COMUNICAÇÃO ORAL EDUCAÇÃO INCLUSIVA E ARTE: A CONSTRUÇÃO DE UMA TRAJETÓRIA GT03: Métodos e Teorias Metodológicas Doutora Maria Cristina da Rosa Fonseca da Silva UDESC/CAPES1 Mestre Adriane Cristine Kirst UDESC/CNPq2 Resumo: Este Artigo tem como objetivo apresentar as diversas etapas, projetos e articulações que envolvem as pesquisa do Grupo de Pesquisa Educação, Arte e Inclusão. Ao longo da construção acadêmica do grupo pôde-se perceber investigações e ações voltadas para um ensino de arte crítico e reflexivo, nos quais os temas envolvem a educação inclusiva no que se refere as pessoas com deficiência, questões étnico raciais e inclusão tecnológica, formando neste sentido, um tripé que se articula em si. PALAVRAS CHAVE: Arte Educação; pesquisa e formação de professores. Apresentamos as investigações realizadas pelo Grupo de Pesquisa: Educação, Arte e Inclusão, CNPq/UDESC, no contexto do ensino de arte, com o objetivo de apresentar o recorte metodológico proposto na perspectiva dos estudos com objetos complexos. Inicialmente apresentamos uma síntese dos principais projetos desde sua criação no ano de 2006 até 2011, com vistas a contextualizar a temática abordada e apresentar o enfoque metodológico. Articulado ao tripé ensino, pesquisa e extensão o grupo de pesquisa vem desenvolvendo sua trajetória no sentido de ampliar os estudos que subsidiem a formação de professores de artes, o ensino escolar, bem como o trabalho em espaços culturais múltiplos, tecendo relações entre a arte e a educação no contexto inclusivo. A formação de pesquisadores para essa temática tanto na graduação, como na pósgraduação, tem se constituído alvo principal dos estudos desenvolvidos. Considerando a inclusão um termo polissêmico no contexto social, o grupo de pesquisa propõe a análise dos estudos em foco a partir de três perspectivas inclusivas: uma que se refere às pessoas com deficiência, outra a questões étnico raciais e a construção de um currículo multicultural-crítico e uma última que diz respeito à inclusão como fenômeno tecnológico capaz de ampliar o acesso a informação e a formação crítica. Nossas investigações têm aprofundado a abordagem metodológica qualitativa, por entender que ela contribui de forma coerente para o aprofundamento dos fenômenos educativos no contexto do ensino de arte. O grupo de pesquisa tem realizado parceria com educadores de Portugal, Espanha, Estados Unidos e Argentina tanto no contexto da educação, como no contexto da arte. Acreditamos que o trabalho em grupo, as atividades colaborativas e o estudo investigativo têm apresentado bons resultados no sentido de conhecer melhor 1 2 Realizando Estágio Pós-doutoral com apoio da CAPES. Bolsista de Apoio Técnico – CNPq. nosso objeto de estudo, o ensino de arte inclusivo, podendo desta forma ampliar as contribuições da área para essa temática. Nos últimos anos o grupo de pesquisa tem apresentado suas sistematizações em forma de livros publicados, um em 2009, um em 2010 e um previsto para 2012. A experiência da escrita nos auxilia no registro e reflexão dos caminhos trilhados. 1. Contextualizando O grupo de pesquisa Educação, Arte e Inclusão nasceu no ano de 2006 já inscrito na base de dados do CNPq e vem ao longo dos últimos anos sistematizando seus estudos a fim de contribuir para a compreensão do fenômeno inclusão/exclusão na formação de professores de arte. O grupo é composto por dez doutores divididos na área de educação e arte, nesse texto apresentamos um recorte de uma das linhas intituladas Ensino de Arte, Formação de professores e Inclusão. O primeiro estudo realizado, nesta linha, entre os anos de 2006 e 2007 teve como objetivo mapear a participação dos estudantes com deficiência nos cursos superiores da UDESC. Como haviam pouquíssimos estudantes com deficiência inseridos no ensino superior, buscamos identificar a partir dos dados disponíveis no Instituto Nacional de Pesquisa – INEP, qual a demanda de estudantes com deficiência nas cidades onde a UDESC tinha sede, atingindo assim onze cidades, pois é uma universidade multi-campi. Essa etapa foi fundamental para conhecer os dados sobre a participação de pessoas com deficiência no ensino fundamental e médio e também para aprofundar o conhecimento da legislação e das políticas públicas. Embora este estudo não seja específico da área de arte, ele serviu de Figure 1 - MAPA DE SANTA CATARINA base para os demais projetos voltados ao ensino de arte, pois partiu de um levantamento bibliográfico para a construção de uma mapa conceitual e sua relação com as políticas públicas e os dados do INEP, já mencionados. Considerando os elementos encontrados na realidade escolar como a falta de adaptação de materiais, de formação dos professores, somadas as dificuldades estruturais, nos anos de 2007 e 2008, desenvolvemos o estudo intitulado Construção metodológica do fazer pedagógico de arte: desafios da inclusão. A investigação teve como objetivo identificar como os professores de arte desenvolviam seu trabalho a fim de incluir as crianças com deficiência. Esse estudo já foi detalhado em Fonseca da Silva (2009 e 2010). No entanto podemos destacar que do ponto de vista metodológico utilizamos duas entrevistas, uma padrão, para todos os professores de arte que tinham alunos com deficiência nas aulas de artes visuais, totalizando nove professores e a segunda entrevista foi realizada ao final da pesquisa, depois de observar oito aulas de cada professor a fim de elucidar as questões específicas do processo de criação metodológico de cada um deles para com as crianças com deficiência. As observações tinham como foco as interações entre a professora e os estudantes, por vezes mais de um em sala de aula. Figure 2 - ATIVIDADE DE SALA DE AULA No ano de 2008 até 2010 realizamos uma investigação intitulada: Laboratório de Educação Inclusiva: metodologias de inclusão, o projeto contou com financiamento da Fundação de Apoio a Pesquisa de Santa Catarina – FAPESC. Esse projeto propôs como foco de estudo as interações que as crianças com deficiências e crianças comuns realizavam com objetos pedagógicos, para aprender arte. No encaminhamento metodológico da experiência foram construídas três oficinas de artes com público entre oito e dez crianças. Na primeira oficina, voltada para surdos e ouvintes o tema do estudo foi os “sons e movimentos”. Na segunda oficina, voltada para os cegos, baixa visão e videntes, o tema foi as “artes visuais na contemporaneidade” e na última oficina, cujo tema era os “diferentes processos de alfabetização, estética e letramento”, inserimos também a interface com a tecnologia. Situado no campo da pesquisa aplicada, o estudo foi registrado no livro que encontrase no prelo intitulado: Objetos pedagógicos: uma experiência inclusiva em oficinas de artes, a ser editado pela editora Junqueira Marin em 2012. Figure 3 OBRA MENA BARRETO QUE FOI ADAPTADA PARA ESTUDANTES CEGOS Destacamos também que no ano de 2009 iniciamos um projeto de investigação com o objetivo de identificar a contribuição da experiência de atuação de professores de artes em Organizações não Governamentais, ministrando conteúdos de arteeducação para públicos cegos. Pretendíamos sistematizar essa experiência como elemento de qualificação da formação de professores que atuam com crianças com deficiência na escola. Este projeto Arte e Inclusão nas ONGs no Brasil e na Espanha: um retrato polissêmico da formação de professores de artes teceu ainda um comparativo entre a realidade de uma ONG em Santa Catarina e uma ONG na Espanha3. O projeto recebeu financiamento do Edital de Ciências Humanas – 2010 do CNPq. Atualmente iniciamos a implementação do projeto intitulado Cria consolidaç Especiais – LAVAIPE. O projeto que é financiado pelo Edital Universal do CNPq tem como objeto de estudo identificar como a pessoa cega interage com as artes visuais contemporâneas por meio de sistemas eletrônicos de reconhecimento sensorial. A partir da criação de ambientes imersivos pretendemos identificar as possibilidades de interação estética do cego com as proposições artísticas empreendidas pela equipe. No primeiro momento propomos a criação de ambientes artísticos artificiais em laboratório e no segundo momento levar essa experiência para os espaços artísticoculturais da cidade. Buscamos com a investigação criar um espaço de interação artística para pessoas cegas a partir das tecnologias e seus desdobramentos que possibilitem uma inovação a partir de dois conceitos iniciais: Realidade Virtual e Realidade Aumentada. Ao propiciar essa experiência interativa pretendemos analisar como se constituem para as pessoas cegas essas sensações estéticas. É importante destacar que a tecnologia desenvolvida nesse projeto utilizada para a fruição em arte, pode ser reaproveitada em atividades da vida diária, como o curso de treinamento de cegos para adaptarem-se ao convívio social, nas ruas e nas instituições. Treinamento que permite preparar o cego dentro de um ambiente seguro, essa tecnologia pode montar qualquer cenário em segundos. Poder simular chuva (e por que não vento?) e ver como o cego reage para atravessar a "rua" virtual nestas condições. Acreditamos que a partir das experiências pilotos poderemos a médio e longo prazo criar um dispositivo barato e móvel, utilizando webcams e circuitos eletrônicos simples, que possam simular o mesmo ambiente virtual a um custo barato. Este ambiente não teria muita precisão, mas seria o suficiente para uma boa experiência na própria casa do usuário no que diz respeito a diversos tipos de simulação sensorial. No campo da arte, foco desse projeto, o indivíduo cego poderia ter acesso às produções artísticas no contexto da Arte Contemporânea, interações por meio de arte tecnológica, o acesso a produções veiculadas na Internet e em Museus virtuais. Da mesma forma as pesquisas poderiam ter respostas relativas a interação dos cegos com esses artefatos artísticos e tecnológicos. 3 A coleta de dados na Espanha fez parte do Estágio de Pós-Doutorado da Professora Maria Cristina da Rosa Fonseca da Silva, junto ao departamento de didática da Expressão Musical e Plástica da Universidade de Sevillha. US – Espanha com bolsa da CAPES. 2010-2011. 2. Metodologias de Pesquisa com objetos complexos Partimos de um ponto inicial que é a pesquisa qualitativa para melhor compreender a pesquisa com objetos complexos. Segundo Flick (2009) a pesquisa qualitativa procura entender, descrever e em algumas situações explicar o contexto social. Ressalta ainda que a abordagem não utiliza-se de experiências de laboratório, ao contrário, busca identificar os fenômenos sociais a partir de uma vivência mais aprofundada com o objeto de pesquisa no contexto onde ele se manifesta. O autor destaca algumas formas mais utilizadas: 01- ressalta as experiências de contextos individuais e grupais. 02 – analisa também fenômenos que estão sendo vivenciados, em construção que utilizam-se de observação, registro da prática e da interação entre o grupo. Os estudos documentais também podem ser analisados a partir de uma perspectiva qualitativa. “Essas abordagens têm em comum o fato de buscarem esmiuçar a forma como as pessoas constroem o mundo à sua volta, o que estão fazendo ou o que está lhes acontecendo em termos que tenham sentido e que ofereçam uma visão rica”. (FLICK, 2009, p.8). Sair dos modelos mais conhecidos de pesquisa que já são reconhecidos como instrumentos de coleta de dados geram a necessidade de apresentar justificativas plausíveis para subsidiar as práticas inovadoras. É comum que os pesquisadores na área das ciências humanas e das artes utilizem parte de sua produção para fortalecer a metodologia de pesquisa, pois esse convencimento reitera a validade da pesquisa. Morin (2008) ao caracterizar a complexidade destaca que esse tema é ainda marginal no pensamento científico, no epistemológico e no filosófico. O autor também destaca que o trato do tema por autores “marginais” fez com que esse tema se revestisse de alguns mal entendidos, entre eles o autor destaca dois, a saber: o primeiro é a concepção da complexidade como receita, como resposta pronta, fato que fragiliza o entendimento de complexidade como motivação para pensar. O segundo mal entendido destacado por Morin (2008) está na confusão entre complexidade e completude. Nesse caso o autor destaca que a complexidade trata da incompletude do conhecimento, ao menos no sentido de buscar o aprofundamento da análise e não as respostas mais superficiais. Acreditamos que na sociedade em que vivemos esse aspecto de buscar a profundidade do conhecimento é pouco valorizado ao mesmo tempo em que denuncia esse caráter de incompletude do conhecimento. Ao caracterizar um conjunto de caminhos para conduzir ao “desafio da complexidade, Morin (2008) destaca cinco avenidas. A primeira diz respeito ao princípio da irredutibilidade do acaso e da desordem. A segunda avenida é a transgressão. A terceira avenida destaca a complicação. A quarta trata do movimento de ordem e desordem que gera uma organização, que é considerada a quinta avenida. Já a sexta avenida aborda a relação entre o todo e as partes, que na teoria marxista poderia ser chamada de dialética. Já a sétima avenida destaca a crise dos conceitos fechados e claros e a oitava sugere a volta do observador a sua observação, ou seja a volta do olhar ao objeto complexo. Os objetos de estudo complexos podem ser considerados aqueles que exigem do pesquisador e de sua equipe a quebra dos procedimentos comuns e a criação de inovações na pesquisa para a melhor leitura e interpretação dos dados. A principal ferramenta de pesquisa no campo das ciências humanas e das artes é a experiência que o pesquisador tem no trato dos dados complexos. Essa trajetória de formação do pesquisador nasce nos cursos de graduação a partir da inserção dos trabalhos de conclusão de curso. As atividades de iniciação científica e de estudos de pósgraduação ampliaram e aprofundaram essa formação investigativa. No processo de análise de dados a experiência do pesquisador auxilia a identificar os aspectos de complexidade e suas relações com os diferentes prismas encontrados nos materiais colhidos. Exige ainda um cuidado com o recorte do objeto, a sistematização do referencial e a identificação dos aspectos que emergem dos dados, aquilo que não era esperado, o novo que surge do material colhido. Nas pesquisas abordadas anteriormente no primeiro tópico destacamos como objeto complexo os estudos que desenvolveram material para públicos com deficiência abordado por Fonseca da Silva (2009a e 2009b), pois o estudo apresentou num mesmo contexto de classe de artes, diferentes trajetórias que não puderam ser comparadas. Cada indivíduo e seu professor de arte estabeleciam um conjunto de relações singular fazendo com que o pesquisador analisasse cada prática de forma descritiva e ao mesmo tempo sistematizar as diferentes abordagens metodológicas no campo da ação didática em artes visuais. No projeto LAVAIPE introduzimos o manuseio dos conceitos tecnológicos experimentados no percurso das pesquisas em arte. Identificamos a não linearidade dos objetos de investigação como um elemento de complexidade pois esse tipo de coleta produz diferentes tipo de dados que por sua vez dialogam entre si porque partem de um mesmo contexto investigativo e ao mesmo tempo destoam no sentido de uma leitura comparativa. Exemplificamos essa situação quando temos como dados coletados o resultado de entrevistas, vídeos, fotografias e observações, ou mesmo objetos artísticos. Nesse caso a multiplicidade de variáveis se por um lado apontam uma riqueza para o estudo, por outro exigem do pesquisador uma análise descritiva e fundamentada. Considerando as diferenças entre as pesquisas do âmbito das ciências sociais, e de ciências naturais, pode-se dizer que existem um fosso entre as abordagens epistemológicas e metodológicas de investigação nas duas realidades. (DA MATTA, 1997) apresenta em seu texto, uma gênese das pesquisas na área de ciências sociais e de como os primeiros estudos utilizaram-se de instrumentos de pesquisa das ciências naturais. Neste caso o autor historiciza o campo para mostrar as diferenças de objetos de estudos das duas ciências. De um lado as pesquisas que utilizam como objeto de estudo o homem e sua produção cultural, necessitando de métodos de investigação distintos das ciências naturais. O autor aponta as transformações que se seguiram no âmbito das ciências humanas e de como novas abordagens foram sendo construídas para possibilitar a investigação no cenário das ciências sociais. Do outro lado, o autor destaca as diferenças de objeto de estudos e encaminhamento metodológico das ciências naturais. As pesquisas no âmbito das ciências humanas e da arte utilizam uma abordagem epistemológica de pesquisa no campo qualitativo, fato este que a diferencia das ciências naturais, não só em relação às questões filosóficas da abordagem, como também o perfil do pesquisador, as técnicas de coleta de dados e o modo de interpretação dos dados. (LEITE e COLOMBO, 2006) utilizam uma classificação de Luna (1997), onde o autor enumera que qualquer pesquisa deve reunir um grupo de características fundamentais para ser considerada uma pesquisa. 01 – definir um problema de pesquisa, 02 – mostrar como vai responder as questões propostas, 03 – definir as fontes de informação, 04- descrever as ações que produziram as informações, 05- identificar os modos como os dados serão tratados, 06 – qualificar um escopo teórico para análise dos dados, 07 – identificar as respostas às perguntas formuladas no problema, 8- demonstrar a confiabilidade da pesquisa, 9indicação da generalidade dos resultados, quando for possível. Partindo das nove propostas de Luna (1997) é possível definir um conjunto de questões que ampliam a possibilidade de qualidade da pesquisa. Gonzaga (2006) aborda o tema da pesquisa qualitativa, situando as dificuldades da abordagem, pois não existe um modelo pronto e acabado, a qualidade da pesquisa se constitui na ação de formação do pesquisador, no diálogo com as fontes teóricas. A formação do pesquisador impulsiona uma trajetória que despende tempo e dedicação na busca de respostas para o objeto de pesquisa. Outro aspecto a considerar diz respeito à formação dos bolsistas de iniciação científica situando-os nos fundamentos teóricos, no âmbito das propostas metodológicas e da coleta de dados, além de propor uma maneira de se relacionar com os sujeitos da pesquisa e com os dados de modo geral. A atividade de iniciação científica tem o objetivo de proporcionar uma formação de pesquisador para o estudante no contexto da graduação, bem como, aproximá-lo do contexto da sociedade a partir da atividade de pesquisa. Um conjunto de questões do ponto de vista da produção e da formação estética se enfileira no cenário dessa proposta e muitas perguntas se colocam na ordem do dia. Como ocorre a interação virtual do cego com a arte? Qual o papel do som nesse contexto? Como o corpo interfere nesse cenário? Que sensações as propostas interativas acarretam ao cego? Quais as diferenças entre os ambientes virtuais produzidos em laboratório e os ambientes imersivos nos espaços expositivos? Que mudanças ocorrem no cenário da arte contemporânea em direção as relações entre arte e tecnologia? Que estética permeia a arte digital? Arantes (2005) resgata o movimento de transformação ocorrido no cenário das artes, inclusive apontado a atualidade do pensamento de Walter Benjamin em relação à reprodutibilidade técnica da obra de arte. Da mesma forma a autora enfatiza os princípios dessa estética digital e aponta duas direções, dos artistas que se utilizam da mídia computacional para desenvolvimento de suas produções artísticas e dos artistas que utilizam os recursos multimídia para construir uma interatividade entre artista e público, ou mesmo entre público e público, ou ainda público e máquina. Nosso objeto de estudo está circunscrito ao cenário das interações entre a pessoa cega e a arte, tendo como elemento de relação às possibilidades tecnológicas de produzir um pensamento estético a partir do envolvimento corporal do cego. Acreditamos que essa experiência auxiliará a pessoa cega a compreender o universo da arte contemporânea e estabelecer com ela uma relação estética, ampliando seu modo de perceber o mundo. 3. Considerações Finais: Com a intenção de intercambiar as produções de investigadores dentro e fora do Brasil, o grupo prioriza os temas que relacionam educação e arte com a temática da inclusão. Neste sentido tomamos o tema da inclusão numa abordagem ampla. Consideramos a inclusão social, tecnológica, interétnica e das pessoas com necessidades especiais. Partilhamos um referencial teórico-prático que identifique, analise e diagnostique a situação da inclusão no Brasil, suas políticas públicas, as práticas culturais na escola e as inovações escolares. O grupo de pesquisa produz uma interface com o campo do Ensino de Arte no que diz respeito à produção de objetos pedagógicos para a inclusão, focando uma parcela de suas pesquisas na formação do professor de arte, da produção artística de crianças em classes inclusivas. A tecnologia em sua multidisciplinaridade é um fio condutor que atravessa a trajetória do grupo de investigação. Considerando as diversas trajetórias da Arte Contemporânea podemos dizer que na atualidade ela atinge o público de diversas formas, desde a dimensão do material até a dimensão do entrecruzamento das fronteiras entre o que no passado se convencionou chamar de linguagens artísticas. Alguns objetos artísticos ultrapassam as barreiras das artes plásticas e visuais, música, teatro, dança, cinema, poesia e tantas quantas linguagens pudermos definir. Ao construir essa interterritorialidade entre as linguagens surge o fio condutor que propusemos abordar no projeto LAVAIPE, que é a interatividade por meio de tecnologias. Domingues (2002, p.47) aponta que “Os sistemas interativos permitem que os sentidos digitalizados convertam o mundo em unidades binárias, signos de linguagem, que se acoplam em hibridizações com a linguagem dos mundos virtuais interativos” Esse sistema modifica a interação virtual, o modo do indivíduo se relacionar com a tecnologia e constrói novas formas de comunicação, neste caso não é só a forma de se comunicar, mas toda a corporeidade que modifica. Giannetti (2006) descreve algumas criações no sentido de promover as primeiras interatividades homem máquina, marcando o ano de 1962 como a primeira experiência utilizando um capacete simulador de imersão. No caso da pesquisa com cegos destacamos um aspecto, também ressaltado por Giannetti, que diz respeito ao domínio ou não da interatividade, com duas situações em relação ao controle das interações: uma primeira tendência onde os indivíduos controlam suas sensações e outra, cujo elemento surpresa permite usufruir da imersão sem controle. Mais uma vez o entorno virtual participa do processo de fruição e o corpo se constitui como objeto de interação. Melin (2008) relata como os artistas nas décadas de 1960 e 1970, quando surgem as primeiras câmeras, desenvolvem suas performances diante delas. A centralidade que permanece nesse contexto é uma ideia do corpo como matéria artística da performance. No caso da pesquisa proposta o corpo se constitui como matéria da interação entre o cego e a arte. O projeto exigirá um processo criativo e performático que possibilite a proposição de experiências estéticas pelo grupo de pesquisa que sejam fruídas pelos cegos de modo tecnológico. Assim identificamos neste início da investigação a necessidade de sistematizar de forma mais detalhada os processos de coleta e leitura dos dados a fim de qualificar a metodologia e validar os dados oriundos dela. Uma das questões que se coloca como objeto de estudo é se a experimentação do cego no ambiente artístico criado prescindirá de mediação educativa, ou ainda se ela acontecerá somente no processo do laboratório e não nas instituições culturais, ou se ao contrário, se não ocorrerá no laboratório e sim na exposição. Pode-se dizer que no âmbito da Arte existe um debate caloroso em relação ao papel da mediação educativa nos espaços expositivos, desde Bourdieu (2007), que desenvolveu pesquisa na década de 1950 nos museus da França até os dias de hoje por autores como Coutinho (2009) e Koneski (2008) que apresentam diferenças acerca do pensamento mediativo. As mudanças na política de inclusão brasileira, também do ponto de vista do desenvolvimento da cultura, da ciência e da tecnologia e suas imbricações com a inserção de novos segmentos no mercado de trabalho, têm criado redes de apoio para projetos que envolvam públicos especiais. Desse modo o LAVAIPE, Laboratório Virtual de Arte Interativa para Públicos Especiais, criado pelo Grupo de Pesquisa: Educação, Arte e Inclusão, formado por profissionais, técnicos e estudantes de diversos centros da UDESC, busca investigar as possibilidades de espaços de acessibilidade para públicos especiais no âmbito da educação e da arte. Tendo foco na temática educação, arte e inclusão, o LAVAIPE pretende ampliar as possibilidades investigativas a partir da fruição da arte em ambientes virtuais que possibilitem experiências estéticas para públicos especiais. Cresce em nosso contexto a existência de museus virtuais (BAHIA, 2008), de games que utilizam a arte como conteúdo, ou mesmo como veículo de ludicidade, de possibilidades de cinema, áudio e vídeo com grande interatividade. Os jogos eletrônicos atuais, como o “W ”, por exemplo, também ampliam seus potenciais de interatividade e envolvem adultos e crianças num conceito diferenciado de jogo. A interatividade não se restringe à escolha de direções e botões para clicar, todo o corpo se envolve nessa experiência. Por outro lado é raro que essas experiências de interação envolvam e sejam acessíveis para públicos especiais. Mesmo no campo da educação a distância essa experiência é pequena. Nossa proposição tem a pretensão de preencher essa lacuna. Igualmente desenvolvemos nos últimos anos pesquisa com professores de artes e crianças em interação com a arte e desenvolvemos um conjunto de materiais para ampliar as experiências estéticas dos públicos especiais. Finalizamos esse artigo que buscou sistematizar um recorte da abordagem metodológica abordada a fim de socializar as experiências com objetos complexos propostas pelo grupo. Referências ARANTES, Priscila. Arte e Mídia no Brasil: perspectiva da estética digital. In: ARS publicação do departamento de artes plásticas da USP. São Paulo: v. 03, n.06 (2. Semestre) 2005. BITTENCOURT, Ana Beatriz Spinola. Jogando arte na Web: educação em museus virtuais. Florian polis: UFSC, 2008. Tese de doutorado. 400 p. Formatado: Português (Brasil) BOURDIEU, Pierre; DARBEL, Alain. O amor pela arte: os museus de arte na Europa e seu público. São Paulo: Editora da USP, Porto Alegre: Zouke, 2007. COUTINHO, Rejane. Questões sobre a formação de mediadores culturais. In. GORDILHO, Viga (Org.) Anais... Reunião da ANPAP. 18. Salvador, Bahia: 2009. faltou as paginas obrigatórias nesse caso. DA MATTA, Roberto. Relativizando: uma introdução a antropologia social. Rio de Janeiro: Rocco, 1997. DOMINGUES, D. 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