Tratamento de Rejeito Líquido de Laboratórios – Estudo de Caso: Retenção do Pb-210, por biomassa no Efluente do SEANA/IRD/CNEN Luiz Filippe Souza da Silva e Ana Cristina de Melo Ferreira Instituto de Radioproteção e Dosimetria – IRD INTRODUÇÃO Existe uma discussão sobre o crescimento da liberação inapropriada de metais pesados em esgotos, em especial quando se trata de rejeitos líquidos incluindo quantidades traço de elementos radioativos. Atualmente, de acordo com a política da química verde, o ideal é que em qualquer tipo de laboratório, a menor quantidade possível de produtos seja utilizada para conseqüentemente gerar uma quantidade de resíduo ainda menor. O rejeito gerado deve ser tratado antes de seu lançamento no meio ambiente, mesmo que em rede de esgoto, pois dependendo do teor de metais ou ainda do pH, muitos danos podem ser causados. Com esta preocupação, o Instituto de Radiproteção e Dosimetria/CNEN, que sempre teve como preocupação os rejeitos radioativos, segregando-os e tratando quando possível e necessário, está atualmente, realizando uma pesquisa com os efluentes dos seus laboratórios químicos, visando minimizá-los, descontaminá-los dos reagentes químicos quando necessário, e ainda, um reaproveitamento do efluente, após o tratamento, para atividades secundárias. Para tal, existe um projeto em andamento, que estuda a retenção, por biomassa,de diferentes elementos (que são normalmente dosados pelos laboratórios do SEANA/IRD). O Instituto de Radioproteção e Dosimetria tem sob sua gerência diferentes atividades, localizadas em diferentes setores do aglomerado de prédios localizados na região da baixada de Jacarepaguá, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Foram construídas oito sub-estações para recebimento dos efluentes das diversas unidades, que inicialmente convergiam para uma sub-estação maior onde seria realizado o tratamento. Com a nova filosofia, resolveuse que cada sub-estação seria analisada separadamente, fazendo-se uma caracterização do efluente gerado e proposto um tratamento adequado, já na sub-estação, podendo este rejeito após o tratamento, ser dispensado diretamente para a rede de esgoto ou ainda ser previsto o seu re-uso. Para dar início ao processo, foi solicitado ao Serviço de Análises Ambientais (SEANA), também pertencente ao Instituto, que fizesse um estudo detalhado para os efluentes gerados pelos laboratórios do SEANA, já que este serviço é o que concentra o maior número de laboratórios químicos do Instituto. O Serviço de Análises Ambientais tem como uma de suas principais atividades analisar amostras ambientais, oriundas de instalações nucleares e seus arredores. As amostras são trazidas por inspetores do Serviço de Avaliação de Impacto Ambiental, também lotado no IRD/CNEN. A princípio, as amostras por serem ambientais, contêm teores dos elementos radioativos investigados, dentro dos valores ambientais esperados, salvo qualquer problema existente. Entretanto, para que as metodologias sejam otimizadas é necessário que se utilizem traçadores dos elementos radioativos, para que se possa ter a certeza das medidas realizadas, não ficando os resultados obtidos sob a suspeita de estarem abaixo dos limites de detecção por inadequabilidade dos métodos ou pela pouca quantidade existente. Para tal, os trabalhos de pesquisa estão sendo desenvolvidos por alunos de mestrado, visando não apenas um desenvolvimento técnico-científico, mas também uma disseminação da cultura da química verde. OBJETIVO Implementar uma metodologia nos efluentes dos laboratórios químicos, do serviço de Análises Ambientais, visando minimizá-los, descontaminá-los dos reagentes químicos quando necessário,e ainda, um reaproveitamento do efluente, após o tratamento, para atividades secundárias. METODOLOGIA O material escolhido para estudo da absorção destes metais foi a biomassa seca Sargassum filipendula. A seleção da Sargassum filipendula como bio-absorvedor se deu por já existirem diferentes estudos. Ting e Sheng (2004) realizaram um estudo em batelada comparando a eficiência na adsorção dos metais chumbo, cobre, zinco, cádmio e níquel por diferentes espécies de algas como Sargassum sp.(marron), Padina sp.(marron), Ulva sp.(verde) e Gracillaria sp.(vermelha), sendo as algas marrons as mais eficientes na adsorção alcançando maiores valores de captação. Este resultado é devido aos polissacarídeos existentes na estrutura das algas marrons, onde uma maior concentração de alginato provou ser responsável pela melhor captação dos metais (Fourest and Volesky, 1996). A utilização da biomassa como bioabsorvedor se torna bastante importante quando se verifica que geralmente os métodos para reter metais utilizam resinas trocadoras de íons, que são materiais importados, de alto custo, e que ainda se tornam rejeitos de difícil destino. Yang e Volesky (1999) estudaram a biossorção e a eluição de urânio com o emprego da alga marinha Sargassum fluitans realizando experimentos de biossorção dinâmica (tempo de contato e efeito do pH), experimentos de equilíbrio (isotermas) e biossorção e dessorção em colunas de leito fixo, com o emprego de soluções sintéticas de nitrato de urânio. Os autores verificaram uma capacidade de carregamento máxima de urânio, variável entre 0,5 e 2 mmol U/g biomassa. Concluíram, também, que o HCl é um excelente eluidor do metal radioativo incorporado à biomassa, e confirmaram a boa performance de um sistema contínuo para a captação de urânio. Todos os resultados reportados neste trabalho, bem como alguns poucos trabalhos publicados para o tratamento de elementos radioativos, indicam a potencialidade do emprego de algas marinhas para este fim. Para desenvolvimento da metodologia serão utilizadas soluções padrão de Pb-210 (juntamente com chumbo estável). Da metodologia constam os testes preliminares de biossorção, os estudos cinéticos, os modelos cinéticos envolvidos, o levantamento das isotermas, a adequação dos resultados aos modelos já existentes, baseados nas equações de Langmuir e Freundlich, o levantamento da altura crítica das colunas, a caracterização do efluente e, finalmente, a aplicação do método a um efluente real. RESULTADOS Este trabalho de iniciação científica, faz parte de um projeto maior envolvendo teses de mestrado (o estudo do tório já foi publicado [5] e o de urânio está na fase conclusiva).Inicialmente o trabalho foi previsto para um período de dois anos, assim o trabalho previsto para o primeiro ano, constou do aprendizado da metodologia de quantificação do Pb-210. CONCLUSÕES Foram realizadas determinações de Pb-210, pelo método utilizado nos laboratórios SEANA/ IRD, finalizando com a participação em programa de comparação interlaboratorial, tendo atingido uma ótima performance, conseqüentemente um ótimo aprendizado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1]Ting, Y.P., Sheng, P. X., Chen, J. P., Hong, L., Journal of Colloids and Interface Science, 275, 131-141, 2004. [2]Fourest, E., Volesky, B., Environmental Science and Technology, 30, 277-282, 1996. [3] YANG, J., VOLESKY, B; Proc.Interntl. Biohydr. Symp. 99, Spain. [4]Volesky, B., Weber, J., Park, J.M., Water Research, 37, 297-306, 2003. [5]Picardo,Marta,C.,Tese Mestrado, “Biossorção de Th com o emprego de Sargassum filipêndula”, Instituto de Química, UERJ,2006. APOIO FINANCEIRO AO PROJETO CNPq/PIBIC