UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE – UFCSPA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HEPATOLOGIA Anelise Fernanda Zanolla Construção e validação de um questionário de frequência alimentar para pacientes coinfectados pelo vírus da hepatite C e da imunodeficiência humana Porto Alegre 2015 Anelise Fernanda Zanolla Construção e validação de um questionário de frequência alimentar para pacientes coinfectados pelo vírus da hepatite C e da imunodeficiência humana Tese submetida ao Programa de PósGraduação em Hepatologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre como requisito para a obtenção do grau de Doutor Orientadora: Dra. Cristiane Valle Tovo Co-orientadora: Dra.Caroline Buss Porto Alegre 2015 AGRADECIMENTOS À minha querida mãe Marina Machado Zanolla (in memorium), por seu amor, carinho e dedicação. Ao meu amor Leonardo Fernandes, pelo companheirismo, compreensão e muito incentivo para seguir nesta trajetória. Aos meus queridos sogros Elenísia Sequeira Fernandes e Geraldo Fernandes pelo auxílio e por terem me acolhido como uma filha. Aos meus irmãos Paulo Roberto Zanolla e Ivo Zanolla Filho, e à minha cunhada Lucianita da Silva pelos grandes conselhos sobre o melhor caminho a seguir. À minha orientadora Dra. Cristiane Valle Tovo e à minha co-orientadora Dra. Caroline Buss, pelos ensinamentos, disponibilidade, crescimento pessoal e profissional. Às alunas de iniciação científica: Renata Vieira de Souza, Giselle Souza Pinto e Vivian Silveira Vasques pelo auxílio neste trabalho. À equipe do ambulatório de infectologia do Hospital Nossa Senhora da Conceição, principalmente ao Dr. Breno Riegel Santos (chefe de serviço), Dr. Dimas Alexandre Kliemann e Dr. André Luiz Machado, pelo trabalho em conjunto. À estatística Cristiane Bündchen, pelo auxílio nas análises estatísticas. Aos professores do Programa de Pós-graduação em Hepatologia, por todo o aprendizado. A todos que contribuíram para a concretização deste trabalho, Muito obrigada! RESUMO Introdução: A coinfecção pelos vírus da hepatite C e da imunodeficiência humana pode alterar o estado nutricional do paciente, ou provocar alterações metabólicas. A avaliação do consumo alimentar pode gerar estratégias para prevenir ou controlar estes desfechos. O questionário de frequência alimentar (QFA) vem sendo utilizado para medir a ingestão habitual, e deve ser construído e validado para a população em estudo. Objetivos: Identificar os itens de consumo mais representativos em uma amostra de pacientes coinfectados por HCV/HIV; descrever a construção e medir a validade relativa do QFA. Métodos: Os alimentos mais representativos foram identificados através da aplicação de múltiplos recordatórios de 24h (R24h) no período de um ano, sendo que aqueles que contribuíram com até 95% de energia e macronutrientes compuseram a lista de alimentos do QFA. A validade foi testada a partir da aplicação de um QFA e três R24h, utilizando-se correlação de Pearson e índice Kappa ponderado, para energia e 19 nutrientes. Resultados: Foram avaliados 118 R24h, em 55 pacientes, para o desenvolvimento da lista de alimentos do QFA. Itens como açúcar refinado, refrigerantes, sucos artificiais em pó tiveram contribuição importante para o consumo de energia e carboidratos. Arroz e feijão foram, também, alimentos frequentemente consumidos. O instrumento foi composto por 75 itens e oito categorias de resposta para frequência de consumo. Caracterizou-se como um QFA quantitativo. A média de ingestão no QFA superestimou a média de ingestão dos R24h. Coeficientes de correlação deatenuados variaram de 0,35 (vitamina B1) a 0,81 (selênio). O índice de concordância variou entre 0,07 (vitamina C) a 0,51 (cálcio). Conclusão: O consumo de alimentos ricos em açúcar caracteriza um padrão alimentar de risco para estes pacientes, visto que apresentam maior chance de desenvolver resistência à insulina/diabetes. O QFA apresentou validade relativa satisfatória para a maioria dos nutrientes, e pode ser utilizado para medir a ingestão alimentar habitual dos pacientes coinfectados, porém a validade para vitaminas B1, C e D deve ser interpretada com cautela. Palavras-chave: coinfecção HCV/HIV, frequência alimentar, validade relativa consumo alimentar, questionário de ABSTRACT Introduction: The hepatitis C and human immunodeficiency viruses coinfection may compromise the nutritional status or promote metabolic disorders in the patient. The evaluation of food consumption can generate strategies to prevent or control these outcomes. The food frequency questionnaire (FFQ) has been used to identify habitual food intake, and must be constructed and validated in the research population. Objective: To identify the most representative food items in a sample of HCV/HIV-coinfected patients; describe the construction and measure the relative validity of a FFQ. Methods: The most representative food items were identified through multiple applications of 24-hour dietary recalls (24hDR), during one year. The items contributing to 95% of energy and macronutrients intake composed the food list of the FFQ. The validity was measured by application of one FFQ and three 24hDR, using Pearson's correlation and weighted Kappa index for energy as well as nutrients. Results: One hundred and eighteen 24hDR were evaluated in 55 patients for the construction of the food list of the FFQ. Some items like refined sugar, regular soft drinks and artificial juice had an important contribution to consumption of energy and carbohydrates. Rice and beans were, in the same way, food items frequently consumed. The instrument was developed consisting of 75 food items and eight categories of response to evaluate the frequency of consumption. The FFQ was designed in a quantitative model. The average intake in the FFQ overestimated the average intake of 24hDR. The de-attenuated correlation coefficients ranged from 0.35 (vitamin B1) to 0.81 (selenium). The concordance index ranged from 0.07 (vitamin C) to 0.51 (calcium). Conclusion: Sugar-rich food intake was identified as a risk factor for these patients, because they are more likely to develop insulin resistance/ diabetes. The FFQ showed a satisfactory relative validity for most nutrients, and can be used to measure the habitual dietary intake of coinfected patients, however, the validity for vitamins B1, C and D should be interpreted with caution. Key-words: HCV/HIV coinfected-patients, food consumption, food frequency questionnaire, relative validity LISTA DE TABELAS ARTIGO 1 TABELA 1: Número de citações de alimentos na amostra de pacientes coinfectados HCV/HIV ............................................................................................................... ....38 TABELA 2: Contribuição relativa e acumulada, para energia, dos alimentos consumidos pela amostra de pacientes coinfectados HCV/HIV ........................... ....39 TABELA 3: Contribuição relativa e acumulada, para carboidratos, dos alimentos consumidos pela amostra de pacientes coinfectados HCV/HIV ........................... ....41 TABELA 4: Contribuição relativa e acumulada, para proteínas, dos alimentos consumidos pela amostra de pacientes coinfectados HCV/HIV ........................... ....42 TABELA 5: Contribuição relativa e acumulada, para lipídios, dos alimentos consumidos pela amostra de pacientes coinfectados HCV/HIV ........................... ....43 ARTIGO 2 TABELA 1: Características sócio-demográficas e antropométricas de pacientes coinfectados por HCV/HIV ................................................................................... ....55 TABELA 2: Média e desvio-padrão (DP) da ingestão diária de nutrientes e média e DP da diferença entre os métodos ....................................................................... ....56 TABELA 3: Coeficientes de correlação de Pearson entre a média dos três R24h e o QFA e análise de concordância por Kappa ponderado e intervalo de confiança de 95% ...................................................................................................................... ....57 LISTA DE ABREVIATURAS HCV – Vírus da hepatite C CHC – Carcinoma hepatocelular PCR – Reação em cadeia da polimerase HBV – Vírus da hepatite B HIV – Vírus da imunodeficiência humana TARV – Terapia antirretroviral altamente ativa DEP – Desnutrição energético-proteica RVS – Resposta virológica sustentada RA – Registro alimentar R24h – Recordatório de 24 horas QFA – Questionário de frequência alimentar HPV – Papiloma vírus humano SUMÁRIO 1. REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................... 10 1. 1 A infecção pelo vírus da hepatite C ....................................................................... 10 1. 2 A infecção pelo HIV ................................................................................................ 11 1. 3 A coinfecção HCV/HIV ........................................................................................... 12 1. 4 Alterações metabólicas e nutricionais na coinfecção HCV/HIV .............................. 12 1. 5 Avaliação do consumo alimentar............................................................................ 14 1.5.1 Recordatório de 24 horas ..................................................................................... 14 1.5.2 Questionário de Frequência Alimentar ................................................................. 15 1.6 Construção do Questionário de frequência alimentar ............................................. 16 1.7 Validação do Questionário de frequência alimentar ................................................ 18 2. JUSTIFICATIVA........................................................................................................ 21 3. OBJETIVOS .............................................................................................................. 22 3.1 Objetivo geral .......................................................................................................... 22 3.2 Objetivos específicos .............................................................................................. 22 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 23 5. ARTIGO 1: Construção de um questionário de frequência alimentar para pacientes coinfectados pelo vírus da hepatite C e da imunodeficiência humana: uma importante etapa para a identificação do consumo alimentar ....................................... 30 6. ARTIGO 2: Validade relativa de um questionário de frequência alimentar para pacientes coinfectados pelo vírus da hepatite C e da imunodeficiência humana........ 46 7. CONCLUSÃO ........................................................................................................... 60 8. ANEXOS ................................................................................................................... 61 ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ..................... 61 ANEXO B – RECORDATÓRIO ALIMENTAR DE 24 HORAS ....................................... 63 ANEXO C – QUESTIONÁRIO DE FREQUÊNCIA ALIMENTAR ................................... 64 10 1. REVISÃO DA LITERATURA 1.1 A infecção pelo vírus da hepatite C O vírus da hepatite C (HCV) foi identificado em 1989 e, atualmente, a infecção pelo HCV é um grande problema de saúde pública. Acomete cerca de 180 milhões de pessoas em todo o mundo. Estima-se que, no Brasil, existam entre 2 a 3 milhões de pacientes infectados (1) . O HCV é reconhecido como a causa mais comum de doença hepática crônica na população. Sem sintomas específicos, a hepatite C evolui lentamente durante décadas. A cronificação ocorre em 60 a 85% dos casos; em média, 20% podem evoluir para cirrose e 1 a 5% dos pacientes desenvolvem carcinoma hepatocelular (CHC) (2,3) . Esta situação é a causa mais frequente de indicação de transplante hepático em todo mundo (1,2,4). O principal fator de risco para a infecção pelo HCV ocorre por via parenteral, como o uso de drogas injetáveis com compartilhamento de seringas. Esta é a forma mais importante de transmissão e representa 60% das infecções, seguida por transfusões de sangue, principalmente se realizadas até o ano de 1993, exposição sexual, hemodiálise, transmissão vertical, transplante de órgãos. A transmissão também pode ocorrer durante a realização de tatuagens e colocação de piercing, compartilhamento de objetos de uso pessoal, tais como lâminas de barbear ou depilar, ou de instrumentos para pedicure/manicure (3,5,6,7) . Pela ausência de vacina ou profilaxia pós-exposição eficaz, o foco principal da prevenção está no reconhecimento e controle desses fatores de risco (5). O HCV é classificado em seis principais genótipos (designados de 1 a 6), diversos subtipos e cerca de 100 diferentes cepas, com base na heterogeneidade da sequência genômica (8) . Os genótipos 1, 2 e 3 têm distribuição mundial: entre eles, os genótipos 1a e 1b são os mais comuns, representando 60% das infecções no mundo. No Brasil, são encontrados, principalmente, os genótipos 1a, 1b, 2a, 2b e 3, com predominância do genótipo 1 sobre genótipos não-1, com distribuição de 60% e 40%, respectivamente (3,9,10,11,12). 11 Para o diagnóstico, o teste anti-HCV é o marcador inicialmente solicitado. A presença de anti-HCV não define isoladamente a presença de infecção ativa e deve ser interpretada como contato prévio com o HCV. O resultado reagente desse marcador deverá ser confirmado por testes moleculares para detecção de ácidos nucleicos do HCV (3,13) , HCV-RNA, que permitem detectar o RNA viral (14) . A detecção do RNA do HCV através da reação em cadeia da polimerase (PCR) é considerada hoje a técnica mais acurada na caracterização do estado de infecção porque detecta pequenas quantidades do genoma viral em amostras clínicas e é utilizada também na monitorização da resposta ao tratamento ou para acompanhamento de casos não tratados (4,15). Determinados fatores parecem influenciar a progressão da fibrose, tais como idade superior a 40 anos no momento da infecção, sexo masculino, uso de álcool, coinfecção com o vírus da hepatite B (HBV) e/ou vírus da imunodeficiência humana (HIV), imunossupressão, esteatose hepática, resistência insulínica e atividade necroinflamatória na primeira biópsia hepática (6,16) . O risco de evolução para cirrose e CHC é também influenciado por alguns desses fatores (3,6,17). 1.2 A infecção pelo HIV Desde o seu reconhecimento, em 1981, a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) tem mudado significativamente seu padrão epidemiológico, sendo considerada uma doença crônica (18) . Estima-se que 40 milhões de pessoas são infectadas pelo HIV, em todo mundo (19), sendo em torno de 734.000 casos no Brasil (20). A principal forma de contágio é a relação sexual desprotegida, sendo que o risco estimado de transmissão varia entre 1-5% entre homossexuais ou heterossexuais (19). A introdução de novos agentes na terapia antirretroviral (TARV) aumentou a expectativa de vida entre os infectados pelo HIV, permitindo a observação de um número maior de pacientes com cirrose e suas complicações em casos de coinfecção pelo HCV, bem como a hepatotoxicidade associada ao uso desses medicamentos (21,22). 12 1.3 A coinfecção HCV/HIV O HIV e o HCV compartilham rotas semelhantes de transmissão e, atualmente, cerca de 10 milhões de pessoas no mundo estão coinfectadas por estes vírus (23). Estudo recente realizado com dados do Ministério da Saúde do Brasil (24) demonstrou que cerca de 1,6% dos pacientes portadores de HIV são coinfectados pelo HCV. Este dado difere de estudos anteriores, que demonstravam uma prevalência de coinfecção pelo HCV em cerca de um terço dos pacientes portadores de HIV (19,25,26,27,28) . Entretanto, deve-se considerar que a prevalência varia de acordo com a população de risco avaliada (26). As rotas de exposição parenteral para contaminação por HIV e HCV são o uso de drogas intravenosas e, em menor proporção, a realização de tatuagens e piercing (29) . O contágio por HCV também ocorre por via sexual e, na última década, houve um aumento expressivo na sua incidência entre homossexuais masculinos (23, 30) . A coinfecção é deletéria, pois o HIV é um importante cofator para a progressão da hepatopatia causada pelo HCV, aumenta a viremia e pode acelerar a evolução para cirrose (31) . Portanto, o HIV parece ser um fator de risco independente para a severidade da fibrose hepática (32,33,34). 1.4 Alterações metabólicas e nutricionais na coinfecção HCV/HIV Anteriormente ao início da terapia antirretroviral altamente ativa (TARV), a principal complicação nutricional nos pacientes coinfectados HCV/HIV, era a desnutrição energético-proteica (DEP), com consequente comprometimento do estado nutricional e deficiência de nutrientes (35,36) . A DEP pode ser conseqüência da queda do sistema imunológico do paciente, refletida pela queda na contagem de células CD4, com o subsequente surgimento de infecções oportunistas e aumento do gasto energético. Nestes pacientes, ocorre alteração na ingestão alimentar, seja pela progressão da doença ou por efeitos colaterais das medicações. Dentre os pacientes em uso de interferon peguilado e ribavirina, 14-32% apresentam anorexia (6) . Outros efeitos colaterais dos antivirais são: náuseas, vômitos, mudanças de 13 paladar (disgeusia), comprometimento na digestão e absorção de gorduras e vitaminas lipossolúveis (37), eventos que podem levar o paciente à desnutrição. Desde 1996, devido à evolução da TARV, ocorreu uma transição no estado nutricional dos pacientes coinfectados. Aqueles que apresentavam maior incidência de desnutrição obtiveram melhora no estado nutricional e qualidade de vida com o uso de TARV. No entanto, essa terapia provocou eventos metabólicos adversos caracterizados por resistência à insulina/ diabetes mellitus tipo 2, dislipidemia, obesidade, lipodistrofia (38,39,40,41) . Estes disturbios metabólicos estão associados à progressão da doença, aumentando o risco de eventos cardiovasculares e a mortalidade (42). A coinfecção HCV/HIV e o uso de TARV são fatores de risco para desenvolvimento do diabetes tipo 2 ou resistência à insulina em pacientes do sexo masculino, com idade superior a 40 anos e com sobrepeso/obesidade (6) . A resistência à insulina é associada a uma menor taxa de resposta virológica sustentada (RVS) nos pacientes infectados por HCV, independente do genótipo (43) . Há um aumento de quatro vezes na prevalência de diabetes mellitus tipo 2 nos pacientes infectados pelo HIV sob uso de TARV (41,44,45). A síndrome lipodistrófica é caracterizada por alterações na redistribuição da gordura corporal e por mudanças metabólicas. A distribuição de gordura ocorre de forma anômala, com redução do tecido subcutâneo periférico (lipoatrofia) ou acúmulo de gordura central (lipo-hipertrofia) (46). Os inibidores da protease são os principais medicamentos antirretrovirais implicados no desbalanço lipídico (47) , porém a ocorrência de dislipidemia tem sido relatada, também, em pacientes infectados pelo HIV independente do uso de TARV. No entanto, não é totalmente claro o motivo pelo qual o HIV causa aumento no perfil de lipídeos, sendo sugerido que pode ocorrer um maior acúmulo de lipídeos nos macrófagos e consequente desregulação do metabolismo lipídico intracelular (48) .A intervenção dietoterápica tem sido recomendada para a prevenção e controle primário da hipercolesterolemia e da hipertrigliceridemia nos pacientes infectados pelo HIV (49,50) , que podem estar associados à síndrome metabólica, situação frequente nestes pacientes (51). A orientação dietética pode prevenir ou minimizar as alterações metabólicas nos pacientes coinfectados HCV/HIV, visto que condições como obesidade, 14 diabetes tipo 2, dislipidemia e síndrome metabólica estão associadas com a piora da fibrose hepática e menor taxa de RVS (6). 1.5 Avaliação do consumo alimentar A avaliação do consumo alimentar permite a compreensão do modo como a ingestão de energia e nutrientes pode influenciar no desenvolvimento ou na prevenção de doenças (52,53). O consumo alimentar pode ser estimado através de diferentes métodos de inquérito. A escolha do método depende da população e do objetivo do estudo. Os métodos avaliam a dieta habitual ou atual. Dieta habitual pode ser definida como a média do consumo alimentar em um período determinado (meses ou um ano) e a dieta atual refere-se à média do consumo alimentar em curto período de tempo (53). Dentre os métodos mais utilizados para a estimativa do consumo alimentar estão: registro alimentar (RA), recordatório de 24 horas (R24h) e o questionário de frequência alimentar (QFA) (53,54,55,56). O RA é um método em que o indivíduo anota todos os alimentos consumidos ao longo de três, cinco ou sete dias (53). 1.5.1 Recordatório de 24 horas (R24h) O R24h é o método mais utilizado em estudos epidemiológicos para coletar informações sobre a dieta, e é conduzido por um entrevistador treinado. O entrevistado é solicitado a lembrar e quantificar todos os alimentos e bebidas ingeridos no período de 24 horas antecedentes à entrevista ou, mais comumente, no dia anterior (57) . O entrevistador faz o registro, para posterior cálculo do consumo alimentar. O R24h pode, também, ser realizado por telefone (53,58,59,60). Na aplicação de um R24h, alguns cuidados metodológicos devem ser considerados: deve-se investigar a alimentação do dia anterior, iniciando-se pela primeira refeição do dia, seguindo até a última; local e horários em que foram feitas todas as refeições; alimentos consumidos nos intervalos das refeições; ingestão de alimentos industrializados; marca e modo de preparação; quantificação das porções em medidas caseiras (53). 15 O R24h é considerado um método retrospectivo de avaliação da ingestão, portanto, a memória é um fator que interfere na qualidade dos dados, pois o entrevistado pode ter dificuldade para estimar a quantidade e o tamanho da porção consumida. Sendo assim, durante a administração do R24h, recomenda-se a utilização de recursos visuais como fotos, figuras ou réplicas de alimentos como facilitadores desse processo (54,61,62). As vantagens do R24h consistem na rápida aplicação, o imediato período de recordação, o baixo custo e, ainda, pode ser utilizado em qualquer faixa etária e em populações de baixa escolaridade. A desvantagem é que a realização de apenas um único R24h não representa a ingestão habitual de um indivíduo. Essa limitação se deve à elevada variabilidade do consumo de nutrientes da mesma pessoa (intrapessoal) e entre as pessoas (interpessoal), o que confere ao R24h pouca representatividade do consumo habitual (53). O R24h e o RA avaliam a dieta atual de indivíduos ou grupos, ou seja, são capazes de avaliar a média de ingestão de nutrientes em curto período de tempo (53). Porém, na associação entre dieta e desfechos em saúde, a exposição de interesse é a ingestão alimentar de longo prazo, o que caracteriza a ingestão habitual - média do consumo alimentar em um período determinado (meses ou anos). Neste caso,o método de escolha é o QFA, sendo necessária apenas uma aplicação para se obter informações sobre a dieta habitual dos indivíduos. O R24h, ao contrário, exige múltiplos dias de coleta de dados para estimar a ingestão usual, o que implica maior tempo, maior carga para o respondente, maior complexidade no processamento dos dados e maior custo (52,63). 1.5.2 Questionário de frequência alimentar (QFA): O questionário de freqüência alimentar pode ser utilizado para a identificação de padrões alimentares e estudos de associações do consumo alimentar com desfechos em saúde (52,64). Os três principais componentes deste instrumento são: 1) lista de alimentos, 2) categorias de freqüência de consumo e, 3) informação sobre o tamanho da porção consumida (52,54,65,66). Dependendo do objetivo do estudo, se mostra como uma boa alternativa, em relação aos registros e R24h, pois avalia a dieta pregressa e gera dados 16 representativos da ingestão habitual (52) . Outro ponto a ressaltar é que uma das principais necessidades, quando se utiliza um QFA em um estudo que busca analisar a relação dieta-doença, é que ele seja capaz de classificar os indivíduos de acordo com os níveis de ingestão de determinados componentes dietéticos, mais do que estimar corretamente o consumo alimentar (52). Como vantagens do QFA, temos um instrumento rápido e de baixo custo, estima a ingestão habitual, observa modificações na dieta, além de minimizar a variação intrapessoal ao longo dos dias (53). As limitações do QFA podem ser advindas de listas incompletas de alimentos, erros na estimativa do tamanho da porção e da freqüência habitual de consumo e dificuldade de memória do entrevistado (67). Para que um QFA avalie a dieta da forma mais acurada possível, deve ser desenvolvido e validado para a população em estudo (52,68). 1.6 Construção do Questionário de frequência alimentar É na análise da dieta como fator de exposição que reside o grande desafio da epidemiologia nutricional, uma vez que esta é muito difícil de avaliar, especialmente no que concerne à ingestão usual dos indivíduos. Questionários de frequência alimentar devem ser construídos para a população objeto de interesse, visto que a forma de se alimentar é influenciada por fatores como cultura, sazonalidade, condições socioeconômicas, entre outros (52,53,68). A construção de um QFA exige metodologia apropriada, onde o pesquisador estipula, conforme o objetivo do estudo, como serão desenvolvidos os componentes: lista de alimentos, categorias de freqüência de consumo e tipo de questionário (determinação ou não de porções) A lista de alimentos deve ser clara e estruturada de maneira sistemática (64,66) . A forma mais utilizada para o desenvolvimento de uma lista de um QFA é a partir (68) dos itens alimentares mais representativos de consumo adaptação da lista a partir de um QFA já existente . Outras formas incluem a (69,70) , ou construída com o auxílio de tabelas de composição de alimentos para a estimativa de nutrientes específicos relacionados ao desfecho de interesse do estudo (71) , ou, ainda, os alimentos podem ser selecionados com auxílio de um especialista em nutrição (52) . Esta última proposta apresenta grandes limitações, pois pode incluir alimentos importantes por 17 seu conteúdo, mas pouco relevantes do ponto de vista de consumo pela população estudada (53). Diante das maneiras apresentadas para a construção da lista de alimentos, a (72) metodologia proposta por Block et al , tem sido bastante utilizada para orientar os pesquisadores e possibilitar que os estudos epidemiológicos e clínicos minimizem os erros dos inquéritos dietéticos e possam estabelecer a relação dieta e doença com maior veracidade. É desenvolvida especificamente para a população objeto de estudo, onde são identificados os itens alimentares mais representativos através de um método de referência (geralmente o R24h ou o RA) (72,73) . A lista de alimentos é composta por itens responsáveis pela contribuição mínima de 90% da ingestão energética e de nutrientes, a partir da fórmula: razão entre a quantidade de nutriente de cada alimento e o total de nutriente fornecido por todos os alimentos, multiplicado por 100 (68,72). O número de itens da lista de um QFA deve variar entre 50 e 100, pois listas curtas podem subestimar a ingestão (com menos de 50 itens alimentares) (61) e listas extensas (mais de 100 itens alimentares) fazem com que o QFA perca sua vantagem de rapidez, simplicidade, além de superestimar a ingestão (53). O número de categorias de frequência de consumo é o segundo item que compõe o QFA. As categorias são apresentadas ao indivíduo, que deve responder a freqüência com que consome um determinado item alimentar da lista. Ao desenvolver um QFA deve-se levar em consideração que este deve apresentar entre cinco e dez categorias de frequência, uma vez que os questionários que apresentam menos de cinco opções podem resultar em sérias perdas de informações, enquanto o excesso de categorias pode tornar o instrumento confuso (52,74,75). O período de referência para estimar a freqüência de consumo é variável, portanto, a unidade de tempo mais utilizada é o ano precedente, já que prevê um ciclo completo de estações (52,53) . Também pode-se avaliar os dois meses precedentes ou o mês anterior ao estudo (52). A especificação da porção consumida é o terceiro componente do QFA. Ao desenvolvê-lo, o pesquisador precisará definir qual será o tipo de questionário. No QFA qualitativo, as informações sobre os alimentos obtidas não incluem as quantidades consumidas. No QFA semiquantitativo, é apresentado o tamanho de uma porção padrão de referência como parte da pergunta, e no quantitativo, descreve-se exatamente o tamanho da porção usualmente consumida, com ajuda 18 de instrumentos visuais, geralmente álbuns fotográficos ou réplicas de alimentos (53,56) . Após a construção do QFA, este precisa ser validado (52,53,54,64,66,76,77). 1.7 Validação do Questionário de frequência alimentar O termo validade é definido como o grau com que um instrumento mede aquilo que se propõe a medir (52,78,79). Como qualquer outro instrumento de avaliação do consumo alimentar, o QFA não está isento de erros de medida. Nesse sentido, estudos de validação são estratégias para verificar a acurácia do método. A validação se dá por estimativas de consumo do QFA, comparadas com as médias de consumo do método de referência, aplicado no mesmo período de avaliação do QFA (56,61,80,81,82,83). A validade é considerada relativa, pois a validação de um instrumento é determinada pela comparação a um método de referência, geralmente o RA ou o R24h (52) . Este procedimento avalia a similaridade dos dados coletados entre dois métodos de avaliação de ingestão alimentar (53). O R24h é utilizado em muitos estudos de validação, sendo mais indicado quando a população apresenta baixo grau de escolaridade, pouca participação e motivação (52) . No caso da utilização do R24h como método referência, os erros estarão parcialmente correlacionados, pois ambos os métodos dependem da memória e da percepção das porções consumidas (56) , além de facilitar a coleta de dados quando comparado ao registro alimentar, pois os alimentos e bebidas consumidos no dia anterior são recordados, não necessitando anotar os alimentos que serão consumidos ao longo dos dias (53). Os marcadores bioquímicos também são utilizados na validação de métodos de avaliação de consumo alimentar. Segundo Hunter (84) , se o marcador bioquímico fornece um bom índice da real ingestão do nutriente, a validade do método poderá ser comparada com este marcador bioquímico. Cade et. al (54) , mostrou que 75% dos estudos validados utilizaram outro método dietético e apenas 19% utilizaram marcadores bioquímicos. Para a validação do QFA, é recomendada uma amostra de 50 a 100 indivíduos (52,54,76), sendo que a amostra poderá ser composta por voluntários (56). 19 O método pode ser aplicado pessoalmente, por telefone ou e-mail, sendo que, os dois últimos podem ser alternativas para redução de custos (61). Apesar de ser um limitante para a estimativa do tamanho das porções (53) , estudos mostram que métodos de avaliação do consumo alimentar, administrados por telefone, podem proporcionar resultados similares a entrevistas presenciais (58,59,60). Podem ser administrados por um entrevistador treinado ou serem autoaplicáveis. Em revisão sistemática, verificou-se que 67% dos QFAs validados foram auto-administrados, porém o coeficiente de correlação foi maior quando os QFAs foram administrados por um entrevistador (76). Sugere-se que o QFA seja administrado anteriormente ao método de referência, pois os indivíduos participantes da pesquisa se encontram independentes de qualquer outra avaliação dietética que poderia influenciar no procedimento de validação, e também, porque o ato de preencher os formulários de referência poderá direcionar a atenção à suas próprias dietas (85). Willet (52) sugere que a administração do QFA seja realizada juntamente com o método de referência. Dentre os dias de avaliação do método referência, recomenda-se que um dos dias avaliados seja um dia de final de semana ou feriado, pois representa um dia de consumo significativamente diferente, e muitas vezes maior, do que os outros dias da semana (61). Em estudos de validação dois tipos de erros podem estar presentes: o erro aleatório ou sistemático. O erro aleatório está relacionado ao número de aplicações do método referência. Os métodos R24h e RA, tem como característica, elevada variabilidade intrapessoal, decorrente da natureza aleatória da dieta, que muda de um dia para outro e em função da sazonalidade. Assim, buscam-se medidas repetidas de um dos métodos para estudos de validação de QFA (entre 2 e 28 dias) (56,86) . Apesar de ser o mais recomendado, um maior número de replicatas do método de referência, muitas vezes, é inviável para os estudos devido ao custo e tempo demandado. Devido a isto, quando são utilizadas poucas medidas (duas), é necessário um ajuste estatístico, para estimativa da variância, a fim de remover os efeitos de variação intrapessoal e tornar os dados gerados por este método, mais adequados para comparação com o consumo de longo tempo. Outro tipo de erro é o sistemático, que ocorre quando há sub ou superestimação da ingestão alimentar (87,88) . Sabendo que o erro é inerente a 20 medida da ingestão e que a análise e a coleta dos dados dietéticos são essenciais para que seja possível identificar a relação entre dieta e doença, torna-se necessário estimar o erro de medida para classificar de forma mais precisa os indivíduos por níveis de ingestão (87). As propostas estatísticas que avaliam a validade de um QFA são: comparação de médias através do teste T student, análise de correlação pelo coeficiente de correlação de Pearson, Spearman ou intraclasse, classificação em categorias de ingestão (quartis ou quintis), análise de concordância pelo índice Kappa ponderado (52,53) . A concordância também pode ser analisada pelo método proposto por Bland& Altman (89) que avalia a concordância entre os métodos por meio da média das diferenças entre eles. Metodologias empregadas em estudos de validação de QFA sugerem que os coeficientes de correlação brutos sejam corrigidos, ou seja, ajustados para energia e deatenuados. Quando os coeficientes brutos diminuem após o ajuste para energia, se deve a erros sistemáticos de sub ou super-relato da ingestão alimentar em um (52) dos métodos . Por outro lado, quando a ingestão de nutrientes é relatada de maneira similar nos dois métodos, observa-se aumento nos coeficientes após o ajuste (90) . Visto que a variabilidade da dieta é composta pela variância intrapessoal, que representa a variação no consumo que um indivíduo tem com ele mesmo e pela interpessoal, que representa a variação de um indivíduo para outro (91) , o coeficiente de correlação deatenuado tem como proposta reduzir a variabilidade intra-pessoal. As correlações entre os métodos, para avaliação da acurácia do QFA, são consideradas fortes quando estão na média de 0,4 a 0,7, para a maioria dos nutrientes (92) . Índices de Kappa ponderado abaixo de 0,20, indicam concordância pobre entre os métodos testados, entre 0,21 a 0,40 concordância regular, entre 0,41 a 0,60 concordância moderada, entre 0,61 a 0,80 boa concordância e acima de 0,80 muito boa concordância (93). 21 2. JUSTIFICATIVA Entende-se que os pacientes coinfectados HCV/HIV podem desenvolver desnutrição energético-proteica, seja pelas infecções ou pelo tratamento, podendo ocorrer o desenvolvimento de alterações metabólicas, sendo a dieta um fator protetor ou de risco para estes pacientes. A avaliação do consumo alimentar visa obter informações sobre nutrientes que possam contribuir para a associação da dieta com a prevenção ou tratamento dos eventos nutricionais relacionados à coinfecção. Dada a cronicidade da coinfecção HCV/HIV, a qualidade das informações sobre a dieta se dá por um instrumento que avalia a ingestão alimentar em um longo período de tempo, e que seja o mais acurado possível. O instrumento utilizado para este fim é o questionário de frequência alimentar, que deve ser validado na população em estudo. À luz do presente conhecimento, desconhecemos pesquisas sobre a validação do QFA para coinfectados HCV/HIV. 22 3. OBJETIVOS 3.1 Objetivo Geral Construir e validar um questionário de frequência alimentar (QFA) utilizando recordatórios de 24 horas (R24h), em pacientes coinfectados HCV/HIV atendidos em centro de referência especializado para pacientes portadores de HIV em Porto Alegre/RS. 3.2 Objetivos Específicos • Construir um QFA, a partir da análise dos alimentos mais representativos identificados nos R24h, no período de um ano. • Medir a validade do QFA utilizando o R24h. 23 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1.Sociedade Brasileira de Hepatologia. Consenso sobre hepatite C crônica da Sociedade Brasileira de Hepatologia, 2014. 2.Charlton M. Hepatitis C infection in liver transplantation. Am J Transplant. 2001;1(3):197-203. 3.Ministério da Saúde (BR). 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Artigo 1 (Elaborado segundo as normas da revista Nutrición Hospitalaria) Construção de um questionário de frequência alimentar para pacientes coinfectados pelo vírus da hepatite C e da imunodeficiência humana: uma importante etapa para identificação do consumo alimentar Anelise Fernanda Zanolla1, Caroline Buss2, Cristiane Valle Tovo3 1.Nutricionista; Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Medicina: Hepatologia, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre – UFCSPA 2.Professora Adjunta do Curso de Nutrição e do Programa de Pós-Graduação em Medicina: Hepatologia, da UFCSPA. 3.Professora Adjunta do Curso de Medicina e do Programa de Pós-Graduação em Medicina: Hepatologia, da UFCSPA. Dados para correspondência: Caroline Buss Rua Sarmento Leite, 245 CEP: 90050-170. Porto Alegre/RS Telefone: (55 51) 3303-8743 E-mail: [email protected] 31 Resumo Introdução: A coinfecção pelo vírus da hepatite C (HCV) e da imunodeficiência humana (HIV) pode comprometer o estado nutricional e causar alterações metabólicas, a longo prazo. A dieta pode ser associada à prevenção ou controle da morbi-mortalidade nestes pacientes. Para isso, é recomendada a utilização de um método que avalie a ingestão habitual, como o questionário de frequência alimentar (QFA). Objetivo: Identificar os alimentos mais representativos na avaliação do consumo alimentar de pacientes coinfectados HCV/HIV, e descrever a construção de um QFA. Métodos: Estudo transversal, realizado com 55 pacientes em um hospital público do sul do Brasil. Foi aplicado um recordatório de 24 horas (R24h) em cada consulta médica de rotina, no período de um ano. A lista de alimentos foi elaborada a partir da análise dos itens dos R24h que contribuíram com até 95% de energia e macronutrientes. A partir destes itens mais representativos, foi construído o QFA quantitativo. Resultados: Dos 55 pacientes avaliados, 31 eram do sexo masculino (56,4%), com média de idade de 47± 9,9 anos, e 118 R24h foram obtidos para análise. O item pão branco apresentou maior contribuição percentual para energia (12,2%) e carboidrato (16,5%), e o item carne bovina para proteína (19,0%) e lipídio (13,3%). Identificou-se contribuição importante, para energia e carboidratos, de açúcar refinado ou alimentos ricos em açúcar (refrigerantes e sucos artificiais em pó). O QFA foi composto por 75 itens alimentares e oito categorias de resposta para frequência de consumo. Para a especificação do tamanho das porções utilizou-se um álbum fotográfico. Conclusão: O QFA foi desenvolvido para pacientes coinfectados HCV/HIV, considerando os itens alimentares mais representativos de ingestão desta população, no entanto, a validação do método é sugerida em estudos posteriores. Palavras-chave: coinfecção HCV/HIV, consumo alimentar, construção, questionário de frequência alimentar 32 Introdução Estudos epidemiológicos evidenciam o papel da dieta na prevenção e controle da morbi-mortalidade em doenças crônicas (1) . A coinfecção pelo vírus da hepatite C (HCV) e da imunodeficiência humana (HIV) é um problema de saúde pública, e pode comprometer o estado nutricional dos pacientes, causando alteração na ingestão alimentar e desnutrição energético-proteica (2,3) . Após introdução da terapia antirretroviral (TARV) e o aumento da sobrevida dos pacientes portadores de HIV, alterações metabólicas têm sido observadas, como dislipidemia, hipertensão, diabetes mellitus, doença renal, obesidade e hiperuricemia (4,5,6,7) . Estes disturbios metabólicos estão associados à progressão da doença do HIV, aumentando o risco de eventos cardiovasculares e a mortalidade (8). Diante disso, o consumo alimentar habitual deve ser identificado através de um instrumento válido, para possibilitar a compreensão de que forma a dieta pode influenciar na ocorrência de doenças (9) , neste caso, servindo como um subsídio para relacionar a dieta com diversos desfechos referentes à coinfecção. Entre os métodos de avaliação do consumo alimentar, mais utilizados, destacam-se o recordatório de 24 horas (R24h), o registro alimentar (RA) e o questionário de frequência alimentar (QFA) (10) . O QFA é utilizado para conhecimento do consumo habitual de alimentos por um grupo populacional e substitui a medição da ingestão alimentar de um ou vários dias pela informação global da ingestão de um período amplo de tempo (11). Para a construção de um QFA, identificam-se os alimentos mais representativos (12,13) através de um método de referência, devendo ser observado que diferentes grupos demográficos exigem questionários de frequência alimentar que valorizem as suas especificidades de alimentação (9,11,14,15) e, ainda, a validade de um QFA deve ser testada a cada novo questionário desenvolvido (11). Considerando que ainda não existem estudos sobre o desenvolvimento deste instrumento para esta população de pacientes, o objetivo foi identificar os alimentos mais representativos na avaliação do consumo alimentar de pacientes coinfectados HCV/HIV e descrever a construção de um QFA. 33 Métodos: - Delineamento e amostra Estudo transversal, realizado em uma amostra de conveniência composta por 55 pacientes coinfectados HCV/HIV, assistidos no ambulatório de Infectologia de um hospital público da região sul do Brasil. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Grupo Hospitalar Conceição. No momento da consulta médica de rotina, os pacientes foram convidados a participar da pesquisa. Após leitura, explicação e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, aqueles que aceitaram participar foram incluídos no estudo, ficando assegurada a confidencialidade das informações. Os critérios de inclusão foram: coinfecção HCV/HIV, tratamento com terapia antirretrovial (TARV). Para o diagnóstico do HCV foi realizado anti-HCV por imunoensaio enzimático de micropartículas (MEIA) e confirmação de viremia determinada por reação em cadeia da polimerase (PCR). O diagnóstico do HIV foi realizado conforme preconizado pelo Ministério da Saúde do Brasil (16). Foram excluídas as gestantes. - Procedimentos e coleta de dados A coleta dos dados ocorreu entre os meses de dezembro de 2011 a dezembro de 2012. Os pacientes responderam a um R24h, aplicado por um entrevistador treinado. Nas consultas subsequentes, foi aplicado um novo R24h, considerando possíveis alterações referentes à sazonalidade (14) . O instrumento foi utilizado para identificar o consumo de alimentos e bebidas ingeridos no dia anterior à aplicação do método. O participante respondeu detalhadamente sobre a quantidade e o tamanho da porção consumida, com ajuda de um álbum fotográfico (17) . Para a aplicação do R24h foram considerados os seguintes aspectos: alimentação do dia anterior; iniciou-se pela primeira refeição do dia, seguindo até a última; local e horários em que foram feitas todas as refeições do dia; alimentos consumidos no intervalo das refeições; alimentos industrializados e preparações: marca e modo de preparação; medidas caseiras, investigando tipo e tamanho de colheres, xícaras, copos, pratos, conchas. 34 - Elaboração da lista de alimentos A lista de alimentos foi elaborada a partir da análise dos itens dos R24h. Devido ao registro de uma grande variedade de alimentos e preparações, os itens foram agrupados.Verificou-se o consumo de energia, carboidratos, proteínas e lipídeos, utilizando-se o programa de apoio nutricional Avanutri® (Avanutri e Serviços Computacionais de Nutrição, RJ, Brasil). Alguns alimentos não faziam parte do banco de dados do programa e foram cadastrados no mesmo. Para tanto, utilizaram-se informações da TACO (Tabela Brasileira de Composição de Alimentos) (18) , da Tabela para Avaliação do Consumo Alimentar em Medidas Caseiras (19) e dos rótulos dos alimentos. A lista de alimentos foi composta por itens que contribuíram com até 95% de energia e macronutrientes. A contribuição percentual foi calculada a partir da razão entre a quantidade de nutriente de cada alimento e o total de nutriente fornecido por todos os alimentos, multiplicado por 100 (12,13). Resultados: Foram avaliados 55 pacientes, maioria do sexo masculino (56,4%), com média de idade 47± 9,9 anos. Foram coletados 118 R24h. Dezesseis pacientes (29,1%) responderam somente a um R24h, 20 (36,4%) responderam a dois R24h, 14 (25,4%) três R24h e 5 (9,1%) quatro R24h. Todos os pacientes faziam uso de TARV. Os vinte itens/grupos alimentares mais citados na dieta dos pacientes coinfectados HCV/HIV são apresentados na Tabela 1. A Tabela 2 mostra os alimentos que contribuíram para o fornecimento de energia na dieta dos pacientes coinfectados. O item alimentar com a maior contribuição foi o pão branco (12,2%), seguido do arroz branco (7,4%) e carne bovina (6,6%). Os alimentos que mais contribuíram para o fornecimento de carboidratos estão descritos na Tabela 3. O pão branco aparece em primeiro lugar (16,5%), seguido pelo item arroz branco (10,7%), e pelo açúcar refinado/cristal (9,6%). Os itens que contribuíram para a ingestão de proteína estão listados na Tabela 4, sendo a carne vermelha a principal contribuinte (19,0%). 35 Na Tabela 5, estão os alimentos que contribuíram para o fornecimento de lipídios, sendo, da mesma forma, a carne bovina classificada em primeiro lugar (13,3%). A partir da análise da contribuição relativa e a porcentagem acumulada de cada alimento, construiu-se uma lista para o QFA. O instrumento foi composto por 75 itens. Alguns alimentos foram agrupados, considerando-se a similaridade nutricional. O QFA apresentou oito categorias de resposta para frequência de consumo: duas ou mais vezes ao dia, uma vez ao dia, cinco a seis vezes por semana, duas a quatro vezes por semana, uma vez por semana, duas a três vezes por mês, uma vez por mês, nunca. Caracterizado como um QFA quantitativo, o mesmo apresentou uma coluna para especificação da porção de alimento, que foi determinada pelo paciente, utilizando-se um álbum fotográfico. Alguns itens alimentares que obtiveram contribuição menor de 5%, em energia e macronutrientes, foram incluídos no QFA. Estes itens apresentaram um maior número de citações pelos pacientes coinfectados HCV/HIV, além de apresentarem extrema importância nutricional. Alface/agrião/radite/rúcula (44), beterraba (11), chimarrão/chás (16), couve (13), patê (12), repolho (16), foram os alimentos/grupos alimentares incluídos, e o número de citações, respectivamente. Discussão O presente estudo identificou, a partir da aplicação de R24h, os alimentos mais representativos de consumo na dieta de pacientes coinfectados HCV/HIV, atendidos em um ambulatório de infectologia da região sul do Brasil. Com base nas listas de alimentos construiu-se um QFA para esta população. Quanto à avaliação do consumo de alimentos, o açúcar refinado foi o item mais citado. Este dado é relevante, visto que estudos mostram uma prevalência elevada de resistência à insulina entre os pacientes infectados pelo HIV entre os coinfectados HCV/HIV (6,7,20) , e (21) . Notou-se, também, maior consumo de bebidas com adição de açúcar, ressaltando que o consumo de açúcar refinado/cristal, refrigerante normal e suco artificial totalizaram quase 300 citações, sendo itens representativos de consumo para energia e carboidrato. Nota-se que o primeiro alimento com maior teor de fibras (pão integral) aparece na 19° colocação. Açúcar refinado/cristal, refrigerantes normais e sucos artificiais em pó, estão entre os dez 36 itens que mais contribuíram para o fornecimento de carboidratos. Este dado é semelhante aos hábitos alimentares da população brasileira, onde identificam-se um consumo elevado de bebidas com adição de açúcar, como sucos, refrigerantes e refrescos (22), e baixo consumo de frutas e vegetais, o que se mostra preocupante. A primeira fruta da lista de citações foi a banana (12° lugar), seguida pelo grupo alimentar laranja/bergamota/abacaxi (20° lugar). O arroz e feijão foram bastante citados e apresentam contribuição importante para energia, carboidrato e proteína. Arroz e feijão é uma combinação saudável, típica da alimentação da população brasileira (22) . No estudo de Sarmento et al. (23) , também foram identificados arroz e feijão como alimentos mais frequentemente consumidos, em uma população de pacientes com uma doença crônica (diabetes tipo 2), avaliados no sul do Brasil. O café, considerada uma bebida muito consumida pela população brasileira (22) , também foi bastante citada na dieta dos pacientes coinfectados HCV/HIV (140 citações). Este dado é de extrema importância, visto que a cafeína pode estar associada a menor progressão para cirrose e carcinoma hepatocelular em pacientes com HCV (24,25,26) , bem como com menor resistência à insulina na população de coinfectados HCV/HIV (27). Dentre os alimentos mais representativos na contribuição de energia, proteína e lipídio, identificou-se leite integral e carne bovina frita, e queijo amarelo foi um item representativo para proteína e lipídio. A intervenção dietoterápica tem sido recomendada para a prevenção e controle primário da hipercolesterolemia e da hipertrigliceridemia nos pacientes infectados pelo HIV (28,29) , que podem estar associados a síndrome metabólica, situação frequente nestes pacientes (4,5). A partir da análise dos alimentos mais representativos, construiu-se o QFA composto por 75 itens alimentares. O número de itens está adequado, conforme sugerido na literatura (11,30) e similar a outros estudos que desenvolveram QFAs para pacientes com doenças crônicas (23,31). Listas curtas não avaliam corretamente (com menos de 50 itens) e listas extensas (mais de 100 itens) fazem com que o QFA perca sua vantagem de rapidez e simplicidade. O QFA construído apresentou oito categorias de resposta para frequência de consumo, também adequado conforme a literatura. As opções de frequência em QFA devem variar entre cinco e dez categorias, uma vez que os questionários que apresentam menos de cinco opções de frequência podem resultar em sérias perdas de informações, enquanto o excesso de categorias pode tornar o instrumento confuso (9) . Foi construído um QFA no 37 modelo quantitativo. Este modelo de questionário tem como principal vantagem a liberdade de escolha do tamanho da porção (11) , reduzindo o erro de mensuração do consumo por parte dos pacientes. Optou-se por não utilizar a estrutura do QFA no modelo semiquantitativo, o que é caracterizado por alimentos e porções fixos, e que pode resultar em superestimativa do consumo alimentar, quando comparado à R24h e RA (11). Como limitações do estudo, poderíamos citar o uso do R24h como método de avaliação da ingestão alimentar, pois este é um método que depende da memória do entrevistado. Isto foi minimizado devido à utilização de um instrumento visual para verificação do tamanho das porções (um álbum fotográfico), o que facilitou a lembrança, por parte do paciente, do alimento consumido. Devido aos pacientes terem um intervalo longo entre as consultas, optou-se por considerar no estudo todos os dados do consumo, mesmo que o paciente respondesse a um ou dois R24h, pois as informações poderiam contribuir para a composição de uma lista de alimentos para esta população. A construção de um QFA se fez necessária e será útil, após sua validação, em investigações epidemiológicas e clínicas sobre o papel da dieta no estado nutricional e desfechos em saúde destes pacientes. Conclusão: Verificou-se que itens alimentares considerados fatores de risco para resistência à insulina estavam entre os mais consumidos. A partir das listas de alimentos, um QFA foi construído para posteriores investigações sobre a ingestão alimentar habitual destes pacientes, sendo um método capaz de correlacionar a alimentação com diversas variáveis como outras doenças, carências nutricionais, associação com uso de medicamentos. Porém, o instrumento deve ter a sua validade medida. Desta forma, sugerem-se estudos posteriores para a validação do método, a fim de analisar, de forma mais precisa e segura, a ingestão dietética destes indivíduos. 38 Tabela 1: Número de citações de alimentos na amostra de pacientes coinfectados HCV/HIV (n = 55) Itens alimentares Número de citações Açúcar refinado, cristal 170 Arroz branco 156 Pão branco 142 Café 140 Feijão 119 Leite integral 95 Margarina/manteiga 95 Refrigerante normal 62 Suco artificial 61 Carne bovina 58 Outras verduras/legumes 57 Banana 53 Massas 52 Alface/agrião/radite/rúcula 44 Tomate 41 Suco de fruta natural sem açúcar 37 Queijos amarelos 35 Leite desnatado 34 Frango (assado, grelhado, cozido) 33 Laranja/bergamota/abacaxi 32 39 Tabela 2: Contribuição relativa e acumulada, para energia, dos alimentos consumidos pela amostra de pacientes coinfectados HCV/HIV (n = 55) Itens alimentares Pão branco Arroz branco Carne bovina Açúcar refinado/cristal Leite integral Feijão Massas Refrigerante normal Suco artificial Carne bovina frita Margarina/manteiga Biscoito sem recheio Frango assado/grelhado/cozido Suco de fruta natural sem açúcar Banana Laranja/bergamota/abacaxi Batata cozida ou assada Macarrão instantâneo Queijos amarelos Leite desnatado Salgados fritos Aipim Outras frutas Chocolate/paçoca Achocolatado em pó Iogurte tradicional Bolos recheados/panetone Pão integral Maçã/pêssego Ovo frito Bolo sem recheio Salsicha Biscoito doce recheado Outras verduras/legumes Frango frito Pudim/mousse/chico balanceado/mil folhas Café Mortadela Chimia/geléia/doce de leite/leite condensado Tomate Cachorro quente Lingüiça de porco Polenta/ canjica/milho verde Sucos industrializados de caixinha Pinhão Xis Abacate Arroz de leite Contribuição relativa energia 12,19 7,45 6,60 5,54 4,75 4,74 4,62 3,47 3,19 3,12 2,62 2,45 2,07 1,94 1,54 1,50 1,35 1,25 1,20 1,17 1,04 1,02 0,96 0,93 0,88 0,88 0,87 0,83 0,80 0,70 0,66 0,66 0,66 0,65 0,64 Porcentagem acumulada 12,19 19,65 26,25 31,79 36,54 41,29 45,91 49,39 52,58 55,70 58,33 60,78 62,85 64,80 66,34 67,84 69,19 70,45 71,66 72,83 73,88 74,90 75,87 76,80 77,69 78,57 79,45 80,28 81,09 81,79 82,46 83,13 83,79 84,45 85,09 0,61 0,56 0,55 85,71 86,27 86,83 0,53 0,52 0,51 0,46 0,45 0,40 0,40 0,39 0,39 0,37 87,36 87,88 88,39 88,86 89,31 89,71 90,11 90,51 90,91 91,29 40 Salsichão de porco Sopas caseiras Ovo cozido/omelete Salame Salgadinhos tipo chips Óleo (tempero da salada) Peixe frito Outras massas (panqueca, lasanha ou outros) Batata frita Molho de tomate tradicional Bolos fritos Pizza 0,36 0,35 0,34 0,34 0,34 0,34 0,30 91,65 92,01 92,35 92,70 93,05 93,39 93,69 0,27 0,25 0,23 0,22 0,22 93,97 94,23 94,46 94,69 94,91 41 Tabela 3: Contribuição relativa e acumulada, para carboidratos, dos alimentos consumidos pela amostra de pacientes coinfectados HCV/HIV (n = 55) Itens alimentares Pão branco Arroz branco Açúcar refinado/cristal Massas Refrigerante normal Suco artificial Feijão Suco de fruta natural sem açúcar Biscoito sem recheio Banana Leite integral Laranja/bergamota/abacaxi Batata cozida/assada Outras frutas Aipim Achocolatado em pó Maçã/pêssego Macarrão instantâneo Pão integral Iogurte tradicional Leite desnatado Bolos recheados/panetone Café Chocolate/paçoca Chimia/geléia/doce de leite/leite condensado Pudim/mousse/chico balanceado/mil folhas Sucos industrializados de caixinha Tomate Biscoito doce recheado Salgados fritos Outras verduras/legumes Polenta/ canjica/milho verde Bolo sem recheio Arroz de leite Cachorro quente Abóbora/cenoura Sagu Cachaça Sopas caseiras Merengue/maria mole Batata frita Bolos fritos Contribuição relativa energia 16,46 10,73 9,61 6,34 6,02 5,53 4,29 3,15 2,62 2,52 2,50 2,36 1,76 1,49 1,35 1,35 1,31 1,20 1,08 0,92 0,89 0,87 0,85 0,83 Porcentagem acumulada 16,46 27,19 36,80 43,15 49,18 54,71 59,00 62,16 64,78 67,31 69,81 72,18 73,95 75,44 76,80 78,16 79,48 80,68 81,76 82,69 83,59 84,47 85,32 86,15 0,80 86,95 0,73 0,67 0,67 0,66 0,61 0,61 0,55 0,53 0,51 0,35 0,32 0,31 0,29 0,29 0,25 0,24 0,23 87,68 88,36 89,03 89,70 90,32 90,94 91,50 92,03 92,54 92,89 93,22 93,53 93,83 94,12 94,37 94,62 94,86 42 Tabela 4: Contribuição relativa e acumulada, para proteínas, dos alimentos consumidos pela amostra de pacientes coinfectados HCV/HIV (n = 55) Itens alimentares Carne bovina Pão branco Carne bovina frita Frango assado/grelhado/cozido Feijão Leite integral Massas Arroz branco Queijos amarelos Leite desnatado Frango frito Biscoito sem recheio Salgados fritos Peixe grelhado Bolo sem recheio Ovo cozido/omelete Iogurte tradicional Peixe frito Salsicha Outras verduras/legumes Macarrão instantâneo Pão integral Batata cozida/assada Ovo frito Lingüiça de porco Laranja/bergamota/abacaxi Mortadela Carne suína frita Carne suína assada/grelhada Estrogonofe Salame Salgadinhos tipo chips Suco de fruta natural sem açúcar Tomate Pudim/mousse/chico balanceado/mil folhas Bolos recheados/panetone Salsichão de porco Aipim Banana Xis Outras massas Chocolate/paçoca Amendoim Achocolatado em pó Sopas caseiras Presunto Cachorro quente Outras frutas Contribuição relativa energia 18,96 9,62 8,06 7,45 6,80 6,61 6,06 3,84 2,40 2,32 1,47 1,27 1,16 0,88 0,86 0,75 0,75 0,74 0,73 0,72 0,71 0,68 0,67 0,67 0,61 0,58 0,58 0,56 0,54 0,54 0,51 0,51 0,48 0,46 Porcentagem acumulada 18,96 28,59 36,65 44,10 50,91 57,53 63,59 67,44 69,84 72,17 73,64 74,92 76,08 76,97 77,83 78,59 79,34 80,08 80,82 81,55 82,26 82,95 83,63 84,30 84,91 85,50 86,09 86,65 87,20 87,74 88,26 88,77 89,25 89,72 0,45 0,44 0,43 0,42 0,39 0,38 0,37 0,37 0,34 0,32 0,32 0,31 0,31 0,30 90,17 90,62 91,06 91,49 91,88 92,26 92,64 93,01 93,36 93,68 94,01 94,32 94,63 94,94 43 Tabela 5: Contribuição relativa e acumulada, para lipídios, dos alimentos consumidos pela amostra de pacientes coinfectados HCV/HIV (n = 55) Itens alimentares Carne bovina Margarina/manteiga Leite integral Carne bovina frita Feijão Pão branco Frango assado/grelhado/cozido Queijos amarelos Biscoito sem recheio Arroz branco Ovo frito Salsicha Salgados fritos Massas Mortadela Macarrão instantâneo Chocolate/paçoca Lingüiça de porco Óleo Frango frito Pinhão Abacate Bolos recheados/panetone Leite desnatado Xis Salsichão de porco Cachorro quente Biscoito doce recheado Salame Salgadinhos tipo chips Iogurte tradicional Batata cozida/assada Bolo sem recheio Ovo cozido/omelete Outras verduras/legumes Aipim Peixe frito Sopas caseiras Molho branco Pudim/mousse/chico balanceado/mil folhas Outras massas Estrogonofe Nata normal Pão integral Batata frita Margarina light Polenta/canjica/milho verde Molho de tomate tradicional Pizza Contribuição relativa energia 13,26 9,54 8,35 6,58 4,47 4,47 3,32 2,95 2,71 2,48 2,13 1,87 1,86 1,72 1,68 1,65 1,46 1,29 1,25 1,21 1,19 1,13 1,10 1,08 1,03 1,01 0,96 0,94 0,92 0,92 0,85 0,82 0,82 0,79 0,68 0,62 0,52 0,50 0,49 Porcentagem acumulada 13,26 22,80 31,16 37,75 42,22 46,70 50,02 52,97 55,68 58,17 60,31 62,19 64,05 65,77 67,46 69,11 70,57 71,86 73,12 74,33 75,53 76,67 77,77 78,85 79,88 80,90 81,86 82,80 83,73 84,65 85,50 86,33 87,16 87,96 88,64 89,27 89,80 90,30 90,79 0,45 0,44 0,41 0,38 0,38 0,37 0,37 0,35 0,34 0,34 91,24 91,68 92,10 92,48 92,87 93,25 93,62 93,98 94,32 94,66 44 Referências: 1. 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Artigo 2 (Elaborado segundo as normas da revista Nutrición Hospitalaria) Validade relativa de um questionário de frequência alimentar para pacientes coinfectados pelo vírus da hepatite C e da imunodeficiência humana Anelise Fernanda Zanolla1, Caroline Buss2, Cristiane Valle Tovo3 1.Nutricionista; Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Medicina: Hepatologia, da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre – UFCSPA. 2.Professora Adjunta do Curso de Nutrição e do Programa de Pós-Graduação em Medicina: Hepatologia, da UFCSPA. 3.Professora Adjunta do Curso de Medicina e do Programa de Pós-Graduação em Medicina: Hepatologia, da UFCSPA. Dados para correspondência: Caroline Buss Rua Sarmento Leite, 245 CEP: 90050-170. Porto Alegre/RS Telefone: (55 51) 3303-8743 E-mail: [email protected] 47 Resumo Introdução: A coinfecção HCV/HIV pode alterar a ingestão alimentar, levando o paciente à desnutrição ou a alterações metabólicas. Dada a cronicidade da doença, a avaliação da dieta habitual pode gerar estratégias para prevenir ou controlar estes desfechos, e para isto, o questionário de frequência alimentar (QFA) tem sido utilizado. Objetivo: Medir a validade relativa de um QFA desenvolvido para estimar o consumo alimentar habitual de pacientes coinfectados HCV/HIV, atendidos em um hospital público da região sul do Brasil. Métodos: Cada paciente respondeu a um QFA e a três recordatórios de 24 horas (R24h), sendo o 1° R24h presencial (juntamente com o QFA) e os subsequentes administrados por telefone, com intervalo de 20 dias. O QFA foi desenvolvido especificamente para estes pacientes, a partir dos itens mais representativos avaliados em 118 R24h, no período de dezembro de 2011 a dezembro de 2012. Para verificar a diferença entre as médias e identificar a validade relativa, foram aplicados teste T pareado, correlação de Pearson e avaliação da concordância através do índice Kappa ponderado para energia e 19 nutrientes. Resultados: Foram incluídos 58 pacientes; 60,4% eram do sexo feminino, e 53,5% apresentavam sobrepeso/obesidade. Todos faziam uso de terapia antirretroviral. A média de ingestão no QFA superestimou a média de ingestão dos R24h. Coeficientes de correlação deatenuados variaram de 0,35 (vitamina B1) a 0,81 (selênio). O índice de concordância variou entre 0,07 (vitamina C) a 0,51 (cálcio). Conclusão: O QFA apresentou validade relativa satisfatória para a maioria dos nutrientes, e pode ser utilizado para medir a ingestão alimentar habitual dos pacientes coinfectados. Fracas correlações para vitaminas B1 e D, assim como pobre concordância para vitaminas B1 e C devem ser consideradas e interpretadas com cautela. Palavras-chave: consumo alimentar, alimentar, coinfecção HCV-HIV validação, questionário de frequência 48 Introdução A coinfecção pelo vírus da hepatite C (HCV) e da imunodeficiência humana (HIV) é um grave problema de saúde pública, sendo que cerca de 10 milhões de pessoas no mundo apresentam a coinfecção (1) . Esta situação pode comprometer o estado nutricional dos pacientes, causando alteração na ingestão alimentar, desnutrição energético-proteica e, consequentemente, deficiência de micronutrientes (2,3) . Por outro lado, com o advento da terapia antirretroviral (TARV), os pacientes apresentam, muitas vezes, alterações metabólicas como obesidade, dislipidemia e diabetes mellitus (4,5) . Tanto a desnutrição energético-proteica, como as alterações metabólicas podem ser minimizadas com o cuidado nutricional. A adequada ingestão de energia, macronutrientes (2) e de determinados micronutrientes (6,7,8) estão associados à prevenção ou tratamento desses eventos nutricionais relacionados à coinfecção. Diante de tais constatações, fica clara a necessidade de investigar o padrão alimentar desses pacientes (9,10) para compreender de que forma a dieta pode impactar nas alterações nutricionais ocasionadas pela doença. É necessário um instrumento que avalie a dieta habitual, e o questionário de frequência alimentar (QFA) tem sido utilizado para este propósito (11). Diferentes populações ou grupos de pacientes exigem questionários de frequência alimentar que considerem as suas especificidades de alimentação. Um instrumento válido indica que a informação mensurada reflete exatamente o que ele pretende medir (9) . A validação relativa de um QFA é determinada pela comparação a um método de referência, geralmente o registro alimentar ou R24h(9). Considerando que até o momento, desconhecemos estudos sobre a validação deste instrumento para indivíduos coinfectados HCV/HIV, e visto a importância da avaliação do consumo alimentar habitual neste grupo de pacientes, a partir de um instrumento confiável, o presente estudo teve como objetivo medir a validade relativa de um QFA, em uma amostra de pacientes coinfectados HCV/HIV atendidos em um hospital público da região sul do Brasil. 49 Métodos O estudo foi realizado em uma amostra de pacientes coinfectados HCV/HIV, obtida por conveniência de forma consecutiva, atendidos no ambulatório de infectologia de um hospital público de referência para atendimento de HIV da região sul do Brasil, no período de agosto de 2013 a agosto de 2014. No momento da consulta médica de rotina, os pacientes foram convidados a participar da pesquisa. Inicialmente, recrutaram-se 65 pacientes. Destes, 4 (6,1%) não responderam a totalidade dos R24h e 3 (4,6%) não completaram o preenchimento do QFA, sendo excluídos, resultando em uma amostra de 58 pacientes. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Grupo Hospitalar Conceição, Porto Alegre/RS, e os pacientes foram incluídos mediante leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os critérios de inclusão foram: coinfecção HCV/HIV, ambos os sexos, idade acima de 18 anos, uso de terapia antirretroviral. Foram excluídos do estudo as gestantes e pacientes cirróticos. Os pacientes responderam a um questionário sócio-demográfico incluindo as variáveis: sexo, idade, escolaridade, estado civil e renda familiar. A classe sócioeconômica foi classificada com base no Critério de Classificação Econômica Brasil da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (12) . Também foi realizada avaliação antropométrica, incluindo as variáveis: peso e altura. O índice de massa corporal (IMC) foi calculado através do peso (em quilos) dividido pela altura (em metros) ao quadrado, e o estado nutricional classificado segundo critérios de referência da Organização Mundial da Saúde (13) . Os instrumentos utilizados para avaliação do consumo alimentar foram o QFA e o R24h. - Questionário de Frequência Alimentar O QFA foi construído a partir das informações de 118 R24h, aplicados em uma amostra de 55 pacientes coinfectados HCV/HIV, assistidos no ambulatório de infectologia de um hospital público da região sul do Brasil, no período de dezembro de 2011 a dezembro de 2012 (dados não publicados). A lista de alimentos do QFA foi elaborada a partir dos itens mais representativos (com mais de 95% de contribuição) do consumo de energia e macronutrientes dos pacientes, conforme metodologia proposta por Block (14) . O QFA consistiu em uma lista com 75 itens 50 alimentares, a frequência de consumo foi especificada em diária, semanal ou mensal, incluindo oito categorias de frequência, e o período de avaliação do consumo foi o mês anterior à entrevista. Este questionário foi do tipo quantitativo, em que os participantes visualizavam o tamanho da porção com a ajuda de um álbum fotográfico (15) . O QFA foi aplicado na primeira entrevista com o paciente, de forma presencial. - Recordatório de 24 horas Foi avaliado o consumo de alimentos e bebidas ingeridos nas 24 horas anteriores à entrevista. Com a ajuda de um álbum fotográfico (15) , o participante relatava, detalhadamente, sobre o tamanho da porção consumida, marcas dos produtos e modo de preparação. Os R24h foram aplicados em três entrevistas, sendo a primeira presencial, juntamente com o QFA, e as duas subsequentes por telefone, com intervalo médio de 20 dias. Um dos R24h foi aplicado um dia após o final de semana ou feriado, caracterizando um dia atípico. - Análise dos dados As informações obtidas pelos R24h e QFA foram analisadas no software de apoio nutricional Avanutri® (Avanutri e Serviços Computacionais de Nutrição, RJ, Brasil). Os dados dos R24h foram digitados diretamente no programa Avanutri® e, para o QFA, a ingestão alimentar foi transformada em gramas/dia. Dividiram-se as frequências mensal e semanal por 30 e 7, respectivamente. Esse resultado foi multiplicado pelo número de porções e pela gramatura da porção. Para cada um dos três R24h e o QFA estimou-se energia, proteína, carboidrato, lipídio, fibra, vitaminas A, B1, B2, B6, ácido fólico, B12, C, D, E, e os minerais: zinco, selênio, sódio, cálcio, potássio e ferro. A média, o desvio-padrão e a diferença entre as médias foram calculados para valores absolutos de energia e demais nutrientes ingeridos no QFA e nos R24h. Diferenças entre as médias foram verificadas com teste t pareado. A normalidade dos dados de ingestão alimentar foi verificada pelo teste Shapiro-Wilk. Para as demais análises, energia e nutrientes de ambos os métodos foram log transformados, a fim de normalizar a distribuição dos dados. A correção pela energia 51 foi feita computando-se os resíduos de modelos de regressão, com a ingestão energética como variável independente e a ingestão dos nutrientes como variável dependente (9,16) Devido à atenuação causada pelas variações diárias na ingestão alimentar intra-sujeito, os coeficientes foram corrigidos pela razão das variâncias intra e entre sujeitos nos três R24h, com a seguinte equação: rv = ro(1+λ/n)¹/², em que rv é a correlação verdadeira, ro a correlação observada entre o QFA e a média dos R24hs, λ é a razão da variância intra e entre sujeitos nos R24h e n é o número de replicatas, neste caso,três R24h (17) . A validade relativa foi avaliada por meio do coeficiente de correlação de Pearson. Correlações entre 0,4 e 0,7 indicam adequada validade do método (18,19) . A concordância entre o QFA e a média dos três R24h também foi avaliada por meio do índice Kappa ponderado, considerando os dados ajustados e deatenuados. Índices de Kappa abaixo de 0,20, indicam concordância pobre entre os métodos testados, entre 0,21 a 0,40 concordância regular, entre 0,41 a 0,60 concordância moderada, entre 0,61 a 0,80 boa concordância e acima de 0,80 muito boa concordância (20) . Para as análises de média de ingestão dos nutrientes, diferença entre as médias e correlação de Pearson foi utilizado SPSS, versão 22.0 for Windows (SPSS Corp, Chicago, Estados Unidos). As análises de concordância foram realizadas no programa WinPepi, versão 11.43. Resultados Foram avaliados 58 pacientes coinfectados HCV/HIV. Os pacientes tinham, em média, 46 ± 11,2 anos, escolaridade de 8 ± 3,8 anos, e faziam uso de TARV há mais de três meses. A amostra foi composta, em sua maioria, por mulheres (60,4%), e 41,4% dos participantes eram casados. A maioria dos pacientes pertencia à classe social C/D/E (65,0%) e apresentavam sobrepeso/obesidade (53,5%) (Tabela 1). A Tabela 2 mostra o consumo de energia e nutrientes obtidos pelo QFA e pela média dos três R24h. O consumo de energia e de todos os nutrientes do QFA superestimou a ingestão proveniente da média dos três R24h. O teste t pareado mostrou diferenças estatisticamente significativas para a ingestão de energia, fibras, vitaminas: B1, B2, B12, C, E, ácido fólico e para os minerais: selênio, cálcio, potássio e ferro (p < 0,05). 52 Quanto à validade do QFA, relativa à média de ingestão dos três R24h, verificou-se que os coeficientes brutos apresentaram os menores valores para vitamina B1 e os maiores valores para vitamina D, 0,20 e 0,68, respectivamente. Após o ajuste pela energia, com exceção do lipídio, vitaminas B1, B12 e sódio houve redução nos coeficientes para o restante dos nutrientes. Por outro lado, com a correção para o erro aleatório intrapessoal, observou-se aumento nos coeficientes ajustados para energia e demais nutrientes, com correlações maiores que 0,4, exceto para as vitaminas B1 e D. Os valores do índice Kappa ponderado excederam 0,40 para 35% dos nutrientes, variando de 0,07 para vitamina C (IC = -0,12-0,26) a 0,51 para cálcio (IC= 0,35-0,68) (Tabela 3). Discussão Este estudo sugere que o QFA desenvolvido possui validade adequada para energia e a maioria dos nutrientes analisados, e pode ser utilizado para estimar o consumo alimentar habitual de pacientes coinfectados HCV/HIV do sul do Brasil. A validade relativa de macronutrientes do QFA foi testada em populações de homens infectados pelo papiloma vírus humano (HPV) mama (22) , e em adultos saudáveis do sul do Brasil (21) , mulheres com câncer de (23) . Estes estudos mostraram coeficientes de correlação deatenuados similares ou menores dos que os encontrados no estudo de validação de QFA para coinfectados HCV/HIV. A validade para fibra alimentar foi avaliada no estudo de Vuhol (24), com resultado semelhante (r = 0,63). Em relação aos micronutrientes, fraca correlação foi observada para vitaminas B1 (r=0,35) e D (r=039). O instrumento mostrou-se válido para medir a ingestão habitual de vitaminas antioxidantes (A, E), além do mineral selênio (r=0,81) e zinco (r=0,54). A deficiência de zinco e selênio tem sido associada à gravidade da doença hepática, resistência à insulina e à redução da resposta virológica sustentada em pacientes com HCV (6,7,8) . Para o restante dos micronutrientes analisados, a validade encontra-se adequada. Verificou-se que as médias de ingestão de energia e dos nutrientes foram maiores no QFA do que a média de ingestão dos três R24h, achado consistente com estudos realizados na região sul do Brasil (25,26,27) Estes achados podem estar relacionados às características inerentes ao QFA como o tamanho da lista de 53 alimentos e a sessão para obtenção da frequência de consumo, que podem superestimar o consumo avaliado por este instrumento (9). Metodologias empregadas em estudos de validação de QFA sugerem que os coeficientes brutos sejam corrigidos, ou seja, ajustados para energia e deatenuados. O ajuste pela energia reduziu os valores da maioria dos coeficientes, como também foi observado em outros estudos (25,27) . Isto se deve a erros sistemáticos de sub ou super-relato da ingestão alimentar em um dos métodos (9) . Por outro lado, quando a ingestão de nutrientes é relatada de maneira similar nos dois métodos, observa-se aumento nos coeficientes após o ajuste (28) , e no presente estudo, isto foi verificado para lipídio, vitaminas B1, B12 e sódio. Os coeficientes de correlação deatenuados aumentaram para a maioria dos nutrientes, o que também foi verificado em outras pesquisas (22,23,27,29) . Os valores deatenuados abaixo de 0,4 para vitaminas D e B1, podem ser explicados pela variabilidade da ingestão dietética individual, o que aponta para a necessidade de mais replicatas do método de referência, a fim de capturar com maior precisão a ingestão destes nutrientes (30). Ao investigar a concordância entre os métodos, os índices de Kappa ponderado mostraram razoável concordância para a maioria dos nutrientes avaliados (20) . Vitaminas B1 e C mostraram pobre concordância: 0,14 e 0,07, respectivamente. Isto pode ser explicado pelo pequeno tamanho de amostra. O kappa ponderado pode agrupar indivíduos com níveis de ingestão diferentes na mesma categoria como colocar em categorias distintas aqueles com níveis de ingestão similares, caso estejam muito próximos do ponto de corte, podendo diminuir o índice (31) . No entanto, o presente estudo foi realizado com adequado tamanho de amostra para estudos de validação, entre 50 e 100 indivíduos (9,11) . Índices acima de 0,40 foram encontrados para 35% dos nutrientes, indicando moderada concordância (20), resultados consistentes com o estudo de Selem (29). Como limitações deste estudo, podemos citar o uso do R24h como método de referência, pois este instrumento depende da memória do entrevistado (9) . Porém, para minimizar erros de medida relacionados à memória, após os pacientes responderem ao R24h, foram lidos, por entrevistados treinados, todos os alimentos/bebidas consumidos para verificar se os pacientes haviam esquecido algum item. Álbuns com fotos de alimentos auxiliaram o paciente a determinar o tamanho da porção consumida, na primeira entrevista (11) . A aplicação dos R24h por telefone pode interferir na coleta das informações, devido à dificuldade de estimativa 54 do tamanho das porções (32) , porém alguns estudos mostraram que métodos de avaliação do consumo alimentar, administrados por telefone, podem proporcionar resultados similares a entrevistas presenciais (33,34,35) . O uso das medicações para tratamento da coinfecção pode influenciar a ingestão alimentar, devido aos efeitos colaterais: anorexia, náuseas, disgeusia (36,37) . Alguns R24h podem ter sofrido a influência dos efeitos colaterais das medicações, caracterizando uma ingestão atípica. Por fim, por ser uma amostra com voluntários, não se pode descartar o viés do voluntariado, o que poderia contribuir para a obtenção de correlações mais altas, já que os voluntários podem ter motivação diferenciada para participação no estudo (32) . Conclusão O QFA apresenta validade relativa satisfatória para a maioria dos nutrientes, o que demonstra que o instrumento é capaz de medir a ingestão alimentar habitual. Fracas correlações observadas para vitamina B1 e D e pobre concordância para vitaminas B1 e C comprometem a validade relativa para estes nutrientes. Sugere-se a utilização do QFA validado para posteriores investigações sobre fatores dietéticos e associações com alterações metabólicas ou progressão da doença hepática em coinfectados HCV/HIV. 55 Tabela 1: Características sócio-demográficas e antropométricas de pacientes coinfectados HCV/HIV (n = 58). Porto Alegre (RS), 2013-14 Características N % Maculino 23 39,6 Feminino 35 60,4 Solteiro 22 37,9 Casado 24 41,4 Divorciado 9 15,5 Viúvo 3 5,2 D/E (até R$ 895,00) 19 35,2 C2 (R$ 896,00 – 1.277,00) 3 5,5 C1 (R$ 1.278,00 – 13 24,1 10 18,5 9 16,7 <18,4 Kg/m² 6 10,3 18,5 – 24,9 Kg/m² 21 36,2 >25 Kg/m² 31 53,5 Sexo Estado civil Classe social * 1.865,00) B2 (R$ 1.866,00 3.118,00) B1 (R$ 3.119,00 – 6.006,00) Avaliação antropométrica IMC (Kg/m²) *4 pacientes não responderam 56 Tabela 2: Média e desvio-padrão (DP) da ingestão diária de energia e nutrientes e média e DP da diferença entre os métodos (n = 58). Nutrientes QFA R24h Diferença QFA –R24h Média (DP) Média (DP) Média (DP) 2036,65 (830,33) 1770,09 (628,84) 266,56 (628,89) 77,57 (43,64) 72,00 (29,50) 5,57 (31,96) 286,59 (116,71) 244,31 (89,32) 42,28 (93,26) Lipídio (g) 63,16 (30,43) 56,03 (26,05) 7,13 (26,25) Fibra (g) * 17,56 (10,13) 14,21 (8,33) 3,35 (8,25) 681,53 (577,67) 626,37 (594,65) 55,16 (730,98) Vitamina B1 (mg) * 2,85 (3,36) 1,68 (1,25) 1,17 (3,55) Vitamina B2 (mg) * 1,90 (1,19) 1,41 (0,74) 0,49 (1,15) Vitamina B6 (mg) 1,40 (0,80) 1,28 (0,83) 0,12 (0,71) Ácido fólico (mcg) * 194,58 (107,82) 135,97 (77,60) 58,6 (96,43) Vitamina B12(mcg) * 3,29 (2,22) 2,32 (1,43) 0,98 (2,26) Vitamina C (mg) * 107,14 (81,34) 62,93 (47,88) 44,21 (90,37) Vitamina D (mcg) 3,10 (2,10) 3,06 (3,06) 0,03 (2,45) Vitamina E (mg) * 12,94 (6,75) 10,62 (7,57) 2,32 (7,72) Zinco (mg) 8,65 (5,85) 7,98 (4,38) 0,68 (5,26) 90,48 (51,22) 58,72 (25,88) 31,76 (53,71) 2224,46 (1043,33) 2003,57 (850,36) 220,89 (1008,04) 685,99 (364,25) 563,74 (341,61) 122,25 (345,02) Energia (Kcal) * Proteína (g) Carboidrato (g) Vitamina A (ER) Selênio (mcg) * Sódio (mg) Cálcio (mg) * Potássio (mg) * Ferro (mg) * 2665,38 (1388,99) 2122,93 (1058,46) 14,0 (6,98) 11,97 (5,53) 542,45 (1006,21) 2,03 (5,40) ER: equivalentes de retinol *p ≤ 0,05 para o teste t pareado para as diferenças entre o QFA e a média dos três R24h 57 Tabela 3: Coeficientes de correlação de Pearson entre a média dos três R24h e o QFA e análise de concordância por Kappa ponderado e intervalo de confiança de 95% (n = 58) Coeficientes de correlação Nutriente * Concordância (IC95%) Bruto Ajustado** Deatenuado*** Energia (Kcal) 0,65 - - 0,37(0,20 – 0,53) Proteína (g) 0,67 0,59 0,62 0,43(0,27 – 0,59) Carboidrato (g) 0,61 0,59 0,61 0,27(0,09 – 0,46) Lipídio (g) 0,59 0,65 0,66 0,48(0,31 – 0,64) Fibra (g) 0,64 0,52 0,57 0,41(0,26 – 0,56) Vitamina A (ER) 0,32 0,30 0,53 0,24(0,05 – 0,44) Vitamina B1 (mg) 0,20 0,30 0,35 0,14(-0,04 – 0,33) Vitamina B2 (mg) 0,52 0,51 0,55 0,41(0,24 – 0,58) Vitamina B6 (mg) 0,53 0,52 0,59 0,36(0,18 – 0,53) Ácido fólico (mcg) 0,56 0,48 0,53 0,31(0,15 – 0,48) Vitamina B12 (mcg) 0,31 0,45 0,67 0,26(0,08 – 0,44) Vitamina C (mg) 0,27 0,14 0,44 0,07(-0,12 – 0,26) Vitamina D (mcg) 0,68 0,28 0,39 0,48(0,30 – 0,66) Vitamina E (mg) 0,55 0,53 0,57 0,31(0,13 – 0,49) Zinco (mg) 0,52 0,49 0,54 0,37(0,19 – 0,54) Selênio (mcg) 0,65 0,57 0,81 0,22(0,03 – 0,40) Sódio (mg) 0,50 0,52 0,55 0,39(0,22 – 0,57) Cálcio (mg) 0,62 0,46 0,51 0,51(0,35 – 0,68) Potássio (mg) 0,62 0,46 0,50 0,37(0,20 – 0,53) Ferro (mg) 0,61 0,57 0,60 0,42(0,26 – 0,58) ER: equivalentes de retinol * Nutrientes log transformados ** Nutrientes ajustados para energia pelo método dos resíduos *** Correlações corrigidas para a variação intrapessoal nos três R24h (deatenuados e ajustados) 58 Referências: 1. 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The US Department of Agriculture Automated Multiple-pass method reduces bias in the collection of energy intakes. Am J Clin Nutr 2008; 88: 324-32. 36. Sociedade Brasileira de Infectologia. I Consenso da Sociedade Brasileira de Infectologia para o manuseio e terapia da hepatite C, 2008. 37. Sociedade Brasileira de Hepatologia. Consenso sobre hepatite C crônica, 2014 60 7. CONCLUSÃO O presente trabalho apresentou resultados sobre a construção e validação relativa de um instrumento, o questionário de frequência alimentar, que poderá ser utilizado para medir a ingestão alimentar habitual dos pacientes coinfectados HCV/HIV. Foi possível identificar os alimentos mais consumidos por estes pacientes, visto que o padrão alimentar é muito semelhante aos hábitos alimentares da população brasileira. O consumo excessivo de alimentos ricos em açúcar merece destaque, pois reflete um comportamento alimentar de risco, predispondo os pacientes à resistência à insulina e diabetes mellitus tipo 2. O estudo sobre a construção e validação de um QFA para estes pacientes é inovador, e o instrumento validado poderá auxiliar em diversas pesquisas clínicas e epidemiológicas. Poderá ser investigada a associação da dieta habitual ou padrão alimentar a desfechos como: estado nutricional, alterações metabólicas nos pacientes em uso de TARV, uso de medicamentos, deficiências de vitaminas/minerais, progressão da doença hepática ou resposta ao tratamento para a hepatite C. O QFA construído e validado é capaz de medir a ingestão habitual de energia, carboidratos, proteínas, lipídios, fibra, vitaminas A, B2, B6, ácido fólico, B12, E, e os minerais: zinco, selênio, sódio, cálcio, potássio e ferro. As vitaminas B1, C e D tiveram suas validades comprometidas, e poderiam novamente ser testadas, considerando o aperfeiçoamento do método. 61 8. ANEXOS ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Você está sendo convidado a participar de uma pesquisa do Curso de Pósgraduação em Medicina: Hepatologia, da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, intitulada: “Construção e validação de um questionário de frequência alimentar para pacientes coinfectados pelo vírus da hepatite C e da imunodeficiência humana” como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Hepatologia. O tema escolhido se justifica pela importância de conhecer o padrão alimentar dos pacientes e associar a dieta com doenças, uso de medicamentos, deficiências nutricionais e hábitos alimentares. O presente estudo tem como objetivo principal construir e validar um questionário de frequência alimentar para pacientes coinfectados HCV e HIV, atendidos no ambulatório de Infectologia do HNSC. O trabalho está sendo realizado pela doutoranda “Anelise Fernanda Zanolla”, sob orientação da Profa. Dra. Cristiane Valle Tovo e co-orientação da Profa. Dra. Caroline Buss. Para a construção do Questionário de Frequência Alimentar (QFA) Serão realizados quatro encontros. No primeiro dia, será aplicado um questionário sobre características sócio-demográficas e clínicas. Em cada encontro, será administrado um instrumento para avaliação do consumo alimentar. Para a validação do Questionário de Frequência Alimentar (QFA) 1ª encontro: • Aplicação do questionário sobre características socioeconômicas, questionário de frequência alimentar e do primeiro recordatório 24h; 2ª encontro: • Aplicação do segundo recordatório 24h; 3ª encontro: • Aplicação do questionário de frequência alimentar e do terceiro recordatório 24h; Estes encontros serão todos realizados no Ambulatório de Infectologia, do Hospital Nossa Senhora da Conceição. . 62 O tempo que o participante dispenderá para resposta aos questionários, será de uma hora no primeiro e terceiro encontros e trinta minutos no segundo encontro. Todas as informações fornecidas serão sigilosas. Os dados obtidos serão utilizados somente para este estudo, sendo os mesmos armazenados pela pesquisadora principal durante 5 (cinco) anos e após totalmente destruídos (conforme Resolução 195/95). EU ____________________________________________, recebi as informações sobre os objetivos e a importância desta pesquisa de forma clara e concordo em participar do estudo. Declaro que também fui informado: • Da garantia de receber resposta a qualquer pergunta ou dúvida acerca dos assuntos relacionados à pesquisa; • Terei a liberdade de retirar o consentimento a qualquer momento, e deixar de participar do estudo, sem que isto traga prejuízo para a minha vida pessoal e nem para o atendimento prestado a mim. • A participação é voluntária e isenta de custos ou de qualquer outra responsabilidade. • Sobre o projeto de pesquisa e a forma como será conduzido e que em caso de dúvida ou novas perguntas poderei entrar em contato com a pesquisadora Anelise Fernanda Zanolla, telefone: (51) 9195-4062, e-mail: [email protected], ou Dra. Cristiane Valle Tovo, telefone: (51)9189-3113, e-mail: [email protected]. • Também que, se houverem dúvidas quanto a questões éticas poderei entrar em contato com Daniel Demétrio Faustino da Silva, Coordenador Geral do Comitê de Ética em Pesquisa do GHC pelo telefone 3357-2407, endereço Av. Francisco Trein 596, 3° andar, Bloco H, sala 11. Declaro que recebi cópia deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, ficando outra via com a pesquisadora. Porto Alegre, ____ de ____________ de 20____. Nome do entrevistado: ________________________________________ Assinatura do entrevistado:____________________________________ Nome da Pesquisadora: Anelise Fernanda Zanolla Assinatura da Pesquisadora: ___________________________________ 63 ANEXO B – RECORDATÓRIO ALIMENTAR DE 24 HORAS N° do questionário/nome paciente: ________________ Data: ____N° recordatório: ____ Dia atípico: (1) Sim (2) Não Recordatório de 24 horas Café da manhã - Local: __________________ horário: __ __:__ __ Lanche da manhã - Local: __________________ horário: __ __:__ __ Almoço - Local: __________________ horário: __ __:__ __ Lanche da tarde - Local: __________________ horário: __ __:__ __ Jantar - Local: __________________ horário: __ __:__ __ Lanche da noite - Local: __________________ horário: __ __:__ __ 64 ANEXO C – QUESTIONÁRIO DE FREQUÊNCIA ALIMENTAR Quantas vezes o Sr(a) consumiu este item alimentar, no último mês? Alimento/Frequência/ Porção foto Arroz branco, carreteiro Polenta, canjica, milho verde Pão branco Pão integral Iogurte tradicional Leite desnatado/ semi-desnatado Leite integral/ leite integral em pó Queijos amarelos (mussarela, lanche, colonial) Café Chimarrão e chás Refrigerante normal Suco artificial em pó Suco de fruta natural Suco industrializado de caixinha Cachaça Feijão, feijoada, lentilha Frango assado, cozido ou grelhado Frango frito Carne bovina (assada, ensopada, moída, cozida) Carne bovina frita Carne suína (assada ou grelhada) Carne suína frita Lingüiça, salsichão, salsicha Peixe grelhado Peixe frito Ovo cozido/omelete Ovo frito Mortadela, presunto, salame Alface, agrião, radite, rúcula Tomate Repolho Abóbora/cenoura Beterraba Couve (crua, refogada, cozida) Outras verduras e legumes (couveflor, pepino, cebola, berinjela, brócolis, chuchu, abobrinha, broto, espinafre, salsão, vagem Chocolate/paçoca Açúcar refinado/cristal Chimia/geléia/doce de leite/ leite condensado Achocolatado em pó 2 ou mais x/ dia 1 x/ dia 5a6 x/ sem 2a4 x/ sem 1 x/ sem 2a3 x/ mês 1 x/ mês Nunca Porção foto 65 Merengue/maria mole Pudim/mousse/chico balanceado/mil folhas Sagu Arroz de leite Banana Laranja/bergamota/abacaxi Abacate Maçã/pêssego Outras frutas Batata cozida ou assada/ salada de batata Batata frita Aipim Margarina/manteiga Margarina light Molho de tomate Molho branco Nata Óleo (tempero de salada) Salgados fritos Salgadinhos tipo chips Bolosrecheadospanetone Bolo sem recheio Bolo frito Cachorro-quente Xis Biscoito doce recheado Biscoito sem recheio (doce ou salgado) Massa (com molho ou sem molho) Outras massas (panqueca/lasanha ou outros) Macarrão instantâneo Sopa caseira Estrogofe Patê Pinhão Amendoim Pizza