ID: 48160420 11-06-2013 Tiragem: 17400 Pág: 14 País: Portugal Cores: Preto e Branco Period.: Diária Área: 16,63 x 16,19 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 1 de 1 OPINIÃO Simão Arouca Professor Assistente na Nova School Of Business and Economics Democracia: uma questão de incentivos A verdadeira representatividade está na base da democracia: não só responsabiliza os políticos perante aqueles que os elegeram, como traz mais pessoas às urnas. Num momento em que várias alterações estruturais são prementes, não é descabido questionar o atual sistema eleitoral face a alternativas que melhor alinhariam os incentivos de votantes e decisores. Em discussão apresentam-se dois conceitos distintos. Por um lado, o método instituído de representação proporcional prevê que todos os partidos que concorram a eleições apresentem uma lista de candidatos a deputado, sendo os lugares na assembleia atribuídos de acordo com o número de votos obtidos (após o ajustamento matemático de Hondt). Alternativamente, num sistema de votação baseado em círculos uninominais, cada concelhia eleitoral escolhe diretamente o seu representante. A efetiva prestação de contas perante o eleitorado separa estas duas noções. De facto, o esquema de representação proporcional não só tende a promover a disciplina de voto partidária, como permite a substituibilidade ilimitada dos deputados. Poder-se-ia contra-argumentar que a alternativa sugerida privilegia um regime dual centrado nos dois maiores partidos, algo em linha com a tradição anglosaxónica. No entanto, esta marginalização dos pequenos movimentos políticos pode ser sobrecompensada por um potencial Preservar e reforçar a democracia, sobretudo num contexto de crise, é essencial. Uma reforma do sistema eleitoral providenciaria os incentivos corretos aumento no debate interno: às perdas em termos de diversidade de opinião opõemse os ganhos de uma discussão mais focada associada à mais alta probabilidade de obtenção de consensos. Mais ainda, é importante notar duas outras vantagens associadas ao sistema de círculos uninominais. Em primeiro lugar, balanceia de forma eficaz os interesses locais já que estes, pela sua pluralidade, tenderão a cancelar-se (por oposição à presente situação onde o poder de lobby das regiões autónomas não enfrenta contraposto). Em segundo, permite o aparecimento de candidaturas independentes, um fenómeno inviável no quadro atual. Naturalmente, o sistema aqui defendido apresenta limitações que vão de problemas práticos, como, por exemplo, a definição geográfica dos próprios círculos, a questões éticas, entre as quais a possibilidade de a um governo maioritário não corresponder a maioria dos votos. Porém, é crível que os benefícios antes mencionados acabarão por prevalecer. Preservar e reforçar a democracia, sobretudo num contexto de crise, é essencial. Uma reforma do sistema eleitoral providenciaria os incentivos corretos. Simão Arouca integra o Nova Economics Club, um clube criado pelos estudantes de Economia desta Escola para apreciar o Memorandum da Troika e a maneira como está a ser aplicado em Portugal. É formado em Economia pela Nova SBE, tendo concluído quer a licenciatura, quer o mestrado com uma média final de 18 valores. As suas áreas de interesse académico são a econometria e, sobretudo, a macroeconomia.