“A manhã logo vem”: a utopia da ordem reinventada Paulo Roberto de Oliveira Santos* “Os pés criam raízes e penetram fundo o solo, as mãos se cruzam e tornam-se elos de uma corrente, os olhos ganham novo brilho e irradiam nova luz, os corações convertem a raiva em resistência. Cresce o movimento, a organização. E, do ventre da terra, germina um amanhã recriado! (Alfredo J. Gonçalves - Revista Travessia nº 3) A trajetória de luta dos sujeitos sociais, na presente pesquisa abordada, tem diversos componentes. Apesar de já existirem algumas produções acadêmicas versando sobre ela1, ao menos um dos seus aspectos ainda não mereceu grande interesse das mesmas. Assim é que, toda essa história foi na pesquisa analisada a partir de uma perspectiva onde se privilegia o conflito jurídico e legal no qual se envolveram os sujeitos sociais das ocupações. Os diversos enfrentamentos dos ocupantes aos seus opositores dentro do chamado “mundo jurídico”, aqui considerado como um dos componentes fundamentais do processo constituidor de seus modos de vida, foi o lugar a partir do qual abordou-se a sua história. Um artigo produzido por um jurista ligado ao chamado Direito Insurgente expressa resumidamente o modo de tratamento das questões legais e jurídicas presentes neste trabalho: * Bacharel em Direito e Historiador licenciado pela Universidade Federal de Uberlândia. Mestre e Doutor em História Social (História do Direito) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Este texto faz parte, com algumas modificações, de dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Estudos Pós Graduados em História da PUC/SP. É decorrente da pesquisa realizada com trabalhadores rurais sem-terra do pontal do Triângulo Mineiro, sobretudo, no município de Iturama-MG. Estes sujeitos sociais se juntaram em um grupo no ano de 1989, no então distrito de Limeira D’Oeste, sob a liderança de José Bernardo dos Santos (Zé Pretinho) e resolveram lutar por aquilo que viam como direito seu (um pedaço de chão onde construir a vida) e ocupar latifúndios improdutivos na referida região, cuja consequência mais importante foi o surgimento do assentamento da Fazenda Nova Santo Inácio-Ranchinho, no município de Campo Florido (MG), próximo à cidade de Uberaba-MG. 1 São conhecidas, ao menos, duas dissertações de mestrado, abordando a questão. A primeira é a de Rosana Vieira RAMOS, A luta pela terra como um processo educativo. O caso da Fazenda Barreiro-Iturama/MG. Dissertação de mestrado em educação (UFMG). Mimeo, 1993. A segunda é a de Luzia Marcia Resende SILVA, 1 “Así podemos hablar de tres ideas distintas de justicia según las posiciones sociales de sus portadores. Las clases dominantes apelan a la que podríamos llamar uma justicia conservadora, que es la que implica dar a cada quien lo suyo de acuerdo a lo que aquí y ahora tiene como suyo, no aceptando revisión alguna de los Derechos ya adquiridos, de lo que ya de suyo posee. Por otro lado, la idea de justicia oficial de Estado, consistente en la declaración formal de los poderes públicos de lo que es suyo de cada quien, lo cual se hace conforme a las leyes vigentes. Y por último, existe una tercera idea de la justicia, que podríamos llamar justicia que se reclama o justicia reclamada, que es la de aquellos grupos sociales o personas que lucham por el reconocimiento de Derechos, no aceptados o negados por la legislación o por la práctica de los poderes públicos y privados o por la misma práctica judicial. Esta última idea de justicia es más difícil que se exprese de manera clara y sistemática, pero resulta implícita en las diversas luchas reinvindicativas, ya que se trata muchas veces de Derechos subjetivos sabidos o intuidos.”2 A trajetória dos ocupantes de terra de Iturama, assentados em Campo Florido, foi observada nos momentos em que estes ficaram contra a “justiça conservadora”; utilizaram-se dos mecanismos processuais da “justiça oficial” e apontaram no sentido da construção de uma “justiça reclamada”. Desta forma, o contato com as fontes pesquisadas levou a um processo constante de problematização das teorias históricas e jurídicas. Nenhum pré-conceito foi colocado como ponto de partida; ao contrário, o próprio processo investigativo ia suscitando os novos problemas a serem enfrentados. Desta forma, uma questão ia levando a outra, e assim sucessivamente, demonstrando ao pesquisador o valor das experiências concretas dos sujeitos sociais com os quais tomava-se contato ao longo dos anos de 1996 e 1997, seja em Iturama(MG) ou em Campo Florido(MG). Nestes termos, foi possível perceber o quanto tiveram coragem os ocupantes de terra em Iturama, assentados em Campo Florido, ao enfrentarem os limites impostos pela legalidade e seus agentes locais. Para além da lei, arrebentando cercas de arame, transpondo as barreiras criadas pelo poder público constituído, pelo próprio Estado Democrático de Direito, Os trabalhadores em Luta pela Terra no Triângulo Mineiro: 1989/1996. Dissertação de mestrado em História (PUC/SP). Mimeo, 1996. 2 RANGEL, Jesús Antonio de la Torre. Los pobres y el uso del derecho. In Cartilha Direito Insurgente: o direito dos oprimidos. Coleção Seminários nº. 14. Rio de Janeiro, AJUP/FASE, 1990. pp. 30 e 31. 2 aqueles sujeitos sociais foram capazes de seguir na busca de condições melhores de vida. Durante o período de acampamento em Vila União, então distrito de Iturama, no mês de janeiro de 1990, os ocupantes distribuíram uma “carta aberta” à população daquele município e da região, onde deixavam claro quais eram os seus objetivos no tocante às suas ações concretas em relação àquilo que lhes parecia ser seu direito, ou seja, a justificativa de suas atitudes: “As ocupações e acampamentos são o resultado da miséria e exploração a que estão submetidos milhões de Trabalhadores Rurais, e só terão fim no dia em que todo trabalhador do campo tiver acesso à terra para plantar e viver.”3 Nesta carta eles procuram deixar claro suas intenções. Iriam continuar ocupando terras improdutivas até que fosse feita uma eficaz reforma agrária no país. Dessa forma, é preciso buscar algumas possíveis respostas para tentar compreender de onde eles tiravam tal capacidade de se oporem a valores tidos, inclusive para eles no início do movimento de ocupação, como intocáveis4. Naquela carta, mais do que objetivos imediatos, eles falam de uma utopia5 pela qual lutavam: a terra para todos. Esse era o bem em busca do qual se moviam. Já não restam dúvidas sobre o fato deste direito ainda não lhes ser realmente garantido pelo poder público e, mais ainda, a busca dele, naquela situação concreta no Pontal do Triângulo Mineiro, tida como uma afronta ao próprio ordenamento jurídico vigente. Porém suas atitudes demonstraram não se intimidarem com os limites impostos pela legalidade, pois se assim o fizessem estariam declinando da possibilidade de superar as precárias condições de vida na qual viviam naquele momento. Como em toda realidade histórica, tal atitude 3 Esta carta encontra-se anexada ao Processo Criminal 90.0200269-6 (Justiça Pública X Edivaldo Oliveira da Silva e outros) arquivado na Justiça Federal em Uberaba-MG. fls. 46. Ela foi utilizada como prova contra os ocupantes. Ver também depoimentos às fls. 154, 158 e 335. 4 Mesmo entre os ocupantes, era muito difundida a idéia de ser a propriedade alheia algo quase sagrado, fruto de um processo de construção de uma hegemonia por parte das classes dominantes. Ver WILLIANS, Raymond. Marxismo e Literatura. Rio de Janeiro, Zahar, 1979. pp. 111 a 117. 5 Aqui entendida como representação de uma situação ideal. Não se trata de uma idéia abstrata, mas de um ideal sugerido pelas condições concretas de suas existências. Era a perspectiva de realização possível de um sonho. 3 de confronto explícito com alguns dos pilares da democracia burguesa formal tem suas respostas em um conjunto de situações extremamente complexas e variadas. Os elementos capazes de proporcionar-lhes as condições para tal enfrentamento estavam ligados às suas próprias necessidades cotidianas de sobrevivência. Para eles não parecia restar grandes dúvidas a respeito de estarem suas possibilidades de viver com certa dignidade vinculadas à sua própria capacidade lutar pelos seus objetivos6. A dignidade da vida humana mostrou-se como um valor absoluto para eles e, durante a pesquisa, foi possível perceber o quanto este estava ligado, em virtude da trajetória de uma parte significativa7 daqueles ocupantes, a reflexões de caráter religioso. Exemplo claro dessa constatação pode ser vista numa reportagem jornalística publicada poucos dias após a ocupação da fazenda Santo Inácio/Ranchinho, em maio de 1993. Designado pela empresa de comunicação para fazer a cobertura dos acontecimentos de Campo Florido, e suprir o jornal com notícias sobre os fatos por ele presenciados, o jornalista, diante das evidências que lhe saltavam aos olhos, fazia questão de ressaltar: “No meio do acampamento já tremula uma faixa indefectivelmente vermelha e branca - da CUT. Ontem pela manhã, um ato religioso presidido por padres da diocese de Uberaba marcou a instalação de uma cruz rústica no meio do acampamento.”8 Esta matéria é capaz de dar algumas pistas seguras capazes de conduzir o observador pelos caminhos percorridos pelos sujeitos sociais das ocupações aqui analisadas. No acampamento montado dentro da fazenda, dois grandes símbolos ocupam lugar de destaque: a faixa da CUT e a cruz. Quanto à presença desta central sindical no movimento de ocupação de terra na região não é nenhuma novidade, pois tem havido, em todo o país, uma 6 Ver THOMPSON, E.P. Senhores & Caçadores. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987. Se não o eram quantitativamente, tinham grande influência sobre os demais componentes do grupo. 8 Jornal “Correio do Triângulo” de 22/05/1993. Matéria intitulada “Sem-terra não negociam e cresce a tensão na fazenda”. 7 4 forte ligação entre ambos9. Já a cruz chama a atenção, pois não é um componente explicitamente ligado à questão da luta pela terra, pois é um símbolo de expressão religiosa. Se hoje é possível se fazer qualquer associação entre eles, é exatamente em virtude de sua apropriação por parte dos diversos grupos de trabalhadores sem-terra em todo o país. Sobre a presença deste símbolo cristão nos acampamentos e assentamentos da região do Triângulo Mineiro, Frei Rodrigo, da APR(Animação Pastoral e Social do Meio Rural)10, indagado sobre a influência do elemento religioso na vida daqueles ocupantes de terra, a partir de suas experiências concretas, de muitos anos, junto àquele grupo, diz: “... primeiro que na vida rural, na vida do pequeno produtor rural tradicional, daquele que vive da sua plantação,... a dimensão religiosa, ela é muito profunda.(...) isso se mistura no dia a dia das pessoas. Não é à toa que um dos primeiros atos que acontecem quando se ocupa uma terra é fincar uma cruz de madeira, né. Isso faz parte da tradição deles; e é interessante que a cruz de madeira chega no Brasil, como? Fincada pelo português como conquista... de uma terra, tomando dos legítimos donos que eram os índios. E hoje é o contrário; ela chega como... como um símbolo de reconquista da terra para aqueles que dela precisam pra viver. Né, então tem uma dimensão profunda a nível religioso...”11 Dessa forma, fica claro o motivo da presença daquele símbolo no meio do acampamento12 da fazenda Nova Santo Inácio/Ranchinho em Campo Florido. Como não poderia deixar de ser, eles ali entraram levando consigo todo um modo de vida, constituído ao longo de muitos anos de vida na roça. Carregavam uma profunda relação com algumas formas de expressão religiosa. Contudo, em suas palavras, Frei Rodrigo aponta algumas profundas 9 O Processo Criminal 900200269-6 (Justiça Pública X Edivaldo Oliveira da Silva e outros), arquivado na Justiça Federal em Uberaba-MG., dá conta dessa presença. De certa forma, foi a presença de representantes da CUT nas ocupações das fazendas Colorado e Varginha, em 1990, que provocaram a iniciativa de instaurar o referido processo criminal. 10 Entidade ligada a Igreja Católica Romana que substituiu o trabalho da CPT (Comissão Pastoral da Terra) na regiâo do Triângulo Mineiro, a partir do fim da década de oitenta. 11 Entrevista concedida ao autor em 17.10.1996 12 Colocada no meio ela se reveste de importância especial, pois fica em destaque. 5 contradições possíveis de existir em relação a esse elemento. Ao afirmar ter sido a cruz utilizada como um dos símbolos da dominação portuguesa no Brasil e da consequente expropriação das terras indígenas, ele revela o quanto podia este estar vinculado a práticas conservadoras no trato da questão agrária. Assim, como todo componente de uma trama histórica, esse também se mostra como complexo, justamente porque fincado no meio de uma experiência humana e, portanto, multifacetada. Em Iturama, no Pontal do Triângulo Mineiro, essa constatação pôde ser feita a partir de algumas afirmações do médico Nivaldo Amaral Alves, presidente da UDR (União Democrática Ruralista) local, ao comentar a atuação da Igreja Católica Romana nos episódios das ocupações de terra naquele município: “E isso nos custou muito, porque uma das maiores forças que nós lutamos contra ela, não foi o PT, não foi a CUT, foi com a igreja progressista! Aquela igreja da CPT, que nos custou muito, porque a palavra de um padreco qualquer que vinha por aí valia muito mais que a palavra d’um líder como nós que estávamos na frente! Chegava no meio daquelas pessoas humildes e a palavra dele valia, a nossa não valia. Então, nós tivemos um problema muito sério com a igreja progressista... não a conservadora, a conservadora nos ajudou muito. Muitos bispos que tiveram uma participação ao nosso lado muito... que defenderam realmente a verdadeira democracia junto conosco, nos dando apoio, incentivo.”13 Dessa forma, como todo signo, aquele símbolo cristão terá o sentido a ele atribuído pelo grupo social ao qual estiver sendo vinculado. Como tal apropriação é histórica, nem de longe é abstrata, ela está condicionada aos interesses de quem dela se utiliza. As palavras do presidente da UDR em Iturama não deixam dúvidas quanto a isso. Portanto, no caso concreto, não bastava os ocupantes de terra levarem a cruz para dentro do acampamento, era preciso saber qual o sentido dado a ela naquela situação na qual se encontravam. Se a ela fosse atribuído o significado dado pelos dominantes, essa poderia ser um perigoso componente capaz de colocar em risco todo o 13 Entrevista concedida ao autor em 01.03.1997 6 processo de luta pelo qual passaram durante todos aqueles anos, às margens da BR-497. Certamente, não era esse o significado daquela cruz no meio do acampamento na fazenda Nova Santo Inácio/Ranchinho. Ela traduzia um outro sentimento. Este, por sua vez, tinha uma grande influência da forma própria da CPT/APR de encarar a questão da luta pela terra. Frei Rodrigo, tentando minimizar a importância, na verdade, primordial da assessoria dada pelo seu grupo de apoio ao movimento, quanto à constituição de um novo modo de se encarar as questões ligadas à luta pela terra, assim se expressou: “... é óbvio que uma reflexão a partir de uma prática da própria luta dos trabalhadores, e da própria necessidade, principalmente, que vai refletir alguns temas que sempre foram utilizados como entrave, por exemplo: o sofrimento, né... a dor, a miséria e a fome que sempre foram utilizados como um processo de catarse, de sacrifício pra se alcançar uma vida melhor; quando elas são interpretadas dentro de uma perspectiva um pouco diferente, que (...) dentro da perspectiva religiosa, elas não fazem parte do plano de Deus, (...) para que a sociedade caminhe para o bem (...) para que a sua vida melhore, (...) não é necessário... aceitar simplesmente o sacrifício, ou seja,(...) para se construir a vida... não é necessário a morte,... que é um pouco da visão da cruz,... duma certa visão em que o sacrifício resgata, mas é uma visão pagã porque... eu preciso (...) para aplacar a ira dos deuses... eu... imolo uma vítima, aí a história caminha para o bem...”14 Todavia, suas palavras revelam o quanto foi fundamental o processo de reflexão desenvolvido por esse grupo no processo de conquista da terra no Pontal do Triângulo Mineiro. Eles ajudaram os ocupantes a romper com uma cultura de resignação diante das adversidades. Ajudaram-nos, dentro de um processo de incorporação ativa15, a compreender o quanto era necessário superar as condições adversas na qual se encontravam, pois estas não estavam de acordo com o que ele chama de “plano de Deus”. Dessa forma, a vontade de Deus, muito utilizada, no processo de dominação, para explicar o 14 15 Entrevista concedida ao autor em 17.10.1996 Ver WILLIANS, Raymond. Marxismo e Literatura. Rio de Janeiro, Zahar, 1979. pp. 17 a 26. 7 sofrimento e a dor, é vista como fundamento para a necessidade de se superar essa condição. Aquela cruz era, portanto, a expressão de uma compreensão religiosa profundamente imbuída do propósito de animar a luta e dar coragem para suportar as pressões ainda por vir, inclusive, os prováveis mandados judiciais de reintegração de posse em favor do espólio de Álvaro Lopes Cançado. É exatamente essa dimensão a ser aqui analisada: o significado de uma religiosidade encarnada, ligada à chamada Teologia da Libertação16, portadora de uma mensagem capaz de estimular os ocupantes à luta pelo reconhecimento de seus direitos, ainda que estes não estivessem de acordo, ou mesmo, em certas circunstâncias, em posições diametralmente opostas, com o ordenamento jurídico oficial. Esta religiosidade passou a estar ligada a uma espiritualidade muito presente no cotidiano daquelas pessoas para as quais, acima de todas as evidências, parece existir uma destinação fundamental de todos os indivíduos para o resgate de sua dignidade perdida ao longo do processo histórico. Acreditar ser possível a superação de suas condições de existência era o elemento propulsor de suas ações concretas. Um dos componentes fundamentais da proposta advinda dessa forma de expressão religiosa era o valor da conquista da terra pela qual se lutava. Com a finalidade de animar a luta dos ocupantes de terra na região, a CPT utilizava-se de uma forma bastante peculiar de estimulá-los a continuarem firmes no projeto de conquista de seus objetivos. Numa de suas muitas cartilhas, diziam àqueles sujeitos: “Diz Deus ao povo sem terra: ‘Eu te darei esta terra... tu serás o meu povo. Eu serei o teu Deus.’ (Ex. 6,6-9)”17 16 Corrente de pensamento dentro da Igreja Católica Romana, cujos princípios básicos estão fundados na reflexão da dignidade da pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus. Um dos seus principais expoentes é Leonardo Boff, ex-integrante da Ordem dos Frades Menores (franciscanos) a qual pertence, também, Frei Rodrigo. 17 Cartilha “Trabalhador na Conquista da Terra”, sem data. p. 10. (CPT - Triângulo). Apesar de não conter explicitamente a data de sua elaboração e distribuição, é possível inferir de seu conteúdo ter sido feita logo após o assentamento na fazenda Barreiro, em Iturama (1986), com a finalidade de estimular a luta do grupo de 8 Diante dessas palavras fica evidente a importância dada pelo grupo de apoio à experiência bíblica da conquista da terra de Canaã18, narrada no segundo livro da Bíblia, o Êxodo. Este livro é uma narrativa, com uma forma de linguagem bastante peculiar,19 onde os seus diversos autores20 procuraram recuperar a memória de episódios marcantes na vida do povo hebreu. Basicamente, ele trata da situação na qual se encontrava este povo, durante os anos em que estiveram, longe de sua terra natal, escravizados pelos faraós do Egito21 e sua fuga em direção àquela, a ser por eles reconquistada, pois na sua ausência havia sido deles tomada. Por tratar-se de uma alusão a um processo de conquista de terra, este tema do êxodo do povo de Deus e sua luta para entrar em Canaã foi sempre muito utilizado pelos grupos de assessoria religiosa prestada aos sujeitos sociais das ocupações na região. Uma das principais características daquela história bíblica, fartamente utilizada pelos grupos de apoio como forma de estimular a luta dos ocupantes de terra em Iturama, assentados em Campo Florido, era o fato de, no Egito dos faraós, estar aquele grupo sofrendo as agruras da dominação sobre eles exercida pelos potentados daquela circunstância histórica. Com isso, ficavam extremamente facilitadas todas as ações do grupo de apoio, no sentido de mostrar haver uma forte identidade entre a situação na qual se encontravam os dominados daquela época bíblica e aquela da qual eram vítimas os sujeitos sociais das ocupações estudadas neste trabalho. Ambos estavam alijados da terra por força do poder das classes dominantes de sua época. Mais ainda, era possível uma forte identificação entre o sonho de conquista de um novo lugar onde se pudesse construir a suas vidas com dignidade e a fuga empreendida pelo povo da Bíblia. Havia, assim, grande semelhança entre os sonhos dos dois grupos. ocupantes que se formou em Limeira D’Oeste, no processo de reflexão que ocorria na casa do Zé Pretinho, a partir de 1989. 18 Região hoje ocupada pelo Estado de Israel desde 1948. 19 São raros os livros da Bíblia que tinham a intenção de descrever fatos históricos tal qual eles aconteceram. 20 Estudos exegéticos indicam ter sido ele escrito durante, aproximadamente, 500 anos. Conforme MESTERS, Carlos. Bíblia: Livro da Aliança. São Paulo, Paulinas, 1986. p. 74. 21 Fatos, provavelmente, ocorridos entre os séculos XVII e XIII A.C. 9 Era preciso, a exemplo do que fizera aquele grupo de hebreus, buscar o lugar onde seria possível construir a vida com dignidade. Isto está explicitado em uma poesia de Luismar Gomes Rezende, Marinho, da CPT/APR, feita durante os anos de convívio com os ocupantes: “E longe, em um lugar como outro, andança, Jogado por margens de esperança, Pensei na terra fértil, lugar cativo, Aliança. De sol quente, resistência, oásis novo, Lugar de mortes e vida, lugar do povo. De gente com largas feridas, curadas, De muitas famílias paridas, amamentadas. Sem rumo, de idas e vindas, com sorte, Amarrados pelo gosto, da luta, vida forte.”22 A poesia fala de lutas, de resistências, de esperanças, de fertilidade, de abundância e, sobretudo, de solidariedade. Esse é exatamente o processo pelo qual se deu a saída do povo judeu da escravidão no Egito em busca da nova terra a ser conquistada. Depois de muitas lutas, onde resistiram bravamente ao poder do faraó, porque se mantiveram firmes na esperança de que Deus cumpriria sua promessa de tirá-los daquela situação de sofrimento e dor na qual se encontravam, conseguiram se colocar em marcha em busca da possibilidade de entrar na terra “onde corre leite e mel”.23 Situação essa a ser proporcionada pela ajuda mútua, onde os libertos da escravidão do poder opressor do faraó deveriam procurar não reproduzir a opressão na qual viviam, quando da entrada para a nova terra. Essa reflexão bíblica significava uma tentativa de deixar claro aos ocupantes de Iturama, assentados em Campo Florido o quanto era preciso haver a busca de alternativas24 capazes de proporcionar rupturas com a situação de dominação que estavam experimentando durante tantos anos, pois não lhes seria conveniente reproduzirem-na no assentamento. Com a finalidade de ressaltar a importância desse rompimento definitivo com as múltiplas formas de dominação, os grupos de apoio e assessoria 22 Encontrada no caderno de anotações de trabalho daquele assessor. Essa é a alegoria usada pelos autores daquele livro da Bíblia para descrever a terra prometida por Deus ao povo hebreu. 24 Ver WILLIANS, Raymond. Marxismo e Literatura. Rio da Janeiro, Zahar, 1979. pp. 124 a 129 23 10 utilizaram-se muito do tema da Páscoa, também presente naquele livro da Bíblia. Consta ali que, através de uma forte experiência a qual fora submetido o faraó do Egito, Deus rompeu definitivamente as amarras que mantinham presos os hebreus naquele lugar. Neste episódio, narrado em forma literária grandiloquente, os autores daquele livro bíblico quiseram mostrar a radicalidade do rompimento havido entre os hebreus e os seus opressores. Pois bem, numa das cartilhas usadas pela CPT para animar a caminhada de luta dos ocupantes de terra na região do Triângulo Mineiro, esse grupo faz uma significativa alusão ao significado da experiência pascal. “Eu te peço, ó Deus estar sempre ao lado dos trabalhadores na sua luta por melhores condições de vida, trabalho e terra. Eu te peço que nesta PÁSCOA que se aproxima, pela luta do trabalhador, nos faça viver de novo na TERRA - Amém”25 Para eles aquele tema significava a possibilidade de uma passagem26 de uma situação de escravidão para a condição de pessoas livres para viver a fraternidade e segundo a justiça. Era preciso manter unidos os laços dos quais falava Marinho em sua poesia, pois só assim poderiam desenvolver um outro projeto de vida. Faziam, assim, apologia de valores culturais capazes de afetarem profunda e decisivamente o processo constituidor dos modos de vida daquelas inúmeras famílias, onde a novidade seria a solidariedade substituindo a opressão e banindo as más condições de vida na qual se encontravam. Ainda seguindo os passos daquela história bíblica, é preciso ressaltar o episódio do Monte Sinai, onde Deus dera ao povo em marcha para a nova terra, um novo código de leis, de comportamentos, pelo qual deveriam pautar suas condutas doravante27. Segundo os estudiosos do assunto, para se entender o significado de cada um dos dez mandamentos recebidos por Moisés, é preciso ficar atento à frase “Eu sou Javé, teu Deus, que te fez 25 Cartilha “Terra de Deus, terra de irmãos” - CPT/Triângulo Mineiro (1985) p. 17. Significado religioso da palavra Páscoa. 27 Os Dez Mandamentos como ficou conhecido. 26 11 sair da terra do Egito, da casa da escravidão.”28 Segundo aquele estudo, aquilo que a isto se segue é simples decorrência29, ficando claro a necessidade de uma nova ordem mais adequada ao convívio na nova terra a ser conquistada. Um novo ordenamento capaz de romper com a opressão na qual viviam e, mais ainda, apontar o caminho da construção de uma convivência harmoniosa entre os seus ocupantes. Dessa forma, fica clara a importância da reflexão da experiência do êxodo para a vida concreta dos sujeitos sociais das ocupações assentados em Campo Florido. Ficava evidente para eles a necessidade de construírem um novo modo de vida, onde a fraternidade fosse o componente mais acentuado, pois seria o sinalizador de suas diferenças com o poder opressor dos latifundiários do Triângulo Mineiro. Na fazenda Nova Santo Inácio/Ranchinho não poderia haver nenhuma forma de dominação entre os seus ocupantes. Na antiga Santo Inácio/Ranchinho essa era a lógica ali presente: a terra nas mãos de poucos e uma imensa maioria de trabalhadores rurais capazes de fazê-la produzir de forma farta, impossibilitados pela lei e pela ordem vigente de resgatarem sua dignidade de seres humanos. Portanto, ao entrar naquela nova terra, entenderam ser preciso, como de fato buscaram construir, uma nova ordem, onde a solidariedade fosse o fio condutor de todas suas ações. Um sonho, uma utopia diante da qual se sentiram desafiados e se propuseram a torná-la concreta. Durante este trabalho foi possível perceber o quanto eles assimilaram esse novo comportamento. Quando se poderia pensar ter isso se dado por uma certa imposição dos valores presentes entre os componentes dos grupos de assessoria, eles assim o fizeram exatamente porque lhes parecia como o mais adequado às suas necessidades concretas. Mostraram, dessa forma, serem capazes de formular um novo código de convivência, mesmo em detrimento do ordenamento jurídico oficial, capaz de expressar sua cultura 28 Ver MESTERS, Carlos. Bíblia: Livro da Aliança. São Paulo, Paulinas, 1986. p. 20 12 forjada ao longo dos anos de luta pela terra almejada. Esta situação foi assim percebida por Marinho, assessor da CPT/APR, em uma de suas poesias compostas no acampamento junto aos ocupantes, a partir da observação das novas experiências ali vividas: “Gente matuta, também sábia Que é graça, mas nasce com luta Que constrói a estrada, mesmo com pedras Que pare da semente, a ajuda.”30 O assessor não se engana; estava diante de um grupo de pessoas que tinham adquirido a capacidade, durante os muitos anos de luta em busca de seus objetivos, de construírem novas formas de relacionamento entre eles. Sentiram, a partir de suas próprias experiências cotidianas, o quanto era importante a partilha de suas potencialidades. Perceberam não ser possível enfrentar o poder dos latifundiários sozinhos, por isso se uniram31. Não só procuraram permanecer assim fisicamente, mas principalmente, buscaram colocar em comum seus atributos pessoais por ocasião das ocupações das quais participaram. Por isso foram capazes de, quando necessário, transpor as barreiras impostas pelos limites da legalidade formal. Para além dos princípios legalmente constituídos, parecia-lhes interessante partir para ações concretas revestidas, segundo seu ponto de vista, de profunda legitimidade, porque capaz de favorecer o fortalecimento da sua dignidade de seres humanos. Em um artigo, um jurista ligado ao chamado Direito Alternativo assim se expressou sobre essa questão: “Não se trata apenas de reconhecer o direito consolidado no costume, mas principalmente, que a prática política dos oprimidos se revista de uma autoridade suficiente que seja reconhecida por eles e por todos como possível e legítima na vida concreta.” 32 29 Seria algo como dizer assim: Eu sou Javé, teu Deus que te fez sair da casa da escravidão... por isso: Adorarás a um só Deus que não suporta a escravidão... Não admitirás haver morte provocada pela opressão entre vocês... etc. 30 Encontrada no caderno de anotações de trabalho daquele assessor. 31 Um dos frutos dessa união é o plantio, o trato, a colheita e a comercialização coletivos de boa parte da produção daquele assentamento. Hoje estão discutindo a criação de uma cooperativa de produção. 32 RECH, Daniel. Direito Insurgente: o direito dos oprimidos. In Cartilha “Direito Insurgente: o direito dos oprimidos”. Rio de Janeiro, AJUP/Fase, 1990. p. 5 13 Ao menos por parte de um grupo ligado a uma das muitas correntes do pensamento jurídico, pôde ser percebido o reconhecimento da legitimidade das ações de todos quanto lutam para se livrarem de uma situação de opressão. Esses, ao negarem se manter numa situação de suposta neutralidade, assumem formalmente estarem interessados em se colocar do lado daqueles sujeitos sociais. As consequências desse posicionamento podem ser facilmente percebidas na citação acima. Muito além de uma simples concessão a determinados costumes presentes nas diversas manifestações desse grupo social, é indicada a possibilidade de estarem estas revestidas de autoridade suficiente para receber o reconhecimento público. No fundo, é a vida concretamente experimentada no cotidiano das muitas lutas, insurgindo-se contra velhos e obsoletos limites impostos, via de regra, pelo aparato judicial, cujas práticas, muito longe de uma suposta neutralidade, tem se colocado ao lado dos interesses de grupos sociais poderosos. O surgimento de novas normas de convivência, baseados nos princípios da solidariedade e ajuda mútua entre os integrantes dos diversos grupos sociais em luta pelos seus direitos, frutos de uma nova cultura, foi percebido também por outro adepto daquela corrente de pensamento jurídico: “Contudo, cumpre observar um direito emergente, insurgente, achado na rua ou encontrado na luta de classe - um fenômeno social matizado de conotação política de resistência -, destinado a desempenhar relevante papel histórico na construção de um mundo novo, onde o jurista, como operário das idéias, seja sujeito e agente de sua própria história, sem abdicar do seu compromisso como cidadão e como político.”33 Segundo essa análise, essas novas formas de ordenamentos sociais trazem consigo profundos significados capazes de indicar novos caminhos a toda a sociedade. Dessa forma, apesar de hoje marginal, eles teriam, potencialmente, a prerrogativa de apontar caminhos novos de convívio social, realmente harmônico e pautado segundo os princípios da justiça. Nestes termos, assim como outros movimentos de resistência, as ocupações de terra 14 na região do Triângulo Mineiro, entendidas como manifestações legítimas de defesa dos direitos de cidadania, estariam dando eficácia ao Direito como instrumento social de produção de paz e justiça sociais34. A presença destes seria real, pois, para além da retórica do aparato jurídico oficial, os agentes sociais das ocupações deram demonstrações inequívocas do imenso valor por eles atribuído à vida e dignidade humanas, não somente a inerente ao indivíduo, mas, sobretudo, aquela ligada às múltiplas formas de convívio social. Tudo isso explica o sentido das palavras de apoio e incentivo do Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Diocese de Uberlândia, quando episódio da ocupação da do fazenda Santo Inácio/Ranchinho, em maio de 1993, no município de Campo Florido. Em entrevista a um jornal da região, o representante daquele entidade, chamada na reportagem de comissão de direitos humanos, fez questão de ressaltar o valor da coragem daquelas famílias ao enfrentarem o poder dos potentados locais, acobertados pelo aparato legal. Segundo aquele jornal “A CDDH (Comissão de Defesa dos Direitos Humanos) se manifestou a favor da ocupação por entender que os direitos à sobrevivência, trabalho, educação e moradia devem ser garantidos a estas famílias. ‘As terras são improdutivas e estes trabalhadores podem produzir nelas seu alimento. A reforma agrária é necessária para erradicar a fome do País’, avaliou o presidente da CDDH.”35 Ao se tornarem ocupantes, as famílias acampadas às margens da BR497, no município de Iturama e assentadas na fazenda Nova Santo Inácio Ranchinho em Campo Florido, estão permanentemente ocupando um espaço de rediscussão do sentido da história da região do Triângulo Mineiro, emprestando-lhe novos elementos. Esta não pode mais ser escrita - ou contada - sem a referência aos ocupantes de terra da região. Suas lutas vêm apontando a necessidade de se repensar a estrutura de poder da região. De forma contundente eles estão procurando o valor do poder realmente popular, 33 34 ROCHA, Osvaldo de Alencar Rocha. O Direito Encontrado na Rua. Idem, p. 14 Finalidade a ele atribuída, formalmente, pela corrente jurídica positivista. 15 dando assim eficácia a norma constitucional ao dizer que “todo poder emana do povo”.36 A busca constante de suas utopias - um sonho possível transforma a região. Sua luta é semente. A germinação não está só no futuro. Este já foi fecundado pelas ocupações - nos diversos níveis, inclusive o jurídico - que foram e estão sendo realizadas. BIBLIOGRAFIA ARIÈS, Phillipe e DUBY George (dir.) História da Vida Privada. 5º. Vol. São Paulo, Cia. das Letras, 1987-1992. ARRUDA JR. Introdução à Sociologia Jurídica Alternativa (Ensaios sobre o Direito numa sociedade de classes). São Paulo, Acadêmica, 1993. BASTOS, Celso. Curso de Direito Constitucional. 14. ed. São Paulo, Saraiva, 1992. BOBBIO, Norberto. Direito e Estado no Pensamento de Emanuel Kant. Trad. Alfredo Fait, Brasília, Editora Universidade de Brasília, 1984. BOFF, Leonardo. Vida Segundo o Espírito. Petrópolis, Vozes, 1982. CARVALHO, José Murilo de. A Formação das Almas. O imaginário da República no Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 1990. CHAUÍ, Marilena. Cultura e Democracia: o discurso competente e outras falas. São Paulo, Moderna, 1990. Código Civil Brasileiro. 45ª ed. 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