Estudo preliminar da composição de macroinvertebrados e
comunidade bentônica do riacho localizado no Parque
Estadual Mata São Francisco (Paraná).
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1. Introdução
Entre as comunidades que habitam os ecossistemas aquáticos,
a comunidade bentônica é uma das mais diversificadas, pois nela são
encontrados representantes de diversos filos do Reino Animal, desde
os protozoários até os macroinvertebrados de grandes dimensões,
além de
vertebrados. Apesar de
sua reconhecida importância
ecológica, a comunidade zoobentônica ainda é uma das menos
estudadas
nos
ecossistemas
aquáticos
continentais
devido
às
dificuldades de amostragem e identificação taxonômica acurada dos
organismos (Parsons & Norris 1996).
Os
macroinvertebrados
bentônicos
tem
gradativamente
recebido maior atenção devido a sua importância nos processos
ecológicos, através da participação no fluxo de energia e ciclagem de
nutrientes nos sistemas aquáticos, desempenhando papel importante
na troca de fósforo e nitrogênio entre o sedimento e a água de
interface (Gardner et al. 1983, Fukuhara & Sakamoto 1988).
Através do biorrevolvimento (atividades de escavação) e da
decomposição da matéria orgânica, estes organismos reduzem o
tamanho das partículas, contribuindo, dessa forma, para a liberação
de
nutrientes.
Dependem
principalmente
do
processo
de
decomposição para se alimentarem, e estão mais distantes da
superfície da água, onde as interações com ambientes adjacentes são
mais rápidas e freqüentes. Assim esta comunidade é mais adequada
para se detectarem os distúrbios mais impactantes e duradouros no
ecossistema aquático, auxiliando, portanto, no monitoramento e
avaliação do ambiente (Hynes 1970). Além disso, os invertebrados
bentônicos participam de diversas cadeias alimentares, sendo o
principal
item
alimentar
de
vários
organismos
aquáticos,
notadamente dos peixes (Margalef 1983).
A comunidade bentônica é constituída principalmente por larvas
aquáticas
de
Díptera,
Ephemeroptera,
Plecoptera,
Odonata,
Hemíptera, Neuroptera, Thrycoptera, Coleópteros aquáticos, e outros
grupos
de
invertebrados
como
os
Platyhelminthes,
Nematoda,
Mollusca e Anellida. (Payne 1986).
A distribuição dessa comunidade é influenciada por fatores
bióticos e abióticos como: natureza do sedimento, profundidade,
flutuações do nível da água, concentração de oxigênio dissolvido,
variação do pH, grau de trofia e bióticos como a competição entre as
diferentes populações, pressões de predação, entre outros (Esteves,
1988). A interação entre esses fatores é que determinam a estrutura
da comunidade que se estabelece. Qualquer alteração em alguns
desses pode interferir na distribuição e abundância dos organismos
bentônicos (Saether, 1979; Warnick, 1992).
O presente estudo tem como objetivo principal analisar a
composição da comunidade bentônica em um trecho do córrego
presente na mata São Francisco e entre a nascente e a foz, localizado
na região norte do Paraná entre os municípios de Cornélio Procópio e
Santa Mariana.
2. Justificativa
A grande importância de se fazer esse estudo é que os animais
bentônicos estão envolvidos no processo de ciclagem dos nutrientes e
desempenham papel importante na troca de fósforo e compostos
nitrogenados entre o sedimento e a região limnética. São os
principais responsáveis por indicarem processos de degradação nos
ecossistemas
aquáticos
e
fornecem
dados
para
uma
possível
recuperação do ecossistema se caso ocorrer uma eutrofização.
(Gardner et al. 1983, Fukuhara & Sakamoto 1988).
As questões ambientais estão ligadas diretamente às sociais.
Assim o estudo desse córrego permitirá descobrir se existe alguma
espécie indicadora de má ou boa qualidade de água e os resultados
serão interessantes para a divulgação da necessidade e importância
da preservação ambiental.
São importantes também nos estudos
para o tratamento da água em postos de captação para consumo da
comunidade.
A necessidade de se fazer esse trabalho na reserva e em pontos
ao redor dela é procurar saber se há alguma influência de materiais
inorgânicos no córrego onde há maior contato com a agricultura e se
esses compostos influenciam na fauna.
Enfim, com o conhecimento da biodiversidade presente nos
pontos estratégicos dos locais de coleta, forneceremos informações
importantes para o enriquecimento da ciência e para a amplitude dos
estudos existentes no parque estadual mata São Francisco.
3. Objetivo Geral
- Constatar se dentro da área de proteção ambiental a diversidade de
táxons da comunidade bentônica é maior do que naqueles pontos fora da
área de proteção.
- Constatar se fora da área de proteção ambiental a diversidade de táxons
da comunidade bentônica é menor ou maior do que naquele dentro da área
de proteção.
- Determinar se no período de estiagem a comunidade bentônica será maior
que no período chuvoso.
4. Objetivos Específicos
- Caracterizar a comunidade bentônica presente no córrego da Mata
determinando sua composição taxonômica.
- Determinar algumas características físicas e químicas da água e do
sedimento do córrego.
- Verificar a possível relação entre as características físicas e químicas da
água e do sedimento do córrego e a estrutura da comunidade bentônica.
- Avaliar o efeito da sazonalidade climática sobre a composição de espécies, a
densidade populacional e a riqueza de táxons da comunidade bentônica do
córrego.
5. Área de estudo
O córrego a ser estudado está inserido em uma unidade de
proteção integral de conservação conhecida como Parque Estadual
Mata São Francisco com 832,58 há, criado pelo decreto 4.333, em 05
de dezembro de 1994. Localiza-se entre os municípios de Santa
Mariana e Cornélio Procópio (28° 08' 47', 3S E 50° 34' 19,5'W, 543 m
de altitude), com 73,12% pertencente ao município de Santa Mariana
e 26, 88% pertencentes ao município de Cornélio Procópio, no estado
do Paraná, sendo descrito como floresta estacional semidecidual
secundária.
O parque possui dupla estacionalidade climática: uma tropical,
com época de intensas chuvas de verão seguidas por estiagens
acentuadas e, outra subtropical, sem período seco, mas com seca
fisiológica provocada pelo intenso frio de inverno, com temperatura
médias inferiores a 15 °C.
O presente córrego nasce fora das extremidades do parque
estadual (na região de Cornélio Procópio), passa por dentro da mata
e sai em direção ao rio laranjinhas (na região do município de Santa
Mariana) onde se encontra a foz. Sabe-se através de dados ainda não
publicados que o córrego apresenta 13 km de comprimento a partir
de um ponto demarcado de dentro da mata até sua foz. Dados da
nascente até a mata ainda não foram estabelecidos.
Antes de chegar à sua foz este córrego passa por várias áreas
privadas onde ocorrem culturas como milho e cana-de-açúcar. Estas
áreas estão sujeitas as mais adversas maneiras e situações de
controle de pragas como o uso de agrotóxicos e outros defensivos
agrícolas que são os principais responsáveis pela degradação de
matas e alteração da biodiversidade na região.
6. Materiais e Métodos
Para a realização do presente estudo serão coletados amostras
de sedimento para a análise da comunidade bentônica em 3 pontos
descritos a seguir:
Ponto 1. próximo a nascente, antes da área de proteção ambiental;
Ponto 2: dentro da área de proteção ambiental;
Ponto 3: próximo a foz.
Esses pontos serão georeferenciados com GPS, para se obter
maior precisão na localização dos pontos de coleta, entre os
diferentes períodos de amostragem (verão e inverno e suas
respectivas estações intermediárias).
As amostras de sedimento para a análise da comunidade
bentônica serão recolhidas com amostrador tipo Surber com tela de
nylon de malha de 250 micra de abertura e 0,3m2 de área amostral
em tréplicas. O material coletado será transferido para frascos de
polietileno e fixado em formaldeído 10%. No laboratório, as amostras
serão lavadas em uma peneira de malha com 250 micra de abertura
e os organismos isolados com auxílio de uma bandeja transiluminada
e pinça. Os espécimes encontrados serão conservados em álcool 70%
e
classificados
de
acordo
com
as
características
taxonômicas
presentes.
Nesses
3
pontos,
será
realizado
também
o
estudo
da
concentração de nutrientes totais (Nitrogênio e Fósforo). Para isso,
amostras de água serão coletadas e armazenadas em frascos de
polietileno e congeladas até a análise, que serão realizadas no
laboratório de Limnologia do Departamento de Ecologia e Biologia
Evolutiva da Universidade Federal de São Carlos e seguindo a técnica
descrita em Valderrama (1981).
6. Cronograma
Atividade
10/08
Coleta do material
11/08
12/08
X
01/09
02/09
03/09
X
04/09
05/09
06/09
X
07/09
08/09
09/09
X
Triagem do material
X
X
X
X
X
X
X
X
Identificação do material
X
X
X
X
X
X
X
X
Tabulação dos dados
X
Análise da água
X
X
X
X
X
Análise estatística
Revisão de literatura
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
Redação do trabalho
X
X
X
X
X
X
Envio para publicação
X
O inicio do trabalho está previsto par outubro de 2008. Como
serão realizadas coletas nas quatro estações do ano, a 2ª está
prevista para ser feita nos meses de verão, a 3ª para o outono e a 4ª
para os meses de inverno. Se houver necessidade, haverá repetição
das coletas para confirmação dos resultados e por isso o trabalho
pode se estender por mais de um ano e, para isso, pedimos a
permissão para trabalhar na área por pelo menos três anos.
As amostras de água serão guardadas no congelador para
conservação dos nutrientes e o sedimento recolhido será transferido
para um pote de polietileno com álcool 70%.
À água recolhida será analisada no laboratório de Limnologia do
Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da UFSCAR. A triagem
do
sedimento
será
feita
no
laboratório
de
Entomologia
Universidade Estadual Norte do Paraná, campus Bandeirantes.
da
7. Custos do projeto
Descrição
Quantidade
Valor (R$)
1
1.000,00
Coletor do tipo Surber
Pinças
10
Peneira de malha de 250 micra
Recipientes plásticos
100,00
1
1.000,00
500
100,00
Álcool 70%
100 l
150,00
Combustível
100 l
250,00
TOTAL:
2.600,00
8. Bibliografia
ESTEVES, F. A. (1988). Fundamentos de Limnologia. Rio de
Janeiro, Ed. Interciência/Finep. 575p.
PEREZ, G. R. Guia para el estúdio de los macroinvertebrados
acuáticos del Departamento de Antioquia/
Fondo Fen Colômbia/
Colciencias/ Universidad de Antioquia. 215p.
MARGALEF, R. (1983). Limnologia. Barcelona, Ediciones Omega,
1009p
VALDERRAMA, J. C. (1981). The simultaneous analysis of total nitrogen and
phosphorus in natural waters. Mar. Chem., 10: 109-122p.
TRIVINHO-STRIXINO,
S.,
STRIXINO.
G.
(1995).
Larvas
de
Chironomidae (Diptera do Estado de São Paulo: guia de
identificação de
diagnose dos gêneros. São Carlos, Programa de Pós-Graduação em
Ecologia e Recursos Naturais, Universidade Federal de São Carlos.
FUKUHARA, H. & SAKAMOTO, M. 1988. Ecological significance of
bioturbation
of
zoobenthos
community
release
from
bottom
sediments ins shallow eutrophic lake. Arch. Hydrobiol. 113(3):425445.
GARDNER, W. S., NALEPA, T. F., SLAVENS, D. R. & LAIRD, G. A.
1983. Patters and rates of nitrogen release by benthic chironomidae
and Oligochaeta. Can. J. Fish. Aquat. Sci. 40:259-266.
PARSONS, M. & NORRIS, R. H. 1996. The effects of habitat specific
sampling on biological assessment of water quality using a predictive
model. Freshwater Biology. 36:419-434.
SAETHER, O. A. 1997. Chironomid communities as water quality
indications. Holoartic Ecology. 2:65- 74.
WARNICK, W. F. 1992. The effect of trophic/ contaminat interactions
on
chironomid
community
structure
and
sucession
(Diptera:
Chironomidae). Netherland Journal Aquatic Ecology, (26)2-4:563575.
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Estudo preliminar da composição de macroinvertebrados