FLÁVIA SANTOS DE OLIVEIRA o HABITUS no lugar e o lugar da TIJUCA Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Planejamento Urbano e Regional. Orientador: Prof. Dr. Luiz César de Queiroz Ribeiro Doutor em Estruturas Ambientais Urbanas/ USP Rio de Janeiro 2001 ii O48h Oliveira, Flávia Santos de. O habitus no lugar e o lugar da Tijuca / Flávia Santos de Oliveira. - 2001. 142 f. : il. color. ; 30 cm. Orientador: Luiz César de Queiroz Ribeiro. Dissertação (Mestrado em Planejamento Urbano e Regional)–Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2001. Bibliografia: f. 105-110. 1. Sociologia urbana. 2. Percepção social. 3. Tijuca (Rio de Janeiro, RJ) – Teses. I. Ribeiro, Luiz César de Queiroz. II.. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional. III. Título. CDD: 307.76 iii FLÁVIA SANTOS DE OLIVEIRA o HABITUS no lugar e o lugar da TIJUCA Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Planejamento Urbano e Regional. Aprovada em: ________________________________________ Prof. Dr. Luiz César de Queiroz Ribeiro - Orientador Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional - UFRJ ________________________________________ Prof. Dra. Luciana Corrêa do Lago Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional - UFRJ ________________________________________ Prof. Dra. Maria Josefina Gabriel Sant’Anna Programa de pós-graduação em ciências sociais - UERJ iv aos meus pais José Arthur e Maria José à minha irmã, Letícia ao meu amor, Pedro v A G R A D E C I M E N T O S Aos meus segundos pais por direito e de afeto, Sérgio e Lílian. Aos meus amigos tão longe e tão próximos, Raquel, Isa, Luciana e Sérgio. A minha amiga tão perto e tão próxima Suzana. A minha amiga mais generosa, Cynthia. A minha família “carioca”, Cláudia, Tonico, e Alice. Ao meu sábio e paciente orientador, Luiz César Queiroz Ribeiro. As professoras Luciana e Mazé. Ao Mauro Kleiman e Tamara Egler, arquitetos do IPPUR. Ao Observatório – Peterson, Paulo e muito carinhosamente ao Carlos e à Rosa. Aos queridos funcionários do IPPUR, grandes “matemáticos”, Leila, Jussara, Josimar e Pedro. A Ana Cristina e Fabiana. Aos moradores entrevistados da Tijuca pelas muitas confidências. Ao CNPq pelo suporte financeiro Aos funcionários do arquivo JB vi R E S U M O OLIVEIRA, Flávia Santos de. O Habitus no lugar e o lugar da Tijuca. Orientador: Prof. Doutor Luiz César Queiroz Ribeiro. Rio de Janeiro: UFRJ/CCJE/IPPUR, 2001. 142 p. Dissertação (Mestrado em Planejamento Urbano e Regional). Partindo da análise de uma realidade empírica, datada e situada, o bairro da Tijuca, no período entre 1980 e 2001, pretende-se entender a relação entre o espaço físico e o espaço social. No Rio de Janeiro, a idéia de que o lugar físico ocupado (o habitar) remete à subjetivação da posição social do indivíduo (o habitus) é, particularmente, incorporada. A pergunta “onde você mora?” faz parte do ritual carioca de conhecer o outro. A importância do lugar ocupado, enquanto fator de identificação e distinção, se materializa no termo “tijucano”. Sem equivalentes na fala do carioca, esta construção representativa de um grupo acaba revestindo o espaço de uma identidade simbólica que ultrapassa a sua própria realidade e se reifica nas percepções e modos de vida de seus moradores. É assim que uma concepção substancialista da Tijuca leva a uma naturalização das diferenças, reforçada pela idéia de que todos os moradores deste bairro são iguais. Para romper com o senso comum, ou como Bourdieu denomina de ilusões de um pensamento substancialista do lugar, é necessário proceder a uma análise rigorosa das relações entre o espaço social e o espaço físico. Deste modo, o trabalho se ocupa da descrição de ambos os espaços relacionando-os entre si. vii A B S T R A C T OLIVEIRA, Flávia Santos de. O Habitus no lugar e o lugar da Tijuca. Orientador: Prof. Doutor Luiz César Queiroz Ribeiro. Rio de Janeiro: UFRJ/CCJE/IPPUR, 2001. 142 p. Dissertação (Mestrado em Planejamento Urbano e Regional). From the analysis of an empirical reality, dated and situated in the Tijuca neighborhood in the period between 1980 and 2001, it is aimed to understand the relationship between the physical space and the social space. In Rio de Janeiro, the idea that the occupied physical location (the habitation) reveals the subjectivity of the social position of the individual (the habitus) is, particularly, incorporated. The question "where do you live?" is part of the "carioca" (a person from Rio de Janeiro) ritual of getting to know each other. The importance of the occupied place, as a factor of identification and distinction, is materialized in the term "tijucano" (someone who lives in Tijuca neighborhood). Without parallel in the "carioca" slang, this representative construction of a group endows the space with a symbolic identity, which overcomes its own reality and is corroborated in the perceptions and ways of life of its inhabitants. That is how a substantialist conception of the Tijuca neighborhood leads to a naturalization of the differences, reinforced by the prejudiced idea that all people from this neighborhood are the same. In order to break from the common sense, it is necessary to make a strict analysis of the relationships between the social space and the physical space. Thus, this work deals with the description of both spaces in relation to each other. viii LISTA DE TABELAS Tabela 2.1 – Estrutura Social do município do Rio de Janeiro e da Tijuca (relativos) – 1980/91..........................................................................................................................................................37 Tabela 2.2 – Estrutura Social do município do Rio de Janeiro e da Tijuca (absolutos) – 1980/91..........................................................................................................................................................37 Tabela 2.3 – Estrutura Social dos bairros, e do município do Rio de Janeiro/ 1991.........................40 Tabela 2.4 – Renda familiar per capita em salários mínimos nos bairros, regiões agregadas e município do Rio de Janeiro/ 1991............................................................................................................45 Tabela 2.5 – Tipologia familiar nos bairros, regiões agregadas e município do Rio de Janeiro/ 1991.................................................................................................................................................................46 Tabela 2.6 – Distribuição populacional por sexo nos bairros, regiões agregadas e município do Rio de Janeiro/ 1991............................................................................................................................................48 Tabela 2.7– Distribuição populacional por faixa etária nos bairros, regiões agregadas e município do Rio de Janeiro/ 1991..............................................................................................................................48 Tabela 2.8 – Distribuição populacional por cor nos bairros, regiões agregadas e município do Rio de Janeiro/ 1991............................................................................................................................................49 Tabela 2.9 - Densidade domiciliar por dormitório nos bairros, regiões agregadas e município do Rio de Janeiro/ 1991.....................................................................................................................................50 Tabela 2.10 - Distribuição de números de dormitório nos bairros, regiões agregadas e município do Rio de Janeiro/ 1991...............................................................................................................................51 Tabela 2.11 – População por condição de ocupação de domicílio nos bairros, regiões agregadas e município do Rio de Janeiro/ 1991............................................................................................................52 Tabela 3.1 - Condição de ocupação do domicílio das categorias...........................................................73 Tabela 3.2 – Riqueza Social das Categorias...............................................................................................74 Tabela 3.3 – Conhecimento de Línguas Estrangeiras pelas Categorias................................................75 Tabela 3.4 – Preferência de Bebidas pelas Categorias.............................................................................76 Tabela 3.5 – Tipo de Comida Preferida pelas Categorias.......................................................................77 Tabela 3.6 – Marcas de Jornais preferidos pelas Categorias...................................................................77 Tabela 3.7 - Preferências pela conformação do interior do domicílio de acordo com as Categorias.......................................................................................................................................................78 Tabela 3.8 - Lugar de aquisição do mobiliário do domicílio de acordo com as categorias................79 ix Tabela 4.1 - Trajetória espaço-temporal do Sra. M. 54 anos aposentada, categoria média...............................................................................................................................................................87 Tabela 4.2 - Trajetória espaço-temporal do Sr. J. 71 anos aposentado, categoria média...............................................................................................................................................................87 Tabela 4.3 - Trajetória espaço-temporal do Sr. J. 59 anos aposentado, categoria intelectual........................................................................................................................................................88 Tabela 4.4 - Trajetória espaço-temporal do Sr. P. 70 anos aposentado, categoria intelectual........................................................................................................................................................89 Tabela 4.5 – O que você acha de morar aqui?..........................................................................................92 Tabela 4.6 – Opinião sobre o bairro de acordo com o ciclo de vida....................................................92 Tabela 4.7 – Você gostaria de se mudar....................................................................................................93 Tabela 4.8 – Para onde?................................................................................................................................93 Tabela 4.9 – Adjetivo que melhor define a Tijuca de acordo com as categorias.................................94 LISTA DE MAPAS Mapa 1 – Setores censitários da Tijuca - a elite e a favela 1991............................................................44 Mapa 2 – Setores censitários da Tijuca pesquisados...............................................................................61 LISTA DE GRÁFICOS Quadro 1 - Bairros de status alto e muito alto de acordo com os tijucanos.......................................82 Quadro 2 - Bairros de status médio de acordo com os tijucanos.........................................................84 Quadro 3 - Bairros de status baixo e muito baixo de acordo com os tijucanos.................................85 x S U M Á R I O INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1 Capítulo 1- MORFOLOGIA ESPACIAL ou o habitat 1.1 Abordagem de um bairro................................................................................................. 09 1.2. Tijuca: um nome que desliza........................................................................................... 12 1.3. A especificidade da Tijuca: seus muitos morros........................................................... 15 1.4. Os vestígios de uma ocupação: ruas, praças, largos e edificações.............................. 18 1.5. De um ponto ao outro: o transporte na Tijuca............................................................ 22 1.6 Um bairro bem “servido”: comércio e serviço.............................................................. 23 1.7. Equipamentos educacionais: os colégios....................................................................... 24 1.8. Os lazeres “Tijucanos”..................................................................................................... 26 Capítulo 2- ANATOMIA SOCIAL ou quem habita 2.1 O todo e a parte: construção de espaços comparativos............................................... 29 2.2 Tijuca, um espaço de predominância de segmentos médios....................................... 36 2.3 Análise do perfil socioeconômico e demográfico......................................................... 43 2.4 Qualidade e condição de moradia.................................................................................... 49 2.5 O todo de uma parte: os mitos da Tijuca....................................................................... 54 Capítulo 3- PRÁTICAS SOCIAIS ou o habitus no habitat 3.1 Teoria e práxis, suas possibilidades e seus limites ........................................................ 57 3.2 O Conceito de Espaço Social........................................................................................... 62 3.2.1. As Propriedades Atuantes............................................................................... 64 3.3 O Papel unificador do Habitus........................................................................................ 67 3.4 Gostos e Vocação, ou melhor, e Habitus....................................................................... 70 xi 3.5 Práticas e Propriedades...................................................................................................... 72 3.5.1 Beber, Comer, Ler e Morar............................................................................... 76 Capítulo 4- ESPAÇO PERCEBIDO ou como se habita 4.1 Status do Bairro.................................................................................................................. 80 4.2 Trajetória nos espaços....................................................................................................... 86 4.3 Mudar ou Permanecer....................................................................................................... 91 4.4 O que é a Tijuca.................................................................................................................. 93 CONCLUSÃO........................................................................................................................ 97 REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 105 APÊNDICE Nota metodológica................................................................................................................... 111 Lista dos entrevistados............................................................................................................. 114 Questionário.............................................................................................................................. 116 I N T R O D U Ç Ã O "Para mim o mundo é uma espécie de enigma constantemente renovado. Cada vez que o olho estou sempre a ver as coisas pela primeira vez. O mundo tem muito mais para me dizer do que aquilo que sou capaz de entender. Daí que me tenha de abrir a um entendimento sem baías, de forma que tudo caiba nele." José Saramago 2 “Aqui é o meu lugar”. Essa frase simples, corriqueira, já incorporada ao nosso cotidiano, é digna de maior atenção à medida que compreende uma grande verdade: o aqui sempre é o meu lugar. O homem nunca se encontra isolado, fechado em si mesmo, dissociado do espaço mas, ao contrário, está sempre lançado em um espaço determinado, que lhe é copertinente. Homem e espaço acontecem simultaneamente, a tal ponto que a totalidade do homem deve ser pensada adicionando-lhe sua situação espacial. Espacialidade esta que não deve ser entendida apenas como localização, o posicionar-se em um determinado ponto do espaço, ou seja, estando aqui, ali, ou acolá. Ao invés disso, o homem por já estar sempre “aqui” possibilita o aparecimento de todo “lá” e “acolá”. De outro modo, o estar neste lugar, o aqui, determina como compreendo o que está a minha volta a partir do meu lugar. Como disse Heideger (1993), o homem é um ser no mundo, ou seja, um homem é desde sempre determinado pela abertura que o coloca em uma relação espacial. Não esta relação de estar em, da forma que a água está dentro da garrafa, mas o ser-em possui um sentido existencial, remete ao sentido de morar, habitar e fazer do mundo o nosso abrigo, a “proteção e segurança existencial frente aos deuses, ao universo e a si mesmo” (BRANDÃO, 1991, p.19). O conceito de habitar deriva da forma grega oíkos residir em qualquer lugar, casa, modo de estar, habitar um mundo compreendendo-o através do costume, do hábito. Hábito por sua vez deriva da forma grega éthos, neste sentido o mesmo que costume, repetição de atos ou comportamentos muitas vezes mecânicos que nos familiarizam com algo ou alguma coisa. Assimila-se um hábito de maneira “natural”, sem violência percebida, como o ato de comer, acordar, vestir-se. O hábito é um mecanismo análogo ao mecanismo da natureza que nos faz crer nas coisas sem a necessidade do raciocínio e que conecta naturalmente as questões aos fatos. 3 O hábito permite o agir de modo natural, entretanto o modo como se age, o porquê deste jeito e não daquele está em outro campo da prática, o da disposição. Não uma simples disposição para algo que no dia seguinte já se transformou, mas a disposição permanente, constante, insistente para ser ou agir de certo modo, princípio que rege uma ação, ou ainda, aquilo que determina uma maneira própria de ser e de agir. Dizer disposição para a ação não significa uma capacidade de agir, que é própria da potência, mas sua ação primeira, antes da operação em si, ou seja, aquilo que determina o modo de agir, a prática. Esta disposição permanente foi primeiramente traduzida por Aristóteles no termo héxis e deste se originou e sua conversão escolástica, habitus entendida como um modus operandi, ou seja, como uma disposição estável para agir sempre de uma determinada maneira, em uma determinada direção. Transportando este conceito de habitus para o embate do discurso sociológico, Bourdieu busca superar a antiga polêmica entre o pensamento objetivista e o subjetivismo. A questão da mediação entre o agente social e a sociedade é a problemática teórica de Bourdieu, ou seja, entre a experiência primeira do sujeito, subjetivismo e as relações objetivas que estruturam as práticas individuais, objetivismo. Para isto, Bourdieu desenvolve um outro gênero de conhecimento, denominado por ele, praxiológico ou para-doxal, que defende uma relação dialética entre o sujeito e o mundo objetivado. De outro modo, a interiorização da exterioridade e a exterioridade da interioridade. Nesse movimento, Bourdieu usa o conceito de habitus para almagamar a relação sujeito e objeto, ou seja, uma disposição para agir traduz o mundo introjetado no homem. O habitus então, na visão de Bourdieu tende a conformar e orientar as ações na medida em que, ao mesmo tempo, é produto das relações sociais e tende a assegurar a reprodução dessas mesmas relações objetivas que o determinam. Dito de outro modo, o ser individual que também é o ser social, tem sua ação orientada pelo habitus, disposição incorporada, adquirido 4 enquanto produto das relações sociais e assim a ação individual continua a existir, mas adequada à realidade objetiva da sociedade, sem, no entanto, obedecer a regras1 ou serem conscientemente orientadas para um fim determinado2. Além dessa relação de interação dialética entre os dois modelos, objetivista e subjetivista, a sociologia de Bourdieu introduz também através da noção de habitus, a questão do poder. Através do habitus o sujeito tem em si interiorizado tanto normas, valores e princípios sociais quanto sistemas de classificações. Esse sistema classificatório por sua vez tem origem social e reproduz as relações de dominação historicamente construídas sobre a distribuição desigual entre bens materiais ou simbólicos. Como habitus é tanto uma disposição que antecede ou determina uma ação quanto está calcado na apreensão do mundo enquanto conhecimento, o que determina uma escolha, não é simplesmente um desejo, uma subjetividade, mas a objetividade destas relações hierarquizadas interiorizadas. A luta de classe passa a ser vista a partir do estilo de vida das diferentes classes e se dá em diversos campos de interesse onde as posições dos agentes se encontram fixadas a priori. Esta relação entre habitar e habitus dos moradores do bairro da Tijuca é o guia de reflexão, o modus operandi, deste trabalho de análise de uma realidade empírica, datada, no período entre 1980 e 2001 e situada, o bairro da Tijuca como possível construção de um “caso particular do possível” uma vez que “não podemos capturar a lógica mais profunda do mundo social a não ser submergindo na particularidade de uma realidade empírica”(BOURDIEU, 1996, p.15). A escolha pelo bairro da Tijuca obviamente não foi gratuita, primeiro por se localizar na cidade do Rio de Janeiro, uma cidade que parece ter incorporado a visão de que o 1 As regras são, segundo Durkheim (RODRIGUES, 1993), produtos de um consenso e uma organização da vida em sociedade, e são elas que impõe os fatos sociais, maneira de agir, pensar, sentir, ao indivíduo. 2 A sociedade para Weber (ORTIZ, 1994) é compreendida a partir do conjunto das ações individuais, dotadas de um significado subjetivado, orientadas pela ação do outro. Dentre os quatro tipos ideais de ação social destaca-se a ação racional com relação a fins que é determinada pelo cálculo racional que coloca fins e organiza os meios necessários. 5 lugar físico ocupado remete claramente a sua posição social, pois perguntar “onde você mora?” faz parte do ritual carioca de conhecer o outro. Além disso, o termo “tijucano” reforça mais uma vez a percepção do lugar ocupado como fator de identificação e distinção. Por ser um termo sem equivalentes na cidade do Rio, faz da Tijuca um objeto de análise bastante pertinente e demonstra mais uma vez que o mapa da cidade é percebido enquanto mapa social, onde as pessoas se definem e são definidas. A relação dialética entre habitar e habitus desde muito cedo foi incorporado ao espírito carioca. Como uma hipótese, e sugestão para trabalho de investigação posterior, a realeza com sua lógica de distinção entre os próprios nobres e os plebeus pode ter semeado o germe da diferenciação e distinção desde cedo. A cidade atual apresenta em seus bairros particularidades próprias percebidas e representadas pela população como importantes traços na demarcação de identidades dos diversos grupos sociais. Os bairros se diferenciam pela sua paisagem urbana, estilos de vida, consumo, concentração ou não de serviços, infra-estrutura, problemas cotidianos, dentro de uma hierarquização que simboliza a hierarquização social. A Tijuca ocupa uma posição muito particular nessa hierarquia, um lugar intermediário entre a Zona Sul e a Zona Norte3, assumindo com ambas uma relação contraditória e ambígua. A grande infra-estrutura que possui, variedade de comércio e serviços, shoppings, lazer, cinema, escolas, hospitais, transporte público, metrô e ônibus, lhe proporciona um lugar de destaque na Zona Norte, tem status de centro de influência e referência para os bairros próximos. Neste aspecto, material, se aproxima da Zona Sul, entretanto no campo simbólico se afasta desta quando se trata de valores, “Eu não moraria 3 A Zona Sul se refere aos bairros da Orla Marítima, incluindo Gávea e Jardim Botânico e Zona Norte os bairros Grajaú, Vila Isabel, Maracanã e Andaraí, e a própria Tijuca. 6 nunca em Copacabana. É um lugar ruim para criar filhos, porque os jovens estão mais perto das drogas........as meninas se prostituem, e às vezes são até de boa família”.4 Em toda a Zona Norte, Tijuca inclusa, o senso comum destaca uma solidariedade mais intensa, ênfase à vida comunitária, sobretudo nas relações de parentesco e vizinhança; existência de um maior controle das relações sociais, levando a uma maior intimidade e aproximação das pessoas e uma valorização da família. Quanto à zona sul seus valores se explicitam nas relações mais individualistas; impessoais; o afrouxamento dos laços de amizade e solidariedade, etc (VELHO, 1973). Neste movimento de aproximação e afastamento, a Tijuca se diferencia de ambas, assumindo uma identidade que lhe é muito peculiar e contrasta com ambas. Essa posição particular é defendida e reforçada pela maioria de seus moradores e explicita nas falas de Y. 60 anos, dona-de-casa. “O tijucano é muito prosa, fala do lugar com muito orgulho como se fosse o melhor. Mas é como o mulato, nem branco nem negro, mal visto pela zona sul e norte. É bastante bairrista”. No senso comum, é tido como um bairro pequeno-burguês, conservador em política e comportamento social, com fronteiras imprecisas, percebidas no âmbito do simbólico, que vão aumentando na medida em que novos empreendimentos imobiliários são lançados e fazem uso do prestígio do bairro como atrativo para realização de negócios. E o que é a Tijuca? É pergunta que o trabalho se faz. Para romper com o senso comum, ou com as “ilusões do pensamento substancialista dos lugares”, o ver in loco não é suficiente para apreender a realidade, que está impregnada de sentidos simbólicos. É necessário proceder a uma análise rigorosa das relações entre a estrutura do espaço social e as estruturas do espaço físico. É por isso que os dois primeiros capítulos deste trabalho se ocupam da descrição de ambos espaços relacionando-os 4 Declaração de uma informante do clube “Tijuca Tennis Clube” citado por SILVA (1993) no seu trabalho sobre identidade social e moradia no Rio de Janeiro hoje.. 7 entre si e também com outros bairros e a própria cidade do Rio de Janeiro. Este movimento é requerido para uma análise mais rigorosa acerca do poder simbólico desenvolvido nos dois últimos capítulos. O primeiro capítulo apresenta a Tijuca em seus limites oficiais, bens e equipamentos, o espaço físico, e seus inúmeros registros materiais, vestígios de uma ocupação. Mas como o espaço físico não é independente da sua estrutura social (CASTELLS, 1974 citado por ABREU, 1997) refletindo as características de seus habitantes, estão presentes também neste capítulo comentários dos moradores a respeito do bairro e uma abordagem inicial de sua estrutura social que será aprofundada no capítulo seguinte. O segundo capítulo trata de uma leitura rigorosa de sua composição social sempre tendo como contraponto o Rio de Janeiro, cidade, e outros bairros agregados ou não. Serão analisados neste capítulo, dados como estrutura social dos bairros, tomados como referência os trabalhos desenvolvidos por Ribeiro et al. (1999), categorias sócio-ocupacionais, renda, escolaridade, tipologia familiar etc., com base nos indicadores fornecidos pelos dados dos censos do IBGE de 80 e 91 e a contagem de 1996. O terceiro capítulo se aprofunda na estrutura social do bairro da Tijuca a partir das respostas obtidas com a aplicação de questionários, buscando perceber o que é próprio do senso comum e das categorias elite e média na construção da identidade do Tijucano, bem como as percepções e modos de vida de seus habitantes. O último capítulo é um retorno ao espaço físico, desenvolvido no primeiro capítulo, porém agora como o lugar percebido por seus habitantes. Concluindo-se o trabalho a partir da trajetória-análise: espaço social/ físico, a objetivação de primeira ordem e a percepção da experiência imediata dos agentes de maneira a explicitar as categorias de percepção e apreciação: as disposições que estruturam suas ações, 8 suas (tomadas de posição) como objetivação de segunda ordem. Como estrangeira na Tijuca, tomando emprestado os termos de Simmel, possuo uma desejada objetividade (dada pela proporção de proximidade e distanciamento), que “não envolve simplesmente passividade e afastamento; é uma estrutura particular composta de distância e proximidade, indiferença e envolvimento” (SIMMEL, 1979, p.19) . A objetividade também pode ser definida como liberdade: o indivíduo objetivo não está amarrado a nenhum compromisso que poderia prejudicar sua percepção, entendimento e avaliação do que é dado. O estrangeiro é mais livre, prática e teoricamente; examina as condições com menos preconceito, não está amarrado à sua ação pelo hábito do lugar, embora não possa esquecer que também possuo um habitus social. 9 1 M O R F O L O G I A o 1.1A u o b o r d a g E S P A C I A L h e m d e a u b m i t b a a i t r r o O trabalho é um convite a submergir na realidade da Tijuca. Inicialmente adentrase em seus registros materializados, nos traçados de ruas, nas configurações das praças, na arquitetura de seus edifícios, de seus monumentos, e também de seus espaços degradados. Muito embora se trate de uma análise da estrutura sócio-espacial que habita um espaço, no caso o bairro da Tijuca, nos dias de hoje, é de fundamental importância ler o espaço urbano. Esta leitura, entretanto, é uma leitura orientada pela premissa de que o espaço urbano, tal como conhecemos atualmente, está intimamente ligado ao capitalismo desde sua origem. A cidade, além de propiciar a acumulação, é um elemento chave no desenvolvimento do capital. A urbanização, uma vez que socializa as forças produtivas, provê ao capital global as condições gerais para sua produção (circulação e produção do capital) e reprodução (força de trabalho) ampliada. Deste modo, o espaço se configura a partir das diversas lutas e disputas de formas de controle, através do tempo, na história, pelos vários agentes. Dentre estes agentes, sobressaem-se os econômicos, ligados à dinâmica imobiliária e os políticos, em que o Estado é o seu maior representante. Este destaque se justifica em face da especificidade do capital imobiliário, que pode ser chamado de falso capital. 10 Falso capital é a denominação que se pode utilizar a respeito do capital imobiliário. Sem dúvida é um capital que se valoriza, porém a origem de sua valorização não está na atividade produtiva, mas na monopolização do acesso a condição indispensável àquela atividade. De outro modo, o uso do solo na economia capitalista é regulado pelo mecanismo de mercado, onde se forma o preço desta mercadoria sui-generis através do acesso à utilização do espaço. Os preços do mercado imobiliário tendem a ser determinados pelo o que a demanda estiver disposta a pagar. No mercado imobiliário, a oferta de espaço não depende do preço corrente, mas de outras circunstâncias, como oferta ou escassez de terrenos e moradias e melhorias em infraestrutura que são distribuídas de maneira desigual nas cidades brasileiras. A demanda por solo urbano muda freqüentemente, dependendo em última análise do processo de ocupação do espaço e expansão do tecido urbano, o preço de determinada área deste espaço está sujeito a oscilações violentas, o que torna o mercado imobiliário essencialmente especulativo. A especulação se baseia no fato de que quase sempre a propriedade imobiliária urbana é dotada de certas benfeitorias como: maior ou menor acesso a serviços de água e esgoto, equipamentos culturais, educacionais, ou de saúde, comércio, acesso aos meios de transporte. Neste momento, o estado acaba tendo um papel importante e definidor nos processo de ocupação do solo. A ação do estado, que é o responsável pelo provimento de boa parte dos serviços urbanos, é aproveitada pelos especuladores que por sua vez buscam influir sobre as decisões do poder público quanto às áreas a serem beneficiadas. Este controle sobre a demanda é que caracteriza a disputa pelos espaços urbanos. Todavia, o valor da terra não resulta apenas das inversões feitas nas benfeitorias pelo Estado. Basta lembrar que imóveis com a mesma benfeitoria podem ter preços completamente diferentes. Neste sentido, o prestígio de um endereço e mudanças no padrão 11 de comportamento e os estilos de vida explicam outras maneiras de se especular sobre o urbano. A isso, destaca-se a eficácia dos agentes imobiliários em valorizar simbolicamente uma dada região ou endereço, segundo Monnet estes: [...]vendem um sonho visto como objeto funcional, sabem perfeitamente que a ação ou a reação do grupo são determinadas pelo sentido dado ou recebido pelo espaço. O ‘sonho’ em questão não é mais que a ilusão vendida pelos corretores que se interpõem entre os humanos e a realidade. A dimensão simbólica é uma necessidade vital e incontornável da existência humana, pois ela permite criar ligações e dar sentido ao meio ambiente, devolver intelegibilidade e apropriação da realidade. (MONNET, 1998, p. 7) Assim o prestígio da localização é um elemento utilizado para atrair aqueles com maior poder aquisitivo que possuem o poder de se auto-segregar. O poder segregativo, por sua vez, é o efeito clube que nas grandes cidades atuais se materializa em condomínios fechados, processos de gentrificação e traduzem o poder que estas categorias superiores têm de se autoexcluir, de se colocar à distância daqueles que não fazem parte da mesma categoria social. Além deste primeiro elemento, os promotores imobiliários também tiram proveito do efeito simbolizador de algumas categorias e do marketing ideológico transformando espaços antes inóspitos em sonho de consumo de muitas famílias. Este movimento tem como exemplo clássico o processo de ocupação do bairro de Copacabana5. Na ânsia de terem o maior lucro na menor área, a construção de apartamentos só teve aval da população, que passou a ocupar o bairro, após um bombardeamento feito pela imprensa de um novo estilo de vida, mais moderno e mais saudável com a presença do mar. Outro exemplo do poder simbolizador das categorias dominantes reside na capacidade de simplesmente “ditar” a maneira como se deve entender o espaço, ou seja, um padrão dominante do que é o espaço físico. Este fato leva outras categorias que não podendo 5 Para maiores informações a respeito de Copacabana ver RANGEL, Cynthia Campos. As Copacabanas no tempo e no espaço: diferenciação socioespacial e hierarquia urbana. 2001. 160 p. Dissertação (Mestrado em Planejamento Urbano e Regional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2001. 12 se apropriar destes espaços físicos mais valorizados, apropriam-se pelo menos de seus símbolos. Nomes de condomínios residenciais como Novo Leblon, Nova Ipanema ou centros de lazer como New York Center associados a uma reprodução da Estátua da Liberdade são exemplos muito claros desse movimento de apropriação do símbolo. O espaço urbano colocado desta maneira é um breve introdutório do modo como o bairro da Tijuca será mostrado neste capítulo inicial. Pretende-se mostrar o lugar físico tal como ele é nos dias atuais, com suas benfeitorias, pois segundo a maioria dos moradores entrevistados, a Tijuca dispõe da melhor infra-estrutura e processos pelo o qual o bairro passou. Neste sentido, faz-se uso da história, literatura e depoimentos em busca da percepção e apropriação cotidiana que fazem parte da formação do homem e da sociedade moderna. 1.2 T i j u c a : u m n o m e q u e d e s l i z a No início, a Tijuca era a área das encostas do maciço da tijuca, as montanhas e a mata até a Barra da Tijuca. O nome se espalhou, subiu e desceu a montanha e se estendeu por todo o vale, dificultando precisar seus limites. Onde começa e onde acaba? Acostumados ao sobe e desce, seus moradores atuais se contradizem ao afirmar o que é, e o que não é Tijuca. Na cidade colonial, a Tijuca era sesmaria. Fazia parte do Engenho Velho. Desta época, século XVI data a construção da Igreja de São Francisco Xavier (Matriz do Engenho Velho), herança dos primeiros moradores e donos da região, os Jesuítas, expulsos do Brasil em 1759. No século XIX, o que se denominava por Tijuca era o todo que abrangia a área das montanhas e matas até a Barra da Tijuca. Por entre as matas da floresta pululavam chácaras e hotéis. Respirava-se neste verde o ar aristocrático de seus moradores nobres, 13 principalmente de franceses que atraídos pela exoticidade da Floresta e o clima ameno longe das epidemias, com a febre amarela, lá se instalavam. As grandes chácaras e sítios eram autosuficientes, pois além do café, com efeito, o melhor da corte, gerador de rendas de seus produtores, se cultivavam “o anil, a mandioca, cacau, cana-de-açúcar (...) e grande infinidade de frutas: laranja, bananas e limas” (CARDOSO et al., 1984, p. 31). Os Hotéis, ao se dirigirem ao público da corte, eram anunciados na Gazeta de Notícias e no Almanaque6, em francês fazendo parecer que em pleno Império Sul americano existisse uma semicolônia francesa. Era assim com o Hotel Jourdain, de Oscar Lecroq e o Hotel Villa Moreau,. Este último era anunciado em 1887 por seus donos, M. M. A. Moreau e Jules Roux deste modo: au milieu des montagnes e des cascades de la Tijuca” com “cuisine Française dirigée avec un soin particular par M Jules Roux, um dês meilleurs chefs dans l’art culinaire”; com “cave citée à juste titre à Rio de Janeiro pour la variété et l’execllence qualité de sés vins”; com quartos e salas ëclairéss au gaz”, com “bains de natation, cascade, douches, bains chaud, aisin qu’un Grand Caramanchon pour restayrant champêtre. (FREYRE, 2000, p. 137) Quem sabe não foi um destes hotéis que abrigou Bentinho e Capitu em sua lua de mel, inspirando as palavras de Dom Casmurro? “Imagina um relógio que só tivesse pêndulo, sem mostrador, de maneira que não viessem as horas escritas. O pêndulo iria de um lado ao outro, mas nenhum sinal externo mostraria a marcha do tempo. Tal foi aquela semana na Tijuca.” (ASSIS, 1985, p. 72). A Tijuca nesta época não era um bairro, mas a montanha, ou como diria José de Alencar em carta endereçada a Machado de Assis: “A Tijuca é um escabelo entre o pântano e a nuvem, entre a terra e o céu” (ALENCAR, 1868.) Somente no período compreendido entre 1870/90 que o nome Tijuca passará a abranger uma maior área, obedecendo ao movimento de urbanização que se instalava em todo o Rio de Janeiro. Começou a descer as montanhas, lá ficou sendo a Floresta7 e o que antes era Engenho Velho passou a pertencer a Tijuca, trecho da atual Haddock Lobo e início da rua 6 Principais Jornais do Rio de Janeiro da época, citado por FREYRE, 2000, p.136 14 Conde de Bonfim, Fábrica das Chitas, atual shopping Tijuca e arredores. O bairro do Andaraí Pequeno também foi engolido pela Tijuca. Nesta época, os solares, pertencentes às famílias abastadas vão caracterizar o bairro que aos poucos irão incorporá-los, transformando em colégios, pensões, asilos, etc. Até os dias de hoje, seus limites se expandem. Considerada uma zona de expansão imobiliária, muito em parte pela existência de casas e casarões, novos lançamentos imobiliários se valendo do prestígio do bairro na região ampliam ainda mais e mais suas margens. Para efeito deste trabalho, os limites considerados serão os oficiais, de decreto último, especificamente o de no 3.158, datado de 23 de julho de 1981, que define os limites de todos os bairros da cidade do Rio de Janeiro. Essa escolha se faz em função dos dados oficiais colhidos pelo censo em setores que pertencem aos bairros por sua vez definidos pela prefeitura do Rio de Janeiro. Muito embora, para algumas entrevistas, o limite oficial tenha sido desobedecido, em função da afirmação dos entrevistados enquanto moradores da Tijuca e não de seus bairros vizinhos. Nos idos de 80 até os dias de hoje, o bairro da Tijuca é um vale que tem por entorno o grande maciço da Tijuca. Além dele, a Tijuca tem como divisa os bairros do Grajaú, Andaraí, Vila Isabel, Maracanã, Praça da Bandeira e Rio Comprido. Sua área total é de 10.03,89 ha e 5.804,69 ha de área líquida. A área construída fica em torno de 6.131,57 ha, o que acarreta em uma densidade demográfica líquida de 280,2 hab/ha, em 1996 segundo o Anuário Estatístico de 95/97. Em outras palavras isto significa dizer que a Tijuca tem uma densidade habitacional muito menor que Copacabana (389,5), próxima a de Ipanema (288,9) e Vila Isabel (283,8) e maior do que outros seus vizinhos imediatos, Maracanã e Andaraí (respectivamente, 161,9 e 212,7). Assim dos limites, a Tijuca oficialmente se define por estar 7 As terras de fazendas iriam sendo desapropriadas e replantadas no intuito se preservar suas nascentes, (escassez de água era um problema constante na cidade do Rio de Janeiro). 15 [....] do entrocamento da Rua Barão de Mesquita com a Av. Maracanã, seguindo por esta (incluída) até a Praça Varnhagem (incluída) e (excluída) da Praça Varnhagem até a São Francisco Xavier, por esta (incluída) até a Rua Mariz e Barros; por esta (incluído apenas o lado impar) até a Rua Senador Furtado e, (excluída) da Rua Senador Furtado, até a Rua Felisberto de Meneses; por esta (excluída); Travessa Soledade (excluída); Travessa Doutor Araújo (excluída) até a Rua do Matoso; por esta (excluída, excluindo o Beco do Mota) até a Rua Barão de Itapagipe; por esta (excluída) até a Rua do Bispo e, (incluída) da Rua do Bispo até a Rua Joaquim Pizarro; por esta (incluída) até o seu final; daí subindo em direção sul o espigão do morro do Turano, passando pelos pontos de cota 151m, 130m e 313m, até o alto do Sumaré (cota 304m); deste ponto seguindo pela cota 300m, contornando os morros do Salgueiro e da Formiga, até encontrar o prolongamento que parte do primeiro alinhamento da Avenida Edson Passos; por este até o entroncamento da rua Conde de Bonfim com a Avenida Edson Passos, por esta (incluída) até a Rua Doutor Catrambi; por esta (excluída) até a Rua Ângela Campos; por esta (excluída) até a Rua Custódio Correia; por esta (excluída) até o seu final; daí , subindo o espigão em direção ao final da Estrada do Excelsior (excluída) até o ponto de cota 692m; deste ponto, descendo o espigão (incluindo a favela do Borel), passando pelos pontos de cota 536m e 523m, até o ponto de cota 234m do morro do Borel; deste ponto, descendo a vertente em linha reta, em direção ao final da Rua Tenente Marques de Sousa; por esta (incluída); rua Professor Pizarro (excluída) atravessando a Rua Franca Júnior (excluída), até a Rua Maria Amália; por esta (excluída) até a Rua Uruguai; por esta (excluída) até a Rua Barão de Mesquita; por esta (excluída, excluindo a Rua Rocha Pombo) ao ponto de partida (RIO DE JANEIRO, 1981). 1.3 A especificidade da Tijuca: seus muitos morros Uma grande característica física-geográfica do bairro da Tijuca é a sua proximidade com o Maciço da Tijuca. Esta particularidade possibilitou e ainda possibilita a ocupação de suas encostas por um grande número de favelas em busca de um mercado de subsistência e redução do tempo de deslocamento casa-trabalho. A distância social não impede a contigüidade física que é recorrente em quase toda a cidade do Rio de Janeiro. Oficialmente na VIII Administração Regional Tijuca estão registradas apenas no bairro da Tijuca, 13 associações de moradores de comunidades carentes que ocupam as serras 16 e morros da parte do maciço voltado para a Tijuca. Entre o Pico do Andaraí-Maior com 861m de altitude, a Pedra do Conde, Elefante, Anhanguera, Excelsior, Alto da Bandeira, Areão, Almeida, Felizardo, Redondo, Alto do Fernandes, Alto do Mayrink, Alto do Mesquita, Visconde, Tijuaçu, Pedra do Perdido, Borel e Casa Branca se espalham as comunidades Morro do Borel, Chácara do Céu, Morro do Catrambi, Favela Indiana, Casa Branca, Morro do cruz, Morro da Formiga, Morro do Salgueiro, Morro da Liberdade ou Turano, Morro da Chacrinha, Pedacinho do Céu, Morro do Bananal, e Coréia-Trapicheiro. Não se tem notícia da época exata da origem das favelas na Tijuca, mas sabe-se que estão dentre as mais antigas da cidade, ainda nos primórdios do séc. XX8 e. A ocupação dos morros, como é o caso do Borel e Salgueiro, foi estimulada pelos proprietários dos terrenos na encosta. O português Domingos Alves Salgueiro que deu nome a um dos morros lucravam com o aluguel e principalmente com a venda de barracos para uma população muito pobre que não tinha condições de residir em cortiços, ou nas casas de cômodos existentes na Tijuca. Essa forma de ocupação estimulada pelos proprietários dos terrenos nos morros, ou os que se tomavam como tal, e a ausência de políticas habitacionais mais eficientes foram muito importantes para o surgimento deste tipo de habitat, bastante “peculiar”. Além do aluguel e venda dos barracos, o português Salgueiro também possuía uma fábrica de conserva na rua dos Araújos. Fábricas como a do Salgueiro, as de tecido, cerveja e cigarros, um mercado de trabalho abundante propiciado pelo emprego doméstico nas casas e mansões atraiu pessoas vindas da capital, e das decadentes fazendas de café do interior dos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e do Nordeste. A aproximação com seus mercados em potencial, onde vivem de prestação de serviços aos segmentos alto e médio da população, se exige pelo alto custo do transporte e longos tempos de deslocamento. Esta estreita relação entre o surgimento e/ou crescimento de 8 “um temporal que ocorreu em março de 1901 atingindo o Salgueiro, arrastou barracos morro abaixo, causando uma das primeiras tragédias deste tipo na cidade”. (CARDOSO et al., 1984, p.106) 17 favelas e a proximidade com o local de trabalho foi evidenciada por Abreu (1997). Segundo este autor foi constatado na década de 40, período de maior proliferação das favelas no Rio de Janeiro, que 77% dos favelados do centro e 79% da zona sul trabalhavam próximo a suas moradias. Essa lógica de ocupação perdura até os dias de hoje e fica evidente na composição social das favelas na Tijuca. O proletário terciário corresponde a 35,7% da população ativa, com destaque para 16,51% de servidores especializados como mecânicos, eletricistas, bombeiros, cabeleiras, etc. O proletário secundário também possui um peso considerável 23,7% da população com ênfase nos operários da construção civil 7,4% e por fim o subproletariado com 19,8% dos quais 15,94% são de empregadas domésticas. Entretanto esta convivência estrutural e sistêmica entre o morro e o bairro formal, entre classes menos favorecidas e classes mais abastadas atualmente não é tranqüila. Segundo moradores da Tijuca não residentes em favela, o grande número de favelas é visto como um problema do bairro. Freqüentemente estes moradores questionados sobre o bairro, comentam que em função da conformação geológica, os morros, a Tijuca está cercada de favelas e estas por sua vez são associadas aos tiroteios, guerras do controle de tráfico, conflitos, assaltos e violência. Entretanto nem sempre a relação entre o bairro e os “morros” foi conflituosa. Estes já foram, e ainda são orgulho para o bairro por possuírem 3 escolas de samba: Unidos da Tijuca (Borel); Império da Tijuca (morro da formiga) e Acadêmicos do Salgueiro (morro do Salgueiro). Dentre elas, o Salgueiro se destaca, como a escola Tijucana por excelência. Com o lema “Nem melhor, nem pior, apenas uma escola diferente” (WEYRAUCH et al., 1999, p. 98) os Acadêmicos do Salgueiro conseguiram traduzir o espírito Tijucano de se sentir diferente. 18 1.4 Os vestígios de uma ocupação: ruas, praças, largos e edificações Em 1826, a Tijuca não contava com mais do que 4 caminhos que se concentravam em torno do Largo da Fábrica das Chitas, o embrião da Praça Saens Peña. Atualmente a Tijuca possui 4 avenidas, 199 ruas, 21 travessas e 1 ladeira. O progresso transforma o espaço em memória, cria e recria uma nova realidade. Deste modo, fica na memória – a Haddock Lobo era o caminho do Engenho Velho, depois ficou sendo [...] uma das mais cariocas da cidade – cadeiras na calçada, fachadas de platibandas, jardins discretos – o doce mau gosto! – e meninas namoradeiras, madressilvas, magnólias, manacás, bolas de vidro nas varandas, sono às nove horas. Hoje é apenas um caminho barulhento de ônibus e bonde. (REBELO, 1980 citado por CARDOSO, 1984, p. 87). A Conde de Bonfim já foi estrada do Andaraí pequeno e a Desembargador Isidro foi Travessa do Andaraí. Do encontro destas duas, se fez o coração da Tijuca, a praça Saens Peña. A “praça” como é carinhosamente chamada já foi várzea, terreno de chácaras de jesuítas, largo da Fábrica de estamparia, Cinelândia da Tijuca e agora, em homenagem a um presidente argentino, se chama Saens Peña. Os cinemas se foram e hoje em dia a praça é gradeada, reflexo da insegurança e de um tempo em que não se freqüenta mais a Praça à noite. O charme do footimg aos domingos, a paquera na sorveteria Tijuca, com orquestra e ar condicionado, tão elegante ..... ficaram gravadas pelos lambe-lambes. Atualmente, Saens Peña pulsa vigorosamente. Milhares de pessoas passam todos os dias em um correr para fazer a vida, pegar ônibus, metrô, comprar, vender, pagar..... Felizmente, o amor tijucano pelas praças ainda continua, quase metade dos entrevistados freqüenta as praças do bairro. A Tijuca possui 15 praças e 6 largos ao todo e, ao contrário da Saens Peña, ainda preservam seu aspecto de cidade do interior. 19 Na Praça Castilhos França, entre as ruas Campos Sales, Dr. Satamini, Afonso Pena e Martins Pena, muito além do movimento da estação Afonso Pena, vê-se crianças brincando, idosos jogando carta, e muitas árvores. A Praça Comandante Xavier de Brito, a praça dos cavalinhos, ainda guarda o seu ar nostálgico através do antigo costume de alugar cavalos e charretes nos fins de semana, mas o espaço bucólico fica guardado para o Largo da Usina. Os bondinhos fazendo sua manobra para retornar ao centro não existem mais, porém, através de suas ruelas, ao pé da montanha, tem-se acesso às casas mais antigas, resquícios de um bairro conhecido pelas belas construções. Na rua Haddock Lobo 252 ficava o palacete de dona Adelaide Moss, lembrava Pedro Nava em seu livro de memórias. Ele é o exemplo do processo de urbanização que passou a Tijuca. A casa era uma dessas belas construções do fim do século passado, com jarrões na cimalha, florões, monograma, cinco janelaços de fachada, com gradis prateados onde dragões simétricos ficavam frente a frente, ladeando o ornamento central; jardim de gramado liso, duas palmeiras imperiais e a fonte de pedra que escorria seu fio de prata sobre limos e peixes vermelhos; portão com pilastras de granito; o clássico caramanchão de cimento imitando bambu e o colmo de palha e todo traçado de trepadeiras. O prédio da D. Adelaide era de porão habitável (cujo pé direito era mais alto que os do apartamento de hoje) e de andar superior luxuoso, cheio de ornatos esculpidos nos tetos, vidraças biseautées, vastos salões, lustres com pingentes de cristal; um sem-número de quartos; portas almofadadas com maçanetas lapidadas; pias, bidês e latrinas de louça ramalhetada; vastas banheiras de mármore onde a água chegava pelo bico aberto de dois cisnes de pescoço encurvado e feitos de metal amarelo sempre reluzente do sapólio. Bela casa, na segunda etapa de sua existência. Porque a primeira e inaugural era sempre a residência de grande do Império ou figurão da República. A segunda, pensão familiar. A terceira, casa de cômodos. Depois cabeça-de-porco substituída pelos arranha-céus de hoje. (NAVA, 1986 p. 240) No período de 1870/1890, o Rio de Janeiro quase duplica seu contingente populacional sofrendo um real processo de urbanização. Período de cristalização da revolução científica-tecnológica, a 2a revolução industrial. As novas condições da economia propiciam a gestação de novas elites com o pensamento cosmopolita. 20 Na Tijuca, as grandes chácaras, os sítios e as fazendolas – imagens de um bairro aristocrático, onde representantes da velha elite, nobres como a Baronesa de Rouen, a família Taunay, Príncipe de Montbelliard, Barão de Bom Retiro, Barão de Itamaraty, Barão do Andaraí, Rio Branco e Mauá, o Visconde de Souto entre outros possuíam suas residências de campo – aos poucos, vão se transformando em residências oficiais. Grandes solares oitocentistas são erguidos com vastos jardins e próximos às belas paisagens naturais do Rio de Janeiro. As melhorias urbanas, água encanada, esgoto, iluminação, gás encanado geraram uma grande valorização das antigas terras do Engo Velho. Retalhar a terra e construir casas de vila ou avenida para aluguel parecia um negocio rentável. Em ato contínuo e principalmente graças à atuação dos proprietários de terras que repartem suas chácaras, a Tijuca vai transformando sua paisagem e consolidando-se enquanto bairro. Nas grandes propriedades se faziam os melhores negócios. A febre dos loteamentos já tomava todo o bairro. Edifícios e casas pupulavam em um frénetico jogo imobiliário. Nos terrenos maiores erguiam-se casas de centro com grandes jardins e o quintal de pomar e hortas. Nos lotes estreitos e compridos, construir casas de vila que se moldavam a eles, tanto para vender quanto alugar era um bom negócio. A paisagem da Tijuca se transformava radicalmente e aos poucos deixava de ser a moradia de classes abastadas. No seu lugar, chegavam funcionários públicos, militares, comerciantes, profissionais liberais, com algum poder aquisitivo – reflexo da complexificação da economia que estratificava a sociedade – atraídos pelas facilidades do bairro: as melhores escolas, transporte em quantidade, bons clubes, comércio razoável. Novamente a Tijuca se transformava, alterando seu perfil social e sua paisagem. As famílias mais ricas migravam para residências próximas a praia. A modernidade se instalava no Rio de Janeiro. “Comprava-se” novas formas de morar, um novo estilo de vida, ordem cultural centrada nos estímulos sensoriais da imagem: propaganda, viagens a Europa, zepelins, 21 transatlânticos, aviões, telégrafos, telefone, iluminação elétrica, utensílios domésticos, fotografia, cinema, radiodifusão, televisão, coca-cola, aspirina, enlatados, refrigerantes, etc.. O processo de modernização da cidade do Rio de Janeiro trouxe para a Tijuca dos casarões aristocráticos, as vilas operárias e os barracos. A década de 70 foi a mais marcante em sua transformação urbana, caracterizada por um processo de verticalização e adensamento. Em 1970, a RA9 (região administrativa) da Tijuca contava com 2,24 domicílios/ prédio passando em 1980 para 3,69 domicílios/ prédio. Em 1984, a paralisação do processo de adensamento é confirmada pela queda no número de habite-se, em 1980 5% e 3,7% em 1984 (FARIA, 1997). Todavia, esta queda no número de habite-se não significava saturação construtiva da RA. da Tijuca, pois somente um pouco mais de 1/4 das habitações eram unifamiliares; ela era o reflexo da crise do sistema habitacional e da construção civil. Entretanto, no ano passado, segundo a ADEMI, o bairro registrou 229 unidades lançadas, quase o dobro do segundo colocado, o Andaraí, com 128 unidades. Passeando ao longo das ruas ainda se vê casas antigas, vilas e pequenos prédios, uma sedução para o setor imobiliário. Até os dias de hoje, algumas construtoras de grande porte, investem pesado neste bairro apostando na infraestrutura local, metrô, amplo comércio e liquidez dos lançamentos. 9 A RAs, região administrativa da Tijuca foi criada em 11/05/1962 como a VIII Administração Regional. Atualmente compreende os bairros da Tijuca, Praça da Bandeira e Alto da Boa Vista. 22 1.5 De um ponto ao outro: o transporte na Tijuca Quanto aos problemas de acesso e conservação das estradas, estes serão prontamente atendidos pelo governo, graças a essa população abastada e tão influente e em 1859 é inaugurada a primeira linha de bondes de tração animal da América Latina, os maxabombas. A linha regular que partia do Largo de São Francisco de Paula até o alto da Tijuca era denominado “bonde grande” e segundo Carlos Chagas “o bonde não falta[va], não atraiçoa[va]” (FREYRE, 2000, p.138). Deste modo, pôde Brás Cubas regressar de seu refúgio em virtude da morte de sua mãe: “(..) Um dia, dois dias, três dias, uma semana inteira passada assim, sem dizer palavra, era bastante para sacudir-me da Tijuca fora e restituir-me ao bulício (...) Desci da Tijuca, na manhã seguinte” (ASSIS, 1977, p.55). Desses antigos bondes, o único vestígio que permaneceu na Tijuca foi o nome Muda. Essa região, onde se faziam as trocas das parelhas, continua sendo denominado do mesmo modo. A linha de trem, por sua vez, foi inaugurada em 1898. Era movida a eletricidade e começava no ponto final dos bondes de burro, seu destino era o alto da Boa Vista. O nome “Usina”, também remonta daquela época, herança da usina térmica geradora de eletricidade para as locomotivas. A evolução dos bondes, o metrô, chega à Tijuca em 1976. Neste ano se iniciam as obras do prolongamento do metrô culminando em 3 estações, Saens Peña, São Francisco Xavier e Afonso Pena. Para ter uma idéia do porte de sua última estação, a Saens Peña movimentou em Jan 97 a Dez de 97 um total de 7530229 (RIO DE JANEIRO, 1997) pessoas, só perdendo em movimento para a Estação Carioca e Botafogo, o meio e a outra ponta. 23 O transporte sempre foi um ponto alto do bairro e permanece como uma grande qualidade exaltada por seus moradores. “Gosto muito da Tijuca, tem muita infra-estrutura, boa localização e acessibilidade.” J. P. 54 anos, aposentado como funcionário publico federal. 1.6 U m bairro bem “servido”: comércio e serviço “Gosto do bairro, comércio, tudo aqui é fácil no que diz respeito a serviço e condução” K. 50 anos, prof. de Artes Plásticas. “Tem tudo aqui, desde o comércio, facilidade de transporte” H. 75 anos secretária. Considerando-se dados do anuário estatístico, 95/07 a Tijuca possui: A grande variedade de comércio no bairro parece ser a coisa mais importante para seus moradores, afinal todos consumimos, esta é a lógica do mercado. Os Shoppings são a menina dos olhos da Tijuca. O mais antigo, o 45 na Praça, ainda é referência. Além dele, existem o Tijuca Off-Shopping e o Shopping Tijuca. Deste modo, o “tijucano” pode exercer um de seus prazeres maiores: passear entre as vitrines. Este footing moderno é original da Saens Peña. Em 1944, na Revista Semanal, elogiava-se a praça Saens Peña: como “um grande centro de comércio que serve a um populoso bairro no qual os moradores não precisam sair de suas comodidades para ir à cidade fazer compras” (CARDOSO, 1984, p. 57). Sua vocação para mix de negócios se mantém até os dias de hoje. A revitalização comercial parece um processo natural: primeiro foi o desaparecimento dos cinemas, que deram lugar a grandes magazines, e agora a substituição das pequenas lojas por outras de maior porte reforçado pela ampliação e abertura de dois grandes bancos. 24 Apenas como referência, a tijuca, de acordo com o anuário estatístico possui: 2.596 escritórios; 69 hospitais; 21 clubes; 8 unidades entre hotel, motel e pensão; 268 colégios10; 74 bancos; 138 oficinas; 117 supermercados; 24 postos de combustíveis; 387 bares e restaurantes e 51 indústrias. 1.7 Equipamentos educacionais: os colégios “O tijucano se considera uma pessoa que mora em um bairro com os melhores colégios, existe a UERJ, São José, Pedro II, Veiga de Almeida, Colégio Militar, Cap UERJ.” S. 52 anos, professor universitário. De fato, a afirmativa parece ser verdadeira. Dentre seus 268 colégios, 20 pertencem à rede municipal de ensino e alguns ainda são da época imperial. O Instituto de Educação foi criado em 1880, mas só em 1930 passou a ocupar seu lugar atual a rua Mariz e Barros. Durante muitos anos, o instituto só aceitava moças que se vestiam com o clássico uniforme: blusa branca e saia plissada da cor azul. O Colégio dos Santos Anjos, fundado por irmãs francesas em 1893 ocupa uma grande fazenda à rua 18 de outubro. O Colégio marista São José, fundado em 1852, é o colégio de ensino médio mais antigo do Rio de Janeiro. O Colégio Regina Coeli, foi instalado no antigo Hotel Villa Moreau11 aquele das propagandas em francês. Foi fundado em 1908 por Santa Francisca Xavier e atendia somente meninas até 1966, período de sua reconstrução. O Imperador Pedro II sempre se preocupou sinceramente com o ensino, não o da população em geral, mas só uma parte privilegiada dela. O preferido do Imperador era o 10 Nenhum bairro tem mais colégio do que a Tijuca, Copacabana o bairro imediatamente atrás possui 240 colégios e Botafogo, bairro conhecido como o “bairro dos colégios” tem apenas 129 de acordo com dados do Anuário Estatístico da Cidade do Rio de Janeiro, 95-97. 11 A propaganda deste Hotel, localizado na floresta da Tijuca, era toda dirigida a um público francês e conseqüentemente toda em francês. Atitude normal para a corte de 1887, bastante influenciada pela cultura francesa. Para maiores informações ver FREYRE, Gilberto. Ordem e progresso. Rio de Janeiro: Record, 2000. 1004 p 25 Imperial Colégio Pedro II, que coroava o aluno com o diploma de Bacharel em Letras. Conseguir o diploma não era fácil, mas quando se conseguia, saía-se como um verdadeiro príncipe com todos os saberes humanísticos. Era desejo do Imperador, preparar uma elite brasileira com formação humanística. “Bacharel” do Pedro II era, como um título de nobreza intelectual, o mais puro que se podia alcançar no Brasil. Porém, após a proclamação da República, as idéias positivistas valorizavam apenas os engenheiros e os militares. Assim, surgia em 1889 o Colégio Militar, por vontade de Duque de Caxias, ocupando a chácara do conde de Bonfim, José Francisco de Mesquita à Rua Francisco Xavier. Os princípios religiosos também eram valorizados. O Colégio Batista, fundado em 1911, veio a ocupar a antiga chácara do Barão de Itacuruçá, o negociante Manuel Miguel Martins. Fornecia aos alunos uma rigorosa educação baseada nos princípios cristãos Este colégio era somente para homens e seu correspondente feminino era o Instituto La-Fayete, já demolido. O censo de 1920 mostrava que a Tijuca possuía nesta época, o maior número de escolas do Distrito Federal, não somente em quantidade quanto em qualidade. Este fato criou fama, o que pode ter influenciado algumas pessoas no momento da escolha de um lugar para morar. “Me mudei para cá para que minhas filhas estudassem” M.N. 57 anos, dona-decasa. M. 41 anos, bancário também fez o mesmo movimento. “Mudei pra meus filhos estudarem”. D. 57 anos, aposentada, vai um pouco mais além em suas justificativas. “A Tijuca é um bairro melhor para criar os filhos, principalmente por causa dos colégios”. 26 1.8 O s l a z e r e s t i j u c a n o s A Tijuca atualmente não conta com mais do que 5 cinemas, 3 deles no Shopping Tijuca e os outros 2 na galeria 422 da rua Conde de Bonfim, em sua modernidade, como salas de projeção protegidas e abrigadas pela estrutura de um lugar que além do cinema irá lhe oferecer comida, lojas e antes de tudo segurança, mas a história já foi bem outra. E pensar que foi um dos motivos que levou M. 66 anos, artista plástica e P. 70 anos, médico a se mudarem para a Tijuca. “Morávamos no Alto da Boa Vista, mas freqüentávamos a Tijuca por causa dos cinemas”. Em 1970, a Tijuca tinha 12 cinemas, 2 cinemas a menos do que o centro. Instalaram-se na Tijuca logo depois de surgirem no centro. O primeiro foi o Royal, na Rua Haddock Lobo, no 20, depois o Cinematographo Pathé, Velô e o Cine Madri. Na Saens Peña erguiam-se o Tijuquinha, o América e o Carioca. Na década de 40, apogeu da era cinematográfica, inauguravam-se o Olinda, o maior do Brasil, com 3500 lugares (BAIRROS DO RIO, 2000, Eskie, o Art-Palácio e o Britânica. O Carioca virou Igreja Universal e o América, Drogaria Pacheco. Segundo Gilberto Freyre, o cinema, no Rio de Janeiro, foi uma solução para a crise de alegria que havia na cidade no fim do séc. XIX. A desilusão com o Império e a necessidade de se importar modos aristocráticos europeus que rompessem com o passado colonial português e que se aproximasse dos franceses e ingleses. (FREYRE, 2000, p.467) Na década de 50, os cinemas ganhavam um competidor à altura: o futebol. Projetado especialmente para a copa de 50, o Maracanã, Estádio jornalista Mário Filho12, foi durante muitos anos saldado como “o maior do mundo”. Entretanto, para frustração dos 12 Mário Filho fundador do Jornal dos Esportes, em 1931. Foi um dos maiores defensores do futebol brasileiro e um dos responsáveis diretos, junto com Ary Barroso, pela construção do Maracá. Irmão de Nelson Rodrigues tinham em comum a paixão pelo futebol. Mário era flamengo doente e Nelson tricolor doente. 27 moradores da Tijuca, que teimam em reclamar sua posse, este se localiza no bairro vizinho, o Maracanã. Talvez o reflexo da proximidade com o Maracanã e a ausência da praia expliquem a quantidade de clubes existentes neste bairro, 21. Dentre eles os mais famosos destacam-se o Tijuca Tênis Clube; o Country Clube Tijuca; o Montanha Clube; o América e o Sesc. O América é o mais antigo, fundado em 1904 para aqueles que gostassem de praticar o futebol, mas com a demolição de seu estádio para a construção da sede acabou sua força. O Sesc é lembrança do regime militar. Fundado em 1977, pelo presidente Geisel, tem teatro, galeria de arte, abrigando várias atividades esportivas. O Country Clube da Tijuca, 1965 foi tradicional palco de bailes de época. Hoje é modesto. O Tijuca Tênis Clube foi inaugurado para que pudesse ser freqüentado pelas famílias, facilitando a aproximação dos rapazes com as moças. Na época, era uma ousadia abordá-las diretamente na rua. Sua fundação data de 1915 com o nome inicial de Tijuca Lawn Tennis Club. “Corria o ano de 1931....A grande sensação da cidade era o Tijuca Tênis Clube, com sua nova sede colonial, suas festas que eram a nota elegante da temporada, sua piscina. A primeira piscina da Zona norte, um bairro distante do mar, trazendo aos habitantes das encostas da montanha a possibilidade da prática da natação e do prazer do banho ao sol, sem os incômodos da longa viagem à zona sul.”(CARDOSO, 1984. p, 67). Atualmente, este clube possui 53.000 associados e é um grande espaço de socialização e lazer não só dos moradores do bairro, SILVA, (1993), mas de moradores pertencentes aos bairros da cercania. J. 71 anos, aposentado como bancário “Já frequentava o bairro. Morava no Grajaú e era sócio do Tijuca Tênis Clube. Meus amigos me convenceram a mudar para cá”. Em relação aos outros espaços culturais, o bairro tem ao todo 46 unidades entre museus, bibliotecas, entidades de pesquisas, espaços culturais, teatros, cinemas e bens tombados. Muito pouco em relação ao centro, 282, Botafogo, 215 e Lagoa 101, mas nem 28 tanto em relação à Copacabana 59. Seus moradores se ressentem e apontam isto como um dos problemas do bairro. C. 31 anos, produtora. “Na Tijuca faltam opções culturais de qualidade”. Também “Faltam restaurantes sofisticados e vida noturna” E. 51 anos, geógrafa. Será? A revista Programa, JB, em 28 de março de 1997, lançou uma matéria intitulada “Sem programas na Tijuca e na Vila? Não 100 programas na Tijuca e na Vila” (REVISTA PROGRAMA, 1997). Entretanto, o morador da Tijuca não se faz de rogado e freqüenta outros lugares. De acordo com algumas respostas ao questionário quem vive na Tijuca freqüenta os cinema do shopping, tanto na Tijuca quanto na Barra; a praia da zona oeste, Barra, Recreio, Prainha e Grumari e Cabo Frio, inclusive segundo alguns depoimentos “Na praia da Barra tem uma região chamada Tijuca da Barra”, C. designer de interiores, 27 anos; e por fim, aos domingos almoça no La Mole e nas Pizzarias de Shoppings. E quem habita este lugar chamado Tijuca? É o que se pretende no próximo capítulo. 29 A N o u A T O M q u e 2.1 O todo e comparativos a I 2 A m parte: S h O C I A L a b i t a de espaços construção Carlos Lessa já disse, “É impossível dominar a cidade com o olhar: Quem observa a folha perde a visão da árvore” (LESSA, 2000, p.9). No entanto quem observa a árvore não vê a folha! Ou quem olha o bairro não enxerga a rua e quem olha a rua não vê a casa e assim, sucessivamente pode-se decompor o todo em partes que formarão outro todo susceptível de se fragmentar. Destarte cria-se um dilema metodológico - o que é o todo e o que são as partes? Este trabalho toma para si a Tijuca, enquanto unidade e fragmento, todo e parte. Deste modo, ao investigarmos o bairro da Tijuca estaremos olhando sua anatomia social refletida em seu espaço geográfico, espaço de amontoados de memória, benesses, ou seja, enquanto espaço físico habitado, relacionado-o com outros bairros e com a cidade do Rio de Janeiro. Pretende-se identificar assim, o que os aproxima e os afasta dos outros espaços da cidade, observando o comum e o diferente. Neste jogo de aproximação e afastamento, a Tijuca ocupa uma posição peculiar: É um bairro residencial e tradicional que acumula a função de subcentro. Dotado de grande 30 infra-estrutura, comércio e serviços, este bairro é o centro referência da zona norte13. É lá onde tudo acontece e onde de tudo se encontra. A Tijuca é tão peculiar que seus moradores possuem designação própria: tijucano. Este termo é pejorativo para uns e para outros é elogioso. Também é tão ambíguo quanto à posição que o bairro ocupa. Segundo Silva (WEYRAUCH et al., 1999, p. 98) “Nem zona sul, nem zona norte, apenas um bairro diferente”. Mas o que será que dizem os diversos indicadores sócio-demográficos. Estes confirmam esta ambigüidade? Para mostrar em que aspectos o seu perfil aproxima ou se afasta deste ou daquele da cidade como todo ou de determinada parte da cidade é o objetivo principal deste capítulo. Para um retrato comparativo, foram utilizados os dados mais recentes disponíveis, os do Censo Demográfico do IBGE de 1991 acrescidos de algumas informações existentes na contagem de 1996. Entretanto quando for importante mostrar tendências de crescimento e mudanças serão também utilizados dados do Censo do IBGE de 1980. Além disso, neste trabalho foram utilizados, em sua maioria, números relativos resultantes do total de cada área e indicadores, propiciando uma melhor análise comparativa e evitando cair na ilusão dos números absolutos. Os dados do IBGE empregados neste capítulo foram lidos a partir de tabulações especiais, entre elas as categorias sócio-ocupacionais (RIBEIRO, 1999), realizadas no âmbito do Observatório de Políticas Urbanas/ IPPUR/ UFRJ, tendo a frente o professor Dr. Luiz César Queiroz Ribeiro, ferramenta fundamental para a análise do todo e das partes, das folhas e das árvores. Ainda, para efeito de análise e comparação, as informações referentes à população não-residente e a residente em favelas foram desagregadas, com isto, tenta-se fugir de possíveis distorções e fazer um perfil do que se considera na Tijuca, a parte da cidade formal. 13 Zona Norte definida neste trabalho como Maracanã, Vila Isabel, Andaraí, Grajaú e Rio Comprido e a Tijuca. 31 Adotar as categorias sócio-ocupacionais significa compor uma hierarquização social que se aproxime da estrutura social, rompendo com sistemas de classificações que se baseiam em apenas uma escala, como por exemplo, a renda. A construção das categorias parte da combinação e composição de diversas variáveis. São levados em conta, a ocupação, posição da ocupação, setor de atividade e grau de educação e a renda, esta última como um indicador de desempate em comparação com a versão original francesa das categorias desenvolvida por Preteceille (1995), Tabard (PRETECEILLE, 1995), Chenu; Tabard (1993). A categoria sócio-ocupacional de um indivíduo reflete a posição deste na sociedade a partir das outras posições sociais atreladas a diferenças, preferências, estilos de vida, modos de consumo e o status atribuído à determinada função no mercado de trabalho. Esta composição de indicadores permite a construção de uma estrutura social menos classificatória, taxonômica, mais completa e interdependente, definida pelas relações. Basear-se nas relações aumenta o poder de análise desta metodologia, pois pode-se tanto ser aplica na escala macro, comparação entre metrópoles, quanto na micro, as partes da cidade. Essa metodologia, acima de tudo, rompe com as projeções, surgidas no debate acadêmico e incorporadas por discursos ideológicos reificados em expressões como cidade partida, cidade da exclusão, enclaves fortificados. Para entender um pouco melhor a disputa que se trava no meio acadêmico, sobre as tendências espaciais das metrópoles, se faz uma digressão Principalmente porquê o paradigma vigente de como as cidades se estruturam é o definidor das novas formas de governança e de políticas urbanas. A corrente que sustenta o discurso radical de fragmentação, polarização como novo padrão de segmentação das sociedades capitalistas modernas se apóia em dois argumentos. O primeiro coloca a crise da governabilidade como ponto central, e o segundo destaca o papel da economia, através da reestruturação produtiva frente ao cenário da globalização, como provocador de uma realidade emergente urbana clivada entre ricos e 32 pobres. Produto este da inserção das cidades na economia mundial que resulta em uma mudança na divisão social e espacial do trabalho. Em cidades pós-industriais, despontam-se atividades voltadas para o setor de serviços e atividades financeiras. A emergência de uma estrutura social, caracterizada pela dilatação das camadas superiores e inferiores e conseqüente retração das camadas médias seria o resultado desta nova lógica econômica. As imagens deste discurso se revelam em modelos de configuração urbana, denominados Global City (SASSEN, 1998), Cidade esquartejada (MARCUSE, 1987), Dual City (MOLLENKOPF et al., 1991). O primeiro modelo fundamentado em três movimentos, concentração do controle do gerenciamento dessas novas atividades produtivas; dispersão espacial, propiciada pelas novas tecnologias de informática e telecomunicações e integração mundial de todas as “indústrias”. As cidades seriam então praças de mercados mudando toda a sua configuração espacial em função da dispersão e da especialização reificadas em guetos (áreas proletárias) e espaços residenciais excludentes das camadas sociais superiores. Sassen (1998) é considerada por muitos como reducionista e simplificadora, pois não sustenta a complexidade e dinâmicas de cidades como Nova York. Marcuse (1987) principalmente, afirma que não existe nada de novo neste no discurso da dualização, que surge sempre em momentos de crise. Sobretudo, defende o movimento em direção à bipolarização, mas sua manifestação na cidade não é dual e sim esquartejada. Nova York divida em cinco partes englobaria sua complexidade, dinâmica e interdependência dos espaços. Esta divisão centrada em raças e classes se configura em cidade do luxo, enclaves da elite auto-segregada; cidade gentrificada, ocupado por classes emergentes do novo padrão econômico, como os yuppies; cidade suburbana, cidades jardins como espaços fechados ocupada pela pequena burguesia; cidades dos inquilinos, áreas degradadas destinadas à população pobre com baixa qualificação; gueto, cidade dos excluídos. 33 A formulação do modelo dual city de Mollenkopf e Castells (1991) se baseia na coexistência de duas lógicas de organização do território: segregação e diferenciação. A segregação urbana das classes sociais se realiza tanto nos estratos mais altos quantos nos mais baixos da sociedade. Através da lógica da diferenciação, se introduz a esfera do consumo como o fator principal de determinação de localização territorial dos segmentos médios, via mercado imobiliário. Paris analisada por Preteceille (1995) se revela uma oposição a este modelo das global cities. Sua análise revela, ao contrário, que a configuração espacial fordista, núcleo x periferia, se transforma, em uma escala macro, em espaços cada vez mais homogêneos e após um movimento de aproximação, se revela, em sua escala micro, cidade fractal. As desigualdades e diferenças estão reproduzidas por todos os lados. Este resultado se fundamenta na crítica aos pressupostos da teoria da cidade dual, baseados em uma divisão simplificadora da sociedade, fundamentada basicamente na renda. A seu ver também, o debate acerca da dualização se concentra nos extremos, minimizando o papel decisivo na reconfiguração espacial praticado pelos segmentos médios. O ponto de partida adotado por Preteceille “é que transformações socioeconômicas em curso nas grandes cidades são o motor das mudanças nas estruturas socioespaciais” (PRETECEILLE et al., 1999, p.144). Assim, propõe a metodologia que permita analisar e comparar a totalidade das metrópoles, e não apenas suas partes. Surgem os tipos sócio-espaciais, aplicação das categorias ocupacionais diretamente no espaço urbano permitindo uma leitura espacializada das desigualdades sociais. Os tipos sócio-espaciais se estruturam através da sobre-representação de uma determinada categoria ocupacional em determinada área agregada ou bairro da cidade. Deste modo, a tipologia sócio-espacial é construída observando-se a cidade como um todo e fornece instrumentos que permitam a comparação entre lugares específicos. 34 O resultado da aplicação de sua metodologia em Paris revela forte crescimento das categorias superiores, reconfiguração das profissões características das categorias médias, surgimento de novas ocupações em detrimento de outras e surgimento de um proletariado ligado a serviços em substituição do proletariado industrial, fordistas. Apesar das desigualdades de renda aumentarem, não foi constatado um empobrecimento massivo da categoria dos assalariados com renda mais baixa e o empobrecimento absoluto das categorias intermediárias, nem tampouco o recuo do contingente desta mesma categoria. No que tange a espacialização das categorias, destaca o papel auto-segregador das camadas superiores, embora existam representantes desta categoria em espaços médios, assim como categorias médias em espaços tipo operários. Conclusão geral, Paris não se revela como uma cidade dual. Embora existam processos parciais de dualização espacial como a concentração das categorias superiores nas áreas centrais e periferia imediata a periferia mais distante é um mosaico fragmentado. A mesma metodologia aplicada no Rio de Janeiro (PRETECEILLE et al., 1999) resultou na afirmação de que, foi a “pequena burguesia” que aumentou, tanto em números relativos quanto absolutos e não as categorias superiores embora a concentração desta última categoria seja muito maior no Rio do que em Paris. Na escala micro, comparação entre as partes da cidade, a hierarquia de posições formada a partir de 25 categorias ocupacionais agrupadas em 8 grupos14 (RIBEIRO, 1999) principais aplicadas diretamente ao espaço urbano revelou a Tijuca, frente aos outros espaços, como um espaço de sobre-representação das categorias médias. A partir dessa premissa, no caso específico foram geradas grandes zonas compreendendo diversos bairros para efeito de comparação entre a Tijuca e as outras regiões da cidade. Essas grandes zonas foram agrupadas segundo critérios de classificação como contigüidade geográfica, valorização simbólica, perfil sócio-econômico semelhante e 35 finalmente aproximações no processo histórico de desenvolvimento. Logicamente para uma maior compreensão foram pinçados aspectos de alguns bairros isoladamente. A Zona Norte agrega os dados dos bairros Grajaú, Vila Isabel, Andaraí e Maracanã, vizinhos imediatos da Tijuca. Esta região, no imaginário popular é considerada uma área tradicional da cidade e embora não tenha praia, sua população apresenta um perfil elitizado. A Zona Sul Antiga 1 é composta somente pelo Catete e Glória. Dentre todos os bairros inseridos na Zona Sul, estes dois apresentaram aspecto mais degradado apesar da intervenção feita pelo Rio-cidade, no Catete. A Zona Sul Antiga 2 abrange Flamengo, Laranjeiras, Botafogo, Humaitá e Urca. Estes bairros assim como Glória e Catete foram espaços escolhidos pela aristocracia como local de residência. Muito embora tenham sofrido uma desvalorização imobiliária, alguns endereços como Av. Rui Barbosa ainda são considerados os mais elegantes da cidade. A RA de Copacabana agrega somente dados de Copacabana e Leme. Separou-se das demais zonas, em função da posição única que ocupa no imaginário social. As imagens das calçadas de Copacabana são o ícone de uma época única no Brasil lembrada freqüentemente pelos moradores da Tijuca. A Zona Sul Moderna compreende os bairros de Ipanema, Leblon, Jardim Botânico, Gávea e Lagoa. Com uma natureza privilegiada, próxima ao mar e morros, essa área é atualmente no imaginário carioca a mais elitizada do Rio de Janeiro. A Barra da Tijuca embora localizada geograficamente na zona Oeste foi abordada como área isolada. Por ser uma região de expansão urbana, o bairro ainda não está consolidado. As inovações nos padrões de moradia e de comportamento, condomínios fechados auto-suficientes, se tornam sedutores e atraem para este bairro uma população emergente de todas as partes da cidade, incluído alguns moradores da Tijuca. 14 Ver nota metodológica localizada ao fim deste trabalho, no apêndice, p. 111. 36 O Méier, grande subcentro dos subúrbios cariocas, foi sistematicamente lembrado pelos moradores da Tijuca que o consideram um bairro muito bom. Por fim, considerou-se apenas o município do Rio de Janeiro como padrão de referência para os desvios dos indicadores de cada zona. Deste modo, busca-se neste capítulo situar a Tijuca na hierarquia social dos bairros, frente aos bairros elitizados da zona sul, à zona norte e ao subúrbio. Entender se existe realmente uma peculiaridade deste bairro, transformando-o em bairro único, ou se estas diferenças residem apenas no senso comum de seus moradores e também contribuir para uma maior definição dessas camadas médias, principais responsáveis pela construção do urbano no Brasil (Oliveira, 1982, citado por RIBEIRO, 1999). 2.2 T i j u c a u m e s p a ç o d e p r e d o m i n â n c i a d e s e g m e n t o s médios Em 1928, quando Tom Jobim tinha um pouco mais de um ano, seus pais em dificuldades financeiras se mudaram da Rua Conde de Bonfim, Tijuca para a rua Barão da Torre, Ipanema (CASTRO, 1999b). Nesta época, a Tijuca era chique e aristocrática e Ipanema não passava de um areal, isolado de todo o resto da cidade. Atualmente a situação é bem outra, Ipanema e Leblon são os bairros preferidos da elite carioca e a Tijuca já se consolidou no mapa simbólico da cidade como um bairro reduto da classe média, conservadora e zelosa dos bons costumes. O bairro também é lembrado por ter muitos moradores militares. Afora isto, a Tijuca também sofre das mesmas mazelas encontradas nas grandes metrópoles brasileiras. Existem favelas, moradores de rua, trânsito caótico, violência e outros males urbanos existentes em toda a cidade. Se compararmos a Tijuca atual com a da primeira metade do século, evidentemente encontraremos pioras consideráveis em alguns indicadores clássicos de 37 qualidade de vida. Mas logicamente essa queda de qualidade de vida dos moradores da Tijuca não se trata de um caso isolado, mas de problemas comuns a toda cidade do Rio de Janeiro, visto que isto é decorrente de uma degradação do espaço público, crescimento desregrado pressionado por um mercado imobiliário voraz e sempre faminto, falta de políticas habitacionais etc. Assim, o que se quer enfatizar é que a piora da qualidade de vida não é de modo algum um fato isolado do bairro, mas uma mudança típica do nosso tempo e reflexo de anos de descaso do poder público. Assim, nessa “dança” o Rio se ajeita, se espreme e explode em mudanças sociais e espaciais como podemos ver abaixo. De acordo com as categorias sócio-espaciais podemos perceber comparativamente a evolução das mesmas no período de 1980 a 1991, a cidade do Rio de Janeiro e as especificidades do bairro, Tijuca. TABELA 2.1 ESTRUTURA SOCIAL DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO E DA TIJUCA, (RELATIVOS) 1980/91 CATEGORIAS Agricultores Cat1 Categoria Dirigente Cat2 Categoria Intelectual Cat3 Pequena Burguesia Cat4 Categoria Média Cat5 Proletariado Terciário Cat6 Proletariado Secundário Cat7 Sub Proletariado Cat8 1980 RIO JANEIRO 0,46% 1,78% 4,34% 9,15% 34,92% 20,94% 18,40% 10,00% 1991 TIJUCA RIO JANEIRO TIJUCA 0,14% 4,17% 6,54% 22,26% 37,60% 12,21% 4,86% 12,22% 0,68% 1,56% 6,05% 11,33% 34,27% 22,91% 14,23% 8,97% 0,37% 3,34 % 8,13% 27,66% 36,02% 12,76% 3,87% 7,86% Fonte: Censo Demográfico IBGE –1980 e 1991 TABELA 2.2 ESTRUTURA SOCIAL DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO E DA TIJUCA (ABSOLUOS) 1980/91 CATEGORIAS Agricultores Cat1 Categoria Dirigente Cat2 Categoria Intelectual Cat3 Pequena Burguesia Cat4 Categoria Média Cat5 Proletariado Terciário Cat6 Proletariado Secundário Cat7 Sub Proletariado Cat8 1980 1991 TIJUCA RIO JANEIRO TIJUCA RIO JANEIRO 7865 97 12071 227 30143 2914 27938 2086 73520 4572 108204 5078 155161 15558 202422 17253 591972 26314 612408 22465 354904 8618 409397 7952 311938 3429 254207 2415 169584 8555 160377 4903 Fonte: Censo Demográfico IBGE –1980 e 1991 38 Ao longo da década de 80 pode-se perceber uma diminuição de representantes da categoria dirigente no município como um todo e na Tijuca também, tanto em números relativos quanto absolutos. O movimento de diminuição e aumento das categorias da cidade do Rio de Janeiro no intervalo de 80 para 91, é o mesmo que na Tijuca, ou seja, aumento das categorias Intelectual, Pequena Burguesia, Proletariado terciário e diminuição das categorias Média, Proletariado secundário e Sub-proletariado, mas com variações distintas. Deve-se olhar então para as pequenas particularidades de variações. A categoria média no Rio de Janeiro contribui com os maiores índices, 34,92% em 1980 e 34,27% em 1991. Apesar desta pequena diminuição percentual em sua representabilidade em 91, pode-se observar que em números absolutos esta categoria aumentou passando, em números absolutos, de 591972 representantes para 612408 em 91. Com efeito, é a categoria mais representativa em relação às outras. No entanto, a Tijuca, bairro considerado pelo senso comum como o de “classe média” teve uma perda real, em números absolutos de representantes desta categoria. Pode-se arriscar dizer, que o bairro está sofrendo um processo de “re-elitização” confirmado pela redução da categoria média, de 37,60% para 36,02%, redução da categoria proletário secundário 18,40% para 14,23% e aumento tanto da categoria intelectual, 6,54% para 8,13%, quanto da pequena burguesia, de 22,26% para 27,66%. Essa tendência se expressa na mudança da paisagem urbana Tijucana. Muitas casas antigas e casarões vem sendo substituídos em sua maioria por prédios padrão alto luxo. Esgotada a possibilidade da atuação de construtoras e incorporadas na Zona Sul, estas migram tanto para Barra da Tijuca quanto para a Zona Norte, e a tijuca é considerada um bairro preferencial de atuação principalmente em padrão médio-alto para alto muito em parte por já possuir uma infra-estrutura consolidada. Sob o ponto de vista das categorias inferiores, tanto o proletariado terciário quanto o secundário, respectivamente trabalhadores do setor de serviços e operários do setor 39 industrial, na Tijuca encontra-se uma sub-representação destas categorias em relação à cidade do Rio de Janeiro, mostrando mais uma vez o caráter mais elitizado deste bairro frente à cidade. Quanto ao sub-proletariado é uma categoria que vem diminuindo, expressivamente mais na Tijuca do que na cidade do Rio de Janeiro Se centrarmos a atenção nas sub-categorias, a categoria trabalhadores domésticos compõe a maior parte desta na Tijuca, sendo talvez empregadas domésticas que residem em casa do patrão. Esta redução de quase 55% em números absolutos é bastante significativa e digna de maiores estudos. Ao fim, percebe-se que em relação ao todo da cidade do Rio de Janeiro, a Tijuca se mostra mais elitizada. Todavia, comparando-se o bairro com os bairros localizados na zona sul do Rio de Janeiro, que são considerados mais elitizados, a diferença é bem outra e pode-se ser percebida até no discurso dos moradores da Tijuca. Perguntada sobre a posição da Tijuca frente aos bairros da cidade, M. 66 anos respondeu de uma maneira sintética, mas pertinente: “A Tijuca se compara a Zona Sul Antiga. Copacabana é muita mistura, Ipanema e Leblon são mais altos. O exibicionista é da Barra, que é só para emergentes. O nível da Barra é muito baixo, não tem cultura.” 40 TABELA 2.3 ESTRUTURA SOCIAL DOS BAIRROS E DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO/ 1991 BAIRROS Agricultores Categoria Categoria Pequena Categoria Proletário Proletário Sub Dirigente Intelectual Burguesia Média Terciário Secundário Proletariado Tijuca 0,36% 3,34% 8,14% 27,66% 36,01% 12,75% 3,87% 7,86% Glória Catete 1,33% 0,68% 0,88% 2,59% 1,25% 1,66% 2,62% 4,38% 3,84% 22,69% 18,57% 19,83% 40,40% 40,44% 40,43% 18,67% 19,18% 19,02% 3,62% 6,52% 5,64% 8,08% 8,98% 8,70% 0,50% 0,40% 0,43% 0,42% 0,63% 0,46% 4,97% 4,19% 4,15% 3,39% 6,82% 4,56% 7,12% 6,01% 6,24% 2,27% 5,94% 6,27% 27,41% 32,74% 24,77% 33,22% 29,40% 27,93% 35,30% 29,62% 34,87% 32,35% 33,04% 33,57% 12,55% 13,26% 16,40% 12,33% 11,84% 14,15% 2,17% 2,62% 3,62% 1,79% 2,75% 2,87% 9,99% 11,16% 9,51% 14,24% 9,59% 10,18% 0,07% 0,33% 0,31% 5,66% 4,67% 4,74% 4,63% 7,91% 7,66% 27,20% 23,47% 23,75% 32,87% 32,90% 32,90% 14,20% 15,21% 15,13% 2,47% 3,39% 3,32% 12,91% 12,11% 12,17% Z. Sul Moderna 0,21% 0,68% 3,54% 0,51% 0,15% 0,85% 9,13% 8,51% 14,24% 6,87% 8,70% 9,28% 8,13% 7,08% 6,12% 7,23% 7,30% 7,31% 24,02% 24,97% 29,54% 24,55% 28,82% 25,66% 23,89% 26,69% 19,85% 30,81% 28,67% 25,66% 15,39% 14,63% 10,01% 17,36% 12,48% 14,36% 3,18% 3,60% 2,75% 2,97% 2,74% 3,18% 16,05% 13,83% 13,96% 9,69% 11,15% 13,69% Maracanã Vila Isabel Andaraí Grajaú Zona Norte 0,22% 0,27% 0,00% 0,17% 0,19% 2,39% 1,91% 1,69% 2,38% 2,04% 8,01% 7,87% 6,88% 8,93% 7,90% 26,16% 23,85% 21,99% 27,89% 24,66% 37,65% 40,42% 38,42% 35,39% 38,50% 14,85% 15,24% 18,26% 13,04% 15,37% 4,34% 4,70% 6,11% 4,81% 4,96% 6,38% 5,74% 6,66% 7,39% 6,38% Méier 0,06% 1,53% 7,77% 22,01% 42,20% 15,41% 5,92% 5,08% Barra 0,47% 12,59% 9,98% 26,19% 23,30% 10,93% 6,18% 10,35% R. de Janeiro 0,68% 1,56% 6,05% 11,33% 34,27% 22,91% 14,23% 8,97% Z Sul Antiga1 Flamengo Laranjeiras Botafogo Urca Humaitá Z Sul Antiga2 Leme Copacabana V Copacabana Ipanema Leblon Lagoa J. Botânico Gávea Fonte: Censo Demográfico IBGE - 1991 Na fala de M. 66 anos, o discurso preconceituoso sobre a Barra demonstra a diferença entre senso comum e os dados pesquisados. A Barra da tijuca, bairro relativamente novo e por isso ainda não consolidado, conhecido como o lugar preferencial dos emergentes, possui o maior percentual de elite intelectual, 9,98% dentre as áreas selecionadas, o que não é 41 exatamente, o perfil daquele que “não tem cultura”. Segue-se à Barra, a Tijuca em com um índice de 8,14% muito próximo a Ipanema e um pouco abaixo do Grajaú, respectivamente 8,13% e 8,93%. Nesta categoria sobressaem a sub-categoria profissionais superiores empregados. Aliás esta sobrerepresentação da elite intelectual é um dos orgulhos do bairro da Tijuca como se pode ver em alguns depoimentos de seus moradores. T. aposentada, 66 anos: “Tijucano é aquele que teve berço de uma classe boa e bom grau de instrução.” S. professor, 52 anos, “O Tijucano às vezes sente falta da praia, mas curte o verde da floresta e se considera uma pessoa que mora em um bairro com os melhores colégios, o que dá um caráter de elite intelectual”. Nesses discursos, percebe-se uma intenção de valorização da imagem do bairro por parte de seus moradores pois ademais no que tange à categoria elite dirigente, que possui como sub-categorias empresários e dirigentes do setor privado, a sua maior representatividade também se encontra na Barra da Tijuca, 12,59% seguida pela Zona Sul Moderna, 9,28%, mostrando uma maior elitização dessas duas regiões em relação às outras áreas escolhidas. A pequena burguesia se destaca na Tijuca 27,66% e na Zona Sul Antiga 1, 27,66% e novamente a Barra da Tijuca, 26,19%. A maior parte dessa categoria se concentra na subcategoria pequenos empregadores. A classe média é uma categoria significativa em todas as zonas, exceto nas duas áreas consideradas mais elitizadas, Barra da Tijuca e Zona Sul Moderna. Embora a Tijuca tenha uma alta parcela de sua população pertencente a esta categoria, 36,01% e seja considerada no senso comum, o grande reduto deste segmento são no Méier, Zona Sul Antiga 2 e a Zona Norte, respectivamente 42,20%, 40,43% e 38,50% que se encontra a sua maior concentração, chegando próximo a metade da população dessas áreas. 42 Dentre as sub-categorias da classe média, destacam-se na Tijuca empregados de escritório e empregados de supervisão que juntos correspondem a 1/5 da população deste bairro. O proletário do terciário, embora em menor proporção, agrega uma parcela expressiva da população ocupada de todas as áreas, com destaque para a Zona Sul Antiga 1, 19,02%, ou seja 1/5 da população desta região. Dentre os percentuais das sub-categorias, servidores não especializados, incluindo porteiros e vigias se concentram mais na Zona Sul Nobre enquanto a sub-categoria empregados do comércio se concentram nas demais áreas. O proletário secundário é mais expressivo na Barra da Tijuca com percentual de 6,18%, enquanto a Tijuca possui 3,87% de sua população ocupada classificada nesta categoria. Considerando-se que a Barra ainda é um bairro em construção e ampliação da cidade do Rio de Janeiro, entende-se a maior expressividade desta categoria que agrega operários da construção civil. O sub-proletariado, por fim, é uma categoria que vem diminuindo com foi ressaltado acima, mas continua com um percentual expressivo na Zona Sul Moderna, 13,69%, o que corrobora com a hipótese de que se tratam de empregadas domésticas que vivem em seu lugar de trabalho. Pode-se concluir que o perfil ocupacional da Tijuca frente a demais zonas mais ou menos elitizadas, ora se assemelha a uma ora a outra. A Tijuca concentra a sua população em 3 categorias: a intelectual, pequena burguesia e média sendo que as duas primeiras apresentaram um aumento de 80 para 91 enquanto a última diminui, evidenciando uma tendência de revalorização do bairro. 43 2.3 Análise do perfil sócio-econômico e demográfico Aprofundar na realidade da Tijuca significa identificar aqueles que lá vivem. De acordo com dados da contagem de 96, este bairro possui uma população em números absolutos de 162.637 Hab, correspondendo a 4% da população total do município do Rio de Janeiro. Esta população se reparte concentrando 86,74%, isto é, 141073 no bairro e 13,36%, 21564 em áreas consideradas pelo IBGE como áreas de favela. Não obstante, o grande número de favelas é uma característica da Tijuca, que atualmente se amedronta com os freqüentes tiroteios. Esta particularidade está entre uma das maiores reclamações de seus moradores. No entanto esta relação nem sempre foi a de estranhamento. As regiões mais elitizadas do bairro são aquelas próximas aos morros, afinal é onde se encontra parte da Floresta da Tijuca. O medo das favelas é algo recente na Tijuca e não afetou até então, os dados mais atuais disponíveis (Censo IBGE de 1991) acerca de sua distribuição espacial, como se pode ver no mapa a seguir. 44 MAPA 1 SETORES CENSITÁRIOS_ A ELITE E A FAVELA Os setores em azul, são setores onde os chefes de domicílio possuem renda acima da média da cidade do Rio de Janeiro, isto é, acima de 9,4 salário mínimo e os amarelos correspondem ao setor de favelas cuja renda para a grande maioria, 66,9% não ultrapassa 1 salário mínimo. Para analisarmos o real padrão econômico da população dentre os indicadores socioeconômicos a renda familiar per capita é um dos mais adequados. Ele confirma o alto poder aquisitivo dos moradores das zonas consideradas mais elitizadas da cidade- Zona Sul Moderna e Barra da Tijuca- frente aos moradores da Tijuca e demais regiões analisadas. 45 TABELA 2.4 RENDA FAMILIAR PER CAPITA EM SALÁRIOS MÍNIMOS NOS BAIRROS, REGIÕES AGREGADAS E MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO/ 1991 Renda por domicilio Z. Sul Antiga 1 Z. Sul Antiga2 V Copa cabana Z. Sul Moderna Zona Norte Barra da Tijuca TIJUCA Rio de Janeiro até 1SM (inclusive sem rendimento) 15,3% 9,3% 7,6% 10,0% 11,9% 6,2% 7,9% 35,6% de 1 a 2 SM de 2 a 5 SM de 5 a 10 SM 17,0% 34,2% 16,9% 10,4% 28,0% 26,7% 10,3% 28,8% 25,2% 8,7% 19,3% 23,9% 15,9% 38,3% 21,6% 6,5% 20,9% 28,7% 12,2% 35,7% 27,3% 23,4% 23,4% 9,1% maior que 10SM 10,7% 19,3% 21,3% 31,1% 8,1% 32,1% 12,8% 5,1% Sem declaração 5,8% 6,3% 6,8% 7,1% 4,2% 5,6% 4,1% 3,5% Fonte: Censo Demográfico IBGE - 1991 Nas faixas de renda mais baixas a Tijuca não mostra expressividade se aproximando do mesmo percentual que as outras regiões analisadas que se contrastam fortemente com o do Município do Rio de Janeiro como um todo, reforçando a posição de áreas superiores. Em compensação, observando a faixa intermediária (entre 2 e 5 s.m.) pode-se observar que existe uma concentração de 35% da população da Tijuca. É nesta faixa que podemos identificar a distância entre os moradores da Zona Sul Antiga 2, Moderna, Copacabana e a Barra da Tijuca, todas com índice abaixo de 30%, sendo que nas duas áreas mais elitizadas o patamar é de aproximadamente 20%. Na faixa seguinte, de 5 a 10 S.M. consegue-se observar a diferença entre a Tijuca e a Zona Sul Antiga 1 demonstrando que esta segunda área se mostra mais empobrecida que a primeira, ou seja, embora a Tijuca se localize na Zona Norte, possui um relativo contingente populacional que possui condições econômicas para morar na Zona Sul, e não o faz, porquê? A fala de H., 33 anos, aposentada, “O tijucano é aquele tradicional. Considero o melhor lugar para morar mesmo tendo outra opção para morar fora daqui” confirma que apesar do poder aquisitivo, boa parte do Tijucano continua morando no bairro talvez por se identificar com os valores e estilos de vida desse lugar. 46 O indicador tipos de família talvez possa ajudar a compreender melhor valores como o tão falado comportamento tradicional do morador da Tijuca, pois leva a relacionar a existência de determinado perfil populacional com o estilo de vida do bairro. TABELA 2.5 TIPOLOGIA FAMILIAR NOS BAIRROS, REGIÕES AGREGADAS E MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO/ 1991 BAIRRO Z. SUL Z. SUL V COPA Z. SUL R, ZONA MEIER BARRA TIJUCA ANTIGA ANTIGA2 CABANA MODERNA NORTE JANEIRO da TIJUCA 1 Pessoa morando só 24,19% 21,49% 27,49% 17,88% 11,54% 10,10% 11,99% 13,48% 10,44% Casal sem filhos 17,28% 18,48% 19,29% 19,05% 18,60% 20,14% 19,96% 19,83% 15,98% Casal com filhos 30,97% 35,35% 26,37% 39,80% 45,96% 46,40% 54,06% 42,23% 49,69% 14,22% 13,93% 14,36% 13,93% 15,30% 15,42% 9,77% 14,90% 16,32% Pessoas sem relação 11,92% de parentesco 9,43% 11,29% 7,21% 6,99% 6,75% 2,97% 8,03% 5,72% 1,43% 1,32% 1,21% 2,13% 1,62% 1,52% 1,85% Mulher chefe s/ cônjuge com filhos Outros tipos de famílias 1,18% 1,25% Fonte: Censo Demográfico IBGE - 1991 No município do Rio de Janeiro sobressai o padrão mais tradicional, 49,69% de famílias com filhos, com destaque para casais com filhos. Este padrão tende a diminuir com as mudanças de comportamento, cujo maior representante é Copacabana. Dentre todas as áreas, V Copacabana possui o mais baixo índice de família nuclear com filhos, isto é, 26,37%. A contrapartida é dada pelo maior número de pessoas morando sozinhas, 27,49%. Este fato confirma a sua imagem de bairro atomizado que rompe com o padrão tradicional. A Zona Norte e o Méier, por outro lado, fazem jus a seu status de área tradicional com 45,96% e 46,40% respectivamente de famílias nucleares com filhos. O curioso é a Barra e Zona Sul Moderna apresentarem respectivamente 54,06% e 39,80% de seus universos constituídos por famílias nucleares com filhos. Para entender um pouco melhor sobre o tipo de comportamento familiar, cabe aqui uma sugestão para investigação a posteriori – que tipo de famílias são essas. Percorreram todos os ciclos familiares ou resultam de novos arranjos entre diferentes famílias. 47 A Tijuca ocupa o padrão intermediário, não é o bairro com mais famílias com filhos nem o com menos. Está muito próxima em números relativos à Z. Sul Moderna. Pessoas vivendo sós e pessoas sem relação de parentesco, como “repúblicas” ou amigos dividindo o mesmo espaço se concentram nas duas Zonas Sul antigas e em Copacabana, talvez por nesses bairros existirem uma maior concentração de apartamentos de 01quarto e conjugados. Na Z. Sul moderna, Barra, Zona Norte, Méier e Tijuca presença deste tipo de composição familiar diminui bastante consideravelmente. É interessante observar que tanto a Tijuca quanto a Zona Norte e o Méier possuem um alto número de mulheres chefes sem cônjuge e com filhos. Este último fato se contrapõe ao imaginário popular de que os moradores da Tijuca, a Zona Norte e o subúrbio (Méier) são “(...) conservador(es) em relação às famílias, nunca se separam.” M. 51 anos, gerente administrativo. Este morador, há 10 anos veio do Engo Novo (pois não gostava do bairro) morar na Tijuca por achar este bairro um lugar bom para se criar a família. Ele vive em apartamento próprio com sua mulher, primeira namorada, com quem é casado no civil e no religioso e com quem tem duas filhas. M. quando se mudou para a Tijuca, por causa da identificação com o bairro, faz coro com o senso comum, ajudando a propagar a imagem da família tradicional como sendo a mais freqüente na Tijuca Destaca-se também que a parcela populacional que reside em domicílios chefiados por mulheres, sem cônjuge, com filhos aumentou em todas as zonas ao longo da década de 80. Dados estes, que mostram uma mudança geral no padrão de comportamento. Quanto a esta mudança no comportamento destaca-se o trabalho de Sant’Anna (2000) sobre os tipos familiares. Nela a presença de mulheres chefes sem cônjuge e com filhos nos estratos médios contradiz a hipótese de feminilização da pobreza. Assim, deve-se relativizar a presença de mulheres-chefe em áreas tanto ricas quanto pobres da cidade e fazer um perfil mais detalhado dessas mulheres que segundo a tabela abaixo são maioria em todas as áreas selecionadas. 48 TABELA 2.6 DISTRIBUIÇÃO POPULACIONAL POR SEXO NOS BAIRROS, REGIÕES AGREGADAS E MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO/ 1991 Z. Sul Z. Sul V Z. Sul Antiga 1 Antiga 2 Copacabana Moderna SX_MAS 43,64% 43,44% 41,52% 44,71% SX_FEM 56,36% 56,56% 58,48% 55,29% Zona Norte 44,72% 55,28% Méier Barra TIJUCA 44,38% 49,48% 43,72% 55,62% 50,52% 56,28% Rio de Janeiro 46,78% 53,22% Fonte: Censo Demográfico IBGE - 1991 O maior índice ficou para Copacabana com 56,56% de mulheres seguida pela Tijuca correspondendo a 56,28%. Esta dobradinha Copacabana e depois Tijuca também se repete em relação à faixa etária. TABELA 2.7 DISTRIBUIÇÃO POPULACIONAL POR FAIXA ETÁRIA NOS BAIRROS, REGIÕES AGREGADAS E MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO/ 1991 Z. Sul Z. Sul V Z. Sul Antiga 1 Antiga 2 Copacabana Moderna Zona Norte Méier Barra TIJUCA Rio de Janeiro 10,77% 11,85% 8,67% 11,05% 14,63% 13,24% 16,06% 11,78% 17,07% 4,02% 5,11% 3,73% 5,20% 5,59% 5,76% 6,84% 5,22% 6,61% 13,33% 13,62% 13,30% 15,21% 13,43% 13,50% 17,03% 14,27% 16,24% a 44 anos) 33,63% MADUR(45 a 65 anos) 24,17% VELHO(66 anos ou 14,08% mais) 33,36% 29,78% 32,64% 33,48% 31,89% 37,13% 30,00% 32,54% 23,05% 25,90% 23,81% 21,69% 23,92% 18,61% 24,19% 19,41% 13,00% 100% 18,63% 100% 12,09% 100% 11,18% 100% 11,69% 4,33% 14,54% 100% 100% 100% 8,13% 100,0% CRIAN(até 10 anos) ADOLE(11 a 14 anos) JOVEM(15 a 24 anos) ADULT(25 TOTAL 100% Fonte: Censo Demográfico IBGE - 1991 Em 1991, do total da população residente na área de Copacabana 18,63% são idosos15 e na Tijuca 14,54%. Corroborando notícias da imprensa, pesquisas acadêmicas, e até artes, como cinema, Copacabana se mostra como o bairro com o maior contingente de idosos. Fazendo-se uma relação direta entre sexo e faixa etária aponta-se para a afirmativa de que atualmente a expectativa de vida da mulher é maior do que a do homem. A Barra é a área com uma menor distância entre a proporção de homem e mulher. Este fato se esclarece melhor, pois este bairro é o que possui mais famílias nucleares com filhos e menos pessoas morando sós ou pessoas sem relação de parentesco em relação a todas as outras áreas. 15 “Copacabana”, o mais novo filme produzido e dirigido por Carla Camurati foi lançado em circuito nacional em 06/07/2001, e tem como temática a velhice neste bairro. 49 Observando as outras faixas etárias da Tijuca podemos perceber que este bairro não possui um padrão desviante em relação às outras áreas, com exceção de Copacabana e Barra, e se aproxima bastante das Zona Sul Antiga 1 e 2. De maneira geral, a população é predominantemente composta por adultos (25 a 44 anos) seguidos pela faixa que abrange 45 a 65 anos, os maduros. Somados estes índices, uma média de 60% da população dessas áreas se localiza na faixa acima dos 25 anos. Em relação ao município, todas as áreas se distanciam com exceção da Barra da Tijuca, apresentando um elevado índice de crianças de 0 até 10 anos e um índice menor de idosos. Em relação ao indicador cor todas as áreas possuem muito mais população branca do que na média do município que é de 63,43%. Impressionantemente a Tijuca é o bairro que mais brancos tem, 90,35% seguido pela Barra, Copacabana e Z. Sul Moderna. TABELA 2.8 DISTRIBUIÇÃO POPULACIONAL POR COR NOS BAIRROS, REGIÕES AGREGADAS E MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO/ 1991 BRANCA N_BRAN Barra TIJUCA Rio de Janeiro Z. Sul Z. Sul Antiga 1 Antiga 2 V Copa cabana Z. Sul Moderna Zona Norte Méier 84,95% 15,05% 89,62% 10,38% 89,31% 10,69% 87,12% 12,88% 83,58% 90,09% 90,35% 16,43% 9,91% 9,65% 87,88% 12,12% 63,43% 36,57% Fonte: Censo Demográfico IBGE - 1991 Todavia, as variações são muito pequenas frente às demais áreas, o que leva a se afirmar que este indicador não é relevante para analisar as distâncias sociais entre os diferentes espaços elitizados da cidade. 2. 4 Q u a l i d a d e e c o n d i ç ã o d e m o r a d i a A existência de espaços possíveis para o processo de adensamento e verticalização no qual passa a Tijuca, mencionado no capítulo inicial, se confirma através do indicador tipo de domicílio. Em relação às outras áreas é a 3a região, depois da Barra e da Zona Norte, que mais possui casas. A Barra, embora possua muitos condomínios verticalizados, possui uma 50 grande demanda, por parte de uma população mais abastada, por condomínios de casas com áreas de lazer particular, o que em parte justifica o elevado número de casas, 28,5%. O outro fator deve-se a recente ocupação desse bairro, considerado ainda uma grande área em expansão. Em seguida, temos a Zona Norte com 16,9% e a Tijuca com 12,4%. Em relação a 80, todas as três áreas tiveram uma diminuição na quantidade de suas casas, (Barra, 41,1%, Zona Norte 22,3% e Tijuca 16,8%) demonstrando um ativo mercado imobiliário nessas áreas. Um indicador interessante para se analisar as condições de moradia da população é a densidade domiciliar por dormitório. Considera-se baixa a densidade de até duas pessoas por dormitório, média entre 2 e 3 pessoas por dormitório e por fim a alta, densidade acima de 3 pessoas por dormitório. Este indicador é razoável para se perceber a escolha individual no universo de opções disponíveis. O resultado da escolha feita através da maximização do capital econômico disponível, nem sempre é o mesmo, pois os valores nunca são os mesmos. Ou seja, principalmente aqueles das categorias classe média e pequena burguesia que possuindo algum capital econômico, lhes é permitido a escolha entre morar “espremido” perto da praia ou confortavelmente distante desta. TABELA 2.9 DENSIDADE DOMICILIAR POR DORMITÓRIO NOS BAIRROS, REGIÕES AGREGADAS E MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO/ 1991 Densidade BAIXA MÉDIA ALTA Z. Sul Z. Sul Antiga 1 Antiga 2 72,16% 86,29% 16,71% 9,66% 7,86% 2,42% V Copa Z. Sul Zona Barra Tijuca Méier Rio de Janeiro cabana Moderna Norte 87,19% 87,91% 81,01% 86,6% 87,81% 84,24% 64,88% 8,57% 6,93% 12,78% 7,5% 8,71% 13,78% 22,36% 3,73% 3,76% 4,46% 2,8% 1,68% 1,98% 11,76% Fonte: Censo Demográfico IBGE – 1991 Destaca-se a Zona Sul Antiga 1, um elevado número de pessoas residindo em domicílios com alta densidade, embora ainda mantenha uma distância considerável da média da cidade do Rio de Janeiro. Observa-se ainda que nesta área o número de pessoas sem relação de parentesco morando juntos é elevado. É um indício de possibilidade de existência de moradias do tipo república, em função do barateamento do custo de moradia, vivendo em 51 apartamentos pequenos como se observa na próxima tabela, cerca de 90% da população reside em apartamentos de 01 a 02 quartos. A contrapartida é a Tijuca e o Méier como sendo as áreas com o menor número de pessoas vivendo em domicílios com alta densidade seguido da Zona Sul Antiga 1 e Barra. Observa-se também que o Méier em relação à Tijuca, possui um número bem mais elevado de pessoas residindo em domicílios com média densidade, aproximando-se neste índice da Zona Norte. TABELA 2.10 DISTRIBUIÇÃO DE NÚMEROS DE DORMITÓRIO NOS BAIRROS, REGIÕES AGREGADAS E MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO/ 1991 BAIRRO 1 DORM 2 DORM 3 DORM 4 DORM Z. Sul Antiga 1 59,05% 31,85% 7,31% 1,79% Z. Sul Antiga 2 42,42% 35,12% 18,13% 4,32% V Copa cabana 50,82% 29,76% 15,30% 4,12% Z. Sul Zona Barra TIJUCA Méier Moderna Norte 38,02% 31,72% 32,74% 32,66% 30,34% 32,20% 46,06% 32,66% 40,09% 49,49% 21,94% 18,98% 23,35% 22,97% 17,98% 7,84% 3,24% 11,24% 4,27% 2,19% Rio de Janeiro 37,34% 45,51% 14,60% 2,55% Fonte: Censo Demográfico IBGE - 1991 Comparando-se estes dados com o outro indicador distribuição de números de domicílios, percebe-se na Barra um elevado número de pessoas residindo em apartamentos de 04 quartos, seguido pela Zona Sul Moderna. São exatamente as áreas mais elitizadas, principalmente por terem apartamentos maiores em regiões mais valorizadas da cidade. A Tijuca é depois da Barra, o lugar com a maior quantidade de pessoas residindo em apartamentos de 03 quartos. Este elevado padrão de construção é a orientação dos padrões atuais de incorporação. O diretor comercial da Bulhões de Carvalho16 afirma que o morador da Tijuca com alto poder aquisitivo, não sai do bairro. Ele investe em um imóvel de padrão mais elevado, uma moradia mais confortável e espaçosa, mas no mesmo bairro. Atualmente, em um passeio pelo bairro, percebe-se a mudança do padrão das construções. São edifícios modernos com uma ampla infra-estrutura de lazer. 16 Para maiores informações ver matéria sobre o mercado imobiliário da Tijuca em SANTOS, Ana Cecília; CASEMIRO, Luciana. Tijuca à frente no setor imobiliário. O Globo, Rio de Janeiro, 17 ago. 2000. Caderno Tijuca, p. 8-10. 52 Isto também pode ser percebido nas respostas dos questionários aplicados nos moradores do bairro da Tijuca. Na escolha de um imóvel o que mais pesa na decisão são as características do imóvel segundo 65% dos entrevistados.17 Embora exista na Tijuca, um elevado número de pessoas vivendo em moradias de 02 quartos, 40%, a parcela de população que vive em apartamentos de 01 quarto é bem menor frente à Zona Sul Antiga 1 e 2 e Copacabana. Reforçando novamente a idéia de que embora tenham condições de viverem em zonas mais elitizadas, os moradores da Tijuca preferem o conforto de um apartamento maior em um bairro não tão valorizado em relação às zonas mais elitizadas do que viverem em residências mais apertadas, de 01 a 02 quartos próximas à praia. Incrivelmente a Z. Sul Antiga 1 se confirma como a região de maior números de apartamentos conjugados e de 01 quarto, desbancando o lugar de Copacabana, no senso comum, como o bairro dos conjugados e pequenos apartamentos e da mais alta densidade. Esta quantidade de apartamentos de 01 quarto, no catete e glória, se complementa ao índice de alta densidade neste lugar, ou seja, esta área dentre as demais é a com pior densidade das áreas escolhidas. O indicador condição de ocupação por sua vez é muito importante para o estudo de mobilidade residencial uma vez que mostra a diferença relativa entre imóveis alugados ou não. TABELA 2.11 POPULAÇÃO POR CONDIÇÃO DE OCUPAÇÃO DO DOMICÍLIO NOS BAIRROS, REGIÕES AGREGADAS E MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO/ 1991 Z. Sul Z. Sul V Antiga 1 Antiga 2 Copacabana PROPRIO 52,61% 63,03% 59,79% ALUGADO 43,14% 29,13% 32,54% CEDIDO 4,25% 7,85% 7,68% Z. Sul Zona Méier Barra Moderna Norte 70,94% 65,72% 68,15% 72,25% 18,55% 29,14% 27,36% 19,62% 10,51% 5,14% 4,49% 8,13% TIJUCA 68,10% 25,21% 6,69% Rio de Janeiro 68,46% 25,12% 6,42% Fonte: Censo Demográfico IBGE - 1991 17 Para se aprofundar nesta análise seria necessário saber o tamanho dos cômodos. Infelizmente no Censo IBGE não se tem esse tipo de questão, até porque a maioria dos moradores não sabe a real dimensão de seus espaços habitados. 53 A Barra é o local com mais imóveis próprios, seguido da Z. Sul Moderna, isto talvez se explique novamente pela pouca idade do bairro. Atualmente em fase de consolidação, a Barra é o lugar aonde se podem comprar imóveis por financiamento através das construtoras e incorporadoras. Os demais bairros já consolidados não possuem essa vantagem uma vez que os financiamentos para o setor médio, feitos pelos bancos estatais estão escassos e as alternativas, oferecidas pelos bancos privados ainda são muito onerosas em função da alta taxa de juros. Logo abaixo da Z. Sul Moderna e da Barra vem a Tijuca, o Méier e a Zona Norte com altos índices de domicílios próprios. A Z. Sul Moderna é o espaço dos imóveis mais caros e o índice de 70,9% de imóveis próprios corrobora com a imagem de que esta é a região mais elitizada da cidade do Rio de Janeiro. Em contrapartida, o alto índice no Méier e Z. Norte fazse pensar esses lugares como lugares de maior permanência de seus moradores, já que seus imóveis são os mais baratos em relação às demais áreas. No que tange a Tijuca aliando este dado com o de número de dormitórios e padrão mais elevado dos novos edifícios, confirma-se a afirmativa de Rogério Zylbersztajn, presidente da Construtora RJZ, “Os tijucanos costumam se manter no bairro mesmo quando passam a ter um nível de vida melhor. Eles são apegados às suas raízes.” (SANTOS et al., 2000, p.9). A Zona Sul Antiga 1 é das áreas, aquela com maior número de apartamentos alugados 43,14%. Somando-se a isto, o número de imóveis cedidos, metade da população nesta área vive em apartamentos não próprios e a outra em apartamentos próprios. A partir deste indicadores e de que a maioria desses apartamentos são conjugados e de 01 quarto, realmente esta região se mostra como a mais empobrecida dentre as escolhidas para esta comparação. 54 Os números da Tijuca por sua vez incrivelmente são os que mais se aproximam da média da cidade do Rio de janeiro, podendo até ser vista como o padrão seguido pela cidade, ou seja, neste indicador a Tijuca é o Rio de Janeiro. 2. 5 O todo de uma parte: os mitos da Tijuca A partir dos indicadores trabalhados neste capítulo pôde-se perceber que conjugado a grande infra-estrutura apresentada no capítulo anterior e os bons indicadores de qualidade e condição de moradia, baixa densidade domiciliar em um bairro com a maioria de apartamentos de 02 quartos e também grande concentração de apartamentos de 03 quartos, a Tijuca se destaca em relação à média da cidade do Rio de Janeiro, Méier e Zona Norte. Em relação aos bairros mais elitizados como os da Z. Sul Moderna e Barra ocupa uma posição inferior, entretanto se aproxima da região V Copacabana no que se refere a renda do chefe de domicílio voltando a se separar no que tange à tipologia familiar. Em relação à família, a Tijuca se mostra mais próxima ao que se considera o padrão tradicional, pais casados, não divorciados, com filhos, apesar do grande número de mulheres chefes sem cônjuge e com filhos. T. 24 anos, auxiliar de cartório faz uma observação muito interessante. “(...) Na Tijuca tem muita gente divorciada, mas as famílias permanecem unidas”. É uma percepção bastante fina e em sintonia com os dados. Percebe-se que embora existam mulheres sem cônjuge e com filhos na Tijuca, existe um laço de solidariedade e pode indicar que elas vivam próximas de seus familiares. De acordo com a percepção de outro morador, J. 37 anos, diretor:“(....) a casa, o lar (tijucano) é seu espaço de centralização.” A idéia de uma Tijuca conservadora por causa da educação rigorosa em função dos colégios tradicionais e da quantidade de militares existentes na região é extremamente 55 difundida no imaginário do carioca e repetida por seus moradores, vide alguns depoimentos: “Em geral, (o tijucano) é conservador, não são preocupados em mudar (hábitos)”. “É conservador se apega à tradição, hábitos simples e rotineiros, de vida estável. A tijuca muda pouco, porque as pessoas são mais apegadas aos lugares, a casa. Enquanto a zona sul é inconstante. Aqui nada muda. É um estilo de vida mais provinciano assim como Niterói, vida pacata, quotidiana, loja tradicionais.... Na zona Sul é muito mistura. Até os políticos são conservadores, o colégio militar, muito militar morando no bairro. O tijucano tem um estilo de vida mais interiorano, lembra um jeito mineiro de ser” J. A. 60 anos, aposentado. O estereótipo do tijucano conservador aliado à grande presença de militares também está presente na literatura. Alcione de Araújo em seu livro “Nem mesmo todo o oceano” mostra a rotina de um casal de namorados, cuja menina, Elisa é filha de militar. No princípio, ficávamos conversando no portão do casarão da Tijuca. Quando começamos a sair, eu a pegava na porta de casa – e podia identificar a silhueta de sua mãe espiando da janela – e, na volta, deixava-a na porta de casa – e podia identificar a silhueta do seu pai espiando da janela. Os horários eram rigorosos. Um atraso ameaçava a próxima saída. (ARAÚJO, 1998, p. 596) Se o conservadorismo na Tijuca é uma verdade ou não, os indicadores não evidenciaram grandes contrastes ou diferenças notáveis. A Tijuca ora se aproxima de um padrão mais elitizado ora se aproxima da Zona Norte. Destacando-se, o fato de que parece que “o tijucano procura sempre continuar no bairro ou manter algum vínculo”. M. 27 anos, oficial do exército. Em relação aos outros indicadores ela realmente ocupa uma relação intermediária que está sempre muito próxima dos padrões de Copacabana, o bairro considerado mais moderno em termos de comportamento. E assim conclui-se mais um capítulo com o desejo de um maior aprofundamento no mundo social da Tijuca procurando um maior esclarecimento das estruturas do espaço 56 social, afinal talvez “Alguém botou na cabeça do tijucano que ele é conservador e tradicional” E. 51 anos, geógrafa. 57 P o 3.1 R u Á T o I h Teoria e C a b A i t práxis: 3 S u s suas S O C n o h I a A I i t b possibilidades e S a t seus limites Qualquer que seja a sociedade, primitiva ou não, heterogênea ou não, ela é estratificada - esta afirmação não se contesta. O monopólio da “autoridade científica” pela definição da existência ou não de classes sociais é que está em jogo na sociologia e, a partir daí, o poder de ditar a maneira como as sociedades se diferenciam. A preocupação sociológica em investigar a sociedade não repousa na análise dos fatos como eles realmente são - embora seja esta a bandeira em defesa de cada teoria – mas na dominação de um modo de pensar sobre o outro e em suas conseqüências. Os trabalhos científicos não apenas interessam ao autor como satisfação pessoal, intrínseca, mas principalmente no reconhecimento do outro. O que se produz é lançado à crítica podendo gerar ao autor, lucros simbólicos como “prestígio”, “reputação”, “autoridade”, “competência” e também capital econômico. O pressuposto de que nenhuma teoria sociológica é apolítica e ausente de interesses não invalida, no entanto, os trabalhos a cerca das classes sociais, todavia, desmistifica a idéia da verdade única. A disputa pelo discurso dominante em busca da verdade, destarte, se transforma em uma luta sem vencedor. A Verdade talvez não exista e nunca será alcançada, entretanto “pequenas verdades” ou “explicações” serão aceitas ou não, em função 58 do interesse e do discurso mais persuasivo. Serão elas mais aceitas ou não, em função da experiência, qualquer que seja ela, daqueles que praticam o pensamento. Dentre os pensamentos, opta-se neste trabalho, pela noção de espaço social, teoria praticada por Pierre Bourdieu, sobretudo por seu discurso consistente e profundo a cerca da questão da dominação. Através da narrativa que conjuga teoria e empiria, abre-se o caminho para uma nova compreensão dos conflitos e a perversidade da dominação de determinados grupos sobre outros e sobremaneira a aceitação da dominação. A dominação se realiza através do exercício do poder social e simbólico dos grupos dominantes que lhe confere a capacidade de impor como legítimas suas práticas, percepções e modos de vida. Bourdieu também encabeça a Escola que prega uma menor importância da economia na estratificação social e introduz a idéia dos diferentes capitais na constituição do sujeito, capital social, simbólico, econômico e cultural. Dos teóricos destacam-se os neoweberianos que vêem nos modos de consumo, na propriedade da moradia, elementos determinantes do status social; Castel (1997) através de sua teoria de exclusão permanente de uma grande parcela da população do mundo do trabalho assalariado afirma a importância crescente dos processos não-econômicos na definição das identidades sociais; Wilson (1987) e Wacquant (1995) evidenciam o “underclass” e os guetos respectivamente como novos segmentos. Alinhado com este discurso, o objetivo principal deste capítulo é a investigação a cerca da estrutura social do bairro da Tijuca, o estudo de caso, a partir das práticas, percepções e modos de vida de seus moradores buscando perceber a construção da identidade do Tijucano. Para isto, foram utilizados dados primários, obtidos através de questionários aplicados em moradores do bairro da Tijuca, conjugados com os conceitos apresentados e desenvolvidos por Bourdieu. 59 Os questionários foram divididos em dois tipos – os questionários 01 aplicados em chefes de domicílio e os questionários 02 para todos os outros (vide questionários em anexo). As questões, em sua maioria, são de múltipla escolha, o que facilita e torna mais rápido tanto a aplicação quanto o tabelamento das respostas. A última questão, “Como você definiria o Tijucano típico”, é específica para este trabalho, onde se buscou apreender as impressões, as opiniões, o relato dos moradores do bairro. Estes questionários foram desenvolvidos no âmbito do Observatório de Políticas Públicas/ IPPUR-UFRJ, como integrantes de uma pesquisa mais ampla comparativa acerca das regiões metropolitana do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. À reunião de elementos empíricos e analíticos presentes nesse campo de discussão faz-se mister a utilização de um mesmo modelo metodológico, o que permitirá a comparação entre as estruturas. Deste modo, nem todas as questões foram utilizadas neste trabalho, o que não as torna inútil pois servirão mais tarde para o trabalho comparativo entre as regiões metropolitanas, realizado no Observatório. A intenção com estes questionários era elaborar uma amostra qualitativa dos diferentes grupos sócio-demográficos encontrados no bairro e reagrupá-los considerando a quantidade de capital econômico e cultural. Partindo-se das ocupações, consideradas a síntese destes dois capitais, poderia acrescentar as diferenças de ethos e visão do mundo, práticas culturais e a casa. O caminho para esta diferenciação também considera a trajetória e não apenas sua posição atual. Os questionários foram aplicados pessoalmente para um maior controle das respostas e a certeza da compreensão por parte do entrevistado. A indicação dos entrevistados foi em sua maioria feita pela minha rede de relações, e de indicações dos já entrevistados, de maneira que não se pode dizer que a escolha foi aleatória. Entretanto respeitou-se o critério de abarcar uma maior variedade de perfis sociais possíveis. 60 A maioria dos questionários foi aplicada em residências dos entrevistados e quando não, no local de trabalho dos mesmos. Por ser muito extenso e possuir perguntas pessoais sobre renda, trabalho, cotidiano, rotina, a aplicação em locais públicos, como ruas, praças, dentro de ônibus/metrô era completamente inviável. Necessitávamos de uma apresentação inicial com referência e autorização prévia. Marcadas desta maneira, todas as entrevistas duravam cerca de 1 a 1 ½ h após a aplicação e pedíamos a indicação de outros moradores que pudessem colaborar. Embora na última parte do questionário 63% dos entrevistados afirmassem que se relacionam socialmente com pessoas de “classes sociais” acima e abaixo da “classe social” deles, as indicações sempre eram de pessoas com o mesmo perfil social e quando acontecia de indicarem porteiros, faxineiras, manicuras, etc, estes, sempre desconfiados, adiavam continuamente as entrevista até que delas se desistissem. Deste modo, o que se conseguiu foi graças à boa vontade, compreensão e solidariedade dos moradores da Tijuca na maior amplitude espacial, abarcando vários setores censitários. Após uma exaustiva aplicação destes, o resultado obtido foi: 56 questionários divididos em 22 chefes homens (19 brancos, 2 pardos e 1 negro), 13 chefes mulheres (todas brancas), 0 cônjuges homens, 12 cônjuges mulheres, 7 filhos e 2 outros. Quanto à faixa etária: 2 questionários de Jovens (15 a 24 anos), 21 adultos (25 a 44 anos), 26 Maduros (45 a 65 anos) e 7 idosos (acima de 65 anos). Agrupando-os de acordo com o modelo metodológico utilizado no Observatório de Políticas Públicas que tem a categoria ocupação como centralidade na estruturação e funcionamento da sociedade e explicitado, obtive-se quanto às essas categorias: 24 categorias Intelectual, 1 Pequena Burguesia, 18 de categorias Classe Média, 1 Proletário Terciário, 1 Proletário Secundário, 1 Sub-proletário e 11 donas-de-casa e estudantes. 61 A partir deste saldo, nota-se que algumas categorias ocupacionais, pertencentes às camadas médias, estão muito sobre-representadas em detrimento de outras, o que de certo modo, confirma a Tijuca enquanto espaço médio. MAPA 2. SETORES CENSITÁRIOS DA TIJUCA PESQUISADOS Com os resultados dos dados obtidos, não foi possível um mergulho em toda a realidade social do bairro, mas torna possível uma investigação acerca do universo das camadas médias urbanas. Este universo é bastante indefinido e pouco estudado, pois se apresenta como uma massa populacional amorfa, sem características ou propriedades específicas. Não pertencer às elites, ou camadas mais pobres é o requisito básico para se classificar enquanto pertencente as “camadas médias”. Pertencer a “classe média” ou as “camadas médias” é afirmação que a maioria da população faz ao ser interrogada a respeito do seu segmento social. O que realmente representa esta afirmação? 62 Deste modo, os dados obtidos no questionário são preciosos por possibilitar investigar o universo de camadas médias urbanas no Brasil, defrontado-as com o que as une e o que as diferencia entre si a partir dos novos conceitos de estruturação do espaço social. 3 . 2 O c o n c e i t o d e e s p a ç o s o c i a l A noção de espaço social é um conceito criado por Bourdieu que contrapõe a visão relacionista à visão existencialista de classes. Estas são ora construídas pelo intelectual enquanto uma classe real, um grupo mobilizado, pensamento que busca conseqüências políticas, ora como tipos ideais, podendo também se basear na visão economicista, princípio que rege um olhar reducionista a respeito do campo social, praticado principalmente por aqueles que não pertencem à sociologia. Em sua teoria, Bourdieu defende a não existência de classes reais, acredita em um espaço social, pronto para ser ocupado por classes em estado virtual, ou seja, “não como um dado, mas como algo que se trata de fazer” (BOURDIEU, 1996, p.50). Este espaço social se constitui a partir de tomadas de posições diferenciadas e coexistentes, distantes ou próximas, que só existem umas em relação às outras. Essas posições vão desenhando e contornando um determinado espaço, uma vez que são preenchidas por agentes ou grupos detentores de determinadas características, propriedades e práticas de comportamento. As características em nenhuma hipótese são estáticas e inerentes a determinados grupos sociais, como o quer o senso comum. É preciso, sobretudo, tomar cuidado para não transformar em propriedades necessárias e intrínsecas de um grupo qualquer, as propriedades que lhes cabem em um momento dado, a partir de sua posição em um espaço social determinado e em uma dada situação de oferta de bens e práticas possíveis como o faz Nelson Rodrigues em artigo publicado no livro de memórias “A Menina sem estrela” : “.(...) dobro a 63 esquina e quase esbarro com D. Odete. Com esse nome de Zona Norte, é minha vizinha em Ipanema. (na Zona Norte, para lá da Saenz Peña, há várias Odetes)” (CASTRO, 1999a, p.35). Esta afirmação mostra uma visão carregada de pré-conceitos. Remeter o nome Odete à Zona Norte é o modo substancialista de se pensar e o mais cômodo também. Destarte, deve-se deslocar a visão de grupos sociais e propriedades em si focalizando na relação entre grupos sociais e propriedades. Ou melhor, praticar o pensamento preconceituoso que imputa determinadas características a determinados grupos sociais é aceitar, sem questionar, a “verdade” que nos apresentam. É neste momento que devemos olhar o que está por trás de cada pensamento, buscar o interesse em que este e não aquele pensamento domine a representação social. A compreensão da sociedade aplicada à teoria do espaço social coloca a questão da relação como o ponto central para se entender o homem enquanto sociedade e a sociedade enquanto homem. Priorizar a relação é acabar com antagonismos do pensamento, sociedade e homem, subjetivo e objetivo, consciente e inconsciente e, por conseguinte romper com a doutrina aristotélica da essência necessária. Analisar as coisas a partir da sua essência é um movimento rotineiro do senso comum e um modo preconceituoso, porém ilusório principalmente em análise sociológica. Dessa forma, Bourdieu nos convida a abandonar o método de análise dos acontecimentos e coisas em si para uma espécie de esclarecimento das estruturas dos acontecimentos que tem como fonte principal à relação entre as coisas. Compreende-se esta articulação no fato de escolhermos determinados bens, determinando estilo de vida em detrimento a outro. Isto significa uma tomada de posição no espaço social. São exatamente as escolhas (tomadas de posição) ou mesmo a tendência para determinadas escolhas (disposição) por diferentes práticas, como comida, tipo de música, esporte, política, tipo de literatura que nos define socialmente em relação ao outro, por ocuparmos posições distintas relacionais. 64 O posicionamento, ou tomada de posição, implica necessariamente em uma diferenciação, conceito fundamental da noção de espaço enquanto conjunto de posições distintas e coexistentes, exteriores umas às outras, definidas umas em relação às outras. Assim, somos o que nos cercam, as propriedades e bens que tomamos para nós em relação ao que o outro toma para si fazendo que com ocupemos determinado lugar no espaço social diferente do outro. Para entender melhor a apropriação das diferentes posições no espaço social pelo indivíduo, Bourdieu afirma que esta é determinada pela posse ou não das diferentes propriedades atuantes. São elas, as propriedades, denominadas atuantes por não serem estáticas e funcionarem como princípios de construção dos atores sociais. 3 . 2 . 1 A s p r o p r i e d a d e s a t u a n t e s Propriedade é algo que pertence a alguém, ou mesmo algo que dispomos ou temos responsabilidade sobre. A propriedade pode ser possuída individual ou coletivamente e ser de natureza material ou não material. Em análises sociológicas o conceito de propriedade é fundamental na questão da desigualdade e diferenciação social. Propriedades atuantes, conceito formulado por Bourdieu, são os diferentes tipos de capital cultural e econômico. São assim denominadas por serem o princípio de construção do espaço social, isto é, possuir esta ou aquela quantidade deste e/ou daquele capital ou poder define o espaço social de cada indivíduo, ou grupo, estruturando assim o espaço social. O capital econômico, capital no seu sentido objetivado, são os bens materiais, o capital em espécie, imóveis, enfim, todo o conjunto de rendimentos e ganhos. Inegavelmente ainda possui o peso central como fator de distinção e ocupação neste espaço social, pois é o 65 que possibilita maior mobilidade e poder de compra e por isso geralmente seu volume possui uma relação de reciprocidade com o volume do capital cultural. O capital cultural pertence ao plano das idéias, dos conhecimentos, propriedades não materiais. Dizem-se propriedades não materiais por ser um capital adquirido através da educação qualquer que seja ela. Abrangem desde regras de etiqueta, de comportamento até a capacidade de falar, se expressar e escrever bem, o gosto por arte, por literatura. Associado à educação, este capital assegura sua reprodução na relação entre as estratégias das famílias e a lógica específica da instituição escolar. As famílias aparecem como a base das “estratégias de reprodução” e perpetuação de sua posição social. Quanto mais alto for o capital global, econômico e cultural, da família mais estas investem na educação de seus filhos garantindo seu estoque de capital cultural visto que a transmissão de bens materiais é garantida por lei. Aquelas famílias cujo capital econômico é baixo buscam garantir o futuro através da “boa educação” escolhendo para seus filhos os melhores colégios. Os moradores da Tijuca valorizam a boa educação. Nos depoimentos é freqüente a expressão “são educados”. T. 66 anos, aposentada, representante da categoria média afirma, “(...) O povo da Tijuca é tradicional, dá valor às raízes. Segura as rédeas, tradições de família. Educação mais rigorosa, filha não dorme fora de casa. Todo mundo come junto, respeitam-se os valores da família e a autoridade dos pais. Padrão do bairro” e V. 37 anos, secretária, confirma, “(...) O tijucano passa para os filhos os costumes, as tradições.(...)” Também enaltecem seus colégios tradicionais e a educação institucional. Confirma esta afirmação a grande representabilidade da categoria intelectual frente às outras áreas e o fato de que dentre os entrevistados, os filhos, residindo em casa e que não mais estudem, possuem senão um grau de instrução maior, o mesmo que o do pai. Nunca o pai tem maior escolaridade que o filho que já terminou os estudos. 66 O aporte de capital cultural também rende lucros gerando capital social, o relacionamento, a aceitação e o reconhecimento por parte dos grupos, e capital simbólico, revestido em fama, prestígio, reputação. Estas outras espécies transformadas de capital podem ter o mesmo ou até um maior poder do que o capital econômico, dependendo do campo das disputas. Jorginho Guinle, ex-proprietário do Copacabana Palace, ilustra perfeitamente como um capital social e cultural pode ser bem empregado com a criação de sua agência de turismo, a Glamourtur. Através do conhecimento cultural e social adquirido ao longo de sua vida de playboy é possível oferecê-los aos novos endinheirados, ávidos de capital cultural e social, em forma de pacote turístico. As propriedades atuantes, adquiridas primeiramente através da educação, família e escola, podem também ser compradas. Viajar para a Europa com Jorge Guinle pode ser um magnífico aprendizado. Tem-se, portanto a aquisição de capital cultural que não através da família. Comprar marcas, relógios e canetas com grife, marcas de carros reconhecidos mundialmente pelo seu alto preço são maneiras de ostentar sua posição social. Mas enganam-se aqueles que imaginam que o simples fato de adquirir objetos de grande valor simbólico, através de capital econômico, o desloca no espaço social. O modo como são usados estes símbolos, como por exemplo, os tapetes persas, se em casa ou dentro do carro é mister na representação do espaço social que se ocupa. A grande corrida dos emergentes pelo reconhecimento social acaba no limite de possuir apenas capital econômico. Toda vez que vai ser lançado uma nova edição do livro Sociedade Brasileira, catálogo de telefones e endereços, sua autora, Helena Godim, recebe dezenas de telefonemas querendo saber quem irá constar ou não na próxima edição. Tem gente capaz de qualquer coisa para pertencer ao time dos notáveis, mas segundo sua autora, jogadores de futebol e emergentes da Barra da Tijuca estão barrados para sempre. Segundo Godim, “esses dois grupos não tem perfil para a ampliadíssima lista. Não é preciso ser rico para entrar, mas ter uma boa educação, 67 andar em boas companhias” (VEJA RIO, 2002, p. 6). Antes de tudo, requer-se indicação de alguém que já esteja na lista. Ora o que é isso senão possuir capital cultural e social! Destarte, o que faz dos diversos capitais, propriedades atuantes, é o fato destes serem a retradução do habitus, o espaço das disposições. O habitus sendo um corpo socializado, estruturado que incorporou as estruturas imanentes de um mundo que estrutura tanto a percepção desse mundo quanto a ação nesse mundo. 3 . 3 O p a p e l u n i f i c a d o r d o h a b i t u s A noção de habitus determina a relação entre subjetividade e objetividade. A realidade objetivada do espaço de posições sociais é internalizada pelo indivíduo, semeando assim disposições individuais que, na verdade, espelham a sua própria posição no espaço social e vão se traduzir em comportamentos, ou seja, pré-disposições para pensar, agir e sentir. O habitus é um conhecimento adquirido e também um haver, uma disposição incorporada em acordo com a realidade social a qual se está inserido. O resgate do conceito de habitus é de fundamental importância para o debate sociológico em torno da questão “objetividade/subjetividade” inerente às ciências sociais. O conceito de habitus foi utilizado nesse século, primeiramente por Panosfky (1991), no livro “Arquitetura Gótica e Escolástica”. Este conceito foi retirado da própria escolástica para explicar a organicidade da relação entre o estilo gótico e a escolástica, ressaltando a contemporaneidade existente entre os três períodos daquela arquitetura e os três períodos da escolástica. Para o autor o que aconteceu no período entre 1130 e próximo a 1270 não foi um simples paralelismos ou influência direta exercida pelos filósofos sobre os arquitetos mas, em contraste com um mero desenvolvimento paralelo, trata-se, no caso da conexão a que me 68 refiro, de uma verdadeira relação de causa e efeito; entretanto, contrariamente à influência individual, essa relação de causa e efeito resulta de um processo de difusão genérico, e não de influências diretas. Forma-se a partir do que poderíamos denominar, um hábito mental _através do qual compreendemos esse surrado lugar-comum em seu sentido exato, escolástico, como “princípio que rege a ação” Ao contrário da visão histórica corrente, de que períodos históricos se diferenciam por um paradigma compartilhado, Panofsky (1991) mostra através de um conceito extraído da própria escolástica que a força motriz capaz de moldar hábitos mentais era a própria escolástica, uma vez que detinha a formação intelectual naquele âmbito restrito. Os arquitetos do gótico dificilmente leram Tomás de Aquino ou qualquer outro filósofo escolasta, mas por necessidade da profissão estavam sempre em contato com a doutrina e empregavam um modo especial de procedimento, o modus operandi que deveria ser assimilado pelo leigo assim que ele entrasse em contato com a obra arquitetônica. Resgatar o conceito de habitus, assim entendido para os dias de hoje, implica em primeiro lugar definir um modo de conhecimento que pretende acabar com a antiga polêmica entre o pensamento objetivista e o subjetivista, através de uma relação dialética entre o sujeito e o mundo objetivado, uma vez que o ser incorpora o mundo. Em um segundo lugar dizer do habitus como aquilo que é incorporado significa comprometê-lo com uma certa moral, uma determinada perspectiva e assim como uma espécie de dominação, pois quando se incorpora algo deve se entender como. Do ponto de vista sociológico o antagonismo se reveste em dois clássicos, Durkheim e Weber18. Desses dois teóricos fundamentais para a construção da sociologia, o aspecto econômico tem seu papel reduzido, ambos fugindo de uma leitura economicista do homem. Para Durkheim, o homem é gerado pela sociedade e não pelo mercado e Weber, por 18 Para uma melhor compreensão da relação destes autores conferir ORTIZ, Renato. A procura de uma sociologia da prática. In: ORTIZ, Renato. (Org.). Pierre Bourdieu: Sociologia. São Paulo: Ática, 1994. p. 7-36. 69 seu turno, mostra que as motivações individuais não são apenas materiais, mas incluem o poder político e prestígio social. A sociologia de Durkheim acredita na existência de uma essência transcendente que cria a consciência coletiva formadora dos sujeitos sociais. De outro modo, o indivíduo social possui uma dimensão coletiva, a sociedade, o universo moral e uma realidade distinta que não é apenas o somatório dos indivíduos que a compõem. O indivíduo social é aquele cuja consciência não é apenas informada, mas gerada pela sociedade. A sociedade é uma abstração, realidade objetiva que determina toda e qualquer ação do sujeito transformando coercitivamente o sujeito individual em ser social. Ora, para Bourdieu não existe uma distinção entre o ser indivíduo e o ser social, o que leva a refletir sobre os postulados de Weber. Weber refuta a tese de um “mundo objetivo”, ou seja, como estrutura estruturada, visto que a objetividade do social só pode ser apreendida através de ações individuais. O sentido da ação, do comportamento é dado a partir do indivíduo. A ação se desloca para o princípio das coisas, do mundo, não existe mais a sociedade como totalidade, mas enquanto uma rede de intersubjetividades que tem como origem a ação do ser individual. Ora, para Bourdieu o que é o ser individual senão o ser social? Esta premissa leva Bourdieu a buscar a superação do objetivismo sem no entanto cair no subjetivismo. Deste modo o conceito de habitus de origem escolástica adquire novos elementos na leitura de Bourdieu que o define como o sistema de disposições duráveis, estruturas estruturadas predispostas a funcionarem com estruturas estruturantes, isto é, como princípio que gera e estrutura as práticas e as representações que podem ser objetivamente ‘regulamentadas’e ‘reguladas’ sem que por isso sejam o produto de obediência a regras, objetivamente adaptadas a um fim, sem que se tenha necessidade da projeção consciente deste fim, sem que se tenha necessidade da projeção consciente deste fim ou do domínio das operações para atingi-lo, mas sendo, ao mesmo tempo, coletivamente orquestradas sem serem o produto da ação organizadora de um maestro. (BOURDIEU, 1972 In: ORTIZ, 1994, p.61) 70 Deste modo, o habitus configura-se enquanto o conjunto de saberes e normas sem termos a consciência de sua existência. O habitus é o princípio gerador e unificador que retraduz as características intrínsecas e relacionais de uma posição em um estilo de vida, que é um conjunto de escolhas pessoais, de bens e práticas, enfim o gosto. 3.4 Gostos e vocação, ou melhor habitus O Gosto, principalmente por cultura e a vocação, o chamado, a princípio são vistos como dádivas da natureza. Após observações empíricas, Bourdieu estabelece a existência de uma relação entre os bens culturais, disposições e o espaço social. A existência de uma economia de bens culturais é defendida por ele sobremaneira em seu livro La Distincion, onde afirma que o gosto e estilo de vida devem ser considerados como práticas socialmente construídas e produtos de disciplina e educação. Por vocação deve-se entender a mesma coisa. Vocação é aquilo que nos chama, logicamente não se trata de uma voz “do além”, transcendente, mas um chamado interno, intrínseco a natureza humana, pois parte de nós mesmos. Esta é a chave para se entender que a vocação não é nada senão a disposição que se incorpora em acordo com as circunstâncias que nos rodeiam. Ortega Y Gasset (1987), em toda sua obra, se preocupou com a caracterização da vida humana e com a Espanha. A vida humana foi reduzida em três grandes fatores: a vocação, a circunstância e o azar. A vocação e a circunstância são magnitudes dadas e o azar é o fator irracional da vida, o acaso. A Espanha deste autor foi ressaltada a partir de seus personagens Velásquez, Goya, Quixote, etc. A pergunta: Qual era a vocação de Velásquez? A pintura é claro, diríamos. Ao que retruca Ortega, a pintura para Velásquez não era nada além das suas circunstâncias para atingir sua verdadeira vocação “Ser Nobre”. Velásquez viveu como pintor na corte de Espanha, 71 reinado de Felipe IV usufruindo todas as regalias do Palácio e pintando muito pouco em relação a outros artistas da mesma época. Velásquez provinha de uma família de nobres emigrados, descendentes do rei de Alba, porém sem fortuna. No fundo de sua alma imperava: “Velásquez tienes que ser un noble” (ORTEGA Y GASSET, 1987, p. 27). Ora isto não é nada senão o habitus adquirido em seu meio familiar, o centro do dispositivo da reprodução social que através de sua educação, o capital cultural que conforma as experiências ligadas ao meio familiar, pode ser realizado. O gosto pelas coisas e o consumo destas também são disposições adquiridas que servem para diferenciar e apreciar. São marcas registradas através do processo de distinção, funcionando como uma espécie de orientação social que leva a uma incorreta associação de grifes, marcas, estilos, hábitos, atividades esportivas a determinados segmentos sociais. De um modo grosseiro, seremos ricos se tivermos um carro importado do ano, um celular startac, uma cobertura de frente para o mar, jóias, se formos à ópera, ao teatro.... Essa relação inexistente, que leva a tratar as atividades ou preferências próprias a certos indivíduos ou a certos grupos da sociedade como propriedades substanciais, ganha mais força e se cristaliza no senso comum através da mídia, do merchandising. Utilizando-se com maestria a imagem de que somos aquilo que consumimos e com quem nos relacionamos, a propaganda ajuda a perpetuar este pensamento. Idéias assim são responsáveis pelo comportamento típico dos “emergentes”, aqueles que adquiriram muito dinheiro em pouco tempo e desejam emergir no meio social. A nova sociedade emergente com ambição desmedida por holofotes, sonha conquistar as colunas sociais da cidade. Festas megalômanas, Mercedes bem BMW. Boates em casa. “o dinheiro jorrava e gastava-se tudo sem pudor. Entrava em lojas como Armani, Versace e comprava todas as cores de um mesmo modelo” (VEJA RIO, 2000, p.7). 72 Dessa forma quando se tem um espírito estruturado de acordo com as estruturas do mundo no qual se está lançado, tudo parecerá evidente e a questão de saber se o jogo vale a pena não é sequer colocada. Afinal, a principal estratégia dos jogos sociais é de que os jogos se fazem esquecer enquanto tais. Existe um acordo tácito e oculto a respeito do fato de que vale a pena lutar a respeito das coisas que estão em jogo no campo, ou seja, se luta pelo poder sobre os esquemas e sistemas classificatórios que são a base das representações de grupos e portanto de sua mobilização. 3.5 P r á t i c a s e p r o p r i e d a d e s A cada posição distinta no espaço social correspondem estilos de vida: práticas e propriedades. T. 54 anos, dona-de-casa, afirma: “Não existe um tijucano típico, isso é pura invenção, o que distingue é o tipo da profissão.” Tem-se portanto a retradução simbólica das diferenças inscritas objetivamente através do habitus, nesse caso a escolha pela profissão, que por sua vez é determinado pela posição no espaço social. Este círculo tem como princípio e fim o habitus. Embora o habitus seja um conceito, a sua materialidade é percebida através daquilo de que os indivíduos se cercam, as roupas, o interior da casa, os móveis, os quadros, os livros e de suas escolhas sejam estas distrações culturais, práticas de esportes, etc. Todavia, o que alicerça o espaço social das sociedades capitalistas modernas são dois princípios de diferenciação, o capital econômico e o capital cultural. A quantidade e a composição destes dois princípios diferenciadores define a posição ocupa pelo agente. Transpondo este conceito para o papel, enxergamos de um modo esquemático a representação gráfica de como os diversos agentes sociais se dispõem espacialmente em um plano definido pelos eixos x e y. 73 A dimensão do eixo y representa o volume dos dois capitais, a soma do capital econômico e do cultural. Este eixo demarca posições sociais opostas claramente percebidas, como empresários, profissionais liberais em oposição a operários não qualificados, empregados domésticos. Para dar conta de um maior refinamento, o eixo x comporta a composição do capital, quer dizer, separa os detentores de maior capital cultural e menor capital econômico e aqueles que possuem mais capital econômico em detrimento do cultural. Esta dimensão é fundamental para marcar diferenças, oposições não percebidas facilmente. Deste modo, relação entre os diferentes capitais apresenta uma tabela onde as posições são ocupadas em primeiro lugar pela quantidade de ambos e depois pela especificidade de cada um destes capitais. Com o objetivo de condensar informações a respeito da renda (capital econômico) e nível de instrução (capital cultural) utilizou-se a variável sócio-ocupacional já mencionada no capítulo 2 deste trabalho. Agrupados todos os entrevistados, focalizamos apenas naquelas ocupações com alguma representatividade qualitativa, ou seja, 24 questionários pertencentes à Categoria Intelectual e 18 questionários pertencentes à Categoria Média. No quadro abaixo se pode observar que a Categoria Intelectual é proprietária de seus imóveis ou mora em algum cedido possivelmente por familiares e que a Média reside em sua maioria em imóveis alugados ou próprios financiados. TABELA 3.1 CONDIÇÃO DE OCUPAÇÃO DO DOMICÍLIO DAS CATEGORIAS CAT. INTELECTUAL CATEGORIA MÉDIA Próprio à vista IMÓVEL Próprio financiado 8 6 Alugado 5 Cedido por particular 3 4 0 4 1 74 No caso de ser proprietário do imóvel, nota-se a diferença no valor do mesmo para as duas categorias: Categoria Intelectual possui apartamentos que variam na faixa de R$ 70.000,00 a R$ 280.000,00 e Categoria Média, por sua vez possui imóveis na faixa de R$ 40.000,00 a R$ 85.000,00. Em relação aos bens de valor menor, as categorias se equiparam, a maioria possui 2 aparelhos de TV e utilizam os serviços de TV por assinatura. Entretanto quando se trata de eletrodomésticos mais caros o Freezer aparece como diferenciador, bem como utilizar o serviço de internet, que se subtende possuir ou não um micro-computador. Todavia, o carro e uma 2a moradia são privilégios, em sua maioria da categoria intelectual TABELA 3.2 RIQUEZA SOCIAL DAS CATEGORIAS TV 1 CAT. INTELECTUAL CATEGORIA MÉDIA 6 2 ou + 11 4 10 RIQUEZA SOCIAL TV Freezer Internet assinatura não Sim 0 1 não sim 2a moradia carro não sim não sim 7 10 6 11 6 11 8 9 1 16 5 9 10 4 10 4 9 6 7 6 Possuir no mínimo o 3o grau é condição sine qua non para pertencer a Categoria Intelectual, diferentemente da Categoria Média que não tem esta condição como essencial. Entretanto, alguns representantes da Categoria Média podem possuir o 3o grau, pois o que é conta nessa taxionomia é a ocupação e não a profissão. Deste modo, o capital educacional é fundamentalmente mais elevado na Categoria Intelectual do que na Média. Isto pode ser constatado na questão que se refere a línguas estrangeiras. 75 TABELA 3.3 CONHECIMENTO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS PELAS CATEGORIAS CAT. INTELECTUAL CATEGORIA MÉDIA Nenhuma 7 LÍNGUAS ESTRANGEIRAS Inglês Francês Alemão Espanhol 10 5 3 4 13 4 1 0 1 Italiano 1 Outras 2 0 0 Observa-se que o Inglês é o idioma mais falado nas duas categorias, porém o número de pessoas que falam uma outra língua além do português é muito mais acentuado na primeira categoria. A necessidade de saber outro idioma está cada vez mais associada a ocupações com um maior grau de autonomia sem contar o status social que isto representa. Definidas as duas categorias a serem trabalhadas com seus distintos capitais, econômico e cultural, expostos passa-se para o ponto seguinte, o consumo distinto de ambas posições no espaço social. Entender o consumo em função apenas da necessidade do objeto é priorizar o valor de uso deste objeto. Todavia o valor de troca-signo também é fundamental, como Marx já constatara no primeiro livro do Capital. “O fetichismo da mercadoria” é o exemplo mais simples e universal da maneira pela qual as formas econômicas do capitalismo ocultam as relações sociais a ele associadas. Atreladas a estas posições distribuem-se os diferentes estilos de vida, os gostos para determinadas propriedades e as práticas distintas. Desse modo, os gostos obedecem, assim a uma espécie de lei de Engels generalizada: a cada nível de distribuição, o que é raro e constitui um luxo inacessível ou uma fantasia absurda para os ocupantes do nível anterior ou inferior, torna-se banal ou comum, e se encontra relegado à ordem do necessário, do evidente, pelo aparecimento de novos consumos, mais raros e, portanto, mais distintivos (BOURDIEU, 1976 In: ORTIZ, 1994, p.85). Neste sentido, à medida que cresce a distância objetiva em relação à necessidade, o estilo de vida se torna, sempre, cada vez mais o produto de uma “estilização da vida”. Para melhor entender, deve-se ficar claro que a decisão que orienta e organiza as práticas é sistemática. A escolha de um vinho, comida ou, por exemplo, o espaço da casa, os móveis 76 sempre corresponderão à posição que se ocupa no espaço social. E é isto, que se verá mais adiante através dos resultados empíricos obtidos com a aplicação dos questionários. 3.5.1 B e b e r , C o m e r , L e r e M o r a r A bebida, a comida, o jornal e o interior da casa são “propriedades” de que se cercam os grupos ou indivíduos e constituem o estilo de vida que simboliza a posição que se ocupa no espaço social. Outras propriedades como roupa, linguagem, modo de se expressar, cigarro, perfume, poderiam obviamente ser considerados, mas em função do tamanho dos questionários, optou-se por uma síntese expressa nestas quatro “ações” fundamentais do homem moderno. A bebida preferida na celebração de uma grande ocasião – foi dessa maneira, a orientação da questão na tentativa de não direcionar o entrevistado. Escolher a bebida dentre as que se está acostumado retrata mais fielmente as preferências pessoais. Apresentar um elenco de opções gera a possibilidade do entrevistado escolher em função do que ele gostaria de parecer e não o que ele realmente é, ou no caso, estar acostumado a beber. Deste modo, conseguiu-se um padrão no comportamento das duas categorias. TABELA 3.4 PREFERÊNCIA DE BEBIDAS PELAS CATEGORIAS CHAMPAGNE CAT. INTELECTUAL CATEGORIA MÉDIA BEBIDAS PREDILETAS WHISKY VINHO CERVEJA/CHOPE 4 2 9 4 NÃO BEBEM ÁLCOOL 6 2 0 3 8 6 Nota-se que o vinho, preferência da categoria intelectual, se coloca em oposição ao chope na preferência da categoria média. Com isso, arrisca-se a supor que o fato do senso 77 comum considerar o chope ou cerveja, a bebida predileta do carioca pode estar em função desta preferência ser predominante na categoria que mais representantes existe no Rio de Janeiro. A comida, da Mata (1986) já afirmava, vale tanto para indicar o ato de alimentar-se quanto para definir identidades pessoais, estilos de ser, de fazer, de estar e, sobretudo de viver. Segundo este autor, a comida do brasileiro é o feijão-com-arroz, utilizada também como metáfora da nossa rotina, do comum. A síntese do preto e branco agrada ao brasileiro_ o ser intermediário_ que nossa sociedade aceita a mesa e na cama. Entretanto não é isto que se observa nas respostas ao questionário. Frutos do Mar e Massas são os preferidos da categoria intelectual em oposição ao Churrasco e ao Arroz com Feijão. TABELA 3.5 TIPO DE COMIDA PREFERIDA PELAS CATEGORIAS CAT. INTELECTUAL CAT. MÉDIA Frutos do Mar 7 PRATOS PREDILETOS Massas 8 Churrasco 4 Arroz e Feijão 0 1 4 5 5 A partir da afirmação de da Mata (op. cit.), observa-se mais uma vez, que a preferência das categorias médias é tomada como típica do brasileiro. Ler o jornal diariamente é a prece do homem moderno – a necessidade cotidiana de nos informarmos acerca dos acontecimentos no mundo. Na Tijuca todos os entrevistados afirmaram ler jornal, pelo menos uma vez durante a semana. Entretanto, a diferença se afirma na leitura dos diferentes jornais. TABELA 3.6 MARCAS DE JORNAIS PREFERIDAS PELAS CATEGORIAS CATEG. INTELECTUAL CATEGORIA MÉDIA O Globo 16 JB 3 6 0 JORNAL Folha de SP 2 1 O Dia 1 Extra 0 8 0 78 O jornal O Globo é o mais lido, dentre todos os outros. Porém se opõe, no que tange às preferências das categorias, ao jornal O Dia. Este segundo é classificado como popular cujas manchetes se voltam para questões como esportes e crimes. O Globo é um jornal maior, mais caro e que privilegia a política e economia. Por fim, a casa “(....) é nosso canto no mundo. Ela é, como se diz amiúde, o nosso primeiro universo.” (BACHELARD, 1989, p.12). Dentre as “propriedades” a casa é a mais importante, pois todo espaço habitado traz a essência da noção do que consideramos casa. Cada vez que muda-se de endereço, leva-se consigo todo um passado, tudo o que somos, nossa história de vida. Como afirma Bachelard (op. cit.), a casa abriga o devaneio, a casa protege o sonhador, a casa permite sonhar em paz, ela representa o que somos, nos posiciona na relação do espaço social. TABELA 3.7 PREFERÊNCIAS PELA CONFORMAÇÃO DO INTERIOR DO DOMICÍLIO DE ACORDO COM AS CATEGORIAS amplo harmonioso Íntimo, aconchegante arrumado Fácil manutenção Sóbrio, discreto CATEG. 11 INTELECTUAL CATEGORIA 3 MÉDIA limpo, cuidado confortável bem INTERIOR DA CASA 2 3 6 0 1 0 1 2 3 1 2 2 2 3 Preferencialmente a categoria intelectual elege o conforto como a coisa mais importante em uma casa, afinal o desenvolvimento dos segmentos médios exalta a possibilidade de uma vida mais confortável, sem excessos, mas sem privações. Esta preferência se justifica uma vez que questões como limpeza e arrumação não passam pela cabeça, pois parte-se de uma casa assim. A quantidade de resposta da categoria média não oferece nenhuma possibilidade de análise, mais questionários seriam necessários. 79 A maioria da categoria intelectual torna o interior de sua casa mais confortável com a aquisição de móveis em pequenas e grandes lojas, assim como a categoria média. Ora, sabe-se que são os grandes magazines que possuem os móveis mais baratos. Assim em um jogo de compensações compra-se em grandes os mais caros e outros de menor porte em lojas mais exclusivas como as pequenas. TABELA 3.8 LUGAR DE AQUISIÇÃO DO MOBILIÁRIO DO DOMICÍLIO DE ACORDO COM AS CATEGORIAS Pequenas lojas Grandes magazines Serviço particular Doações CAT. 3 INTELECTUAL CATEGORIA 0 MÉDIA Design antiquário ONDE ADQUIRE OS MÓVEIS? 6 7 7 0 0 1 5 5 3 4 Buscando mais exclusividade ainda a categoria intelectual diferentemente da média também escolhe peças de casa em lojas de Design e antiquários, é a necessidade de se diferenciar. Diferenciação é a palavra chave deste capítulo que buscou mostrar que existem diferenças, mas estas nem sempre estão onde se imagina. O termo tijucano é forte, traduz uma identidade defendida pelos moradores do bairro, porém é algo que os aproxima e ao mesmo os diferencia. K. 48 anos, secretária, sintetiza: “Existem vários tijucanos. Não gosto de rótulos. Não tem um sentido, apenas moram no mesmo lugar, o que diferencia é a profissão”. Todavia o espaço social não está descolado do físico, pois:“Tijucano é aquele que nasce, cresce e morre na Tijuca” P. 35 anos, prof. de matemática. 80 4 E S P A Ç O o u c 4.1. O S o t m a t P E R C E B I D O o u s s e d o h s a b b a i i t r r a o s Foi o próprio senso comum que se encarregou de perpetuar no nosso linguajar cotidiano, termos pejorativos como “favelado”, “suburbano”, “nordestino”, etc. O fato de esses termos terem sua unidade significativa ou radical advindos dos substantivos que denominam determinados lugares físicos, por sua vez vistos como problemáticos, não pode ser desconsiderado. De outro modo, nomear alguém, no sentido de caracterizar negativamente, a partir da sua origem espacial é incorrer em uma incompreensão. Raciocinar desta maneira é praticar o pensamento ingenuamente substancialista, que vê o lugar como uma realidade em si capaz de moldar o sujeito que lá vive. Este olhar ingênuo pode até mesmo se transformar em poética, como nos escritos de João do Rio, Nas grandes cidades a rua passa a criar o seu tipo, a plasmar o moral dos seus habitantes, a inocular-lhes misteriosamente gostos, costumes, hábitos, modos, opiniões políticas_ porque cada rua tem um stock especial de expressos, de idéias e de gostos. A gente de Botafogo vai às “primeiras” do lírico, mesmo sem ter dinheiro. A gente da Haddock Lobo tem dinheiro mas raramente vai ao Lírico. Os moradores da Tijuca aplaudem Sara Bernhardt como um prodígio. Oh! Sim, a rua faz o indivíduo, nós bem sentimos. (DO RIO, 1905 In: ANTELO, 1997 p. 67) Entretanto é necessário esclarecer que a rua, o lugar não faz o indivíduo! É preciso, sobretudo romper com o discurso recebido e superar o senso comum, pois o 81 pensamento que pode também gerar imagens poéticas como as projetadas nas palavras de João do Rio é produto de uma dominação. Neste caso, não a dominação à força, do poder coercitivo ou de leis impostas, do qual se produz uma revolta, mas de uma dominação exercida de uma maneira muito mais perversa, sutil, introjetada através dos sistemas simbólicos. E por ser um poder transformado, exercido sobre o que não se vê, é muito mais violento e efiocaz. Assim em oposição às imagens poéticas de João do Rio, as palavras de T. 66 anos, moradora da Tijuca há 20 anos, expressam o seu desconforto: “Quando eu ia às festinhas do pessoal do trabalho, ouvia as pessoas comentarem: “ah, isto é coisa de suburbano, de mau gosto” aí ficava bem caladinha pois morava no Méier, tinha vergonha. Hoje morando na Tijuca não sou mais considerada suburbana_ a Tijuca é a zona Sul da zona Norte”. Por que sentir vergonha, morando no Méier? Esta declaração evidencia como o poder simbólico faz ver e acreditar, confirma ou transforma a visão de mundo, e desta maneira, age sobre o mundo transformando-o também. Para T. morar no subúrbio passou a ser motivo de vergonha a partir do momento em que seus colegas de trabalho ridicularizaram os moradores do subúrbio, considerando-os como pessoas de mau gosto. Questionar o porquê disto não é cogitado, simplesmente se aceita o que se fala, sobretudo quando é dito por pessoas que se considera melhores ou em grupos. Morando agora na Tijuca, T. se orgulha, ou seja, o discurso dominante foi aceito e se reproduz. A crença na legitimidade das palavras é como o poder das palavras é exercido principalmente por aqueles que a pronunciam. Pode-se fazer crer que os problemas se originam de um determinado lugar, como, por exemplo, nas favelas e na Baixada enquanto outros lugares são considerados espaços tranqüilos ou sofisticados, como a Barra e o Leblon. A hierarquização dos espaços através da dimensão simbólica destes é uma disputa e um instrumento de poder. Poder este, percebido ou não, é aceito por todos enquanto um mapa 82 hierárquico dos bairros do Rio de Janeiro, que influencia escolhas, provoca desejos e define preferências. Considerou-se por status dos bairros, o grau de prestígio, importância, valor, por fim a honra positiva ou negativa de se morar em um determinado bairro. Deste modo foi feita uma estimativa entre os moradores da Tijuca, desconsiderando-se a pertença às diferentes categorias sociais acerca do grau de importância de distintos bairros apresentados em um quadro, obedecendo à ordem do melhor para o pior. Por ser um termo puramente relacional, a escolha quanto aos bairros, pretende-se pontuar representantes das diferentes regiões do Rio de Janeiro. De modo independente das categorias trabalhadas nos dois capítulos anteriores, as respostas à questão da hierarquização de alguns bairros e regiões do Rio de Janeiro apresentam uma grande convergência, podendo ser observada nos gráficos apresentados a seguir. QUADRO 1 BAIRROS DE STATUS ALTO E MUITO ALTO DE ACORDO COM OS TIJUCANOS Bairros de Status Alto e muito Alto 50 40 40 20 Lagoa 31 30 Ipanema 24 Barra 14 10 0 muito alto alto Gávea 1 1 médio baixo muito baixo níveis de status O bairro Lagoa é o mais distinto, em termos de status entre os bairros. É o lugar de status muito alto, de acordo com os moradores da Tijuca. E não é à toa que foi eleito, em várias matérias em jornais e revistas como o bairro de melhor e maior qualidade de vida da cidade carioca (o que só corrobora para difundir esta imagem). No que concerne aos seus moradores e a partir do que foi mostrado no capítulo 2, nota-se que a Lagoa possui a maior 83 representatividade da Categoria Elite Dirigente e da Pequena Burguesia dentre todos os bairros trabalhados, perfazendo um total de 14,2% e 29,54% da sua configuração social, respectivamente. A questão que surge neste ponto é a importância da relação entre prestígio do bairro e a sobre ou sub-representação de categorias sociais. Perguntar o status de um bairro aparentemente é uma pergunta simples e que não apresentou maiores dificuldades nas aplicações dos questionários, entretanto, clarifica a propriedade biunívoca do conceito do Lugar. Bourdieu vai partir desta definição de lugar para chegar às noções de espaço social e espaço físico nele contido. São exatamente estas duas noções de espaço que são o todo do lugar. Estes dois conceitos se interpenetram de modo que a posição ocupada por um indivíduo no espaço social se reflete na sua localização no espaço físico na medida em que este se apropria dos valores simbólicos e materiais expressos pelos mesmos. No caso da Lagoa parece existir uma correspondência entre o que é e o que parecer ser, ou seja, é um bairro elitizado e de acordo com Cardoso (1984) continuará assim, pois “a produção empresarial, tende, não apenas a trabalhar com faixas de maior poder aquisitivo, como também a privilegiar as áreas que apresentam uma maior concentração desta população em relação aos setores mais pobres” Assim, é deste modo que as grandes incorporadoras reproduzem e aprofundam os processos de segregação social no espaço. O setor empresarial é o primeiro a se apropriar das imagens, da propaganda, do poder simbolizador para “fazer um bom negócio”. Copacabana surgiu desta maneira. A união entre as construtoras e o Estado, associados a um novo estilo de vida foi o responsável pelo surgimento e desenvolvimento deste bairro. Ao mesmo tempo, a Tijuca considerada um bairro de Elite, perdia seu prestígio. 84 Assim como uma Doris Day, cantora e atriz pela qual todas as pessoas se apaixonavam nos anos 50 e nos anos 70 foi vítima da sua própria imagem, a castidade, sendo duramente rejeitada (CASTRO, 1994), a Tijuca nos anos 60 e 70 sofreu perdas em função do movimento migratório em busca de ascensão social identificado por Gilberto Velho (1973) no seu estudo sobre Copacabana nestes anos, quando contingentes populacionais migravam em massa para esse bairro em busca da “utopia urbana”. A “princesinha do mar” representa no imaginário carioca a modernidade e o progresso e é a ruptura com uma sociedade colonial e seu estilo de vida. A nova relação que seus apartamentos criam com a rua determina os novos comportamentos e modos de vida. (RIBEIRO; et al., 1997). Gilberto Velho (op. cit.) mostra, em sua dissertação de mestrado, que uma parcela considerável da população era proveniente da Tijuca e tinha como justificativa “não ter o que fazer no bairro”, “os vizinhos tomarem conta da sua vida”, etc. Atualmente percebe-se a mágoa pela perda do prestígio para Copacabana quando se compara o status destes dois bairros. QUADRO 2 BAIRROS DE STATUS MÉDIO DE ACORDO COM OS TIJUCANOS Bairros de Status Médio 60 Botafogo 50 45 40 Tijuca 37 Copacabana 30 Vila Isabel 20 Jacarepaguá 10 0 10 9 10 Méier 1 muito alto alto médio baixo muito baixo níveis de status Apesar de estes dois bairros, de acordo com os entrevistados, terem status médio, a Tijuca está em melhor posição dentre todos os outros bairros classificados como médios e Copacabana só não é pior do que o Méier. 85 Na opinião de alguns entrevistados, os lugares de status muito baixo são apenas as favelas. Nenhum bairro, ou região “merece” este título tão desonroso, apesar de se destacarem Pavuna e a região da Baixada. Entretanto um certo desconhecimento acerca destes bairros e da região metropolitana do Rio de Janeiro ficou muito claro, afinal não são lugares, segundo eles, que freqüentem, o que se sabe é o que se ouviu falar. QUADRO 3 BAIRROS DE STATUS BAIXO E MUITO BAIXO DE ACORDO COM OS TIJUCANOS Bairros de Status Baixo e Muito Baixo 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Catete 43 São Cristóvão 27 Bonsucesso 28 Madureira Pavuna Baixada 7 5 Centro 1 muito alto alto médio baixo muito baixo níveis de status O Méier e Madureira são dois bairros que dividem um pouco a opinião dos entrevistados. Segundo a trajetória e história de vida, muitos têm relações muito próximas com estes dois bairros, o que obviamente eleva o seu nível de status. Existindo comentários do tipo: “O Méier apesar de ser subúrbio é muito bom”. “Madureira não é tão ruim quanto se falam”. Essa disposição para hierarquizar os lugares do Rio de Janeiro é algo dialeticamente individual e social. Embora o julgamento seja individual, o caráter social está sempre presente como determinante deste julgamento. Disso decorre que as relações de poder, principalmente o simbólico, são fundamentais para desenhar o mapa social da cidade. Nesse sentido, o poder simbólico determina aspirações residenciais, preferências de bairro, desejos de consumo e identificações com os lugares. De alguma forma, o sujeito decide e escolhe um caminho específico. O fato de se mover espacialmente, ou não, para um 86 lugar ou outro, decorre de uma decisão voluntária e enfatiza a existência de um sujeito individualizante. Todavia uma decisão voluntária não significa uma decisão livre, mas sim uma decisão orientada pelo habitus. 4 . 2 T r a j e t ó r i a n o s E s p a ç o s A forma individual da disputa pelos lugares e os benefícios a eles associados, se expressa na mobilidade espacial, seja esta um deslocamento de um país para outro, do interior para a capital, vice-versa, de um bairro para o outro e mesmo de um tipo de moradia para outra. Neste aspecto, a trajetória espacial é um excelente indicador dos sucessos ou infortúnios na luta pelo espaço físico e na trajetória social ao longo do ciclo de vida do indivíduo. Mobilidade por definição pressupõe movimento, mudança de espaço, de posição e de condição social. A conseqüência disto é que a mobilidade espacial só adquire o seu sentido verdadeiro se estiver conectada com os processos de organização do espaço social. Portanto, através da experiência da mobilidade residencial os diversos segmentos sociais realizam suas aspirações, estratégias, levando em conta ora a imagem do bairro, sua localização no mapa urbano, ora os laços de vizinhança, familiares ou apenas as características do imóvel, seu tamanho, qualidade. A partir do questionário selecionaram-se alguns casos enfocando o tempo, a trajetória espacial, a ocupação e a condição do imóvel. São eles: M. 54 anos, aposentada, pertencente à categoria média, escolheu a Tijuca “porque era mais barato, procurei em Vila Isabel, Grajaú e depois gostei deste apartamento”. O que pesou mais na sua decisão foram as características do imóvel, pois “se tivesse condições financeiras iria morar no Leblon ou Ipanema, perto da praia”. Em relação à vinda para a Tijuca não ganhou ou perdeu status, pois não liga para isso, embora considere o status da 87 Tijuca muito alto. Morando há 6 anos e 10 meses no bairro, pôde perceber que o “Tijucano é bairrista, solidário apenas entre eles. É metido”. TABELA 4.1 TRAJETORIA ESPAÇO-TEMPORAL DA Sra. M. 54 ANOS APOSENTADA, CATEGORIA MÉDIA PERÍODO (ano) BAIRRO/MUNICÍPIO COND. IMÓVEL OCUPAÇÃO 72 a 74 75 a 77 78 79 a 80 81 a 90 91 a 94 95 a 01 Flamengo São Cristóvão Laranjeiras Vitória, ES Laranjeiras Rio Comprido Tijuca alugado-vaga alugado-vaga alugado alugado alugado alugado próprio digitadora digitadora digitadora Digitadora aux. Inf. aux. Inf Aposentada J. 71 anos, aposentado, categoria média, “já freqüentava o bairro” antes de se mudar. “Morava no Grajaú e era sócio do Tijuca Tênis Clube”. Entre o imóvel e a localização, esta última foi a que mais pesou, depois “queria se livrar do aluguel e ficar perto dos amigos e familiares”.Mora há 20 anos na Tijuca e há 11 neste imóvel. Além deste apartamento onde mora ainda possui outra “para melhorar a renda do mês, né?” Morou muitos anos no Méier. Possui família tanto lá quanto na Tijuca. Em termos de status não vê diferença nenhuma em relação aos dois bairros. Acha “ótimo morar na Tijuca por causa da centralidade, do metrô, é perto de tudo”. Desejaria se mudar? “Da tijuca não, apenas para um apartamento de frente, para ver a rua, coisa de subúrbio, né?” O que é o Tijucano? “O melhor adjetivo para a Tijuca é Conservador. O Tijucano é metido a besta, tem muita gente arrogante. Se aproximam de você se você tem dinheiro”. TABELA 4.2 TRAJETORIA ESPAÇO-TEMPORAL DO Sr. J. 71 ANOS, APOSENTADO, CATEGORIA MÉDIA PERÍODO (ano) BAIRRO/MUNICÍPIO COND. IMÓVEL OCUPAÇÃO 56 a 70 71 a 79 80 a 81 82 a 90 91 a 01 Méier Méier Grajaú Tijuca Tijuca alugado próprio alugado alugado próprio Bancário Bancário Bancário Bancário Bancário/ apos. 88 J. 59 anos, aposentado, categoria intelectual. “Queria melhorar o nível de vida, buscava um nível social compatível com o meu”. O que mais pesou na sua decisão de mudar, não foi o imóvel, mas sua localização é a melhor no melhor bairro. Há 6 anos mora neste apartamento e não pretende mudar. “Acha ótimo morar na Tijuca por causa da tranqüilidade da rua”. Em relação ao status, o da Tijuca é tão alto quanto o da Barra. “Para mim a Tijuca é homogênea, é muito familiar, não tem gente fumando maconha, não tem muita mistura, é uma grande família. Devido à homogeneidade do bairro, o tijucano é um homem de bem, de família, trabalhador. Tem honra e moral, pessoas que trabalham tem tradição mantendo certos valores (permanentes). respeito ao próximo e a família. A Tijuca não é vale tudo”. TABELA 4.3 TRAJETÓRIA ESPAÇO-TEMPORAL DO Sr. J. 59 ANOS, APOSENTADO, CATEGORIA INTELECTUAL PERÍODO (ano) BAIRRO/MUNICÍPIO COND. IMÓVEL OCUPAÇÃO 71 a 72 73 74 a 75 76 a 93 94 a 01 RS Goiânia, GO São Paulo, SP Vila Isabel Tijuca hotel alugado alugado próprio próprio consultor Planasa consultor Planasa Analista Serpro CTB telemar admin. Embratel/ aposent. P., 70 anos, médico, tem consultório próprio e é aposentado pelo INAMPS. Há 44 anos mora na Tijuca. Mudou para este apartamento porque os filhos casaram, deste modo o que mais pesou na decisão foram as características do imóvel, visto que não se mudou de bairro. Morava no Alto da Boa Vista e gostava de freqüentar a Tijuca por causa dos cinemas. Mudar para a Tijuca significou perda de status, “pois morava em um casarão no Alto da Boa Vista com os pais”. Mas morar na Tijuca é bom porque tem tudo perto, o metrô. O adjetivo da Tijuca é tradição. “O Tijucano é aquele que tem casa na Barra e vão só no final de semana. Tem um amigo que se mudou para a Barra mas vem todo dia pra Tijuca, vai e volta. O tijucano é conservador, menos trambiqueiro”. 89 TABELA 4.4 TRAJETORIA ESPAÇO-TEMPORAL DO Sr. P. 70 ANOS, APOSENTADO, CATEGORIA INTELECTUAL PERÍODO BAIRRO/MUNICÍPIO/ (ano) 56 a 63 64 a 71 72 a 95 96 a 01 COND. IMÓVEL Tijuca Tijuca Tijuca Tijuca próprio próprio próprio próprio OCUPAÇÃO Médico no lab+consult. CIBRAM+ consult. INAMPS+ consult. aposent. + consult. O sucesso nas disputas pelo espaço depende do capital, sob as diferentes espécies, que se tem acumulado, ou seja, as oportunidades de apropriação dos diferentes bens e serviços materiais ou culturais associados a um determinado lugar variam de acordo com a capacidade de apropriação de cada um, em função do tipo e volume de capital que detém. Estar em um lugar ou ocupar fisicamente um habitat não significa habitá-lo. Se o habitat contribui para fazer o habitus, o habitus contribui para fazer o habitar através dos costumes sociais mais ou menos adequados que ele estimula a ter. Essa relação dialética entre os espaços social e físico objetivados e sua subjetivação se exprime no conceito de Habitar. Habitar, morar em qualquer lugar é um modo de estar, de compreender o mundo a sua volta. É o mesmo que jogar sabendo ou tendo o controle das regras. Se me faltam as regras, as propriedades, não jogo, não entendo o jogo. O que faz M. 54 anos julgar os “Tijucanos” metidos, apenas solidários entre é eles, é porque não habita o lugar. Ela apenas reside naquele apartamento que é próprio e é a realização do ponto máximo de sua curva de preferências. No entanto o fato de considerar o status da Tijuca muito alto revela sua vontade de mudar de posição. Todavia, sua insatisfação reforça a sua ausência de capital para ocupar aquele espaço socialmente. Dentre todas as propriedades, aquela que a ocupação legítima de um lugar pressupõe, estão as que se adquirem pela ocupação prolongada- o capital social, de relações ou ligações de quem habita há muito tempo. Há 20 anos, J. 71 anos mora na Tijuca e veio do Méier. Embora tanto ele quanto M. 54 anos classifiquem os “Tijucanos” como metidos, esse julgamento não os torna iguais, 90 algo os aproxima, mas outro algo os afasta. M. 54 anos desejaria mudar, mas J. 71 anos não. Porque? Por um lado ambos pertencem à mesma categoria social, média. Pressupõe-se que tenham o mesmo nível de capital cultural e que tenham menos do que o da categoria intelectual. Desse modo, aqueles a quem eles se referem como “metidos” pertencem às categorias sociais superiores as deles. Entretanto, J. 71 anos freqüentava o bairro e era sócio de um dos clubes mais tradicionais do lugar, tinha vários amigos do lugar. Isso significaria dizer que J. adquiriu muito mais capital social do que M. o que comprova a importância deste capital para a apropriação legitima do lugar, pois M. gostaria de mudar e J. não. Assim, sob pena de se sentirem deslocados, os que penetram em um espaço devem cumprir as condições que este tacitamente exige de seus ocupantes. Capital social, econômico e cultural são o que não faltam à J. 59 anos para habitar a Tijuca. Segundo ele, não mudaria, pois mora no melhor apartamento, na melhor localização e no melhor bairro. Em sua entrevista expõe que encontrou o lugar condizente à sua posição social. Com efeito, na caracterização da Tijuca, J. 59 anos a considera homogênea. Ora, já no primeiro capítulo fica claro que não é o que acontece, pois se vê a diversidade por todos os lados. Porém a partir do que foi colocado na introdução, o ser-no-mundo de Heidegger (1993) só se relaciona com as coisas a sua volta, com o espaço que se abre a cada tomada de posição. Deste modo J. enxerga o seu mundo. Sua rua, claro homogênea, com não poderia deixar de ser e com sua igreja e amigos pertencentes à Igreja Maronita19 em frente a sua rua. Esclarecendo um pouco mais, a rua Itacuruçá possui apenas 2 quarteirões, repleta de edifícios de padrão alto luxo e a maioria dos moradores são maronitas. Dentre os quatro casos apresentados, P. 70 anos é o mais antigo dos moradores. Este se considera um “Tijucano típico”. Desvinculado de qualquer grupo religioso, já foi 91 presidente do Tijuca Tênis Clube, onde vai assiduamente. Mudou algumas vezes, mas nunca saiu da Tijuca. Também tem uma casa na Barra, mas só para fins de semana. Não parece até uma caricatura? A mobilidade social por si só não é um fator de explicação da Mobilidade Residencial. Também se desloca no espaço físico sem se deslocar no espaço social. Os casos acima são importantes nesse sentido. Muda-se em busca de ascensão social. De outro modo, busca-se mudança de posição no espaço social subjetivado através de um deslocamento espacial, no caso uma mudança de bairro, o que efetivamente só é atingido se possuirmos as devidas propriedades necessárias para habitar o lugar. Muda-se por estar próximo daqueles que lhe são semelhantes, ou seja, que possuem o mesmo tipo de capital. E por fim muda-se por mudanças na estrutura familiar, casamento, separação, filhos que chegam e que vão embora. Com isso passa-se para o próximo tópico deste capítulo. 4 . 3 M u d a r o u p e r m a n e c e r ? Ao senso comum atribuo a responsabilidade pela disseminação de mitos e julgamentos preconceituosos, surgidos na disputa pelos lugares. Talvez seja esta a resposta para a questão de Tutty Vasques. Ninguém é lebloniano, catetense, meieriano, copacabanense, gaveanista...O carioca pode, no máximo ser ipanemense! No mínimo, tijucano! Antes que algum vizinho de infância me denuncie, devo dizer que nasci tijucano e, ainda hoje, 20 anos exilado do bairro, ainda sofro com o estigma da Tijuca! Basta que eu deixe escapar um comentário reacionário, pronuncie uma palavra errada em inglês ou use uma calça acima da cintura e, pronto, logo aparece um engraçadinho lembrando que eu morei na Saenz Peña! Morei, sim, na Clóvis Beviláqua, na Maria Amália e, o que é mais grave, na Guajaratuba! Vocês não imaginam quantas namoradas perdi ao revelar que eu era um cidadão da rua Guajaratuba! Entre elas uma lourinha linda que morava na Rua Gorceix, em Ipanema! Como pode alguém que mora na Gorceix achar ridículo que alguém more na Guajaratuba? Foi a pergunta que mais atormentou a minha adolescência! Depois, 19 A Igreja Maronita é uma Igreja Católica Árabe. Seus fiéis são árabes e as missas são celebradas em aramaico. 92 vieram outras questões: por que diabos quem nasce em Ipanema é de esquerda e quem vem ao mundo na Tijuca é de direita? Por que o menino ipanemense faz análise e a gente fica de castigo quando faz bobagem? Por que eu passo as férias em São Lourenço e a gata da Gorceix em Londres? (VASQUEZ, 1997, p. 37) Através de algumas questões apresentadas ao entrevistados, quebram se alguns mitos, reforçam-se outros. A primeira pergunta era: O que você acha de morar aqui? TABELA 4.5 O QUE VOCÊ ACHA DE MORAR AQUI? ÓTIMO BOM CATEGORIA INTELECTU AL CATEGORIA MÉDIA OUTRAS TOTAL RUIM 0 INDIFERENTE 5 REGULAR 3 PÉSSIMO 11 1 0 11 9 1 1 0 0 7 29 6 20 0 4 1 2 0 1 0 0 De acordo com estas respostas pode-se destacar uma outra observação interessante: o espaço, a ninguém se mostra indiferente. Segundo Bachelard ele é o que ocupa a memória. “Na memória ele é tudo, pois o tempo já não anima a memória. A memória!, só podemos pensá-las na linha de um tempo abstrato privado de qualquer espessura.” (BACHELARD, 1989, p. 28,) Percebe-se que para a maioria é ótimo morar na Tijuca, o que não seria uma grande conclusão visto que, além disso, não existe diferencial entre as categorias. Entretanto, a satisfação com o local de moradia está diretamente conectado ao ciclo de vida. Deste modo, é pertinente agregarmos as respostas em relação à idade. TABELA 4.6 OPINIÃO SOBRE O BAIRRO DE ACORDO COM O CICLO DE VIDA JOVEM (15 A 24 ANOS) ADULTO (25 A 44 ANOS) MADURO (45 A 65 ANOS) IDOSO (65 A. OU MAIS) TOTAL ÓTIMO 1 BOM 2 REGULAR 0 RUIM 0 PÉSSIMO 0 INDIFERENTE 0 7 8 2 2 0 0 16 8 1 0 1 0 5 2 1 0 0 0 29 20 4 2 1 0 93 Nota-se um certo antagonismo de opinião em relação aos mais novos e os mais velhos. Observa-se que aqueles que estão iniciando no mercado de trabalho buscam outros lugares e aqueles que teoricamente estão estabilizados ou se aposentarem estão satisfeitos e não pretendem mudar. E se a pergunta fosse outra como: Você gostaria de se mudar? TABELA 4.7 VOCÊ GOSTARIA DE SE MUDAR? SIM NÃO CATEGORIA 10 8 JOVEM (15 A 24 ANOS) INTELECTUAL CATEGORIA MÉDIA 10 13 ADULTO (25 A 44 ANOS) OUTRAS 9 6 MADURO (45 A 65 ANOS) TOTAL 29 27 IDOSO (65 A. OU MAIS) * dos 5, 3 querem continuar na Tijuca apenas mudar de apartamento. SIM 3 NÃO 0 11 10 5* 8 16 3 Para onde? TABELA 4.8 PARA ONDE? TIJUCA, APART. OU LOCAL MELHOR BARRA LEBLON/IPANEMA GÁVEA, ALTO DA BOA VISTA 7 3 10 NITERÓI 2 1 3 O tijucano não gosta tanto da Barra pelo menos os entrevistados. A maioria quer ir para os espaços mais elitizados como Leblon e Ipanema, mas confirmando o amor pelo habitat, e a ambição dos segmentos médios de melhorar o padrão de vida, muitos querem apenas trocar de imóvel. 4.4 O q u e é a T i j u c a ? Qual das palavras abaixo melhor define a Tijuca? A escolha por alguns termos talvez possa ter direcionado a pergunta, mas tinha-se a opção de outros, quais. No compito geral obteve-se a seguinte tabela: 94 TABELA 4.9 ADJETIVO QUE MELHOR DEFINE A TIJUCA DE ACORDO COM AS CATEGORIAS CATEGORIA INTELECTUAL CATEGORIA MÉDIA OUTRAS TOTAL OUTROS BELEZA TRANQUILIDADE MODERNIDADE PRÁTICA HOMOGENEIDADE TRADIÇÃO CONSERVADORA ADJETIVO 6 9 1 2 1 0 1 4 7 4 1 2 1 2 0 1 2 15 5 18 0 2 0 4 0 2 2 4 1 2 1 6 No português a diferença do sentido dos dois termos, conservador e tradição, é muito sutil e muitas vezes se confunde. O conservadorismo está associado à ideologia política. Diz-se daquele que em política é favorável à conservação da situação vigente, opondo-se a reformas radicais. Surgiu principalmente como reação à Revolução Francesa, pois um grupo, os conservadores, achava que a mudança se fosse inevitável, seria melhor que acontecesse devagar e como ampliação lógica da ordem natural das coisas, e não como mudança revolucionaria. O conservadorismo parte da premissa que a natureza humana é má, irracional e violenta, se deixada a seus próprios meios. A única maneira de controlar esse potencial destrutivo consiste em impor rígidos códigos morais através de fortes tradições, instituições sociais e uma sociedade hierárquica governada por elites, cujo poder repousa em sua superioridade inerente e na propriedade privada, herdada através de gerações. Isso implica que a desigualdade social é inevitável e, na verdade, necessária para manter a sociedade. Assim neste sentido o conservador é favorável à tradição como continuidade. A Tradição, a seu modo, corresponde às regras tácitas ou abertamente aceitas. Práticas de natureza ritual ou simbólica que visam inculcar certos valores e normas de comportamento através da repetição, o que implica, automaticamente, uma continuidade em 95 relação ao passado. Aliás, sempre que possível, tenta-se estabelecer continuidade com um passado histórico apropriado, e isso é o conservadorismo. Mas no senso comum estes dois termos de significados imbricados possuem valores simbólicos e morais distintos. Enquanto o termo conservadorimos está associado a um valor negativo a tradição possui um valor positivo. Assim, o que fazem os moradores da Tijuca? Na disputa simbólica de representação do bairro na estrutura da cidade, associa-no a um passado aristocrático, convergente com a tradição, mais chique. Percebe-se através das respostas que a categoria intelectual, que possui um maior poder de simbolização e clareza dessa disputa opta pelo adjetivo tradição. Por outro lado, a categoria média classifica o bairro como conservador. E será que classificando o espaço aonde vivem não estariam classificando a si próprios? A Tijuca não é conservadora ou tradicional, ela apenas reflete a valoração do espaço, que não é apenas econômica, mas, sobretudo simbólica, pois os diferentes espaços sociais reificados se sobrepõem e resultam, muitas vezes, tanto em concentrações positivas do espaço, quanto negativas, estigmatizadas. Esse fato traz à tona a discussão sobre a legitimidade da apropriação. Pertencer ao lugar depende profundamente do conhecimento e do reconhecimento da realidade do lugar que, por sua vez, é resultado da luta social de classificação do espaço. A luta de classificação ou luta simbólica, envolve tanto agentes individuais quanto coletivamente organizados e põe em jogo a conservação ou transformação das relações de força simbólica e suas vantagens, econômicas (determinação de valores materiais) e simbólicas, valor do indivíduo enquanto reduzido socialmente à sua identidade social, ou seja, a idéia dele como “nós” em oposição aos “outros”. 96 Quando se trava essa luta, os dominados podem reagir de duas maneiras: a primeira, aceitação da dominação. É o que acontece com os representantes da categoria média e a segunda a subversão, o caso da categoria intelectual. Todavia, a subversão só é alcançada coletivamente. Os agentes dominados não buscam a supressão das suas características tidas como estigmatizadas pelo outro grupo, mas a destruição dos valores que os constituem como estigma: “o estigma produz a revolta contra o estigma” (BOURDIEU, 1998, p. 159). Deste modo, a subversão pode ser claramente exemplificada quando os representantes das categorias intelectuais valorizam seu espaço escolhendo o adjetivo tradicional em detrimento do conservador. 97 C O N C L U S Ã O Tijucano – para uns, o elogio, para outros o estigma. A ambigüidade da denominação é o motor para o desvelamento do universo do bairro da Tijuca. Este trabalho, busca identificar as diversas faces de um bairro conduzida por questões teóricas, no âmbito da sociologia e no debate das transformações urbanas, sustentada por dados oficiais e dados qualitativos. A importância do espaço físico foi ressaltada enquanto espaço de habitar, espaço percebido, lugar de memória e afetividade através de relatos dos moradores, imagens do senso comum, mídia e literatura, separando a realidade do mito e sobretudo expondo que: imagens produzidas pelos diversos agentes acerca dos lugares carregam sempre um conteúdo simbólico, pleno de interesses, aonde sempre se esconde a dominação entre os distintos campos. O primeiro capítulo é destinado à leitura do espaço físico do bairro, enquanto amontoados de memórias registradas nos traçados de seus largos, ruas e praças. Seu grande estoque de serviços, infra-estrutura e comércio apropriado pela dinâmica da valorização imobiliária expandem, cada vez, os limites deste bairro. Em relatos, os moradores da Tijuca, salientam a diversidade do comércio, o grande número de supermercados, os shoppings, e a acessibilidade aliada à centralidade. Outro valor bastante lembrado são os colégios, Instituto de Educação, Colégio Militar, São José e a UERJ. Embora a UERJ se localize no bairro vizinho, o Maracanã, o motivo de sua incorporação ao bairro da Tijuca expõe tanto o papel deste como sub-centro da região norte e a influência em grande escala de um equipamento como a universidade. Na avaliação geral, se não está melhorando, pelo menos a Tijuca se mantém na mesma situação. Apenas ¼ destes observou uma piora no bairro como o caso de J., 37 anos, 98 diretor do terceiro setor, que ressalta a piora do bairro em função de uma maior “segregação, as desigualdades estão mais explícitas, insegurança”. Outros mais saudosistas, lastimam o crescimento. S., 52 anos, professor universitário menciona como fatores negativos o “crescimento populacional, deterioração. Era um bairro muito residencial (casas), se verticalizou a partir do anos 60. Houve perda de cultura e lazer. O metrô foi a única coisa boa”. Enquanto outros, associam a melhora com “empreendimentos novos, valorizando o bairro, as novas construções”, M., 51 anos, gerente administrativo. “está melhorando por causa das construções que estão acontecendo, tem mais prédio” P., 66 anos, advogado aposentado. Interessante observar destes relatos de homens brancos, pertencentes à mesma faixa etária uma oposição entre modernidade e saudosismos. Aprofundando-se um pouco mais em seus perfis, encontra-se a diferença. S. sempre morou na Tijuca, P. e M. moram há 17 e 10 anos, respectivamente e vieram dos subúrbios da cidade. Assim pode-se ver como os agentes imobiliários contribuem através de uma valorização simbólica para a dinâmica espacial da estrutura social. Segundo matéria no jornal O Globo (SANTOS, et al., 2000), ao menos três grandes construtoras do Rio de Janeiro investem no bairro, destacando a importância da infra-estrutura existente. No entanto, segundo dados do censo de 80 e 91, o bairro perdeu aproximadamente 30.000 habitantes, o que incita o acompanhamento desta evolução a partir dos novos dados e contagens do Censo. A tijuca também apresenta uma especificidade por causa de seus morros. Atualmente o bairro é cercado por favelas que também perderam contingentes populacionais. Segundo o Anuário Estatístico da Cidade do Rio de Janeiro 95-97, os morros do Borel, 99 Turano e Salgueiro tiveram crescimento negativo: -0,04% (5660 p/ 5658 hab.), -39,77% (4151 p/ 2500 hab.) e -4,33% (3768 p/3605 hab.) respectivamente. Embora os morros da Formiga, Chacrinha e Indiana tenham crescido 2,7%, 93,25% e 52,47% no compito geral as favelas cresceram -7, 85%. Inclusive em números de domicílios como no morro do Turano –41,04%. Entretanto a proporção de residentes em favelas e os moradores da Tijuca permanece quase a mesma, no período entre 80 e 91 era de 13,43% apresentando uma diminuição irrisória de 13,26% de 91 para 96., ou seja, diminuindo-se a oferta de mercado de trabalho diminui-se a população do morro, mas mantém-se a proporção. Quanto à relação, antigamente era mais muito mais harmoniosa, o samba cumpria um papel integrador, percebido por S, 29 anos “a escola (de samba) é importante pra gente porque cria vínculos, é um canal de ligação entre o morro e o asfalto[...]” (SILVA, 1993, p. 53). Atualmente, as diferenças estão mais acentuadas, I., 56 anos, funcionária pública, reclama da quantidade de morros, e dos barulhos do tiroteios, enquanto M., 30 anos, militar, associa a piora do bairro com o “crescimento das favelas”. A relação entre favela e bairro não foi contemplada por este trabalho, que destarte tratou do aprofundamento no universo dos segmentos médios, a maioria de sua população. As categorias sócio-ocupacionais sobre-representadas são: a intelectual, a pequena burguesia e a categoria média. As suas dinâmicas de evolução contempladas no período 80/ 91 evidenciam uma tendência de revalorização do bairro com aumento da pequena burguesia e da categoria intelectual e pequena diminuição da categoria média. Vale lembrar que, a categoria de maior peso ainda no bairro é a média, 36,02% de seus moradores se enquadram nesta classificação e que a categoria pequena burguesia foi a que mais cresceu na cidade do Rio de Janeiro neste período20. 20 Esta é uma das conclusões do trabalho de Preteceille et al. (1999) na comparação entre as metrópoles, Paris e Rio de Janeiro. 100 Observou-se, em relação às outras variáveis que a Tijuca possui elevado número de mulheres chefes sem cônjuge e com filhos, 14,9% muito próximo de Copacabana, 14,36% considerados padrão oposto à Tijuca. Isto se contrapõe ao imaginário popular de que os moradores da Tijuca são conservadores em relação às famílias pois nunca se separam. Mas não nega fatores de escolha do bairro como os de E., 51 anos, geógrafa, “escolhi morar aqui, porque a família já morava, a tia que os acolheu morava na Tijuca. Poderia ter ido morar na Zona Sul, mas preferiu morar aqui porque toda a família mora aqui”. T. 24 anos, auxiliar de cartório faz uma observação muito interessante. “(...) Na Tijuca tem muita gente divorciada, mas as famílias permanecem unidas”. Ponto importante é que esta parcela populacional que reside em domicílios chefiados por mulheres, sem cônjuge, com filhos aumentou em todas as zonas ao longo da década de 80. Ressaltando uma mudança de comportamento da cidade e não de um bairro específico. Ainda em relação à família, 42,23% da população da Tijuca se insere no padrão mais tradicional, pais casados, com filhos. O que não se sabe é se são famílias provenientes de pais separados, vindos de outros casamentos ou não. Quanto à renda, a posição da Tijuca é absolutamente intermediária, maior que a Zona Norte e Méier e menor que Copacabana, Z. Sul Antiga 1, Moderna e Barra. Entretanto o morador deste bairro faz escolhas pautadas em maior conforto – a Tijuca, depois da Barra, o lugar com a maior quantidade de pessoas residindo em apartamentos de 03 quartos – longe dos espaços mais valorizados da cidade. Neste exercício de comparação conclui-se que a Tijuca realmente ocupa uma posição intermediária frente a regiões mais e menos elitizadas. Está sempre muito próxima aos padrões de Copacabana, considerada mais moderna em termos de comportamento. 101 O aumento de escala, um zoom na realidade da Tijuca, feita através dos dados qualitativos, proporcionou uma diferenciação na esfera do comportamento, preferências e trajetória espacial das camadas médias deste bairro. Indagados sobre o grupo social a que pertenciam, a resposta foi unânime: Classe média. Verdade que havia variações, como média alta, média média, média baixa, mas o que isto significa em termos de diferenciação? Ao resultado dos questionários, sobressaíram representantes das categorias intelectual e camadas médias, apesar da maioria de este bairro se enquadrar na pequena burguesia. O que se viu nos capítulos 3 e 4 foi uma diferenciação marcante em termos de posse de capital cultural explicitados por preferências de consumo. Tanto material, quanto de lazer. Mas nada se compara ao desvelamento de uma disputa simbólica, entre as duas categorias, revestida no adjetivo susbstantivado, “tijucano”. Reafirmando a importância da construção simbólica na disputa pelo espaço. Para ilustrar esta construção, o texto de Aldir Blanc é perfeito: “Eu escrevi em algum lugar que a Tijuca é um estado........de sítio. O tijucano é um sitiado. Não tanto pela crescente violência. O tijucano é, por natureza, perdido como uma bala. Com seu amor peculiar pelo bairro, sitia a si mesmo. Inúmeras vezes, um tijucano já foi flagrado, eufórico, no boteco (ponto para o bairro: a Tijuca é pródiga em botecos seletos), anunciando aos quatros ventos: - Adeus Tijuca! Tô indo pro Leblon! Meses depois da mudança, é visto, disfarçado, pelas esquinas da Tijuca suspirando. Se você o aborda, ri amarelo, fala da superioridade do Leblon, da praia, do comércio, das opções culturais, das.... (está prestes a chorar) das.... das mulheres. É só dar o golpe de misericórdia: - Tá com saudade, hein? Em menos de um mês, o cara volta. É verdade que volta com o ressentimento ambíguo próprio do tijucano. No papo, quando faz a fezinha, tenta botar banca: - Eu já morei no Leblon.... O tijucano é um emergente que não deu certo. Por sua própria culpa. Na praia, cervejinha em punho, cercado de tangas, suava frio ao ouvir o chamado atávico da floresta. 102 Dizem que na hora de levar o suculento naco de lagosta à boca, instalado no mais caro restaurante do Leblon, sentia saudade da tímida barata que o fitava, humilde, num cantinho da pizzaria tijucana. Gente maldosa garante que ele cumprimentava, discretamente, a barata: oi Dulce Marguerita (o nome é uma singela homenagem à pizza de sua predileção). O tijucano é antes de tudo um porte. Uma pose. Uma figura. Um extra fazendo bico no próprio filme. Na imortal imagem de Nelson Rodrigues, um contínuo de si mesmo. Uma caricatura. Mas sua cidade também é. Superar a caricatura que fazemos de nós mesmos, rindo dela, é nossa força. Vejam as mulheres: ralam, batalham, suam a camisa e as calcinhas, mas, à frente da bateria, não têm graça como a tijucana. É daquelas mulheres sábias que acompanham o essencial da modernidade sem esquecer as lições da vovó. Em suma: dão prazerosamente, mas enquanto nos beijam, murmuram: não......não......ai! Agentes provocadores espalham, em Copacabana, que existem algumas ruas, na Tijuca, em que mora um ex-torturador para cada vinte habitantes (e desses, mais da metade apoiava por omissão, o que o monstro fazia da época da ditadura). Não é verdade. Qualquer solar oculta um porão. O importante é nossa vontade de escancará-lo, remover a sujeira, deixar a luz entrar. Hoje, fala-se em Grande Tijuca, que englobaria o Estácio, berço do samba, a Vila Isabel, imortalizada por Noel Rosa, Aldeia Campista, Andaraí-noseu-Gramado, a Usina, o Grajaú (que não se conforma e está cheio de “separatistas” de nariz empinado). Só pra encerrar, na Grande Tijuca estão o Templo do Futebol, o Maracanã, um dos grandes Santuários de nossa Cultura Popular, a Acadêmicos do Salgueiro, o Instituto de Educação, monumento vivo e inesquecível à....à...bom, deixa essa parte pra lá. Agora me ocorre que apesar de tanto empenho desperdiçado, de tantas crenças traídas, de tantas pérolas atiradas aos porcos, o tijucano permanece grávido, contra tudo e contra todos, de uma injustiçada esperança equilibrista: a Tijuca é um estado interessante! Parafraseando um samba que eu fiz com Cláudio Jorge: Quando eu deixar a Tijuca sinto que o céu não irá me agradar pois não basta um Paraíso inteiro pra saudade que Tijuca dá.....”. (BLANC 2000, p. 5-7) A relação ambígua do morador da Tijuca com seu espaço traduz de uma maneira bastante pertinente o que a violência do poder simbólica na disputa social. Este poder simbólico estabelece uma única visão de mundo estabelecida pelos grupos dominadores, ou seja, aqueles com maior capital simbólico. O tijucano ainda que goste de morar no bairro, ainda que se identifica com o lugar, se sente envergonhado pelo o que, a Tijuca representa no espaço da cidade, ou seja, 103 sofre com a violência simbólica, o mapa hierarquizado da cidade aonde vive, cujos maiores valores são a praia, o comércio melhorado, as opções culturais. Claramente pertencente àquele espaço tanto social quanto físico, ou seja, o da Tijuca, não consegue se adaptar aos valores, costumes e gostos de regiões consideradas mais elitizadas que ele busca pertencer. Ou seja, carece dos elementos exigidos a esta mudança social. Não basta ocupar um espaço fisicamente, para habitá-lo em sua plenitude, incorpora-se também seus valores, comportamentos, e gostos. Assim volta ao seu lugar ressentido. Ressentindo. Não somente por não se adaptar a um novo espaço, mas por seu espaço representar tão pouco. Aldir Blanc relaciona lagosta com Leblon e pizza com Tijuca. Deste modo descreve o que Bourdieu, através do seu conceito de habitus, mostra ao afirmar que gosto não é visto como uma simples subjetividade, mas sim como objetividade interiorizada. Pressupõe também que a escolha por algo já está incorporada enquanto disposição no sujeito antes do seu agir. E como o sistema de classificação é gerado pelas condições sociais e também a distribuição dos bens e valores simbólicos é feita de maneira desigual, assim se estabelece a luta de classes. No caso do tijucano de Aldir Blanc esta representação social se perpetua através do incessante trabalho de representação dos agentes dominantes. Esta também é a velha questão da polaridade Zona Sul/ Zona Norte e o mapeamento simbólico da cidade abordado por Gilberto Velho (1973) em seu clássico estudo sobre Copacabana. Nele, o autor aponta a percepção da cidade pelos indivíduos como feita a partir de uma hierarquização dos bairros que reflete a própria hierarquia da sociedade. Mas, como foi mostrado no capítulo 4, esta disputa de valores também é dinâmica e pode romper pensamentos com o de C. 27 anos, designer de interiores. “Não me considero tijucana, não encaixo no tipo, mas gosto de estar no bairro, pois me sinto em casa”. A reação do grupo pertencente à elite intelectual através da escolha do adjetivo tradição para melhor descrever o tijucano é uma exemplificação clara de que, este termo faz 104 parte do jogo de dominação e, é percebido enquanto tal. Enquanto o grupo da categoria média que possui menos capital cultural se julga conservador, aquele que possui o capital cultural maior, o caso da elite intelectual, prefere o termo “tradição” para se auto-definir. Encerra-se o trabalho com mais uma dentre tantas declarações de seus moradores. M.J. 27 anos, militar, “o tijucano é tradicional, procura sempre continuar no bairro ou manter algum vínculo. Sociável. Tem orgulho do bairro, e considero um típico tijucano, dentro deste ponto de vista” 105 R E F E R Ê N C I A S 1. ABREU, Maurício de. A evolução urbana do Rio de Janeiro. 3 ed. Rio de Janeiro: IPLANRIO, 1997. 156 p. 2. ALENCAR, JOSÉ DE. Carta a Machado de Assis. Correio mercantil. Rio de Janeiro, 22 de fevereiro de 1868. Disponível em: <http://www.comversos.com.br/gaveta/frame_gaveta.php?id_gav=438> Acesso em: 16 fevereiro 2001. 3. ANTELO, Raúl. (Org.). A alma encantadora das ruas: crônicas. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. 408 p 4. ARAÚJO, Alcione. Nem mesmo todo o oceano. Rio de Janeiro: Record, 1998. 798 p. 5. ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. São Paulo: Ática, 1985. 155 p. 6. ________.Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977. 301 p. 7. BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1989. 242 p. 8. BAIRROS DO RIO. Tijuca e floresta. Rio de Janeiro: Editora Fraiha, 2000. 128 p. 9. BAUDRILLARD, Jean. 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Categoria Dirigente 2.1 Empresários, que reúne os empregadores com dez ou mais empregados; 2.2 Dirigentes do setor público, formada pelas ocupações do alto escalão decisório no setor público, como ministros, magistrados e procuradores; 2.3 Dirigentes do setor privado, formada pelas ocupações de administradores de empresas dos setores de extração mineral, indústria, construção civil e empresas financeiras; 2.4 Profissionais liberais, formada pelas ocupações tradicionalmente definidas como de profissionais liberais (médicos, engenheiros, arquitetos, dentistas, advogados), empregadores e autônomos. 3. Categoria Intelectual 3.1.Profissionais autônomos de nível superior; 3.2. Empregados de nível superior 4. Pequena Burguesia 4.1 Pequenos empregadores urbanos, que reúnem os empregadores com menos de dez empregados; 4.2 Comerciantes por conta própria que desenvolvem suas atividades em casa ou em empresas próprias. 5. Categoria Média 5.1 Trabalhadores em atividades de rotina, formada pelas ocupações sem função decisória, tais como secretárias, auxiliares administrativos e auxiliares de escritório; 112 5.2 Trabalhadores em atividades de supervisão, formada por ocupações com algum poder de decisão, tais como assistentes de administração, corretores de imóvel e administradores do comércio; 5.3 Técnicos e artistas, formada pelas ocupações que requererem um conhecimento específico, tais como desenhistas, técnicos em contabilidade, caixas, técnicos em energia elétrica, programadores de computação, músicos e fotógrafos; 5.4 Trabalhadores nas áreas de saúde e educação, como professores de 1o grau e enfermeiras não diplomadas; 5.5 Trabalhadores nas áreas de segurança pública, justiça e correios, tais como investigadores de polícia, oficiais do corpo de bombeiros, praças das forças armadas e carteiros. 6. Proletariado Terciário 6.1.Trabalhadores do comércio, formada pelas ocupações diretamente ligadas às atividades do comércio, tais como vendedores, operadores de caixa e pracistas; 6.2. Prestadores de serviço especializado, formada pelos trabalhadores autônomos em ocupações manuais que requerem um saber específico, tais como mecânicos, cabeleireiros, etc e os empregados de ocupações manuais nos setores de prestação de serviços, atividades sociais e administração pública; 6.3.Prestadores de serviço não especializado, formada pelos empregados em ocupações de porteiro e vigia. 7. Proletariado do Secundário 7.1 Operários da indústria moderna, formada pelos trabalhadores nas indústrias metalúrgica, mecânica, material elétrico, química, produção de petróleo e farmacêutica, entre outras, que envolvem trabalhadores com posição mais elevada entre o operariado, em razão das ocupações exigirem maior qualificação, proporcionarem nível mais elevado de remuneração e de proteção social e os trabalhadores apresentarem maior grau de organização corporativa; 7.2 Operários da indústria tradicional, formada pelos trabalhadores das indústrias dos demais ramos, exceto a construção civil; 7.3 Operários dos serviços auxiliares, formada pelos empregados nos setores de transportes, comunicação e serviços auxiliares; 7.4 Operários da construção civil, formada pelos trabalhadores em ocupações ligadas à construção civil, tais como mestres, ladrilheiros, pedreiros, pintores, serventes de pedreiro; 113 7.5 Artesãos, formada pelos trabalhadores autônomos nas ocupações de alfaiate, sapateiro, marceneiro, carpinteiro, estofador e ourives. 8. Sub-Proletariado 8.1. Trabalhadores Domésticos; 8.2. Ambulantes e Biscateiros, esta última formada pelos feirantes, doceiros, quitandeiros, carroceiros e outras ocupações ambulantes e pelos guardadores de automóvel, engraxates e trabalhadores braçais autônomos. Trata-se de uma categoria restrita aos autônomos sem qualquer saber específico, não correspondendo, portanto a noção freqüentemente usada nos estudos sociológicos em que trabalhadores autônomos no setor da construção, por exemplo, são definidos como biscateiros. Existe ainda o grupo dos inativos, formado pelas categorias aposentados e pensionistas, pessoas que vivem de renda, estudantes, doentes e inválidos e pessoas dedicadas apenas aos afazeres domésticos. 114 LISTA DOS MORADORES DA TIJUCA ENTREVISTADOS. VERÃO DE 2001, RIO DE JANEIRO Questio categoria nário nome idade condição na família grau_instr estudante série, ano etc ocupação trabalha 1A CM Magdala 54 Chefe 3° Grau não não se aplica Aposentada Não 2A DC Maria Nazareth 57 Chefe especialização não não se aplica cuidar da casa não 2B CM Lilian Cristina 33 filha 3° Grau não se aplica professora de música sim 2C EI Silvia Alexandra 31 filha especialização sim mestrado pesqui/ consultoria sim, 3 EI Orlando Junior 37 chefe doutorado não não se aplica diretor prog. e proj.nac FASE sim 4 EI Clara 31 chefe 3° Grau não não se aplica Prof. artes e produtora sim 5 DC Beth 45 chefe 3° Grau sim, Direito Direito Estudante/ Pensionista não 6A EI Cristiane 27 chefe 3° Grau não não se aplica Designer de interiores sim 6B 7 CM PB Heloísa 25 irmã 2° Grau sim biologia vendas sim Haroldo 29 chefe 2° Grau não não se aplica comerciante sim 8A EI José 59 Chefe 3° Grau não não se aplica aposentado sim 8B DC Teresa 54 cônjuge 2° Grau não não se aplica dona de casa não 8C EI Fábio 27 Filho 3° Grau sim especialização analista financeiro sim 9A CM Marcos 30 chefe 3° Grau não não se aplica Consultor 9B CM Taiza 24 cônjuge 3° Grau não não se aplica auxiliar de cartório sim 10A EI Prisco 26 chefe 3° Grau não não se aplica capitão do exército sim 10B EI Renata 25 cônjuge 3° Grau não não se aplica Auxiliar de gerência de banco sim 11A EI Marcos 51 chefe 3° Grau não não se aplica Gerente administrativo sim 11B DC Valéria 46 cônjuge 2° Grau não não se aplica dona de casa não 11C 12A EST EI Isabel 21 filha 2° Grau sim 3o grau estudante sim Paulo 70 chefe 3° Grau não não se aplica médico sim 12B CM Myrna 66 cônjuge 2° Grau não não se aplica artista plástica sim 13 CM Marcelo 41 chefe 3° Grau não não se aplica professor e pesquisador sim 14 EI Sérgio 52 chefe especialização sim mestrado Professor Universitário sim 15 EI Celso Lopes 53 chefe 3° Grau não não se aplica Engenheiro Civil sim 16A CM Jaime 71 chefe 3° Grau não não se aplica aposentado não 16B CM Teresa 66 cônjuge 2° Grau não não se aplica aposentada não 17A CM José Pereira 54 chefe 2° Grau não não se aplica aposentado não não sim 115 17B EI Eliete 45 cônjuge 3° Grau não se aplica não se aplica aposentada (advogada) não 18 PS Ribamar 59 chefe primário não não se aplica alfaiate sim 19 CM Carlos Eduardo 27 chefe 2° Grau não não se aplica programador visual sim 20A EI Henry 52 chefe especialização não não se aplica gerente de sinalização sim 20B 21 EI CM Ângela 50 cônjuge 3° Grau sim Teologia psicóloga sim Kátia 50 chefe 2ograu não não se aplica Prof. Artes Plásticas sim 22A EI Inês 56 chefe mestrado não não se aplica resp.serviço de água SERLA sim 22 SP Luzia 26 empregada _ não não se aplica empregada sim 23A EI José 60 Chefe 3° Grau não não se aplica Aposentada sim 23B EI Heloísa 53 cônjuge 3° Grau não não se aplica aposentada não 24 EI Eni 51 irmã 3° Grau não não se aplica chefe de seçãogeografia sim 25 CM Valéria 37 chefe 2° Grau não não se aplica secretária sim 26A CM Heda 75 chefe 3° Grau não não se aplica aposentada sim 26B CM Alexandre 32 filho 3° Grau não não se aplica funcionário público sim 27 CM Kátia 48 Chefe 2° Grau não não se aplica secretária sim 28 CM Paulo 35 chefe 3° Grau não não se aplica professor de matemática sim 29A EI Carlos 31 chefe 3° Grau não não se aplica militar sim 29B DC Mônica 35 esposa 3° Grau não não se aplica dona de casa não 30A CM Paulino 66 chefe 3° Grau não não se Aplica aposentado/ advogado sim 30B DC Leyde 61 cônjuge primário não não se aplica dona de casa não 31A CM Mauro 60 Chefe 2* Grau não não se aplica aposentado não 31B DC Yvonne 60 cônjuge 1* grau não se aplica não se aplica dona de casa não 31C EI Gabriela 28 filha 3° Grau não não se aplica arquiteta sim 32 33 CM DC Dione 57 chefe 2ºgrau não não aposentada sim Leda 79 chefe 1ºgrau não não se aplica do lar não 34A EI Marcos 57 Chefe pósgraduação não não se aplica militar sim 34B DC Beth 48 Cônjuge 2ºgrau não não se aplica dona de casa não 34C EST Ana Paula 20 Filha 2ºgrau sim 4ano engenharia estudante não 35 EI Chefe 3ºgrau sim pós-graduação oficial do exército sim Marcos Jr. 27 116 QUESTIONÁRIO INSTITUTO DE PESQUISA E PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL OBSERVATÓRIO DE POLÍTICAS URBANAS E GESTÃO MUNICIPAL Pesquisa de Campo – Estudos de Caso Questionário 01 – Completo – A ser respondido pelo (a) responsável pelo domicílio Entrevistador responsável: ______________________ Nome do entrevistado: __________________________ 1. Identificação 1.1. 1.2. 1.3. 1.4. 1.5. 1.6. 1.7. Código do projeto/caso: ___________________ Código do distrito ou subdistrito + setor censitário: ____________________ Nº do domicílio: _______________ Nº do questionário: ____________ Município: ___________________ Bairro: ______________________ Área: _______________________ 2. Características do domicílio 2.1. Quantas famílias vivem neste domicílio? ____________ 2.2. Quantas pessoas vivem neste domicílio? ___________ Dados básicos Nome Sexo Idade 21 Posição da família 22 Condição na família Maior grau de 23 instrução concluído Continua estudando? Caso sim, qual a série, ano, período ou grau? Principal ocupação Trabalha? 1ª pessoa 2ª pessoa 3ª pessoa 4ª pessoa 5ª pessoa 2.3. Quantos cômodos tem este domicílio? ____________ 2.4. Quantos quartos/dormitórios tem este domicílio? ___________ 2.5. Quantos banheiros tem este domicílio? _____________ 2.6. Qual a área construída deste domicílio? __________ m2 99. NS/NR 2.7. Quantas casas possui este terreno? 1. Só possui uma casa 2. Possui 2 casas 3. Possui 3 casas 4. Possui 4 ou mais casas 5. Não se aplica 99. NS/NR 3. Acesso à moradia 3.1. Este terreno é: 21 Se pertence à família principal (nº 1) ou à família convivente (nº 2). 22 Ex: responsável pela família, cônjuge, filho(a)/enteado(a), pai/mãe/sogro(a), neto(a)/bisneto(a), irmão/irmã, primo(a), tio(a), cunhado(a), outro parente, agregado(a), pensionista, empregado(a) doméstico(a) ou parente do empregado(a) doméstico(a). 23 Indique uma das opções a seguir: até 3 anos de estudo, elementar ou primário, ensino fundamental ou 1º grau, ensino médio ou 2º grau, ensino superior ou 3º grau, pós-graduação lato sensu ou especialização, pós-graduação stricto sensu ou mestrado/doutorado. 117 1. 2. 3. 4. 5. 99. Próprio com escritura Próprio sem escritura Cedido Invadido/ocupado Não se aplica NS/NR 3.2. Este domicílio é: 1. Próprio (adquirido – comprou terreno/casa) 2. Próprio (auto-construído – comprou só terreno) 3. Alugado. Pule para a questão 3.5 4. Cedido por empregador. Pule para a questão 3.5 5. Cedido por particular. Pule para a questão 3.5 6. Invadido/ocupado. Pule para a questão 3.5 99. NS/NR. Pule para a questão 3.5 3.3. Se o seu imóvel é próprio responda: Ele já está pago Ele ainda está sendo pago 3.4. Como adquiriu ou está adquirindo o seu imóvel? 1. à vista 2. através de sistema de financiamento privado 3. através de sistema de financiamento público 4. troquei por outro bem imóvel 5. recebi de herança 6. outros: __________________________________ 3.5. Qual o valor atualizado aproximado deste imóvel? 1. R$ _____________ 2. Não sei 4. Riqueza Social 4.1. Quantos aparelhos de TV existem neste domicílio? 1. nenhum 2. um 3. dois ou mais 4.2. Este domicílio possui TV por assinatura? 1. não 2. NET 3. TVA 4. SKY 4.3. Quantos CD-Players existem neste domicílio? 1. nenhum 2. um 3. dois ou mais 4.4. Quantos videocassetes existem neste domicílio? 1. nenhum 2. um 3. dois ou mais 4.5. Quantas geladeiras existem neste domicílio? 1. nenhum 2. um 3. dois ou mais 4.6. Quantos freezers existem neste domicílio? 1. nenhum 2. um 3. dois ou mais 4.7. Quantos microondas existem neste domicílio? 1. nenhum 2. um 3. dois ou mais 4.8. Quantos microcomputadores existem neste domicílio? 1. nenhum 2. um 3. dois ou mais 4.9. Este domicílio está conectado à Internet? 1. sim 2. não 4.10. Quantas linhas telefônicas existem neste domicílio? 1. nenhuma 2. uma 3. duas ou mais 4.11. Quantos telefones celulares pertencem a moradores deste domicílio? 1. nenhum 2. um 3. dois ou mais 4.12. Este domicílio contrata os serviços de uma empregada doméstica mensalista? 1. sim 2. não 4.13. Este domicílio paga os serviços de uma faxineira/diarista? 1. sim 2. não 4.13. A sua família possui uma segunda moradia? 1. sim Onde?_______________________________________ bairro e município 2. não 4.14. Qual a marca, modelo e ano dos automóveis que pertencem a moradores deste domicílio? Indique o código de acordo com o quadro abaixo. Modelos 01. Popular 1.0 03. Médio (Escort) 02. Compacto (1.3, 1.6) 04. Grande (Mondeo, 05. Luxo (Mercedes, Audi) 06. Pick-up pequena 07. Pick up Grande (Ranger, Dakota, S10) 08. Sport utility 09. Van 10. Wagon (Palio 118 Vectra) (Courier) (Cherokee, Blazer) Marca nacional ou importada? Weekend) Modelo Ano 1º automóvel 2º automóvel 3º automóvel 4º automóvel 5. Trajetória do responsável pelo domicílio 5.1. Há quanto tempo você mora neste domicílio? 1. sempre morou 2. _____ anos e _____ meses 5.2. Há quanto tempo você mora neste bairro? 1. sempre morou 2. _____ anos e _____ meses 5.3. Há quanto tempo você mora nesta cidade? 1. sempre morou 2. _____ anos e _____ meses 5.4. O seu domicílio anterior ficava situado: 1. em área urbana - bairro 2. em área urbana - favela 3. em área rural 5.5. Indique a sua trajetória a partir do momento em que você passou a ser responsável pelo domicílio, informando a condição de ocupação do imóvel correspondente e o trabalho que você exercia na época Período (ano Æ ano) Bairro/Município Condição do imóvel Ocupação no trabalho 5.6. Cite os 3 principais motivos da sua última mudança: Principal motivo 2º motivo 3º motivo 1. Nunca mudei 2. Para ficar perto do local de trabalho 3. Para buscar um trabalho melhor/ganhar dinheiro 4. Para ficar mais perto de familiares e/ou amigos 5. Porque me casei 6. Porque me separei 7. Porque tive filhos 8. Porque meus filhos saíram de casa 9. Para estudar ou para que meus filhos estudem 10. Porque aqui é mais barato 11. Para me livrar do aluguel 12. Porque herdei a atual moradia 13. Porque fui transferido para outro local de trabalho 14. Para fugir da violência 15. Aqui disponho de melhor infra-estrutura 16. Outro motivo: 5.7. Qual o principal fator considerado na escolha deste bairro? ______________________________________________________________________________________ ________ Atenção entrevistador: questão espontânea 5.8. O que pesou mais na sua decisão de vir morar neste domicílio? 1. a localização do imóvel 2. as características do imóvel 5.9. Em que cidade você nasceu? __________________________________________________ 119 Atenção entrevistador: questão espontânea. Identificar a UF. 6. Perfil sociodemográfico do responsável pelo domicílio 6.1. Qual a sua cor/raça? 1. Branco (a) 2. Negro (a) 3. Pardo (a) 4. Amarelo (a) 5. Indígena 6.2. Atualmente você vive com companheira (o)/cônjuge? 1. Sim. Responda a 6.3 2. Não. Pule para a questão 6.4 7. 6.3. Você é: 1. 2. 3. 4. Casado (a) apenas no civil Casado (a) apenas no religioso Casado (a) no civil e no religioso Apenas vivem juntos (amigado/juntado, união consensual) 6.4. Você é: 1. 2. 3. Solteiro (a) Divorciado (a), desquitado (a) ou separado(a) Viúvo (a) Perfil econômico e profissional do responsável pelo domicílio 7.1. Você trabalhou nos últimos 12 meses? 1. Sim. Pule para a questão 7.3 2. Não 7.2. Qual a sua situação? 1. procurando trabalho (pule para 7.4) 2. aposentado/pensionista (pule para 7.21) 3. estudante (pule para 7.21) 4. pessoa ligada aos afazeres domésticos (pule para 7.21) 5. desempregado e não estou procurando emprego (Pule para 7.4) 6. outros: ___________________________ 7.3. Quantas foram as ocupações/atividades desempenhadas? _________ 7.4. Você trabalhou nos últimos 15 dias? 1. Sim. Pule para a questão 7.10 2. Não 7.5. Caso não, há quanto tempo está desempregado? _______ anos e ______ meses 7.6. Caso esteja desempregado mas não procurando emprego, qual o motivo? ______________________________________________________________________________________ ______ Atenção entrevistador: questão espontânea 7.7. Caso esteja desempregado, como se mantém? Aposentadoria ou pensão Aluguel de imóveis Pensão alimentícia ou mesada Doação e/ou empréstimo de familiares e/ou amigos Doação e/ou empréstimo de vizinhos e/ou da comunidade à qual pertence Programas oficiais de auxílio social - Renda mínima, bolsa-escola, seguro-desemprego etc Indenização da demissão Poupança Ajuda de órgão público Ajuda de órgão privado/filantrópico Outros: ______________________________________________ 7.8. Caso esteja desempregado e procurando emprego, qual seria a principal dificuldade encontrada? __________________________________________________________________________________ ____ Atenção entrevistador: questão espontânea 120 7.9. Caso esteja desempregado, qual foi a sua última ocupação? Após responder pule para a questão 7.22 _______________________________________________ 7.10. Qual a sua condição de ocupação (dada pela relação de trabalho)? 1. empregado 2. empregador 3. conta-própria/autônomo 4. funcionário público 5. cooperativado 7.11. Qual o ramo/setor da sua atividade/ocupação principal? _________________________________________ Atenção entrevistador: questão espontânea 7.12. Você tem a carteira assinada? 1. Sim 2. Não 7.13. Você contribui com a Previdência (pública ou privada)? 1. Sim 2. Não 7.14. Como é o seu contrato de trabalho? 1. ainda estou no período de experiência ou estágio probatório 2. contrato de trabalho baseado no regime estatutário 3. contrato de trabalho baseado no regime celetista (CLT) 4. contrato de trabalho temporário/estágio 5. não tenho contrato assinado 6. outro: __________________________________ 99. NS/NR 7.15. Assinale os benefícios que recebe: Benefícios 13º salário Férias anuais acrescidas de 1/3 da sua remuneração Cesta básica Vale-transporte Ticket refeição e/ou alimentação Plano de saúde Seguro de vida Fundo de previdência privada Prêmios e/ou participação nos lucros Recebe 7.16. Qual a sua jornada de trabalho semanal na ocupação principal? 1. menos de 20h 2. entre 20 e 28h 3. entre 28 e 36h 4. entre 36 e 44h 5. entre 44 e 52h 6. acima de 52h 7.17. Caso você tenha outras ocupações, qual a jornada de trabalho semanal correspondente? 1. menos de 20h 2. entre 20 e 28h 3. entre 28 e 36h 4. entre 36 e 44h 5. entre 44 e 52h 6. acima de 52h 7.18. Com relação à sua ocupação principal , em que local você desenvolve o seu trabalho? 1. No próprio domicílio 2. Na empresa, escritório, loja ou oficina 3. Na casa de clientes e/ou locais indicados por clientes 4. Em veículo automotor (van, trailler, kombi, taxi etc) 5. Nas ruas 6. Outro: _____________________________________ 7.19. Caso você trabalhe em escritório, loja, oficina ou em veículo, este é: 1. Próprio 2. Alugado 3. Cedido ou emprestado 121 7.20. Caso você seja um trabalhador autônomo/conta-própria, no seu trabalho você conta com a ajuda de membros da sua família? 1. Sim 2. Não 7.21. A sua renda bruta individual está na faixa de: Informe a ocupação e a faixa de renda correspondente Ocupação principal: 2ª ocupação: 3ª ocupação: Renda total (incluir salários, comissões, bônus e aluguéis etc) não possui fonte de renda no momento até 1 sm – até R$151,00 entre 1 e 2 sm – entre R$151, 01 e R$302,00 entre 2 e 3 sm – entre R$302,01 e R$453,00 entre 3 e 5 sm - entre R$453,01 e R$755,00 entre 5 e 10 sm - entre R$755,01 e R$1.510,00 entre 10 e 20 sm - entre R$1.510,01 e R$3.020,00 entre 20 e 30 sm - entre R$3.020,01 e R$4.530,00 entre 30 e 50 sm - entre R$4.530,01 e R$7.550,00 acima de 50 sm – acima de R$7.550,01 7.22. . Informe a faixa de renda bruta individual total das demais pessoas que moram com você: Informe a condição na família das pessoas que residem com você e possuam renda própria e assinale a faixa de renda correspondente até 1 sm – até R$151,00 entre 1 e 2 sm – entre R$151, 01 e R$302,00 entre 2 e 3 sm – entre R$302,01 e R$453,00 entre 3 e 5 sm - entre R$453,01 e R$755,00 entre 5 e 10 sm - entre R$755,01 e R$1.510,00 entre 10 e 20 sm - entre R$1.510,01 e R$3.020,00 entre 20 e 30 sm - entre R$3.020,01 e R$4.530,00 entre 30 e 50 sm - entre R$4.530,01 e R$7.550,00 acima de 50 sm – acima de R$7.550,01 1ª pessoa: 2ª pessoa: 3ª pessoa: 4ª pessoa: 7.23. Quantas pessoas contribuem com as despesas fixas mensais desta residência? _________________________ 8. Perfil associativo 8.1. Você é filiado a alguma entidade de representação de sua categoria profissional? 1. Sim. Pule para a questão 8.3 2. Não. 3. Não se aplica 8.2. Se não, por quê? Após responder pule para a questão 8.6 1. Não vejo nenhuma vantagem 2. Não tenho tempo de participar das reuniões 3. Não quero contribuir 4. Não posso contribuir 5. Não acredito nessas entidades 6. Outro motivo: _____________________________________________ 8.3. Se for filiado, você é: 1. Sindicalizado 2. Associado 3. Ambos 8.4. Qual o principal motivo que levou você a se sindicalizar/associar? 1. Assistência médica 2. Assistência jurídica 3. Outras vantagens de caráter financeiro 4. Atividade desportiva, cultural ou lazer 5. Atividade política 6. Outro motivo: ____________________________________________ 8.5. Qual a freqüência de participação em reuniões ou assembléias do sindicato/associação nos últimos 12 meses? 1. Não freqüentou 2. Uma vez 3. Duas a três vezes 4. Quatro vezes ou mais Renda familiar 122 8.6. A que tipo de órgão comunitário você é filiado ou associado? 1. Não sou filiado ou associado a nenhum. Pule para a questão 8.8 2. Associação de bairro ou moradores 3. Associação religiosa 4. Associação filantrópica 5. Associação esportiva ou cultural 6. Outro tipo: ______________________________________________ 8.7. Caso seja filiado ou associado, qual a freqüência de participação em reuniões ou atividades do órgão comunitário nos últimos 12 meses? 1. Não freqüentou 2. Uma vez 3. Duas a três vezes 4. Quatro vezes ou mais 8.8. Faz parte de algum partido político? 1. Sim 2. Não. Pule para a questão 8.10 8.9. Se fizer parte, você é: 1. Filiado 2. Militante 3. Filiado e Militante 8.10. Caso não, tem simpatia por algum partido? 1. Sim 2. Não. Pule para a questão 8.12 8.11. Qual é o partido? ______________________________________________________________ Atenção entrevistador: questão espontânea 8.12. Qual a sua religião ou culto? 1. Não tem religião. Pule para a questão 8.14 2. Católica 3. Evangélica tradicional 4. Evangélica pentecostal 5. Espírita kardecista 6. Afro-brasileira (Candomblé, Umbanda etc) 7. Oriental (Budismo, Hinduísmo etc) 8. Judaica ou israelita 9. Outra: _______________________________________ 8.13. Com qual freqüência você participa das atividades, cerimônias ou cultos religiosos? 1. Não participa 2. Atuante/praticante 3. Esporadicamente 4. Apenas em datas e/ou eventos especiais 8.14. Participa de algum outro grupo ou movimento social organizado? 1. Sim 2. Não. Pule para o próximo item. 8.15. Qual ou quais? ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ Atenção entrevistador: questão espontânea 9. Práticas de Consumo – Roteiros cotidianos/Comportamentos/Preferências 9.1. Você estuda? Onde? 1. Não sou estudante 2. Escola/colégio público 3. Escola/colégio privado 4. Escola técnica pública 5. Escola técnica privada 6. Faculdade/universidade pública 7. Faculdade/universidade privada 9.2. Caso você estude, em que bairro da sua cidade ou em que outra cidade fica o seu colégio/faculdade/curso? __________________________________________________________________________________ 9.3. Caso você estude, como se desloca à escola/faculdade/curso mais freqüentemente? 1. A pé ou de bicicleta 2. Automóvel particular 3. Táxi 4. Ônibus 5. Metrô 123 6. 7. 8. 9. 10. Van Barcas Trem Transporte escolar Outro: ______________________________ 9.4. Caso você trabalhe, em que bairro da sua cidade ou em que outra cidade fica o seu local de trabalho? __________________________________________________________________________________ 9.5. Caso você trabalhe, como se desloca ao local de trabalho mais freqüentemente? 1. A pé ou de bicicleta 2. Automóvel particular 3. Táxi 4. Ônibus 5. Metrô 6. Van 7. Barcas 8. Trem 9. Transporte oferecido pelo empregador/empresa 10. Outro: ______________________________ 9.6. Caso você estude, qual o tempo gasto em média no percurso casa Æ colégio/faculdade/curso? 1. Até 15 min 2. Entre 15 e 30 min 3. Entre 30 min e 1h 4. Entre 1h e 1h30min 5. Entre 1h30min e 2h 6. Acima de 2h 9.7. Caso você trabalhe, qual o tempo gasto em média no percurso casa Æ local de trabalho? 1. Até 15 min 2. Entre 15 e 30 min 3. Entre 30 min e 1h 4. Entre 1h e 1h30min 5. Entre 1h30min e 2h 6. Acima de 2h 9.8. Cite o curso complementar ao qual você se dedica mais: 1. Não freqüento cursos complementares 2. Línguas estrangeiras 3. Informática 4. Música/instrumento musical 5. Dança 6. Teatro 7. Artes – desenho, pintura, decoração etc 8. Culinária 9. Atividades desportivas em geral 10. Outro: ________________________________________ 9.9. Como desfrutou as suas férias nos últimos 5 anos com mais freqüência? 1. Não teve férias pois não trabalha/estuda 2. Não tirou férias 3. Ficou em casa 4. Viajou pelo estado do Rio 5. Viajou pelo Brasil 6. Viajou pelo exterior 9.10. Quando viaja de férias, qual o meio de transporte mais utilizado? 1. Automóvel particular 2. Ônibus 3. Avião 4. Navio/barco 5. Trem 6. Carona 7. Outro: ________________________ 9.11. Onde você adquire os produtos de alimentação mais freqüentemente? 1. Supermercado 2. Hipermercado 3. Mercearias, quitandas, padarias 4. Feiras ambulantes 124 5. Outro: _________________________ 9.12. De acordo com a sua resposta anterior, diga qual o principal motivo: 1. Proximidade 2. Preço 3. Forma de pagamento 4. Variedade e qualidade 5. Outro: ____________________________________ 9.13. Qual a forma mais utilizada de pagamento na compra dos produtos de alimentação? 1. À vista 2. A prazo – cheque pré-datado 3. A prazo – cartão de crédito/cartão do próprio estabelecimento 4. Fiado (conta em caderneta) 5. Tickets 9.14. Você adquire vestuário e calçados nas lojas do seu bairro? 1. Sim, freqüentemente 2. Sim, ocasionalmente 3. Nunca 9.15. Você adquire vestuário e calçados em shopping centers? 1. Sim, freqüentemente 2. Sim, ocasionalmente 3. Nunca 9.16. Você adquire vestuário e calçados na feira ou em camelôs? 1. Sim, freqüentemente 2. Sim, ocasionalmente 3. Nunca 9.17. Você adquire vestuário e calçados em lojas de marca/grife? 1. Sim, freqüentemente 2. Sim, ocasionalmente 3. Nunca 9.18. Você adquire vestuário e calçados através de doação? 1. Sim, freqüentemente 2. Sim, ocasionalmente 3. Nunca 9.19. Como você normalmente adquire eletrodomésticos? 1. À vista 2. A prazo – cheque pré-datado 3. A prazo – cartão de crédito/cartão do próprio estabelecimento 4. A prazo – crediário 5. Doação 6. Outro: _____________________________________ 9.20. Como você acessa o sistema de saúde mais freqüentemente? 1. Sistema privado – possui plano de saúde de grandes empresas 2. Sistema privado – possui plano de saúde de determinada clínica 3. Sistema privado – paga consulta particular 4. Sistema público 5. Sistema da corporação que trabalha 6. Sistema filantrópico/clientelista 9.21. Qual dentre os lugares abaixo, você gosta e costuma freqüentar e quais nunca frequenta? Locais/programas Sempre Raramente Nunca Onde frequenta Cinema Teatro Casas de shows Shows públicos Bares Restaurantes Boates Shopping centers Clubes Casas de jogos Museus Exposições 125 Praia Praças Parques/áreas verdes Outros: 9.22. Quando está comemorando algo ___________________________________ importante, qual 9.23. Qual a sua comida, prato ________________________________________________________ a bebida mais preparado, 9.24. Quando em casa, com que tipo de lazer você ocupa as suas horas livres mais freqüentemente? 1. Assiste à TV ou vídeo 2. Ouve música 3. Lê 4. Navega na Internet 5. Conversa com amigos/vizinhos 6. Outro: ___________________________________________________________ 9.25. Onde você pratica esportes/atividades físicas? 1. Não pratica atividade física/esportes. Pule para a 9.25 2. Em casa 3. Ao ar livre – praias, áreas verdes etc 4. Academias ou clubes 5. No próprio condomínio 6. Outro: __________________________________________________________ 9.26. Caso pratique esportes/atividade física, qual a modalidade mais freqüente? 1. caminhada/corrida 2. outras modalidades associadas ao atletismo 3. ciclismo 4. ginástica localizada/musculação 5. natação ou hidroginástica 6. futebol 7. outros esportes coletivos (vôlei, basquete etc) 8. esportes individuais (tênis, esgrima, tiro, golfe, equitação etc) 9. lutas marciais em geral 10. capoeira 11. surf ou bodyboarding 12. outra: _________________________________________________________ 10. Comportamento e preferências culturais 10.1. Quais, dentre os museus e espaços culturais abaixo, você já foi pelo menos uma vez? 1. Museu Histórico da República (Catete) 2. Museu Histórico Nacional (Arsenal de Guerra e do Trem) 3. Museu Nacional (Quinta da Boa Vista) 4. Planetário 5. Museu da II Guerra Mundial (Aterro do Flamengo) 6. Museu Casa do Pontal 7. Casa França Brasil 8. Museu Nacional de Belas Artes 9. Museu de Arte Moderna (MAM) 10. Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) 11. Museu Chácara do Céu (Santa Teresa) 12. Museu Internacional de Arte Naif (Cosme Velho) 13. Museu de Imagens do Inconsciente 14. Espaço Cultural dos Correios 15. Centro Cultural Hélio Oiticica 16. Casa de Cultura Laura Alvim 17. Museu da Imagem e do Som (MIS) 18. Museu de Arte Contemporânea (MAC – Niterói) 19. Outros, quais? ________________________________________________________________________ 20. Nenhum 10.2. Dentre as exposições abaixo, qual freqüentou? utilizada? predileto? 126 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Claude Monet Salvador Dali Esplendores de Espanha 500 anos - Mostra do descobrimento (qualquer um dos módulos) Auguste Rodin Pablo Picasso Expressionismo Alemão Outras, quais? ____________________________________________________________________________ 9. Nenhuma 10.3. Dê a sua opinião sobre os pintores abaixo: Nunca ouvi falar Só ouvi falar, mas não conheço o trabalho Gosto do trabalho Não gosto Gosto do trabalho Não gosto 1. Leonardo da Vinci 2. Vincent Van Gogh 3. Fra Angelico 4. Paul Klee 5. Matisse 6. Jan Vermeer 7. Modigliani 8. Auguste Renoir 9. Edgar Degas 10. Di Cavalcanti 11. Portinari 12.Djanira 13. Guignard 14. El Greco 15. Velazquez Totais 10.4. Dê a sua opinião sobre os compositores clássicos abaixo: Nunca ouvi falar Só ouvi falar, mas não conheço o trabalho 1. Liszt 2. George Gershwin 3. Mozart 4. Johann Sebastian Bach 5. Beethoven 6. Richard Wagner 7. Vivaldi 8. Tchaikovsky 9. Chopin 10. Bizet 11. Verdi 12. Rossini 13. Strauss 14. Haendel 15. Mendelssohn Totais 10.5. Indique o autor das composições clássicas abaixo: Não sei 1. O Barbeiro de Sevilha 2. As Bodas de Fígaro 3. As quatro estações 4. Tristão e Isolda 5. O quebra-nozes 6. O Lago dos Cisnes 7. Carmem 8. Aída Sei (cite o compositor) 127 9. Marcha Nupcial 10. Danúbio Azul Totais 10.6. Indique o compositor ou o intérprete mais famoso das músicas abaixo: Não conheço essa música Conheço, mas não sei de quem é Conheço e sei de quem é (cite o nome) 1. Sampa 2. Chega de Saudade 3. Samba do Avião 4. Esperando na janela 5. Palco 6. A Banda 7. Leãozinho 8. Águas de Março 9. Construção 10. Desafinado Totais 10.7. Indique o compositor ou o intérprete mais famoso das músicas abaixo: Não conheço essa música Conheço, mas não sei de quem é Conheço e sei de quem é (cite o nome) 1. Sai da minha aba 2. Brincadeira de criança 3. Shopping center 4. Assim que tá gostoso 5. Requebrabum 6. Tá a fim de sambar 7. Decisão 8. Absoluta 9. Mundo dos sonhos 10. Fotografia Totais 10.8. Indique o diretor dos filmes abaixo: Não conheço esse filme Conheço, mas não sei quem é o diretor Conheço e sei quem é o diretor (cite o nome) 1. Auto da Compadecida 2. Repulsa ao Sexo 3. Lanternas Vermelhas 4. Central do Brasil 5. O Quatrilho 6. Manhattan 7. Asas do Desejo 8. O Baile 9. Dançando no Escuro 10. Titanic 11. De repente num Domingo 12. Janela Indiscreta 13. A Lista de Schindler 14. Deus e o Diabo na Terra do Sol 15. Tudo sobre minha mãe Totais 10.9. Indique um livro dos escritores abaixo que já leu: Não conheço esse(a) escritor(a) 1. Machado de Assis 2. Guimarães Rosa 3. José Cândido de Carvalho 4. Raduan Nassar 5. Rubem Fonseca Conheço, mas não li nenhum livro dele(a) Conheço e li (cite o nome de apenas um livro) 128 6. Lygia Fagundes Telles 7. Paulo Coelho 8. João Ubaldo Ribeiro 9. Jorge Amado 10. Nélida Pinon 11. Carlos Heitor Cony 12. Érico Veríssimo 13. Nelson Rodrigues 14. Carlos Drummond de Andrade 15. José Lins do Rêgo Totais 10.10. Com que freqüência você assiste aos seguintes programas: Sempre Às vezes Raramente Nunca Hebe Domingão do Faustão Domingo Legal Programa do Ratinho Novelas Mais Você Show do Milhão Fantástico O Positivo Altas Horas Erótica Jornal Nacional Casseta & Planeta Gabi Roda Viva Programa do Jô 10.11. Qual tipo de rádio costuma ouvir? 1. Notícias 2. Jovem 3. Cultura e música 4. Religiosas 5. Esporte 6. Outra, qual? __________________________________________ 7. Nenhuma 10.12. Onde adquire ou adquiriu a maior parte dos móveis da sua casa? 1. Doações 2. Feiras de móveis 3. Grandes magazines/lojas de departamento 4. Antiquário 5. Brechós (móveis de 2ª mão) 6. Lojas de design especializadas 7. Pequenas lojas 8. Contrata os serviços de marceneiros 10.13. Escolha o adjetivo que melhor representa o interior da casa que gostaria de morar: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. Amplo Fácil manutenção, prático Íntimo Confortável Arrumado Limpo, bem cuidado Extravagante Sóbrio, discreto Harmonioso Repleto de objetos decorativos, enfeitado 10.14. Como você consideraria atualmente o interior da sua casa? __________________________________________________________________________________ 129 10.15. Você toca algum instrumento musical? Qual ou quais? __________________________________________________________________________________ 10.16. Quantas línguas estrangeiras você fala? Quais? __________________________________________________________________________________ 10.17. Você lê revista semanalmente? Se sim, qual ou quais? __________________________________________________________________________________ 10.18. Você lê jornal pelo menos uma vez por semana? Se sim, qual ou quais? __________________________________________________________________________________ 10.19. O que você espera para os seus filhos? __________________________________________________________________________________ 11. Percepção do lugar 11.1. O que você acha de morar aqui? 1. Ótimo 2. Bom 3. Regular 4. Ruim 5. Péssimo 6. Indiferente 11.2. O que você mais gosta do lugar onde você mora? _________________________________________________________________________________ 11.3. 1. 2. 3. 4. Você considera que o seu bairro está: melhorando mantendo-se na mesma situação piorando não sabe 11.4. De acordo com a sua resposta anterior, explique por que: ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 11.5. Quais os 2 principais problemas do seu bairro? 1º _____________________________________________________________________________ 2º ______________________________________________________________________________ 11.6. Você já sofreu algum tipo de violência no seu bairro? 1. Sim 2. Não. Pule para a questão 11.8 11.7. Caso sim, que tipo de violência? _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ 11.8. Você gostaria de se mudar? 1. Sim 2. Não. Pule para a questão 11.11 11.9. Caso você prefira morar em outro lugar, que lugar seria esse (parte do bairro, bairro, cidade etc)? ______________________________________________________________________________ Atenção entrevistador: questão espontânea 11.10. Caso você prefira morar em outro lugar, o que o impede? 1. restrições financeiras 2. minha família prefere viver aqui 3. meus amigos/familiares moram aqui 4. aqui é mais próximo do meu local de trabalho 5. aqui a oferta de trabalho/emprego é maior 6. aqui o acesso ao comércio, serviços e transportes é melhor 7. aqui tem praia ou a praia é melhor 8. outro: ________________________________________________________________ 130 11.11. Ao se mudar para cá você considera que: 1. ganhou status 2. perdeu status 3. não fez a menor diferença em termos de status 4. Não se aplica 11.12. Qual outro bairro, fora a Tijuca, que mais freqüenta? _________________________________ Porque? _____________________________________________________________________ 11. 13. Classifique os bairros/regiões abaixo quanto ao status: Bairros/Regiões Copacabana Ipanema Gávea Lagoa Botafogo Catete Centro Jacarepaguá Barra da Tijuca Tijuca Vila Isabel São Cristóvão Bonsucesso Méier Madureira Pavuna Baixada Fluminense Niterói Muito alto Alto Médio Baixo Muito baixo 11.14. Qual das palavras abaixo melhor define a Tijuca? 1. Homogeneidade 2. Beleza 3. Tranquilidade 4. Conservadora 5. Segurança 6. Tradição 7. Modernidade 8. Solidariedade 9. Outras: __________________________________________________________________ 12. Percepção do meio social 12.1. . Em qual dos grupos abaixo você se inclui? 1. Classe alta 2. Classe média alta 3. Classe média média 4. Classe média baixa 5. Classe baixa/popular (pobre) 6. Não sei 12.2. Você se relaciona socialmente (nas suas horas de lazer) com pessoas de classes sociais diferentes da sua? 1. Não 2. Sim, com pessoas de classe social acima da minha 3. Sim, com pessoas de classe social abaixo da minha 4. Sim, com pessoas de classes sociais abaixo e acima da minha 12.3. Como você se relaciona com os seus vizinhos imediatos? 1. Mantenho uma relação de amizade e/ou solidariedade 2. Mantenho uma relação cordial, mas distante 3. Não gosto e/ou não falo com eles 4. Não os conheço 12.4. Como você conheceu a maior parte das pessoas com quem você se relaciona nas suas horas de lazer no seu próprio bairro? 1. Não possuo amigos no bairro 2. Na escola/curso/faculdade 131 3. 4. 5. 6. 7. 8. No trabalho Na academia de ginástica ou clube Na praia/ praça Através de relações de vizinhança Por intermédio de outros amigos Outro: _____________________________________________________________ 12.5. Você tem parentes residindo no bairro (ou nas proximidades)? 1. Sim 2. Não 12.6. Caso sim, como você se relaciona com eles? 1. Nunca se vêem ou visitam-se 2. Vêem-se apenas em festas familiares 3. Vêem-se ou visitam-se pouco 4. Vêem-se ou visitam-se freqüentemente 12.7. Como você definiria o típico Tijucano? __________________________________________________________________________________________________