CELEBRAÇÃO DO 3º. DOMINGO DA QUARESMA
08 de MARÇO DE 2015
“Destruí este templo, e
em três dias eu o
levantarei!”
(Jo 2,19)
Leituras: Êxodo 20, 1-17 ou abreviado Êxodo 20, 1-2.7-8.12-17; Salmo 18 (19b), 8.9.10.11 (R. Jo 6, 68c);
Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios 1, 22-25; e João 2, 13-25.
COR LITÚRGICA: ROXA
Animador: Nesta páscoa semanal encontramos Jesus no Templo, onde testemunhamos o seu gesto de
indignação. Recebemos Dele a proposta de um verdadeiro culto no templo de seu corpo glorificado. Como
batizados, temos que acolher e assumir esse compromisso. E será nossa vivência em comunidade que nos
ajudará neste compromisso.
1. Situando-nos brevemente
Chegamos ao terceiro domingo da Quaresma, o domingo da expulsão dos vendilhões do templo. Somos
convidados a viver o mistério da restauração do ser humano em Cristo a partir do símbolo do templo (Cf.
Jo 2, 13-25). Também para Jesus, como bom judeu, o templo de Jerusalém constituía um lugar sagrado,
devotado a Deus. Desrespeitá-lo significava desrespeitar o próprio Deus, pois templo significa a presença
de Deus entre os seres humanos, lugar onde habita Deus.
Comparando com os outros evangelistas (Mt 21, 12-17; Mc 11, 15-17; Lc 19, 45-46), percebemos que João
dá um sentido diferente à purificação do templo antecipando-a e carregando-a de sentido simbólico
referindo-o à morte e ressurreição de Jesus.
Jesus se escandaliza com a decadência do culto e mostra que a verdadeira habitação de Deus entre os
seres humanos é ele mesmo, o seu corpo ressuscitado, que é o novo templo. Assim, quem desrespeita o
templo está desrespeitando a sua pessoa, o próprio Deus e toda pessoa humana chamada a ser templo de
Deus (Cf. 1Cor 6,19). Doravante, o culto estará ligado a Jesus, o verdadeiro templo (Jo 1, 14; 1, 51; 4, 2024). Jesus profetiza sobre uma prática religiosa ligada à justiça e à realização plena do seu Reino, e anuncia
sua ressurreição.
Conforme a tradição dos profetas (Cf. Zc 14,21), a prática da religião, o culto, só são verdadeiros se
promoverem a vida e a liberdade de cada uma e de todas as pessoas. Com o gesto da expulsão dos
vendilhões do templo, Jesus inaugura o tempo messiânico, no qual o culto estará plenamente isento da
exploração do povo. E ele toca o sistema econômico do templo, com seu enorme afluxo de dinheiro, no
qual havia a exploração dos ricos sobre os empobrecidos.
A Igreja no Brasil almeja, com a Campanha da Fraternidade 2015, em expressão social de sua caminhada
espiritual e durante o período quaresmal, iluminar as condições do povo brasileiro constituído por diversos
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vínculos culturais, políticos e étnicos. A fim de que este, fiel à sua vocação, alcance sua realização como
sociedade firmada nos valores universais éticos do bem comum, da justiça e da fraternidade. Tais valores
coincidem com os valores do Reino e se opõem a qualquer tipo de exploração.
2. Recordando a Palavra
O texto do livro do Êxodo 20, 1-17, proclamado neste terceiro domingo da Quaresma, se enquadra no
contexto da Aliança que Deus sela com seu povo. O grande gesto de salvação de Deus é a libertação do
povo da escravidão.
Mas, para ser um povo verdadeiramente livre e feliz, Deus lhe dá os mandamentos, que não são um peso,
não cerceiam a liberdade, mas dão segurança e garantem a felicidade. A Aliança é um pacto: por parte de
Deus, a libertação da escravidão do Egito; por parte do povo, a lei de Deus.
No centro do decálogo (dez palavras) está a defesa da vida. O espírito sagrado dos mandamentos está no
versículo 2: devem possibilitar a experiência de Deus como presença libertadora e protetora da vida. A lei
dos dez mandamentos indica o caminho que o povo deve percorrer desde a “casa da escravidão” até à
plena liberdade junto a Deus.
Os dez preceitos são breves e gerais, repartidos em deveres para com Deus e para com o próximo, em
forma negativa e positiva. Embora breve e seletiva, a série abrange um campo amplíssimo de conduta.
Deus exige do ser humano que este o respeite e ao próximo. Os mandamentos se contrapõem às
opressões sofridas pelo povo no Egito, onde, em nome do deus do faraó, se justifica todo tipo de opressão.
O Salmo 18 (19) canta a perfeição da Palavra criadora. Assim como existe ordem natural na criação,
também deverá existir harmonia na ordem humana, o que acontecerá pela observância dos perfeitos de
Deus, que escutamos na primeira leitura.
Na segunda leitura (1Cor 1, 22-25), o sinal da Aliança não é mais o sangue dos cordeiros (cf. Ex 24), mas o
sangue de Cristo, que sela a nova Aliança entre Deus e a humanidade. No anúncio cristão, o evento pascal
não é mais a libertação do Egito, mas o Cristo crucificado. A salvação é agora obtida mediante a fé no
acontecimento da cruz, poder e sabedoria de Deus, porque são capazes de dar a salvação.
De fato, a cruz, cerne da pregação de Paulo, parece uma verdadeira loucura, sinal de fraqueza e caminho
de perdição. Mas Deus a transformou em sabedoria, sinal de força e caminho de salvação, porque
alicerçada no amor.
No Evangelho (Jo 2,13-25), lemos que Jesus expulsou os comerciantes do templo e derrubou a mesa dos
cambistas. Observando a composição do Evangelho de João, não se pode omitir uma referência ao lugar
que nele ocupam as festas judaicas. Em torno destas festas se cristalizam certos conjuntos. O ponto de
vista do evangelista é mostrar que todas as festas do templo encontram sua plenitude no Cristo, cujo
corpo é, doravante, o único templo (Cf. 2,21). Não se pode colocar remendo novo em pano velho (Cf. Mc
2,21).
Isso é evidente desde a primeira subida de Jesus a Jerusalém nas proximidades da Páscoa (Cf. 2,13). Jesus
explica não só (como nos sinóticos) os cambistas e os vendedores de pombas, mas também bois e ovelhas
(Cf. 2,14). Ora, bois e ovelhas eram vítimas pascais (Cf. Dt 16,2). A insistência do evangelista, que repete no
versículo 15: “com suas ovelhas e seus bois”, deseja sublinhar que as vítimas destinadas à Páscoa foram
expulsas. É sinal de que virtualmente a Páscoa judaica fica abolida.
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Vale notar que a expulsão dos vendilhões do templo, que em João situa-se no início do ministério público
de Jesus (próxima a uma festa de Páscoa), é colocada pelos sinóticos após a entrada messiânica de Jesus
em Jerusalém.
Segundo João, a ruptura, com as autoridades do templo tem lugar no começo de sua vida pública. Nos
sinóticos, este gesto, no final de seu ministério, faria transbordar um cálice já cheio: a hostilidade dos
chefes judeus contra Jesus.
Voltemos à questão do templo. Trata-se do conflito entre o templo antigo, feito de pedra com seus muitos
sacrifícios de animais, e o templo novo que é Jesus, presente nas comunidades. O templo antigo ficava em
Jerusalém. Era um só para todos! Deus ficava longe. Mas o povo fazia romarias para visitá-lo e sentir a sua
presença. Jesus, o novo templo, está presente em cada comunidade, em toda parte. Ele faz Deus ficar bem
perto de nós.
Jesus vai ao templo para encontrar o Pai, e encontra o comércio. Encontramos aqui um contraste entre o
antigo templo, que se transformou em casa de comércio, e o novo templo que é Jesus. Observando o que
passava no templo, Jesus faz um chicote de cordas e de lá expulsa os vendedores com seus animais.
Derruba as mesas dos cambistas, joga o dinheiro no chão e diz aos vendedores de pombas: “Tirai isso
daqui! Não façais da casa do meu Pai uma casa de comércio” (Jo 2,16).
O gesto e as palavras de Jesus lembram várias profecias; a casa de Deus não pode ser transformada em
covil de ladrões (Cf. Jr 7,11); no futuro não haverá mais vendedor na casa de Deus (Cf. Zc 14,21); a casa de
Deus deve ser uma casa de oração para todos os povos (Cf. Is 56,7).
Vendo o gesto de Jesus, os discípulos foram lembrados outras frases e fatos do Primeiro Testamento: “O
Zelo de tua casa me devora” (Sl 68,10), e o profeta Elias que dizia: “Eu me consumo de zelo pela casa de
Deus” (1Rs 19,10).
Tocando no templo, Jesus tocava no fundamento da religião do seu povo. Os judeus, isto é, os líderes,
perceberam que ele tinha agido com grande autoridade. Por isso, pedem que apresente as credenciais:
“Que sinal nos mostras para agir assim?” (Jo 2,18). Jesus responde: “Destruí este templo, e em três dias eu
o levantarei” (Jo 2,19). Jesus falava do templo do seu corpo, que seria destruído pelos judeus e em três
dias seria totalmente renovado por meio da ressurreição.
Os judeus tomaram as palavras de Jesus ao pé da letra e zombaram dele: “Quarenta e seis anos foram
precisos para a construção deste santuário e tu levantarás em três dias?” (Jo 2,20).
Os discípulos também não entenderam o significado desta palavra de Jesus. Só depois da ressurreição foi
que eles se deram conta de que ele estava falando do templo do seu corpo (Cf. Jo 2,22). A compreensão
das coisas de Deus só acontece aos poucos, em etapas.
A expulsão dos comerciantes tinha ajudado a entender as profecias do Primeiro Testamento. Agora, é a luz
da ressurreição que ajuda a entender as palavras do próprio Jesus. O Ressuscitado é o novo templo onde
Deus se faz presente no meio da comunidade.
Naqueles dias da festa da Páscoa, estando Jesus em Jerusalém, muita gente começou a crer nele por causa
dos sinais que ele fazia. João comenta que a fé da maioria destas pessoas era superficial e Jesus não lhes
dava crédito, pois conhecia o seu humano por dentro (Cf. Jo 2,23-25).
3. Atualizando a Palavra
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O Código da Aliança (Ex 19-24) trata de leis. Nele estão os dez mandamentos. O que podemos aprender
destas leis? Afinal, qual o ideal que o decálogo queria realizar? Qual a posição que ele tomava nos conflitos
daquele tempo: defendia o interesse dos pequenos ou dos grandes? Como animava a fé do povo?
O Decálogo privilegia a vida, propondo-a como valor ímpar. Há estudiosos que aponta o quinto
mandamento como o eixo das dez palavras: “matarás” (20,12). Podemos, pois, concluir que o espírito
sagrado dos mandamentos está no versículo 2: a experiência de Deus como presença libertadora e
protetora da vida.
Por meio da Aliança expressa nos mandamentos, o povo prometera amar e servir a Deus. Mas caiu em um
legalismo estéril. Jesus veio comunicar à humanidade o verdadeiro espírito da lei, uma lei que sustentasse
a pessoa humana: é a lei do amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Na vida
prática de cada dia, o que fazer para que Deus ocupe, de fato, o primeiro lugar? Em que podemos
contribuir para promover a vida do irmão, da irmã, especialmente dos excluídos?
A lei do amor passa pela loucura da cruz (segunda leitura). Os judeus exigiam uma religião de sinais
prodigiosos para acreditar. Em outras palavras, uma religião sem riscos. Os gregos procuravam sabedoria
(1Cor 1,22), ou seja, uma religião que não se encarna jamais, puramente racional. Jesus escolheu o
caminho da cruz, que é símbolo do fracasso, da fraqueza, da vergonha e da maldição, mas ao mesmo
tempo é símbolo da encarnação do Filho de Deus em nossa realidade mais concreta.
Morrendo na cruz, Jesus nos libertou. Ele é a revelação máxima do projeto do amor de Deus. Paulo ajudanos, pois, a descobrir a verdadeira religião. Como encarnar a religião, a nossa vida de discípulos de Cristo,
na realidade concreta do povo pobre e crucificado? Relendo o Evangelho deste domingo, concluímos,
como as comunidades que viveram depois do ano 70 d.C., quando o templo fora destruído, que o templo
de Jerusalém estava ultrapassado. A glória de Deus não habitava mais aquele espaço.
As comunidades de João foram as que mais avançaram nesta reflexão. Elas concluíram que em Jesus,
Palavra de Deus feita carne, reside a glória de Deus (Cf. Jo 1,14). O corpo de Jesus, ou seja, a sua realidade
humana, é o local em que habita a plenitude da divindade (Cf. Jo, 2, 21-22). O que o Pai quer são os
verdadeiros adoradores, aquelas pessoas que manifestam Deus em suas vidas por meio do amor ao
próximo.
Estas são as que adoram “em espírito e verdade” (Jo 4,23). O verdadeiro templo de Deus é a comunidade,
onde as pessoas são “as pedras vivas”, que continuamente oferecem a Deus o autêntico sacrifício
espiritual (Cf. 1Pd 2, 4-5), que não consta de prática a cumprir em determinados momentos. Percebemos a
diferença entre o legalismo condenado por Jesus e a lei do amor que liberta?
4. Ligando a Palavra com ação litúrgica
Cristo Jesus, fiel ao único mandamento de realizar a vontade do Pai, não se apegou ciosamente à sua vida,
mas a deu em serviço de amor infinito a seus irmãos. Celebrando a Páscoa de Jesus na Eucaristia nos
dispomos a ligar fé e vida, culto e justiça, a lutar pela dignidade humana e a colaborar com a realização
plena do Reino.
O espaço da verdadeira adoração de Deus não será mais o templo de Jerusalém, comprometido com os
poderes do mundo, mas o templo do corpo de Jesus martirizado e glorificado. Este corpo nos é sempre de
novo entregue todas as vezes que comemos do pão e bebemos do cálice, anunciando a morte do Senhor
até que ele venha (Cf. 1Cor 11,26). A Eucaristia que celebramos é memória da morte de Jesus como dom
de vida para a humanidade.
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Comungando o pão eucarístico, selamos nossa aliança pessoal com Deus, no corpo e sangue, no sacrifício
de Jesus Cristo. Esse nosso pacto com Deus não pode ser um rito vazio; precisa comprometer toda a nossa
vida, para que o sangue do Filho de Deus não seja derramado em vão. A nossa fé supõe a coragem de ser
vivenciada integralmente na nossa vida, de se transformar em culto perfeito, agradável a Deus.
Esforcemo-nos, em especial nesta Quaresma, para que a nossa prática religiosa seja baseada na justiça;
que a liturgia que celebramos nos dê novo ânimo na construção da paz e de um mundo sem excluídos.
Oração dos fiéis:
Presidente: Viver a Quaresma é descobrir o rosto de Cristo no próximo, onde Ele sempre está. Não há
exceção: cada e toda pessoa é templo vivo de Deus. Que nossa humilde oração possa chegar ao coração do
Pai. (Rezar a oração todos juntos)
Oração da CF 2015
1. Ó Pai, alegria e esperança de vosso povo, vós conduzis a Igreja, servidora da vida, nos caminhos da
história.
2. A exemplo de Jesus Cristo e ouvindo sua palavra que chama à conversão, seja vossa Igreja testemunha
viva de fraternidade e de liberdade, de justiça e de paz.
1. Enviai o vosso Espírito da Verdade para que a sociedade se abra à aurora de um mundo justo e solidário,
sinal do Reino que há de vir.
2. Por Cristo Senhor Nosso
Todos: Amém
III. LITURGIA EUCARÍSTICA
ORAÇÃO SOBRE AS OFERENDAS:
Presidente: Ó Deus de bondade, concedei-nos por este sacrifício que, pedindo perdão de nossos pecados,
saibamos perdoar a nossos semelhantes. Por Cristo, nosso Senhor. Todos: Amém.
ORAÇÃO APÓS A COMUNHÃO:
Presidente: Ó Deus, tendo recebido o penhor do vosso mistério celeste, e já saciados na terra com o pão
do céu, nós vos pedimos a graça de manifestar em nossa vida o que o sacramento realizou em nós. Por
Cristo, nosso Senhor. Todos: Amém.
BÊNÇÃO E DESPEDIDA:
Presidente: O Senhor esteja convosco.
Todos: Ele está no meio de nós.
Presidente: Deus que manifesta sua misericórdia oferecendo seus preceitos como luz para a vida, conceda
a todos, a graça de acolher a Salvação da Cruz redentora de seu Filho, cultivando a vida interior,
fortalecendo a Aliança com vocês e vivendo de modo coerente o Evangelho. Por Cristo, nosso Senhor.
Presidente: (Dá a bênção).
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“Destruí este templo, e em três dias eu o levantarei!” (Jo 2,19)