DESPERTANDO PARA A PRODUÇÃO INTELECTUAL: A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA CIENTÍFICA ELVINA MARIA DE SOUSA BARBOSA* JOELSON RAMOS* * MARIA DO SOCORRO S. CIRÍACO* Resumo O presente trabalho pretende apresentar a importância da produção científica para a vida acadêmica e profissional, buscando despertar no aluno o interesse pela pesquisa científica. Trata-se de pesquisa bibliográfica, abordando desde os motivos para iniciar a produção científica, como deve ser a produção científica na vida universitária, passando por uma breve descrição dos tipos de trabalhos acadêmicos, os agentes fomentadores da pesquisa e noções dos benefícios que o estudante-pesquisador terá com esta atividade. Palavras-chave: Produção científica. Pesquisa. Metodologia. * Alunos do quarto bloco do curso de graduação em Biblioteconomia da Universidade Estadual do Piauí – UESPI. [email protected]; [email protected]; [email protected]. 2 1 SOBRE A PESQUISA CIENTÍFICA A importância da produção científica para a vida acadêmica e profissional será abordada a partir de pesquisa bibliográfica, iniciando-se com os conceitos básicos para os termos: lógica, metodologia, lógica científica e produção científica. Para chegarmos ao entendimento desses conceitos realizamos pesquisa nos textos de teóricos como Severino, Lakatos, Bagno, Stern e Volpato, e concluímos que: • A lógica é uma ciência que tem como objeto de estudo as relações de coerência entre o pensamento e o discurso. Utilizando-se de regras e princípios pré-estabelecidos, procura fazer a distinção entre argumentos válidos ou não, buscando o uso formal da verdade e do pensamento coerente. • Metodologia é conjunto de métodos e técnicas utilizados para a realização de uma pesquisa, é o uso de diferentes ferramentas e meios pelos quais os pesquisadores desenvolvem raciocínios, teorias, hipóteses. • A lógica científica une esses dois conceitos, traduzindo o estudo das relações de coerência entre o pensamento e o discurso através da utilização de ferramentas (métodos) que levarão ao desenvolvimento de novas descobertas e teorias. Implica, pois, a discussão dos estudos científicos, das pesquisas e métodos elaborados nos diversos campos do conhecimento. • Produção científica compreende a produção intelectual, científica e acadêmica do pesquisador, demonstrando sua evolução e especialização na área de estudo. Começar uma vida de produção científica e intelectual exige a tomada de atitudes como perseverança, disciplina e muita curiosidade sobre o objeto de estudo. Para Salomon (2004, p.301), a evolução dessa vida científica tem início com o estágio leigo, evoluindo para os estágios de trabalhador intelectual até converter-se em pesquisador e, finalmente, autor. Cada estágio tem suas características, sendo o LEIGO o que identifica aquele que pretende tornar-se pesquisador/produtor científico iniciando seus estudos e pesquisas. Em seguida teremos os seguintes estágios: 3 • TRABALHADOR INTELECTUAL: Neste estágio o estudante deve adquirir hábitos de estudos, de leitura e de registros (documentação pessoal). • PESQUISADOR: Nesta fase é importante munir-se de material teórico, através de fontes de pesquisas amplas e fidedignas (referencial teórico). • AUTOR: Etapa em que os resultados do estudo e da pesquisa deverão ser divulgados para chegar ao conhecimento da comunidade científica e assim, serem validados pelos demais pesquisadores. Um modelo de lógica científica muito utilizado é o que atua de acordo com o princípio conhecido como Navalha de Occam (STERN, 2009), segundo o qual “pluralidade não deve ser colocada sem necessidade”, também conhecido como princípio da parcimônia: “a explicação mais simples é a melhor” ou “não multiplique hipóteses desnecessariamente”. Ou seja, o conceito mais simples, a conclusão mais provável, é a melhor escolha. Não se deve dizer nada além do necessário. Em todos os estudos e pesquisas o que deve prevalecer é a coerência. Partindo do simples para o complexo, o pesquisador deverá ser capaz de fazer conclusões de fácil interpretação e entendimento, pois afirmações não comprovadas levam ao descrédito de quem as formulou. Nos estudos, registros, pesquisas e divulgações científicas é importante que o estudioso se certifique da correta aplicação dos métodos e teorias abordados, a fim de manter a integridade e fidelidade dos dados a serem apresentados. Volpato (2006, p.74) ao falar da importância da veracidade dos fatos nos relatos científicos, cita o físico Max Planck que dizia “o cientista não é o mais honesto dos homens, mas a ciência dá um grande prêmio à honestidade”. Volpato também afirma que (Ibid., p.11) “p que torna uma história verdadeira não é a forma como é contada, mas sim os fatos e as relações que a compõem”. Esta afirmação traduz uma preocupação que todo pesquisador deve ter consigo em cada atividade de sua vida profissional: na elaboração de um trabalho científico deve-se relatar fielmente o processo realizado, mesmo que seja preciso reconsiderar o propósito inicial da pesquisa, reformulando a própria conclusão. 4 2 INICIANDO A PRODUÇAO CIENTÍFICA Para Perini (1996, apud BAGNO, 2007, p.9) “as habilidades de raciocínio, observação, formulação e testagem de hipóteses [...] são um pré-requisitos à formação de indivíduos capazes de aprender por si mesmos, criticar o que aprendem e criar conhecimento novo”. A pesquisa científica é uma investigação feita com o objetivo expresso de obter conhecimento específico e estruturado sobre um determinado tema. O pesquisador deve ter como foco de análise um objeto ou assunto bem delimitado, concentrando todo seu esforço na solução do problema proposto. Diariamente todos nós realizamos pesquisas das mais variadas formas, sem nos darmos conta de que o fazemos, por exemplo: • Ler o manual de instruções de um DVD; • Ler a bula de um remédio buscando seus efeitos colaterais; • Andar de loja em loja procurando o melhor presente para um amigo; • Executar uma receita de bolo, separando os ingredientes; • Buscar o significado de uma palavra desconhecida em um dicionário. No entanto, a pesquisa científica vai além dessa rotina despercebida. Ela tem um propósito e segue uma estrutura pré-definida para que tenha seus resultados validados. A pesquisa científica é o fundamento de toda e qualquer ciência. A principal maneira de conferir se um estudo ou trabalho foi motivo de pesquisa é verificar se ela provocou avanços, pois conforme Bagno (2007, p.18) “se não houve avanços é porque não houve pesquisa - e se não houve pesquisa é porque não é ciência”. Ele cita como exemplo uma consulta aos livros de Ciências de ontem e de hoje. Rapidamente poderemos confirmar que muitas descobertas foram reveladas ao longo do tempo, comprovando que pesquisas na área foram realizadas e validadas. O grau de desenvolvimento de um país também é revelado pela sua representação junto à comunidade científica mundial, pois acompanha a preocupação e comprometimento dos governos com o crescimento científico e tecnológico da nação. Por esta razão toda pesquisa deve ter por objetivo principal a divulgação de seus resultados junto à comunidade científica, uma vez que os índices de publicação científica são fatores determinantes tanto para o crescimento do país 5 como para o próprio pesquisador. Em matéria divulgada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) em sua edição número 160 (junho/2009), sobre o crescimento da produção científica brasileira, o Brasil aparece em 13.º lugar no ranking da Web of Science 2008 (um conjunto de base de dados mundial), à frente da Holanda e da Rússia. Isto significa que pesquisas estão sendo publicadas e, principalmente, estão sendo vistas em todo o mundo. 3 COMO, POR QUE E PARA QUÊ FAZER PESQUISA CIENTÍFICA Conforme visto anteriormente, fazer pesquisa científica é de primordial importância para o crescimento e desenvolvimento de um país e da ciência. Para o aluno, universitário ou não, calouro ou veterano, o ato de iniciar uma pesquisa parece, num primeiro momento, precipitado e, às vezes, distante de sua realidade. Grande parte dos estudantes desconhece as possibilidades e o caminho para fazer pesquisa. Limitam-se, quando muito, a realizar trabalhos escolares superficiais, achando que somente quando estiverem formados deverão tomar atitudes mais amadurecidas em relação ao aprofundamento dos seus estudos. Isto se deve ao fato de que boa parte do corpo docente, em especial dos ensinos fundamental e médio, também desconhece estas possibilidades, limitando-se a cumprir sua carga horária nas escolas. Iniciar uma pesquisa científica, seja no ensino médio, seja na universidade, levará o estudante ao amadurecimento de suas idéias e conceitos, estimulará sua criticidade e promoverá uma maior responsabilidade do mesmo com relação ao seu ambiente e com o mundo. O estudante será conduzido a levantar hipóteses, a formular idéias, a questionar, a testar teorias e a criar suas próprias conclusões. Por fim, ele será levado a querer divulgar o que está sendo feito, pois, um dos grandes estímulos para o pesquisador é o reconhecimento por parte de outros estudiosos. Ao iniciar um trabalho científico o estudante inicia uma nova etapa em sua vida profissional. A partir daí ele estará sendo observado pela comunidade acadêmica e científica e seu desempenho será avaliado. Este é um dos fatores motivacionais para o início de uma pesquisa científica. À medida que está sendo observado e avaliado, o estudante-pesquisador terá o reconhecimento pelo seu 6 trabalho e, com isto, crescerão suas chances de obter sucesso no mercado de trabalho. Para iniciar-se na vida de pesquisador, o estudante deve seguir alguns passos básicos: 1. Identificar e buscar informações sobre a área com a qual tenha maior afinidade, pois dificilmente se consegue ir adiante estudando algo que não se gosta. 2. Conhecer os órgãos de fomento à pesquisa ligados às universidades, fundações públicas e privadas e os diversos programas de incentivo à pesquisa, mantidos por órgãos federais, estaduais e municipais e também empresas privadas. Por exemplo: FINEP, CNPq, Fundações Estaduais de Pesquisa (Fapepi, Fapesp, Fapese, Fapeam), Fundação Ford, Banco Santander, Banco Itaú, etc. Esses órgãos destinam recursos para pesquisas através de editais divulgados nos seus respectivos sites. 3. Fazer contato com os professores-pesquisadores das instituições de ensino e nas áreas em que esteja interessado em aprofundar seus estudos. Para esse primeiro contato é importante conhecer antecipadamente as linhas de pesquisas do pesquisador (verificar no Currículo Lattes do mesmo) para então apresentar-se e tentar uma indicação em projeto por ele coordenado. Não é tarefa fácil, pois a maioria dos pesquisadores já possui uma espécie de “banco de talentos” com alunos já familiarizados com os assuntos a serem estudados. Uma opção é iniciar como voluntário desses pesquisadores, que passarão a avaliar o interesse e produtividade do estudante e, posteriormente, poderão indicá-los para as bolsas de pesquisa e iniciação científica. A elaboração dos passos acima citados é fruto de nossa observação pessoal e de questionamentos feitos a alguns pesquisadores na Universidade Federal do Piauí (UFPI) e Universidade Estadual do Piauí (UESPI). Não encontramos essas informações em livros de metodologia científica, elas refletem o nosso entendimento sobre o tema, podendo não ser aplicadas à realidade de outros Estados. 7 Um dos meios para iniciar a produção científica são as bolsas oferecidas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que “é uma agência do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) destinada ao fomento da pesquisa científica e tecnológica e à formação de recursos humanos para a pesquisa no país.” (site do CNPq). Essas bolsas são disponibilizadas em diversas modalidades e possuem critérios específicos para solicitação. Os interessados devem consultar as normas vigentes nos editais de chamamento para concessão de bolsas, diretamente no site do CNPq. 4 A PESQUISA NA DINÂMICA DA VIDA UNIVERSITARIA Abordaremos a seguir os processos para se realizar uma pesquisa e as modalidades básicas de trabalhos científicos, independentemente da área de conhecimento em que a mesma será realizada. O processo de investigação é constituído de uma seqüência que segue as seguintes etapas: a) ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA Antes de ser realizado, um trabalho de pesquisa precisa ser planejado. O projeto é o registro deste planejamento. Para elaborar o projeto o pesquisador precisa ter bem claro o seu objeto de pesquisa, os problemas, hipóteses, elementos teóricos e etapas que pretende percorrer. Cada item deve obedecer a normas técnicas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), pois elas são indispensáveis para a avaliação do projeto. Esse tipo de trabalho pode ser feito a qualquer momento, independentemente de exigência dos professores. b) LEVANTAMENTO DAS FONTES E DOCUMENTOS A referência como técnica tem por objetivo a descrição e a classificação dos livros e documentos similares, seguindo critérios, tais como autor, gênero, conteúdo, período, etc. Todo material consultado pelo pesquisador deverá ser corretamente referenciado para servir de validação do trabalho realizado e de pesquisas para novos estudos. 8 Conforme o assunto a ser aprofundado, o pesquisador poderá fazer uso de diversas fontes de pesquisa, partindo dos principais teóricos da área e sempre procurando as informações mais atualizadas sobre o tema. Materiais podem ser consultados em bibliotecas, centros de documentação, fundações de pesquisa, entidades públicas e privadas, arquivos públicos, jornais, e muitos outros. Ao realizar pesquisas e buscar informações, o pesquisador deverá anotar em lugar apropriado a origem da informação (fichamento). Um livro, um periódico, uma revista científica e até mesmo uma conversa informal que tenha contribuído de maneira essencial ao seu trabalho, devem ser referenciados conforme as normas técnicas adequadas. O bibliotecário é o profissional capacitado a executar esta tarefa corretamente. Para os iniciantes em trabalhos científicos isto pode parecer supérfluo, mas para os avaliadores desses trabalhos e pesquisas, é uma atividade que vai demonstrar o quanto o pesquisador aprofundou e valorizou o tema e que, certamente, contribuirá na avaliação final do trabalho. A Internet enquanto fonte de pesquisa e validação de informação tornou-se indispensável para os diversos campos de conhecimento. Isto porque representa hoje um grande acervo de dados colocado à disposição de todos os interessados, e que pode ser acessado com extrema facilidade graças à sofisticação dos atuais recursos informacionais no mundo inteiro. É preciso saber garimpar. Os sites de pesquisa devem ser de interesse particular da área acadêmica, devendo o pesquisador priorizar aqueles disponibilizados ou indicados pelas próprias bibliotecas das grandes universidades e dos organismos de pesquisa e fomento, nacionais e internacionais. c) A ATIVIDADE DE PESQUISA E A PRÁTICA DA DOCUMENTAÇÃO Terminado o levantamento das fontes, é chegado o momento de se iniciar o trabalho da pesquisa propriamente dito, o momento de leitura e da coleta de dados. Antes de explorar as fontes bibliográficas o pesquisador deve ter em mãos a estrutura geral do seu trabalho, conforme anunciado no projeto. Serão essas idéias que nortearão a leitura e a pesquisa que se inicia. A primeira medida, no entanto, é operar uma triagem em todo o material recolhido durante a elaboração das referências. Nem tudo será necessariamente lido, pois nem tudo interessa devidamente ao tema a ser estudado. Deve-se iniciar 9 pelos textos mais recentes e mais gerais, indo para os mais antigos e mais particulares. d) ANÁLISE DOS DADOS E A CONSTRUÇÃO DO RACIOCÍNIO DEMONSTRATIVO Construção lógica ou síntese é a coordenação inteligente das idéias conforme as exigências racionais da sistematização própria do trabalho. Pode acontecer que devido aos desdobramentos ocorridos durante a pesquisa, alguma mudança se faça necessária para o estabelecimento do plano definitivo, pois a ordem lógica do pensamento de quem escreve pode não coincidir com a ordem de descoberta e de intuição do autor pesquisado. Nesta etapa o pesquisador deverá exercitar intensamente sua capacidade de interpretação dos dados e sua criticidade, de acordo com seu objetivo. e) A REDAÇÃO DO TEXTO Consiste na expressão literária do raciocínio desenvolvido no trabalho. Recomenda-se que a montagem do trabalho seja feita através de uma primeira redação de rascunho até chegar-se ao produto final. É imprescindível que o pesquisador conheça as normas da ABNT ou solicite o apoio de um bibliotecário, pois cada tipo de apresentação possui características e exigências próprias. Do ponto de vista da apresentação geral, um trabalho científico contém as seguintes partes, que irão variar conforme o tipo de trabalho: • Elementos pré-textuais: são elementos que antecedem o texto com informações que ajudam na sua identificação e utilização, como: título e sub-título (se houver), nome do autor, resumo na língua do autor, palavras-chave, capa, lombada, folha de rosto, listas (se houver), sumário. (NBR 6022:2003; NBR 15287:2005). • Elementos textuais: parte do trabalho em que é exposta a matéria: introdução, desenvolvimento, conclusão. (NBR 6022:2003; NBR 15287:2005). • Elementos pós-textuais: são elementos que complementam o trabalho: título, e sub-título (se houver) em língua estrangeira, resumo em língua estrangeira, palavras-chave em língua estrangeira, notas explicativas, 10 referências, glossário, apêndices, anexos. (NBR 6022:2003; NBR 15287:2005). Cada um desses elementos deve ser estudado de forma específica, em trabalho mais aprofundado e não serão abordados neste momento. O pesquisador deve ter a preocupação de consultar as diferentes normas da ABNT antes de publicar sua pesquisa. Para tanto, poderá contar com o auxílio de um profissional bibliotecário que fará a revisão de todo o aspecto normativo do trabalho, adequandoo às exigências da ABNT. AS MODALIDADES DE TRABALHOS CIENTÍFICOS Os trabalhos de natureza científica embora tenham caráter universal nas suas estruturas lógicas e metodológicas, diferenciam-se em função de seus objetivos e da natureza do objeto abordado e em função de exigências específicas de cada área do saber humano onde as várias normas de natureza técnica devem adaptar-se adequadamente. a) TRABALHO CIENTÍFICO E MONOGRAFIA De acordo com a NBR 6022:2003, artigo científico é “parte de uma publicação com autoria declarada, que apresenta e discute idéias, métodos, técnicas, processos e resultados nas diversas áreas do conhecimento”. A norma NBR 6023:2003 define monografia como sendo “item não seriado, isto é, item completo, constituído de uma só parte, ou que se pretende completar em um número preestabelecido de partes separadas”. Inferimos das leituras realizadas que monografia é o trabalho que reduz sua abordagem a um único assunto, a um único problema, com tratamento especificado, tendo como característica a unicidade e delimitação do tema. Ou seja, um artigo cientifico é também uma monografia, e ambos são formas de trabalhos exigidas durante os cursos de graduação e de pósgraduação lato sensu (especialização). 11 b) TRABALHOS DIDÁTICOS Fazem parte intrínseca da formação técnica ou científica dos estudantes e os levam a buscar, nas devidas fontes, elementos complementares àqueles adquiridos no próprio curso. É nesta fase que além de ampliar seus conhecimentos, o aluno se iniciará no método da pesquisa e da reflexão. Não se exige originalidade nestes trabalhos, o que o qualifica é o uso correto do material preexistente. Nesta categoria são incluídos os “comunicados científicos” que são trabalhos apresentados em eventos (fóruns, congressos, seminários, reuniões) e visam informar sobre o andamento de determinada pesquisa. c) TCC – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO A norma NBR 14724:2005 estabelece os critérios de informação e apresentação de trabalhos acadêmicos e define “trabalhos acadêmicos – similares (trabalho de conclusão de curso – TCC, trabalho de graduação interdisciplinar – TGI, trabalho de conclusão de curso de especialização e/ou aperfeiçoamento e outros): Documento que representa o resultado do estudo, devendo expressar conhecimento do assunto escolhido, que deve ser obrigatoriamente emanado da disciplina, módulo, estudo independente, curso, programa e outros ministrados. Deve ser feito sob a coordenação de um orientador”. (grifo do autor). Parte integrante da atividade curricular de muitos cursos de graduação, articulado ao próprio conteúdo do curso, em que o aluno formula um projeto e passa a desenvolvê-lo cumprindo um cronograma nele estabelecido de comum acordo com seu orientador. Pode ser um trabalho teórico, documental ou de campo. Também chamado de monografia, por sua natureza única e específica. d) RELATÓRIO DA PESQUISA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA Segundo a norma NBR 15287:2005, projeto de pesquisa “compreende uma das fases da pesquisa. É a descrição da sua estrutura”. O relatório da pesquisa de iniciação científica é um tipo de relatório diferenciado pelo fato de que está vinculado a uma bolsa, subsídio financeiro para que o aluno possa se dedicar mais intensamente às pesquisas e investigação. São acompanhados e avaliados por comissões especializadas. O graduando pode desenvolver um projeto pessoal, sob a supervisão de um orientador ou participar do desenvolvimento do projeto e pesquisa do próprio orientador. Neste relatório o aluno deve seguir o que foi proposto no projeto de pesquisa. 12 e) RESUMOS E RESENHAS Resumo é um trabalho de extração de idéias. Para NBR 6028:2003, resumo é a “apresentação concisa dos pontos relevantes de um documento”. Ainda segundo esta norma, o resumo pode ser crítico, também chamado de resenha. Pode ser indicativo, quando cita os pontos principais do documento, mas sem apresentar dados e também pode ser informativo, quando especifica com maiores detalhes o documento em análise. Resenha, recensão de livros ou análise bibliográfica é uma síntese ou comentário de livros publicados e são feitos em revistas especializadas das várias áreas da ciência, das artes e da filosofia. É através delas que se toma conhecimento prévio do conteúdo do livro. f) ENSAIO TEÓRICO No ensaio há maior liberdade por parte do autor, no sentido de defender determinada posição sem que tenha de se apoiar no rigoroso e objetivo aparato de documentação empírica e bibliográfica. São características desse tipo de trabalho: o rigor lógico, a coerência de argumentação, exige grande informação cultural e muita maturidade intelectual. Não se dispensa, obviamente, o uso correto das normas técnicas da ABNT. g) RELATÓRIOS TÉCNICOS DE PESQUISA Trata-se comumente de exigência institucional de quem financia bolsas ou projetos, para avaliar o andamento dos projetos financiados ou simplesmente historiar seu desenvolvimento. O relatório pode iniciar com uma retomada dos objetivos do próprio projeto, passando, em seguida, à descrição das atividades realizadas e dos resultados obtidos, devendo ser encerrado com a programação das próximas etapas da continuidade da pesquisa. Deve-se obedecer a norma NBR 15287:2005. Segundo Salomon (2004, p.253) os termos aplicados aos diferentes trabalhos acadêmicos nem sempre tiveram os nomes que têm hoje, pois essas terminologias variam conforme a época e o país. Por exemplo, a denominação “método das ciências sociais” surgiu na terceira década do século 19, passando a chamar-se “trabalho científico escrito” no século 20. 13 No contexto dessa evolução Salomon (Ibid., p.254) destaca a importância do bibliotecário e da documentação como fundamentais no processo de construção do trabalho acadêmico, enfatizando que “é possível realizar pesquisa científica [...] freqüentando apenas os centros de documentação, bibliotecas e bancos de dados” mas completa dizendo que: “...infelizmente, ainda se ensina pouco em nossos cursos superiores brasileiros ‘como se usa uma biblioteca’ e, no entanto, a documentação é a mola real de qualquer trabalho científico e da própria formação superior”. Infere-se dessa afirmação que o trabalho de pesquisa científica exige grande empenho por parte dos interessados, especificamente na coleta de dados. PARA CONSTRUIR CONHECIMENTO NOVO Segundo Salomon (2007, p. 253) o uso de novos termos para designar velhas coisas, juntamente com a reestruturação do ensino e dos sistemas de formação profissional, provocou reformas e reformulação de conceitos, abordagens e até mesmo dos rituais das solenidades de formaturas. Claro que isto também levou a uma maior projeção intelectual e profissional de quem possui os melhores títulos. Essa última é, sem dúvida, a mola propulsora e o caminho mais óbvio para quem inicia uma produção acadêmica e científica. O mundo competitivo em que vivemos exige do estudante, já nas primeiras séries, uma atitude inquisitiva, curiosa, participativa, em que a pesquisa se faz necessária e imprescindível desde aquele primeiro experimento com o grão de feijão posto em um chumaço de algodão, pelo qual todos nós um dia passamos. Para o estudante-pesquisador, ali se faz ciência e ali se inicia a jornada científica. Em qualquer das ciências, humanas ou exatas, da saúde ou da educação, existe pesquisa científica e inúmeras possibilidades de novas descobertas, bastando que se dê o passo inicial e que o estudante-pesquisador se inquiete diante dos ensinamentos básicos das grades curriculares e busque novos caminhos. 14 Waters (2006, p.75), preocupado com a falta de curiosidade e interesse da maioria dos jovens pela pesquisa, em todos os sentidos da palavra, mas, em especial, à pesquisa acadêmica, cita Benjamin Franklin, que em 1913 escreveu: Cada vez mais somos assaltados pelo seguinte sentimento: nossa juventude é nada mais que uma noite passageira... [que] será seguida pela grande “experiência”, os anos de compromisso, de empobrecimento das idéias, de falta de energia. Assim é a vida. É isso o que nos dizem os adultos, e foi isso que eles viveram... “. Na opinião de Waters alguns teóricos tentam suprimir na juventude acadêmica a expectativa de novas descobertas, temendo perderem o posto de “deuses” do saber. Nesta categoria ele cita Stanley Fish (reitor de uma conceituada universidade americana), um obcecado pela desconstrução da teoria do conhecimento que propõe a busca por novas idéias de uma forma conveniente somente à sua própria vontade de poder. Para Waters, Fish e seus seguidores temem a idéia de algo novo, que não tenha sido criação deles, fazendo diferença na vida das pessoas. O que Waters enfatiza, e o que o preocupa, é a corrida pelo status, pelo poder, em detrimento da qualidade com o que está sendo feito, pesquisado e divulgado na comunidade científica. Muitos pesquisadores estão preocupados em publicar indistintamente, sem critérios de conteúdo, inovação ou qualidade. Este é o grande perigo da vida acadêmica e do pesquisador: cair na tentação de publicar incessantemente, repetindo as mesmas idéias, os mesmos métodos, trocando apenas a posição das palavras, somente para contar pontos nas avaliações de currículo e constar em citações bibliográficas. E este é um caminho que o estudantepesquisador deve procurar evitar, pois para sobressair-se neste mundo competitivo, o que conta mais é a inovação. 15 REFERENCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6022: informação e documentação: artigo em publicação periódica científica impressa: apresentação. Rio de Janeiro: 2003. ______. NBR 6023: informação e documentação: referências: elaboração. Rio de Janeiro: 2002. ______. NBR 6028: informação e documentação: resumo: apresentação. Rio de Janeiro: 2003. ______. NBR 14724: informação e documentação: trabalhos acadêmicos: apresentação. Rio de Janeiro: 2005. ______. NBR 15287: informação apresentação. Rio de Janeiro: 2005. e documentação: projeto de pesquisa: BAGNO, Marcos. Pesquisa na escola: o que é, como se faz. 21. ed.. São Paulo: Ed. Loyola, 1998. CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO. Bolsas. Disponível em: <http://www.cnpq.br/bolsas/index.htm>. Acesso em: 16 jun. 2009. LIMA, Solimar Oliveira. Adeus, Einstein: elaboração de monografias de iniciação de pesquisas científicas. Imperatriz, MA: Solimar de Oliveira Lima, 2007. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2008. MUITO calor, pouca luz. Revista Pesquisa Fapesp. São Paulo, n. 160, jun. 2009. Disponível em: <http://www.revistapesquisa.fapesp.br/index.php?art=3871&bd=1&pg=3&lg>. Acesso em: 16 jun. 2009. SALOMON, Délcio Vieira. Como fazer uma monografia. 11. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004. SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. rev. e atual.. São Paulo: Cortez, 2007. 16 STERN, Leonardo. 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