Avaliação da eficiência agronômica e viabilidade técnica da utilização do produto comercial AZOTOTAL (Azospirillum brasilense) na cultura do trigo Jackson Ernani Fiorin1 e Cesar Eduardo Bicca Kersting2 1 Engenheiro Agrônomo. Fundação Centro de Experimentação e Pesquisa Fecotrigo – FUNDACEP. Rodovia RS 342 – Km 149, Caixa postal 10, CEP 98005-970, Cruz Alta-RS. [email protected] 2 Engenheiro Agrônomo. Total Biotecnologia Indústria e Comércio Ltda., Rua Emilio Romani 1190, CEP 81460-020, Cidade Industrial, Curitiba, PR, Brasil. [email protected] As rizobactérias promotoras de crescimento vegetal são microorganismos capazes de colonizar a superfície das raízes, rizosfera, filosfera e tecidos internos de diversas espécies vegetais (Kloepper et al., 1989), promovendo aumento do crescimento de raízes e consequentemente maior absorção de água e nutrientes e tolerância a estresses como salinidade e seca (Bashan et.al.,2004). A capacidade de estimular o crescimento vegetal tem sido atribuída a mecanismos como fixação biológica de nitrogênio, produção de hormônios de crescimento, solubilização de fosfato, controle de patógenos e aumento da atividade nitrato redutase (Patten & Glick, 1996). Segundo Dobbelaere et.al. (2003), este gênero de bactérias beneficiam o crescimento das plantas por uma combinação de todos estes mecanismos citados. Muitos estudos têm demonstrado que o Azospirillum estimula o crescimento e a produtividade de várias espécies de plantas, sendo que muitas delas de grande importância agronômica e ecológica (Bashan, et.al., 2004). Estudos têm demonstrado interação da bactéria e aumento de produtividade em plantas de trigo (Hungria et.al., 2011) e milho (Bouton, et.al., 1985). Atualmente no Brasil, existem poucos produtos comerciais contendo Azospirillum, isto ocorre pois apesar de todo avanço em pesquisa básica relacionada a bactérias promotoras de crescimento, há poucos resultados consistente de campo destinados a avaliar a eficiência agronômica de inoculantes. Com isto, este trabalho teve como objetivo avaliar a eficiência agronômica e a viabilidade técnica da utilização do produto comercial AZOTOTAL, produzido pela Total Biotecnologia Indústria e Comércio, contendo Azospirillum brasilense, estirpe Ab-V5 e Ab-V6 registrado junto a Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) sob N°PR-93923 10074-1, na cultura de trigo. O trabalho foi conduzido no ano agrícola de 2010, em uma área manejada há 22 anos no sistema plantio direto, localizada na sede da FUNDACEP FECOTRIGO, situada na RS 342, km 149, município de Cruz Alta, RS. O clima dominante é do tipo Cfa 1 da Classificação de Koeppen (MORENO, 1961). A temperatura média anual é de 18ºC e a precipitação normal é de 1700 mm. O solo do local é classificado como Latossolo vermelho distrófico típico com textura franco-argilosa (EMBRAPA, 1999). Os tratamento realizados foram: T1 - Testemunha, sem a presença de AZOTOTAL (Semeadura : Nitrogênio/Fósforo/Potássio normal + Nitrogênio de cobertura – 100%). T2 – com AZOTOTAL (Semeadura : Nitrogênio/Fósforo/Potássio normal + Nitrogênio de cobertura – 100%). T3 – com AZOTOTAL (Semeadura : Nitrogênio/Fósforo/Potássio com redução de 20% + Nitrogênio de cobertura – com redução de 20%). A dosagem utilizada do inoculante 1 AZOTOTAL foi via semente, na dose de 100 ml para 25 Kg de semente de trigo, conforme recomendação técnica do fabricante, expressa na embalagem. A ordem de utilização dos produtos via tratamento de sementes foi a calda de inseticida + fungicida e depois a inoculação das sementes. Após a adição de cada produto foi realizado o revolvimento das sementes para facilitar a distribuição e o recobrimento adequado. A semeadura foi realizada no mesmo dia. O delineamento experimental de campo foi o de blocos ao acaso, com 12 repetições. O 2 tamanho das parcelas foi de 3,2m x 7,00m (22,4 m ) e a área foi utilizada com a cultura da soja no período de verão de 2009/10. Imediatamente antes da semeadura do trigo, a área foi dessecada utilizando-se o herbicida. A semeadura da cultura do trigo foi realizada no sistema plantio direto, em 1° de julho de 2010. Utilizou-se a Cultivar FUNDACEP 52, no espaçamento de 17 cm entre fileiras e densidade de sementes visando obter 330 plantas por -1 metro quadrado. Na adubação de semeadura padrão foi utilizado 200 kg ha da fórmula -1 10-30-20 na semeadura e 50 kg ha de nitrogênio em cobertura. No Tratamento 3 a -1 adubação foi reduzida em 20%, utilizando-se 160 kg ha da fórmula10-30-20 na semeadura e -1 40 kg ha de nitrogênio em cobertura. Utilizou-se a uréia (45% N) como fonte de fertilizante nitrogenado em cobertura, sendo aplicada a lanço na superfície do solo, em uma única aplicação, no pleno perfilhamento da cultura do trigo. No tratamento de sementes com inseticida e fungicida, utilizou-se Gaúcho (Imidacloprid) e Vitavax + Tiram (Carboxina + Tiram), respectivamente, na dose de 100 ml e 250 ml 100 Kg-1 de sementes. O controle de plantas daninha foi realizado utilizando-se o herbicida Hussar (Iodosulfuron Metil) na dose de -1 125 g ha do produto comercial. No controle de pragas foram utilizados os inseticidas Match CE (Lufenurom) e Engeo Pleno (Tiametoxam + Lambdacialotrina), na dose de 300 e -1 200 ml ha de produto comercial respectivamente. O controle de doenças da parte aérea foi realizado utilizando-se quatro aplicações de fungicida, sendo duas aplicações com Priori Xtra (Azoxistrobina + Ciproconazol) na dose de 300 ml ha-1 de produto comercial associado a Nimbus (0,5%), uma aplicação com Opera (Piraclostrobina + Epoxistrobina) na dose de -1 750 ml ha de produto comercial e uma aplicação com Nativo (Trifloxistrobina + Tebuconazol) -1 na dose de 750 ml ha de produto comercial associado à Áureo (0,5%). Os demais tratos da cultura de trigo foram realizados segundo as Informações técnicas para Trigo e Triticale - Safra 2010, respeitando as condições descritas nos tratamentos. Para o experimento realizado em vasos foi conduzido no delineamento inteiramente casualizado com 6 repetições. Os vasos com capacidade de 3 litros foram preenchidos de forma semelhante com 2,2 kg de solo destorroado. O solo utilizado foi obtido através da coleta na profundidade de 0 a 20 cm na mesma área do experimento à campo. Imediatamente após a aplicação dos tratamentos, a semeadura de trigo foi realizada em 01 de julho de 2010. Utilizouse a Cultivar FUNDACEP 52, na densidade de 20 sementes por vaso, cobrindo as sementes com 2 cm de terra peneirada. Na adubação foi utilizado 50 gramas por vaso da formula 10-3020 na semeadura e 1,78 gramas de uréia (45% N) em cobertura. No Tratamento 3 a adubação foi reduzida em 20%, utilizando-se 40 gramas por vaso da formula 10-30-20 na semeadura e 1,42 gramas de uréia (45% N) em cobertura. No tratamento de sementes com inseticida e fungicida, utilizou-se Gaúcho (Imidacloprid) e Vitavax+Thiram (Carboxina+Tiram), respectivamente, na dose de 100 ml e 250 ml 100 Kg-1 de semente. Os vasos foram dispostos sobre mesa e o desenvolvimento da cultura foi em condições naturais (ambiente). Foi realiza a mudança de posição dos vasos, na frequência de uma vez por semana e de forma aleatória, objetivando evitar que alguma possível diferença do ambiente pudesse interferir no desenvolvimento das plantas. Após a semeadura a umidade do solo foi mantida na capacidade de campo, irrigando sempre que necessário. Aos 12 dias após a semeadura, quando todas as plantas já tinham emergido foi realizado o desbaste manual, deixando 6 plantas/vaso. O controle de doenças na parte aérea foi 2 realizado utilizando-se duas aplicações de fungicida, sendo uma aplicação com Priori Xtra (Azoxistrobina + Ciproconazol) na dose de 300 ml ha-1 de produto comercial associado à Nimbus (0,5%) e uma aplicação com Opera (Piraclostrobina + Epoxiconazol) na dose de -1 750 ml ha de produto comercial. Para avaliação do rendimento de grão foi realizada colhendo-se uma área de 10 linhas de -1 5 metros de comprimento em cada parcela (8,5 m2), expressando os resultados em kg ha a 13% de umidade. Amostras de sementes de trigo de cada parcela colhida foram submetidas à análise de peso do hectolitro, poder germinativo, vigor e peso de 1000 sementes, seguindo metodologia descrita em Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (1992). Objetivando uma prospecção sobre os efeitos da utilização de AZOTOTAL na qualidade de farinha na cultura do trigo, foram submetidas amostras de sementes de trigo das parcelas colhidas à análises de alveografia e cor da farinha. Os resultados de produtividade de grãos de trigo, peso do hectolitro, poder germinativo, vigor e peso de 1000 sementes, foram submetidos à análise da variância e quando os valores de F (Tratamento) foram significativos ao nível de 5 % de probabilidade, submeteu-se ao Teste de DUNCAN (p<0,05), usando o pacote estatístico ASSISTAT Versão 7.5 beta (SILVA & AZEVEDO, 2009). Para análise em experimento em vasos foram avaliados massa seca de raízes e da parte aérea no estádio de florescimento e número de perfilhos por planta no estádio de florescimento e os resultados foram submetidos à análise da variância e quando os valores de F (Tratamento) foram significativos ao nível de 5 % de probabilidade, submeteu-se ao Teste de DUNCAN (p<0,05), usando o pacote estatístico ASSISTAT Versão 7.5 beta (SILVA & AZEVEDO, 2009). Os resultados de produtividade de grãos, peso do hectolitro, poder germinativo, vigor e peso de 1000 sementes, em resposta à utilização de AZOTOTAL na cultura do trigo, no experimento a campo, são apresentados na Tabela 1. A produtividade média de grãos de -1 trigo foi de 3905 kg ha , considerada ótima para a cultura, nas condições do ano agrícola. Observa-se que houve efeito significativo pela utilização de AZOTOTAL na cultura do trigo somente na produtividade de grãos. A utilização de AZOTOTAL associado à adubação NPK normal (T2) mostrou-se estatisticamente superior à testemunha (T1). A utilização de AZOTOTAL quando associado à redução de 20% na adubação NPK (T3), foi estatisticamente semelhante à testemunha (T1). Nas condições deste estudo, não houve efeito significativo pela utilização de AZOTOTAL na cultura do trigo no peso do hectolitro, poder germinativo, vigor e peso de 1000 sementes. Os resultados das análises de alveografia e cor, objetivando avaliar a influência da utilização de AZOTOTAL na qualidade de farinha de trigo, são apresentados na Tabela 2. A utilização de AZOTOTAL na cultura do trigo demonstrou tendência de melhora na força de glúten (W) quando comparado à testemunha. No entanto, é oportuno relatar que, como não estava previsto a avaliação da qualidade de farinha de trigo, a cultivar de trigo utilizado, FUNDACEP 52, considerado de Tipo Brando, com força de glúten normalmente mais fraca, constitui numa limitação genética em expressar maiores efeitos. Nesse caso, sugere-se que este efeito seja investigado utilizando-se cultivares de trigo Tipo Pão, nas quais, tecnologias que objetivam uma melhor nutrição com N, têm condições de expressarem maiores ganhos na qualidade de farinha de trigo. Os resultados de produção de massa seca de raízes e da parte aérea e o número de perfilhos no florescimento, em resposta a utilização de AZOTOTAL na cultura do trigo, no experimento em vasos, são apresentados na Tabela 3. Observa-se uma tendência de aumento, embora não significativo, na produção de massa seca de raízes e da parte aérea pela utilização de AZOTOTAL na cultura do trigo. O número de perfilhos, avaliados no florescimento, foi superior estatisticamente na situação em que utilizou-se AZOTOTAL 3 associado à redução de 20% na adubação NPK. A partir destes dados, conclui-se que a utilização de AZOTOTAL trouxe resposta significativa na produtividade de grão de milho. 4 Referências BASHAN, Y.; HOLGUIN, G.; DE-BASHAN, L.E. Azospirillum-plant relations physiological, molecular, agricultural, and environmental advances (1997-2003). Canadian Journal of Microbiology. v.50, p.521-577, 2004. BRASIL. Departamento Nacional de Pesquisa Agropecuária. Levantamento Reconhecimento dos Solos do Rio Grande do Sul. Recife. 431p. (Boletim Técnico, 30) de BOUTON, J.H.; ALBRECHT, S.L.; ZUBERER, D.A. Screening and selection of pearl millet for root associated bacterial nitrogen fixation. Field Crops Research. v.11, p.131-139, 1985. DOBBELAERE, S.; VANDERLEYDEN, J.; OKON, Y. Plant growth-promoting effects of diazotrophs in the rhizosphere. 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