FLÁVIA SANTOS DE OLIVEIRA
o HABITUS no lugar
e o lugar da TIJUCA
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do
Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e
Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro –
UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do
grau de Mestre em Planejamento Urbano e Regional.
Orientador: Prof. Dr. Luiz César de Queiroz Ribeiro
Doutor em Estruturas Ambientais Urbanas/ USP
Rio de Janeiro
2001
ii
O48h
Oliveira, Flávia Santos de.
O habitus no lugar e o lugar da Tijuca / Flávia
Santos de Oliveira. - 2001.
142 f. : il. color. ; 30 cm.
Orientador: Luiz César de Queiroz Ribeiro.
Dissertação (Mestrado em Planejamento Urbano e
Regional)–Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2001.
Bibliografia: f. 105-110.
1. Sociologia urbana. 2. Percepção social. 3. Tijuca
(Rio de Janeiro, RJ) – Teses. I. Ribeiro, Luiz César de
Queiroz. II.. Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional.
III. Título.
CDD: 307.76
iii
FLÁVIA SANTOS DE OLIVEIRA
o HABITUS no lugar
e o lugar da TIJUCA
Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e
Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do grau de Mestre em Planejamento Urbano e Regional.
Aprovada em:
________________________________________
Prof. Dr. Luiz César de Queiroz Ribeiro - Orientador
Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional - UFRJ
________________________________________
Prof. Dra. Luciana Corrêa do Lago
Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional - UFRJ
________________________________________
Prof. Dra. Maria Josefina Gabriel Sant’Anna
Programa de pós-graduação em ciências sociais - UERJ
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aos meus pais
José Arthur e Maria José
à minha irmã, Letícia
ao meu amor, Pedro
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Aos meus segundos pais por direito e de afeto, Sérgio e Lílian.
Aos meus amigos tão longe e tão próximos, Raquel, Isa, Luciana e Sérgio.
A minha amiga tão perto e tão próxima Suzana.
A minha amiga mais generosa, Cynthia.
A minha família “carioca”, Cláudia, Tonico, e Alice.
Ao meu sábio e paciente orientador, Luiz César Queiroz Ribeiro.
As professoras Luciana e Mazé.
Ao Mauro Kleiman e Tamara Egler, arquitetos do IPPUR.
Ao Observatório – Peterson, Paulo e muito carinhosamente ao Carlos e à Rosa.
Aos queridos funcionários do IPPUR, grandes “matemáticos”, Leila, Jussara, Josimar e Pedro.
A Ana Cristina e Fabiana.
Aos moradores entrevistados da Tijuca pelas muitas confidências.
Ao CNPq pelo suporte financeiro
Aos funcionários do arquivo JB
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OLIVEIRA, Flávia Santos de. O Habitus no lugar e o lugar da Tijuca.
Orientador: Prof. Doutor Luiz César Queiroz Ribeiro. Rio de Janeiro: UFRJ/CCJE/IPPUR,
2001. 142 p. Dissertação (Mestrado em Planejamento Urbano e Regional).
Partindo da análise de uma realidade empírica, datada e situada, o bairro da Tijuca, no período
entre 1980 e 2001, pretende-se entender a relação entre o espaço físico e o espaço social. No
Rio de Janeiro, a idéia de que o lugar físico ocupado (o habitar) remete à subjetivação da
posição social do indivíduo (o habitus) é, particularmente, incorporada. A pergunta “onde
você mora?” faz parte do ritual carioca de conhecer o outro. A importância do lugar ocupado,
enquanto fator de identificação e distinção, se materializa no termo “tijucano”. Sem
equivalentes na fala do carioca, esta construção representativa de um grupo acaba revestindo o
espaço de uma identidade simbólica que ultrapassa a sua própria realidade e se reifica nas
percepções e modos de vida de seus moradores. É assim que uma concepção substancialista
da Tijuca leva a uma naturalização das diferenças, reforçada pela idéia de que todos os
moradores deste bairro são iguais. Para romper com o senso comum, ou como Bourdieu
denomina de ilusões de um pensamento substancialista do lugar, é necessário proceder a uma
análise rigorosa das relações entre o espaço social e o espaço físico. Deste modo, o trabalho se
ocupa da descrição de ambos os espaços relacionando-os entre si.
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OLIVEIRA, Flávia Santos de. O Habitus no lugar e o lugar da Tijuca.
Orientador: Prof. Doutor Luiz César Queiroz Ribeiro. Rio de Janeiro: UFRJ/CCJE/IPPUR,
2001. 142 p. Dissertação (Mestrado em Planejamento Urbano e Regional).
From the analysis of an empirical reality, dated and situated in the Tijuca neighborhood in the
period between 1980 and 2001, it is aimed to understand the relationship between the physical
space and the social space. In Rio de Janeiro, the idea that the occupied physical location (the
habitation) reveals the subjectivity of the social position of the individual (the habitus) is,
particularly, incorporated. The question "where do you live?" is part of the "carioca" (a person
from Rio de Janeiro) ritual of getting to know each other. The importance of the occupied
place, as a factor of identification and distinction, is materialized in the term "tijucano"
(someone who lives in Tijuca neighborhood). Without parallel in the "carioca" slang, this
representative construction of a group endows the space with a symbolic identity, which
overcomes its own reality and is corroborated in the perceptions and ways of life of its
inhabitants. That is how a substantialist conception of the Tijuca neighborhood leads to a
naturalization of the differences, reinforced by the prejudiced idea that all people from this
neighborhood are the same. In order to break from the common sense, it is necessary to make
a strict analysis of the relationships between the social space and the physical space. Thus, this
work deals with the description of both spaces in relation to each other.
viii
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 – Estrutura Social do município do Rio de Janeiro e da Tijuca (relativos) –
1980/91..........................................................................................................................................................37
Tabela 2.2 – Estrutura Social do município do Rio de Janeiro e da Tijuca (absolutos) –
1980/91..........................................................................................................................................................37
Tabela 2.3 – Estrutura Social dos bairros, e do município do Rio de Janeiro/ 1991.........................40
Tabela 2.4 – Renda familiar per capita em salários mínimos nos bairros, regiões agregadas e
município do Rio de Janeiro/ 1991............................................................................................................45
Tabela 2.5 – Tipologia familiar nos bairros, regiões agregadas e município do Rio de Janeiro/
1991.................................................................................................................................................................46
Tabela 2.6 – Distribuição populacional por sexo nos bairros, regiões agregadas e município do Rio
de Janeiro/ 1991............................................................................................................................................48
Tabela 2.7– Distribuição populacional por faixa etária nos bairros, regiões agregadas e município
do Rio de Janeiro/ 1991..............................................................................................................................48
Tabela 2.8 – Distribuição populacional por cor nos bairros, regiões agregadas e município do Rio
de Janeiro/ 1991............................................................................................................................................49
Tabela 2.9 - Densidade domiciliar por dormitório nos bairros, regiões agregadas e município do
Rio de Janeiro/ 1991.....................................................................................................................................50
Tabela 2.10 - Distribuição de números de dormitório nos bairros, regiões agregadas e município
do Rio de Janeiro/ 1991...............................................................................................................................51
Tabela 2.11 – População por condição de ocupação de domicílio nos bairros, regiões agregadas e
município do Rio de Janeiro/ 1991............................................................................................................52
Tabela 3.1 - Condição de ocupação do domicílio das categorias...........................................................73
Tabela 3.2 – Riqueza Social das Categorias...............................................................................................74
Tabela 3.3 – Conhecimento de Línguas Estrangeiras pelas Categorias................................................75
Tabela 3.4 – Preferência de Bebidas pelas Categorias.............................................................................76
Tabela 3.5 – Tipo de Comida Preferida pelas Categorias.......................................................................77
Tabela 3.6 – Marcas de Jornais preferidos pelas Categorias...................................................................77
Tabela 3.7 - Preferências pela conformação do interior do domicílio de acordo com as
Categorias.......................................................................................................................................................78
Tabela 3.8 - Lugar de aquisição do mobiliário do domicílio de acordo com as categorias................79
ix
Tabela 4.1 - Trajetória espaço-temporal do Sra. M. 54 anos aposentada, categoria
média...............................................................................................................................................................87
Tabela 4.2 - Trajetória espaço-temporal do Sr. J. 71 anos aposentado, categoria
média...............................................................................................................................................................87
Tabela 4.3 - Trajetória espaço-temporal do Sr. J. 59 anos aposentado, categoria
intelectual........................................................................................................................................................88
Tabela 4.4 - Trajetória espaço-temporal do Sr. P. 70 anos aposentado, categoria
intelectual........................................................................................................................................................89
Tabela 4.5 – O que você acha de morar aqui?..........................................................................................92
Tabela 4.6 – Opinião sobre o bairro de acordo com o ciclo de vida....................................................92
Tabela 4.7 – Você gostaria de se mudar....................................................................................................93
Tabela 4.8 – Para onde?................................................................................................................................93
Tabela 4.9 – Adjetivo que melhor define a Tijuca de acordo com as categorias.................................94
LISTA DE MAPAS
Mapa 1 – Setores censitários da Tijuca - a elite e a favela 1991............................................................44
Mapa 2 – Setores censitários da Tijuca pesquisados...............................................................................61
LISTA DE GRÁFICOS
Quadro 1 - Bairros de status alto e muito alto de acordo com os tijucanos.......................................82
Quadro 2 - Bairros de status médio de acordo com os tijucanos.........................................................84
Quadro 3 - Bairros de status baixo e muito baixo de acordo com os tijucanos.................................85
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INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1
Capítulo 1- MORFOLOGIA ESPACIAL
ou o habitat
1.1 Abordagem de um bairro................................................................................................. 09
1.2. Tijuca: um nome que desliza........................................................................................... 12
1.3. A especificidade da Tijuca: seus muitos morros........................................................... 15
1.4. Os vestígios de uma ocupação: ruas, praças, largos e edificações.............................. 18
1.5. De um ponto ao outro: o transporte na Tijuca............................................................ 22
1.6 Um bairro bem “servido”: comércio e serviço.............................................................. 23
1.7. Equipamentos educacionais: os colégios....................................................................... 24
1.8. Os lazeres “Tijucanos”..................................................................................................... 26
Capítulo 2- ANATOMIA SOCIAL
ou quem habita
2.1 O todo e a parte: construção de espaços comparativos............................................... 29
2.2 Tijuca, um espaço de predominância de segmentos médios....................................... 36
2.3 Análise do perfil socioeconômico e demográfico......................................................... 43
2.4 Qualidade e condição de moradia.................................................................................... 49
2.5 O todo de uma parte: os mitos da Tijuca....................................................................... 54
Capítulo 3- PRÁTICAS SOCIAIS
ou o habitus no habitat
3.1 Teoria e práxis, suas possibilidades e seus limites ........................................................ 57
3.2 O Conceito de Espaço Social........................................................................................... 62
3.2.1. As Propriedades Atuantes............................................................................... 64
3.3 O Papel unificador do Habitus........................................................................................ 67
3.4 Gostos e Vocação, ou melhor, e Habitus....................................................................... 70
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3.5 Práticas e Propriedades...................................................................................................... 72
3.5.1 Beber, Comer, Ler e Morar............................................................................... 76
Capítulo 4- ESPAÇO PERCEBIDO
ou como se habita
4.1 Status do Bairro.................................................................................................................. 80
4.2 Trajetória nos espaços....................................................................................................... 86
4.3 Mudar ou Permanecer....................................................................................................... 91
4.4 O que é a Tijuca.................................................................................................................. 93
CONCLUSÃO........................................................................................................................ 97
REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 105
APÊNDICE
Nota metodológica...................................................................................................................
111
Lista dos entrevistados.............................................................................................................
114
Questionário..............................................................................................................................
116
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"Para mim o mundo é uma espécie de enigma constantemente
renovado. Cada vez que o olho estou sempre a ver as coisas pela
primeira vez. O mundo tem muito mais para me dizer do que
aquilo que sou capaz de entender. Daí que me tenha de abrir a um
entendimento sem baías, de forma que tudo caiba nele."
José Saramago
2
“Aqui é o meu lugar”. Essa frase simples, corriqueira, já incorporada ao nosso
cotidiano, é digna de maior atenção à medida que compreende uma grande verdade: o aqui
sempre é o meu lugar. O homem nunca se encontra isolado, fechado em si mesmo, dissociado
do espaço mas, ao contrário, está sempre lançado em um espaço determinado, que lhe é
copertinente. Homem e espaço acontecem simultaneamente, a tal ponto que a totalidade do
homem deve ser pensada adicionando-lhe sua situação espacial. Espacialidade esta que não
deve ser entendida apenas como localização, o posicionar-se em um determinado ponto do
espaço, ou seja, estando aqui, ali, ou acolá. Ao invés disso, o homem por já estar sempre
“aqui” possibilita o aparecimento de todo “lá” e “acolá”. De outro modo, o estar neste lugar,
o aqui, determina como compreendo o que está a minha volta a partir do meu lugar.
Como disse Heideger (1993), o homem é um ser no mundo, ou seja, um homem é
desde sempre determinado pela abertura que o coloca em uma relação espacial. Não esta
relação de estar em, da forma que a água está dentro da garrafa, mas o ser-em possui um
sentido existencial, remete ao sentido de morar, habitar e fazer do mundo o nosso abrigo, a
“proteção e segurança existencial frente aos deuses, ao universo e a si mesmo” (BRANDÃO,
1991, p.19).
O conceito de habitar deriva da forma grega oíkos residir em qualquer lugar, casa,
modo de estar, habitar um mundo compreendendo-o através do costume, do hábito.
Hábito por sua vez deriva da forma grega éthos, neste sentido o mesmo que
costume, repetição de atos ou comportamentos muitas vezes mecânicos que nos familiarizam
com algo ou alguma coisa. Assimila-se um hábito de maneira “natural”, sem violência
percebida, como o ato de comer, acordar, vestir-se. O hábito é um mecanismo análogo ao
mecanismo da natureza que nos faz crer nas coisas sem a necessidade do raciocínio e que
conecta naturalmente as questões aos fatos.
3
O hábito permite o agir de modo natural, entretanto o modo como se age, o
porquê deste jeito e não daquele está em outro campo da prática, o da disposição. Não uma
simples disposição para algo que no dia seguinte já se transformou, mas a disposição
permanente, constante, insistente para ser ou agir de certo modo, princípio que rege uma ação,
ou ainda, aquilo que determina uma maneira própria de ser e de agir. Dizer disposição para a
ação não significa uma capacidade de agir, que é própria da potência, mas sua ação primeira,
antes da operação em si, ou seja, aquilo que determina o modo de agir, a prática.
Esta disposição permanente foi primeiramente traduzida por Aristóteles no termo
héxis e deste se originou e sua conversão escolástica, habitus entendida como um modus operandi,
ou seja, como uma disposição estável para agir sempre de uma determinada maneira, em uma
determinada direção.
Transportando este conceito de habitus para o embate do discurso sociológico,
Bourdieu busca superar a antiga polêmica entre o pensamento objetivista e o subjetivismo. A
questão da mediação entre o agente social e a sociedade é a problemática teórica de Bourdieu,
ou seja, entre a experiência primeira do sujeito, subjetivismo e as relações objetivas que
estruturam as práticas individuais, objetivismo. Para isto, Bourdieu desenvolve um outro
gênero de conhecimento, denominado por ele, praxiológico ou para-doxal, que defende uma
relação dialética entre o sujeito e o mundo objetivado. De outro modo, a interiorização da
exterioridade e a exterioridade da interioridade.
Nesse movimento, Bourdieu usa o conceito de habitus para almagamar a relação
sujeito e objeto, ou seja, uma disposição para agir traduz o mundo introjetado no homem. O
habitus então, na visão de Bourdieu tende a conformar e orientar as ações na medida em que,
ao mesmo tempo, é produto das relações sociais e tende a assegurar a reprodução dessas
mesmas relações objetivas que o determinam. Dito de outro modo, o ser individual que
também é o ser social, tem sua ação orientada pelo habitus, disposição incorporada, adquirido
4
enquanto produto das relações sociais e assim a ação individual continua a existir, mas
adequada à realidade objetiva da sociedade, sem, no entanto, obedecer a regras1 ou serem
conscientemente orientadas para um fim determinado2.
Além dessa relação de interação dialética entre os dois modelos, objetivista e
subjetivista, a sociologia de Bourdieu introduz também através da noção de habitus, a questão
do poder. Através do habitus o sujeito tem em si interiorizado tanto normas, valores e
princípios sociais quanto sistemas de classificações. Esse sistema classificatório por sua vez
tem origem social e reproduz as relações de dominação historicamente construídas sobre a
distribuição desigual entre bens materiais ou simbólicos. Como habitus é tanto uma disposição
que antecede ou determina uma ação quanto está calcado na apreensão do mundo enquanto
conhecimento, o que determina uma escolha, não é simplesmente um desejo, uma
subjetividade, mas a objetividade destas relações hierarquizadas interiorizadas. A luta de classe
passa a ser vista a partir do estilo de vida das diferentes classes e se dá em diversos campos de
interesse onde as posições dos agentes se encontram fixadas a priori.
Esta relação entre habitar e habitus dos moradores do bairro da Tijuca é o guia de
reflexão, o modus operandi, deste trabalho de análise de uma realidade empírica, datada, no
período entre 1980 e 2001 e situada, o bairro da Tijuca como possível construção de um “caso
particular do possível” uma vez que “não podemos capturar a lógica mais profunda do mundo
social a não ser submergindo na particularidade de uma realidade empírica”(BOURDIEU,
1996, p.15).
A escolha pelo bairro da Tijuca obviamente não foi gratuita, primeiro por se
localizar na cidade do Rio de Janeiro, uma cidade que parece ter incorporado a visão de que o
1
As regras são, segundo Durkheim (RODRIGUES, 1993), produtos de um consenso e uma organização da vida em
sociedade, e são elas que impõe os fatos sociais, maneira de agir, pensar, sentir, ao indivíduo.
2
A sociedade para Weber (ORTIZ, 1994) é compreendida a partir do conjunto das ações individuais, dotadas de um
significado subjetivado, orientadas pela ação do outro. Dentre os quatro tipos ideais de ação social destaca-se a ação
racional com relação a fins que é determinada pelo cálculo racional que coloca fins e organiza os meios necessários.
5
lugar físico ocupado remete claramente a sua posição social, pois perguntar “onde você
mora?” faz parte do ritual carioca de conhecer o outro. Além disso, o termo “tijucano” reforça
mais uma vez a percepção do lugar ocupado como fator de identificação e distinção. Por ser
um termo sem equivalentes na cidade do Rio, faz da Tijuca um objeto de análise bastante
pertinente e demonstra mais uma vez que o mapa da cidade é percebido enquanto mapa
social, onde as pessoas se definem e são definidas.
A relação dialética entre habitar e habitus desde muito cedo foi incorporado ao
espírito carioca. Como uma hipótese, e sugestão para trabalho de investigação posterior, a
realeza com sua lógica de distinção entre os próprios nobres e os plebeus pode ter semeado o
germe da diferenciação e distinção desde cedo. A cidade atual apresenta em seus bairros
particularidades próprias percebidas e representadas pela população como importantes traços
na demarcação de identidades dos diversos grupos sociais.
Os bairros se diferenciam pela sua paisagem urbana, estilos de vida, consumo,
concentração ou não de serviços, infra-estrutura, problemas cotidianos, dentro de uma
hierarquização que simboliza a hierarquização social.
A Tijuca ocupa uma posição muito particular nessa hierarquia, um lugar
intermediário entre a Zona Sul e a Zona Norte3, assumindo com ambas uma relação
contraditória e ambígua. A grande infra-estrutura que possui, variedade de comércio e
serviços, shoppings, lazer, cinema, escolas, hospitais, transporte público, metrô e ônibus, lhe
proporciona um lugar de destaque na Zona Norte, tem status de centro de influência e
referência para os bairros próximos. Neste aspecto, material, se aproxima da Zona Sul,
entretanto no campo simbólico se afasta desta quando se trata de valores, “Eu não moraria
3
A Zona Sul se refere aos bairros da Orla Marítima, incluindo Gávea e Jardim Botânico e Zona Norte os bairros Grajaú,
Vila Isabel, Maracanã e Andaraí, e a própria Tijuca.
6
nunca em Copacabana. É um lugar ruim para criar filhos, porque os jovens estão mais perto
das drogas........as meninas se prostituem, e às vezes são até de boa família”.4
Em toda a Zona Norte, Tijuca inclusa, o senso comum destaca uma solidariedade
mais intensa, ênfase à vida comunitária, sobretudo nas relações de parentesco e vizinhança;
existência de um maior controle das relações sociais, levando a uma maior intimidade e
aproximação das pessoas e uma valorização da família. Quanto à zona sul seus valores se
explicitam nas relações mais individualistas; impessoais; o afrouxamento dos laços de amizade
e solidariedade, etc (VELHO, 1973).
Neste movimento de aproximação e afastamento, a Tijuca se diferencia de ambas,
assumindo uma identidade que lhe é muito peculiar e contrasta com ambas. Essa posição
particular é defendida e reforçada pela maioria de seus moradores e explicita nas falas de Y. 60
anos, dona-de-casa. “O tijucano é muito prosa, fala do lugar com muito orgulho como se
fosse o melhor. Mas é como o mulato, nem branco nem negro, mal visto pela zona sul e
norte. É bastante bairrista”.
No senso comum, é tido como um bairro pequeno-burguês, conservador em
política e comportamento social, com fronteiras imprecisas, percebidas no âmbito do
simbólico, que vão aumentando na medida em que novos empreendimentos imobiliários são
lançados e fazem uso do prestígio do bairro como atrativo para realização de negócios.
E o que é a Tijuca? É pergunta que o trabalho se faz.
Para romper com o senso comum, ou com as “ilusões do pensamento
substancialista dos lugares”, o ver in loco não é suficiente para apreender a realidade, que está
impregnada de sentidos simbólicos. É necessário proceder a uma análise rigorosa das relações
entre a estrutura do espaço social e as estruturas do espaço físico. É por isso que os dois
primeiros capítulos deste trabalho se ocupam da descrição de ambos espaços relacionando-os
4
Declaração de uma informante do clube “Tijuca Tennis Clube” citado por SILVA (1993) no seu trabalho sobre identidade
social e moradia no Rio de Janeiro hoje..
7
entre si e também com outros bairros e a própria cidade do Rio de Janeiro. Este movimento é
requerido para uma análise mais rigorosa acerca do poder simbólico desenvolvido nos dois
últimos capítulos.
O primeiro capítulo apresenta a Tijuca em seus limites oficiais, bens e
equipamentos, o espaço físico, e seus inúmeros registros materiais, vestígios de uma ocupação.
Mas como o espaço físico não é independente da sua estrutura social (CASTELLS, 1974
citado por ABREU, 1997) refletindo as características de seus habitantes, estão presentes
também neste capítulo comentários dos moradores a respeito do bairro e uma abordagem
inicial de sua estrutura social que será aprofundada no capítulo seguinte.
O segundo capítulo trata de uma leitura rigorosa de sua composição social sempre
tendo como contraponto o Rio de Janeiro, cidade, e outros bairros agregados ou não. Serão
analisados neste capítulo, dados como estrutura social dos bairros, tomados como referência
os trabalhos desenvolvidos por Ribeiro et al. (1999), categorias sócio-ocupacionais, renda,
escolaridade, tipologia familiar etc., com base nos indicadores fornecidos pelos dados dos
censos do IBGE de 80 e 91 e a contagem de 1996.
O terceiro capítulo se aprofunda na estrutura social do bairro da Tijuca a partir
das respostas obtidas com a aplicação de questionários, buscando perceber o que é próprio do
senso comum e das categorias elite e média na construção da identidade do Tijucano, bem
como as percepções e modos de vida de seus habitantes.
O último capítulo é um retorno ao espaço físico, desenvolvido no primeiro
capítulo, porém agora como o lugar percebido por seus habitantes.
Concluindo-se o trabalho a partir da trajetória-análise: espaço social/ físico, a
objetivação de primeira ordem e a percepção da experiência imediata dos agentes de maneira a
explicitar as categorias de percepção e apreciação: as disposições que estruturam suas ações,
8
suas (tomadas de posição) como objetivação de segunda ordem.
Como estrangeira na Tijuca, tomando emprestado os termos de Simmel, possuo
uma desejada objetividade (dada pela proporção de proximidade e distanciamento), que “não
envolve simplesmente passividade e afastamento; é uma estrutura particular composta de
distância e proximidade, indiferença e envolvimento” (SIMMEL, 1979, p.19) . A objetividade
também pode ser definida como liberdade: o indivíduo objetivo não está amarrado a nenhum
compromisso que poderia prejudicar sua percepção, entendimento e avaliação do que é dado.
O estrangeiro é mais livre, prática e teoricamente; examina as condições com
menos preconceito, não está amarrado à sua ação pelo hábito do lugar, embora não possa
esquecer que também possuo um habitus social.
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O trabalho é um convite a submergir na realidade da Tijuca. Inicialmente adentrase em seus registros materializados, nos traçados de ruas, nas configurações das praças, na
arquitetura de seus edifícios, de seus monumentos, e também de seus espaços degradados.
Muito embora se trate de uma análise da estrutura sócio-espacial que habita um espaço, no
caso o bairro da Tijuca, nos dias de hoje, é de fundamental importância ler o espaço urbano.
Esta leitura, entretanto, é uma leitura orientada pela premissa de que o espaço
urbano, tal como conhecemos atualmente, está intimamente ligado ao capitalismo desde sua
origem. A cidade, além de propiciar a acumulação, é um elemento chave no desenvolvimento
do capital. A urbanização, uma vez que socializa as forças produtivas, provê ao capital global
as condições gerais para sua produção (circulação e produção do capital) e reprodução (força
de trabalho) ampliada.
Deste modo, o espaço se configura a partir das diversas lutas e disputas de formas
de controle, através do tempo, na história, pelos vários agentes. Dentre estes agentes,
sobressaem-se os econômicos, ligados à dinâmica imobiliária e os políticos, em que o Estado é
o seu maior representante. Este destaque se justifica em face da especificidade do capital
imobiliário, que pode ser chamado de falso capital.
10
Falso capital é a denominação que se pode utilizar a respeito do capital
imobiliário. Sem dúvida é um capital que se valoriza, porém a origem de sua valorização não
está na atividade produtiva, mas na monopolização do acesso a condição indispensável àquela
atividade. De outro modo, o uso do solo na economia capitalista é regulado pelo mecanismo
de mercado, onde se forma o preço desta mercadoria sui-generis através do acesso à utilização
do espaço. Os preços do mercado imobiliário tendem a ser determinados pelo o que a
demanda estiver disposta a pagar.
No mercado imobiliário, a oferta de espaço não depende do preço corrente, mas
de outras circunstâncias, como oferta ou escassez de terrenos e moradias e melhorias em infraestrutura que são distribuídas de maneira desigual nas cidades brasileiras. A demanda por solo
urbano muda freqüentemente, dependendo em última análise do processo de ocupação do
espaço e expansão do tecido urbano, o preço de determinada área deste espaço está sujeito a
oscilações violentas, o que torna o mercado imobiliário essencialmente especulativo.
A especulação se baseia no fato de que quase sempre a propriedade imobiliária
urbana é dotada de certas benfeitorias como: maior ou menor acesso a serviços de água e
esgoto, equipamentos culturais, educacionais, ou de saúde, comércio, acesso aos meios de
transporte. Neste momento, o estado acaba tendo um papel importante e definidor nos
processo de ocupação do solo.
A ação do estado, que é o responsável pelo provimento de boa parte dos serviços
urbanos, é aproveitada pelos especuladores que por sua vez buscam influir sobre as decisões
do poder público quanto às áreas a serem beneficiadas. Este controle sobre a demanda é que
caracteriza a disputa pelos espaços urbanos.
Todavia, o valor da terra não resulta apenas das inversões feitas nas benfeitorias
pelo Estado. Basta lembrar que imóveis com a mesma benfeitoria podem ter preços
completamente diferentes. Neste sentido, o prestígio de um endereço e mudanças no padrão
11
de comportamento e os estilos de vida explicam outras maneiras de se especular sobre o
urbano. A isso, destaca-se a eficácia dos agentes imobiliários em valorizar simbolicamente uma
dada região ou endereço, segundo Monnet estes:
[...]vendem um sonho visto como objeto funcional, sabem perfeitamente que a
ação ou a reação do grupo são determinadas pelo sentido dado ou recebido pelo
espaço. O ‘sonho’ em questão não é mais que a ilusão vendida pelos corretores
que se interpõem entre os humanos e a realidade. A dimensão simbólica é uma
necessidade vital e incontornável da existência humana, pois ela permite criar
ligações e dar sentido ao meio ambiente, devolver intelegibilidade e apropriação da
realidade. (MONNET, 1998, p. 7)
Assim o prestígio da localização é um elemento utilizado para atrair aqueles com
maior poder aquisitivo que possuem o poder de se auto-segregar. O poder segregativo, por
sua vez, é o efeito clube que nas grandes cidades atuais se materializa em condomínios
fechados, processos de gentrificação e traduzem o poder que estas categorias superiores têm
de se autoexcluir, de se colocar à distância daqueles que não fazem parte da mesma categoria
social.
Além deste primeiro elemento, os promotores imobiliários também tiram
proveito do efeito simbolizador de algumas categorias e do marketing ideológico
transformando espaços antes inóspitos em sonho de consumo de muitas famílias. Este
movimento tem como exemplo clássico o processo de ocupação do bairro de Copacabana5.
Na ânsia de terem o maior lucro na menor área, a construção de apartamentos só teve aval da
população, que passou a ocupar o bairro, após um bombardeamento feito pela imprensa de
um novo estilo de vida, mais moderno e mais saudável com a presença do mar.
Outro exemplo do poder simbolizador das categorias dominantes reside na
capacidade de simplesmente “ditar” a maneira como se deve entender o espaço, ou seja, um
padrão dominante do que é o espaço físico. Este fato leva outras categorias que não podendo
5
Para maiores informações a respeito de Copacabana ver RANGEL, Cynthia Campos. As Copacabanas no tempo e no
espaço: diferenciação socioespacial e hierarquia urbana. 2001. 160 p. Dissertação (Mestrado em Planejamento Urbano e
Regional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2001.
12
se apropriar destes espaços físicos mais valorizados, apropriam-se pelo menos de seus
símbolos. Nomes de condomínios residenciais como Novo Leblon, Nova Ipanema ou centros
de lazer como New York Center associados a uma reprodução da Estátua da Liberdade são
exemplos muito claros desse movimento de apropriação do símbolo.
O espaço urbano colocado desta maneira é um breve introdutório do modo como
o bairro da Tijuca será mostrado neste capítulo inicial. Pretende-se mostrar o lugar físico tal
como ele é nos dias atuais, com suas benfeitorias, pois segundo a maioria dos moradores
entrevistados, a Tijuca dispõe da melhor infra-estrutura e processos pelo o qual o bairro
passou. Neste sentido, faz-se uso da história, literatura e depoimentos em busca da percepção
e apropriação cotidiana que fazem parte da formação do homem e da sociedade moderna.
1.2
T i j u c a :
u m
n o m e
q u e
d e s l i z a
No início, a Tijuca era a área das encostas do maciço da tijuca, as montanhas e a
mata até a Barra da Tijuca. O nome se espalhou, subiu e desceu a montanha e se estendeu por
todo o vale, dificultando precisar seus limites. Onde começa e onde acaba? Acostumados ao
sobe e desce, seus moradores atuais se contradizem ao afirmar o que é, e o que não é Tijuca.
Na cidade colonial, a Tijuca era sesmaria. Fazia parte do Engenho Velho. Desta
época, século XVI data a construção da Igreja de São Francisco Xavier (Matriz do Engenho
Velho), herança dos primeiros moradores e donos da região, os Jesuítas, expulsos do Brasil em
1759.
No século XIX, o que se denominava por Tijuca era o todo que abrangia a área
das montanhas e matas até a Barra da Tijuca. Por entre as matas da floresta pululavam
chácaras e hotéis. Respirava-se neste verde o ar aristocrático de seus moradores nobres,
13
principalmente de franceses que atraídos pela exoticidade da Floresta e o clima ameno longe
das epidemias, com a febre amarela, lá se instalavam. As grandes chácaras e sítios eram
autosuficientes, pois além do café, com efeito, o melhor da corte, gerador de rendas de seus
produtores, se cultivavam “o anil, a mandioca, cacau, cana-de-açúcar (...) e grande infinidade
de frutas: laranja, bananas e limas” (CARDOSO et al., 1984, p. 31).
Os Hotéis, ao se dirigirem ao público da corte, eram anunciados na Gazeta de
Notícias e no Almanaque6, em francês fazendo parecer que em pleno Império Sul americano
existisse uma semicolônia francesa. Era assim com o Hotel Jourdain, de Oscar Lecroq e o Hotel
Villa Moreau,. Este último era anunciado em 1887 por seus donos, M. M. A. Moreau e Jules
Roux deste modo:
au milieu des montagnes e des cascades de la Tijuca” com “cuisine Française dirigée avec un
soin particular par M Jules Roux, um dês meilleurs chefs dans l’art culinaire”; com “cave citée
à juste titre à Rio de Janeiro pour la variété et l’execllence qualité de sés vins”; com quartos e
salas ëclairéss au gaz”, com “bains de natation, cascade, douches, bains chaud, aisin qu’un
Grand Caramanchon pour restayrant champêtre. (FREYRE, 2000, p. 137)
Quem sabe não foi um destes hotéis que abrigou Bentinho e Capitu em sua lua de
mel, inspirando as palavras de Dom Casmurro? “Imagina um relógio que só tivesse pêndulo,
sem mostrador, de maneira que não viessem as horas escritas. O pêndulo iria de um lado ao
outro, mas nenhum sinal externo mostraria a marcha do tempo. Tal foi aquela semana na
Tijuca.” (ASSIS, 1985, p. 72). A Tijuca nesta época não era um bairro, mas a montanha, ou
como diria José de Alencar em carta endereçada a Machado de Assis: “A Tijuca é um escabelo
entre o pântano e a nuvem, entre a terra e o céu” (ALENCAR, 1868.)
Somente no período compreendido entre 1870/90 que o nome Tijuca passará a
abranger uma maior área, obedecendo ao movimento de urbanização que se instalava em todo
o Rio de Janeiro. Começou a descer as montanhas, lá ficou sendo a Floresta7 e o que antes era
Engenho Velho passou a pertencer a Tijuca, trecho da atual Haddock Lobo e início da rua
6
Principais Jornais do Rio de Janeiro da época, citado por FREYRE, 2000, p.136
14
Conde de Bonfim, Fábrica das Chitas, atual shopping Tijuca e arredores. O bairro do Andaraí
Pequeno também foi engolido pela Tijuca. Nesta época, os solares, pertencentes às famílias
abastadas vão caracterizar o bairro que aos poucos irão incorporá-los, transformando em
colégios, pensões, asilos, etc.
Até os dias de hoje, seus limites se expandem. Considerada uma zona de expansão
imobiliária, muito em parte pela existência de casas e casarões, novos lançamentos imobiliários
se valendo do prestígio do bairro na região ampliam ainda mais e mais suas margens.
Para efeito deste trabalho, os limites considerados serão os oficiais, de decreto
último, especificamente o de no 3.158, datado de 23 de julho de 1981, que define os limites de
todos os bairros da cidade do Rio de Janeiro. Essa escolha se faz em função dos dados oficiais
colhidos pelo censo em setores que pertencem aos bairros por sua vez definidos pela
prefeitura do Rio de Janeiro. Muito embora, para algumas entrevistas, o limite oficial tenha
sido desobedecido, em função da afirmação dos entrevistados enquanto moradores da Tijuca
e não de seus bairros vizinhos.
Nos idos de 80 até os dias de hoje, o bairro da Tijuca é um vale que tem por
entorno o grande maciço da Tijuca. Além dele, a Tijuca tem como divisa os bairros do Grajaú,
Andaraí, Vila Isabel, Maracanã, Praça da Bandeira e Rio Comprido. Sua área total é de
10.03,89 ha e 5.804,69 ha de área líquida. A área construída fica em torno de 6.131,57 ha, o
que acarreta em uma densidade demográfica líquida de 280,2 hab/ha, em 1996 segundo o
Anuário Estatístico de 95/97. Em outras palavras isto significa dizer que a Tijuca tem uma
densidade habitacional muito menor que Copacabana (389,5), próxima a de Ipanema (288,9) e
Vila Isabel (283,8) e maior do que outros seus vizinhos imediatos, Maracanã e Andaraí
(respectivamente, 161,9 e 212,7).
Assim dos limites, a Tijuca oficialmente se define por estar
7
As terras de fazendas iriam sendo desapropriadas e replantadas no intuito se preservar suas nascentes, (escassez de
água era um problema constante na cidade do Rio de Janeiro).
15
[....] do entrocamento da Rua Barão de Mesquita com a Av. Maracanã, seguindo
por esta (incluída) até a Praça Varnhagem (incluída) e (excluída) da Praça
Varnhagem até a São Francisco Xavier, por esta (incluída) até a Rua Mariz e
Barros; por esta (incluído apenas o lado impar) até a Rua Senador Furtado e,
(excluída) da Rua Senador Furtado, até a Rua Felisberto de Meneses; por esta
(excluída); Travessa Soledade (excluída); Travessa Doutor Araújo (excluída) até a
Rua do Matoso; por esta (excluída, excluindo o Beco do Mota) até a Rua Barão de
Itapagipe; por esta (excluída) até a Rua do Bispo e, (incluída) da Rua do Bispo até
a Rua Joaquim Pizarro; por esta (incluída) até o seu final; daí subindo em direção
sul o espigão do morro do Turano, passando pelos pontos de cota 151m, 130m e
313m, até o alto do Sumaré (cota 304m); deste ponto seguindo pela cota 300m,
contornando os morros do Salgueiro e da Formiga, até encontrar o
prolongamento que parte do primeiro alinhamento da Avenida Edson Passos; por
este até o entroncamento da rua Conde de Bonfim com a Avenida Edson Passos,
por esta (incluída) até a Rua Doutor Catrambi; por esta (excluída) até a Rua
Ângela Campos; por esta (excluída) até a Rua Custódio Correia; por esta (excluída)
até o seu final; daí , subindo o espigão em direção ao final da Estrada do Excelsior
(excluída) até o ponto de cota 692m; deste ponto, descendo o espigão (incluindo a
favela do Borel), passando pelos pontos de cota 536m e 523m, até o ponto de
cota 234m do morro do Borel; deste ponto, descendo a vertente em linha reta, em
direção ao final da Rua Tenente Marques de Sousa; por esta (incluída); rua
Professor Pizarro (excluída) atravessando a Rua Franca Júnior (excluída), até a
Rua Maria Amália; por esta (excluída) até a Rua Uruguai; por esta (excluída) até a
Rua Barão de Mesquita; por esta (excluída, excluindo a Rua Rocha Pombo) ao
ponto de partida (RIO DE JANEIRO, 1981).
1.3
A
especificidade
da
Tijuca:
seus
muitos
morros
Uma grande característica física-geográfica do bairro da Tijuca é a sua
proximidade com o Maciço da Tijuca. Esta particularidade possibilitou e ainda possibilita a
ocupação de suas encostas por um grande número de favelas em busca de um mercado de
subsistência e redução do tempo de deslocamento casa-trabalho. A distância social não
impede a contigüidade física que é recorrente em quase toda a cidade do Rio de Janeiro.
Oficialmente na VIII Administração Regional Tijuca estão registradas apenas no
bairro da Tijuca, 13 associações de moradores de comunidades carentes que ocupam as serras
16
e morros da parte do maciço voltado para a Tijuca. Entre o Pico do Andaraí-Maior com 861m
de altitude, a Pedra do Conde, Elefante, Anhanguera, Excelsior, Alto da Bandeira, Areão,
Almeida, Felizardo, Redondo, Alto do Fernandes, Alto do Mayrink, Alto do Mesquita,
Visconde, Tijuaçu, Pedra do Perdido, Borel e Casa Branca se espalham as comunidades Morro
do Borel, Chácara do Céu, Morro do Catrambi, Favela Indiana, Casa Branca, Morro do cruz,
Morro da Formiga, Morro do Salgueiro, Morro da Liberdade ou Turano, Morro da Chacrinha,
Pedacinho do Céu, Morro do Bananal, e Coréia-Trapicheiro.
Não se tem notícia da época exata da origem das favelas na Tijuca, mas sabe-se
que estão dentre as mais antigas da cidade, ainda nos primórdios do séc. XX8 e. A ocupação
dos morros, como é o caso do Borel e Salgueiro, foi estimulada pelos proprietários dos
terrenos na encosta. O português Domingos Alves Salgueiro que deu nome a um dos morros
lucravam com o aluguel e principalmente com a venda de barracos para uma população muito
pobre que não tinha condições de residir em cortiços, ou nas casas de cômodos existentes na
Tijuca. Essa forma de ocupação estimulada pelos proprietários dos terrenos nos morros, ou os
que se tomavam como tal, e a ausência de políticas habitacionais mais eficientes foram muito
importantes para o surgimento deste tipo de habitat, bastante “peculiar”.
Além do aluguel e venda dos barracos, o português Salgueiro também possuía
uma fábrica de conserva na rua dos Araújos. Fábricas como a do Salgueiro, as de tecido,
cerveja e cigarros, um mercado de trabalho abundante propiciado pelo emprego doméstico
nas casas e mansões atraiu pessoas vindas da capital, e das decadentes fazendas de café do
interior dos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e do Nordeste.
A aproximação com seus mercados em potencial, onde vivem de prestação de
serviços aos segmentos alto e médio da população, se exige pelo alto custo do transporte e
longos tempos de deslocamento. Esta estreita relação entre o surgimento e/ou crescimento de
8
“um temporal que ocorreu em março de 1901 atingindo o Salgueiro, arrastou barracos morro abaixo, causando uma das
primeiras tragédias deste tipo na cidade”. (CARDOSO et al., 1984, p.106)
17
favelas e a proximidade com o local de trabalho foi evidenciada por Abreu (1997). Segundo
este autor foi constatado na década de 40, período de maior proliferação das favelas no Rio de
Janeiro, que 77% dos favelados do centro e 79% da zona sul trabalhavam próximo a suas
moradias.
Essa lógica de ocupação perdura até os dias de hoje e fica evidente na composição
social das favelas na Tijuca. O proletário terciário corresponde a 35,7% da população ativa,
com destaque para 16,51% de servidores especializados como mecânicos, eletricistas,
bombeiros, cabeleiras, etc. O proletário secundário também possui um peso considerável
23,7% da população com ênfase nos operários da construção civil 7,4% e por fim o
subproletariado com 19,8% dos quais 15,94% são de empregadas domésticas.
Entretanto esta convivência estrutural e sistêmica entre o morro e o bairro formal,
entre classes menos favorecidas e classes mais abastadas atualmente não é tranqüila. Segundo
moradores da Tijuca não residentes em favela, o grande número de favelas é visto como um
problema do bairro. Freqüentemente estes moradores questionados sobre o bairro, comentam
que em função da conformação geológica, os morros, a Tijuca está cercada de favelas e estas
por sua vez são associadas aos tiroteios, guerras do controle de tráfico, conflitos, assaltos e
violência.
Entretanto nem sempre a relação entre o bairro e os “morros” foi conflituosa.
Estes já foram, e ainda são orgulho para o bairro por possuírem 3 escolas de samba: Unidos
da Tijuca (Borel); Império da Tijuca (morro da formiga) e Acadêmicos do Salgueiro (morro do
Salgueiro). Dentre elas, o Salgueiro se destaca, como a escola Tijucana por excelência. Com o
lema “Nem melhor, nem pior, apenas uma escola diferente” (WEYRAUCH et al., 1999, p. 98)
os Acadêmicos do Salgueiro conseguiram traduzir o espírito Tijucano de se sentir diferente.
18
1.4
Os vestígios de uma ocupação: ruas, praças, largos e
edificações
Em 1826, a Tijuca não contava com mais do que 4 caminhos que se
concentravam em torno do Largo da Fábrica das Chitas, o embrião da Praça Saens Peña.
Atualmente a Tijuca possui 4 avenidas, 199 ruas, 21 travessas e 1 ladeira. O progresso
transforma o espaço em memória, cria e recria uma nova realidade.
Deste modo, fica na memória – a Haddock Lobo era o caminho do Engenho
Velho, depois ficou sendo
[...] uma das mais cariocas da cidade – cadeiras na calçada, fachadas de platibandas,
jardins discretos – o doce mau gosto! – e meninas namoradeiras, madressilvas,
magnólias, manacás, bolas de vidro nas varandas, sono às nove horas. Hoje é
apenas um caminho barulhento de ônibus e bonde. (REBELO, 1980 citado por
CARDOSO, 1984, p. 87).
A Conde de Bonfim já foi estrada do Andaraí pequeno e a Desembargador Isidro
foi Travessa do Andaraí. Do encontro destas duas, se fez o coração da Tijuca, a praça Saens
Peña. A “praça” como é carinhosamente chamada já foi várzea, terreno de chácaras de
jesuítas, largo da Fábrica de estamparia, Cinelândia da Tijuca e agora, em homenagem a um
presidente argentino, se chama Saens Peña. Os cinemas se foram e hoje em dia a praça é
gradeada, reflexo da insegurança e de um tempo em que não se freqüenta mais a Praça à noite.
O charme do footimg aos domingos, a paquera na sorveteria Tijuca, com orquestra
e ar condicionado, tão elegante ..... ficaram gravadas pelos lambe-lambes. Atualmente, Saens
Peña pulsa vigorosamente. Milhares de pessoas passam todos os dias em um correr para fazer
a vida, pegar ônibus, metrô, comprar, vender, pagar.....
Felizmente, o amor tijucano pelas praças ainda continua, quase metade dos
entrevistados freqüenta as praças do bairro. A Tijuca possui 15 praças e 6 largos ao todo e, ao
contrário da Saens Peña, ainda preservam seu aspecto de cidade do interior.
19
Na Praça Castilhos França, entre as ruas Campos Sales, Dr. Satamini, Afonso
Pena e Martins Pena, muito além do movimento da estação Afonso Pena, vê-se crianças
brincando, idosos jogando carta, e muitas árvores. A Praça Comandante Xavier de Brito, a
praça dos cavalinhos, ainda guarda o seu ar nostálgico através do antigo costume de alugar
cavalos e charretes nos fins de semana, mas o espaço bucólico fica guardado para o Largo da
Usina. Os bondinhos fazendo sua manobra para retornar ao centro não existem mais, porém,
através de suas ruelas, ao pé da montanha, tem-se acesso às casas mais antigas, resquícios de
um bairro conhecido pelas belas construções.
Na rua Haddock Lobo 252 ficava o palacete de dona Adelaide Moss, lembrava
Pedro Nava em seu livro de memórias. Ele é o exemplo do processo de urbanização que
passou a Tijuca.
A casa era uma dessas belas construções do fim do século passado, com jarrões na
cimalha, florões, monograma, cinco janelaços de fachada, com gradis prateados
onde dragões simétricos ficavam frente a frente, ladeando o ornamento central;
jardim de gramado liso, duas palmeiras imperiais e a fonte de pedra que escorria
seu fio de prata sobre limos e peixes vermelhos; portão com pilastras de granito; o
clássico caramanchão de cimento imitando bambu e o colmo de palha e todo
traçado de trepadeiras. O prédio da D. Adelaide era de porão habitável (cujo pé
direito era mais alto que os do apartamento de hoje) e de andar superior luxuoso,
cheio de ornatos esculpidos nos tetos, vidraças biseautées, vastos salões, lustres com
pingentes de cristal; um sem-número de quartos; portas almofadadas com
maçanetas lapidadas; pias, bidês e latrinas de louça ramalhetada; vastas banheiras
de mármore onde a água chegava pelo bico aberto de dois cisnes de pescoço
encurvado e feitos de metal amarelo sempre reluzente do sapólio. Bela casa, na
segunda etapa de sua existência. Porque a primeira e inaugural era sempre a
residência de grande do Império ou figurão da República. A segunda, pensão
familiar. A terceira, casa de cômodos. Depois cabeça-de-porco substituída pelos
arranha-céus de hoje. (NAVA, 1986 p. 240)
No período de 1870/1890, o Rio de Janeiro quase duplica seu contingente
populacional sofrendo um real processo de urbanização. Período de cristalização da revolução
científica-tecnológica, a 2a revolução industrial. As novas condições da economia propiciam a
gestação de novas elites com o pensamento cosmopolita.
20
Na Tijuca, as grandes chácaras, os sítios e as fazendolas – imagens de um bairro
aristocrático, onde representantes da velha elite, nobres como a Baronesa de Rouen, a família
Taunay, Príncipe de Montbelliard, Barão de Bom Retiro, Barão de Itamaraty, Barão do
Andaraí, Rio Branco e Mauá, o Visconde de Souto entre outros possuíam suas residências de
campo – aos poucos, vão se transformando em residências oficiais.
Grandes solares oitocentistas são erguidos com vastos jardins e próximos às belas
paisagens naturais do Rio de Janeiro.
As melhorias urbanas, água encanada, esgoto,
iluminação, gás encanado geraram uma grande valorização das antigas terras do Engo Velho.
Retalhar a terra e construir casas de vila ou avenida para aluguel parecia um negocio rentável.
Em ato contínuo e principalmente graças à atuação dos proprietários de terras que repartem
suas chácaras, a Tijuca vai transformando sua paisagem e consolidando-se enquanto bairro.
Nas grandes propriedades se faziam os melhores negócios. A febre dos
loteamentos já tomava todo o bairro. Edifícios e casas pupulavam em um frénetico jogo
imobiliário. Nos terrenos maiores erguiam-se casas de centro com grandes jardins e o quintal
de pomar e hortas. Nos lotes estreitos e compridos, construir casas de vila que se moldavam a
eles, tanto para vender quanto alugar era um bom negócio.
A paisagem da Tijuca se transformava radicalmente e aos poucos deixava de ser a
moradia de classes abastadas. No seu lugar, chegavam funcionários públicos, militares,
comerciantes, profissionais liberais, com algum poder aquisitivo – reflexo da complexificação
da economia que estratificava a sociedade – atraídos pelas facilidades do bairro: as melhores
escolas, transporte em quantidade, bons clubes, comércio razoável.
Novamente a Tijuca se transformava, alterando seu perfil social e sua paisagem.
As famílias mais ricas migravam para residências próximas a praia. A modernidade se instalava
no Rio de Janeiro. “Comprava-se” novas formas de morar, um novo estilo de vida, ordem
cultural centrada nos estímulos sensoriais da imagem: propaganda, viagens a Europa, zepelins,
21
transatlânticos, aviões, telégrafos, telefone, iluminação elétrica, utensílios domésticos,
fotografia, cinema, radiodifusão, televisão, coca-cola, aspirina, enlatados, refrigerantes, etc..
O processo de modernização da cidade do Rio de Janeiro trouxe para a Tijuca dos
casarões aristocráticos, as vilas operárias e os barracos. A década de 70 foi a mais marcante em
sua transformação urbana, caracterizada por um processo de verticalização e adensamento.
Em 1970, a RA9 (região administrativa) da Tijuca contava com 2,24 domicílios/ prédio
passando em 1980 para 3,69 domicílios/ prédio. Em 1984, a paralisação do processo de
adensamento é confirmada pela queda no número de habite-se, em 1980 5% e 3,7% em 1984
(FARIA, 1997).
Todavia, esta queda no número de habite-se não significava saturação construtiva
da RA. da Tijuca, pois somente um pouco mais de 1/4 das habitações eram unifamiliares; ela
era o reflexo da crise do sistema habitacional e da construção civil. Entretanto, no ano
passado, segundo a ADEMI, o bairro registrou 229 unidades lançadas, quase o dobro do
segundo colocado, o Andaraí, com 128 unidades. Passeando ao longo das ruas ainda se vê
casas antigas, vilas e pequenos prédios, uma sedução para o setor imobiliário. Até os dias de
hoje, algumas construtoras de grande porte, investem pesado neste bairro apostando na infraestrutura local, metrô, amplo comércio e liquidez dos lançamentos.
9
A RAs, região administrativa da Tijuca foi criada em 11/05/1962 como a VIII Administração Regional. Atualmente
compreende os bairros da Tijuca, Praça da Bandeira e Alto da Boa Vista.
22
1.5
De
um
ponto
ao
outro:
o
transporte
na
Tijuca
Quanto aos problemas de acesso e conservação das estradas, estes serão
prontamente atendidos pelo governo, graças a essa população abastada e tão influente e em
1859 é inaugurada a primeira linha de bondes de tração animal da América Latina, os
maxabombas.
A linha regular que partia do Largo de São Francisco de Paula até o alto da Tijuca
era denominado “bonde grande” e segundo Carlos Chagas “o bonde não falta[va], não
atraiçoa[va]” (FREYRE, 2000, p.138). Deste modo, pôde Brás Cubas regressar de seu refúgio
em virtude da morte de sua mãe: “(..) Um dia, dois dias, três dias, uma semana inteira passada
assim, sem dizer palavra, era bastante para sacudir-me da Tijuca fora e restituir-me ao bulício
(...) Desci da Tijuca, na manhã seguinte” (ASSIS, 1977, p.55).
Desses antigos bondes, o único vestígio que permaneceu na Tijuca foi o nome
Muda. Essa região, onde se faziam as trocas das parelhas, continua sendo denominado do
mesmo modo. A linha de trem, por sua vez, foi inaugurada em 1898. Era movida a
eletricidade e começava no ponto final dos bondes de burro, seu destino era o alto da Boa
Vista. O nome “Usina”, também remonta daquela época, herança da usina térmica geradora
de eletricidade para as locomotivas.
A evolução dos bondes, o metrô, chega à Tijuca em 1976. Neste ano se iniciam as
obras do prolongamento do metrô culminando em 3 estações, Saens Peña, São Francisco
Xavier e Afonso Pena. Para ter uma idéia do porte de sua última estação, a Saens Peña
movimentou em Jan 97 a Dez de 97 um total de 7530229 (RIO DE JANEIRO, 1997)
pessoas, só perdendo em movimento para a Estação Carioca e Botafogo, o meio e a outra
ponta.
23
O transporte sempre foi um ponto alto do bairro e permanece como uma grande
qualidade exaltada por seus moradores. “Gosto muito da Tijuca, tem muita infra-estrutura,
boa localização e acessibilidade.” J. P. 54 anos, aposentado como funcionário publico federal.
1.6 U m
bairro
bem
“servido”:
comércio
e
serviço
“Gosto do bairro, comércio, tudo aqui é fácil no que diz respeito a serviço e
condução” K. 50 anos, prof. de Artes Plásticas.
“Tem tudo aqui, desde o comércio, facilidade de transporte” H. 75 anos
secretária. Considerando-se dados do anuário estatístico, 95/07 a Tijuca possui:
A grande variedade de comércio no bairro parece ser a coisa mais importante para
seus moradores, afinal todos consumimos, esta é a lógica do mercado. Os Shoppings são a
menina dos olhos da Tijuca. O mais antigo, o 45 na Praça, ainda é referência. Além dele, existem
o Tijuca Off-Shopping e o Shopping Tijuca. Deste modo, o “tijucano” pode exercer um de
seus prazeres maiores: passear entre as vitrines. Este footing moderno é original da Saens Peña.
Em 1944, na Revista Semanal, elogiava-se a praça Saens Peña: como “um grande
centro de comércio que serve a um populoso bairro no qual os moradores não precisam sair
de suas comodidades para ir à cidade fazer compras” (CARDOSO, 1984, p. 57). Sua vocação
para mix de negócios se mantém até os dias de hoje. A revitalização comercial parece um
processo natural: primeiro foi o desaparecimento dos cinemas, que deram lugar a grandes
magazines, e agora a substituição das pequenas lojas por outras de maior porte reforçado pela
ampliação e abertura de dois grandes bancos.
24
Apenas como referência, a tijuca, de acordo com o anuário estatístico possui:
2.596 escritórios; 69 hospitais; 21 clubes; 8
unidades entre hotel, motel e pensão; 268
colégios10; 74 bancos; 138 oficinas; 117 supermercados; 24 postos de combustíveis; 387 bares
e restaurantes e 51 indústrias.
1.7
Equipamentos
educacionais:
os
colégios
“O tijucano se considera uma pessoa que mora em um bairro com os melhores
colégios, existe a UERJ, São José, Pedro II, Veiga de Almeida, Colégio Militar, Cap UERJ.” S.
52 anos, professor universitário. De fato, a afirmativa parece ser verdadeira. Dentre seus 268
colégios, 20 pertencem à rede municipal de ensino e alguns ainda são da época imperial.
O Instituto de Educação foi criado em 1880, mas só em 1930 passou a ocupar seu
lugar atual a rua Mariz e Barros. Durante muitos anos, o instituto só aceitava moças que se
vestiam com o clássico uniforme: blusa branca e saia plissada da cor azul. O Colégio dos
Santos Anjos, fundado por irmãs francesas em 1893 ocupa uma grande fazenda à rua 18 de
outubro. O Colégio marista São José, fundado em 1852, é o colégio de ensino médio mais
antigo do Rio de Janeiro. O Colégio Regina Coeli, foi instalado no antigo Hotel Villa Moreau11
aquele das propagandas em francês. Foi fundado em 1908 por Santa Francisca Xavier e
atendia somente meninas até 1966, período de sua reconstrução.
O Imperador Pedro II sempre se preocupou sinceramente com o ensino, não o da
população em geral, mas só uma parte privilegiada dela. O preferido do Imperador era o
10
Nenhum bairro tem mais colégio do que a Tijuca, Copacabana o bairro imediatamente atrás possui 240 colégios e
Botafogo, bairro conhecido como o “bairro dos colégios” tem apenas 129 de acordo com dados do Anuário Estatístico da
Cidade do Rio de Janeiro, 95-97.
11 A propaganda deste Hotel, localizado na floresta da Tijuca, era toda dirigida a um público francês e conseqüentemente
toda em francês. Atitude normal para a corte de 1887, bastante influenciada pela cultura francesa. Para maiores
informações ver FREYRE, Gilberto. Ordem e progresso. Rio de Janeiro: Record, 2000. 1004 p
25
Imperial Colégio Pedro II, que coroava o aluno com o diploma de Bacharel em Letras.
Conseguir o diploma não era fácil, mas quando se conseguia, saía-se como um verdadeiro
príncipe com todos os saberes humanísticos.
Era desejo do Imperador, preparar uma elite brasileira com formação humanística.
“Bacharel” do Pedro II era, como um título de nobreza intelectual, o mais puro que se podia
alcançar no Brasil. Porém, após a proclamação da República, as idéias positivistas valorizavam
apenas os engenheiros e os militares. Assim, surgia em 1889 o Colégio Militar, por vontade de
Duque de Caxias, ocupando a chácara do conde de Bonfim, José Francisco de Mesquita à Rua
Francisco Xavier.
Os princípios religiosos também eram valorizados. O Colégio Batista, fundado em
1911, veio a ocupar a antiga chácara do Barão de Itacuruçá, o negociante Manuel Miguel
Martins. Fornecia aos alunos uma rigorosa educação baseada nos princípios cristãos Este
colégio era somente para homens e seu correspondente feminino era o Instituto La-Fayete, já
demolido.
O censo de 1920 mostrava que a Tijuca possuía nesta época, o maior número de
escolas do Distrito Federal, não somente em quantidade quanto em qualidade. Este fato criou
fama, o que pode ter influenciado algumas pessoas no momento da escolha de um lugar para
morar.
“Me mudei para cá para que minhas filhas estudassem” M.N. 57 anos, dona-decasa.
M. 41 anos, bancário também fez o mesmo movimento. “Mudei pra meus filhos
estudarem”.
D. 57 anos, aposentada, vai um pouco mais além em suas justificativas. “A Tijuca
é um bairro melhor para criar os filhos, principalmente por causa dos colégios”.
26
1.8 O
s
l
a
z
e
r
e
s
t
i
j
u
c
a
n
o
s
A Tijuca atualmente não conta com mais do que 5 cinemas, 3 deles no Shopping
Tijuca e os outros 2 na galeria 422 da rua Conde de Bonfim, em sua modernidade, como salas
de projeção protegidas e abrigadas pela estrutura de um lugar que além do cinema irá lhe
oferecer comida, lojas e antes de tudo segurança, mas a história já foi bem outra. E pensar que
foi um dos motivos que levou M. 66 anos, artista plástica e P. 70 anos, médico a se mudarem
para a Tijuca. “Morávamos no Alto da Boa Vista, mas freqüentávamos a Tijuca por causa dos
cinemas”.
Em 1970, a Tijuca tinha 12 cinemas, 2 cinemas a menos do que o centro.
Instalaram-se na Tijuca logo depois de surgirem no centro. O primeiro foi o Royal, na Rua
Haddock Lobo, no 20, depois o Cinematographo Pathé, Velô e o Cine Madri. Na Saens Peña
erguiam-se o Tijuquinha, o América e o Carioca. Na década de 40, apogeu da era
cinematográfica, inauguravam-se o Olinda, o maior do Brasil, com 3500 lugares (BAIRROS
DO RIO, 2000, Eskie, o Art-Palácio e o Britânica. O Carioca virou Igreja Universal e o
América, Drogaria Pacheco.
Segundo Gilberto Freyre,
o cinema, no Rio de Janeiro, foi uma solução para a crise de alegria que havia na
cidade no fim do séc. XIX. A desilusão com o Império e a necessidade de se
importar modos aristocráticos europeus que rompessem com o passado colonial
português e que se aproximasse dos franceses e ingleses. (FREYRE, 2000, p.467)
Na década de 50, os cinemas ganhavam um competidor à altura: o futebol.
Projetado especialmente para a copa de 50, o Maracanã, Estádio jornalista Mário Filho12, foi
durante muitos anos saldado como “o maior do mundo”. Entretanto, para frustração dos
12
Mário Filho fundador do Jornal dos Esportes, em 1931. Foi um dos maiores defensores do futebol brasileiro e um dos
responsáveis diretos, junto com Ary Barroso, pela construção do Maracá. Irmão de Nelson Rodrigues tinham em comum a
paixão pelo futebol. Mário era flamengo doente e Nelson tricolor doente.
27
moradores da Tijuca, que teimam em reclamar sua posse, este se localiza no bairro vizinho, o
Maracanã.
Talvez o reflexo da proximidade com o Maracanã e a ausência da praia expliquem
a quantidade de clubes existentes neste bairro, 21. Dentre eles os mais famosos destacam-se o
Tijuca Tênis Clube; o Country Clube Tijuca; o Montanha Clube; o América e o Sesc.
O América é o mais antigo, fundado em 1904 para aqueles que gostassem de
praticar o futebol, mas com a demolição de seu estádio para a construção da sede acabou sua
força. O Sesc é lembrança do regime militar. Fundado em 1977, pelo presidente Geisel, tem
teatro, galeria de arte, abrigando várias atividades esportivas. O Country Clube da Tijuca, 1965
foi tradicional palco de bailes de época. Hoje é modesto. O Tijuca Tênis Clube foi inaugurado
para que pudesse ser freqüentado pelas famílias, facilitando a aproximação dos rapazes com as
moças. Na época, era uma ousadia abordá-las diretamente na rua. Sua fundação data de 1915
com o nome inicial de Tijuca Lawn Tennis Club.
“Corria o ano de 1931....A grande sensação da cidade era o Tijuca Tênis Clube,
com sua nova sede colonial, suas festas que eram a nota elegante da temporada,
sua piscina. A primeira piscina da Zona norte, um bairro distante do mar,
trazendo aos habitantes das encostas da montanha a possibilidade da prática da
natação e do prazer do banho ao sol, sem os incômodos da longa viagem à zona
sul.”(CARDOSO, 1984. p, 67).
Atualmente, este clube possui 53.000 associados e é um grande espaço de
socialização e lazer não só dos moradores do bairro, SILVA, (1993), mas de moradores
pertencentes aos bairros da cercania. J. 71 anos, aposentado como bancário “Já frequentava o
bairro. Morava no Grajaú e era sócio do Tijuca Tênis Clube. Meus amigos me convenceram a
mudar para cá”.
Em relação aos outros espaços culturais, o bairro tem ao todo 46 unidades entre
museus, bibliotecas, entidades de pesquisas, espaços culturais, teatros, cinemas e bens
tombados. Muito pouco em relação ao centro, 282, Botafogo, 215 e Lagoa 101, mas nem
28
tanto em relação à Copacabana 59. Seus moradores se ressentem e apontam isto como um dos
problemas do bairro.
C. 31 anos, produtora. “Na Tijuca faltam opções culturais de qualidade”. Também
“Faltam restaurantes sofisticados e vida noturna” E. 51 anos, geógrafa. Será? A revista
Programa, JB, em 28 de março de 1997, lançou uma matéria intitulada “Sem programas na
Tijuca e na Vila? Não 100 programas na Tijuca e na Vila” (REVISTA PROGRAMA, 1997).
Entretanto, o morador da Tijuca não se faz de rogado e freqüenta outros lugares.
De acordo com algumas respostas ao questionário quem vive na Tijuca freqüenta os cinema
do shopping, tanto na Tijuca quanto na Barra; a praia da zona oeste, Barra, Recreio, Prainha e
Grumari e Cabo Frio, inclusive segundo alguns depoimentos “Na praia da Barra tem uma
região chamada Tijuca da Barra”, C. designer de interiores, 27 anos; e por fim, aos domingos
almoça no La Mole e nas Pizzarias de Shoppings.
E quem habita este lugar chamado Tijuca? É o que se pretende no próximo
capítulo.
29
A
N
o
u
A
T
O
M
q
u
e
2.1
O todo e
comparativos
a
I
2
A
m
parte:
S
h
O
C
I
A
L
a
b
i
t
a
de
espaços
construção
Carlos Lessa já disse, “É impossível dominar a cidade com o olhar: Quem observa
a folha perde a visão da árvore” (LESSA, 2000, p.9). No entanto quem observa a árvore não
vê a folha! Ou quem olha o bairro não enxerga a rua e quem olha a rua não vê a casa e assim,
sucessivamente pode-se decompor o todo em partes que formarão outro todo susceptível de
se fragmentar. Destarte cria-se um dilema metodológico - o que é o todo e o que são as
partes?
Este trabalho toma para si a Tijuca, enquanto unidade e fragmento, todo e parte.
Deste modo, ao investigarmos o bairro da Tijuca estaremos olhando sua anatomia social
refletida em seu espaço geográfico, espaço de amontoados de memória, benesses, ou seja,
enquanto espaço físico habitado, relacionado-o com outros bairros e com a cidade do Rio de
Janeiro. Pretende-se identificar assim, o que os aproxima e os afasta dos outros espaços da
cidade, observando o comum e o diferente.
Neste jogo de aproximação e afastamento, a Tijuca ocupa uma posição peculiar: É
um bairro residencial e tradicional que acumula a função de subcentro. Dotado de grande
30
infra-estrutura, comércio e serviços, este bairro é o centro referência da zona norte13. É lá
onde tudo acontece e onde de tudo se encontra.
A Tijuca é tão peculiar que seus moradores possuem designação própria: tijucano.
Este termo é pejorativo para uns e para outros é elogioso. Também é tão ambíguo quanto à
posição que o bairro ocupa. Segundo Silva (WEYRAUCH et al., 1999, p. 98) “Nem zona sul,
nem zona norte, apenas um bairro diferente”.
Mas o que será que dizem os diversos indicadores sócio-demográficos. Estes
confirmam esta ambigüidade? Para mostrar em que aspectos o seu perfil aproxima ou se
afasta deste ou daquele da cidade como todo ou de determinada parte da cidade é o objetivo
principal deste capítulo.
Para um retrato comparativo, foram utilizados os dados mais recentes disponíveis,
os do Censo Demográfico do IBGE de 1991 acrescidos de algumas informações existentes na
contagem de 1996. Entretanto quando for importante mostrar tendências de crescimento e
mudanças serão também utilizados dados do Censo do IBGE de 1980. Além disso, neste
trabalho foram utilizados, em sua maioria, números relativos resultantes do total de cada área e
indicadores, propiciando uma melhor análise comparativa e evitando cair na ilusão dos
números absolutos.
Os dados do IBGE empregados neste capítulo foram lidos a partir de tabulações
especiais, entre elas as categorias sócio-ocupacionais (RIBEIRO, 1999), realizadas no âmbito
do Observatório de Políticas Urbanas/ IPPUR/ UFRJ, tendo a frente o professor Dr. Luiz
César Queiroz Ribeiro, ferramenta fundamental para a análise do todo e das partes, das folhas
e das árvores. Ainda, para efeito de análise e comparação, as informações referentes à
população não-residente e a residente em favelas foram desagregadas, com isto, tenta-se fugir
de possíveis distorções e fazer um perfil do que se considera na Tijuca, a parte da cidade
formal.
13
Zona Norte definida neste trabalho como Maracanã, Vila Isabel, Andaraí, Grajaú e Rio Comprido e a Tijuca.
31
Adotar as categorias sócio-ocupacionais significa compor uma hierarquização
social que se aproxime da estrutura social, rompendo com sistemas de classificações que se
baseiam em apenas uma escala, como por exemplo, a renda. A construção das categorias parte
da combinação e composição de diversas variáveis. São levados em conta, a ocupação, posição
da ocupação, setor de atividade e grau de educação e a renda, esta última como um indicador
de desempate em comparação com a versão original francesa das categorias desenvolvida por
Preteceille (1995), Tabard (PRETECEILLE, 1995), Chenu; Tabard (1993).
A categoria sócio-ocupacional de um indivíduo reflete a posição deste na
sociedade a partir das outras posições sociais atreladas a diferenças, preferências, estilos de
vida, modos de consumo e o status atribuído à determinada função no mercado de trabalho.
Esta composição de indicadores permite a construção de uma estrutura social menos
classificatória, taxonômica, mais completa e interdependente, definida pelas relações. Basear-se
nas relações aumenta o poder de análise desta metodologia, pois pode-se tanto ser aplica na
escala macro, comparação entre metrópoles, quanto na micro, as partes da cidade.
Essa metodologia, acima de tudo, rompe com as projeções, surgidas no debate
acadêmico e incorporadas por discursos ideológicos reificados em expressões como cidade
partida, cidade da exclusão, enclaves fortificados. Para entender um pouco melhor a disputa
que se trava no meio acadêmico, sobre as tendências espaciais das metrópoles, se faz uma
digressão Principalmente porquê o paradigma vigente de como as cidades se estruturam é o
definidor das novas formas de governança e de políticas urbanas.
A corrente que sustenta o discurso radical de fragmentação, polarização como
novo padrão de segmentação das sociedades capitalistas modernas se apóia em dois
argumentos. O primeiro coloca a crise da governabilidade como ponto central, e o segundo
destaca o papel da economia, através da reestruturação produtiva frente ao cenário da
globalização, como provocador de uma realidade emergente urbana clivada entre ricos e
32
pobres. Produto este da inserção das cidades na economia mundial que resulta em uma
mudança na divisão social e espacial do trabalho. Em cidades pós-industriais, despontam-se
atividades voltadas para o setor de serviços e atividades financeiras. A emergência de uma
estrutura social, caracterizada pela dilatação das camadas superiores e inferiores e conseqüente
retração das camadas médias seria o resultado desta nova lógica econômica.
As imagens deste discurso se revelam em modelos de configuração urbana,
denominados Global City (SASSEN, 1998), Cidade esquartejada (MARCUSE, 1987), Dual
City (MOLLENKOPF et al., 1991).
O primeiro modelo fundamentado em três movimentos, concentração do
controle do gerenciamento dessas novas atividades produtivas; dispersão espacial, propiciada
pelas novas tecnologias de informática e telecomunicações e integração mundial de todas as
“indústrias”. As cidades seriam então praças de mercados mudando toda a sua configuração
espacial em função da dispersão e da especialização reificadas em guetos (áreas proletárias) e
espaços residenciais excludentes das camadas sociais superiores.
Sassen (1998) é considerada por muitos como reducionista e simplificadora, pois
não sustenta a complexidade e dinâmicas de cidades como Nova York. Marcuse (1987)
principalmente, afirma que não existe nada de novo neste no discurso da dualização, que surge
sempre em momentos de crise. Sobretudo, defende o movimento em direção à bipolarização,
mas sua manifestação na cidade não é dual e sim esquartejada. Nova York divida em cinco
partes englobaria sua complexidade, dinâmica e interdependência dos espaços. Esta divisão
centrada em raças e classes se configura em cidade do luxo, enclaves da elite auto-segregada;
cidade gentrificada, ocupado por classes emergentes do novo padrão econômico, como os
yuppies; cidade suburbana, cidades jardins como espaços fechados ocupada pela pequena
burguesia; cidades dos inquilinos, áreas degradadas destinadas à população pobre com baixa
qualificação; gueto, cidade dos excluídos.
33
A formulação do modelo dual city de Mollenkopf e Castells (1991) se baseia na
coexistência de duas lógicas de organização do território: segregação e diferenciação. A
segregação urbana das classes sociais se realiza tanto nos estratos mais altos quantos nos mais
baixos da sociedade. Através da lógica da diferenciação, se introduz a esfera do consumo
como o fator principal de determinação de localização territorial dos segmentos médios, via
mercado imobiliário.
Paris analisada por Preteceille (1995) se revela uma oposição a este modelo das
global cities. Sua análise revela, ao contrário, que a configuração espacial fordista, núcleo x
periferia, se transforma, em uma escala macro, em espaços cada vez mais homogêneos e após
um movimento de aproximação, se revela, em sua escala micro, cidade fractal. As
desigualdades e diferenças estão reproduzidas por todos os lados. Este resultado se
fundamenta na crítica aos pressupostos da teoria da cidade dual, baseados em uma divisão
simplificadora da sociedade, fundamentada basicamente na renda. A seu ver também, o debate
acerca da dualização se concentra nos extremos, minimizando o papel decisivo na
reconfiguração espacial praticado pelos segmentos médios.
O ponto de partida adotado por Preteceille “é que transformações
socioeconômicas em curso nas grandes cidades são o motor das mudanças nas estruturas
socioespaciais” (PRETECEILLE et al., 1999, p.144). Assim, propõe a metodologia que
permita analisar e comparar a totalidade das metrópoles, e não apenas suas partes. Surgem os
tipos sócio-espaciais, aplicação das categorias ocupacionais diretamente no espaço urbano
permitindo uma leitura espacializada das desigualdades sociais. Os tipos sócio-espaciais se
estruturam através da sobre-representação de uma determinada categoria ocupacional em
determinada área agregada ou bairro da cidade. Deste modo, a tipologia sócio-espacial é
construída observando-se a cidade como um todo e fornece instrumentos que permitam a
comparação entre lugares específicos.
34
O resultado da aplicação de sua metodologia em Paris revela forte crescimento
das categorias superiores, reconfiguração das profissões características das categorias médias,
surgimento de novas ocupações em detrimento de outras e surgimento de um proletariado
ligado a serviços em substituição do proletariado industrial, fordistas. Apesar das
desigualdades de renda aumentarem, não foi constatado um empobrecimento massivo da
categoria dos assalariados com renda mais baixa e o empobrecimento absoluto das categorias
intermediárias, nem tampouco o recuo do contingente desta mesma categoria. No que tange a
espacialização das categorias, destaca o papel auto-segregador das camadas superiores, embora
existam representantes desta categoria em espaços médios, assim como categorias médias em
espaços tipo operários. Conclusão geral, Paris não se revela como uma cidade dual. Embora
existam processos parciais de dualização espacial como a concentração das categorias
superiores nas áreas centrais e periferia imediata a periferia mais distante é um mosaico
fragmentado.
A mesma metodologia aplicada no Rio de Janeiro (PRETECEILLE et al., 1999)
resultou na afirmação de que, foi a “pequena burguesia” que aumentou, tanto em números
relativos quanto absolutos e não as categorias superiores embora a concentração desta última
categoria seja muito maior no Rio do que em Paris.
Na escala micro, comparação entre as partes da cidade, a hierarquia de posições
formada a partir de 25 categorias ocupacionais agrupadas em 8 grupos14 (RIBEIRO, 1999)
principais aplicadas diretamente ao espaço urbano revelou a Tijuca, frente aos outros espaços,
como um espaço de sobre-representação das categorias médias. A partir dessa premissa, no
caso específico foram geradas grandes zonas compreendendo diversos bairros para efeito de
comparação entre a Tijuca e as outras regiões da cidade.
Essas grandes zonas foram agrupadas segundo critérios de classificação como
contigüidade geográfica, valorização simbólica, perfil sócio-econômico semelhante e
35
finalmente aproximações no processo histórico de desenvolvimento. Logicamente para uma
maior compreensão foram pinçados aspectos de alguns bairros isoladamente.
A Zona Norte agrega os dados dos bairros Grajaú, Vila Isabel, Andaraí e
Maracanã, vizinhos imediatos da Tijuca. Esta região, no imaginário popular é considerada uma
área tradicional da cidade e embora não tenha praia, sua população apresenta um perfil
elitizado.
A Zona Sul Antiga 1 é composta somente pelo Catete e Glória. Dentre todos os
bairros inseridos na Zona Sul, estes dois apresentaram aspecto mais degradado apesar da
intervenção feita pelo Rio-cidade, no Catete.
A Zona Sul Antiga 2 abrange Flamengo, Laranjeiras, Botafogo, Humaitá e Urca.
Estes bairros assim como Glória e Catete foram espaços escolhidos pela aristocracia como
local de residência. Muito embora tenham sofrido uma desvalorização imobiliária, alguns
endereços como Av. Rui Barbosa ainda são considerados os mais elegantes da cidade.
A RA de Copacabana agrega somente dados de Copacabana e Leme. Separou-se
das demais zonas, em função da posição única que ocupa no imaginário social. As imagens das
calçadas de Copacabana são o ícone de uma época única no Brasil lembrada freqüentemente
pelos moradores da Tijuca.
A Zona Sul Moderna compreende os bairros de Ipanema, Leblon, Jardim
Botânico, Gávea e Lagoa. Com uma natureza privilegiada, próxima ao mar e morros, essa área
é atualmente no imaginário carioca a mais elitizada do Rio de Janeiro.
A Barra da Tijuca embora localizada geograficamente na zona Oeste foi
abordada como área isolada. Por ser uma região de expansão urbana, o bairro ainda não está
consolidado. As inovações nos padrões de moradia e de comportamento, condomínios
fechados auto-suficientes, se tornam sedutores e atraem para este bairro uma população
emergente de todas as partes da cidade, incluído alguns moradores da Tijuca.
14 Ver nota metodológica localizada ao fim deste trabalho, no apêndice, p. 111.
36
O Méier, grande subcentro dos subúrbios cariocas, foi sistematicamente
lembrado pelos moradores da Tijuca que o consideram um bairro muito bom.
Por fim, considerou-se apenas o município do Rio de Janeiro como padrão de
referência para os desvios dos indicadores de cada zona.
Deste modo, busca-se neste capítulo situar a Tijuca na hierarquia social dos
bairros, frente aos bairros elitizados da zona sul, à zona norte e ao subúrbio. Entender se
existe realmente uma peculiaridade deste bairro, transformando-o em bairro único, ou se estas
diferenças residem apenas no senso comum de seus moradores e também contribuir para uma
maior definição dessas camadas médias, principais responsáveis pela construção do urbano no
Brasil (Oliveira, 1982, citado por RIBEIRO, 1999).
2.2 T i j u c a u m e s p a ç o d e p r e d o m i n â n c i a d e s e g m e n t o s
médios
Em 1928, quando Tom Jobim tinha um pouco mais de um ano, seus pais em
dificuldades financeiras se mudaram da Rua Conde de Bonfim, Tijuca para a rua Barão da
Torre, Ipanema (CASTRO, 1999b). Nesta época, a Tijuca era chique e aristocrática e Ipanema
não passava de um areal, isolado de todo o resto da cidade.
Atualmente a situação é bem outra, Ipanema e Leblon são os bairros preferidos da
elite carioca e a Tijuca já se consolidou no mapa simbólico da cidade como um bairro reduto
da classe média, conservadora e zelosa dos bons costumes. O bairro também é lembrado por
ter muitos moradores militares. Afora isto, a Tijuca também sofre das mesmas mazelas
encontradas nas grandes metrópoles brasileiras. Existem favelas, moradores de rua, trânsito
caótico, violência e outros males urbanos existentes em toda a cidade.
Se compararmos a Tijuca atual com a da primeira metade do século,
evidentemente encontraremos pioras consideráveis em alguns indicadores clássicos de
37
qualidade de vida. Mas logicamente essa queda de qualidade de vida dos moradores da Tijuca
não se trata de um caso isolado, mas de problemas comuns a toda cidade do Rio de Janeiro,
visto que isto é decorrente de uma degradação do espaço público, crescimento desregrado
pressionado por um mercado imobiliário voraz e sempre faminto, falta de políticas
habitacionais etc. Assim, o que se quer enfatizar é que a piora da qualidade de vida não é de
modo algum um fato isolado do bairro, mas uma mudança típica do nosso tempo e reflexo de
anos de descaso do poder público. Assim, nessa “dança” o Rio se ajeita, se espreme e explode
em mudanças sociais e espaciais como podemos ver abaixo.
De
acordo
com
as
categorias
sócio-espaciais
podemos
perceber
comparativamente a evolução das mesmas no período de 1980 a 1991, a cidade do Rio de
Janeiro e as especificidades do bairro, Tijuca.
TABELA 2.1
ESTRUTURA SOCIAL DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO E DA TIJUCA, (RELATIVOS) 1980/91
CATEGORIAS
Agricultores
Cat1
Categoria Dirigente
Cat2
Categoria Intelectual Cat3
Pequena Burguesia
Cat4
Categoria Média
Cat5
Proletariado Terciário Cat6
Proletariado Secundário Cat7
Sub Proletariado
Cat8
1980
RIO
JANEIRO
0,46%
1,78%
4,34%
9,15%
34,92%
20,94%
18,40%
10,00%
1991
TIJUCA RIO JANEIRO TIJUCA
0,14%
4,17%
6,54%
22,26%
37,60%
12,21%
4,86%
12,22%
0,68%
1,56%
6,05%
11,33%
34,27%
22,91%
14,23%
8,97%
0,37%
3,34 %
8,13%
27,66%
36,02%
12,76%
3,87%
7,86%
Fonte: Censo Demográfico IBGE –1980 e 1991
TABELA 2.2
ESTRUTURA SOCIAL DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO E DA TIJUCA (ABSOLUOS) 1980/91
CATEGORIAS
Agricultores
Cat1
Categoria Dirigente
Cat2
Categoria Intelectual Cat3
Pequena Burguesia
Cat4
Categoria Média
Cat5
Proletariado Terciário Cat6
Proletariado Secundário Cat7
Sub Proletariado
Cat8
1980
1991
TIJUCA RIO JANEIRO TIJUCA
RIO
JANEIRO
7865
97
12071
227
30143
2914
27938
2086
73520
4572
108204
5078
155161
15558
202422
17253
591972
26314
612408
22465
354904
8618
409397
7952
311938
3429
254207
2415
169584
8555
160377
4903
Fonte: Censo Demográfico IBGE –1980 e 1991
38
Ao longo da década de 80 pode-se perceber uma diminuição de representantes da
categoria dirigente no município como um todo e na Tijuca também, tanto em números
relativos quanto absolutos. O movimento de diminuição e aumento das categorias da cidade
do Rio de Janeiro no intervalo de 80 para 91, é o mesmo que na Tijuca, ou seja, aumento das
categorias Intelectual, Pequena Burguesia, Proletariado terciário e diminuição das categorias
Média, Proletariado secundário e Sub-proletariado, mas com variações distintas. Deve-se
olhar então para as pequenas particularidades de variações.
A categoria média no Rio de Janeiro contribui com os maiores índices, 34,92% em
1980 e 34,27% em 1991. Apesar desta pequena diminuição percentual em sua
representabilidade em 91, pode-se observar que em números absolutos esta categoria
aumentou passando, em números absolutos, de 591972 representantes para 612408 em 91.
Com efeito, é a categoria mais representativa em relação às outras. No entanto, a Tijuca, bairro
considerado pelo senso comum como o de “classe média” teve uma perda real, em números
absolutos de representantes desta categoria. Pode-se arriscar dizer, que o bairro está sofrendo
um processo de “re-elitização” confirmado pela redução da categoria média, de 37,60% para
36,02%, redução da categoria proletário secundário 18,40% para 14,23% e aumento tanto da
categoria intelectual, 6,54% para 8,13%, quanto da pequena burguesia, de 22,26% para
27,66%. Essa tendência se expressa na mudança da paisagem urbana Tijucana. Muitas casas
antigas e casarões vem sendo substituídos em sua maioria por prédios padrão alto luxo.
Esgotada a possibilidade da atuação de construtoras e incorporadas na Zona Sul, estas migram
tanto para Barra da Tijuca quanto para a Zona Norte, e a tijuca é considerada um bairro
preferencial de atuação principalmente em padrão médio-alto para alto muito em parte por já
possuir uma infra-estrutura consolidada.
Sob o ponto de vista das categorias inferiores, tanto o proletariado terciário
quanto o secundário, respectivamente trabalhadores do setor de serviços e operários do setor
39
industrial, na Tijuca encontra-se uma sub-representação destas categorias em relação à cidade
do Rio de Janeiro, mostrando mais uma vez o caráter mais elitizado deste bairro frente à
cidade. Quanto ao sub-proletariado é uma categoria que vem diminuindo, expressivamente
mais na Tijuca do que na cidade do Rio de Janeiro Se centrarmos a atenção nas sub-categorias,
a categoria trabalhadores domésticos compõe a maior parte desta na Tijuca, sendo talvez
empregadas domésticas que residem em casa do patrão. Esta redução de quase 55% em
números absolutos é bastante significativa e digna de maiores estudos.
Ao fim, percebe-se que em relação ao todo da cidade do Rio de Janeiro, a Tijuca
se mostra mais elitizada. Todavia, comparando-se o bairro com os bairros localizados na zona
sul do Rio de Janeiro, que são considerados mais elitizados, a diferença é bem outra e pode-se
ser percebida até no discurso dos moradores da Tijuca.
Perguntada sobre a posição da Tijuca frente aos bairros da cidade, M. 66 anos
respondeu de uma maneira sintética, mas pertinente: “A Tijuca se compara a Zona Sul Antiga.
Copacabana é muita mistura, Ipanema e Leblon são mais altos. O exibicionista é da Barra, que
é só para emergentes. O nível da Barra é muito baixo, não tem cultura.”
40
TABELA 2.3
ESTRUTURA SOCIAL DOS BAIRROS E DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO/ 1991
BAIRROS
Agricultores
Categoria Categoria Pequena Categoria Proletário Proletário Sub
Dirigente Intelectual Burguesia Média
Terciário Secundário Proletariado
Tijuca
0,36%
3,34%
8,14%
27,66%
36,01%
12,75%
3,87%
7,86%
Glória
Catete
1,33%
0,68%
0,88%
2,59%
1,25%
1,66%
2,62%
4,38%
3,84%
22,69%
18,57%
19,83%
40,40%
40,44%
40,43%
18,67%
19,18%
19,02%
3,62%
6,52%
5,64%
8,08%
8,98%
8,70%
0,50%
0,40%
0,43%
0,42%
0,63%
0,46%
4,97%
4,19%
4,15%
3,39%
6,82%
4,56%
7,12%
6,01%
6,24%
2,27%
5,94%
6,27%
27,41%
32,74%
24,77%
33,22%
29,40%
27,93%
35,30%
29,62%
34,87%
32,35%
33,04%
33,57%
12,55%
13,26%
16,40%
12,33%
11,84%
14,15%
2,17%
2,62%
3,62%
1,79%
2,75%
2,87%
9,99%
11,16%
9,51%
14,24%
9,59%
10,18%
0,07%
0,33%
0,31%
5,66%
4,67%
4,74%
4,63%
7,91%
7,66%
27,20%
23,47%
23,75%
32,87%
32,90%
32,90%
14,20%
15,21%
15,13%
2,47%
3,39%
3,32%
12,91%
12,11%
12,17%
Z. Sul Moderna
0,21%
0,68%
3,54%
0,51%
0,15%
0,85%
9,13%
8,51%
14,24%
6,87%
8,70%
9,28%
8,13%
7,08%
6,12%
7,23%
7,30%
7,31%
24,02%
24,97%
29,54%
24,55%
28,82%
25,66%
23,89%
26,69%
19,85%
30,81%
28,67%
25,66%
15,39%
14,63%
10,01%
17,36%
12,48%
14,36%
3,18%
3,60%
2,75%
2,97%
2,74%
3,18%
16,05%
13,83%
13,96%
9,69%
11,15%
13,69%
Maracanã
Vila Isabel
Andaraí
Grajaú
Zona Norte
0,22%
0,27%
0,00%
0,17%
0,19%
2,39%
1,91%
1,69%
2,38%
2,04%
8,01%
7,87%
6,88%
8,93%
7,90%
26,16%
23,85%
21,99%
27,89%
24,66%
37,65%
40,42%
38,42%
35,39%
38,50%
14,85%
15,24%
18,26%
13,04%
15,37%
4,34%
4,70%
6,11%
4,81%
4,96%
6,38%
5,74%
6,66%
7,39%
6,38%
Méier
0,06%
1,53%
7,77%
22,01%
42,20%
15,41%
5,92%
5,08%
Barra
0,47%
12,59%
9,98%
26,19%
23,30%
10,93%
6,18%
10,35%
R. de Janeiro
0,68%
1,56%
6,05%
11,33%
34,27%
22,91%
14,23%
8,97%
Z Sul Antiga1
Flamengo
Laranjeiras
Botafogo
Urca
Humaitá
Z Sul Antiga2
Leme
Copacabana
V Copacabana
Ipanema
Leblon
Lagoa
J. Botânico
Gávea
Fonte: Censo Demográfico IBGE - 1991
Na fala de M. 66 anos, o discurso preconceituoso sobre a Barra demonstra a
diferença entre senso comum e os dados pesquisados. A Barra da tijuca, bairro relativamente
novo e por isso ainda não consolidado, conhecido como o lugar preferencial dos emergentes,
possui o maior percentual de elite intelectual, 9,98% dentre as áreas selecionadas, o que não é
41
exatamente, o perfil daquele que “não tem cultura”. Segue-se à Barra, a Tijuca em com um
índice de 8,14% muito próximo a Ipanema e um pouco abaixo do Grajaú, respectivamente
8,13% e 8,93%. Nesta categoria sobressaem a sub-categoria profissionais superiores empregados.
Aliás esta sobrerepresentação da elite intelectual é um dos orgulhos do bairro da Tijuca como
se pode ver em alguns depoimentos de seus moradores.
T. aposentada, 66 anos: “Tijucano é aquele que teve berço de uma classe boa e
bom grau de instrução.”
S. professor, 52 anos, “O Tijucano às vezes sente falta da praia, mas curte o verde
da floresta e se considera uma pessoa que mora em um bairro com os melhores colégios, o
que dá um caráter de elite intelectual”.
Nesses discursos, percebe-se uma intenção de valorização da imagem do bairro
por parte de seus moradores pois ademais no que tange à categoria elite dirigente, que possui
como sub-categorias empresários e dirigentes do setor privado, a sua maior representatividade
também se encontra na Barra da Tijuca, 12,59% seguida pela Zona Sul Moderna, 9,28%,
mostrando uma maior elitização dessas duas regiões em relação às outras áreas escolhidas.
A pequena burguesia se destaca na Tijuca 27,66% e na Zona Sul Antiga 1, 27,66%
e novamente a Barra da Tijuca, 26,19%. A maior parte dessa categoria se concentra na subcategoria pequenos empregadores.
A classe média é uma categoria significativa em todas as zonas, exceto nas duas
áreas consideradas mais elitizadas, Barra da Tijuca e Zona Sul Moderna. Embora a Tijuca
tenha uma alta parcela de sua população pertencente a esta categoria, 36,01%
e seja
considerada no senso comum, o grande reduto deste segmento são no Méier, Zona Sul Antiga
2 e a Zona Norte, respectivamente 42,20%, 40,43% e 38,50% que se encontra a sua maior
concentração, chegando próximo a metade da população dessas áreas.
42
Dentre as sub-categorias da classe média, destacam-se na Tijuca empregados de
escritório e empregados de supervisão que juntos correspondem a 1/5 da população deste bairro.
O proletário do terciário, embora em menor proporção, agrega uma parcela
expressiva da população ocupada de todas as áreas, com destaque para a Zona Sul Antiga 1,
19,02%, ou seja 1/5 da população desta região. Dentre os percentuais das sub-categorias,
servidores não especializados, incluindo porteiros e vigias se concentram mais na Zona Sul Nobre
enquanto a sub-categoria empregados do comércio se concentram nas demais áreas.
O proletário secundário é mais expressivo na Barra da Tijuca com percentual de
6,18%, enquanto a Tijuca possui 3,87% de sua população ocupada classificada nesta categoria.
Considerando-se que a Barra ainda é um bairro em construção e ampliação da cidade do Rio
de Janeiro, entende-se a maior expressividade desta categoria que agrega operários da
construção civil.
O sub-proletariado, por fim, é uma categoria que vem diminuindo com foi
ressaltado acima, mas continua com um percentual expressivo na Zona Sul Moderna, 13,69%,
o que corrobora com a hipótese de que se tratam de empregadas domésticas que vivem em
seu lugar de trabalho.
Pode-se concluir que o perfil ocupacional da Tijuca frente a demais zonas mais ou
menos elitizadas, ora se assemelha a uma ora a outra. A Tijuca concentra a sua população em
3 categorias: a intelectual, pequena burguesia e média sendo que as duas primeiras
apresentaram um aumento de 80 para 91 enquanto a última diminui, evidenciando uma
tendência de revalorização do bairro.
43
2.3
Análise
do
perfil
sócio-econômico
e
demográfico
Aprofundar na realidade da Tijuca significa identificar aqueles que lá vivem. De
acordo com dados da contagem de 96, este bairro possui uma população em números
absolutos de 162.637 Hab, correspondendo a 4% da população total do município do Rio de
Janeiro. Esta população se reparte concentrando 86,74%, isto é, 141073 no bairro e 13,36%,
21564 em áreas consideradas pelo IBGE como áreas de favela.
Não obstante, o grande número de favelas é uma característica da Tijuca, que
atualmente se amedronta com os freqüentes tiroteios. Esta particularidade está entre uma das
maiores reclamações de seus moradores. No entanto esta relação nem sempre foi a de
estranhamento. As regiões mais elitizadas do bairro são aquelas próximas aos morros, afinal é
onde se encontra parte da Floresta da Tijuca. O medo das favelas é algo recente na Tijuca e
não afetou até então, os dados mais atuais disponíveis (Censo IBGE de 1991) acerca de sua
distribuição espacial, como se pode ver no mapa a seguir.
44
MAPA 1 SETORES CENSITÁRIOS_ A ELITE E A FAVELA
Os setores em azul, são setores onde os chefes de domicílio possuem renda acima
da média da cidade do Rio de Janeiro, isto é, acima de 9,4 salário mínimo e os amarelos
correspondem ao setor de favelas cuja renda para a grande maioria, 66,9% não ultrapassa 1
salário mínimo.
Para analisarmos o real padrão econômico da população dentre os indicadores
socioeconômicos a renda familiar per capita é um dos mais adequados. Ele confirma o alto
poder aquisitivo dos moradores das zonas consideradas mais elitizadas da cidade- Zona Sul
Moderna e Barra da Tijuca- frente aos moradores da Tijuca e demais regiões analisadas.
45
TABELA 2.4
RENDA FAMILIAR PER CAPITA EM SALÁRIOS MÍNIMOS NOS BAIRROS, REGIÕES AGREGADAS E MUNICÍPIO DO
RIO DE JANEIRO/ 1991
Renda por
domicilio
Z. Sul
Antiga 1
Z. Sul
Antiga2
V Copa
cabana
Z. Sul
Moderna
Zona
Norte
Barra da
Tijuca TIJUCA
Rio de
Janeiro
até 1SM (inclusive
sem rendimento)
15,3%
9,3%
7,6%
10,0%
11,9%
6,2%
7,9%
35,6%
de 1 a 2 SM
de 2 a 5 SM
de 5 a 10 SM
17,0%
34,2%
16,9%
10,4%
28,0%
26,7%
10,3%
28,8%
25,2%
8,7%
19,3%
23,9%
15,9%
38,3%
21,6%
6,5%
20,9%
28,7%
12,2%
35,7%
27,3%
23,4%
23,4%
9,1%
maior que 10SM
10,7%
19,3%
21,3%
31,1%
8,1%
32,1%
12,8%
5,1%
Sem declaração
5,8%
6,3%
6,8%
7,1%
4,2%
5,6%
4,1%
3,5%
Fonte: Censo Demográfico IBGE - 1991
Nas faixas de renda mais baixas a Tijuca não mostra expressividade se
aproximando do mesmo percentual que as outras regiões analisadas que se contrastam
fortemente com o do Município do Rio de Janeiro como um todo, reforçando a posição de
áreas superiores. Em compensação, observando a faixa intermediária (entre 2 e 5 s.m.) pode-se
observar que existe uma concentração de 35% da população da Tijuca. É nesta faixa que
podemos identificar a distância entre os moradores da Zona Sul Antiga 2, Moderna,
Copacabana e a Barra da Tijuca, todas com índice abaixo de 30%, sendo que nas duas áreas
mais elitizadas o patamar é de aproximadamente 20%.
Na faixa seguinte, de 5 a 10 S.M. consegue-se observar a diferença entre a Tijuca e
a Zona Sul Antiga 1 demonstrando que esta segunda área se mostra mais empobrecida que a
primeira, ou seja, embora a Tijuca se localize na Zona Norte, possui um relativo contingente
populacional que possui condições econômicas para morar na Zona Sul, e não o faz, porquê?
A fala de H., 33 anos, aposentada, “O tijucano é aquele tradicional. Considero o
melhor lugar para morar mesmo tendo outra opção para morar fora daqui” confirma que
apesar do poder aquisitivo, boa parte do Tijucano continua morando no bairro talvez por se
identificar com os valores e estilos de vida desse lugar.
46
O indicador tipos de família talvez possa ajudar a compreender melhor valores
como o tão falado comportamento tradicional do morador da Tijuca, pois leva a relacionar a
existência de determinado perfil populacional com o estilo de vida do bairro.
TABELA 2.5
TIPOLOGIA FAMILIAR NOS BAIRROS, REGIÕES AGREGADAS E MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO/ 1991
BAIRRO
Z. SUL Z. SUL V COPA Z. SUL
R,
ZONA MEIER BARRA TIJUCA
ANTIGA ANTIGA2 CABANA MODERNA NORTE
JANEIRO
da
TIJUCA
1
Pessoa morando só 24,19% 21,49% 27,49%
17,88%
11,54% 10,10% 11,99% 13,48% 10,44%
Casal sem filhos
17,28% 18,48% 19,29%
19,05%
18,60% 20,14% 19,96% 19,83% 15,98%
Casal com filhos
30,97% 35,35% 26,37%
39,80% 45,96% 46,40% 54,06% 42,23% 49,69%
14,22%
13,93%
14,36%
13,93%
15,30% 15,42% 9,77% 14,90%
16,32%
Pessoas sem relação 11,92%
de parentesco
9,43%
11,29%
7,21%
6,99% 6,75% 2,97%
8,03%
5,72%
1,43%
1,32%
1,21%
2,13%
1,62%
1,52%
1,85%
Mulher chefe s/
cônjuge com filhos
Outros tipos de
famílias
1,18% 1,25%
Fonte: Censo Demográfico IBGE - 1991
No município do Rio de Janeiro sobressai o padrão mais tradicional, 49,69% de
famílias com filhos, com destaque para casais com filhos. Este padrão tende a diminuir com
as mudanças de comportamento, cujo maior representante é Copacabana. Dentre todas as
áreas, V Copacabana possui o mais baixo índice de família nuclear com filhos, isto é, 26,37%.
A contrapartida é dada pelo maior número de pessoas morando sozinhas, 27,49%. Este fato
confirma a sua imagem de bairro atomizado que rompe com o padrão tradicional.
A Zona Norte e o Méier, por outro lado, fazem jus a seu status de área tradicional
com 45,96% e 46,40% respectivamente de famílias nucleares com filhos. O curioso é a Barra
e Zona Sul Moderna apresentarem respectivamente 54,06% e 39,80% de seus universos
constituídos por famílias nucleares com filhos. Para entender um pouco melhor sobre o tipo
de comportamento familiar, cabe aqui uma sugestão para investigação a posteriori – que tipo de
famílias são essas. Percorreram todos os ciclos familiares ou resultam de novos arranjos entre
diferentes famílias.
47
A Tijuca ocupa o padrão intermediário, não é o bairro com mais famílias com
filhos nem o com menos. Está muito próxima em números relativos à Z. Sul Moderna.
Pessoas vivendo sós e pessoas sem relação de parentesco, como “repúblicas” ou amigos
dividindo o mesmo espaço se concentram nas duas Zonas Sul antigas e em Copacabana,
talvez por nesses bairros existirem uma maior concentração de apartamentos de 01quarto e
conjugados. Na Z. Sul moderna, Barra, Zona Norte, Méier e Tijuca presença deste tipo de
composição familiar diminui bastante consideravelmente.
É interessante observar que tanto a Tijuca quanto a Zona Norte e o Méier
possuem um alto número de mulheres chefes sem cônjuge e com filhos. Este último fato se
contrapõe ao imaginário popular de que os moradores da Tijuca, a Zona Norte e o subúrbio
(Méier) são “(...) conservador(es) em relação às famílias, nunca se separam.” M. 51 anos,
gerente administrativo. Este morador, há 10 anos veio do Engo Novo (pois não gostava do
bairro) morar na Tijuca por achar este bairro um lugar bom para se criar a família. Ele vive em
apartamento próprio com sua mulher, primeira namorada, com quem é casado no civil e no
religioso e com quem tem duas filhas. M. quando se mudou para a Tijuca, por causa da
identificação com o bairro, faz coro com o senso comum, ajudando a propagar a imagem da
família tradicional como sendo a mais freqüente na Tijuca
Destaca-se também que a parcela populacional que reside em domicílios chefiados
por mulheres, sem cônjuge, com filhos aumentou em todas as zonas ao longo da década de
80. Dados estes, que mostram uma mudança geral no padrão de comportamento. Quanto a
esta mudança no comportamento destaca-se o trabalho de Sant’Anna (2000) sobre os tipos
familiares. Nela a presença de mulheres chefes sem cônjuge e com filhos nos estratos médios
contradiz a hipótese de feminilização da pobreza. Assim, deve-se relativizar a presença de
mulheres-chefe em áreas tanto ricas quanto pobres da cidade e fazer um perfil mais detalhado
dessas mulheres que segundo a tabela abaixo são maioria em todas as áreas selecionadas.
48
TABELA 2.6
DISTRIBUIÇÃO POPULACIONAL POR SEXO NOS BAIRROS, REGIÕES AGREGADAS E MUNICÍPIO DO RIO DE
JANEIRO/ 1991
Z. Sul
Z. Sul
V
Z. Sul
Antiga 1 Antiga 2 Copacabana Moderna
SX_MAS 43,64%
43,44%
41,52%
44,71%
SX_FEM 56,36%
56,56%
58,48%
55,29%
Zona
Norte
44,72%
55,28%
Méier
Barra TIJUCA
44,38% 49,48% 43,72%
55,62% 50,52% 56,28%
Rio de
Janeiro
46,78%
53,22%
Fonte: Censo Demográfico IBGE - 1991
O maior índice ficou para Copacabana com 56,56% de mulheres seguida pela
Tijuca correspondendo a 56,28%. Esta dobradinha Copacabana e depois Tijuca também se
repete em relação à faixa etária.
TABELA 2.7
DISTRIBUIÇÃO POPULACIONAL POR FAIXA ETÁRIA NOS BAIRROS, REGIÕES AGREGADAS E MUNICÍPIO DO RIO
DE JANEIRO/ 1991
Z. Sul
Z. Sul
V
Z. Sul
Antiga 1 Antiga 2 Copacabana Moderna
Zona
Norte
Méier Barra TIJUCA
Rio de
Janeiro
10,77%
11,85%
8,67%
11,05%
14,63%
13,24% 16,06% 11,78%
17,07%
4,02%
5,11%
3,73%
5,20%
5,59%
5,76% 6,84%
5,22%
6,61%
13,33%
13,62%
13,30%
15,21%
13,43%
13,50% 17,03% 14,27%
16,24%
a 44 anos) 33,63%
MADUR(45
a 65 anos) 24,17%
VELHO(66
anos ou
14,08%
mais)
33,36%
29,78%
32,64%
33,48%
31,89% 37,13% 30,00%
32,54%
23,05%
25,90%
23,81%
21,69%
23,92% 18,61% 24,19%
19,41%
13,00%
100%
18,63%
100%
12,09%
100%
11,18%
100%
11,69% 4,33% 14,54%
100% 100% 100%
8,13%
100,0%
CRIAN(até
10 anos)
ADOLE(11
a 14 anos)
JOVEM(15
a 24 anos)
ADULT(25
TOTAL
100%
Fonte: Censo Demográfico IBGE - 1991
Em 1991, do total da população residente na área de Copacabana 18,63% são
idosos15 e na Tijuca 14,54%. Corroborando notícias da imprensa, pesquisas acadêmicas, e até
artes, como cinema, Copacabana se mostra como o bairro com o maior contingente de idosos.
Fazendo-se uma relação direta entre sexo e faixa etária aponta-se para a afirmativa de que
atualmente a expectativa de vida da mulher é maior do que a do homem. A Barra é a área com
uma menor distância entre a proporção de homem e mulher. Este fato se esclarece melhor,
pois este bairro é o que possui mais famílias nucleares com filhos e menos pessoas morando
sós ou pessoas sem relação de parentesco em relação a todas as outras áreas.
15
“Copacabana”, o mais novo filme produzido e dirigido por Carla Camurati foi lançado em circuito nacional em 06/07/2001,
e tem como temática a velhice neste bairro.
49
Observando as outras faixas etárias da Tijuca podemos perceber que este bairro
não possui um padrão desviante em relação às outras áreas, com exceção de Copacabana e
Barra, e se aproxima bastante das Zona Sul Antiga 1 e 2. De maneira geral, a população é
predominantemente composta por adultos (25 a 44 anos) seguidos pela faixa que abrange 45 a
65 anos, os maduros. Somados estes índices, uma média de 60% da população dessas áreas se
localiza na faixa acima dos 25 anos. Em relação ao município, todas as áreas se distanciam
com exceção da Barra da Tijuca, apresentando um elevado índice de crianças de 0 até 10 anos
e um índice menor de idosos.
Em relação ao indicador cor todas as áreas possuem muito mais população branca
do que na média do município que é de 63,43%. Impressionantemente a Tijuca é o bairro que
mais brancos tem, 90,35% seguido pela Barra, Copacabana e Z. Sul Moderna.
TABELA 2.8
DISTRIBUIÇÃO POPULACIONAL POR COR NOS BAIRROS, REGIÕES AGREGADAS E MUNICÍPIO DO RIO DE
JANEIRO/ 1991
BRANCA
N_BRAN
Barra TIJUCA Rio de
Janeiro
Z. Sul
Z. Sul
Antiga 1 Antiga 2
V Copa
cabana
Z. Sul
Moderna
Zona
Norte
Méier
84,95%
15,05%
89,62%
10,38%
89,31%
10,69%
87,12%
12,88%
83,58% 90,09% 90,35%
16,43% 9,91% 9,65%
87,88%
12,12%
63,43%
36,57%
Fonte: Censo Demográfico IBGE - 1991
Todavia, as variações são muito pequenas frente às demais áreas, o que leva a
se afirmar que este indicador não é relevante para analisar as distâncias sociais entre os
diferentes espaços elitizados da cidade.
2.
4
Q u a l i d a d e
e
c o n d i ç ã o
d e
m o r a d i a
A existência de espaços possíveis para o processo de adensamento e verticalização
no qual passa a Tijuca, mencionado no capítulo inicial, se confirma através do indicador tipo
de domicílio. Em relação às outras áreas é a 3a região, depois da Barra e da Zona Norte, que
mais possui casas. A Barra, embora possua muitos condomínios verticalizados, possui uma
50
grande demanda, por parte de uma população mais abastada, por condomínios de casas com
áreas de lazer particular, o que em parte justifica o elevado número de casas, 28,5%. O outro
fator deve-se a recente ocupação desse bairro, considerado ainda uma grande área em
expansão. Em seguida, temos a Zona Norte com 16,9% e a Tijuca com 12,4%. Em relação a
80, todas as três áreas tiveram uma diminuição na quantidade de suas casas, (Barra, 41,1%,
Zona Norte 22,3% e Tijuca 16,8%) demonstrando um ativo mercado imobiliário nessas áreas.
Um indicador interessante para se analisar as condições de moradia da população
é a densidade domiciliar por dormitório. Considera-se baixa a densidade de até duas
pessoas por dormitório, média entre 2 e 3 pessoas por dormitório e por fim a alta, densidade
acima de 3 pessoas por dormitório. Este indicador é razoável para se perceber a escolha
individual no universo de opções disponíveis. O resultado da escolha feita através da
maximização do capital econômico disponível, nem sempre é o mesmo, pois os valores nunca
são os mesmos. Ou seja, principalmente aqueles das categorias classe média e pequena
burguesia que possuindo algum capital econômico, lhes é permitido a escolha entre morar
“espremido” perto da praia ou confortavelmente distante desta.
TABELA 2.9
DENSIDADE DOMICILIAR POR DORMITÓRIO NOS BAIRROS, REGIÕES AGREGADAS E MUNICÍPIO DO RIO
DE JANEIRO/ 1991
Densidade
BAIXA
MÉDIA
ALTA
Z. Sul
Z. Sul
Antiga 1 Antiga 2
72,16% 86,29%
16,71%
9,66%
7,86%
2,42%
V Copa Z. Sul
Zona Barra Tijuca Méier Rio de Janeiro
cabana Moderna Norte
87,19% 87,91% 81,01% 86,6% 87,81% 84,24%
64,88%
8,57%
6,93% 12,78% 7,5% 8,71% 13,78%
22,36%
3,73%
3,76%
4,46% 2,8% 1,68% 1,98%
11,76%
Fonte: Censo Demográfico IBGE – 1991
Destaca-se a Zona Sul Antiga 1, um elevado número de pessoas residindo em
domicílios com alta densidade, embora ainda mantenha uma distância considerável da média
da cidade do Rio de Janeiro. Observa-se ainda que nesta área o número de pessoas sem
relação de parentesco morando juntos é elevado. É um indício de possibilidade de existência
de moradias do tipo república, em função do barateamento do custo de moradia, vivendo em
51
apartamentos pequenos como se observa na próxima tabela, cerca de 90% da população reside
em apartamentos de 01 a 02 quartos.
A contrapartida é a Tijuca e o Méier como sendo as áreas com o menor número
de pessoas vivendo em domicílios com alta densidade seguido da Zona Sul Antiga 1 e Barra.
Observa-se também que o Méier em relação à Tijuca, possui um número bem mais elevado de
pessoas residindo em domicílios com média densidade, aproximando-se neste índice da Zona
Norte.
TABELA 2.10
DISTRIBUIÇÃO DE NÚMEROS DE DORMITÓRIO NOS BAIRROS, REGIÕES AGREGADAS E MUNICÍPIO DO RIO DE
JANEIRO/ 1991
BAIRRO
1 DORM
2 DORM
3 DORM
4 DORM
Z. Sul
Antiga 1
59,05%
31,85%
7,31%
1,79%
Z. Sul
Antiga 2
42,42%
35,12%
18,13%
4,32%
V Copa
cabana
50,82%
29,76%
15,30%
4,12%
Z. Sul
Zona Barra TIJUCA Méier
Moderna Norte
38,02% 31,72% 32,74% 32,66% 30,34%
32,20% 46,06% 32,66% 40,09% 49,49%
21,94% 18,98% 23,35% 22,97% 17,98%
7,84%
3,24% 11,24% 4,27%
2,19%
Rio de
Janeiro
37,34%
45,51%
14,60%
2,55%
Fonte: Censo Demográfico IBGE - 1991
Comparando-se estes dados com o outro indicador distribuição de números de
domicílios, percebe-se na Barra um elevado número de pessoas residindo em apartamentos
de 04 quartos, seguido pela Zona Sul Moderna. São exatamente as áreas mais elitizadas,
principalmente por terem apartamentos maiores em regiões mais valorizadas da cidade.
A Tijuca é depois da Barra, o lugar com a maior quantidade de pessoas residindo
em apartamentos de 03 quartos. Este elevado padrão de construção é a orientação dos
padrões atuais de incorporação. O diretor comercial da Bulhões de Carvalho16 afirma que o
morador da Tijuca com alto poder aquisitivo, não sai do bairro. Ele investe em um imóvel de
padrão mais elevado, uma moradia mais confortável e espaçosa, mas no mesmo bairro.
Atualmente, em um passeio pelo bairro, percebe-se a mudança do padrão das construções.
São edifícios modernos com uma ampla infra-estrutura de lazer.
16
Para maiores informações ver matéria sobre o mercado imobiliário da Tijuca em SANTOS, Ana Cecília; CASEMIRO,
Luciana. Tijuca à frente no setor imobiliário. O Globo, Rio de Janeiro, 17 ago. 2000. Caderno Tijuca, p. 8-10.
52
Isto também pode ser percebido nas respostas dos questionários aplicados nos
moradores do bairro da Tijuca. Na escolha de um imóvel o que mais pesa na decisão são as
características do imóvel segundo 65% dos entrevistados.17
Embora exista na Tijuca, um elevado número de pessoas vivendo em moradias de
02 quartos, 40%, a parcela de população que vive em apartamentos de 01 quarto é bem menor
frente à Zona Sul Antiga 1 e 2 e Copacabana. Reforçando novamente a idéia de que embora
tenham condições de viverem em zonas mais elitizadas, os moradores da Tijuca preferem o
conforto de um apartamento maior em um bairro não tão valorizado em relação às zonas mais
elitizadas do que viverem em residências mais apertadas, de 01 a 02 quartos próximas à praia.
Incrivelmente a Z. Sul Antiga 1 se confirma como a região de maior números
de apartamentos conjugados e de 01 quarto, desbancando o lugar de Copacabana, no senso
comum, como o bairro dos conjugados e pequenos apartamentos e da mais alta densidade.
Esta quantidade de apartamentos de 01 quarto, no catete e glória, se complementa ao índice
de alta densidade neste lugar, ou seja, esta área dentre as demais é a com pior densidade
das áreas escolhidas.
O indicador condição de ocupação por sua vez é muito importante para o
estudo de mobilidade residencial uma vez que mostra a diferença relativa entre imóveis
alugados ou não.
TABELA 2.11
POPULAÇÃO POR CONDIÇÃO DE OCUPAÇÃO DO DOMICÍLIO NOS BAIRROS, REGIÕES AGREGADAS E
MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO/ 1991
Z. Sul
Z. Sul
V
Antiga 1 Antiga 2 Copacabana
PROPRIO 52,61% 63,03%
59,79%
ALUGADO 43,14% 29,13%
32,54%
CEDIDO
4,25%
7,85%
7,68%
Z. Sul
Zona Méier Barra
Moderna Norte
70,94% 65,72% 68,15% 72,25%
18,55% 29,14% 27,36% 19,62%
10,51%
5,14% 4,49% 8,13%
TIJUCA
68,10%
25,21%
6,69%
Rio de
Janeiro
68,46%
25,12%
6,42%
Fonte: Censo Demográfico IBGE - 1991
17
Para se aprofundar nesta análise seria necessário saber o tamanho dos cômodos. Infelizmente no Censo IBGE não se
tem esse tipo de questão, até porque a maioria dos moradores não sabe a real dimensão de seus espaços habitados.
53
A Barra é o local com mais imóveis próprios, seguido da Z. Sul Moderna, isto
talvez se explique novamente pela pouca idade do bairro. Atualmente em fase de
consolidação, a Barra é o lugar aonde se podem comprar imóveis por financiamento através
das construtoras e incorporadoras. Os demais bairros já consolidados não possuem essa
vantagem uma vez que os financiamentos para o setor médio, feitos pelos bancos estatais
estão escassos e as alternativas, oferecidas pelos bancos privados ainda são muito onerosas em
função da alta taxa de juros.
Logo abaixo da Z. Sul Moderna e da Barra vem a Tijuca, o Méier e a Zona Norte
com altos índices de domicílios próprios. A Z. Sul Moderna é o espaço dos imóveis mais caros
e o índice de 70,9% de imóveis próprios corrobora com a imagem de que esta é a região mais
elitizada da cidade do Rio de Janeiro. Em contrapartida, o alto índice no Méier e Z. Norte fazse pensar esses lugares como lugares de maior permanência de seus moradores, já que seus
imóveis são os mais baratos em relação às demais áreas.
No que tange a Tijuca aliando este dado com o de número de dormitórios e
padrão mais elevado dos novos edifícios, confirma-se a afirmativa de Rogério Zylbersztajn,
presidente da Construtora RJZ, “Os tijucanos costumam se manter no bairro mesmo quando
passam a ter um nível de vida melhor. Eles são apegados às suas raízes.” (SANTOS et al.,
2000, p.9).
A Zona Sul Antiga 1 é das áreas, aquela com maior número de apartamentos
alugados 43,14%. Somando-se a isto, o número de imóveis cedidos, metade da população
nesta área vive em apartamentos não próprios e a outra em apartamentos próprios. A partir
deste indicadores e de que a maioria desses apartamentos são conjugados e de 01 quarto,
realmente esta região se mostra como a mais empobrecida dentre as escolhidas para esta
comparação.
54
Os números da Tijuca por sua vez incrivelmente são os que mais se aproximam
da média da cidade do Rio de janeiro, podendo até ser vista como o padrão seguido pela
cidade, ou seja, neste indicador a Tijuca é o Rio de Janeiro.
2. 5
O
todo
de
uma
parte:
os
mitos
da
Tijuca
A partir dos indicadores trabalhados neste capítulo pôde-se perceber que
conjugado a grande infra-estrutura apresentada no capítulo anterior e os bons indicadores de
qualidade e condição de moradia, baixa densidade domiciliar em um bairro com a maioria de
apartamentos de 02 quartos e também grande concentração de apartamentos de 03 quartos, a
Tijuca se destaca em relação à média da cidade do Rio de Janeiro, Méier e Zona Norte. Em
relação aos bairros mais elitizados como os da Z. Sul Moderna e Barra ocupa uma posição
inferior, entretanto se aproxima da região V Copacabana no que se refere a renda do chefe de
domicílio voltando a se separar no que tange à tipologia familiar.
Em relação à família, a Tijuca se mostra mais próxima ao que se considera o
padrão tradicional, pais casados, não divorciados, com filhos, apesar do grande número de
mulheres chefes sem cônjuge e com filhos.
T. 24 anos, auxiliar de cartório faz uma observação muito interessante. “(...) Na
Tijuca tem muita gente divorciada, mas as famílias permanecem unidas”. É uma percepção
bastante fina e em sintonia com os dados. Percebe-se que embora existam mulheres sem
cônjuge e com filhos na Tijuca, existe um laço de solidariedade e pode indicar que elas vivam
próximas de seus familiares. De acordo com a percepção de outro morador, J. 37 anos,
diretor:“(....) a casa, o lar (tijucano) é seu espaço de centralização.”
A idéia de uma Tijuca conservadora por causa da educação rigorosa em função
dos colégios tradicionais e da quantidade de militares existentes na região é extremamente
55
difundida no imaginário do carioca e repetida por seus moradores, vide alguns depoimentos:
“Em geral, (o tijucano) é conservador, não são preocupados em mudar (hábitos)”. “É
conservador se apega à tradição, hábitos simples e rotineiros, de vida estável. A tijuca muda
pouco, porque as pessoas são mais apegadas aos lugares, a casa. Enquanto a zona sul é
inconstante. Aqui nada muda. É um estilo de vida mais provinciano assim como Niterói, vida
pacata, quotidiana, loja tradicionais.... Na zona Sul é muito mistura. Até os políticos são
conservadores, o colégio militar, muito militar morando no bairro. O tijucano tem um estilo
de vida mais interiorano, lembra um jeito mineiro de ser” J. A. 60 anos, aposentado.
O estereótipo do tijucano conservador aliado à grande presença de militares
também está presente na literatura. Alcione de Araújo em seu livro “Nem mesmo todo o
oceano” mostra a rotina de um casal de namorados, cuja menina, Elisa é filha de militar.
No princípio, ficávamos conversando no portão do casarão da Tijuca. Quando
começamos a sair, eu a pegava na porta de casa – e podia identificar a silhueta de
sua mãe espiando da janela – e, na volta, deixava-a na porta de casa – e podia
identificar a silhueta do seu pai espiando da janela. Os horários eram rigorosos.
Um atraso ameaçava a próxima saída. (ARAÚJO, 1998, p. 596)
Se o conservadorismo na Tijuca é uma verdade ou não, os indicadores não
evidenciaram grandes contrastes ou diferenças notáveis. A Tijuca ora se aproxima de um
padrão mais elitizado ora se aproxima da Zona Norte. Destacando-se, o fato de que parece
que “o tijucano procura sempre continuar no bairro ou manter algum vínculo”. M. 27 anos,
oficial do exército.
Em relação aos outros indicadores ela realmente ocupa uma relação intermediária
que está sempre muito próxima dos padrões de Copacabana, o bairro considerado mais
moderno em termos de comportamento.
E assim conclui-se mais um capítulo com o desejo de um maior aprofundamento
no mundo social da Tijuca procurando um maior esclarecimento das estruturas do espaço
56
social, afinal talvez “Alguém botou na cabeça do tijucano que ele é conservador e tradicional”
E. 51 anos, geógrafa.
57
P
o
3.1
R
u
Á
T
o
I
h
Teoria
e
C
a
b
A
i
t
práxis:
3
S
u
s
suas
S
O
C
n
o
h
I
a
A
I
i
t
b
possibilidades
e
S
a
t
seus
limites
Qualquer que seja a sociedade, primitiva ou não, heterogênea ou não, ela é
estratificada - esta afirmação não se contesta. O monopólio da “autoridade científica” pela
definição da existência ou não de classes sociais é que está em jogo na sociologia e, a partir daí,
o poder de ditar a maneira como as sociedades se diferenciam. A preocupação sociológica em
investigar a sociedade não repousa na análise dos fatos como eles realmente são - embora seja
esta a bandeira em defesa de cada teoria – mas na dominação de um modo de pensar sobre o
outro e em suas conseqüências. Os trabalhos científicos não apenas interessam ao autor como
satisfação pessoal, intrínseca, mas principalmente no reconhecimento do outro. O que se
produz é lançado à crítica podendo gerar ao autor, lucros simbólicos como “prestígio”,
“reputação”, “autoridade”, “competência” e também capital econômico.
O pressuposto de que nenhuma teoria sociológica é apolítica e ausente de
interesses não invalida, no entanto, os trabalhos a cerca das classes sociais, todavia,
desmistifica a idéia da verdade única. A disputa pelo discurso dominante em busca da verdade,
destarte, se transforma em uma luta sem vencedor. A Verdade talvez não exista e nunca será
alcançada, entretanto “pequenas verdades” ou “explicações” serão aceitas ou não, em função
58
do interesse e do discurso mais persuasivo. Serão elas mais aceitas ou não, em função da
experiência, qualquer que seja ela, daqueles que praticam o pensamento.
Dentre os pensamentos, opta-se neste trabalho, pela noção de espaço social,
teoria praticada por Pierre Bourdieu, sobretudo por seu discurso consistente e profundo a
cerca da questão da dominação. Através da narrativa que conjuga teoria e empiria, abre-se o
caminho para uma nova compreensão dos conflitos e a perversidade da dominação de
determinados grupos sobre outros e sobremaneira a aceitação da dominação.
A dominação se realiza através do exercício do poder social e simbólico dos
grupos dominantes que lhe confere a capacidade de impor como legítimas suas práticas,
percepções e modos de vida.
Bourdieu também encabeça a Escola que prega uma menor importância da
economia na estratificação social e introduz a idéia dos diferentes capitais na constituição do
sujeito, capital social, simbólico, econômico e cultural. Dos teóricos destacam-se os
neoweberianos que vêem nos modos de consumo, na propriedade da moradia, elementos
determinantes do status social; Castel (1997) através de sua teoria de exclusão permanente de
uma grande parcela da população do mundo do trabalho assalariado afirma a importância
crescente dos processos não-econômicos na definição das identidades sociais; Wilson (1987) e
Wacquant (1995) evidenciam o “underclass” e os guetos respectivamente como novos
segmentos.
Alinhado com este discurso, o objetivo principal deste capítulo é a investigação a
cerca da estrutura social do bairro da Tijuca, o estudo de caso, a partir das práticas, percepções
e modos de vida de seus moradores buscando perceber a construção da identidade do
Tijucano. Para isto, foram utilizados dados primários, obtidos através de questionários
aplicados em moradores do bairro da Tijuca, conjugados com os conceitos apresentados e
desenvolvidos por Bourdieu.
59
Os questionários foram divididos em dois tipos – os questionários 01 aplicados
em chefes de domicílio e os questionários 02 para todos os outros (vide questionários em
anexo). As questões, em sua maioria, são de múltipla escolha, o que facilita e torna mais rápido
tanto a aplicação quanto o tabelamento das respostas. A última questão, “Como você definiria
o Tijucano típico”, é específica para este trabalho, onde se buscou apreender as impressões, as
opiniões, o relato dos moradores do bairro.
Estes questionários foram desenvolvidos no âmbito do Observatório de Políticas
Públicas/ IPPUR-UFRJ, como integrantes de uma pesquisa mais ampla comparativa acerca
das regiões metropolitana do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. À reunião de
elementos empíricos e analíticos presentes nesse campo de discussão faz-se mister a utilização
de um mesmo modelo metodológico, o que permitirá a comparação entre as estruturas. Deste
modo, nem todas as questões foram utilizadas neste trabalho, o que não as torna inútil pois
servirão mais tarde para o trabalho comparativo entre as regiões metropolitanas, realizado no
Observatório.
A intenção com estes questionários era elaborar uma amostra qualitativa dos
diferentes grupos sócio-demográficos encontrados no bairro e reagrupá-los considerando a
quantidade de capital econômico e cultural. Partindo-se das ocupações, consideradas a síntese
destes dois capitais, poderia acrescentar as diferenças de ethos e visão do mundo, práticas
culturais e a casa. O caminho para esta diferenciação também considera a trajetória e não
apenas sua posição atual.
Os questionários foram aplicados pessoalmente para um maior controle das
respostas e a certeza da compreensão por parte do entrevistado. A indicação dos entrevistados
foi em sua maioria feita pela minha rede de relações, e de indicações dos já entrevistados, de
maneira que não se pode dizer que a escolha foi aleatória. Entretanto respeitou-se o critério de
abarcar uma maior variedade de perfis sociais possíveis.
60
A maioria dos questionários foi aplicada em residências dos entrevistados e
quando não, no local de trabalho dos mesmos. Por ser muito extenso e possuir perguntas
pessoais sobre renda, trabalho, cotidiano, rotina, a aplicação em locais públicos, como ruas,
praças, dentro de ônibus/metrô era completamente inviável. Necessitávamos de uma
apresentação inicial com referência e autorização prévia. Marcadas desta maneira, todas as
entrevistas duravam cerca de 1 a 1 ½ h após a aplicação e pedíamos a indicação de outros
moradores que pudessem colaborar.
Embora na última parte do questionário 63% dos entrevistados afirmassem que
se relacionam socialmente com pessoas de “classes sociais” acima e abaixo da “classe
social” deles, as indicações sempre eram de pessoas com o mesmo perfil social e quando
acontecia de indicarem porteiros, faxineiras, manicuras, etc, estes, sempre desconfiados,
adiavam continuamente as entrevista até que delas se desistissem. Deste modo, o que se
conseguiu foi graças à boa vontade, compreensão e solidariedade dos moradores da Tijuca
na maior amplitude espacial, abarcando vários setores censitários.
Após uma exaustiva aplicação destes, o resultado obtido foi: 56 questionários
divididos em 22 chefes homens (19 brancos, 2 pardos e 1 negro), 13 chefes mulheres (todas
brancas), 0 cônjuges homens, 12 cônjuges mulheres, 7 filhos e 2 outros. Quanto à faixa etária:
2 questionários de Jovens (15 a 24 anos), 21 adultos (25 a 44 anos), 26 Maduros (45 a 65 anos)
e 7 idosos (acima de 65 anos).
Agrupando-os de acordo com o modelo metodológico utilizado no Observatório
de Políticas Públicas que tem a categoria ocupação como centralidade na estruturação e
funcionamento da sociedade e explicitado, obtive-se quanto às essas categorias: 24 categorias
Intelectual, 1 Pequena Burguesia, 18 de categorias Classe Média, 1 Proletário Terciário, 1
Proletário Secundário, 1 Sub-proletário e 11 donas-de-casa e estudantes.
61
A partir deste saldo, nota-se que algumas categorias ocupacionais, pertencentes às
camadas médias, estão muito sobre-representadas em detrimento de outras, o que de certo
modo, confirma a Tijuca enquanto espaço médio.
MAPA 2. SETORES CENSITÁRIOS DA TIJUCA PESQUISADOS
Com os resultados dos dados obtidos, não foi possível um mergulho em toda a
realidade social do bairro, mas torna possível uma investigação acerca do universo das
camadas médias urbanas. Este universo é bastante indefinido e pouco estudado, pois se
apresenta como uma massa populacional amorfa, sem características ou propriedades
específicas. Não pertencer às elites, ou camadas mais pobres é o requisito básico para se
classificar enquanto pertencente as “camadas médias”.
Pertencer a “classe média” ou as “camadas médias” é afirmação que a maioria da
população faz ao ser interrogada a respeito do seu segmento social. O que realmente
representa esta afirmação?
62
Deste modo, os dados obtidos no questionário são preciosos por possibilitar
investigar o universo de camadas médias urbanas no Brasil, defrontado-as com o que as une e
o que as diferencia entre si a partir dos novos conceitos de estruturação do espaço social.
3 . 2
O
c o n c e i t o
d e
e s p a ç o
s o c i a l
A noção de espaço social é um conceito criado por Bourdieu que contrapõe a
visão relacionista à visão existencialista de classes. Estas são ora construídas pelo intelectual
enquanto uma classe real, um grupo mobilizado, pensamento que busca conseqüências
políticas, ora como tipos ideais, podendo também se basear na visão economicista, princípio
que rege um olhar reducionista a respeito do campo social, praticado principalmente por
aqueles que não pertencem à sociologia.
Em sua teoria, Bourdieu defende a não existência de classes reais, acredita em um
espaço social, pronto para ser ocupado por classes em estado virtual, ou seja, “não como um
dado, mas como algo que se trata de fazer” (BOURDIEU, 1996, p.50). Este espaço social se
constitui a partir de tomadas de posições diferenciadas e coexistentes, distantes ou próximas,
que só existem umas em relação às outras. Essas posições vão desenhando e contornando um
determinado espaço, uma vez que são preenchidas por agentes ou grupos detentores de
determinadas características, propriedades e práticas de comportamento.
As características em nenhuma hipótese são estáticas e inerentes a determinados
grupos sociais, como o quer o senso comum. É preciso, sobretudo, tomar cuidado para não
transformar em propriedades necessárias e intrínsecas de um grupo qualquer, as propriedades
que lhes cabem em um momento dado, a partir de sua posição em um espaço social
determinado e em uma dada situação de oferta de bens e práticas possíveis como o faz Nelson
Rodrigues em artigo publicado no livro de memórias “A Menina sem estrela” : “.(...) dobro a
63
esquina e quase esbarro com D. Odete. Com esse nome de Zona Norte, é minha vizinha em
Ipanema. (na Zona Norte, para lá da Saenz Peña, há várias Odetes)” (CASTRO, 1999a, p.35).
Esta afirmação mostra uma visão carregada de pré-conceitos.
Remeter o nome Odete à Zona Norte é o modo substancialista de se pensar e o
mais cômodo também. Destarte, deve-se deslocar a visão de grupos sociais e propriedades em
si focalizando na relação entre grupos sociais e propriedades. Ou melhor, praticar o
pensamento preconceituoso que imputa determinadas características a determinados grupos
sociais é aceitar, sem questionar, a “verdade” que nos apresentam. É neste momento que
devemos olhar o que está por trás de cada pensamento, buscar o interesse em que este e não
aquele pensamento domine a representação social.
A compreensão da sociedade aplicada à teoria do espaço social coloca a questão
da relação como o ponto central para se entender o homem enquanto sociedade e a sociedade
enquanto homem. Priorizar a relação é acabar com antagonismos do pensamento, sociedade e
homem, subjetivo e objetivo, consciente e inconsciente e, por conseguinte romper com a
doutrina aristotélica da essência necessária. Analisar as coisas a partir da sua essência é um
movimento rotineiro do senso comum e um modo preconceituoso, porém ilusório
principalmente em análise sociológica. Dessa forma, Bourdieu nos convida a abandonar o
método de análise dos acontecimentos e coisas em si para uma espécie de esclarecimento das
estruturas dos acontecimentos que tem como fonte principal à relação entre as coisas.
Compreende-se esta articulação no fato de escolhermos determinados bens,
determinando estilo de vida em detrimento a outro. Isto significa uma tomada de posição no
espaço social. São exatamente as escolhas (tomadas de posição) ou mesmo a tendência para
determinadas escolhas (disposição) por diferentes práticas, como comida, tipo de música,
esporte, política, tipo de literatura que nos define socialmente em relação ao outro, por
ocuparmos posições distintas relacionais.
64
O posicionamento, ou tomada de posição, implica necessariamente em uma
diferenciação, conceito fundamental da noção de espaço enquanto conjunto de posições
distintas e coexistentes, exteriores umas às outras, definidas umas em relação às outras.
Assim, somos o que nos cercam, as propriedades e bens que tomamos para nós em relação ao
que o outro toma para si fazendo que com ocupemos determinado lugar no espaço social
diferente do outro.
Para entender melhor a apropriação das diferentes posições no espaço social pelo
indivíduo, Bourdieu afirma que esta é determinada pela posse ou não das diferentes
propriedades atuantes. São elas, as propriedades, denominadas atuantes por não serem
estáticas e funcionarem como princípios de construção dos atores sociais.
3 . 2 . 1
A s
p r o p r i e d a d e s
a t u a n t e s
Propriedade é algo que pertence a alguém, ou mesmo algo que dispomos ou
temos responsabilidade sobre. A propriedade pode ser possuída individual ou coletivamente e
ser de natureza material ou não material. Em análises sociológicas o conceito de propriedade é
fundamental na questão da desigualdade e diferenciação social.
Propriedades atuantes, conceito formulado por Bourdieu, são os diferentes tipos
de capital cultural e econômico. São assim denominadas por serem o princípio de construção
do espaço social, isto é, possuir esta ou aquela quantidade deste e/ou daquele capital ou poder
define o espaço social de cada indivíduo, ou grupo, estruturando assim o espaço social.
O capital econômico, capital no seu sentido objetivado, são os bens materiais, o
capital em espécie, imóveis, enfim, todo o conjunto de rendimentos e ganhos. Inegavelmente
ainda possui o peso central como fator de distinção e ocupação neste espaço social, pois é o
65
que possibilita maior mobilidade e poder de compra e por isso geralmente seu volume possui
uma relação de reciprocidade com o volume do capital cultural.
O capital cultural pertence ao plano das idéias, dos conhecimentos, propriedades
não materiais. Dizem-se propriedades não materiais por ser um capital adquirido através da
educação qualquer que seja ela. Abrangem desde regras de etiqueta, de comportamento até a
capacidade de falar, se expressar e escrever bem, o gosto por arte, por literatura. Associado à
educação, este capital assegura sua reprodução na relação entre as estratégias das famílias e a
lógica específica da instituição escolar.
As famílias aparecem como a base das “estratégias de reprodução” e perpetuação
de sua posição social. Quanto mais alto for o capital global, econômico e cultural, da família
mais estas investem na educação de seus filhos garantindo seu estoque de capital cultural visto
que a transmissão de bens materiais é garantida por lei. Aquelas famílias cujo capital
econômico é baixo buscam garantir o futuro através da “boa educação” escolhendo para seus
filhos os melhores colégios.
Os moradores da Tijuca valorizam a boa educação. Nos depoimentos é freqüente
a expressão “são educados”. T. 66 anos, aposentada, representante da categoria média afirma,
“(...) O povo da Tijuca é tradicional, dá valor às raízes. Segura as rédeas, tradições de família.
Educação mais rigorosa, filha não dorme fora de casa. Todo mundo come junto, respeitam-se
os valores da família e a autoridade dos pais. Padrão do bairro” e V. 37 anos, secretária,
confirma, “(...) O tijucano passa para os filhos os costumes, as tradições.(...)”
Também enaltecem seus colégios tradicionais e a educação institucional. Confirma
esta afirmação a grande representabilidade da categoria intelectual frente às outras áreas e o
fato de que dentre os entrevistados, os filhos, residindo em casa e que não mais estudem,
possuem senão um grau de instrução maior, o mesmo que o do pai. Nunca o pai tem maior
escolaridade que o filho que já terminou os estudos.
66
O aporte de capital cultural também rende lucros gerando capital social, o
relacionamento, a aceitação e o reconhecimento por parte dos grupos, e capital simbólico,
revestido em fama, prestígio, reputação. Estas outras espécies transformadas de capital podem
ter o mesmo ou até um maior poder do que o capital econômico, dependendo do campo das
disputas. Jorginho Guinle, ex-proprietário do Copacabana Palace, ilustra perfeitamente como
um capital social e cultural pode ser bem empregado com a criação de sua agência de turismo,
a Glamourtur. Através do conhecimento cultural e social adquirido ao longo de sua vida de
playboy é possível oferecê-los aos novos endinheirados, ávidos de capital cultural e social, em
forma de pacote turístico.
As propriedades atuantes, adquiridas primeiramente através da educação, família e
escola, podem também ser compradas. Viajar para a Europa com Jorge Guinle pode ser um
magnífico aprendizado. Tem-se, portanto a aquisição de capital cultural que não através da
família. Comprar marcas, relógios e canetas com grife, marcas de carros reconhecidos
mundialmente pelo seu alto preço são maneiras de ostentar sua posição social.
Mas enganam-se aqueles que imaginam que o simples fato de adquirir objetos de
grande valor simbólico, através de capital econômico, o desloca no espaço social. O modo
como são usados estes símbolos, como por exemplo, os tapetes persas, se em casa ou dentro
do carro é mister na representação do espaço social que se ocupa. A grande corrida dos
emergentes pelo reconhecimento social acaba no limite de possuir apenas capital econômico.
Toda vez que vai ser lançado uma nova edição do livro Sociedade Brasileira, catálogo
de telefones e endereços, sua autora, Helena Godim, recebe dezenas de telefonemas querendo
saber quem irá constar ou não na próxima edição. Tem gente capaz de qualquer coisa para
pertencer ao time dos notáveis, mas segundo sua autora, jogadores de futebol e emergentes da
Barra da Tijuca estão barrados para sempre. Segundo Godim, “esses dois grupos não tem
perfil para a ampliadíssima lista. Não é preciso ser rico para entrar, mas ter uma boa educação,
67
andar em boas companhias” (VEJA RIO, 2002, p. 6). Antes de tudo, requer-se indicação de
alguém que já esteja na lista. Ora o que é isso senão possuir capital cultural e social!
Destarte, o que faz dos diversos capitais, propriedades atuantes, é o fato destes
serem a retradução do habitus, o espaço das disposições. O habitus sendo um corpo socializado,
estruturado que incorporou as estruturas imanentes de um mundo que estrutura tanto a
percepção desse mundo quanto a ação nesse mundo.
3 . 3
O
p a p e l
u n i f i c a d o r
d o
h a b i t u s
A noção de habitus determina a relação entre subjetividade e objetividade. A
realidade objetivada do espaço de posições sociais é internalizada pelo indivíduo, semeando
assim disposições individuais que, na verdade, espelham a sua própria posição no espaço
social e vão se traduzir em comportamentos, ou seja, pré-disposições para pensar, agir e sentir.
O habitus é um conhecimento adquirido e também um haver, uma disposição incorporada em
acordo com a realidade social a qual se está inserido. O resgate do conceito de habitus é de
fundamental
importância
para
o
debate
sociológico
em
torno
da
questão
“objetividade/subjetividade” inerente às ciências sociais.
O conceito de habitus foi utilizado nesse século, primeiramente por Panosfky
(1991), no livro “Arquitetura Gótica e Escolástica”. Este conceito foi retirado da própria
escolástica para explicar a organicidade da relação entre o estilo gótico e a escolástica,
ressaltando a contemporaneidade existente entre os três períodos daquela arquitetura e os três
períodos da escolástica.
Para o autor o que aconteceu no período entre 1130 e próximo a 1270 não foi um
simples paralelismos ou influência direta exercida pelos filósofos sobre os arquitetos mas, em
contraste com um mero desenvolvimento paralelo, trata-se, no caso da conexão a que me
68
refiro, de uma verdadeira relação de causa e efeito; entretanto, contrariamente à influência
individual, essa relação de causa e efeito resulta de um processo de difusão genérico, e não de
influências diretas. Forma-se a partir do que poderíamos denominar, um hábito mental
_através do qual compreendemos esse surrado lugar-comum em seu sentido exato,
escolástico, como “princípio que rege a ação”
Ao contrário da visão histórica corrente, de que períodos históricos se diferenciam
por um paradigma compartilhado, Panofsky (1991) mostra através de um conceito extraído da
própria escolástica que a força motriz capaz de moldar hábitos mentais era a própria
escolástica, uma vez que detinha a formação intelectual naquele âmbito restrito. Os arquitetos
do gótico dificilmente leram Tomás de Aquino ou qualquer outro filósofo escolasta, mas por
necessidade da profissão estavam sempre em contato com a doutrina e empregavam um modo
especial de procedimento, o modus operandi que deveria ser assimilado pelo leigo assim que ele
entrasse em contato com a obra arquitetônica.
Resgatar o conceito de habitus, assim entendido para os dias de hoje, implica em
primeiro lugar definir um modo de conhecimento que pretende acabar com a antiga polêmica
entre o pensamento objetivista e o subjetivista, através de uma relação dialética entre o sujeito
e o mundo objetivado, uma vez que o ser incorpora o mundo. Em um segundo lugar dizer do
habitus como aquilo que é incorporado significa comprometê-lo com uma certa moral, uma
determinada perspectiva e assim como uma espécie de dominação, pois quando se incorpora
algo deve se entender como.
Do ponto de vista sociológico o antagonismo se reveste em dois clássicos,
Durkheim e Weber18. Desses dois teóricos fundamentais para a construção da sociologia, o
aspecto econômico tem seu papel reduzido, ambos fugindo de uma leitura economicista do
homem. Para Durkheim, o homem é gerado pela sociedade e não pelo mercado e Weber, por
18
Para uma melhor compreensão da relação destes autores conferir ORTIZ, Renato. A procura de uma sociologia da
prática. In: ORTIZ, Renato. (Org.). Pierre Bourdieu: Sociologia. São Paulo: Ática, 1994. p. 7-36.
69
seu turno, mostra que as motivações individuais não são apenas materiais, mas incluem o
poder político e prestígio social.
A sociologia de Durkheim acredita na existência de uma essência transcendente
que cria a consciência coletiva formadora dos sujeitos sociais. De outro modo, o indivíduo
social possui uma dimensão coletiva, a sociedade, o universo moral e uma realidade distinta
que não é apenas o somatório dos indivíduos que a compõem. O indivíduo social é aquele
cuja consciência não é apenas informada, mas gerada pela sociedade. A sociedade é uma
abstração, realidade objetiva que determina toda e qualquer ação do sujeito transformando
coercitivamente o sujeito individual em ser social. Ora, para Bourdieu não existe uma distinção
entre o ser indivíduo e o ser social, o que leva a refletir sobre os postulados de Weber.
Weber refuta a tese de um “mundo objetivo”, ou seja, como estrutura estruturada,
visto que a objetividade do social só pode ser apreendida através de ações individuais. O
sentido da ação, do comportamento é dado a partir do indivíduo. A ação se desloca para o
princípio das coisas, do mundo, não existe mais a sociedade como totalidade, mas enquanto
uma rede de intersubjetividades que tem como origem a ação do ser individual. Ora, para
Bourdieu o que é o ser individual senão o ser social?
Esta premissa leva Bourdieu a buscar a superação do objetivismo sem no entanto
cair no subjetivismo. Deste modo o conceito de habitus de origem escolástica adquire novos
elementos na leitura de Bourdieu que o define como o
sistema de disposições duráveis, estruturas estruturadas predispostas a
funcionarem com estruturas estruturantes, isto é, como princípio que gera e
estrutura as práticas e as representações que podem ser objetivamente
‘regulamentadas’e ‘reguladas’ sem que por isso sejam o produto de obediência a
regras, objetivamente adaptadas a um fim, sem que se tenha necessidade da
projeção consciente deste fim, sem que se tenha necessidade da projeção
consciente deste fim ou do domínio das operações para atingi-lo, mas sendo, ao
mesmo tempo, coletivamente orquestradas sem serem o produto da ação
organizadora de um maestro. (BOURDIEU, 1972 In: ORTIZ, 1994, p.61)
70
Deste modo, o habitus configura-se enquanto o conjunto de saberes e normas sem
termos a consciência de sua existência. O habitus é o princípio gerador e unificador que
retraduz as características intrínsecas e relacionais de uma posição em um estilo de vida, que é
um conjunto de escolhas pessoais, de bens e práticas, enfim o gosto.
3.4
Gostos e vocação, ou melhor habitus
O Gosto, principalmente por cultura e a vocação, o chamado, a princípio são
vistos como dádivas da natureza. Após observações empíricas, Bourdieu estabelece a
existência de uma relação entre os bens culturais, disposições e o espaço social. A existência de
uma economia de bens culturais é defendida por ele sobremaneira em seu livro La Distincion,
onde afirma que o gosto e estilo de vida devem ser considerados como práticas socialmente
construídas e produtos de disciplina e educação. Por vocação deve-se entender a mesma coisa.
Vocação é aquilo que nos chama, logicamente não se trata de uma voz “do além”,
transcendente, mas um chamado interno, intrínseco a natureza humana, pois parte de nós
mesmos. Esta é a chave para se entender que a vocação não é nada senão a disposição que se
incorpora em acordo com as circunstâncias que nos rodeiam. Ortega Y Gasset (1987), em
toda sua obra, se preocupou com a caracterização da vida humana e com a Espanha. A vida
humana foi reduzida em três grandes fatores: a vocação, a circunstância e o azar. A vocação e
a circunstância são magnitudes dadas e o azar é o fator irracional da vida, o acaso. A Espanha
deste autor foi ressaltada a partir de seus personagens Velásquez, Goya, Quixote, etc.
A pergunta: Qual era a vocação de Velásquez? A pintura é claro, diríamos. Ao que
retruca Ortega, a pintura para Velásquez não era nada além das suas circunstâncias para atingir
sua verdadeira vocação “Ser Nobre”. Velásquez viveu como pintor na corte de Espanha,
71
reinado de Felipe IV usufruindo todas as regalias do Palácio e pintando muito pouco em
relação a outros artistas da mesma época.
Velásquez provinha de uma família de nobres emigrados, descendentes do rei de
Alba, porém sem fortuna. No fundo de sua alma imperava: “Velásquez tienes que ser un
noble” (ORTEGA Y GASSET, 1987, p. 27). Ora isto não é nada senão o habitus adquirido em
seu meio familiar, o centro do dispositivo da reprodução social que através de sua educação, o
capital cultural que conforma as experiências ligadas ao meio familiar, pode ser realizado.
O gosto pelas coisas e o consumo destas também são disposições adquiridas que
servem para diferenciar e apreciar. São marcas registradas através do processo de distinção,
funcionando como uma espécie de orientação social que leva a uma incorreta associação de
grifes, marcas, estilos, hábitos, atividades esportivas a determinados segmentos sociais. De um
modo grosseiro, seremos ricos se tivermos um carro importado do ano, um celular startac, uma
cobertura de frente para o mar, jóias, se formos à ópera, ao teatro....
Essa relação inexistente, que leva a tratar as atividades ou preferências próprias a
certos indivíduos ou a certos grupos da sociedade como propriedades substanciais, ganha mais
força e se cristaliza no senso comum através da mídia, do merchandising. Utilizando-se com
maestria a imagem de que somos aquilo que consumimos e com quem nos relacionamos, a
propaganda ajuda a perpetuar este pensamento.
Idéias assim são responsáveis pelo comportamento típico dos “emergentes”,
aqueles que adquiriram muito dinheiro em pouco tempo e desejam emergir no meio social. A
nova sociedade emergente com ambição desmedida por holofotes, sonha conquistar as
colunas sociais da cidade. Festas megalômanas, Mercedes bem BMW. Boates em casa. “o
dinheiro jorrava e gastava-se tudo sem pudor. Entrava em lojas como Armani, Versace e
comprava todas as cores de um mesmo modelo” (VEJA RIO, 2000, p.7).
72
Dessa forma quando se tem um espírito estruturado de acordo com as estruturas
do mundo no qual se está lançado, tudo parecerá evidente e a questão de saber se o jogo vale a
pena não é sequer colocada. Afinal, a principal estratégia dos jogos sociais é de que os jogos se
fazem esquecer enquanto tais. Existe um acordo tácito e oculto a respeito do fato de que vale
a pena lutar a respeito das coisas que estão em jogo no campo, ou seja, se luta pelo poder
sobre os esquemas e sistemas classificatórios que são a base das representações de grupos e
portanto de sua mobilização.
3.5 P
r
á
t
i
c
a
s
e
p
r
o
p
r
i
e
d
a
d
e
s
A cada posição distinta no espaço social correspondem estilos de vida: práticas e
propriedades. T. 54 anos, dona-de-casa, afirma: “Não existe um tijucano típico, isso é pura
invenção, o que distingue é o tipo da profissão.” Tem-se portanto a retradução simbólica das
diferenças inscritas objetivamente através do habitus, nesse caso a escolha pela profissão, que
por sua vez é determinado pela posição no espaço social. Este círculo tem como princípio e
fim o habitus. Embora o habitus seja um conceito, a sua materialidade é percebida através
daquilo de que os indivíduos se cercam, as roupas, o interior da casa, os móveis, os quadros,
os livros e de suas escolhas sejam estas distrações culturais, práticas de esportes, etc.
Todavia, o que alicerça o espaço social das sociedades capitalistas modernas são
dois princípios de diferenciação, o capital econômico e o capital cultural. A quantidade e a
composição destes dois princípios diferenciadores define a posição ocupa pelo agente.
Transpondo este conceito para o papel, enxergamos de um modo esquemático a
representação gráfica de como os diversos agentes sociais se dispõem espacialmente em um
plano definido pelos eixos x e y.
73
A dimensão do eixo y representa o volume dos dois capitais, a soma do capital
econômico e do cultural. Este eixo demarca posições sociais opostas claramente percebidas,
como empresários, profissionais liberais em oposição a operários não qualificados,
empregados domésticos. Para dar conta de um maior refinamento, o eixo x comporta a
composição do capital, quer dizer, separa os detentores de maior capital cultural e menor
capital econômico e aqueles que possuem mais capital econômico em detrimento do cultural.
Esta dimensão é fundamental para marcar diferenças, oposições não percebidas facilmente.
Deste modo, relação entre os diferentes capitais apresenta uma tabela onde as posições são
ocupadas em primeiro lugar pela quantidade de ambos e depois pela especificidade de cada um
destes capitais.
Com o objetivo de condensar informações a respeito da renda (capital
econômico) e nível de instrução (capital cultural) utilizou-se a variável sócio-ocupacional já
mencionada no capítulo 2 deste trabalho. Agrupados todos os entrevistados, focalizamos
apenas naquelas ocupações com alguma representatividade qualitativa, ou seja, 24
questionários pertencentes à Categoria Intelectual e 18 questionários pertencentes à Categoria
Média.
No quadro abaixo se pode observar que a Categoria Intelectual é proprietária de
seus imóveis ou mora em algum cedido possivelmente por familiares e que a Média reside em
sua maioria em imóveis alugados ou próprios financiados.
TABELA 3.1
CONDIÇÃO DE OCUPAÇÃO DO DOMICÍLIO DAS CATEGORIAS
CAT.
INTELECTUAL
CATEGORIA
MÉDIA
Próprio à vista
IMÓVEL
Próprio financiado
8
6
Alugado
5
Cedido por
particular
3
4
0
4
1
74
No caso de ser proprietário do imóvel, nota-se a diferença no valor do mesmo
para as duas categorias: Categoria Intelectual possui apartamentos que variam na faixa de R$
70.000,00 a R$ 280.000,00 e Categoria Média, por sua vez possui imóveis na faixa de R$
40.000,00 a R$ 85.000,00.
Em relação aos bens de valor menor, as categorias se equiparam, a maioria possui
2 aparelhos de TV e utilizam os serviços de TV por assinatura. Entretanto quando se trata de
eletrodomésticos mais caros o Freezer aparece como diferenciador, bem como utilizar o
serviço de internet, que se subtende possuir ou não um micro-computador. Todavia, o carro e
uma 2a moradia são privilégios, em sua maioria da categoria intelectual
TABELA 3.2
RIQUEZA SOCIAL DAS CATEGORIAS
TV
1
CAT.
INTELECTUAL
CATEGORIA
MÉDIA
6
2 ou
+
11
4
10
RIQUEZA SOCIAL
TV
Freezer
Internet
assinatura
não
Sim
0
1
não
sim
2a moradia
carro
não
sim
não
sim
7
10
6
11
6
11
8
9
1
16
5
9
10
4
10
4
9
6
7
6
Possuir no mínimo o 3o grau é condição sine qua non para pertencer a Categoria
Intelectual, diferentemente da Categoria Média que não tem esta condição como essencial.
Entretanto, alguns representantes da Categoria Média podem possuir o 3o grau, pois o que é
conta nessa taxionomia é a ocupação e não a profissão. Deste modo, o capital educacional é
fundamentalmente mais elevado na Categoria Intelectual do que na Média. Isto pode ser
constatado na questão que se refere a línguas estrangeiras.
75
TABELA 3.3
CONHECIMENTO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS PELAS CATEGORIAS
CAT.
INTELECTUAL
CATEGORIA
MÉDIA
Nenhuma
7
LÍNGUAS ESTRANGEIRAS
Inglês
Francês
Alemão
Espanhol
10
5
3
4
13
4
1
0
1
Italiano
1
Outras
2
0
0
Observa-se que o Inglês é o idioma mais falado nas duas categorias, porém o
número de pessoas que falam uma outra língua além do português é muito mais acentuado na
primeira categoria. A necessidade de saber outro idioma está cada vez mais associada a
ocupações com um maior grau de autonomia sem contar o status social que isto representa.
Definidas as duas categorias a serem trabalhadas com seus distintos capitais, econômico e
cultural, expostos passa-se para o ponto seguinte, o consumo distinto de ambas posições no
espaço social.
Entender o consumo em função apenas da necessidade do objeto é priorizar o
valor de uso deste objeto. Todavia o valor de troca-signo também é fundamental, como Marx
já constatara no primeiro livro do Capital. “O fetichismo da mercadoria” é o exemplo mais
simples e universal da maneira pela qual as formas econômicas do capitalismo ocultam as
relações sociais a ele associadas.
Atreladas a estas posições distribuem-se os diferentes estilos de vida, os gostos
para determinadas propriedades e as práticas distintas. Desse modo,
os gostos obedecem, assim a uma espécie de lei de Engels generalizada: a cada
nível de distribuição, o que é raro e constitui um luxo inacessível ou uma fantasia
absurda para os ocupantes do nível anterior ou inferior, torna-se banal ou comum,
e se encontra relegado à ordem do necessário, do evidente, pelo aparecimento de
novos consumos, mais raros e, portanto, mais distintivos (BOURDIEU, 1976 In:
ORTIZ, 1994, p.85).
Neste sentido, à medida que cresce a distância objetiva em relação à necessidade,
o estilo de vida se torna, sempre, cada vez mais o produto de uma “estilização da vida”. Para
melhor entender, deve-se ficar claro que a decisão que orienta e organiza as práticas é
sistemática. A escolha de um vinho, comida ou, por exemplo, o espaço da casa, os móveis
76
sempre corresponderão à posição que se ocupa no espaço social. E é isto, que se verá mais
adiante através dos resultados empíricos obtidos com a aplicação dos questionários.
3.5.1
B e b e r ,
C o m e r ,
L e r
e
M o r a r
A bebida, a comida, o jornal e o interior da casa são “propriedades” de que se
cercam os grupos ou indivíduos e constituem o estilo de vida que simboliza a posição que se
ocupa no espaço social. Outras propriedades como roupa, linguagem, modo de se expressar,
cigarro, perfume, poderiam obviamente ser considerados, mas em função do tamanho dos
questionários, optou-se por uma síntese expressa nestas quatro “ações” fundamentais do
homem moderno.
A bebida preferida na celebração de uma grande ocasião – foi dessa maneira, a
orientação da questão na tentativa de não direcionar o entrevistado. Escolher a bebida dentre
as que se está acostumado retrata mais fielmente as preferências pessoais. Apresentar um
elenco de opções gera a possibilidade do entrevistado escolher em função do que ele gostaria
de parecer e não o que ele realmente é, ou no caso, estar acostumado a beber. Deste modo,
conseguiu-se um padrão no comportamento das duas categorias.
TABELA 3.4
PREFERÊNCIA DE BEBIDAS PELAS CATEGORIAS
CHAMPAGNE
CAT.
INTELECTUAL
CATEGORIA
MÉDIA
BEBIDAS PREDILETAS
WHISKY
VINHO
CERVEJA/CHOPE
4
2
9
4
NÃO
BEBEM
ÁLCOOL
6
2
0
3
8
6
Nota-se que o vinho, preferência da categoria intelectual, se coloca em oposição
ao chope na preferência da categoria média. Com isso, arrisca-se a supor que o fato do senso
77
comum considerar o chope ou cerveja, a bebida predileta do carioca pode estar em função
desta preferência ser predominante na categoria que mais representantes existe no Rio de
Janeiro.
A comida, da Mata (1986) já afirmava, vale tanto para indicar o ato de alimentar-se
quanto para definir identidades pessoais, estilos de ser, de fazer, de estar e, sobretudo de viver.
Segundo este autor, a comida do brasileiro é o feijão-com-arroz, utilizada também como
metáfora da nossa rotina, do comum. A síntese do preto e branco agrada ao brasileiro_ o ser
intermediário_ que nossa sociedade aceita a mesa e na cama.
Entretanto não é isto que se observa nas respostas ao questionário. Frutos do Mar
e Massas são os preferidos da categoria intelectual em oposição ao Churrasco e ao Arroz com
Feijão.
TABELA 3.5
TIPO DE COMIDA PREFERIDA PELAS CATEGORIAS
CAT.
INTELECTUAL
CAT. MÉDIA
Frutos do Mar
7
PRATOS PREDILETOS
Massas
8
Churrasco
4
Arroz e Feijão
0
1
4
5
5
A partir da afirmação de da Mata (op. cit.), observa-se mais uma vez, que a
preferência das categorias médias é tomada como típica do brasileiro.
Ler o jornal diariamente é a prece do homem moderno – a necessidade cotidiana
de nos informarmos acerca dos acontecimentos no mundo. Na Tijuca todos os entrevistados
afirmaram ler jornal, pelo menos uma vez durante a semana. Entretanto, a diferença se afirma
na leitura dos diferentes jornais.
TABELA 3.6
MARCAS DE JORNAIS PREFERIDAS PELAS CATEGORIAS
CATEG.
INTELECTUAL
CATEGORIA
MÉDIA
O Globo
16
JB
3
6
0
JORNAL
Folha de SP
2
1
O Dia
1
Extra
0
8
0
78
O jornal O Globo é o mais lido, dentre todos os outros. Porém se opõe, no que
tange às preferências das categorias, ao jornal O Dia. Este segundo é classificado como
popular cujas manchetes se voltam para questões como esportes e crimes. O Globo é um
jornal maior, mais caro e que privilegia a política e economia.
Por fim, a casa “(....) é nosso canto no mundo. Ela é, como se diz amiúde, o nosso
primeiro universo.” (BACHELARD, 1989, p.12). Dentre as “propriedades” a casa é a mais
importante, pois todo espaço habitado traz a essência da noção do que consideramos casa.
Cada vez que muda-se de endereço, leva-se consigo todo um passado, tudo o que somos,
nossa história de vida. Como afirma Bachelard (op. cit.), a casa abriga o devaneio, a casa
protege o sonhador, a casa permite sonhar em paz, ela representa o que somos, nos posiciona
na relação do espaço social.
TABELA 3.7
PREFERÊNCIAS PELA CONFORMAÇÃO DO INTERIOR DO DOMICÍLIO DE ACORDO COM AS CATEGORIAS
amplo
harmonioso
Íntimo,
aconchegante
arrumado
Fácil
manutenção
Sóbrio, discreto
CATEG.
11
INTELECTUAL
CATEGORIA
3
MÉDIA
limpo,
cuidado
confortável
bem
INTERIOR DA CASA
2
3
6
0
1
0
1
2
3
1
2
2
2
3
Preferencialmente a categoria intelectual elege o conforto como a coisa mais
importante em uma casa, afinal o desenvolvimento dos segmentos médios exalta a
possibilidade de uma vida mais confortável, sem excessos, mas sem privações. Esta
preferência se justifica uma vez que questões como limpeza e arrumação não passam pela
cabeça, pois parte-se de uma casa assim. A quantidade de resposta da categoria média não
oferece nenhuma possibilidade de análise, mais questionários seriam necessários.
79
A maioria da categoria intelectual torna o interior de sua casa mais confortável
com a aquisição de móveis em pequenas e grandes lojas, assim como a categoria média. Ora,
sabe-se que são os grandes magazines que possuem os móveis mais baratos. Assim em um
jogo de compensações compra-se em grandes os mais caros e outros de menor porte em lojas
mais exclusivas como as pequenas.
TABELA 3.8
LUGAR DE AQUISIÇÃO DO MOBILIÁRIO DO DOMICÍLIO DE ACORDO COM AS CATEGORIAS
Pequenas lojas
Grandes
magazines
Serviço
particular
Doações
CAT.
3
INTELECTUAL
CATEGORIA
0
MÉDIA
Design
antiquário
ONDE ADQUIRE OS MÓVEIS?
6
7
7
0
0
1
5
5
3
4
Buscando mais exclusividade ainda a categoria intelectual diferentemente da média
também escolhe peças de casa em lojas de Design e antiquários, é a necessidade de se
diferenciar.
Diferenciação é a palavra chave deste capítulo que buscou mostrar que existem
diferenças, mas estas nem sempre estão onde se imagina. O termo tijucano é forte, traduz uma
identidade defendida pelos moradores do bairro, porém é algo que os aproxima e ao mesmo
os diferencia.
K. 48 anos, secretária, sintetiza: “Existem vários tijucanos. Não gosto de rótulos.
Não tem um sentido, apenas moram no mesmo lugar, o que diferencia é a profissão”.
Todavia o espaço social não está descolado do físico, pois:“Tijucano é aquele que
nasce, cresce e morre na Tijuca” P. 35 anos, prof. de matemática.
80
4
E S P A Ç O
o
u
c
4.1. O
S
o
t
m
a
t
P E R C E B I D O
o
u
s
s
e
d
o
h
s
a
b
b
a
i
i
t
r
r
a
o
s
Foi o próprio senso comum que se encarregou de perpetuar no nosso linguajar
cotidiano, termos pejorativos como “favelado”, “suburbano”, “nordestino”, etc. O fato de
esses termos terem sua unidade significativa ou radical advindos dos substantivos que
denominam determinados lugares físicos, por sua vez vistos como problemáticos, não pode
ser desconsiderado. De outro modo, nomear alguém, no sentido de caracterizar
negativamente, a partir da sua origem espacial é incorrer em uma incompreensão. Raciocinar
desta maneira é praticar o pensamento ingenuamente substancialista, que vê o lugar como uma
realidade em si capaz de moldar o sujeito que lá vive.
Este olhar ingênuo pode até mesmo se transformar em poética, como nos escritos
de João do Rio,
Nas grandes cidades a rua passa a criar o seu tipo, a plasmar o moral dos seus
habitantes, a inocular-lhes misteriosamente gostos, costumes, hábitos, modos,
opiniões políticas_ porque cada rua tem um stock especial de expressos, de idéias
e de gostos. A gente de Botafogo vai às “primeiras” do lírico, mesmo sem ter
dinheiro. A gente da Haddock Lobo tem dinheiro mas raramente vai ao Lírico. Os
moradores da Tijuca aplaudem Sara Bernhardt como um prodígio. Oh! Sim, a rua
faz o indivíduo, nós bem sentimos. (DO RIO, 1905 In: ANTELO, 1997 p. 67)
Entretanto é necessário esclarecer que a rua, o lugar não faz o indivíduo! É
preciso, sobretudo romper com o discurso recebido e superar o senso comum, pois o
81
pensamento que pode também gerar imagens poéticas como as projetadas nas palavras de
João do Rio é produto de uma dominação. Neste caso, não a dominação à força, do poder
coercitivo ou de leis impostas, do qual se produz uma revolta, mas de uma dominação
exercida de uma maneira muito mais perversa, sutil, introjetada através dos sistemas
simbólicos. E por ser um poder transformado, exercido sobre o que não se vê, é muito mais
violento e efiocaz.
Assim em oposição às imagens poéticas de João do Rio, as palavras de T. 66 anos,
moradora da Tijuca há 20 anos, expressam o seu desconforto: “Quando eu ia às festinhas do
pessoal do trabalho, ouvia as pessoas comentarem: “ah, isto é coisa de suburbano, de mau
gosto” aí ficava bem caladinha pois morava no Méier, tinha vergonha. Hoje morando na
Tijuca não sou mais considerada suburbana_ a Tijuca é a zona Sul da zona Norte”.
Por que sentir vergonha, morando no Méier? Esta declaração evidencia como o
poder simbólico faz ver e acreditar, confirma ou transforma a visão de mundo, e desta
maneira, age sobre o mundo transformando-o também. Para T. morar no subúrbio passou a
ser motivo de vergonha a partir do momento em que seus colegas de trabalho ridicularizaram
os moradores do subúrbio, considerando-os como pessoas de mau gosto. Questionar o
porquê disto não é cogitado, simplesmente se aceita o que se fala, sobretudo quando é dito
por pessoas que se considera melhores ou em grupos. Morando agora na Tijuca, T. se orgulha,
ou seja, o discurso dominante foi aceito e se reproduz.
A crença na legitimidade das palavras é como o poder das palavras é exercido
principalmente por aqueles que a pronunciam. Pode-se fazer crer que os problemas se
originam de um determinado lugar, como, por exemplo, nas favelas e na Baixada enquanto
outros lugares são considerados espaços tranqüilos ou sofisticados, como a Barra e o Leblon.
A hierarquização dos espaços através da dimensão simbólica destes é uma disputa e um
instrumento de poder. Poder este, percebido ou não, é aceito por todos enquanto um mapa
82
hierárquico dos bairros do Rio de Janeiro, que influencia escolhas, provoca desejos e define
preferências.
Considerou-se por status dos bairros, o grau de prestígio, importância, valor, por
fim a honra positiva ou negativa de se morar em um determinado bairro. Deste modo foi feita
uma estimativa entre os moradores da Tijuca, desconsiderando-se a pertença às diferentes
categorias sociais acerca do grau de importância de distintos bairros apresentados em um
quadro, obedecendo à ordem do melhor para o pior. Por ser um termo puramente relacional,
a escolha quanto aos bairros, pretende-se pontuar representantes das diferentes regiões do Rio
de Janeiro.
De modo independente das categorias trabalhadas nos dois capítulos anteriores,
as respostas à questão da hierarquização de alguns bairros e regiões do Rio de Janeiro
apresentam uma grande convergência, podendo ser observada nos gráficos apresentados a
seguir.
QUADRO 1
BAIRROS DE STATUS ALTO E MUITO ALTO DE ACORDO COM OS TIJUCANOS
Bairros de Status Alto e muito Alto
50
40
40
20
Lagoa
31
30
Ipanema
24
Barra
14
10
0
muito alto
alto
Gávea
1
1
médio
baixo
muito baixo
níveis de status
O bairro Lagoa é o mais distinto, em termos de status entre os bairros. É o lugar
de status muito alto, de acordo com os moradores da Tijuca. E não é à toa que foi eleito, em
várias matérias em jornais e revistas como o bairro de melhor e maior qualidade de vida da
cidade carioca (o que só corrobora para difundir esta imagem). No que concerne aos seus
moradores e a partir do que foi mostrado no capítulo 2, nota-se que a Lagoa possui a maior
83
representatividade da Categoria Elite Dirigente e da Pequena Burguesia dentre todos os
bairros trabalhados, perfazendo um total de 14,2% e 29,54% da sua configuração social,
respectivamente.
A questão que surge neste ponto é a importância da relação entre prestígio do
bairro e a sobre ou sub-representação de categorias sociais. Perguntar o status de um bairro
aparentemente é uma pergunta simples e que não apresentou maiores dificuldades nas
aplicações dos questionários, entretanto, clarifica a propriedade biunívoca do conceito do
Lugar.
Bourdieu vai partir desta definição de lugar para chegar às noções de espaço social
e espaço físico nele contido. São exatamente estas duas noções de espaço que são o todo do
lugar. Estes dois conceitos se interpenetram de modo que a posição ocupada por um
indivíduo no espaço social se reflete na sua localização no espaço físico na medida em que este
se apropria dos valores simbólicos e materiais expressos pelos mesmos.
No caso da Lagoa parece existir uma correspondência entre o que é e o que
parecer ser, ou seja, é um bairro elitizado e de acordo com Cardoso (1984) continuará assim,
pois “a produção empresarial, tende, não apenas a trabalhar com faixas de maior poder
aquisitivo, como também a privilegiar as áreas que apresentam uma maior concentração desta
população em relação aos setores mais pobres” Assim, é deste modo que as grandes
incorporadoras reproduzem e aprofundam os processos de segregação social no espaço.
O setor empresarial é o primeiro a se apropriar das imagens, da propaganda, do
poder simbolizador para “fazer um bom negócio”. Copacabana surgiu desta maneira. A união
entre as construtoras e o Estado, associados a um novo estilo de vida foi o responsável pelo
surgimento e desenvolvimento deste bairro. Ao mesmo tempo, a Tijuca considerada um
bairro de Elite, perdia seu prestígio.
84
Assim como uma Doris Day, cantora e atriz pela qual todas as pessoas se
apaixonavam nos anos 50 e nos anos 70 foi vítima da sua própria imagem, a castidade, sendo
duramente rejeitada (CASTRO, 1994), a Tijuca nos anos 60 e 70 sofreu perdas em função do
movimento migratório em busca de ascensão social identificado por Gilberto Velho (1973) no
seu estudo sobre Copacabana nestes anos, quando contingentes populacionais migravam em
massa para esse bairro em busca da “utopia urbana”.
A “princesinha do mar” representa no imaginário carioca a modernidade e o
progresso e é a ruptura com uma sociedade colonial e seu estilo de vida. A nova relação que
seus apartamentos criam com a rua determina os novos comportamentos e modos de vida.
(RIBEIRO; et al., 1997). Gilberto Velho (op. cit.) mostra, em sua dissertação de mestrado, que
uma parcela considerável da população era proveniente da Tijuca e tinha como justificativa
“não ter o que fazer no bairro”, “os vizinhos tomarem conta da sua vida”, etc. Atualmente
percebe-se a mágoa pela perda do prestígio para Copacabana quando se compara o status
destes dois bairros.
QUADRO 2
BAIRROS DE STATUS MÉDIO DE ACORDO COM OS TIJUCANOS
Bairros de Status Médio
60
Botafogo
50
45
40
Tijuca
37
Copacabana
30
Vila Isabel
20
Jacarepaguá
10
0
10
9
10
Méier
1
muito alto
alto
médio
baixo
muito baixo
níveis de status
Apesar de estes dois bairros, de acordo com os entrevistados, terem status médio,
a Tijuca está em melhor posição dentre todos os outros bairros classificados como médios e
Copacabana só não é pior do que o Méier.
85
Na opinião de alguns entrevistados, os lugares de status muito baixo são apenas as
favelas. Nenhum bairro, ou região “merece” este título tão desonroso, apesar de se destacarem
Pavuna e a região da Baixada. Entretanto um certo desconhecimento acerca destes bairros e
da região metropolitana do Rio de Janeiro ficou muito claro, afinal não são lugares, segundo
eles, que freqüentem, o que se sabe é o que se ouviu falar.
QUADRO 3
BAIRROS DE STATUS BAIXO E MUITO BAIXO DE ACORDO COM OS TIJUCANOS
Bairros de Status Baixo e Muito Baixo
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
Catete
43
São Cristóvão
27
Bonsucesso
28
Madureira
Pavuna
Baixada
7
5
Centro
1
muito alto
alto
médio
baixo
muito baixo
níveis de status
O Méier e Madureira são dois bairros que dividem um pouco a opinião dos
entrevistados. Segundo a trajetória e história de vida, muitos têm relações muito próximas com
estes dois bairros, o que obviamente eleva o seu nível de status. Existindo comentários do
tipo: “O Méier apesar de ser subúrbio é muito bom”. “Madureira não é tão ruim quanto se
falam”.
Essa disposição para hierarquizar os lugares do Rio de Janeiro é algo
dialeticamente individual e social. Embora o julgamento seja individual, o caráter social está
sempre presente como determinante deste julgamento. Disso decorre que as relações de
poder, principalmente o simbólico, são fundamentais para desenhar o mapa social da cidade.
Nesse sentido, o poder simbólico determina aspirações residenciais, preferências
de bairro, desejos de consumo e identificações com os lugares. De alguma forma, o sujeito
decide e escolhe um caminho específico. O fato de se mover espacialmente, ou não, para um
86
lugar ou outro, decorre de uma decisão voluntária e enfatiza a existência de um sujeito
individualizante. Todavia uma decisão voluntária não significa uma decisão livre, mas sim uma
decisão orientada pelo habitus.
4 . 2
T r a j e t ó r i a
n o s
E s p a ç o s
A forma individual da disputa pelos lugares e os benefícios a eles associados, se
expressa na mobilidade espacial, seja esta um deslocamento de um país para outro, do interior
para a capital, vice-versa, de um bairro para o outro e mesmo de um tipo de moradia para
outra. Neste aspecto, a trajetória espacial é um excelente indicador dos sucessos ou infortúnios
na luta pelo espaço físico e na trajetória social ao longo do ciclo de vida do indivíduo.
Mobilidade por definição pressupõe movimento, mudança de espaço, de posição
e de condição social. A conseqüência disto é que a mobilidade espacial só adquire o seu
sentido verdadeiro se estiver conectada com os processos de organização do espaço social.
Portanto, através da experiência da mobilidade residencial os diversos segmentos sociais
realizam suas aspirações, estratégias, levando em conta ora a imagem do bairro, sua localização
no mapa urbano, ora os laços de vizinhança, familiares ou apenas as características do imóvel,
seu tamanho, qualidade.
A partir do questionário selecionaram-se alguns casos enfocando o tempo, a
trajetória espacial, a ocupação e a condição do imóvel. São eles:
M. 54 anos, aposentada, pertencente à categoria média, escolheu a Tijuca “porque
era mais barato, procurei em Vila Isabel, Grajaú e depois gostei deste apartamento”. O que
pesou mais na sua decisão foram as características do imóvel, pois “se tivesse condições
financeiras iria morar no Leblon ou Ipanema, perto da praia”. Em relação à vinda para a
Tijuca não ganhou ou perdeu status, pois não liga para isso, embora considere o status da
87
Tijuca muito alto. Morando há 6 anos e 10 meses no bairro, pôde perceber que o “Tijucano é
bairrista, solidário apenas entre eles. É metido”.
TABELA 4.1
TRAJETORIA ESPAÇO-TEMPORAL DA Sra. M. 54 ANOS APOSENTADA, CATEGORIA MÉDIA
PERÍODO
(ano)
BAIRRO/MUNICÍPIO
COND. IMÓVEL
OCUPAÇÃO
72 a 74
75 a 77
78
79 a 80
81 a 90
91 a 94
95 a 01
Flamengo
São Cristóvão
Laranjeiras
Vitória, ES
Laranjeiras
Rio Comprido
Tijuca
alugado-vaga
alugado-vaga
alugado
alugado
alugado
alugado
próprio
digitadora
digitadora
digitadora
Digitadora
aux. Inf.
aux. Inf
Aposentada
J. 71 anos, aposentado, categoria média, “já freqüentava o bairro” antes de se
mudar. “Morava no Grajaú e era sócio do Tijuca Tênis Clube”. Entre o imóvel e a localização,
esta última foi a que mais pesou, depois “queria se livrar do aluguel e ficar perto dos amigos e
familiares”.Mora há 20 anos na Tijuca e há 11 neste imóvel. Além deste apartamento onde
mora ainda possui outra “para melhorar a renda do mês, né?” Morou muitos anos no Méier.
Possui família tanto lá quanto na Tijuca. Em termos de status não vê diferença nenhuma em
relação aos dois bairros. Acha “ótimo morar na Tijuca por causa da centralidade, do metrô, é
perto de tudo”. Desejaria se mudar? “Da tijuca não, apenas para um apartamento de frente,
para ver a rua, coisa de subúrbio, né?” O que é o Tijucano? “O melhor adjetivo para a Tijuca é
Conservador. O Tijucano é metido a besta, tem muita gente arrogante. Se aproximam de você
se você tem dinheiro”.
TABELA 4.2
TRAJETORIA ESPAÇO-TEMPORAL DO Sr. J. 71 ANOS, APOSENTADO, CATEGORIA MÉDIA
PERÍODO
(ano)
BAIRRO/MUNICÍPIO
COND. IMÓVEL
OCUPAÇÃO
56 a 70
71 a 79
80 a 81
82 a 90
91 a 01
Méier
Méier
Grajaú
Tijuca
Tijuca
alugado
próprio
alugado
alugado
próprio
Bancário
Bancário
Bancário
Bancário
Bancário/ apos.
88
J. 59 anos, aposentado, categoria intelectual. “Queria melhorar o nível de vida,
buscava um nível social compatível com o meu”. O que mais pesou na sua decisão de mudar,
não foi o imóvel, mas sua localização é a melhor no melhor bairro. Há 6 anos mora neste
apartamento e não pretende mudar. “Acha ótimo morar na Tijuca por causa da tranqüilidade
da rua”.
Em relação ao status, o da Tijuca é tão alto quanto o da Barra. “Para mim a Tijuca
é homogênea, é muito familiar, não tem gente fumando maconha, não tem muita mistura, é
uma grande família. Devido à homogeneidade do bairro, o tijucano é um homem de bem, de
família, trabalhador. Tem honra e moral, pessoas que trabalham tem tradição mantendo certos
valores (permanentes). respeito ao próximo e a família. A Tijuca não é vale tudo”.
TABELA 4.3
TRAJETÓRIA ESPAÇO-TEMPORAL DO Sr. J. 59 ANOS, APOSENTADO, CATEGORIA INTELECTUAL
PERÍODO
(ano)
BAIRRO/MUNICÍPIO
COND. IMÓVEL
OCUPAÇÃO
71 a 72
73
74 a 75
76 a 93
94 a 01
RS
Goiânia, GO
São Paulo, SP
Vila Isabel
Tijuca
hotel
alugado
alugado
próprio
próprio
consultor Planasa
consultor Planasa
Analista Serpro
CTB telemar
admin. Embratel/ aposent.
P., 70 anos, médico, tem consultório próprio e é aposentado pelo INAMPS. Há
44 anos mora na Tijuca. Mudou para este apartamento porque os filhos casaram, deste modo
o que mais pesou na decisão foram as características do imóvel, visto que não se mudou de
bairro. Morava no Alto da Boa Vista e gostava de freqüentar a Tijuca por causa dos cinemas.
Mudar para a Tijuca significou perda de status, “pois morava em um casarão no Alto da Boa
Vista com os pais”. Mas morar na Tijuca é bom porque tem tudo perto, o metrô. O adjetivo
da Tijuca é tradição. “O Tijucano é aquele que tem casa na Barra e vão só no final de semana.
Tem um amigo que se mudou para a Barra mas vem todo dia pra Tijuca, vai e volta. O
tijucano é conservador, menos trambiqueiro”.
89
TABELA 4.4
TRAJETORIA ESPAÇO-TEMPORAL DO Sr. P. 70 ANOS, APOSENTADO, CATEGORIA INTELECTUAL
PERÍODO BAIRRO/MUNICÍPIO/
(ano)
56 a 63
64 a 71
72 a 95
96 a 01
COND. IMÓVEL
Tijuca
Tijuca
Tijuca
Tijuca
próprio
próprio
próprio
próprio
OCUPAÇÃO
Médico no lab+consult.
CIBRAM+ consult.
INAMPS+ consult.
aposent. + consult.
O sucesso nas disputas pelo espaço depende do capital, sob as diferentes espécies,
que se tem acumulado, ou seja, as oportunidades de apropriação dos diferentes bens e serviços
materiais ou culturais associados a um determinado lugar variam de acordo com a capacidade
de apropriação de cada um, em função do tipo e volume de capital que detém. Estar em um
lugar ou ocupar fisicamente um habitat não significa habitá-lo.
Se o habitat contribui para fazer o habitus, o habitus contribui para fazer o habitar
através dos costumes sociais mais ou menos adequados que ele estimula a ter. Essa relação
dialética entre os espaços social e físico objetivados e sua subjetivação se exprime no conceito
de Habitar. Habitar, morar em qualquer lugar é um modo de estar, de compreender o mundo
a sua volta. É o mesmo que jogar sabendo ou tendo o controle das regras. Se me faltam as
regras, as propriedades, não jogo, não entendo o jogo.
O que faz M. 54 anos julgar os “Tijucanos” metidos, apenas solidários entre é
eles, é porque não habita o lugar. Ela apenas reside naquele apartamento que é próprio e é a
realização do ponto máximo de sua curva de preferências. No entanto o fato de considerar o
status da Tijuca muito alto revela sua vontade de mudar de posição. Todavia, sua insatisfação
reforça a sua ausência de capital para ocupar aquele espaço socialmente.
Dentre todas as propriedades, aquela que a ocupação legítima de um lugar
pressupõe, estão as que se adquirem pela ocupação prolongada- o capital social, de relações ou
ligações de quem habita há muito tempo.
Há 20 anos, J. 71 anos mora na Tijuca e veio do Méier. Embora tanto ele quanto
M. 54 anos classifiquem os “Tijucanos” como metidos, esse julgamento não os torna iguais,
90
algo os aproxima, mas outro algo os afasta. M. 54 anos desejaria mudar, mas J. 71 anos não.
Porque?
Por um lado ambos pertencem à mesma categoria social, média. Pressupõe-se que
tenham o mesmo nível de capital cultural e que tenham menos do que o da categoria
intelectual. Desse modo, aqueles a quem eles se referem como “metidos” pertencem às
categorias sociais superiores as deles. Entretanto, J. 71 anos freqüentava o bairro e era sócio de
um dos clubes mais tradicionais do lugar, tinha vários amigos do lugar. Isso significaria dizer
que J. adquiriu muito mais capital social do que M. o que comprova a importância deste capital
para a apropriação legitima do lugar, pois M. gostaria de mudar e J. não. Assim, sob pena de se
sentirem deslocados, os que penetram em um espaço devem cumprir as condições que este
tacitamente exige de seus ocupantes.
Capital social, econômico e cultural são o que não faltam à J. 59 anos para habitar
a Tijuca. Segundo ele, não mudaria, pois mora no melhor apartamento, na melhor localização
e no melhor bairro. Em sua entrevista expõe que encontrou o lugar condizente à sua posição
social.
Com efeito, na caracterização da Tijuca, J. 59 anos a considera homogênea. Ora, já
no primeiro capítulo fica claro que não é o que acontece, pois se vê a diversidade por todos os
lados. Porém a partir do que foi colocado na introdução, o ser-no-mundo de Heidegger (1993)
só se relaciona com as coisas a sua volta, com o espaço que se abre a cada tomada de posição.
Deste modo J. enxerga o seu mundo. Sua rua, claro homogênea, com não poderia deixar de
ser e com sua igreja e amigos pertencentes à Igreja Maronita19 em frente a sua rua.
Esclarecendo um pouco mais, a rua Itacuruçá possui apenas 2 quarteirões, repleta de edifícios
de padrão alto luxo e a maioria dos moradores são maronitas.
Dentre os quatro casos apresentados, P. 70 anos é o mais antigo dos moradores.
Este se considera um “Tijucano típico”. Desvinculado de qualquer grupo religioso, já foi
91
presidente do Tijuca Tênis Clube, onde vai assiduamente. Mudou algumas vezes, mas nunca
saiu da Tijuca. Também tem uma casa na Barra, mas só para fins de semana. Não parece até
uma caricatura?
A mobilidade social por si só não é um fator de explicação da Mobilidade
Residencial. Também se desloca no espaço físico sem se deslocar no espaço social. Os casos
acima são importantes nesse sentido. Muda-se em busca de ascensão social. De outro modo,
busca-se mudança de posição no espaço social subjetivado através de um deslocamento
espacial, no caso uma mudança de bairro, o que efetivamente só é atingido se possuirmos as
devidas propriedades necessárias para habitar o lugar. Muda-se por estar próximo daqueles
que lhe são semelhantes, ou seja, que possuem o mesmo tipo de capital. E por fim muda-se
por mudanças na estrutura familiar, casamento, separação, filhos que chegam e que vão
embora. Com isso passa-se para o próximo tópico deste capítulo.
4 . 3
M u d a r
o u
p e r m a n e c e r ?
Ao senso comum atribuo a responsabilidade pela disseminação de mitos e
julgamentos preconceituosos, surgidos na disputa pelos lugares. Talvez seja esta a resposta
para a questão de Tutty Vasques.
Ninguém é lebloniano, catetense, meieriano, copacabanense, gaveanista...O
carioca pode, no máximo ser ipanemense! No mínimo, tijucano! Antes que algum
vizinho de infância me denuncie, devo dizer que nasci tijucano e, ainda hoje, 20
anos exilado do bairro, ainda sofro com o estigma da Tijuca! Basta que eu deixe
escapar um comentário reacionário, pronuncie uma palavra errada em inglês ou
use uma calça acima da cintura e, pronto, logo aparece um engraçadinho
lembrando que eu morei na Saenz Peña!
Morei, sim, na Clóvis Beviláqua, na Maria Amália e, o que é mais grave, na
Guajaratuba! Vocês não imaginam quantas namoradas perdi ao revelar que eu era
um cidadão da rua Guajaratuba! Entre elas uma lourinha linda que morava na Rua
Gorceix, em Ipanema!
Como pode alguém que mora na Gorceix achar ridículo que alguém more na
Guajaratuba? Foi a pergunta que mais atormentou a minha adolescência! Depois,
19
A Igreja Maronita é uma Igreja Católica Árabe. Seus fiéis são árabes e as missas são celebradas em aramaico.
92
vieram outras questões: por que diabos quem nasce em Ipanema é de esquerda e
quem vem ao mundo na Tijuca é de direita? Por que o menino ipanemense faz
análise e a gente fica de castigo quando faz bobagem? Por que eu passo as férias
em São Lourenço e a gata da Gorceix em Londres? (VASQUEZ, 1997, p. 37)
Através de algumas questões apresentadas ao entrevistados, quebram se alguns
mitos, reforçam-se outros. A primeira pergunta era: O que você acha de morar aqui?
TABELA 4.5
O QUE VOCÊ ACHA DE MORAR AQUI?
ÓTIMO
BOM
CATEGORIA
INTELECTU
AL
CATEGORIA
MÉDIA
OUTRAS
TOTAL
RUIM
0
INDIFERENTE
5
REGULAR
3
PÉSSIMO
11
1
0
11
9
1
1
0
0
7
29
6
20
0
4
1
2
0
1
0
0
De acordo com estas respostas pode-se destacar uma outra observação
interessante: o espaço, a ninguém se mostra indiferente. Segundo Bachelard ele é o que ocupa
a memória. “Na memória ele é tudo, pois o tempo já não anima a memória. A memória!, só
podemos pensá-las na linha de um tempo abstrato privado de qualquer espessura.”
(BACHELARD, 1989, p. 28,)
Percebe-se que para a maioria é ótimo morar na Tijuca, o que não seria uma
grande conclusão visto que, além disso, não existe diferencial entre as categorias. Entretanto, a
satisfação com o local de moradia está diretamente conectado ao ciclo de vida. Deste modo, é
pertinente agregarmos as respostas em relação à idade.
TABELA 4.6
OPINIÃO SOBRE O BAIRRO DE ACORDO COM O CICLO DE VIDA
JOVEM (15 A
24 ANOS)
ADULTO
(25 A 44
ANOS)
MADURO
(45 A 65
ANOS)
IDOSO (65
A. OU MAIS)
TOTAL
ÓTIMO
1
BOM
2
REGULAR
0
RUIM
0
PÉSSIMO
0
INDIFERENTE
0
7
8
2
2
0
0
16
8
1
0
1
0
5
2
1
0
0
0
29
20
4
2
1
0
93
Nota-se um certo antagonismo de opinião em relação aos mais novos e os mais
velhos. Observa-se que aqueles que estão iniciando no mercado de trabalho buscam outros
lugares e aqueles que teoricamente estão estabilizados ou se aposentarem estão satisfeitos e
não pretendem mudar.
E se a pergunta fosse outra como: Você gostaria de se mudar?
TABELA 4.7
VOCÊ GOSTARIA DE SE MUDAR?
SIM
NÃO
CATEGORIA
10
8
JOVEM (15 A 24 ANOS)
INTELECTUAL
CATEGORIA MÉDIA
10
13
ADULTO (25 A 44 ANOS)
OUTRAS
9
6
MADURO (45 A 65 ANOS)
TOTAL
29
27
IDOSO (65 A. OU MAIS)
* dos 5, 3 querem continuar na Tijuca apenas mudar de apartamento.
SIM
3
NÃO
0
11
10
5*
8
16
3
Para onde?
TABELA 4.8
PARA ONDE?
TIJUCA, APART.
OU LOCAL
MELHOR
BARRA LEBLON/IPANEMA GÁVEA, ALTO
DA BOA VISTA
7
3
10
NITERÓI
2
1
3
O tijucano não gosta tanto da Barra pelo menos os entrevistados. A maioria quer
ir para os espaços mais elitizados como Leblon e Ipanema, mas confirmando o amor pelo
habitat, e a ambição dos segmentos médios de melhorar o padrão de vida, muitos querem
apenas trocar de imóvel.
4.4 O
q
u
e
é
a
T
i
j
u
c
a
?
Qual das palavras abaixo melhor define a Tijuca?
A escolha por alguns termos talvez possa ter direcionado a pergunta, mas tinha-se
a opção de outros, quais. No compito geral obteve-se a seguinte tabela:
94
TABELA 4.9
ADJETIVO QUE MELHOR DEFINE A TIJUCA DE ACORDO COM AS CATEGORIAS
CATEGORIA
INTELECTUAL
CATEGORIA
MÉDIA
OUTRAS
TOTAL
OUTROS
BELEZA
TRANQUILIDADE
MODERNIDADE
PRÁTICA
HOMOGENEIDADE
TRADIÇÃO
CONSERVADORA
ADJETIVO
6
9
1
2
1
0
1
4
7
4
1
2
1
2
0
1
2
15
5
18
0
2
0
4
0
2
2
4
1
2
1
6
No português a diferença do sentido dos dois termos, conservador e tradição, é
muito sutil e muitas vezes se confunde. O conservadorismo está associado à ideologia
política. Diz-se daquele que em política é favorável à conservação da situação vigente,
opondo-se a reformas radicais. Surgiu principalmente como reação à Revolução Francesa, pois
um grupo, os conservadores, achava que a mudança se fosse inevitável, seria melhor que
acontecesse devagar e como ampliação lógica da ordem natural das coisas, e não como
mudança revolucionaria.
O conservadorismo parte da premissa que a natureza humana é má, irracional e
violenta, se deixada a seus próprios meios. A única maneira de controlar esse potencial
destrutivo consiste em impor rígidos códigos morais através de fortes tradições, instituições
sociais e uma sociedade hierárquica governada por elites, cujo poder repousa em sua
superioridade inerente e na propriedade privada, herdada através de gerações. Isso implica que
a desigualdade social é inevitável e, na verdade, necessária para manter a sociedade. Assim
neste sentido o conservador é favorável à tradição como continuidade.
A Tradição, a seu modo, corresponde às regras tácitas ou abertamente aceitas.
Práticas de natureza ritual ou simbólica que visam inculcar certos valores e normas de
comportamento através da repetição, o que implica, automaticamente, uma continuidade em
95
relação ao passado. Aliás, sempre que possível, tenta-se estabelecer continuidade com um
passado histórico apropriado, e isso é o conservadorismo. Mas no senso comum estes dois
termos de significados imbricados possuem valores simbólicos e morais distintos. Enquanto o
termo conservadorimos está associado a um valor negativo a tradição possui um valor
positivo.
Assim, o que fazem os moradores da Tijuca? Na disputa simbólica de
representação do bairro na estrutura da cidade, associa-no a um passado aristocrático,
convergente com a tradição, mais chique.
Percebe-se através das respostas que a categoria intelectual, que possui um maior
poder de simbolização e clareza dessa disputa opta pelo adjetivo tradição. Por outro lado, a
categoria média classifica o bairro como conservador. E será que classificando o espaço aonde
vivem não estariam classificando a si próprios?
A Tijuca não é conservadora ou tradicional, ela apenas reflete a valoração do
espaço, que não é apenas econômica, mas, sobretudo simbólica, pois os diferentes espaços
sociais reificados se sobrepõem e resultam, muitas vezes, tanto em concentrações positivas do
espaço, quanto negativas, estigmatizadas. Esse fato traz à tona a discussão sobre a legitimidade
da apropriação. Pertencer ao lugar depende profundamente do conhecimento e do
reconhecimento da realidade do lugar que, por sua vez, é resultado da luta social de
classificação do espaço.
A luta de classificação ou luta simbólica, envolve tanto agentes individuais quanto
coletivamente organizados e põe em jogo a conservação ou transformação das relações de
força simbólica e suas vantagens, econômicas (determinação de valores materiais) e simbólicas,
valor do indivíduo enquanto reduzido socialmente à sua identidade social, ou seja, a idéia dele
como “nós” em oposição aos “outros”.
96
Quando se trava essa luta, os dominados podem reagir de duas maneiras: a
primeira, aceitação da dominação. É o que acontece com os representantes da categoria média
e a segunda a subversão, o caso da categoria intelectual. Todavia, a subversão só é alcançada
coletivamente. Os agentes dominados não buscam a supressão das suas características tidas
como estigmatizadas pelo outro grupo, mas a destruição dos valores que os constituem como
estigma: “o estigma produz a revolta contra o estigma” (BOURDIEU, 1998, p. 159).
Deste modo, a subversão pode ser claramente exemplificada quando os
representantes das categorias intelectuais valorizam seu espaço escolhendo o adjetivo
tradicional em detrimento do conservador.
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Tijucano – para uns, o elogio, para outros o estigma. A ambigüidade da
denominação é o motor para o desvelamento do universo do bairro da Tijuca. Este trabalho,
busca identificar as diversas faces de um bairro conduzida por questões teóricas, no âmbito da
sociologia e no debate das transformações urbanas, sustentada por dados oficiais e dados
qualitativos.
A importância do espaço físico foi ressaltada enquanto espaço de habitar, espaço
percebido, lugar de memória e afetividade através de relatos dos moradores, imagens do senso
comum, mídia e literatura, separando a realidade do mito e sobretudo expondo que: imagens
produzidas pelos diversos agentes acerca dos lugares carregam sempre um conteúdo
simbólico, pleno de interesses, aonde sempre se esconde a dominação entre os distintos
campos.
O primeiro capítulo é destinado à leitura do espaço físico do bairro, enquanto
amontoados de memórias registradas nos traçados de seus largos, ruas e praças. Seu grande
estoque de serviços, infra-estrutura e comércio apropriado pela dinâmica da valorização
imobiliária expandem, cada vez, os limites deste bairro.
Em relatos, os moradores da Tijuca, salientam a diversidade do comércio, o
grande número de supermercados, os shoppings, e a acessibilidade aliada à centralidade. Outro
valor bastante lembrado são os colégios, Instituto de Educação, Colégio Militar, São José e a
UERJ. Embora a UERJ se localize no bairro vizinho, o Maracanã, o motivo de sua
incorporação ao bairro da Tijuca expõe tanto o papel deste como sub-centro da região norte e
a influência em grande escala de um equipamento como a universidade.
Na avaliação geral, se não está melhorando, pelo menos a Tijuca se mantém na
mesma situação. Apenas ¼ destes observou uma piora no bairro como o caso de J., 37 anos,
98
diretor do terceiro setor, que ressalta a piora do bairro em função de uma maior “segregação,
as desigualdades estão mais explícitas, insegurança”.
Outros mais saudosistas, lastimam o crescimento.
S., 52 anos, professor universitário menciona como fatores negativos o
“crescimento populacional, deterioração. Era um bairro muito residencial (casas), se
verticalizou a partir do anos 60. Houve perda de cultura e lazer. O metrô foi a única coisa
boa”.
Enquanto outros, associam a melhora com “empreendimentos novos, valorizando
o bairro, as novas construções”, M., 51 anos, gerente administrativo.
“está melhorando por causa das construções que estão acontecendo, tem mais
prédio” P., 66 anos, advogado aposentado.
Interessante observar destes relatos de homens brancos, pertencentes à mesma
faixa etária uma oposição entre modernidade e saudosismos. Aprofundando-se um pouco
mais em seus perfis, encontra-se a diferença. S. sempre morou na Tijuca, P. e M. moram há 17
e 10 anos, respectivamente e vieram dos subúrbios da cidade.
Assim pode-se ver como os agentes imobiliários contribuem através de uma
valorização simbólica para a dinâmica espacial da estrutura social. Segundo matéria no
jornal O Globo (SANTOS, et al., 2000), ao menos três grandes construtoras do Rio de
Janeiro investem no bairro, destacando a importância da infra-estrutura existente. No
entanto, segundo dados do censo de 80 e 91, o bairro perdeu aproximadamente 30.000
habitantes, o que incita o acompanhamento desta evolução a partir dos novos dados e
contagens do Censo.
A tijuca também apresenta uma especificidade por causa de seus morros.
Atualmente o bairro é cercado por favelas que também perderam contingentes populacionais.
Segundo o Anuário Estatístico da Cidade do Rio de Janeiro 95-97, os morros do Borel,
99
Turano e Salgueiro tiveram crescimento negativo: -0,04% (5660 p/ 5658 hab.), -39,77% (4151
p/ 2500 hab.) e -4,33% (3768 p/3605 hab.) respectivamente. Embora os morros da Formiga,
Chacrinha e Indiana tenham crescido 2,7%, 93,25% e 52,47% no compito geral as favelas
cresceram -7, 85%. Inclusive em números de domicílios como no morro do Turano –41,04%.
Entretanto a proporção de residentes em favelas e os moradores da Tijuca
permanece quase a mesma, no período entre 80 e 91 era de 13,43% apresentando uma
diminuição irrisória de 13,26% de 91 para 96., ou seja, diminuindo-se a oferta de mercado de
trabalho diminui-se a população do morro, mas mantém-se a proporção. Quanto à relação,
antigamente era mais muito mais harmoniosa, o samba cumpria um papel integrador,
percebido por S, 29 anos “a escola (de samba) é importante pra gente porque cria vínculos, é
um canal de ligação entre o morro e o asfalto[...]” (SILVA, 1993, p. 53). Atualmente, as
diferenças estão mais acentuadas, I., 56 anos, funcionária pública, reclama da quantidade de
morros, e dos barulhos do tiroteios, enquanto M., 30 anos, militar, associa a piora do bairro
com o “crescimento das favelas”.
A relação entre favela e bairro não foi contemplada por este trabalho, que destarte
tratou do aprofundamento no universo dos segmentos médios, a maioria de sua população.
As categorias sócio-ocupacionais sobre-representadas são: a intelectual, a pequena
burguesia e a categoria média. As suas dinâmicas de evolução contempladas no período 80/ 91
evidenciam uma tendência de revalorização do bairro com aumento da pequena burguesia e da
categoria intelectual e pequena diminuição da categoria média. Vale lembrar que, a categoria de
maior peso ainda no bairro é a média, 36,02% de seus moradores se enquadram nesta
classificação e que a categoria pequena burguesia foi a que mais cresceu na cidade do Rio de
Janeiro neste período20.
20
Esta é uma das conclusões do trabalho de Preteceille et al. (1999) na comparação entre as metrópoles, Paris e Rio de
Janeiro.
100
Observou-se, em relação às outras variáveis que a Tijuca possui elevado número
de mulheres chefes sem cônjuge e com filhos, 14,9% muito próximo de Copacabana, 14,36%
considerados padrão oposto à Tijuca. Isto se contrapõe ao imaginário popular de que os
moradores da Tijuca são conservadores em relação às famílias pois nunca se separam. Mas não
nega fatores de escolha do bairro como os de E., 51 anos, geógrafa, “escolhi morar aqui,
porque a família já morava, a tia que os acolheu morava na Tijuca. Poderia ter ido morar na
Zona Sul, mas preferiu morar aqui porque toda a família mora aqui”.
T. 24 anos, auxiliar de cartório faz uma observação muito interessante. “(...) Na
Tijuca tem muita gente divorciada, mas as famílias permanecem unidas”.
Ponto importante é que esta parcela populacional que reside em domicílios
chefiados por mulheres, sem cônjuge, com filhos aumentou em todas as zonas ao longo da
década de 80. Ressaltando uma mudança de comportamento da cidade e não de um bairro
específico.
Ainda em relação à família, 42,23% da população da Tijuca se insere no padrão
mais tradicional, pais casados, com filhos. O que não se sabe é se são famílias provenientes de
pais separados, vindos de outros casamentos ou não.
Quanto à renda, a posição da Tijuca é absolutamente intermediária, maior que a
Zona Norte e Méier e menor que Copacabana, Z. Sul Antiga 1, Moderna e Barra. Entretanto
o morador deste bairro faz escolhas pautadas em maior conforto – a Tijuca, depois da Barra, o
lugar com a maior quantidade de pessoas residindo em apartamentos de 03 quartos – longe
dos espaços mais valorizados da cidade.
Neste exercício de comparação conclui-se que a Tijuca realmente ocupa uma
posição intermediária frente a regiões mais e menos elitizadas. Está sempre muito próxima aos
padrões de Copacabana, considerada mais moderna em termos de comportamento.
101
O aumento de escala, um zoom na realidade da Tijuca, feita através dos dados
qualitativos, proporcionou uma diferenciação na esfera do comportamento, preferências e
trajetória espacial das camadas médias deste bairro.
Indagados sobre o grupo social a que pertenciam, a resposta foi unânime: Classe
média. Verdade que havia variações, como média alta, média média, média baixa, mas o que
isto significa em termos de diferenciação?
Ao resultado dos questionários, sobressaíram representantes das categorias
intelectual e camadas médias, apesar da maioria de este bairro se enquadrar na pequena
burguesia. O que se viu nos capítulos 3 e 4 foi uma diferenciação marcante em termos de
posse de capital cultural explicitados por preferências de consumo. Tanto material, quanto de
lazer. Mas nada se compara ao desvelamento de uma
disputa simbólica, entre as duas
categorias, revestida no adjetivo susbstantivado, “tijucano”. Reafirmando a importância da
construção simbólica na disputa pelo espaço.
Para ilustrar esta construção, o texto de Aldir Blanc é perfeito:
“Eu escrevi em algum lugar que a Tijuca é um estado........de sítio. O
tijucano é um sitiado. Não tanto pela crescente violência. O tijucano é, por
natureza, perdido como uma bala. Com seu amor peculiar pelo bairro, sitia a si
mesmo.
Inúmeras vezes, um tijucano já foi flagrado, eufórico, no boteco (ponto
para o bairro: a Tijuca é pródiga em botecos seletos), anunciando aos quatros
ventos:
- Adeus Tijuca! Tô indo pro Leblon!
Meses depois da mudança, é visto, disfarçado, pelas esquinas da Tijuca
suspirando. Se você o aborda, ri amarelo, fala da superioridade do Leblon, da
praia, do comércio, das opções culturais, das.... (está prestes a chorar) das.... das
mulheres.
É só dar o golpe de misericórdia:
- Tá com saudade, hein?
Em menos de um mês, o cara volta. É verdade que volta com o
ressentimento ambíguo próprio do tijucano. No papo, quando faz a fezinha, tenta
botar banca:
- Eu já morei no Leblon....
O tijucano é um emergente que não deu certo. Por sua própria culpa. Na
praia, cervejinha em punho, cercado de tangas, suava frio ao ouvir o chamado
atávico da floresta.
102
Dizem que na hora de levar o suculento naco de lagosta à boca, instalado
no mais caro restaurante do Leblon, sentia saudade da tímida barata que o fitava,
humilde, num cantinho da pizzaria tijucana. Gente maldosa garante que ele
cumprimentava, discretamente, a barata: oi Dulce Marguerita (o nome é uma
singela homenagem à pizza de sua predileção).
O tijucano é antes de tudo um porte. Uma pose. Uma figura. Um extra
fazendo bico no próprio filme. Na imortal imagem de Nelson Rodrigues, um
contínuo de si mesmo. Uma caricatura. Mas sua cidade também é. Superar a
caricatura que fazemos de nós mesmos, rindo dela, é nossa força.
Vejam as mulheres: ralam, batalham, suam a camisa e as calcinhas, mas, à
frente da bateria, não têm graça como a tijucana. É daquelas mulheres sábias que
acompanham o essencial da modernidade sem esquecer as lições da vovó. Em
suma: dão prazerosamente, mas enquanto nos beijam, murmuram:
não......não......ai!
Agentes provocadores espalham, em Copacabana, que existem algumas
ruas, na Tijuca, em que mora um ex-torturador para cada vinte habitantes (e
desses, mais da metade apoiava por omissão, o que o monstro fazia da época da
ditadura). Não é verdade.
Qualquer solar oculta um porão. O importante é nossa vontade de
escancará-lo, remover a sujeira, deixar a luz entrar.
Hoje, fala-se em Grande Tijuca, que englobaria o Estácio, berço do
samba, a Vila Isabel, imortalizada por Noel Rosa, Aldeia Campista, Andaraí-noseu-Gramado, a Usina, o Grajaú (que não se conforma e está cheio de
“separatistas” de nariz empinado).
Só pra encerrar, na Grande Tijuca estão o Templo do Futebol, o
Maracanã, um dos grandes Santuários de nossa Cultura Popular, a Acadêmicos do
Salgueiro, o Instituto de Educação, monumento vivo e inesquecível à....à...bom,
deixa essa parte pra lá.
Agora me ocorre que apesar de tanto empenho desperdiçado, de tantas
crenças traídas, de tantas pérolas atiradas aos porcos, o tijucano permanece
grávido, contra tudo e contra todos, de uma injustiçada esperança equilibrista: a
Tijuca é um estado interessante!
Parafraseando um samba que eu fiz com Cláudio Jorge:
Quando eu deixar a Tijuca
sinto que o céu não irá me agradar
pois não basta um Paraíso inteiro
pra saudade que Tijuca dá.....”. (BLANC 2000, p. 5-7)
A relação ambígua do morador da Tijuca com seu espaço traduz de uma maneira
bastante pertinente o que a violência do poder simbólica na disputa social. Este poder
simbólico estabelece uma única visão de mundo estabelecida pelos grupos dominadores, ou
seja, aqueles com maior capital simbólico.
O tijucano ainda que goste de morar no bairro, ainda que se identifica com o
lugar, se sente envergonhado pelo o que, a Tijuca representa no espaço da cidade, ou seja,
103
sofre com a violência simbólica, o mapa hierarquizado da cidade aonde vive, cujos maiores
valores são a praia, o comércio melhorado, as opções culturais. Claramente pertencente àquele
espaço tanto social quanto físico, ou seja, o da Tijuca, não consegue se adaptar aos valores,
costumes e gostos de regiões consideradas mais elitizadas que ele busca pertencer. Ou seja,
carece dos elementos exigidos a esta mudança social. Não basta ocupar um espaço
fisicamente, para habitá-lo em sua plenitude, incorpora-se também seus valores,
comportamentos, e gostos.
Assim volta ao seu lugar ressentido. Ressentindo. Não somente por não se adaptar
a um novo espaço, mas por seu espaço representar tão pouco.
Aldir Blanc relaciona lagosta com Leblon e pizza com Tijuca. Deste modo
descreve o que Bourdieu, através do seu conceito de habitus, mostra ao afirmar que gosto não
é visto como uma simples subjetividade, mas sim como objetividade interiorizada. Pressupõe
também que a escolha por algo já está incorporada enquanto disposição no sujeito antes do
seu agir. E como o sistema de classificação é gerado pelas condições sociais e também a
distribuição dos bens e valores simbólicos é feita de maneira desigual, assim se estabelece a
luta de classes. No caso do tijucano de Aldir Blanc esta representação social se perpetua
através do incessante trabalho de representação dos agentes dominantes.
Esta também é a velha questão da polaridade Zona Sul/ Zona Norte e o mapeamento
simbólico da cidade abordado por Gilberto Velho (1973) em seu clássico estudo sobre
Copacabana. Nele, o autor aponta a percepção da cidade pelos indivíduos como feita a partir de
uma hierarquização dos bairros que reflete a própria hierarquia da sociedade. Mas, como foi
mostrado no capítulo 4, esta disputa de valores também é dinâmica e pode romper pensamentos
com o de C. 27 anos, designer de interiores. “Não me considero tijucana, não encaixo no tipo,
mas gosto de estar no bairro, pois me sinto em casa”.
A reação do grupo pertencente à elite intelectual através da escolha do adjetivo
tradição para melhor descrever o tijucano é uma exemplificação clara de que, este termo faz
104
parte do jogo de dominação e, é percebido enquanto tal. Enquanto o grupo da categoria média
que possui menos capital cultural se julga conservador, aquele que possui o capital cultural
maior, o caso da elite intelectual, prefere o termo “tradição” para se auto-definir.
Encerra-se o trabalho com mais uma dentre tantas declarações de seus moradores.
M.J. 27 anos, militar, “o tijucano é tradicional, procura sempre continuar no bairro
ou manter algum vínculo. Sociável. Tem orgulho do bairro, e considero um típico tijucano,
dentro deste ponto de vista”
105
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brasileiras nos séculos XIX e XX. Salvador: UFBA/FAU, 1992, p. 241-244.
70. ________. Espaço e sociedade. Petrópolis: Vozes, 1982. 152 p.
71. ________.A urbanização brasileira. São Paulo: Hucitec, 1993. 157 p.
72. SASSEN, Saskia. As cidades na economia mundial. São Paulo: Studio Nobel, 1998.
190 p.
73. SILVA, Janaína Andrade. O tijucano entre a tradição e a modernidade: identidade
social e moradia no Rio de Janeiro hoje. 1993. 135 p. Dissertação (Mestrado em
Sociologia) - Instituto em Filosofia e Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 1993.
74. SIMMEL, Georg. A metrópole e a vida mental. In: VELHO, Otávio G. O fenômeno
urbano. 4 ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1979. p. 11-25.
75. SINGER, Paul. O Uso do Solo Urbano na economia capitalista. A produção
capitalista da casa (e da cidade) no Brasil. São Paulo: Editora Alfa-Omega, 1982.
p. 21-36.
76. VASQUEZ, Tutti. TUTTY. REVISTA PROGRAMA. Jornal do Brasil, Rio de
Janeiro, v. 12, n. 51, mar. 1997. Suplemento. p. 37.
77. SANTOS, Ana Cecília; CASEMIRO, Luciana. Tijuca à frente no setor imobiliário. O
Globo, Rio de Janeiro, 17 ago. 2000. Caderno Tijuca, p. 8-10.
110
78. VEJA RIO. Veja, Rio de Janeiro, v. 35, n. 24, jun. 2000. Suplemento.
79. VELHO, Gilberto.
Individualismo e cultura: notas para uma antropologia da
sociedade contemporânea. 5 ed. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1981. 152 p.
80. ________. Antropologia urbana: cultura e sociedade no Brasil e em Portugal. Rio de
Janeiro: J. Zahar, 1999. 144 p.
81. ________. Utopia urbana: um estudo de antropologia social. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1973. 112 p.
82. VENTURA, Luiz H. M. Segregação espacial e distribuição de equipamentos
coletivos na cidade do Rio de Janeiro, 1995. 166 p. Dissertação (Mestrado em
Planejamento Urbano e Regional) – Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e
Regional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1995.
83. WACQUANT, Loïc. Proscritos da cidade: estigma e divisão social no gueto americana
e na periferia urbana francesa. Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, n. 43, p. 64-83,
nov., 1995.
84. WEBER, Max. Classe, status, partido. In: VELHO, Otávio G. et al. (Org.). Estrutura
de classes e estratificação social. 6 ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1976. p. 6183.
85. WEYRAUCH, Cléia Schiavo; MOTA, Maria Sarita. (Org.). Tijuca: memória, história
& cultura. Rio de Janeiro: Departamento Cultural da UERJ, 1999. 162 p.
86. WILSON, W.J. The truly disadvantaged: The inner city, the underclass and public
policy. Chicago: The University of Chicago Press, 1987. 261 p.
111
1
.
A
P
Ê
N
D
I
C
E
NOTA METODOLÓGICA
Na construção das categorias ocupacionais foram consideradas a renda, a escolaridade, a
posição na ocupação e a oposição entre trabalhadores manuais e não-manuais. Abaixo temos
uma definição sucinta de cada uma delas
1. Trabalhadores Agrícolas
Formada por todas as ocupações agrícolas, exceto as ocupações criador bovino, proprietário
agropecuário e avicultor.
2. Categoria Dirigente
2.1 Empresários, que reúne os empregadores com dez ou mais empregados;
2.2 Dirigentes do setor público, formada pelas ocupações do alto escalão decisório no
setor público, como ministros, magistrados e procuradores;
2.3 Dirigentes do setor privado, formada pelas ocupações de administradores de
empresas dos setores de extração mineral, indústria, construção civil e empresas
financeiras;
2.4 Profissionais liberais, formada pelas ocupações tradicionalmente definidas como de
profissionais
liberais
(médicos,
engenheiros,
arquitetos,
dentistas,
advogados),
empregadores e autônomos.
3. Categoria Intelectual
3.1.Profissionais autônomos de nível superior;
3.2. Empregados de nível superior
4. Pequena Burguesia
4.1 Pequenos empregadores urbanos, que reúnem os empregadores com menos de dez
empregados;
4.2 Comerciantes por conta própria que desenvolvem suas atividades em casa ou em
empresas próprias.
5. Categoria Média
5.1 Trabalhadores em atividades de rotina, formada pelas ocupações sem função
decisória, tais como secretárias, auxiliares administrativos e auxiliares de escritório;
112
5.2 Trabalhadores em atividades de supervisão, formada por ocupações com algum
poder de decisão, tais como assistentes de administração, corretores de imóvel e administradores do
comércio;
5.3 Técnicos e artistas, formada pelas ocupações que requererem um conhecimento
específico, tais como desenhistas, técnicos em contabilidade, caixas, técnicos em energia elétrica,
programadores de computação, músicos e fotógrafos;
5.4 Trabalhadores nas áreas de saúde e educação, como professores de 1o grau e
enfermeiras não diplomadas;
5.5 Trabalhadores nas áreas de segurança pública, justiça e correios, tais como
investigadores de polícia, oficiais do corpo de bombeiros, praças das forças armadas e
carteiros.
6. Proletariado Terciário
6.1.Trabalhadores do comércio, formada pelas ocupações diretamente ligadas às
atividades do comércio, tais como vendedores, operadores de caixa e pracistas;
6.2. Prestadores de serviço especializado, formada pelos trabalhadores autônomos
em ocupações manuais que requerem um saber específico, tais como mecânicos, cabeleireiros, etc e
os empregados de ocupações manuais nos setores de prestação de serviços, atividades sociais e
administração pública;
6.3.Prestadores de serviço não especializado, formada pelos empregados em
ocupações de porteiro e vigia.
7. Proletariado do Secundário
7.1 Operários da indústria moderna, formada pelos trabalhadores nas indústrias
metalúrgica, mecânica, material elétrico, química, produção de petróleo e farmacêutica, entre
outras, que envolvem trabalhadores com posição mais elevada entre o operariado, em razão
das ocupações exigirem maior qualificação, proporcionarem nível mais elevado de
remuneração e de proteção social e os trabalhadores apresentarem maior grau de organização
corporativa;
7.2 Operários da indústria tradicional, formada pelos trabalhadores das indústrias
dos demais ramos, exceto a construção civil;
7.3 Operários dos serviços auxiliares, formada pelos empregados nos setores de
transportes, comunicação e serviços auxiliares;
7.4 Operários da construção civil, formada pelos trabalhadores em ocupações
ligadas à construção civil, tais como mestres, ladrilheiros, pedreiros, pintores, serventes de pedreiro;
113
7.5 Artesãos, formada pelos trabalhadores autônomos nas ocupações de alfaiate,
sapateiro, marceneiro, carpinteiro, estofador e ourives.
8. Sub-Proletariado
8.1. Trabalhadores Domésticos;
8.2. Ambulantes e Biscateiros, esta última formada pelos feirantes, doceiros, quitandeiros,
carroceiros e outras ocupações ambulantes e pelos guardadores de automóvel, engraxates e trabalhadores
braçais autônomos. Trata-se de uma categoria restrita aos autônomos sem qualquer saber
específico, não correspondendo, portanto a noção freqüentemente usada nos estudos
sociológicos em que trabalhadores autônomos no setor da construção, por exemplo, são
definidos como biscateiros.
Existe ainda o grupo dos inativos, formado pelas categorias aposentados e
pensionistas, pessoas que vivem de renda, estudantes, doentes e inválidos e pessoas dedicadas
apenas aos afazeres domésticos.
114
LISTA DOS MORADORES DA TIJUCA ENTREVISTADOS. VERÃO DE 2001,
RIO DE JANEIRO
Questio categoria
nário
nome
idade condição na
família
grau_instr
estudante série, ano etc
ocupação
trabalha
1A
CM
Magdala
54
Chefe
3° Grau
não
não se aplica
Aposentada
Não
2A
DC
Maria
Nazareth
57
Chefe
especialização não
não se aplica
cuidar da casa
não
2B
CM
Lilian
Cristina
33
filha
3° Grau
não se aplica
professora de
música
sim
2C
EI
Silvia
Alexandra
31
filha
especialização sim
mestrado
pesqui/
consultoria
sim,
3
EI
Orlando
Junior
37
chefe
doutorado
não
não se aplica
diretor prog. e
proj.nac FASE
sim
4
EI
Clara
31
chefe
3° Grau
não
não se aplica
Prof. artes e
produtora
sim
5
DC
Beth
45
chefe
3° Grau
sim, Direito Direito
Estudante/
Pensionista
não
6A
EI
Cristiane
27
chefe
3° Grau
não
não se aplica
Designer de
interiores
sim
6B
7
CM
PB
Heloísa
25
irmã
2° Grau
sim
biologia
vendas
sim
Haroldo
29
chefe
2° Grau
não
não se aplica
comerciante
sim
8A
EI
José
59
Chefe
3° Grau
não
não se aplica
aposentado
sim
8B
DC
Teresa
54
cônjuge
2° Grau
não
não se aplica
dona de casa
não
8C
EI
Fábio
27
Filho
3° Grau
sim
especialização analista financeiro sim
9A
CM
Marcos
30
chefe
3° Grau
não
não se aplica
Consultor
9B
CM
Taiza
24
cônjuge
3° Grau
não
não se aplica
auxiliar de cartório sim
10A
EI
Prisco
26
chefe
3° Grau
não
não se aplica
capitão do
exército
sim
10B
EI
Renata
25
cônjuge
3° Grau
não
não se aplica
Auxiliar de
gerência de
banco
sim
11A
EI
Marcos
51
chefe
3° Grau
não
não se aplica
Gerente
administrativo
sim
11B
DC
Valéria
46
cônjuge
2° Grau
não
não se aplica
dona de casa
não
11C
12A
EST
EI
Isabel
21
filha
2° Grau
sim
3o grau
estudante
sim
Paulo
70
chefe
3° Grau
não
não se aplica
médico
sim
12B
CM
Myrna
66
cônjuge
2° Grau
não
não se aplica
artista plástica
sim
13
CM
Marcelo
41
chefe
3° Grau
não
não se aplica
professor e
pesquisador
sim
14
EI
Sérgio
52
chefe
especialização sim
mestrado
Professor
Universitário
sim
15
EI
Celso
Lopes
53
chefe
3° Grau
não
não se aplica
Engenheiro Civil
sim
16A
CM
Jaime
71
chefe
3° Grau
não
não se aplica
aposentado
não
16B
CM
Teresa
66
cônjuge
2° Grau
não
não se aplica
aposentada
não
17A
CM
José
Pereira
54
chefe
2° Grau
não
não se aplica
aposentado
não
não
sim
115
17B
EI
Eliete
45
cônjuge
3° Grau
não se
aplica
não se aplica
aposentada
(advogada)
não
18
PS
Ribamar
59
chefe
primário
não
não se aplica
alfaiate
sim
19
CM
Carlos
Eduardo
27
chefe
2° Grau
não
não se aplica
programador
visual
sim
20A
EI
Henry
52
chefe
especialização não
não se aplica
gerente de
sinalização
sim
20B
21
EI
CM
Ângela
50
cônjuge
3° Grau
sim
Teologia
psicóloga
sim
Kátia
50
chefe
2ograu
não
não se aplica
Prof. Artes
Plásticas
sim
22A
EI
Inês
56
chefe
mestrado
não
não se aplica
resp.serviço de
água SERLA
sim
22
SP
Luzia
26
empregada
_
não
não se aplica
empregada
sim
23A
EI
José
60
Chefe
3° Grau
não
não se aplica
Aposentada
sim
23B
EI
Heloísa
53
cônjuge
3° Grau
não
não se aplica
aposentada
não
24
EI
Eni
51
irmã
3° Grau
não
não se aplica
chefe de seçãogeografia
sim
25
CM
Valéria
37
chefe
2° Grau
não
não se aplica
secretária
sim
26A
CM
Heda
75
chefe
3° Grau
não
não se aplica
aposentada
sim
26B
CM
Alexandre
32
filho
3° Grau
não
não se aplica
funcionário
público
sim
27
CM
Kátia
48
Chefe
2° Grau
não
não se aplica
secretária
sim
28
CM
Paulo
35
chefe
3° Grau
não
não se aplica
professor de
matemática
sim
29A
EI
Carlos
31
chefe
3° Grau
não
não se aplica
militar
sim
29B
DC
Mônica
35
esposa
3° Grau
não
não se aplica
dona de casa
não
30A
CM
Paulino
66
chefe
3° Grau
não
não se Aplica
aposentado/
advogado
sim
30B
DC
Leyde
61
cônjuge
primário
não
não se aplica
dona de casa
não
31A
CM
Mauro
60
Chefe
2* Grau
não
não se aplica
aposentado
não
31B
DC
Yvonne
60
cônjuge
1* grau
não se
aplica
não se aplica
dona de casa
não
31C
EI
Gabriela
28
filha
3° Grau
não
não se aplica
arquiteta
sim
32
33
CM
DC
Dione
57
chefe
2ºgrau
não
não
aposentada
sim
Leda
79
chefe
1ºgrau
não
não se aplica
do lar
não
34A
EI
Marcos
57
Chefe
pósgraduação
não
não se aplica
militar
sim
34B
DC
Beth
48
Cônjuge
2ºgrau
não
não se aplica
dona de casa
não
34C
EST
Ana Paula
20
Filha
2ºgrau
sim
4ano
engenharia
estudante
não
35
EI
Chefe
3ºgrau
sim
pós-graduação oficial do exército sim
Marcos Jr. 27
116
QUESTIONÁRIO
INSTITUTO DE PESQUISA E PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL
OBSERVATÓRIO DE POLÍTICAS URBANAS E GESTÃO MUNICIPAL
Pesquisa de Campo – Estudos de Caso
Questionário 01 – Completo – A ser respondido pelo (a) responsável pelo domicílio
Entrevistador responsável: ______________________
Nome do entrevistado: __________________________
1. Identificação
1.1.
1.2.
1.3.
1.4.
1.5.
1.6.
1.7.
Código do projeto/caso: ___________________
Código do distrito ou subdistrito + setor censitário: ____________________
Nº do domicílio: _______________
Nº do questionário: ____________
Município: ___________________
Bairro: ______________________
Área: _______________________
2. Características do domicílio
2.1. Quantas famílias vivem neste domicílio? ____________
2.2. Quantas pessoas vivem neste domicílio? ___________
Dados básicos
Nome
Sexo
Idade
21
Posição da família
22
Condição na família
Maior grau de
23
instrução concluído
Continua estudando?
Caso sim, qual a série,
ano, período ou grau?
Principal ocupação
Trabalha?
1ª pessoa
2ª pessoa
3ª pessoa
4ª pessoa
5ª pessoa
2.3. Quantos cômodos tem este domicílio? ____________
2.4. Quantos quartos/dormitórios tem este domicílio? ___________
2.5. Quantos banheiros tem este domicílio? _____________
2.6. Qual a área construída deste domicílio? __________ m2 99. NS/NR
2.7. Quantas casas possui este terreno?
1. Só possui uma casa
2. Possui 2 casas
3. Possui 3 casas
4. Possui 4 ou mais casas
5. Não se aplica
99. NS/NR
3. Acesso à moradia
3.1. Este terreno é:
21
Se pertence à família principal (nº 1) ou à família convivente (nº 2).
22
Ex: responsável pela família, cônjuge, filho(a)/enteado(a), pai/mãe/sogro(a), neto(a)/bisneto(a), irmão/irmã, primo(a),
tio(a), cunhado(a), outro parente, agregado(a), pensionista, empregado(a) doméstico(a) ou parente do empregado(a)
doméstico(a).
23
Indique uma das opções a seguir: até 3 anos de estudo, elementar ou primário, ensino fundamental ou 1º grau, ensino
médio ou 2º grau, ensino superior ou 3º grau, pós-graduação lato sensu ou especialização, pós-graduação stricto sensu ou
mestrado/doutorado.
117
1.
2.
3.
4.
5.
99.
Próprio com escritura
Próprio sem escritura
Cedido
Invadido/ocupado
Não se aplica
NS/NR
3.2. Este domicílio é:
1. Próprio (adquirido – comprou terreno/casa)
2. Próprio (auto-construído – comprou só terreno)
3. Alugado. Pule para a questão 3.5
4. Cedido por empregador. Pule para a questão 3.5
5. Cedido por particular. Pule para a questão 3.5
6. Invadido/ocupado. Pule para a questão 3.5
99. NS/NR. Pule para a questão 3.5
3.3. Se o seu imóvel é próprio responda:
Ele já está pago
Ele ainda está sendo pago
3.4. Como adquiriu ou está adquirindo o seu imóvel?
1. à vista
2. através de sistema de financiamento privado
3. através de sistema de financiamento público
4. troquei por outro bem imóvel
5. recebi de herança
6. outros: __________________________________
3.5. Qual o valor atualizado aproximado deste imóvel?
1. R$ _____________
2. Não sei
4.
Riqueza Social
4.1. Quantos aparelhos de TV existem neste domicílio?
1. nenhum 2. um 3. dois ou mais
4.2. Este domicílio possui TV por assinatura?
1. não 2. NET 3. TVA 4. SKY
4.3. Quantos CD-Players existem neste domicílio?
1. nenhum 2. um 3. dois ou mais
4.4. Quantos videocassetes existem neste domicílio?
1. nenhum 2. um 3. dois ou mais
4.5. Quantas geladeiras existem neste domicílio?
1. nenhum 2. um 3. dois ou mais
4.6. Quantos freezers existem neste domicílio?
1. nenhum 2. um 3. dois ou mais
4.7. Quantos microondas existem neste domicílio?
1. nenhum 2. um 3. dois ou mais
4.8. Quantos microcomputadores existem neste domicílio?
1. nenhum 2. um 3. dois ou mais
4.9. Este domicílio está conectado à Internet?
1. sim
2. não
4.10. Quantas linhas telefônicas existem neste domicílio?
1. nenhuma 2. uma 3. duas ou mais
4.11. Quantos telefones celulares pertencem a moradores deste domicílio?
1. nenhum 2. um 3. dois ou mais
4.12. Este domicílio contrata os serviços de uma empregada doméstica mensalista?
1. sim
2. não
4.13. Este domicílio paga os serviços de uma faxineira/diarista?
1. sim
2. não
4.13. A sua família possui uma segunda moradia?
1. sim Onde?_______________________________________
bairro e município
2. não
4.14. Qual a marca, modelo e ano dos automóveis que pertencem a moradores deste domicílio? Indique o código
de acordo com o quadro abaixo.
Modelos
01. Popular 1.0
03. Médio (Escort)
02. Compacto (1.3, 1.6)
04. Grande (Mondeo,
05. Luxo (Mercedes,
Audi)
06. Pick-up pequena
07. Pick up Grande
(Ranger, Dakota, S10)
08. Sport utility
09. Van
10. Wagon (Palio
118
Vectra)
(Courier)
(Cherokee, Blazer)
Marca nacional ou importada?
Weekend)
Modelo
Ano
1º automóvel
2º automóvel
3º automóvel
4º automóvel
5. Trajetória do responsável pelo domicílio
5.1. Há quanto tempo você mora neste domicílio?
1. sempre morou
2. _____ anos e _____ meses
5.2. Há quanto tempo você mora neste bairro?
1. sempre morou
2. _____ anos e _____ meses
5.3. Há quanto tempo você mora nesta cidade?
1. sempre morou
2. _____ anos e _____ meses
5.4. O seu domicílio anterior ficava situado:
1. em área urbana - bairro
2. em área urbana - favela
3. em área rural
5.5. Indique a sua trajetória a partir do momento em que você passou a ser responsável pelo domicílio,
informando a condição de ocupação do imóvel correspondente e o trabalho que você exercia na época
Período (ano Æ ano)
Bairro/Município
Condição do imóvel
Ocupação no trabalho
5.6. Cite os 3 principais motivos da sua última mudança:
Principal motivo
2º motivo
3º motivo
1. Nunca mudei
2. Para ficar perto do local de trabalho
3. Para buscar um trabalho melhor/ganhar dinheiro
4. Para ficar mais perto de familiares e/ou amigos
5. Porque me casei
6. Porque me separei
7. Porque tive filhos
8. Porque meus filhos saíram de casa
9. Para estudar ou para que meus filhos estudem
10. Porque aqui é mais barato
11. Para me livrar do aluguel
12. Porque herdei a atual moradia
13. Porque fui transferido para outro local de trabalho
14. Para fugir da violência
15. Aqui disponho de melhor infra-estrutura
16. Outro motivo:
5.7. Qual o principal fator considerado na escolha deste bairro?
______________________________________________________________________________________
________
Atenção entrevistador: questão espontânea
5.8. O que pesou mais na sua decisão de vir morar neste domicílio?
1. a localização do imóvel
2. as características do imóvel
5.9. Em que cidade você nasceu? __________________________________________________
119
Atenção entrevistador: questão espontânea. Identificar a UF.
6.
Perfil sociodemográfico do responsável pelo domicílio
6.1. Qual a sua cor/raça?
1. Branco (a)
2. Negro (a)
3. Pardo (a)
4. Amarelo (a)
5. Indígena
6.2. Atualmente você vive com companheira (o)/cônjuge?
1. Sim. Responda a 6.3
2. Não. Pule para a questão 6.4
7.
6.3. Você é:
1.
2.
3.
4.
Casado (a) apenas no civil
Casado (a) apenas no religioso
Casado (a) no civil e no religioso
Apenas vivem juntos (amigado/juntado, união consensual)
6.4. Você é:
1.
2.
3.
Solteiro (a)
Divorciado (a), desquitado (a) ou separado(a)
Viúvo (a)
Perfil econômico e profissional do responsável pelo domicílio
7.1. Você trabalhou nos últimos 12 meses?
1. Sim. Pule para a questão 7.3
2. Não
7.2. Qual a sua situação?
1. procurando trabalho (pule para 7.4)
2. aposentado/pensionista (pule para 7.21)
3. estudante (pule para 7.21)
4. pessoa ligada aos afazeres domésticos (pule para 7.21)
5. desempregado e não estou procurando emprego (Pule para 7.4)
6. outros: ___________________________
7.3. Quantas foram as ocupações/atividades desempenhadas? _________
7.4. Você trabalhou nos últimos 15 dias?
1. Sim. Pule para a questão 7.10
2. Não
7.5. Caso não, há quanto tempo está desempregado? _______ anos e ______ meses
7.6. Caso esteja desempregado mas não procurando emprego, qual o motivo?
______________________________________________________________________________________
______
Atenção entrevistador: questão espontânea
7.7. Caso esteja desempregado, como se mantém?
Aposentadoria ou pensão
Aluguel de imóveis
Pensão alimentícia ou mesada
Doação e/ou empréstimo de familiares e/ou amigos
Doação e/ou empréstimo de vizinhos e/ou da comunidade à qual pertence
Programas oficiais de auxílio social - Renda mínima, bolsa-escola, seguro-desemprego etc
Indenização da demissão
Poupança
Ajuda de órgão público
Ajuda de órgão privado/filantrópico
Outros: ______________________________________________
7.8. Caso esteja desempregado e procurando emprego, qual seria a principal dificuldade encontrada?
__________________________________________________________________________________
____
Atenção entrevistador: questão espontânea
120
7.9. Caso esteja desempregado, qual foi a sua última ocupação? Após responder pule para a questão 7.22
_______________________________________________
7.10. Qual a sua condição de ocupação (dada pela relação de trabalho)?
1. empregado
2. empregador
3. conta-própria/autônomo
4. funcionário público
5. cooperativado
7.11. Qual o ramo/setor da sua atividade/ocupação principal? _________________________________________
Atenção entrevistador: questão espontânea
7.12. Você tem a carteira assinada?
1. Sim
2. Não
7.13. Você contribui com a Previdência (pública ou privada)?
1. Sim
2. Não
7.14. Como é o seu contrato de trabalho?
1. ainda estou no período de experiência ou estágio probatório
2. contrato de trabalho baseado no regime estatutário
3. contrato de trabalho baseado no regime celetista (CLT)
4. contrato de trabalho temporário/estágio
5. não tenho contrato assinado
6. outro: __________________________________
99. NS/NR
7.15. Assinale os benefícios que recebe:
Benefícios
13º salário
Férias anuais acrescidas de 1/3 da sua remuneração
Cesta básica
Vale-transporte
Ticket refeição e/ou alimentação
Plano de saúde
Seguro de vida
Fundo de previdência privada
Prêmios e/ou participação nos lucros
Recebe
7.16. Qual a sua jornada de trabalho semanal na ocupação principal?
1. menos de 20h
2. entre 20 e 28h
3. entre 28 e 36h
4. entre 36 e 44h
5. entre 44 e 52h
6. acima de 52h
7.17. Caso você tenha outras ocupações, qual a jornada de trabalho semanal correspondente?
1. menos de 20h
2. entre 20 e 28h
3. entre 28 e 36h
4. entre 36 e 44h
5. entre 44 e 52h
6. acima de 52h
7.18. Com relação à sua ocupação principal , em que local você desenvolve o seu trabalho?
1. No próprio domicílio
2. Na empresa, escritório, loja ou oficina
3. Na casa de clientes e/ou locais indicados por clientes
4. Em veículo automotor (van, trailler, kombi, taxi etc)
5. Nas ruas
6. Outro: _____________________________________
7.19. Caso você trabalhe em escritório, loja, oficina ou em veículo, este é:
1. Próprio
2. Alugado
3. Cedido ou emprestado
121
7.20. Caso você seja um trabalhador autônomo/conta-própria, no seu trabalho você conta com a ajuda de
membros da sua família?
1. Sim 2. Não
7.21. A sua renda bruta individual está na faixa de:
Informe a ocupação e a faixa de renda
correspondente
Ocupação principal:
2ª ocupação:
3ª ocupação:
Renda total
(incluir
salários,
comissões,
bônus e
aluguéis etc)
não possui fonte de renda no momento
até 1 sm – até R$151,00
entre 1 e 2 sm – entre R$151, 01 e R$302,00
entre 2 e 3 sm – entre R$302,01 e R$453,00
entre 3 e 5 sm - entre R$453,01 e R$755,00
entre 5 e 10 sm - entre R$755,01 e R$1.510,00
entre 10 e 20 sm - entre R$1.510,01 e R$3.020,00
entre 20 e 30 sm - entre R$3.020,01 e R$4.530,00
entre 30 e 50 sm - entre R$4.530,01 e R$7.550,00
acima de 50 sm – acima de R$7.550,01
7.22. . Informe a faixa de renda bruta individual total das demais pessoas que moram com você:
Informe a condição na família das pessoas que
residem com você e possuam renda própria e
assinale a faixa de renda correspondente
até 1 sm – até R$151,00
entre 1 e 2 sm – entre R$151, 01 e R$302,00
entre 2 e 3 sm – entre R$302,01 e R$453,00
entre 3 e 5 sm - entre R$453,01 e R$755,00
entre 5 e 10 sm - entre R$755,01 e R$1.510,00
entre 10 e 20 sm - entre R$1.510,01 e R$3.020,00
entre 20 e 30 sm - entre R$3.020,01 e R$4.530,00
entre 30 e 50 sm - entre R$4.530,01 e R$7.550,00
acima de 50 sm – acima de R$7.550,01
1ª pessoa:
2ª pessoa:
3ª pessoa:
4ª pessoa:
7.23. Quantas pessoas contribuem com as despesas fixas mensais desta residência?
_________________________
8.
Perfil associativo
8.1. Você é filiado a alguma entidade de representação de sua categoria profissional?
1. Sim. Pule para a questão 8.3
2. Não.
3. Não se aplica
8.2. Se não, por quê? Após responder pule para a questão 8.6
1. Não vejo nenhuma vantagem
2. Não tenho tempo de participar das reuniões
3. Não quero contribuir
4. Não posso contribuir
5. Não acredito nessas entidades
6. Outro motivo: _____________________________________________
8.3. Se for filiado, você é:
1. Sindicalizado
2. Associado
3. Ambos
8.4. Qual o principal motivo que levou você a se sindicalizar/associar?
1. Assistência médica
2. Assistência jurídica
3. Outras vantagens de caráter financeiro
4. Atividade desportiva, cultural ou lazer
5. Atividade política
6. Outro motivo: ____________________________________________
8.5. Qual a freqüência de participação em reuniões ou assembléias do sindicato/associação nos últimos 12
meses?
1. Não freqüentou
2. Uma vez
3. Duas a três vezes
4. Quatro vezes ou mais
Renda
familiar
122
8.6. A que tipo de órgão comunitário você é filiado ou associado?
1. Não sou filiado ou associado a nenhum. Pule para a questão 8.8
2. Associação de bairro ou moradores
3. Associação religiosa
4. Associação filantrópica
5. Associação esportiva ou cultural
6. Outro tipo: ______________________________________________
8.7. Caso seja filiado ou associado, qual a freqüência de participação em reuniões ou atividades do órgão
comunitário nos últimos 12 meses?
1. Não freqüentou
2. Uma vez
3. Duas a três vezes
4. Quatro vezes ou mais
8.8. Faz parte de algum partido político?
1. Sim
2. Não. Pule para a questão 8.10
8.9. Se fizer parte, você é:
1. Filiado
2. Militante
3. Filiado e Militante
8.10. Caso não, tem simpatia por algum partido?
1. Sim
2. Não. Pule para a questão 8.12
8.11. Qual é o partido?
______________________________________________________________
Atenção entrevistador: questão espontânea
8.12. Qual a sua religião ou culto?
1. Não tem religião. Pule para a questão 8.14
2. Católica
3. Evangélica tradicional
4. Evangélica pentecostal
5. Espírita kardecista
6. Afro-brasileira (Candomblé, Umbanda etc)
7. Oriental (Budismo, Hinduísmo etc)
8. Judaica ou israelita
9. Outra: _______________________________________
8.13. Com qual freqüência você participa das atividades, cerimônias ou cultos religiosos?
1. Não participa
2. Atuante/praticante
3. Esporadicamente
4. Apenas em datas e/ou eventos especiais
8.14. Participa de algum outro grupo ou movimento social organizado?
1. Sim
2. Não. Pule para o próximo item.
8.15. Qual ou quais? ______________________________________________________________
______________________________________________________________
Atenção entrevistador: questão espontânea
9.
Práticas de Consumo – Roteiros cotidianos/Comportamentos/Preferências
9.1. Você estuda? Onde?
1.
Não sou estudante
2.
Escola/colégio público
3.
Escola/colégio privado
4.
Escola técnica pública
5.
Escola técnica privada
6.
Faculdade/universidade pública
7.
Faculdade/universidade privada
9.2. Caso você estude, em que bairro da sua cidade ou em que outra cidade fica o seu colégio/faculdade/curso?
__________________________________________________________________________________
9.3. Caso você estude, como se desloca à escola/faculdade/curso mais freqüentemente?
1. A pé ou de bicicleta
2. Automóvel particular
3. Táxi
4. Ônibus
5. Metrô
123
6.
7.
8.
9.
10.
Van
Barcas
Trem
Transporte escolar
Outro: ______________________________
9.4. Caso você trabalhe, em que bairro da sua cidade ou em que outra cidade fica o seu local de trabalho?
__________________________________________________________________________________
9.5. Caso você trabalhe, como se desloca ao local de trabalho mais freqüentemente?
1. A pé ou de bicicleta
2. Automóvel particular
3. Táxi
4. Ônibus
5. Metrô
6. Van
7. Barcas
8. Trem
9. Transporte oferecido pelo empregador/empresa
10. Outro: ______________________________
9.6. Caso você estude, qual o tempo gasto em média no percurso casa Æ colégio/faculdade/curso?
1. Até 15 min
2. Entre 15 e 30 min
3. Entre 30 min e 1h
4. Entre 1h e 1h30min
5. Entre 1h30min e 2h
6. Acima de 2h
9.7. Caso você trabalhe, qual o tempo gasto em média no percurso casa Æ local de trabalho?
1. Até 15 min
2. Entre 15 e 30 min
3. Entre 30 min e 1h
4. Entre 1h e 1h30min
5. Entre 1h30min e 2h
6. Acima de 2h
9.8. Cite o curso complementar ao qual você se dedica mais:
1. Não freqüento cursos complementares
2. Línguas estrangeiras
3. Informática
4. Música/instrumento musical
5. Dança
6. Teatro
7. Artes – desenho, pintura, decoração etc
8. Culinária
9. Atividades desportivas em geral
10. Outro: ________________________________________
9.9. Como desfrutou as suas férias nos últimos 5 anos com mais freqüência?
1. Não teve férias pois não trabalha/estuda
2. Não tirou férias
3. Ficou em casa
4. Viajou pelo estado do Rio
5. Viajou pelo Brasil
6. Viajou pelo exterior
9.10. Quando viaja de férias, qual o meio de transporte mais utilizado?
1. Automóvel particular
2. Ônibus
3. Avião
4. Navio/barco
5. Trem
6. Carona
7. Outro: ________________________
9.11. Onde você adquire os produtos de alimentação mais freqüentemente?
1. Supermercado
2. Hipermercado
3. Mercearias, quitandas, padarias
4. Feiras ambulantes
124
5.
Outro: _________________________
9.12. De acordo com a sua resposta anterior, diga qual o principal motivo:
1. Proximidade
2. Preço
3. Forma de pagamento
4. Variedade e qualidade
5. Outro: ____________________________________
9.13. Qual a forma mais utilizada de pagamento na compra dos produtos de alimentação?
1.
À vista
2.
A prazo – cheque pré-datado
3.
A prazo – cartão de crédito/cartão do próprio estabelecimento
4.
Fiado (conta em caderneta)
5.
Tickets
9.14. Você adquire vestuário e calçados nas lojas do seu bairro?
1. Sim, freqüentemente
2. Sim, ocasionalmente
3. Nunca
9.15. Você adquire vestuário e calçados em shopping centers?
1. Sim, freqüentemente
2. Sim, ocasionalmente
3. Nunca
9.16. Você adquire vestuário e calçados na feira ou em camelôs?
1. Sim, freqüentemente
2. Sim, ocasionalmente
3. Nunca
9.17. Você adquire vestuário e calçados em lojas de marca/grife?
1. Sim, freqüentemente
2. Sim, ocasionalmente
3. Nunca
9.18. Você adquire vestuário e calçados através de doação?
1. Sim, freqüentemente
2. Sim, ocasionalmente
3. Nunca
9.19. Como você normalmente adquire eletrodomésticos?
1. À vista
2. A prazo – cheque pré-datado
3. A prazo – cartão de crédito/cartão do próprio estabelecimento
4. A prazo – crediário
5. Doação
6. Outro: _____________________________________
9.20. Como você acessa o sistema de saúde mais freqüentemente?
1. Sistema privado – possui plano de saúde de grandes empresas
2. Sistema privado – possui plano de saúde de determinada clínica
3. Sistema privado – paga consulta particular
4. Sistema público
5. Sistema da corporação que trabalha
6. Sistema filantrópico/clientelista
9.21. Qual dentre os lugares abaixo, você gosta e costuma freqüentar e quais nunca frequenta?
Locais/programas
Sempre
Raramente
Nunca
Onde frequenta
Cinema
Teatro
Casas de shows
Shows públicos
Bares
Restaurantes
Boates
Shopping centers
Clubes
Casas de jogos
Museus
Exposições
125
Praia
Praças
Parques/áreas verdes
Outros:
9.22. Quando
está
comemorando
algo
___________________________________
importante,
qual
9.23. Qual
a
sua
comida,
prato
________________________________________________________
a
bebida
mais
preparado,
9.24. Quando em casa, com que tipo de lazer você ocupa as suas horas livres mais freqüentemente?
1. Assiste à TV ou vídeo
2. Ouve música
3. Lê
4. Navega na Internet
5. Conversa com amigos/vizinhos
6. Outro: ___________________________________________________________
9.25. Onde você pratica esportes/atividades físicas?
1. Não pratica atividade física/esportes. Pule para a 9.25
2. Em casa
3. Ao ar livre – praias, áreas verdes etc
4. Academias ou clubes
5. No próprio condomínio
6. Outro: __________________________________________________________
9.26. Caso pratique esportes/atividade física, qual a modalidade mais freqüente?
1. caminhada/corrida
2. outras modalidades associadas ao atletismo
3. ciclismo
4. ginástica localizada/musculação
5. natação ou hidroginástica
6. futebol
7. outros esportes coletivos (vôlei, basquete etc)
8. esportes individuais (tênis, esgrima, tiro, golfe, equitação etc)
9. lutas marciais em geral
10. capoeira
11. surf ou bodyboarding
12. outra: _________________________________________________________
10. Comportamento e preferências culturais
10.1. Quais, dentre os museus e espaços culturais abaixo, você já foi pelo menos uma vez?
1. Museu Histórico da República (Catete)
2. Museu Histórico Nacional (Arsenal de Guerra e do Trem)
3. Museu Nacional (Quinta da Boa Vista)
4. Planetário
5. Museu da II Guerra Mundial (Aterro do Flamengo)
6. Museu Casa do Pontal
7. Casa França Brasil
8. Museu Nacional de Belas Artes
9. Museu de Arte Moderna (MAM)
10. Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB)
11. Museu Chácara do Céu (Santa Teresa)
12. Museu Internacional de Arte Naif (Cosme Velho)
13. Museu de Imagens do Inconsciente
14. Espaço Cultural dos Correios
15. Centro Cultural Hélio Oiticica
16. Casa de Cultura Laura Alvim
17. Museu da Imagem e do Som (MIS)
18. Museu de Arte Contemporânea (MAC – Niterói)
19. Outros, quais?
________________________________________________________________________
20. Nenhum
10.2. Dentre as exposições abaixo, qual freqüentou?
utilizada?
predileto?
126
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
Claude Monet
Salvador Dali
Esplendores de Espanha
500 anos - Mostra do descobrimento (qualquer um dos módulos)
Auguste Rodin
Pablo Picasso
Expressionismo Alemão
Outras, quais?
____________________________________________________________________________
9.
Nenhuma
10.3. Dê a sua opinião sobre os pintores abaixo:
Nunca ouvi falar
Só ouvi falar, mas não
conheço o trabalho
Gosto do trabalho
Não gosto
Gosto do trabalho
Não gosto
1. Leonardo da Vinci
2. Vincent Van Gogh
3. Fra Angelico
4. Paul Klee
5. Matisse
6. Jan Vermeer
7. Modigliani
8. Auguste Renoir
9. Edgar Degas
10. Di Cavalcanti
11. Portinari
12.Djanira
13. Guignard
14. El Greco
15. Velazquez
Totais
10.4. Dê a sua opinião sobre os compositores clássicos abaixo:
Nunca ouvi falar
Só ouvi falar, mas não
conheço o trabalho
1. Liszt
2. George Gershwin
3. Mozart
4. Johann Sebastian Bach
5. Beethoven
6. Richard Wagner
7. Vivaldi
8. Tchaikovsky
9. Chopin
10. Bizet
11. Verdi
12. Rossini
13. Strauss
14. Haendel
15. Mendelssohn
Totais
10.5. Indique o autor das composições clássicas abaixo:
Não sei
1. O Barbeiro de Sevilha
2. As Bodas de Fígaro
3. As quatro estações
4. Tristão e Isolda
5. O quebra-nozes
6. O Lago dos Cisnes
7. Carmem
8. Aída
Sei (cite o compositor)
127
9. Marcha Nupcial
10. Danúbio Azul
Totais
10.6.
Indique o compositor ou o intérprete mais famoso das músicas abaixo:
Não conheço
essa música
Conheço, mas não
sei de quem é
Conheço e sei de quem é
(cite o nome)
1. Sampa
2. Chega de Saudade
3. Samba do Avião
4. Esperando na janela
5. Palco
6. A Banda
7. Leãozinho
8. Águas de Março
9. Construção
10. Desafinado
Totais
10.7. Indique o compositor ou o intérprete mais famoso das músicas abaixo:
Não conheço
essa música
Conheço, mas não
sei de quem é
Conheço e sei de quem é
(cite o nome)
1. Sai da minha aba
2. Brincadeira de criança
3. Shopping center
4. Assim que tá gostoso
5. Requebrabum
6. Tá a fim de sambar
7. Decisão
8. Absoluta
9. Mundo dos sonhos
10. Fotografia
Totais
10.8. Indique o diretor dos filmes abaixo:
Não conheço
esse filme
Conheço, mas não
sei quem é o diretor
Conheço e sei quem é o diretor (cite o
nome)
1. Auto da Compadecida
2. Repulsa ao Sexo
3. Lanternas Vermelhas
4. Central do Brasil
5. O Quatrilho
6. Manhattan
7. Asas do Desejo
8. O Baile
9. Dançando no Escuro
10. Titanic
11. De repente num Domingo
12. Janela Indiscreta
13. A Lista de Schindler
14. Deus e o Diabo na Terra do Sol
15. Tudo sobre minha mãe
Totais
10.9. Indique um livro dos escritores abaixo que já leu:
Não conheço
esse(a) escritor(a)
1. Machado de Assis
2. Guimarães Rosa
3. José Cândido de Carvalho
4. Raduan Nassar
5. Rubem Fonseca
Conheço, mas não li
nenhum livro dele(a)
Conheço e li (cite o nome de apenas
um livro)
128
6. Lygia Fagundes Telles
7. Paulo Coelho
8. João Ubaldo Ribeiro
9. Jorge Amado
10. Nélida Pinon
11. Carlos Heitor Cony
12. Érico Veríssimo
13. Nelson Rodrigues
14. Carlos Drummond de Andrade
15. José Lins do Rêgo
Totais
10.10. Com que freqüência você assiste aos seguintes programas:
Sempre
Às vezes
Raramente
Nunca
Hebe
Domingão do Faustão
Domingo Legal
Programa do Ratinho
Novelas
Mais Você
Show do Milhão
Fantástico
O Positivo
Altas Horas
Erótica
Jornal Nacional
Casseta & Planeta
Gabi
Roda Viva
Programa do Jô
10.11. Qual tipo de rádio costuma ouvir?
1. Notícias
2. Jovem
3. Cultura e música
4. Religiosas
5. Esporte
6. Outra, qual? __________________________________________
7. Nenhuma
10.12. Onde adquire ou adquiriu a maior parte dos móveis da sua casa?
1. Doações
2. Feiras de móveis
3. Grandes magazines/lojas de departamento
4. Antiquário
5. Brechós (móveis de 2ª mão)
6. Lojas de design especializadas
7. Pequenas lojas
8. Contrata os serviços de marceneiros
10.13. Escolha o adjetivo que melhor representa o interior da casa que gostaria de morar:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
Amplo
Fácil manutenção, prático
Íntimo
Confortável
Arrumado
Limpo, bem cuidado
Extravagante
Sóbrio, discreto
Harmonioso
Repleto de objetos decorativos, enfeitado
10.14. Como você consideraria atualmente o interior da sua casa?
__________________________________________________________________________________
129
10.15. Você toca algum instrumento musical? Qual ou quais?
__________________________________________________________________________________
10.16. Quantas línguas estrangeiras você fala? Quais?
__________________________________________________________________________________
10.17. Você lê revista semanalmente? Se sim, qual ou quais?
__________________________________________________________________________________
10.18. Você lê jornal pelo menos uma vez por semana? Se sim, qual ou quais?
__________________________________________________________________________________
10.19. O que você espera para os seus filhos?
__________________________________________________________________________________
11.
Percepção do lugar
11.1.
O que você acha de morar aqui?
1. Ótimo
2. Bom
3. Regular
4. Ruim
5. Péssimo
6. Indiferente
11.2. O que você mais gosta do lugar onde você mora?
_________________________________________________________________________________
11.3.
1.
2.
3.
4.
Você considera que o seu bairro está:
melhorando
mantendo-se na mesma situação
piorando
não sabe
11.4.
De acordo com a sua resposta anterior, explique por que:
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
11.5.
Quais os 2 principais problemas do seu bairro?
1º _____________________________________________________________________________
2º ______________________________________________________________________________
11.6. Você já sofreu algum tipo de violência no seu bairro?
1. Sim
2. Não. Pule para a questão 11.8
11.7.
Caso sim, que tipo de violência?
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
11.8.
Você gostaria de se mudar?
1. Sim
2. Não. Pule para a questão 11.11
11.9. Caso você prefira morar em outro lugar, que lugar seria esse (parte do bairro, bairro, cidade etc)?
______________________________________________________________________________
Atenção entrevistador: questão espontânea
11.10. Caso você prefira morar em outro lugar, o que o impede?
1. restrições financeiras
2. minha família prefere viver aqui
3. meus amigos/familiares moram aqui
4. aqui é mais próximo do meu local de trabalho
5. aqui a oferta de trabalho/emprego é maior
6. aqui o acesso ao comércio, serviços e transportes é melhor
7. aqui tem praia ou a praia é melhor
8. outro: ________________________________________________________________
130
11.11. Ao se mudar para cá você considera que:
1. ganhou status
2. perdeu status
3. não fez a menor diferença em termos de status
4. Não se aplica
11.12. Qual outro bairro, fora a Tijuca, que mais freqüenta? _________________________________
Porque? _____________________________________________________________________
11. 13. Classifique os bairros/regiões abaixo quanto ao status:
Bairros/Regiões
Copacabana
Ipanema
Gávea
Lagoa
Botafogo
Catete
Centro
Jacarepaguá
Barra da Tijuca
Tijuca
Vila Isabel
São Cristóvão
Bonsucesso
Méier
Madureira
Pavuna
Baixada Fluminense
Niterói
Muito alto
Alto
Médio
Baixo
Muito baixo
11.14. Qual das palavras abaixo melhor define a Tijuca?
1. Homogeneidade
2. Beleza
3. Tranquilidade
4. Conservadora
5. Segurança
6. Tradição
7. Modernidade
8. Solidariedade
9. Outras: __________________________________________________________________
12. Percepção do meio social
12.1. . Em qual dos grupos abaixo você se inclui?
1. Classe alta
2. Classe média alta
3. Classe média média
4. Classe média baixa
5. Classe baixa/popular (pobre)
6. Não sei
12.2. Você se relaciona socialmente (nas suas horas de lazer) com pessoas de classes sociais diferentes
da sua?
1. Não
2. Sim, com pessoas de classe social acima da minha
3. Sim, com pessoas de classe social abaixo da minha
4. Sim, com pessoas de classes sociais abaixo e acima da minha
12.3. Como você se relaciona com os seus vizinhos imediatos?
1. Mantenho uma relação de amizade e/ou solidariedade
2. Mantenho uma relação cordial, mas distante
3. Não gosto e/ou não falo com eles
4. Não os conheço
12.4. Como você conheceu a maior parte das pessoas com quem você se relaciona nas suas horas de lazer
no seu próprio bairro?
1. Não possuo amigos no bairro
2. Na escola/curso/faculdade
131
3.
4.
5.
6.
7.
8.
No trabalho
Na academia de ginástica ou clube
Na praia/ praça
Através de relações de vizinhança
Por intermédio de outros amigos
Outro: _____________________________________________________________
12.5. Você tem parentes residindo no bairro (ou nas proximidades)?
1. Sim
2. Não
12.6. Caso sim, como você se relaciona com eles?
1. Nunca se vêem ou visitam-se
2. Vêem-se apenas em festas familiares
3. Vêem-se ou visitam-se pouco
4. Vêem-se ou visitam-se freqüentemente
12.7. Como você definiria o típico Tijucano?
__________________________________________________________________________________________________
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o HABITUS no lugar e o lugar da TIJUCA - Ippur