distribuição de medicamentos e alimentos etc. (p.73) De fato não se pode cobrar da população da época uma postura que afirme a idéia de universidade que temos hoje, o que se pretende com a fala da autora é fortalecer que toda IES tem seu papel social e a própria comunidade não deixa que ela esqueça isso. No caso da Universidade Regional do Cariri, essa premissa se consolida na sua razão de ser, perceba-se que ela é criada para atender a uma região e precisa quebrar o formato das universidades já existentes, para construir outro que atenda a sua identidade regional. 756 Isso acontece desde seu início, com a realização de seminários, titulado: “URCA, seu papel, seu espaço”: tecendo a vocação da universidade regional. (BRITO, 1995). Esse trabalho buscou na comunidade regional razões que norteasse as atividades da recém inaugura universidade, embora seus objetivos não tenham passado de um projeto, foi o primeiro passo. Em 1988 a Urca criou a Escola de Aplicação, oferecendo aulas de ensino fundamental à clientela de baixa renda, criou o programa de incentivo à pós-graduação do professores, as pesquisas foram voltadas aos problemas sociais. Brito diz que durante a elaboração de seu plano estratégico 1993/2002 (1995): “Já era consensual, na comunidade acadêmica, o caráter de regionalidade atribuído a URCA” (p.78). Percebe-se que o sentimento de cuidar do regional e contribuir para seu fortalecimento é algo presente desde sempre na história da universidade. Nesse mesmo plano, ainda segundo Brito (1995) a missão da URCA seria: “Contribuir significativamente para a transformação da realidade regional, através das atividades de ensino, pesquisa e extensão, como agente ativo do processo de desenvolvimento da Região do Cariri, em sintonia com as aspirações da sociedade caririense.” (p.81) Quando uma instituição registra uma missão, deve esta nortear os projetos e programas que venha a empreitar, mas tal esforço só será possível, se primeiro esta missão for de domínio publico, ou seja, todos os envolvidos tenham ciência do mesmo. E segundo, se esses agentes concordarem e se comprometerem com ela. É o caso da URCA que sendo fiel a sua natureza regional ate hoje produz conhecimento, ciência e desenvolvimento a partir de suas práticas pedagógicas. 4.3 URCA: ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO Pela própria natureza de universidade a URCA deve sistematizar suas atividades no tripé: ensino, pesquisa e extensão. Assim toda contribuição dada à comunidade caririense se concretizará a partir dessas práticas. 4.4 URCA e o Ensino O ensino é atividade mais comum e mais antiga, se resume a transmissão de idéias e conceitos. Sabiá (1995) já dizia “o ensino, função básica e primordial, reproduz os conhecimentos, competências, hábitos e valores que foram apropriados por uma pequena elite para atender ao seu modelo de desenvolvimento” (p.19) 757 Perceba-se que embora básico, não é menos importante, é no ensino que se apresenta ao aluno as contribuições dadas, a partir daí, sendo ele detentor de informações suficientes e necessárias possa questionar com segurança e comece a desenvolver sua criticidade em cima de fundamentos sólidos. Na universidade regional do cariri o ensino tem ultrapassado as fronteiras do Ceará, estendendo-se aos Estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Piauí, beneficiando 101 municípios. Conta com um corpo docente de 348 professores efetivos, 101 substitutos e 285 técnicos- administrativos. Dentre os professores 09 são pós- doutor, 70 doutores, 174 mestres, 84 especialistas e 11 graduados. Atualmente a URCA oferece 16 cursos de Graduação, no qual estão matriculados 9.173 alunos, um curso seqüencial: Gestão em Saúde Pública, com 172 alunos, 19 cursos de pós- graduação, com 1.028 alunos, um mestrado com 38 alunos, e um doutorado interinstitucional com 12 alunos. Ministra um ensino de qualidade é um dos objetivos da URCA. Resumam-se nos quadros seguintes: Quadro 01: Cursos de Graduação CURSOS DE GRADUAÇÂO CENTROS Física Centro de Ciências e Tecnologia Matemática Construção Civil Engenharia da Produção Educação Física Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Enfermagem Ciências Biológicas Química Biológica Letras Centro de Humanidades História Ciências Sociais Geociências (Geografia) Artes Visuais Centro de Artes Teatro Ciências Econômicas Centro de Estudos Sociais Aplicados Direito 758 Educação (Pedagogia) Centro de Educação Fonte: Dados da Pesquisa Quadro 02: Cursos de Pós- Graduação (Lato Sensu) CURSOS PÓS- GADUAÇÂO DEPARTAMENTO Administração Financeira Economia Adm. Hospitalar e Sistema de Saúde Enfermagem Biologia e Química Ciências Biológicas Controle, Avaliação, Audição e regulação Enfermagem Direito Administrativo Direito Direito das Famílias Direito Direito Penal e Criminologia Direito Direito Previdenciário e Trabalhista Direito Ecologia Ciências Biológicas Educação Ambiental Ciências Biológicas Ens. Da Língua Portuguesa e Literatura Letras Brasileira Geografia e Meio Ambiente Geociências Gestão Escolar Letras Língua Inglesa Letras Língua Portuguesa e Literatura Brasileira e Letras Africana Políticas Públicas em saúde Coletiva Ciências Sociais Física Centro de ciências e tecnologia Sociologia Centro de Humanidades Desenvolvimento Regional Centro de Humanidades Fonte: Dados da Pesquisa Note-se que os três últimos cursos são oferecidos pela universidade gratuitamente. Quadro 03: Cursos de Pós- Graduação (Stricto Senso) Cursos Departamentos Localidades Quant. Alunos 759 Mestrado em Química Biológica Crato 45 Bioprospecção Molecular Doutorado em Centro de Ciências URCA Bioquímica Biológicas Toxicológica Saúde e Crato e 12 da UFSM Vale ressaltar que todos os alunos do doutorado em Bioquímica Toxicológica são professores da Universidade Regional do Cariri e já estão assegurados com bolsas da CAPES. Num total são mais de 10.000 alunos beneficiados com o trabalho da universidade, são pessoas se profissionalizando, formando consciência critica e transformadora. 4.5 URCA: Pesquisa e Extensão “Descobrir, criar, elaborar métodos e conceitos são algumas atribuições que definem o ato de pesquisar.” (Sabiá, 1995, p.21) A pesquisa é uma das grandes contribuições que a universidade dá a sociedade, a começar em seu sentido mais filosófico, seria uma evolução, onde o ser transcende o ensino, o que tenho já não mais é suficiente, vou à busca de mais. O resultado desse esforço é que favorece a ciência de uma forma geral. No campo da pesquisa a URCA contava em 2011 com 44 grupos de pesquisa cadastrados junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), envolvendo 219 professores que trabalhavam em sete áreas e mais de 170 linhas de pesquisa. Atualmente, em 2012, o grupo passou para 57 no diretório de grupos de pesquisa do CNPq. No que tange a extensão a URCA é uma IES vinculada a Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior - SECITECE do Estado do Ceará. Constitui juntamente com a Universidade Estadual do Ceará (UECE) e a Universidade Vale do Acaraú (UVA), as três universidades estaduais do Ceará, por meio da PROEX, a Pró-Reitoria de Extensão, que integra o Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras – FORPROEX. O qual define “A Extensão Universitária, sob o princípio constitucional da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, é um processo interdisciplinar educativo, 760 cultural, científico e político que promove a interação transformadora entre universidade e outros setores da sociedade.” (2010). Sendo assim, esse é o viés que a universidade encontra, para no empirismo da comunidade local identificar objetos de estudo a serem tratados de maneira cientifica. A extensão universitária compreende as seguintes atividades: Programas; Projetos; Cursos de extensão nas modalidades de: difusão, aperfeiçoamento, aprofundamento; Eventos; Serviços e atividade de divulgação artística, cultural, científica, técnica, tecnológica ou desportiva. Na extensão, diversos projetos vêm sendo desenvolvidos, dentre os quais se destaca o CUPIS – Centro Universitário de Práticas Integradas de Saúde do Trabalhador, PREVESTE, Ações Integradas voltadas para Idosos, Programa de Assessoria Jurídica – P@aje, Tecnologia do Cuidar em Saúde Mental, Polo URCA/ Arte na Escola, Saúde do Trabalhador, Sustentabilidade da Piscicultura em tangue com rede no açude Olho D’água, Infância e Afrodescendente, Núcleo de acolhimento a mulher (rede de combate a violência praticada contra as mulheres na região do Cariri), Saúde do Adolescente, Saúde Cardiovascular. Em 2011 atendeu 38.147 pessoas, e em 2012 passou para 73.556 pessoas atendidas por diversos projetos desenvolvidos pela universidade, o mais significativo em termos de pesquisa e desenvolvimento regional é o Geopark Araripe. Projeto inicialmente concebido tendo em vista a necessidade de proteção da reserva fossilifica da Bacia do Araripe, tão importante para compreensão da historia da vida no nosso planeta, em virtude da sua abundancia e bom estado de conservação. Aqui se encontra fósseis do período cretáceo. Essas ocorrências tornam a região atrativa para o turismo cientifico, como é o caso do Museu de Paleontologia de Santana do Cariri, que recebeu mais de 25.000 visitantes em 2011, segundo o Professor Mota da Universidade Regional do Cariri. É o único geoparque reconhecido pela UNESCO como membro da rede global de geoparques, recebeu o selo verde. A partir do mote da riqueza geológica, o Geopark Araripe se consolida como projeto de geoconservação, geoeducação e desenvolvimento sustentável através do turismo, valorizando produtos da natureza e da cultura desse território. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O ser humano tem necessidade de criar horizontes e buscá-los alcançar. Acredita-se que esse seja o motivo de tanto esforço para atingir o desenvolvimento, essa inquietação humana para se expandir social, político e economicamente. 761 A sociedade por sua vez encontra meios de construir esse intento, através de pessoas e organizações que trabalham nesse sentido, as IES têm sido ao longo da história promotoras desse crescimento e desenvolvimento das regiões, aqui se buscou identificar a relação das IES e o desenvolvimento regional, analisando como uma sociedade cresce quando investe em educação superior, verificando os benefícios qualitativos que a universidade produz para sociedade e apresentando a relevante influência da URCA no desenvolvimento do Cariri. Pode-se concluir com base nas informações coletadas e nos estudos feitos que a Universidade Regional do Cariri ao longo de sua trajetória nessa terra dos kariris tem efetivamente contribuído com a sociedade e o meio ambiente, seus cursos, programas e projetos fazem valer sua missão de transformar a realidade regional. O projeto geopark Araripe é o exemplo mais forte da ação acadêmica pesquisadora na nossa região, acredita-se que os resultados desse projeto jamais poderão ser calculados, por que vão além dos números, envolvem a vida, os valores e as crenças das pessoas. Pode-se verificar que a URCA tem comprometimento com a Região do Cariri. Em fim se entende que um IES que contribui para o desenvolvimento regional seja aquela que consegue fazer uma leitura crítica da realidade local e a partir de seus atores consiga construir métodos que viabilize a valorização do ser e da sociedade. Ressalta-se que esse trabalho não se esgota aqui, mas servi como fonte para futuras pesquisas. 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