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O TEMPO Belo Horizonte
SÁBADO, 14 DE JUNHO DE 2014
PAULO NAVARRO
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BARBARA DUTRA / DIVULGAÇÃO
Outro gol de placa
Jogar contra a poderosa seleção italiana é perigosa honra. Entrevistar,
pela segunda vez, o embaixador da Itália no Brasil, Raffaele Trombetta,
é deliciosa honra. Dia 9, ele voltou a Belo Horizonte para a inauguração
da nova Casa Fiat de Cultura, no Circuito Cultural Praça da Liberdade.
Deu mais um show de arte, simpatia, inteligência e, claro, cultura.
“Com passaporte italiano
são 410 mil no Brasil,
mas os descendentes são
cerca de 30 milhões”
Estão cada vez mais próximas as relações Minas-Itália, haja visto o tecido cultural que a Fiat costurou através desta Casa Fiat e da exposição “Barroco Itália Brasil
– Prata e Ouro”. Mais que
uma integração socioeconômica, é uma interação humana? Esta exposição maravilhosa do barroco italiano
com o barroco mineiro é
mais uma testemunha dessa
parceria. E este projeto é
parte de uma programação
mais ampla que a Embaixada da Itália está promovendo neste período, que é a Itália na Copa. São eventos culturais e de parcerias comerciais, industriais e tecnológicas entre Itália e Brasil.
Acompanhando este tecido,
hoje a maior festa da Itália
no Brasil acontece em Belo
Horizonte... A presença ita-
liana em Minas é forte, sendo a Fiat o maior exemplo
dessa presença que não é só
comercial, mas cultural, ambiental e social. E eu gosto
muito disso, como o projeto
de cidadania patrocinado
pela Fiat, Árvore da Vida,
que atinge diretamente as
pessoas.
Quantos italianos vivem hoje em Minas e no Brasil?
Acho que mais de 60 mil em
Minas. Com passaporte italiano são 410 mil no Brasil,
mas os descendentes são cerca de 30 milhões.
Esta exposição sobre o barroco reforça os laços entre Brasil e Itália, não é mesmo?
Com certeza. Estou particularmente orgulhoso porque
a parte italiana da exposição é de uma região que eu
conheço muito bem, que é a
minha – Nápoles, Campânia
e Calábria, mais ao Sul da
Itália –, onde, a partir do século XVI, se concentravam
os mestres.
No momento em que vemos
a organização de blocos de
países em desenvolvimento,
como os Brics, de que forma
isso altera a relação desses
emergentes com países desenvolvidos, em especial a
Itália? A princípio, não altera. A Itália será a presidente
da União Europeia a partir
de 1º de julho. Neste momento, a UE está negociando com o Mercosul um acordo comercial muito importante para ambos. Então, no
caso da Itália e da Europa,
não temos medo desses outros blocos, pelo contrário,
buscamos parcerias.
Os italianos que estão che-
gando para a Copa estão assustados com as manifestações ou tranquilos? Nossa
imagem é ruim lá fora? Estão tranquilos. Estive com
a seleção italiana, desde
quando chegou ao país. Falei com a equipe e não há
preocupação. É claro que
os jornalistas italianos estão escrevendo artigos sobre a situação no Brasil.
Mas acho que tudo vai dar
certo. Se as manifestações
forem pacíficas, é um direito do povo. Outra coisa é a
violência.
E na hora de torcer, o italiano que vive no Brasil vai
apoiar qual seleção? Arrisca um palpite sobre quem
vai ganhar a Copa? Espero
que vá torcer por ambos
até a final. Depois, vamos
ver. Como italiano, não
posso dar palpite (risos).
Artes Visuais
Instalação“SinfoniaparaumaCidadeJardim”revelaapaisagemnaturalportrásdaselvadeconcretodacapital
Passeando por uma utopia
¬ DANIEL OLIVEIRA
¬ Em 2007, o fotógrafo Jú-
lio Toledo começou a retratar a paisagem natural, especialmente os ipês, em conjunto com a arquitetura
‘mais notável’ de Belo Horizonte. “Fiz isso porque tinha
certeza de que é muito difícil para as pessoas terem
tempo de contemplar esses
lugares especiais na cidade”,
conta. As fotos se transformaram nos cartões postais
do projeto BH Cidade-Jardim, que ganhou o prêmio
Gentileza Urbana em 2010.
No ano passado, porém,
Toledo quis fazer algo diferente com as imagens, utilizando a linguagem do vídeo. O resultado é a instalação audiovisual“Sinfonia para uma Cidade Jardim”, que
ele inaugura hoje no Centro
de Atendimento ao Visitante do Circuito Cultural Praça
da Liberdade.
Agraciada com o prêmio
“Concurso Cultura 2014” do
Ministério da Cultura, a
obra acabou se tornando
parte do calendário oficial
da Copa do Mundo. “Era
JÚLIO TOLEDO / DIVULGAÇÃO
uma cláusula do prêmio que
ela tinha que estar em exibição agora, o que foi uma coincidência feliz porque junho é
quando começa a floração
dos ipês. As pessoas vão poder sair da instalação e vê-los
nas ruas com o mesmo olhar
que eu venho tendo nos últimos dez anos”, comemora.
A obra consiste na projeção das fotos e de vídeos em
quatro grandes telas de
3x2m dispostas numa sala escura. “A concepção era por
que não dar às pessoas a
chance de fazer o que eu faço sempre, que é passar um
dia na cidade fotografando”,
explica Toledo.
Com isso, o artista organizou as imagens de modo que
a instalação comece com fotos tiradas durante a madrugada, siga pela manhã, tarde,
noite e termine novamente
na madrugada. Para ele, o trabalho de um edição foi um desafio, já que seu arquivo já
acumula sete anos de imagens. O objetivo foi representar o cotidiano da cidade,
com a poluição visual diária e
os carros, e localizar no meio
disso as imagens especiais
eternizadas nos seus cartões
postais.
“A ideia é que a pessoa andasse pela cidade olhando para cima e descobrindo no
meio da confusão do traçado
urbano momentos de admiração e conservação”, elabora.
Ajudando a criar a sensação
desse passeio, está a trilha
criada pelos artistas da Voltz
Design, que mistura sons urbanos com vozes e textos.
Idealizador dessa imagem de Belo Horizonte como “Cidade-Jardim”, Toledo
admite que, com uma administração voltada cada vez
mais para a verticalização e
o cerceamento do uso de espaços públicos, isso tem se
tornado mais e mais uma utopia. “BH é uma cidade que
cresce, tem esse fetiche do
novo, quer ser moderna. E isso entra em conflito com a
paisagem natural. Mas tem
que ter verde, se não a tensão e o stress vão atingir níveis insuportáveis”, reflete.
Ele admite, contudo, que
já passou da fase de confrontar e sair brigando. “Já abra-
cei árvore. Seguramos uma
perto da minha casa outro dia
e salvamos”, diverte-se. Hoje,
o fotógrafo acredita que seu
papel é chamar atenção para
o espetáculo da natureza e
criar nas pessoas a necessidade dele. “Você só preserva
aquilo que você conhece. Minha missão como artista é
mostrar e fazer conhecer”, argumenta.
Nesse sentido, ele se diz
muito orgulhoso de que seu
projeto de fazer de Belo Horizonte uma “Cidade-Jardim”
tenha ganhado reconhecimento nacional por meio do
MinC. “Claro que é uma utopia. Mas se não tiver utopia,
como a gente vai viver?”,
questiona.
Agenda
O QUE. Instalação “Sinfonia para
uma Cidade Jardim”
QUANDO. De hoje a 15 de julho –
terça a domingo, das 10h às 18h;
quintas, das 10h às 21h
ONDE. 2º andar do Prédio Verde
(Centro de Atendimento ao
Visitante) - Circuito Cultural Praça
da Liberdade
ENTRADA GRATUITA
Entre as fotos, destacam-se os ipês dos cartões postais do artista
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Passeando por uma utopia