Moagem por 10,0h Quando o pó quasicristalino é moído por 10h, ver Fig. (6.5), a intensidades da fase IQC começa a diminuir, aproximadamente, na mesma razão que a intensidade do pico da fase cristalina β (tipo CsCl) aumenta, como se pode observar na Fig. (6.6). Figura 6.5 - MEV quasicristal moído por 10h. 39 ι β ι ι − Fase IQC β − Al(Cu,Fe) Intensidade (u.a) Pt - Platina Pt 973K 773K 298K 40 42 44 46 48 2θ Figura 6.6 – DRX do pó de IQC moído por 10h tratado a 298K, 773K e 973K. O gráfico da Fig. (6.7) foi construído, para melhor se visualizar esta tendência de desaparecimento da fase IQC, com aumento da fração da fase β, nos pós moídos por 10h, quando do aumento da temperatura da amostra diante do feixe de raios-x. A fração da presença de cada fase da liga foi calculada, dividindo-se a área do pico mais intenso da fase IQC, bem como a área do pico da fase β, pela área do pico concernente ao material do porta-amostra, que foi considerada como fase de referência interna, posto que a Pt é estável, nas condições de aquisição de cada difratograma. Além disto, o pico referente ao seu plano (200), não se superpõe com nenhum dos picos das fases em análise. 40 Figura 6.7 – Curvas da fração de volume em função da temperatura, das fases IQC e β de pós moídos por 10h Observa-se claramente, através da curva referente a fase IQC, que há uma redução na quantidade desta fase, quando aumenta-se a temperatura de aquisição do difratograma. No que se refere à fase β vê-se exatamente a tendência oposta: a declividade da curva tem sinal contrário, indicando o aumento da fase β, com a conseqüente redução da fase IQC. Este resultado corrobora com o que é citado por ROSAS & PEREZ (2001) (Ver Capítulo 4.1), onde estes afirmam que a fase cúbica β Al5(Cu,Fe)5 é uma solução sólida do sistema AlCuFe e tem relação direta com a formação e decomposição da fase IQC. Moagem por 20h No caso do pó moído por 20h, as partículas atingem tamanhos inferiores a ~ 800nm, como mostrado na Fig. (6.8). Observam-se igualmente nesta foto que as partículas do pó têm larga distribuição de tamanho, e apresentam tendência a aglomeração. 41 Figura 6.8 – MEV pós moídos por 20h Neste caso a transformação da fase IQC em fase β é logo evidenciada, à temperatura ambiente, imediatamente após a moagem. Na Fig. (6.9) observa-se que, à medida que a temperatura aumenta a fase IQC vai se decompondo, e a 973K se torna praticamente inexistente. 42 β β − Al(Cu, Fe) Intensidade (u.a) Pt - Platina Pt 973K 773K 298K 40 42 44 46 48 2θ Figura 6.9 – DRX do pó de IQC moído por 20 h tratados a 298K, 773K e 973K. Estes resultados sugerem que a transformação da fase quasicristalina para uma fase β é um fenômeno regido pelo aumento da área específica da superfície, que conduz a uma maior razão de oxidação ou maior introdução de defeitos durante a moagem (Seção 4.3.1). Resultados similares foram observados por MUKHOPADHYAY et (2002) no Refinamento por Moagem Mecânica (RMM) de uma liga quasicristalina de AlCuCo. Segundo os autores uma fase decagonal quasicristalina transforma-se em uma fase nano-cristalina B2 (cúbica ordenada tipo CsCl) após 40h de moagem e, um tratamento posterior leva a um aumento no grau de ordenação da fase B2. Esta fase não reverte à fase DQC (Decagonal Quasicristalina), mesmo quando submetido a prolongados tratamentos térmicos. Eles argumentam que as transformações são controladas por difusão balística durante a moagem RMM e acelerada pela introdução de defeitos e surgimentos de uma grande fração de contornos de grão (Seção 4.2). Tal pressuposto leva a conclusão que a fase B2 é mais estável que a fase DQC, contradizendo o diagrama de fases ternário AlCuFe, apresentado na seção 2.3. 43 Uma explicação, mais realista para esta instabilidade, pode ser feita atribuindo-se este efeito à oxidação da partícula de IQC durante RMM. Embora a moagem tenha sido conduzida sob vácuo, a pressão parcial do oxigênio não é termodinamicamente baixa o suficiente para evitar a formação de uma fina camada de Al2O3 na superfície da partícula. BONHOMME et al. (2005) mostraram que a formação de uma fina camada de Al2O3 , na supeficie do pó, leva a mudança na composição química local através de deslocamento de Al contido no material Este deslocamento, quando muito intenso, leva ao aniquilamento da fase quasicristalino e a conseqüente transformação numa fase cristalina β (Seção 4.3). Porém, para partículas de tamanhos mais grosseiros (>10µm) a presença desta fina camada de óxido (estimada em ~ 5nm) é insignificante, quando comparado ao tamanho da partícula, e não causa nenhuma alteração, de maior significado, em sua composição química, como visto em nos pós moídos por 0.5h. No caso da moagem por 10h, o pó começa a perder estabilidade em temperaturas de 773K, pois as reações de oxidação dos metais, de uma maneira geral, são aceleradas em altas temperaturas devido a um aumento na difusão do oxigênio e aumento da difusão leva à transformação da fase quasicristalina (Seção 4.3.2). Existe um tamanho crítico de partícula, na qual a camada superficial de óxido na começa a desempenhar um papel muito importante na desestabilidade do quasicristal. Neste caso, a desestabilidade do quasicristal ocorre, mesmo à temperatura ambiente, como se pôde observar nos pós moídos por 20h (~800nm, sob as condições de moagem apresentadas na seção 5.5). A razão (Área de superfície/Volume) (A/V) é o efeito predominante, sendo o responsável pela perda da estabilidade das partículas quasicristalina (Seção 4.3.1). Este efeito prejudicial pode ser controlado através de condições de controle que evitem a formação da camada de óxido • Pós moídos - etapa 2 Os difratogramas dos pós moídos com bismuto são apresentados na Fig. (6.10). Observa-se que, mesmo quando as amostras são moídas por 20h, não sofrem desestabilização, enquanto que os mesmos pós, moídos por 20h, sem adição de bismuto, sofreram transformação, como mostrado anteriormente, na Fig. (6.9). Isto se deve, provavelmente, ao fato do bismuto formar uma camada protetora nas partículas quasicristalinas, durante e após a moagem, evitando o contato com o oxigênio, e, desta 44 forma, impedindo a sua difusão para o interior das partículas dos quasicristais, inibindo, assim, a transformação da fase QC em fase β, pela ação do oxigênio, conforme discutido no parágrafo anterior. ι − Fase IQC β − Al(Cu, Fe) • - Bismuto • • ι βι • β β ι • ι β Intensidade (u.a) ι ι • ι 20h 10h 5h 0.5h 20 40 60 80 100 2θ Figura 6.10 – DRX da influência do bismuto na moagem do pó quasicristalino. 45 Põe-se lado a lado as fotos, obtidas através do MEV, Figuras (6.11) e (6.12), dos pós moídos por 20h, com e sem bismuto, para uma melhor comparação. Pode-se verificar que a granulometria dos pós, resultantes das moagens por 20h, com e sem bismuto, não diferem de forma significativa e, desta forma, permite à conclusão de que a ação do bismuto é, predominantemente, no sentido de inibir a ação do oxigênio, melhorando a estabilidade do pó quasicristalino. Figura 6.11 – Pó moído por 20h, com Bi. Figura 6.12 – Pó moído por 20h, sem Bi 46 CAPÍTULO VII CONCLUSÕES A liga quasicristalina de composição Al62,2Cu25.5Fe12.3 e estrutura icosaedral obtida em forno a indução, foi submetida a cominuição, por moagem mecânica, a 240rpm, ambas sob atmosfera de argônio, durante 0,5h; 2,0h; 5,0h; 10,0h e 20,0h, com e sem a adição de bismuto. Os pós obtidos, em cada moagem, foram analisados quanto a sua estabilidade microestrutural através de Difração de Raios-x, com e sem aquecimento, e Microscopia Eletrônica de Varredura. A liga quasicristalina de composição Al62,2Cu25.5Fe12.3 submetida ao Refinamento por Moagem Mecânica, permanece estável, após moagem por até 0,5h, mesmo quando os pós foram aquecidos a 973K por 26min. Após a moagem por 10,0h as análises realizadas, através da difração de raios-x, revelam que a fração da fase β começa a aumentar, em detrimento da fase icosaedal, a partir de 773K, enquanto que os pós obtidos por moagem durante 20,0h, sofreram desestabilização microestrutural a temperatura ambiente. A desestabilização da liga quasicristalina de composição Al62,2Cu25.5Fe12.3 foi atribuída à oxidação da fase Icosaedral QC, ocorrida durante e/ou após a moagem, com a conseqüente transformação desta fase em uma fase β de estrutura cristalina tipo CsCl (Pm3m). As análises das imagens obtidas por MEV mostram que há uma diminuição da granulometria do pó quando aumenta o tempo de moagem, pelo menos no intervalo de tempo até 20h. A adição de bismuto, como agente de controle da oxidação, mostrou-se eficiente na moagem por até 20h. Ou seja, os pós moídos, na presença de bismuto, mantiveram estável a sua microestrutura icosaedral. Isto leva a crer que o bismuto, provavelmente, forma uma 47 camada, que protege as partículas quasicristalinas dos efeitos da oxidação, pelo menos à temperatura ambiente 48 49 REFERÊNCIAS ASAHI, N., MAKI, T., MATSUMOTO, S., SAWAI, T., 1994, "Quasicrystallization characteristics of mechanically alloyed Al65Cu20Fe15 powder”, Materials Science and engineering A, v. 181-182, pp. 841-844. BARUA, P., SRINIVAS, V., MURTY, B. S., 2000, “Synthesis of quasicrystalline phase by mechanical alloying of Al70Cu20Fe10”, Philosophical Magazine A, v. 80, pp. 1207-1217. BONASSOA, N., PIGEAT, P., ROUXELA, D., WEBER, B., 2002, “Effect of oxygen on the making of AlCuFe quasicrystalline coatings”, Thin Solid Films, v. 409, pp. 165-171. BRADLEY, A. J., GOLDSMITH, H. J., 1939, J. Inst. Met., v. 65, pp. 403-418. 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