Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Interação entre o desenvolvimento motor e o desenvolvimento cognitivo: impacto de um programa de intervenção psicomotor no desenvolvimento intelectual e competências matemáticas em crianças com dificuldades de aprendizagem do 1.º ciclo do ensino básico Dissertação de Mestrado em Educação Física - Especialização em Desenvolvimento da Criança Isabel Maria Gouveia Pereira Orientação: Professora Doutora Maria Isabel Martins Mourão Carvalhal Professora Doutora Maria Cecília Rosas Pereira Peixoto da Costa Vila Real, 2014 I Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Interação entre o desenvolvimento motor e o desenvolvimento cognitivo: impacto de um programa de intervenção psicomotor no desenvolvimento intelectual e competências matemáticas em crianças com dificuldades de aprendizagem do 1.º ciclo do ensino básico Dissertação de Mestrado em Educação Física - Especialização em Desenvolvimento da Criança Isabel Maria Gouveia Pereira Orientação: Prof.ª Dra. Maria Isabel Martins Mourão Carvalhal Prof.ª Dra. Maria Cecília Rosas Pereira Peixoto da Costa Composição do Júri: Vila Real, 2014 2 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 Este trabalho foi expressamente elaborado como dissertação original para efeito de obtenção do grau de Mestre em Educação Física - Especialização em Desenvolvimento da Criança, sendo apresentado na Universidade de Trás-osMontes e Alto Douro. i Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 “Uma mente que se abre a uma nova ideia, jamais voltará ao seu tamanho original”. (Albert Einstein) ii Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 AGRADECIMENTOS Agradeço à Prof.ª Dra. Isabel Mourão Carvalhal e à Prof.ª Dra. Cecília Costa, pelo tempo e disponibilidade dedicado à orientação deste trabalho, pela partilha de conhecimentos, pelas palavras de incentivo, amizade e carinho com que sempre me receberam e atenderam as minhas dificuldades, a elas o meu MUITO OBRIGADA… Agradeço de igual forma à Prof.ª Dra. Eduarda Coelho por toda a ajuda disponibilizada, pela paciência, pelo carinho e apoio incondicional que sempre me deu. Agradeço ao meu tio, meu pai a quem dedico este trabalho, realçando todo o esforço de uma vida para as minhas conquistas… Agradeço à Ana, à Mónica, à Diana e ao Renner pela amizade, traduzida no acompanhamento, ajuda e incentivo ao longo da realização deste trabalho. Ao Pedro pela compreensão, companheirismo e presença nos momentos mais difíceis. Agradeço a minha irmã, Cátia, pelas palavras de força e motivação. Agradeço aos estagiários do curso de Reabilitação Psicomotora. Agradeço as crianças, aos pais, aos professores e diretores das escolas, por todo o empenho e sem os quais não seria possível realizar este trabalho. E agradeço a todos aqueles que de alguma forma me ajudaram nesta etapa da minha vida…. A todos Muito Obrigada! iii Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 RESUMO Ao longo do seu percurso académico, os alunos encontram muitas dificuldades, que muitas das vezes se traduzem em retenções. Com a entrada para a escola começam a verificar-se os primeiros sinais de insucesso traduzindo e acentuando as dificuldades na aprendizagem (DA), que muito têm preocupado a comunidade em geral, não só pela dificuldade em encontrar uma definição consensual, mas também porque a ausência desta, torna difícil operacionalizar estratégias capazes de dar resposta às dificuldades enfrentadas pelas crianças com DA. Muitos estudos apontam e relacionam as DA com um baixo desempenho motor ou com problemas de coordenação, salientando a relação entre o desenvolvimento motor e o cognitivo. Com base na relação encontrada entre desenvolvimento motor e desenvolvimento cognitivo, alguns estudos têm vindo a implementar programas de ensino e de aprendizagem bem-sucedidos, utilizando o movimento de forma a minorarem o insucesso escolar na aprendizagem da matemática, da escrita e leitura. Apesar do crescente número de estudos realizados no âmbito da associação entre o desenvolvimento motor e o cognitivo, são escassos os que utilizaram programas de intervenção nos seus desenhos experimentais. Face ao exposto, o objetivo do presente estudo foi verificar o impacto de um programa psicomotor, centrado no corpo/movimento no desenvolvimento intelectual e na avaliação em matemática em crianças sinalizadas com DA. Esta investigação está organizada em 3 estudos. O primeiro estudo teve como objetivo verificar o efeito da idade e do género no perfil psicomotor e no desenvolvimento intelectual. Contemplou uma amostra de 65 crianças (6-10 anos) sinalizadas com DA às quais foi aplicada a bateria psicomotora (BPM) de Fonseca para avaliar o perfil psicomotor e as Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (MPCR) para avaliar o desenvolvimento intelectual. Os resultados da MANOVA demonstram não haver um efeito significativo do género no desenvolvimento intelectual (p=0.085), nem no perfil psicomotor (p=0.809). Relativamente à idade, o efeito foi significativo quer no perfil psicomotor, quer no desenvolvimento intelectual (p =0.00; p = 0.037, respetivamente). O estudo 2 teve como objetivo verificar quais as variáveis preditoras do desenvolvimento intelectual de crianças sinalizadas com DA, tendo por base a mesma amostra e os mesmos iv Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 instrumentos. Os resultados da regressão linear evidenciam que 27,4% da variância do desenvolvimento intelectual é explicada pela Estruturação Espácio-temporal (β =.281, p=.005) e Praxia Fina (β=.412, p=.005) evidenciando uma associação entre a componente motora e cognitiva. O estudo 3 teve como objetivo verificar o impacto de um programa de intervenção psicomotora (com a duração de 8 meses), centrado no corpo/movimento no desenvolvimento intelectual e nas competências matemáticas de crianças sinalizadas com DA. A amostra integrou 60 crianças que foram divididas em dois grupos (n=26 grupo experimental, n=34 grupo de controlo) às quais foi aplicado um pré-teste e um pós-teste, tendo o grupo experimental sido sujeito a uma intervenção psicomotora. As competências matemáticas foram avaliadas através da avaliação realizada pelos professores na escola. Os resultados do t teste de medidas emparelhadas registaram melhorias estatisticamente significativas no desenvolvimento intelectual (p=0.033) e na avaliação de matemática (p=0.001, teste de Wilcoxon), quando comparados os resultados do pré e do pós-teste, apenas no grupo experimental. Como conclusões do nosso estudo, podemos referir que o perfil psicomotor e o desenvolvimento intelectual apresentam uma melhoria com a idade, em ambos os géneros, sendo as variáveis motoras as que apresentaram maior valor preditivo do desenvolvimento intelectual. O programa de intervenção psicomotor baseado no corpo/movimento teve impacto no desenvolvimento intelectual e nas competências matemáticas das crianças sinalizadas com DA. Estes resultados ressalvam a importância do corpo/movimento como uma abordagem inovadora no ensino-aprendizagem da matemática, de forma a minorar o elevado insucesso escolar, registado pelas crianças do 1.º CEB, em Portugal. Palavras-chave: dificuldades de aprendizagem, criança, embodied cognition; desenvolvimento intelectual; perfil psicomotor e matemática. v VI Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 Abstract Throughout their academic career, students encounter many difficulties, which often translate into retentions. At the beginning of the school year, we start seeing the first signs of failure translating and accentuating into learning disabilities (LD), which have greatly concerned the community at large, not only by the difficulty in finding an agreed definition, but also because it makes it difficult to operationalize strategies that respond to the difficulties faced by children with LD. Many studies refer to the LD underperforming motor or coordination problems, emphasizing the relationship between motor development and cognitive. Based on the relationship found between motor development and cognitive development, few studies have been implementing successful teaching and learning programs, using the movement in order to decrease school failure in learning mathematics, writing and reading. Despite the growing number of studies conducted under the association between motor and cognitive development, few intervention programs have been used in their experimental designs. Given the above, the aim of this study was to investigate the impact of a psychomotor program focused on the body / movement in the intellectual development and in the assessment of the learning of mathematics in children identified with LD. This research is organized in 3 studies. The first study aimed to verify the effect of age and gender profile in the psychomotor and intellectual development. It included a sample of 65 children (6-10 years) identified with LD to whom the Fonseca’s Psychomotor Battery (BPM) was applied in order to assess the psychomotor profile and the Raven's Coloured Progressive Matrices (MPCR) to assess intellectual development. The results of the MANOVA demonstrated no significant effect of gender on intellectual development (p = 0.085) or psychomotor profile (p = 0.809). With regard to age, it had a significant effect on psychomotor profile, as well as in intellectual development (p = 0.00; p = 0.037, respectively). Study 2 aimed to determine which variables are predictive of intellectual development of children identified with LD, based on the same sample and the same instrument. The results of the regression show that 27.4% of the variance in intellectual development is explained by Time space structuring (β =.281, p=.005) and Fine Praxis (β = .281, p = .005) indicating an association between motor and cognitive component. vi Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 Study 3 aimed to determine the impact of a program of psychomotor intervention (lasting 8 months), centered on the body / movement in intellectual development and mathematical VII skills of children identified with LD. The sample incorporated 60 children who were divided into two groups (n = 26 experimental group, n=34 control group) for which a pre-test and a post-test was applied, whereas the experimental group was subject to a psychomotor intervention. The mathematical skills were assessed by teachers at school. The results of the paired t test measures showed statistically significant improvements in intellectual development (p = 0.033) and in the mathematics assessment (p = 0.001, Wilcoxon test) when comparing the results of preoperative and post-test, only in the experimental group. As conclusions of our study, we show that the psychomotor profile and the intellectual development have improved with age in both genders, with the motor variables having the highest predictive value of intellectual development. The psychomotor intervention program based on body / movement had an impact on intellectual development and mathematical skills of children identified with LD. These results confirm the importance of body / movement as an innovative approach to teaching and learning of mathematics in order to reduce the high failure rates of 1. º CEB children in Portugal. Key-words: Learning Disabilities; child; embodied cognition; intellectual development; psychomotor profile and math. vii VII I Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 ÍNDICE PENSAMENTO ii AGRADECIMENTOS iii RESUMO iv ABSTRACT vi LISTA DE TABELAS x LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS xi 1. INTRODUÇÃO 1 2. ESTUDO 1 Resumo 7 Introdução 8 Metodologia 9 Resultados 11 Discussão 13 Conclusões 15 Referências 15 3. ESTUDO 2 Resumo e Abstract 18 Introdução 19 Metodologia 20 Resultados 22 Discussão 23 viii Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 Referências 24 4. ESTUDO 3 Resumo 27 Introdução 28 Metodologia 29 Resultados 32 Discussão 34 Conclusões 36 Referências 36 5. CONCLUSÕES 38 6. FUTURAS INVESTIGAÇÕES 39 7. REFERENCIAS 40 8. ANEXOS 42 ANEXO 1- Protocolo de aplicação das Matrizes Progressivas Coloridas de Raven ANEXO 2- Protocolo de aplicação da Bateria Psicomotora de Vítor da Fonseca ANEXO 3 - Protocolo de aplicação Escala Pictórica da Perceção de Competências e Aceitação Social, para Crianças ANEXO 4 - Questionário ANEXO 5 - Programa de intervenção ANEXO 6 - Exemplos de atividades ix Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 LISTA DAS TABELAS Estudo 1 Tabela 1 – Análise Descritiva da amostra Tabela 2 – Média e desvio padrão das variáveis significativas resultantes na 11 12 MANOVA Tabela 3 – Efeitos principais e interações dos género e idade da MPCR e BPM 12 Estudo 2 Tabela 1 – Análise Descritiva da amostra 22 Tabela 2 – Modelo de Regressão Linear 23 Estudo 3 Tabela 1 – Comparação dos grupos (experimental e controlo) na BPM e MPCR no 33 pré-teste Tabela 2 – Comparação da amostra nas avaliações de matemática no pré-teste 33 Tabela 3 – Comparação dos resultados obtidos do pré-teste e do pós –teste nos 33 dois grupos nas MPCR e BPM Tabela 4 – Comparação dos resultados obtidos do pré-teste e pós-teste nos dois 34 grupos na avaliação em matemática através do teste do Wilcoxon x Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 1.º CEB- 1.º Ciclo do Ensino Básico BPM- Bateria Psicomotora CNE- Conselho Nacional de Educação DA- Dificuldades de Aprendizagem GAVE- Gabinete de Avaliação Educacional ICLD- The Interangency Committee on Learning Disabilities IMC- Índice de Massa de Corporal LD- Learning Disabilities LDAA- The Learning Disabilities Association of America LDAC- Learning Disabilities Association of Canada MPCR- Matrizes Progressivas Coloridas de Raven NCLD- The National center for Learning Disabilities NJCLD- National Joint Committee on Learning Disabilities OCDE- Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico QI-Quociente de Inteligência SNARC- Spational-Numerical Association of Response Codes SPSS- Statistical Package for the Social Sciences UTAD- Universidade de Trás -os- Montes e Alto Douro xi Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 1. INTRODUÇÃO Desde o início dos anos 60, do século XX, alguns investigadores têm referido o termo Dificuldades de Aprendizagem (DA), na tentativa de justificar os resultados escolares das crianças e jovens que apresentam comportamentos diferenciados na aprendizagem. Numa análise breve relativamente à definição e conceito de DA, verificamos que o termo DA foi utilizado pela primeira vez por Samuel Kirl, em 1963, tendo sido reformulada mais tarde em 1968. Barbara Bateman em 1965, propôs uma nova definição, e desde então, muitas outras foram surgindo, nomeadamente a definição do Congresso Americano reformulada por King em 1977, a do National Joint Committee on Learning Disabilities (NJCLD), 1981,a do The Interagency Commitee on Learning Disabilities (ICLD),1987, a do NJCLD, 1988 onde reformulou a definição de 1981 e muitas outras, tais como a do The National Center for Learning Disabilities (NCLD),a do The Learning Disabilities Association of America (LDAA) e a do Learning Disabilities Association of Canada (LDAC), 2001. Neste esforço por encontrar uma definição consensual e excluindo termos como lesão cerebral, disfunção cerebral mínima, hiperatividade, distúrbios de aprendizagem psiconeurológicos entre outros (Correia, 2008; Cruz, 1999; Hammil, 1990) considera-se à data, que a que reúne maior consenso, a nível internacional, é a definição do NJCLD,1988. Segundo estes as DA são: “…uma expressão genérica que refere um grupo heterogéneo de desordens manifestadas por dificuldades significativas na aquisição e no uso da compreensão auditiva, da fala, da leitura, da escrita e da matemática. Tais desordens são intrínsecas ao indivíduo, presumindo-se que sejam devidas a uma disfunção do sistema nervoso que pode ocorrer e manifestar-se durante toda a vida…” (Fonseca, 2008; Hammil, 1990). Dado a abrangência de conceitos, critérios e até teorias inerentes à definição de DA, esta área continua a ser uma área cinzenta e um buraco negro para o qual se dirige todo o tipo de problemáticas no âmbito do ensino-aprendizagem tornando-se difícil definir estratégias eficazes capazes de dar resposta às necessidades das crianças e jovens a nível educacional (Fonseca, 2008). Apesar de todos os esforços realizados no sentido de reduzir o insucesso e o abandono escolar, Portugal não conseguiu ainda dar uma resposta eficiente na resolução deste problema. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE, 2012), e o Conselho Nacional da Educação (CNE, 2012), Portugal ocupa uma posição abaixo da média com uma distância de 9,7 pontos percentuais em relação à média dos países membros. 1 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 Contribuem para esta situação as dificuldades escolares encontradas pelos alunos ao longo do seu percurso académico que muitas das vezes se traduzem em retenções, conduzindo a um desfasamento entre a idade ideal de frequência e o ano de escolaridade. Esta situação em tudo favorece o abandono escolar aos 18 anos, sem que a escolaridade obrigatória esteja concluída. Do conjunto das dificuldades que os alunos possam apresentar destacamos as dificuldades na aprendizagem da matemática, que são desde o 1.º Ciclo do Ensino Básico (1.º CEB) um obstáculo a um percurso escolar bem-sucedido. Os resultados nacionais das provas de aferição de matemática em 2012, realizadas no 4.º ano, do 1.ºCEB retratam a aversão a esta disciplina. Segundo o relatório do Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE, 2012), os níveis de desempenho na matemática, têm sofrido um decréscimo ao longo dos anos (2011-68% 2012-54%), diminuindo os níveis mais elevados de classificação (A-90% a100% e B-70% a 89%) e aumentando os mais baixos (C50% a 69%, D- 20% a 49% e E- 0% a 19%) com destaque para o nível D especificamente nos seguintes temas: Números e Operações; Geometria e Medida; Organização e Tratamento de Dados. Analisando os itens da prova de aferição de matemática em 2012, verificamos que os relacionados com o raciocínio e comunicação matemática foram os que obtiveram piores resultados. De acordo com estes resultados, o GAVE (2012) recomenda a necessidade de trabalhar a compreensão das operações, bem como, o desenvolvimento do cálculo mental e das relações numéricas. Com base nestas considerações, uma intervenção, adequada e atempada, é crucial à promoção e desenvolvimento das competências matemáticas, evitando constrangimentos futuros (Geary, 2011). No processo ontogenético, existem períodos específicos, janelas de oportunidade onde as experiências vivenciadas são fundamentais, permitindo intensificar as ligações neurais, bem como, a velocidade na transmissão da informação. O processo de maturação do cérebro desde cedo necessita de um ambiente rico e estimulante, as experiências não só reforçam os circuitos neurais como evitam o enfraquecimento e a morte dos mesmos (Gabbard, 2009). Experiências com recurso ao movimento, devem ser implementadas desde cedo, não só para o desenvolvimento do cérebro, mas consequentemente para promover o sucesso em tarefas escolares (Gabbard, 2009). 2 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 Esta abordagem assenta nos pressupostos das teorias de Embodied Cognition, que destacam o papel do corpo como instrumento fundamental no processo da aprendizagem. Os pressupostos desta teoria contrariam a visão dualista e cartesiana, corpo-mente (Light & Fawns, 2002) colocando em destaque a interação mútua destes, no meio envolvente. As alterações das estruturas cognitivas desenvolvem-se na inter-relação do indivíduo e o meio através da ação (Roussou, 2004). Smith (2005) defende que a inteligência se constrói na interação do organismo com o meio ambiente, fruto da atividade sensório- motora. Estudos realizados por Penner-Wilger e Anderson (2008), mostram que os dedos são um dos exemplos relevantes da importância do corpo no desempenho de competências matemáticas. Estes demonstram, que a representação dos dedos tem influência no reconhecimento numérico bem como no cálculo, assim como também no reconhecimento do sentido do número, da linha numérica mental relacionada à magnitude, como refere, Dehaene, Spelke, Pinel, Stanescu, e Tsivkin (1999). A capacidade de nomear, representar e distinguir mentalmente os dedos é considerada um alicerce fundamental ao processamento e representação numérica (Butterworth, 1999), favorecendo não só as aquisições matemáticas, mas também as capacidades de orientação, nomeadamente no reconhecimento de direita/ esquerda (Penner-Wilger & Anderson, 2008). Os estudos com recurso à neuroimagiologia, comprovam que as áreas envolvidas na representação dos dedos são as mesmas envolvidas na representação numérica, ou seja, estas funções são suportadas pelo mesmo circuito neural (Penner-Wilger & Anderson, 2008; Rusconi, Walsh, & Butterworth, 2005). Quando ocorre a representação mental dos dedos, verifica-se também a estimulação de áreas cerebrais importantes para os processos matemáticos de comparação e cálculo. Maouene, Hidaka, e Smith (2006), num estudo onde relacionaram a aprendizagem de verbos com as partes do corpo a que estão associados, concluíram que as crianças tendem a perceber melhor o significado dos verbos, quando executam o seu significado através de ações, realçando o contributo do corpo na aprendizagem. A compreensão dos verbos, está também associada à idade, à medida que a criança cresce vai dominando outro tipo de verbos, dado que também vivencia outras experiências, obtendo novo conhecimento sobre o corpo. Nas idades mais novas, o conhecimento do corpo centra-se essencialmente na face, pelo que os verbos com maior destaque são os que lhe estão associados. Por sua vez, Pulvermuller, Harle, e Hummel (2001),verificaram que palavras relacionadas à ação evidenciam uma maior ativação cortical nas áreas motoras associadas à representação das partes do corpo, utilizadas na realização da ação a que a palavra corresponde. Constataram também, que a velocidade de 3 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 processamento é mais rápida para os verbos de ação relacionados com a face, do que para os verbos relacionados com o movimento das pernas. O envolvimento do córtex motor primário aquando do processamento de verbos de ação na simulação da correspondência com o movimento foi constatada por Tomasino, Fink, Sparing, Dafotakis, e Weiss (2008). Estes resultados não se verificaram aquando da leitura silenciosa, reforçando os pressupostos da teoria Embodied Cognition, na relação entre a ação e a área cerebral responsável pela execução do movimento, porém mais estudos são necessários para confirmar estes resultados. Estas premissas colocam mais uma vez em destaque a relação entre a componente motora e a cognitiva, a qual muitos estudos têm já vindo a referir. Note-se os estudos que relacionam as DA com um baixo desempenho motor ou com problemas de coordenação, entre outros (Amaro, Jatobá, Santos, & Neto, 2010; Asonitou, Koutsouki, & Charitou, 2010; Asonitou, Koutsouki, Kourtessis, & Charitou, 2012; Dewey, Kaplan, Crawford, & Wilson, 2002; Gibbs, Appleton, & Appleton, 2007; Moreira, Fonseca, & Diniz, 2000; Papst & Marques, 2010; Pereira, Coelho, Costa, & Mourão-Carvalhal, 2013; Silva & Beltrame, 2011; Staviski, Silva, Oliveira, & Beltrame, 2007; Wassenberg et al., 2005). Apesar de a formação académica dos indivíduos ser cada vez mais elevada, numa sociedade onde o número assume uma importância primordial, são muitos os que apresentam uma disfuncionalidade na matemática (Rato & Caldas, 2010) . Esta disfuncionalidade, na maioria das vezes, apenas se torna visível através dos primeiros sinais de insucesso na escola, acentuando as DA dos alunos do 1.º CEB. Analisando a literatura especializada sobre a problemática das dificuldades de aprendizagem específicas da matemática, a aquisição do sentido do número, e consequente relação com as diferentes operações matemáticas, constitui a base de todo o pensamento aritmético, são as mais evidenciadas. O modelo do triplo código do processamento do número, de Dehaene (1992), e Dehaene, Bossini, e Giraux (1993), apresenta três sistemas de representação fundamentais: i) inicialmente ocorre uma representação não-verbal do número, enfatizando a quantidade/magnitude, comparação e subtizing (identificação rápida dos conjuntos numéricos sem recorrer à contagem), ii) a representação escrita e verbal do número (um, dois…) destacando-se o counting (contagem numérica), iii) a representação visuo-espacial através de um código Arábico (1, 2…). Estes sistemas processam-se de forma hierarquizada e cronológica, dando origem à linha mental numérica que permitirá uma maior integração e relação dos conteúdos numéricos, subjacentes ao pensamento 4 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 aritmético. O desenvolvimento desta linha representa uma mais-valia na aquisição do número, fundamental para o desenvolvimento do pensamento matemático. Rousselle e Noël (2007), verificaram que as crianças com dificuldades a matemática são mais lentas e têm menos precisão quando efetuam a comparação de números em sistema arábico, assim como uma ligeira dificuldade na sua comparação em termos de magnitude e distância dos mesmos. No longo processo de desenvolvimento da criança, existem períodos críticos ou sensíveis na aquisição do número. A infância, mais especificamente o período pré-escolar, é considerado crucial para o desenvolvimento dos dois primeiros sistemas: i)a representação não verbal e ii) a representação escrita e verbal), considerados básicos para a aquisição do sistema arábico e construção da linha numérica mental desenvolvida ao longo do período escolar (Aster & Shalev, 2007). A linha numérica é utilizada e consolidada, de forma sistemática, durante o 1.º CEB, sendo durante este ciclo de estudos que se evidenciam dificuldades, nomeadamente nas diferentes operações matemáticas, como referenciado pelo GAVE (2012) oriundas das falhas relativas à aquisição da magnitude e do sistema verbal. Dehaene et al. (1993), relativamente a esta temática, apresenta o efeito de SNARC (SpatialNumerical Association of Response Codes), que traduz a orientação da linha numérica da esquerda para a direita, culturalmente adquirida e baseada no processo da escrita. Este efeito traduz-se no recurso rápido à mão esquerda para trabalhar números, de pequena magnitude, e o recurso à mão direita, para trabalhar números de maior magnitude, sendo este efeito mais evidente, quando são trabalhados números no sistema arábico. O estudo de Penner-Wilger e Anderson (2008) realça que a contagem através dos dedos facilita: o processo de reconhecimento dos mesmos, o desenvolvimento do sentido do número no cálculo, e a capacidade de orientação e reconhecimento da esquerda/direita, inerente à criação da linha numérica. Estes autores defendem que a representação dos dedos e a linha numérica utilizam o mesmo circuito neural, ao nível do giro angular, no lobo parietal esquerdo, igual ao que Dehaene, Piazza, Pinel, e Cohen (2003) refere estar subjacente à manipulação dos números, na notação verbal. Outro aspeto fundamental e inerente ao raciocínio matemático prende-se com a capacidade de memória. Segundo Aster e Shalev (2007), a memória nomeadamente, a memória de trabalho, é fundamental no suporte das aquisições anteriormente referidas. Esta estrutura mnésica tende a aumentar com o processamento e o desenvolvimento da aquisição do sentido do número, desempenhando um papel fulcral na aprendizagem. 5 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 Swanson e Kim (2007), referem também que quanto maior for a capacidade a este nível maior serão os recursos disponíveis para o armazenamento e manutenção da informação. Na verdade, operações como a multiplicação e a adição dependem da capacidade de memorização,(Dehaene et al., 2003). Também, Caldas (2006) refere que a memória facilita a codificação de informação, criando padrões que preparam o cérebro para a compreensão por analogia de novas informações. O mesmo autor realça a importância de um treino de memória diversificado, aumentando a rede neural para um maior reconhecimento e processamento da informação. Fischer, Gebhardt, e Hartnegg (2008), destacam o papel da memória, em tarefas de subtizing, visto que as crianças que apresentam mais dificuldades em competências aritméticas evidenciam também mais dificuldades em tarefas de memória. Tendo em conta as características referidas, o treino de memória é fundamental, principalmente em crianças, porque as que apresentam dificuldades aritméticas demoram mais tempo a aceder aos padrões numéricos armazenados, e essa dificuldade, tende a perdurar e a aumentar com o avançar da idade. Associada ao papel da memória, destacamos também a perceção visual. Andersson e Lyxell (2007), referem que as crianças com DA a matemática apresentam défice ao nível da memória de trabalho mais especificamente no processamento e armazenamento da informação numérica e visual. Fischer et al. (2008), salientam também a importância da capacidade visual nos processos de subtizing e a contagem numérica. A perceção visual aparece assim também associada a aprendizagem da linha numérica, no entanto é também importante na aprendizagem da geometria. O espaço onde vivemos é um espaço tridimensional, no qual é importante a relação entre os objetos no espaço bem como a sua manipulação para a aprendizagem (Morato, 1995). Tendo por base os pressupostos enunciados, pretendemos desenvolver e aplicar um programa de intervenção psicomotor, baseado nas teorias de Embodied Cognition, em crianças do 1.º CEB, com DA, para promover a aprendizagem de conceitos matemáticos. 6 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 2. ESTUDO 1- Efeito da idade e do género no perfil psicomotor e desenvolvimento intelectual de crianças sinalizadas com dificuldades de aprendizagem Isabel Pereira1; Eduarda Coelho1; Cecília Costa1;2; Isabel Mourão1 1 Universidade de Trás- os- Montes e Alto Douro, CIDESD, Vila Real, Portugal 2 Centro de Investigação em Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (Lab-DCT da UTAD), Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal Resumo Este estudo tem como objetivo verificar o efeito da idade e do género no perfil psicomotor e no desenvolvimento intelectual de crianças sinalizadas com dificuldades de aprendizagem (DA). No âmbito do projeto “Gabinete de Promoção do Desenvolvimento Infantil Combate à Obesidade e Promoção do Sucesso Escolar”, foram sinalizadas pelos professores 65 crianças (31 raparigas e 34 rapazes) com uma média de idades de 8.18 (± 1.12) do 1.º ciclo do Ensino Básico de Vila Real. Os instrumentos de avaliação utilizados foram a Bateria Psicomotora de Vítor da Fonseca e as Matrizes Progressivas Coloridas de Raven. De acordo com os resultados da MANOVA não se verifica um efeito significativo do género no desenvolvimento intelectual (0.085) nem no perfil psicomotor (0.809). Relativamente à idade, o efeito foi significativo quer no perfil psicomotor, quer no desenvolvimento intelectual (p =0.00; p =0.037), respetivamente. Concluindo, não se verificam diferenças significativas entre géneros em crianças sinalizadas com DA e rapazes e raparigas revelam uma melhoria do perfil psicomotor e do desenvolvimento intelectual com a idade. Palavras-chave: Criança; Perfil Psicomotor; Desenvolvimento Intelectual; Dificuldades de Aprendizagem. 7 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 Introdução O crescente número de crianças sinalizadas com Dificuldades de Aprendizagem (DA), na sala de aula, torna premente a abordagem deste problema, que afeta não só as crianças, mas também pais, professores e profissionais de saúde, assumindo-se como um tema de grande interesse e debate, para a comunidade em geral. Segundo Correia (2008), em Portugal, não existem ainda dados sobre a prevalência das DA. A nível mundial, cerca de três a doze por cento das crianças é sinalizada como tendo DA, registando-se um a dois alunos com este diagnóstico, na sala de aula (Hallahan, Lloyd, Kauffman, Weiss, & Martinez, 2005). A problemática em torno da definição de DA, é já antiga, acarretando algumas limitações para a realização de diagnósticos e de estratégias educacionais capazes de dar respostas às necessidades destas crianças. De acordo com alguns autores não existe uma caracterização que possamos considerar estanque ao nível motor, cognitivo e comportamental destas crianças que nos permita caracterizá-las como tendo DA, o que nos leva a incluí-las num grupo heterogéneo correspondendo a um diagnóstico errado e, consequentemente, à utilização de estratégias de intervenção desajustadas, negligenciando na maioria das vezes, a necessidade de uma intervenção precoce (Cruz, 1999; Kakabaraee, Arjmandnia, & Afrooz, 2012; Moreira, Fonseca, & Diniz, 2000). No que respeita à prevalência, tendo em conta o género, esta afeta tanto crianças do sexo feminino como masculino, embora exista a ideia de uma maior prevalência no género masculino (Coutinho & Oswald, 2005). Sabemos que rapazes e raparigas são diferentes entre si, quer a nível psicomotor, quer a nível intelectual, mas num aspeto os autores estão de acordo, as crianças com DA tendem a apresentar algumas dificuldades motoras quando comparados às crianças sem DA, apresentando um perfil inferior (Amaro, Jatobá, Santos, & Neto, 2010; Medina, Rosa, & Marques, 2006; Moreira et al., 2000; Papst & Marques, 2010; Staviski, Silva, Oliveira, & Beltrame, 2007). No que se refere ao desenvolvimento intelectual, não encontramos estudos que comparem crianças com DA de acordo com o género. Contudo, vários investigadores concluem que à semelhança das crianças que não apresentam DA, também as crianças com DA, se diferenciam em certos domínios cognitivos. Assim, as raparigas apresentam maiores apetências para tarefas que exijam maior velocidade de processamento, nomeadamente de carácter verbal como a leitura, a escrita e a nomeação, enquanto os rapazes se destacam em tarefas de cariz visuo-espacial e raciocínio (Camarata & Woodcock, 2006; R. Lynn & 8 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 Irwing, 2004; Richard Lynn & Kanazawa, 2011; Mendoza, Alves, Lelé, & Bandeira, 2007; Roivainen, 2011; Savage-McGlynn, 2012; Vogel, 1990; Vogel & Walsh, 1987). Tendo por base a definição portuguesa apresentada por (Correia, 2007, 2008), as DA apresentam dois aspetos importantes a ter em conta, nomeadamente a sua causa neurológica e a sua condição vitalícia. Estes pressupostos remetem-nos para a reflexão e análise dos dados apresentados em 2012, pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE, 2012) e pelo Conselho Nacional da Educação (CNE, 2012), relativamente ao insucesso e ao abandono escolar, no qual Portugal ocupa uma posição abaixo da média com uma distância de 9,7 pontos percentuais em relação à média dos países membros. As DA não diminuem com a idade, pelo contrário, persistem e aumentam causando danos no percurso académico dos nossos alunos, dado que experimentam reprovações, apresentando um desfasamento considerável entre o ano de frequência e a idade cronológica. Dado o exposto, o nosso estudo tem como objetivo verificar o efeito da idade e do género no perfil psicomotor e desenvolvimento intelectual de crianças sinalizadas com DA. Metodologia Nesta secção descrevemos a amostra do estudo, os instrumentos de avaliação e respetivos procedimentos, bem como a análise estatística utilizada. Amostra O presente estudo englobou 65 crianças do ensino básico do 1.º ao 4.º anos de escolaridade (31 raparigas e 34 rapazes), com uma idade decimal média de 8.18 (± 1.12). Foram constituídos 2 grupos de idades: <8 anos (n = 29; 5.8 - 7.9 anos), ≥ 8 anos (n = 36; 8.1 - 10.1 anos). As crianças pertenciam a três escolas públicas da região nordeste de Portugal e foram sinalizadas com DA pelos seus professores. Todas as crianças envolvidas no estudo foram autorizadas previamente pelos encarregados de educação para realizar as avaliações. 9 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 Instrumentos de avaliação Foram utilizados dois instrumentos, a Bateria Psicomotora de Vítor da Fonseca (BPM) para avaliar o perfil psicomotor e as Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (MPCR) para avaliar a capacidade intelectual não-verbal. A BPM, segundo Fonseca (2007), permite-nos traçar um perfil psicomotor, assim como compreender alguns dos problemas de comportamento e de aprendizagem que crianças e jovens com idades compreendidas entre os 4 e os 12 anos possam apresentar. Esta é constituída por 7 fatores psicomotores, nomeadamente: Tonicidade e Equilibração (constituindo a 1.ª Unidade Funcional de Lúria); Lateralização, Noção de Corpo e Estruturação Espácio-Temporal (2.ª Unidade Funcional de Luria); Praxia Global e Praxia Fina (3.ª Unidade Funcional de Lúria). As tarefas referentes aos fatores mencionados são distribuídas por 26 subfatores. As cotações dos subfatores e do perfil final variam entre 1 e 4, sendo 1 Perfil Deficitário, 2 Perfil Dispráxico, 3 Perfil Eupráxico e 4 Perfil Hiperpráxico. Os resultados finais permitem-nos obter um perfil quantitativo e um qualitativo (9-13 Dispráxico, 14-21 Normal, 22-26 Bom, 27-28 Superior). As MPCR, segundo Simões (2000), consistem num conjunto de testes que pretendem medir a capacidade intelectual não-verbal, destinadas a crianças dos 5 aos 11 anos sendo constituídas por 3 séries (A, Ab e B) com 12 itens cada, perfazendo um total de 36. Esta escala permite-nos obter 3 resultados distintos, o resultado bruto, o percentil (ajustado à idade) e a classificação qualitativa, cujos níveis, variam entre 1 e 5, sendo 1 Intelectualmente superior, 2 Acima da média, 3 Intelectualmente médio, 4 Abaixo da média e 5 Intelectualmente deficiente. Procedimentos A aplicação da BPM foi distribuída por três estações, cada uma com um avaliador, sendo que cada estação correspondia a uma Unidade Funcional. Tendo em conta a presente situação efetuaram-se os procedimentos habituais para verificar a fiabilidade dos resultados, facto que foi confirmado (1.ª unidade r =0.887, p = 0.00; 2.ª unidade r = 0.732, p= 0.05; 3.ª unidade r = 0.969, p = 0.00; total r = 0.800, p = 0.02). A BPM foi aplicada, individualmente, a cada criança demorando sensivelmente 45 minutos. A avaliação tem início com as tarefas referentes à Tonicidade, seguindo posteriormente a ordem crescente dos restantes fatores. Em relação à aplicação das MPCR, esta foi aplicada individualmente, na forma de caderno e demorou cerca de 5 a 7 minutos, com cada criança, estando esta posicionada em contexto de mesa em frente ao avaliador. Inicialmente foi apresentado e explicado, através de uma 10 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 ficha de exemplo, em que consistia a avaliação, (Angelini, Alves, Custódio, Duarte, & Duarte, 1999). Ao longo da avaliação as crianças foram advertidas sempre que se verificou algum entusiasmo e ansiedade em fazer tudo rapidamente. Foi calculado o Alpha de Cronbach da escala, tendo sido obtido o valor de 0.837, o que traduz uma boa consistência interna. Análise estatística A análise estatística foi realizada com recurso ao Statistical Package for the Social Sciences - SPSS, versão 17.0. Inicialmente foi realizada uma análise descritiva dos dados através de medidas de Tendência Central e de Dispersão. Comprovou-se a normalidade da distribuição dos dados através da simetria e da curtose. Foi calculada a MANOVA 2×2, utilizando como variáveis independentes a idade e o género e como variáveis dependentes o total bruto das MPCR, o total quantitativo e as três unidades funcionais da BPM. Resultados Análise descritiva para a totalidade da amostra Iniciamos a apresentação dos resultados com a análise descritiva dos dados. Na amostra total (N = 65), a maioria das crianças apresentam um perfil psicomotor Eupráxico (63,1%). Relativamente à capacidade intelectual, 58,4% da amostra apresenta uma classificação entre Intelectualmente Médio e Acima da média. Apenas 7,7% das crianças apresentaram uma capacidade Intelectual superior (ver tabela 1). Tabela 1. Análise descritiva da amostra Max. Min. M 25.0 15.0 20.4 - Hiperpráxico _ _ - Eupráxico _ Resultado bruto Percentil DP Freq. % 2.4 _ _ _ _ 24 36.9 _ _ _ 41 63.1 34.0 15.0 24.2 4.9 _ _ 95 10 54.2 26.0 _ _ - Intelectualmente Superior _ _ _ _ 5 7.7 - Acima da média _ _ _ _ 22 33.8 -Intelectualmente médio _ _ _ _ 16 24.6 _ _ _ 22 33.8 Perfil psicomotor Perfil Quantitativo Perfil Qualitativo: Capacidade Intelectual Classificação qualitativa: - Abaixo da média _ 11 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 Não se verificaram diferenças de acordo com o género, quer no total da BPM, quer nas unidades funcionais, assim como no valor bruto das MPCR. Relativamente à idade, os alunos mais velhos apresentam valores superiores nas MPCR e na BPM (ver tabela 2). Tabela 2: Média e Desvio Padrão das variáveis significativas resultantes da MANOVA MPCR BPM Bruto Total 1ª Unidade 2ª Unidade 3ª Unidade Feminino (n=32) 25.41±4.57 20.66±2.39 3.02±0.34 3.00±0.39 2.78±0.47 Masculino (n=33) 23.00±5.01 20.18±2.35 2.92±0.37 3.19±0.38 2.67±0.46 <8 anos (n=29) 22.55±5.26 18.46±2.06 2.75±0.38 2,74±0.32 2.39±0.42 ≥ 8anos (n=36) 25.50±4.24 21.56±1.69 3.11±0.32 3,17±0.33 2.92±0.36 Género Idade Efeito e interação do género e idade Os resultados da Manova 2×2 demonstram que existe um efeito significativo da idade no total da BPM (p = 0.00), nas 3 unidades funcionais (p = 0.09; p = 0.00; p = 0.00) e no valor bruto MPCR (p = 0.037). Relativamente à interação do género x idade não se registou qualquer efeito significativo em alguma das variáveis dependentes (ver tabela 3). Tabela 3: Efeitos principais e interações do género e idade nas MPCR e BPM MPCR Bruto BPM Total 1ª 2ª 3ª Unidade Unidade 0.515 0.409 Unidade Efeitos principais Género Idade 0.085 * 0.809 * * * 0.677 * 0.037 0.00 0.09 0,00 0.00 0.424 0.545 0.188 0.511 0.892 Interação Género x idade *≤ 0,05 12 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 Discussão Apesar de toda a discussão em torno das DA, existe algum consenso sobre o facto das crianças com DA não apresentarem défice cognitivo, revelando um Quociente de Inteligência (QI) médio e, muitas vezes, acima da média (Correia, 2008; Fonseca, 2008). Informação pertinente para o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido. Esta constatação explica a discrepância entre o potencial estimado e a realidade académica que caracteriza estas crianças. Neste contexto, os resultados obtidos pelas crianças da nossa amostra, confirmam esta realidade. Apesar de estarem sinalizadas com DA, no entanto, nenhuma criança foi classificada como intelectualmente inferior e, apenas, 33,8% foi avaliada abaixo da média, tendo as restantes 66,7% sido classificadas como intelectualmente na média, acima da média e superior. Por outro lado, as crianças com DA tendem a apresentar um perfil psicomotor inferior (Amaro et al., 2010; Medina et al., 2006; Moreira et al., 2000; Papst & Marques, 2010; Staviski et al., 2007), facto que não se verificou no nosso estudo, dado que nenhuma criança foi avaliada como dispráxica. Contudo, as nossas crianças não deixam de apresentar à semelhança de alguns estudos (Pinto, Coelho, & Carvalhal, 2013) áreas mais fracas quando comparadas às de igual idade, nomeadamente a noção de corpo e orientação espácio- temporal que nas suas idades deveriam constituir segundo Fonseca (2007), aquisições consumadas. No que diz respeito às diferenças entre géneros, não se registaram diferenças no perfil psicomotor, à semelhança de outros, (Fernandes, Dantas, & Mourão-Carvalhal, 2014; Rodrigues, 2010) e contrariamente ao de Almeida (2007). Relativamente ao desenvolvimento intelectual também não foram encontradas diferenças, quando comparados rapazes e raparigas. Estudos sobre inteligência geral e fator G, considerado por muitos autores como sinónimos, encontraram diferenças no que respeita a determinados domínios cognitivos. (Camarata & Woodcock, 2006; R. Lynn & Irwing, 2004; Richard Lynn & Kanazawa, 2011; Mendoza et al., 2007; Roivainen, 2011; Savage-McGlynn, 2012; Vogel, 1990; Vogel & Walsh, 1987) . As diferenças entre géneros, no desenvolvimento intelectual, surgem por volta dos 14 anos, apresentando os rapazes scores superiores às raparigas, porém em idades inferiores aos 14 anos, o sexo feminino supera o masculino (Coutinho & Oswald, 2005; Vogel, 1990) destaca-se também, de uma forma geral, a superioridade das raparigas em tarefas de habilidades intelectuais de carater verbal, enquanto os rapazes têm um melhor desempenho em tarefas de raciocínio matemático e habilidades visuo-espaciais. 13 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 Por um lado há estudos que indicam que o número de crianças sinalizadas com DA em relação ao género é duas vezes superior nos rapazes do que nas raparigas (Coutinho & Oswald, 2005), tal como acontece no nosso estudo. Autores como Vogel (1990) refere que este facto poderá estar associado a questões comportamentais, mascarando as dificuldades das raparigas. Por outro lado, Vogel e Walsh (1987) referem que a elevada sinalização de crianças do sexo masculino, poderá estar associada a efeitos biológicos, nomeadamente ao impacto das hormonas masculinas ao nível do sistema nervoso e a problemas relacionados com a gravidez e parto. O desenvolvimento intelectual e o perfil psicomotor tendem a melhorar com o avançar da idade, devido à maturação gradual das estruturas cerebrais, correspondentes a cada unidade funcional que caracteriza o desenvolvimento humano (Fonseca, 2007, 2008). A maturação e a experiência levam a que as crianças mais velhas apresentem uma melhoria a nível motor e intelectual, visto que segundo De Bellis et al. (2001) verifica-se com a idade um aumento significativo do volume da massa branca cerebral bem como do corpo caloso. Gabbard (2009), por sua vez, refere que experiências precoces e positivas são a base da aprendizagem e comportamento ao longo da vida estando assim a ser potencializado o desenvolvimento de cada um, tendo em conta um ambiente de rico de estimulação. Pelas múltiplas experiências que proporciona, não podemos esquecer o papel da escolaridade, como um dos agentes responsáveis pelo desenvolvimento, quer psicomotor, quer intelectual. Alguns estudos referem que é um fator a ter em conta existindo inclusive tarefas do domínio cognitivo que apresentam melhorias, exclusivamente fruto da escolaridade, como são exemplos os estudos de Artman, Cahan e Avni-Babad (2006). Nestes verificou-se que o tempo de escolaridade tem um efeito muito positivo no desenvolvimento, nomeadamente no raciocínio das crianças, efeito esse, superior ao da idade cronológica. Também Stelzl, Merz, Ehlers, e Remer (1995) referem que o tempo de escolaridade explica muitos processos inerentes ao desenvolvimento intelectual, tais como o raciocínio, processamento da informação e estratégias. Rosenberg-Lee, Barth e Menon (2011), verificaram diferenças ao nível da resolução de problemas, no âmbito da aritmética, em crianças com diferença de um ano de escolaridade. Cahan, Greenbaum, Artman, Deluya, e Gappel-Gilon (2008), verificaram que as diferenças em determinadas atividades se devem exclusivamente à escolaridade, tais como: a transitividade, a inclusão de classes e a classificação, já a conservação deve-se única e exclusivamente à idade. Este estudo apresenta algumas limitações, pois não foram controladas outras variáveis consideradas importantes, nomeadamente a perceção de competência (Kershner, 1990), a 14 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 obesidade Guxens et al. (2009); (Li, Dai, Jackson, & Zhang, 2008). Datar, Sturm, and Magnabosco (2004) e o estatuto socio-económico (Farah et al., 2006; Hackman & Farah, 2009; Noble, Norman, & Farah, 2005). Conclusões Em síntese, não se verificam diferenças significativas entre géneros em crianças sinalizadas com DA. Rapazes e raparigas revelam uma melhoria do perfil psicomotor e do desenvolvimento intelectual com a idade. Referências Almeida, E. (2007). Geometria através do corpo/movimento: impacto de uma prosposta de intervenção transdisciplinar na aprendizagem da geometria no 1.º Ciclo do Ensino Básico. (Dissertação de Mestrado), Universidade de Trás- os- Montes e Alto Douro. Amaro, K , Jatobá, L, Santos, M, & Neto, R (2010). Desenvolvimento motor em escolares com dificuldades na aprendizagem. Movimento & Percepção, 11, 39-46. Angelini, A. L , Alves, B.C , Custódio, M. E , Duarte, F. W , & Duarte, M. M. . (1999). Manual Matrizes Progressivas Coloridas de Raven: Escala Especial. São Paulo: Centro Editores de Testes e Pesquisas em Psicologia. 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ESTUDO 2 – Variáveis preditoras do desenvolvimento intelectual de crianças sinalizadas com dificuldades de aprendizagem Isabel Pereira1; Eduarda Coelho1; Cecília Costa1;3; Maria Dolores Monteiro3; Isabel Mourão1 1 Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, CIDESD, Vila Real, Portugal 2 Centro de Investigação e Desenvolvimento em Matemática e Aplicações da Universidade de Aveiro (CIDMA) 3 Câmara Municipal de Vila Real Resumo: O objetivo do presente estudo foi verificar quais as variáveis preditoras do desenvolvimento intelectual de crianças sinalizadas com Dificuldades de Aprendizagem (DA). A amostra foi constituída por 65 crianças (31 raparigas e 34 rapazes; 8,1±1,1 anos) do projeto “Gabinete de Promoção do Desenvolvimento Infantil”. Foram utilizados os seguintes instrumentos: Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (MPCR), Bateria Psicomotora de Vitor da Fonseca (BPM), Escala Pictórica de Perceção de Competências e Aceitação Social e a Escala de Autoconceito para Crianças e Pré-Adolescentes. O estatuto socioeconómico foi obtido através de um questionário e o índice de massa corporal (IMC) utilizando uma balança “Seca”. Foram utilizados o coeficiente de correlação de Pearson para verificar a associação entre as variáveis e o modelo de regressão linear para determinar quais as preditoras do desenvolvimento intelectual. Os resultados revelam que 27,4% da variância do desenvolvimento intelectual é explicada pela Estruturação espácio-temporal (β =.281, p=.005) e Praxia Fina (β=.412, p=.005) e demonstram existir uma ligação entre a componente motora e cognitiva, assim como suportam os pressupostos da teoria do Embodied Cognition. Palavras-chave: desenvolvimento intelectual; dificuldades de aprendizagem; obesidade; estatuto socioeconómico; perceção de competências. Abstract: The aim of this study was to determine which variables are predictive of intellectual development on children with Learning Disabilities, and for this we study a sample of 65 children (31 girls and 34 boys 8,1 ± 1,1, years old) from the project "Gabinete de Promoção do Desenvolvimento Infantil". The following instruments were applied: Raven's Coloured Progressive Matrices (MPCR), Vitor da Fonseca Psychomotor Battery (BPM), Pictorial Scale of Perceived Competence and Social Acceptance, and Self-Perception Profile for Children. Socioeconomic status was obtained through questionnaire and body mass 18 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 index was measured by digital scale “Seca”. Statistical procedures comprise the Pearson correlation coefficient to assess the association between variables and the linear regression model to determine the predictors of intellectual development. Results showed that 27.4% of the variance in intellectual development is explained by Time space structuring (β =.281, p=.005) and Fine Praxis (β=.412, p=.005). These demonstrate the connection between motor and cognitive components, as supported by the Embodied Cognition theory assumptions. Key-words: intellectual development, learning disabilities, obesity, socioeconomic status, self- perception. Introdução Apesar da preocupação crescente entre pais, professores e instituições, e dos esforços realizados no sentido de reduzir o insucesso e o abandono escolar, os resultados estão aquém do que seria desejado. Smith e Strick (2001) são da opinião que as Dificuldades de Aprendizagem são a causa mais frequente do baixo desempenho escolar, apesar destas crianças apresentarem um desenvolvimento cognitivo normal. Neste sentido, o grande desafio que se coloca é perceber a discrepância entre o bom potencial cognitivo e o baixo desempenho escolar apresentado por estas crianças. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE, 2012) e o Conselho Nacional da Educação (CNE, 2012) no que respeita ao desempenho escolar, Portugal ocupa uma posição abaixo em relação à média dos países membros (com uma distância de 9,7 pontos percentuais). Contribuem para esta situação as dificuldades encontradas pelos alunos ao longo do seu percurso académico, principalmente na matemática. Segundo o Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE, 2012), nesta disciplina os níveis de desempenho têm sofrido um decréscimo ao longo dos anos, sendo números, operações e geometria as áreas onde os alunos evidenciam mais dificuldades. Várias investigações salientam a relação entre o desenvolvimento motor e o cognitivo (Asonitou, Koutsouki, & Charitou, 2010; Asonitou, Koutsouki, Kourtessis, & Charitou, 2012; Dewey, Kaplan, Crawford, & Wilson, 2002; Wassenberg et al., 2005), tendo sido verificado que as crianças com desordens no desenvolvimento da coordenação motora apresentam risco de atenção e de aprendizagem. Outros estudos, também encontraram uma relação forte entre a componente motora e as DA (Amaro, Jatobá, Santos, & Neto, 2010; Gibbs, Appleton, & Appleton, 2007; Moreira, Fonseca, & Diniz, 2000; Papst & Marques, 2010; Silva & Beltrame, 2011; Staviski, Silva, Oliveira, & Beltrame, 2007). Diversas investigações comprovam a relação existente entre a obesidade infantil e o funcionamento cognitivo. Guxens et al. (2009) constataram que as crianças com excesso de peso e obesidade 19 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 apresentaram valores inferiores em tarefas cognitivas, verbais e de funções executivas. Outros estudos verificaram uma relação inversa entre a obesidade e o funcionamento cognitivo, especificamente na organização espacial e na memória (Li, Dai, Jackson, & Zhang, 2008). Datar, Sturm e Magnabosco (2004) verificaram que as crianças que apresentavam excesso de peso obtinham piores resultados na matemática e no português. Vários autores sugerem o estatuto socioeconómico como uma das variáveis associadas à problemática do insucesso escolar (Farah et al., 2006; Hackman & Farah, 2009; Noble, Norman, & Farah, 2005), sendo esta considerada uma variável preditora mais forte comparativamente à obesidade, a qual se revela como sendo uma variável moderadora e não um fator causal (Datar et al., 2004). Não existe um consenso relativamente ao autoconceito, referindo Kershner (1990) que este é um preditor da capacidade de aprendizagem, nomeadamente, na linguagem, escrita e aritmética. Contrariamente Strein (2006) defende que ter ou não DA não interfere com a perceção do auto conceito dos alunos. A literatura demonstra a existência de várias variáveis que influenciam o desenvolvimento intelectual, no entanto poucos estudos utilizaram as mesmas em conjunto. Perante isto, definimos como objetivo verificar quais destas variáveis são preditoras do desenvolvimento intelectual em crianças com DA. Metodologia Amostra O presente estudo englobou 65 crianças do ensino básico (31 raparigas e 34 rapazes), com idades entre 6 e 10 anos (8,1±1,1), sinalizadas com DA pelos professores. As crianças pertenciam a três escolas públicas da região nordeste de Portugal. Todas as crianças envolvidas no estudo foram autorizadas pelos encarregados de educação. Instrumentos Perfil psicomotor. A BPM segundo Fonseca (2007) permite-nos traçar o perfil psicomotor de crianças com idades compreendidas entre os 4 e os 12 anos. Esta bateria é constituída por 7 fatores psicomotores: Tonicidade, Equilibração (constituindo a 1.ª Unidade Funcional de Luria), Lateralização, Noção de Corpo, Estruturação espácio-temporal (2.ª Unidade Funcional de Luria), Praxia Global e Praxia Fina (3.ª Unidade Funcional de Luria), distribuídos por 26 subfactores. Os resultados finais permitem-nos obter um perfil quantitativo (entre 7 e 28 pontos) e um qualitativo (7-13, Dispráxico; 14-21, Normal; 22-26, 20 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 Bom; 27-28, Superior). Foi comprovada a fiabilidade dos resultados obtidos (1.ª Unidade r= 0,887, p= 0,000; 2.ª Unidade r= 0,732, p= 0,05; 3.ª Unidade r= 0.969, p= 0.00). Desenvolvimento Intelectual. Segundo Simões (2000), as MPCR consistem num conjunto de testes que pretendem medir o desenvolvimento intelectual não-verbal em crianças dos 5 aos 11 anos, sendo constituídas por 3 séries (A, Ab e B) com 12 itens cada (entre 1 e 36 pontos). Esta escala permite-nos obter 3 resultados distintos, o resultado bruto, o percentil (ajustado à idade) e a classificação qualitativa (Intelectualmente Superior, Acima da Média, Intelectualmente Médio, Abaixo da Média e Intelectualmente Deficiente). Foi calculado o Alfa de Cronbach da escala, tendo sido obtido o valor de 0.837, o que significa uma boa consistência interna. Perceção de Competência. Devido à idade das crianças da amostra foram usadas 2 escalas: Escala Pictórica da Perceção de Competências e Aceitação Social para Crianças (1.º e 2.º anos de escolaridade) construída por Harter e Pike (1984) e adaptada por Mata, Monteiro e Peixoto (2008) e a Escala de Autoconceito para Crianças e Pré-Adolescentes (812 anos) construída por Harter (1985) a partir da Perceived Competence Scale for Children (Harter,1982) e adaptada para a população portuguesa por Alves-Martins, Peixoto, Mata e Monteiro (1995). A 1.ª escala avalia 4 dimensões (competência cognitiva, competência física, aceitação de pares e aceitação materna), enquanto a 2.ª avalia 5 dimensões (competência escolar, aceitação social, competência atlética, aparência física, comportamento) e a autoestima (Alves-Martins, Peixoto, Mata, & Monteiro, 1995; Mata & Monteiro, 2008). Foi calculado o alfa de Cronbach para ambas as escalas, variando os valores entre 0,284 e 0,776 para a 1.ª escala e entre 0,368 e 0,752 para a 2.ª escala. Foi ainda utilizado um questionário para recolha de dados individuais, incluindo o estatuto socioeconómico, preenchido pelos encarregados de educação. Para o cálculo do IMC foi avaliada a estatura e a massa corporal, de acordo com o protocolo de (Lohman, Roche, & Martorell, 1988), com recurso a uma balança “Seca”. Análise estatística Inicialmente foi realizada uma análise descritiva dos dados através de medidas de tendência central e de dispersão. Para verificar a associação entre a variável dependente e as independentes (motoras, psicológicas, biológicas e socioeconómicas) foi calculado o coeficiente de correlação de Pearson. De forma a determinar as variáveis preditoras do desenvolvimento intelectual utilizamos o modelo de regressão linear, inserindo no modelo apenas as variáveis que apresentaram associação significativa (p≤0.05), tendo considerado a idade como covariavel. 21 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 Resultados Análise descritiva Na amostra total (N=65), a maioria das crianças apresentam um perfil psicomotor Eupráxico (63,1%). Relativamente ao desenvolvimento intelectual, a quase totalidade da amostra apresenta uma classificação entre Abaixo e Acima da Média, apenas 5 crianças apresentaram um desenvolvimento Intelectualmente Superior (ver tabela 1). Tabela 1. Análise descritiva da amostra Max. Min. M 25.0 15.0 20.4 - Hiperpráxico _ _ - Eupráxico _ Resultado bruto Percentil DP Freq. % 2.4 _ _ _ _ 24 36.9 _ _ _ 41 63.1 34.0 15.0 24.2 4.9 _ _ 95 10 54.2 26.0 _ _ - Intelectualmente superior _ _ _ _ 5 7.7 - Acima da média _ _ _ _ 22 33.8 -Intelectualmente médio _ _ _ _ 16 24.6 _ _ _ 22 33.8 Perfil psicomotor Perfil Quantitativo Perfil Qualitativo: Desenvolvimento Intelectual Classificação qualitativa: - Abaixo da média _ Associação entre as variáveis. Os resultados da correlação evidenciam uma associação significativa do desenvolvimento intelectual com a idade (r=.446, p=.000) e com a maioria dos fatores psicomotores, nomeadamente, a Equilibração (r=.293,p=.018); Noção do Corpo (r=.367, p=.003); Estruturação Espácio-temporal (r=.502,p=.000); Praxia Global (r=.278, p=.025) e Praxia Fina (r=.543,p=000). Todas as outras variáveis não apresentaram correlações significativas, nomeadamente, a Perceção de Competência, Obesidade e o Estatuto Socio- Económico. 22 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 Modelo de Regressão Linear No modelo de regressão foram incluídas as variáveis que apresentaram significância estatística, com exceção da idade que entrou no modelo como covariavel. 27,4 % da variância do desenvolvimento intelectual é explicada pela Estruturação espácio-temporal (β =.281, p=.005) e a Praxia Fina (β=.412, p=.005) (Tabela 2). Tabela 2: Modelo de Regressão Linear. β Sig Equilibração -0.92 .492 Noção do Corpo .027 .848 Estruturação Espácio- temporal .281 .005* Praxia Global .013 .912 Praxia Fina .412 .005* Fatores psicomotores 2 r =0.274; p=000 Discussão De acordo com os nossos resultados, verifica-se uma associação entre o desenvolvimento intelectual e a componente motora, tal como verificado noutros estudos com crianças com DA (Amaro, Jatobá, Santos, & Neto, 2010; Gibbs, Appleton, & Appleton, 2007; Medina, Rosa, & Marques, 2006; Moreira, Fonseca, & Diniz, 2000; Papst & Marques, 2010; Silva & Beltrame, 2011; Staviski, Silva, Oliveira, & Beltrame, 2007) e com crianças que apresentam problemas de coordenação do movimento, visto que algumas das áreas cerebrais responsáveis pelo funcionamento executivo são também as áreas responsáveis por algumas das tarefas motoras (Asonitou et al., 2010; Asonitou et al., 2012; Dewey et al., 2002; Wassenberg et al., 2005). No presente estudo, as variáveis preditoras são a Praxia Fina e a Estruturação espáciotemporal, facto que não nos surpreende visto que as maiores dificuldades e insucesso dos alunos se verificam na matemática. Segundo o The National Joint Commitee on learning Disabilities (1988) as DA “(…) são um conjunto de desordens que se podem manifestar ao nível do raciocínio e das habilidades matemáticas, entre outras (…)” (Hammil, 1990). Como se tem verificado as questões espaciais são fundamentais para a aprendizagem de competências da matemática, não só na aquisição da linha numérica mental (na orientação 23 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 da esquerda para a direita) mas também na posição que os números ocupam uns em relação aos outros tendo em conta a sua magnitude (Dehaene, 1992; Dehaene, Piazza, Pinel, & Cohen, 2003). Segundo Marr, Windsor e Cermark (2001) o conhecimento espacial é também importante na leitura e na escrita, sendo fundamental que as crianças identifiquem as instruções para proceder a estas habilidades cognitivas (por exemplo, perceber os carateres acima e abaixo da linha, que o A está antes do B e que o C está depois do B). Todavia, estes autores, no seu estudo, verificaram uma baixa relação com estas questões espaciais, tendo salvaguardado no entanto que a sua amostra era constituída por crianças pertencentes a níveis socioeconómicos elevados e sem DA. Gibbs et al. (2007) destacaram a lentidão e a imaturidade na elaboração da escrita como principais dificuldades das crianças com dispraxia, sendo que estas caraterísticas se agravam e originam dificuldades a outros níveis tais como DA. Morato (1995) acrescenta a relevância dos processos visuais para a geometria, pois o espaço onde vivemos é um espaço tridimensional, no qual é importante a relação entre os objetos bem como a sua manipulação para a aprendizagem. Neste contexto Smith (2005) defende que a inteligência constrói-se na interação do organismo com o meio ambiente, fruto da atividade sensoriomotora. Assim, na nossa opinião a aprendizagem será duradoura e eficaz quando realizada na perspetiva da interação dos parâmetros cognitivos e motores, como apontam os pressupostos da teoria do Embodied Cognition, que destaca o papel do corpo como instrumento fundamental no processo da aprendizagem (Gallese & Lakoff, 2005). Concluindo, apenas as variáveis motoras foram preditoras do desenvolvimento intelectual, indo ao encontro da teoria do Embodied Cognition, que coloca em destaque a sua interação mútua no meio envolvente. Salientamos ainda que mais importante do que saber qual o nível de desenvolvimento intelectual das crianças com DA, é saber quais as variáveis que lhes estão associadas, para que precocemente se possa intervir e minimizar os efeitos negativos na vida destas crianças. Referências Alves-Martins, M., Peixoto, F., Mata, L., & Monteiro, V. (1995). Escala de Auto -Conceito para Crianças e Pré- Adolescentes de Susan Harter. In L. Almeida, M. Simões & M. Gonçalves (Eds.), Provas Psicologicas em Portugal (pp. 79-89). Braga: APPORT. Amaro, K , Jatobá, L, Santos, M, & Neto, R (2010). Desenvolvimento motor em escolares com dificuldades na aprendizagem. Movimento & Percepção, 11, 39-46. 24 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 Asonitou, K., Koutsouki, D., & Charitou, S. (2010). Motor skills and cognitive abilities as a precursor of academic performance in children with and without DCD. 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ESTUDO 3 – Impacto de um programa centrado no corpo/movimento no desenvolvimento intelectual e nas competências matemáticas de crianças com dificuldades de aprendizagem Isabel Pereira1; Eduarda Coelho1; Cecília Costa1;2; Isabel Mourão1 1 Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, CIDESD, Vila Real, Portugal 2 Centro de Investigação em Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (Lab-DCT da UTAD), Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal Resumo: O presente estudo visa verificar o impacto de um programa centrado no corpo/movimento no desenvolvimento intelectual e nas competências matemáticas de crianças sinalizadas com dificuldades de aprendizagem (DA). No âmbito do projeto “Gabinete de Promoção do Desenvolvimento Infantil”, foram sinalizadas pelos professores 60 crianças (27 raparigas e 33 rapazes) com DA do 1.º ciclo do Ensino Básico de Vila Real (idade média de 8,19±1,14 anos), que foram divididas em dois grupos: grupo experimental e grupo de controlo. O grupo experimental, durante 8 meses, foi sujeito a um programa de intervenção, com uma frequência bissemanal, de 45 minutos cada sessão. Ambos os grupos foram submetidos a um pré-teste e um pós-teste, para recolher informação sobre o desenvolvimento intelectual e as competências matemáticas, através da aplicação das Matrizes Progressivas Coloridas de Raven e da avaliação dos professores na disciplina de matemática, respetivamente. Os grupos foram comparados no pré-teste não se tendo registado diferenças significativas no desenvolvimento intelectual e na avaliação matemática. Verificam-se melhorias estatisticamente significativas no desenvolvimento intelectual (p=0.033), e, na avaliação de matemática (p=0.001), quando comparados os resultados do pré e do pós-teste, apenas no grupo experimental. Com base nos nossos resultados podemos concluir que o programa teve um impacto positivo no desenvolvimento intelectual e nas competências matemáticas de crianças com DA. Palavras-chave: Competências matemáticas, desenvolvimento intelectual, dificuldades de aprendizagem e criança. 27 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 Introdução Apesar das estratégias desenvolvidas no sentido de reduzir o insucesso e o abandono escolar, Portugal não foi capaz de dar uma resposta eficaz na resolução deste problema. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE, 2012) e o Conselho Nacional da Educação (CNE, 2012), Portugal ocupa uma posição abaixo da média com uma distância de 9,7 pontos percentuais em relação à média dos países membros. Ao longo do seu percurso académico, os alunos encontram muitas dificuldades, que muitas das vezes se traduzem em retenções, conduzindo a um desfasamento entre a idade ideal de frequência e o ano de escolaridade. A falta de consenso relativamente à definição do conceito de DA, assim como o não reconhecimento das DA como um problema escolar, tem acarretado dificuldades em operacionalizar estratégias capazes de dar resposta às dificuldades enfrentadas pelas crianças com DA (Fonseca, 2008). As dificuldades na aprendizagem da matemática, no 1.º ciclo do Ensino Básico (1.º CEB) são, de entre outras, uma das que representam um obstáculo a um percurso escolar bem-sucedido. Muitos estudos apontam e relacionam as DA com um baixo desempenho motor ou com problemas de coordenação, salientando a relação entre o desenvolvimento motor e o cognitivo (Amaro, Jatobá, Santos, & Neto, 2010; Asonitou, Koutsouki, & Charitou, 2010; Asonitou, Koutsouki, Kourtessis, & Charitou, 2012; Dewey, Kaplan, Crawford, & Wilson, 2002; Gibbs, Appleton, & Appleton, 2007; N. Moreira, Fonseca, & Diniz, 2000; Papst & Marques, 2010; Pereira, Coelho, Costa, & Mourão-Carvalhal, 2013; Silva & Beltrame, 2011; Staviski, Silva, Oliveira, & Beltrame, 2007; Wassenberg et al., 2005). Evidências recentes demonstram que não existe independência, entre o desenvolvimento motor e o desenvolvimento cognitivo, revelando uma interconexão entre as estruturas cerebrais responsáveis pela realização dos movimentos (cerebelo) e as cognitivas (córtex pré-frontal). A maior parte das funções cognitivas que requerem a intervenção do córtex dorsolateral pré-frontal, também exigem uma intervenção do neocerebelo, tal como esta estrutura também é responsável pelas mesmas funções cognitivas controladas pelo córtex pré-frontal (Diamond, 2000). Com base na relação encontrada entre desenvolvimento motor e desenvolvimento cognitivo, alguns estudos têm vindo a implementar programas de ensino e de aprendizagem bem28 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 sucedidos, utilizando o movimento de forma a minorarem o insucesso escolar na aprendizagem da matemática, e escrita (Almeida, 2007; Kambas, Amoutzas, Makri, Gourgoulis, & Antoniou, 2002; Kambas et al., 2010; Kambas et al., 2005). Apesar do crescente número de estudos realizados no âmbito da associação entre o desenvolvimento motor e o cognitivo são escassos os que utilizaram programas de intervenção nos seus desenhos experimentais. Face ao exposto o objetivo do presente estudo foi verificar o impacto de um programa centrado no corpo/movimento no desenvolvimento intelectual e na avaliação matemática em crianças sinalizadas com DA. Metodologia Desenho do estudo O nosso estudo é considerado um estudo quasi-experimental de carácter longitudinal. Inicialmente os alunos foram sinalizados pelos professores e psicólogos, e os dados foram recolhidos em dois momentos, pré e pós-teste, com recurso a um conjunto de testes para o efeito. Recolheu-se junto dos professores os dados da avaliação sumativa dos alunos, na disciplina de matemática, realizada nos três períodos do ano letivo. As crianças sinalizadas foram distribuídas pelo grupo experimental e pelo grupo de controlo, mediante a autorização dos Encarregados de Educação. O grupo experimental foi alvo de uma intervenção com a duração de 8 meses. Sinalização dos alunos por parte dos professores da turma e psicólogos. Pré Teste: Grupo Experimental e Grupo de Controlo Intervenção 8 meses – grupo experimental Bateria Psicomotora; Bateria Psicomotora; Matrizes Progressivas Coloridas de Raven; Pós - Teste: Grupo Experimental e Grupo de Controlo Matrizes Progressivas Grupo de Controlo sem intervenção Coloridas de Raven; Recolha das avaliações na disciplina de matemática 29 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 Descrição do programa Este estudo foi desenvolvido no âmbito do projeto “Gabinete de Promoção do Desenvolvimento Infantil” e implementado pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em parceria com a Câmara Municipal de Vila Real e a Fundação Vodafone Portugal, através do projeto World of Differences desta Fundação. O projeto contemplava duas valências, a valência do combate à obesidade e a valência da promoção do sucesso escolar, na qual se insere o presente estudo. No âmbito desta valência o gabinete implementou um programa que tinha como objetivos, proporcionar a vivência de experiências multimotoras, multicontextuais, multiexperienciais, para reduzir o insucesso escolar, em particular na matemática. O programa assenta nos pressupostos das teorias do Embodied Cognition, perspetivando que a inteligência se constrói na interação do organismo com o meio ambiente, fruto da atividade sensoriomotora (Smith, 2005) na inter-relação da ação do indivíduo com o meio (Roussou, 2004). Contrariam uma abordagem dualista e Cartesiana, da separação, corpo-mente (Light & Fawns, 2002), colocando em destaque a interação mútua destes, destacando o papel do corpo como instrumento fundamental no processo da aprendizagem. O trabalho foi desenvolvido em três centros escolares do nordeste português com crianças do 1.º CEB, ao longo de 8 meses, com sessões bissemanais de 45 minutos cada, perfazendo um total de 51 sessões, tendo por base o programa nacional de matemática. De acordo com o Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE, 2012), as maiores dificuldades e insucessos registados pelos alunos do 1.º CEB, no âmbito da matemática, são a compreensão das operações, o desenvolvimento do cálculo mental e das relações numéricas, pelo que alguns dos conteúdos trabalhados foram a linha numérica, operações aritméticas, unidades de medida, figuras e sólidos geométricos, entre outros. As atividades desenvolvidas nas sessões utilizaram como instrumento principal o corpo e algum material, como bastões, arcos, puzzles de sólidos tridimensionais, paraquedas, entre outros. Segundo Kambas et al. (2010), os programas de intervenção psicomotora são considerados como metodologias eficazes no processo de ensino-aprendizagem. 30 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 Amostra O presente estudo englobou 60 crianças do 1.º CEB (27 raparigas e 33 rapazes), com idades entre 6 e 10 anos (8,1±1,1), sinalizadas com DA pelos professores, que foram divididas em dois grupos: grupo experimental (n=26 com uma média de idades 8.17± 1.08) e grupo de controlo (n=34 com uma média de idades 8.20 ±1.19). As crianças pertenciam a três escolas públicas da região nordeste de Portugal. Todas as crianças envolvidas no estudo foram autorizadas pelos encarregados de educação. Instrumentos Na recolha de dados foram utilizados dois instrumentos, a Bateria Psicomotora de Vítor da Fonseca (BPM) para avaliar o perfil psicomotor e as Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (MPCR) para avaliar a capacidade intelectual não-verbal. A BPM segundo Fonseca (2007) permite-nos traçar um perfil psicomotor, assim como compreender alguns dos problemas de comportamento e de aprendizagem que crianças e jovens com idades compreendidas entre os 4 e os 12 anos possam apresentar. Esta é constituída por 7 fatores psicomotores, nomeadamente: Tonicidade, Equilibração, (constituindo a 1.ª Unidade Funcional de Lúria), Lateralização, Noção de Corpo, Estruturação Espácio-Temporal (2.ª Unidade Funcional de Lúria), Praxia Global e Praxia Fina (3.ª Unidade Funcional de Lúria), sendo as tarefas referentes aos fatores mencionados distribuídas por 26 subfatores. As cotações dos subfatores e do perfil final variam entre 1 e 4, sendo 1 Perfil Deficitário, 2 Perfil Dispráxico, 3 Perfil Eupráxico e 4 Perfil Hiperpráxico. Os resultados finais permitem-nos obter um perfil quantitativo e um qualitativo (9-13 Dispráxico, 14-21 Normal, 22-26 Bom, 27-28 Superior). As MPCR segundo Simões (2000) consistem num conjunto de testes que pretendem medir a capacidade intelectual não-verbal, destinadas a crianças dos 5 aos 11 anos sendo constituídas por 3 séries (A, Ab e B) com 12 itens cada, perfazendo um total de 36. Esta escala permite-nos obter 3 resultados distintos, o resultado bruto, o percentil (ajustado à idade), e a classificação qualitativa. Os níveis dessa classificação variam entre 1 e 5, sendo 1 Intelectualmente superior, 2 Acima da média, 3 Intelectualmente médio, 4 Abaixo da média e 5 Intelectualmente deficiente. Os dados referentes às avaliações em matemática foram atribuídos pelos professores no final de cada período letivo e variam entre Não satisfaz, Satisfaz, Satisfaz bastante e Bom. 31 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 Procedimentos A aplicação da BPM foi distribuída por três estações, cada uma com um avaliador, sendo que cada estação correspondia a uma Unidade funcional. Tendo em conta a presente situação efetuaram-se os procedimentos habituais para verificar a fiabilidade dos resultados, facto que foi confirmado, (1.ª unidade r=0.887, p=0.00; 2.ª unidade r=0.732, p= 0.05; 3.ª unidade r=0. 969, p= 0.00; total r=0.800, p=0.02). A BPM foi aplicada individualmente a cada criança demorando sensivelmente 45 minutos. A avaliação tem início com as tarefas referentes à Tonicidade, seguindo posteriormente a ordem crescente dos restantes fatores. Em relação à aplicação das MPCR, esta foi aplicada individualmente, na forma de caderno e demorou cerca de 5 a 7 minutos, com cada criança, estando esta posicionada em contexto de mesa em frente ao avaliador. Inicialmente foi apresentado e explicado, em que consistia a avaliação, através de uma ficha de exemplo (Angelini, Alves, Custódio, Duarte, & Duarte, 1999). Ao longo da avaliação as crianças foram advertidas sempre que se verificou algum entusiasmo e ansiedade em fazer tudo rapidamente. Foi calculado o Alpha de Cronbach da escala, tendo sido obtido o valor de 0.837, o que traduz uma boa consistência interna. Análise estatística A análise estatística foi realizada com recurso ao Statistical Package for the Social Sciences - SPSS, versão 17.0. Comprovou-se a normalidade da distribuição dos dados através da simetria e da curtose. Inicialmente foi realizada uma análise descritiva dos dados através das medidas de tendência central e de dispersão. Para comparar o grupo experimental e controlo no pré-teste utilizou-se o t-teste de medidas independentes para variáveis contínuas e o Qui-quadrado para variáveis ordinais. Para comparar o pré-teste e pós-teste foi utilizado o t-teste de medidas repetidas para variáveis contínuas e o teste de Wilcoxon para variáveis ordinais. Resultados Na amostra total (n=60) aquando da realização do pré-teste pudemos verificar que a 3.ª Unidade é aquela onde se verificam valores mais baixos nos dois grupos. No que respeita à 1.ª unidade os grupos apresentam-se iguais, contudo a 2.ª unidade é aquela cujo valor da amostra total é mais baixo. No Desenvolvimento Intelectual os grupos apresentam somente ligeiras diferenças. Através do t-teste verificamos que nenhuma das variáveis apresenta diferenças estatisticamente significativas (ver tabela 1). 32 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 Tabela1: Comparação dos grupos (experimental e controlo) na BPM e MPCR no pré-teste. Grupo Experimental (n=26) M DP BPM 1.ª Unidade 2.ª Unidade 3.ª Unidade MPCR Resultado Bruto Grupo de Controlo (n=34) M DP p 3.00 2.99 2.74 0.47 0.45 0.49 3.00 3.04 2.72 0.34 0.34 0.43 0.69 0.66 0.87 24.19 4.69 24.18 4.70 0.99 Da análise da tabela 2 podemos referir que as avaliações obtidas no grupo experimental são inferiores ao grupo de controlo, no entanto quando aplicado o teste do Qui-Quadrado estas diferenças não são estatisticamente significativas (p= 0.262). Tabela 2: Comparação dos grupos da amostra nas Avaliações em Matemática no pré- teste. Grupo Experimental (n= 26) Freq. % 11 42.3% 14 53.8% 0 0.0% 1 3.8% Classificação em Matemática Não satisfaz Satisfaz Satisfaz Bastante Bom Grupo de Controlo (n=34) Freq. % 7 20.6% 25 73.5% 1 2.9% 1 2.9% Partindo da análise da tabela 3, verificamos um impacto positivo do Programa dado que o grupo experimental obteve melhorias significativas no desenvolvimento intelectual (p= 0.033), o que não se verificou no grupo de controlo. Tabela 3. Comparação dos resultados obtidos do pré-teste e pós-teste nos dois grupos nas MPCR e BPM MPCR Resultado Bruto Grupo Experimental (n=26) Pré-Teste Pós- Teste 24.30 ± 4.52 25.73 ± 4.54 p Grupo de Controlo (n=34) Pré-teste Pós- teste p 0.033* 23.96 ± 0.99 0.427 24.54 ± 1.16 A tabela 4 mostra-nos que nos resultados da avaliação em matemática ambos os grupos melhoraram, contudo o grupo experimental apresenta melhorias estatisticamente significativas (p=0.001) como comprovado através do teste de Wilcoxon comparativamente ao grupo de controlo (p=0.317). Este teste demonstra que na comparação entre os dois momentos no grupo experimental nenhuma criança obteve resultados inferiores no pós-teste em relação ao pré-teste, 11 crianças melhoraram e 15 mantiveram os resultados. Por sua 33 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 vez no grupo de controlo, 3 crianças pioraram, 6 melhoraram e 25 mantiveram os mesmos resultados. Tabela 4. Comparação dos resultados obtidos do pré-teste e pós-teste nos dois grupos na avaliação em matemática através do teste de Wilcoxon Classificação em Matemática Não satisfaz Satisfaz Satisfaz Bastante Bom Classificação em Matemática Não satisfaz Satisfaz Satisfaz Bastante Bom Grupo Experimental (n= 26) Pré- teste Freq. % Freq. 11 42.3% 14 53.8% 0 0.0% 1 3.8% Grupo Controlo (n= 34) Pré- teste Freq. % 7 25 1 1 20.6% 73.5% 2.9% 2.9% 3 19 2 2 Pós- Teste Freq. 5 26 2 1 Pós- Teste % 11.5% 73.1% 7.7% 7.7% p 0,001 p % 14.7% 76.5% 5.9% 2.9% 0,317 Discussão O nosso estudo demonstra melhorias significativas no grupo experimental, evidenciando que o programa teve impacto no desenvolvimento intelectual e nas competências matemáticas das crianças sinalizadas com DA. Estes resultados estão de acordo com outros realizados no mesmo âmbito, como os de (Kambas et al., 2002; Kambas et al., 2010; Kambas et al., 2005) num estudo que pretendia verificar o efeito de um programa de intervenção psicomotor no controlo visuo-motor e aspetos grafomotores, em crianças da educação pré-escolar, tendo o grupo experimental obtido melhorias significativas, ressalvando a necessidade do movimento para ajudar na compreensão de conceitos espácio-temporais, essenciais ao processo de aprendizagem da escrita. Moreira (2010) confirmou também o impacto positivo de um programa psicomotor no desenvolvimento de competências no domínio da matemática, constatando que o grupo experimental apresentou melhorias significativas na noção de corpo e estruturação espáciotemporal, áreas que a literatura aponta como áreas fracas das crianças com DA (Almeida, 2007; Medina, Rosa, & Marques, 2006), assim como (Fernandes, Dantas, & Mourão- 34 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 Carvalhal, 2014), pode comprovar a relação entre o desempenho psicomotor com as dificuldades de aprendizagem em cálculo. Estes resultados evidenciam os pressupostos das teorias do Embodied Cognition dando especial destaque à atividade sensório-motora e à importância do corpo na interação com o meio ambiente, fundamental na cognição, como defende (Smith, 2005). Também Damásio (2000), argumenta que o cérebro é moldado pelas experiências vivenciadas pelo indivíduo, tal como um escultor que constrói as suas obras de arte. Por outro lado, põe em causa a abordagem dualista e Cartesiana, separação entre corpomente (Light & Fawns, 2002), destacando que o desenvolvimento das habilidades motoras facilita o funcionamento cognitivo (Piek, Dawson, Smith, & Gasson, 2008), evidenciando também que as funções cognitivas e as motoras utilizam as mesmas estruturas cerebrais (Diamond, 2000). Várias investigações têm salientado uma relação entre a componente motora e a cognitiva, não só pela forma como estas se influenciam, mas também como uma possível estratégia de trabalho, a fim de fazer face a algumas limitações que as crianças evidenciam, nomeadamente as que apresentam DA. O estudo de Pereira et al. (2013) realçou a componente motora como a variável com maior capacidade preditiva do desenvolvimento intelectual, num conjunto de variáveis de ordem biológica como a obesidade, a socioeconómica e a psicológica como a competência percebida. Os estudos de (Amaro et al., 2010; Gibbs et al., 2007; Medina et al., 2006; N. Moreira et al., 2000; Papst & Marques, 2010; Silva & Beltrame, 2011; Staviski et al., 2007) também constataram uma associação entre o desenvolvimento intelectual e a componente motora. Estudos realizados com crianças com problemas de coordenação do movimento, apontam no mesmo sentido, legitimando que algumas das áreas cerebrais responsáveis pelo funcionamento executivo são também as áreas responsáveis por algumas das tarefas motoras (Asonitou et al., 2010; Asonitou et al., 2012; Dewey et al., 2002; Wassenberg et al., 2005). Dado o impacto positivo da nossa intervenção pensamos que a utilização de um programa centrado no corpo/movimento poderá ser uma boa estratégia no ensino-aprendizagem da matemática, de forma a minorar o elevado insucesso escolar, registado pelas crianças do 1.º CEB, em Portugal. 35 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 Conclusões Como principais conclusões verificamos que o programa centrado no corpo/movimento teve um impacto positivo no desenvolvimento intelectual e nas competências matemáticas de crianças com DA. Referências Almeida, E. (2007). Geometria através do corpo/movimento: impacto de uma prosposta de intervenção transdisciplinar na aprendizagem da geometria no 1.º Ciclo do Ensino Básico. (Dissertação de Mestrado), Universidade de Trás- os- Montes e Alto Douro. Amaro, K., Jatobá, L., Santos, M., & Neto, R. (2010). Desenvolvimento motor em escolares com dificuldades na aprendizagem. Movimento & Percepção, 11, 39-46. Angelini, A. L., Alves, B.C., Custódio, M. E., Duarte, F. 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Tendo em conta os objectivos do estudo 2, verificar quais as variáveis preditoras do desenvolvimento intelectual de crianças sinalizadas com dificuldades de aprendizagem, constatamos que do conjunto das variáveis seleccionadas (motoras, socioeconómicas, biológicas e psicológicas), as variáveis motoras foram as que se apresentaram como preditoras do desenvolvimento intelectual. Estes resultados vão de encontro à teoria do Embodied Cognition, que coloca em destaque a interação mútua do corpo com o meio envolvente, tal como refere Smith (2005), a inteligência constrói-se na interacção do organismo com o meio envolvente através da actividade sensoriomotora. De acordo com as conclusões obtidas nos dois estudos, nomeadamente o valor preditivo das variáveis motoras no desenvolvimento intelectual, foi desenvolvido o estudo 3, tendo sido desenhado um programa de intervenção psicomotor, com vista a melhorar o desenvolvimento intelectual das crianças com DA. Os resultados deste estudo permitem-nos concluir que o programa centrado no corpo/movimento teve um impacto positivo no desenvolvimento intelectual e nas competências matemáticas de crianças sinalizadas com DA. De forma geral podemos referir que as crianças com dificuldades de aprendizagem não apresentam défice cognitivo, tendo potencial de aprendizagem. Este facto remete-nos para uma reflexão sobre as estratégias de ensino que habitualmente são usadas pelos professores nas escolas, não se adequando às características destas crianças e não promovendo o seu potencial. O programa alternativo utilizado neste estudo, teve um efeito positivo no desenvolvimento intelectual e nas competências matemáticas de crianças com DA, contribuindo para que estas aprendam de forma diferente os conceitos fundamentais inerentes à disciplina. 38 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 6. Futuras investigações Como proposta futura de trabalho, no âmbito desta investigação, gostaríamos de fazer o acompanhamento das mesmas crianças (follow-up), com o intuito de verificar a manutenção do impacto do programa no desempenho académico, nomeadamente na disciplina de matemática, (notas obtidas no final de cada período letivo). A segunda sugestão é um alerta sobre a importância de uma estimulação durante o período pré-escolar, dos proto-conceitos matemáticos. Uma abordagem destes conceitos, nos períodos críticos de desenvolvimento da criança é fundamental, a fim de proporcionar vivências e experiências que sejam gratificantes e significativas na aprendizagem dos conceitos matemáticos. 39 Isabel Maria Gouveia Pereira 2014 7. Referências Amaro, K , Jatobá, L, Santos, M, & Neto, R (2010). Desenvolvimento motor em escolares com dificuldades na aprendizagem. Movimento & Percepção, 11, 39-46. Andersson, Ulf, & Lyxell, Björn. (2007). 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Desta forma era-lhe apresentada uma imagem com uma lacuna, que ela teria de preencher, indicando uma das seis hipóteses possíveis, sendo que só uma estaria correta. Se a opção escolhida não fosse a opção certa, o avaliador explicava novamente, de forma a não deixar quaisquer dúvidas. Caso contrário, seguia-se para a matriz (A2) pedindo para que a criança indicasse novamente a lacuna em falta. No caso de a criança errar o avaliador voltava novamente a explicar a matriz (A1) solicitando posteriormente para que resolvesse a matriz (A2), se a opção fosse a correta seguia-se para a matriz (A3) com o mesmo processo. Na matriz (A4) pedia-se à criança que olha-se com atenção o desenho bem como para as 6 opções antes de responder, relembrando que apenas uma era a opção correta. Era sempre confirmado com a criança se aquela era em seu entender a opção correta, independentemente de esta ser ou não. No que diz respeito à matriz (A5) e (A6) procedia-se de igual forma. À medida que a aplicação ia decorrendo pelas restantes matrizes esta instrução dava-se apenas quando considerada necessária. Aquando da aplicação da serie Ab questionava-se a criança sobre qual a lacuna que faltava no desenho, pedindo sempre para que esta olha-se com atenção para o mesmo. Nas matrizes (Ab1) até (Ab5) depois da criança indicar a sua opção era questionada se aquela era a sua escolha definitiva, independentemente de esta ser a correta ou não. Caso a opção fosse errada procedia-se de igual forma às matrizes (A). Posteriormente à matriz (Ab5), era somente dito à criança que presta-se atenção e indicasse qual a sua escolha, não sendo questionado se tinha certeza da opção. Sempre que era necessário, repetia-se essa explicação nas restantes matrizes desta serie assim como nas referentes à serie (B). ANEXO 2 - Protocolo de aplicação da Bateria Psicomotora de Vítor da Fonseca Adaptado de Fonseca (2007). A aplicação desta bateria, consiste num conjunto de tarefas distribuídas por 7 fatores psicomotores a partir das quais se obtém um perfil. A aplicação da escala demorou cerca de 45 minutos com cada criança. As tarefas têm início com o fator Tonicidade no qual se avalia a Extensibilidade dos membros inferiores no grupo dos adutores. A criança senta-se no chão com apoio póstero-lateral das mãos, afastando as pernas o máximo possível. O avaliador verifica o amplitude do afastamento das pernas bem como, o grau de resistência através da palpação simples e suave dos extensores da coxa. Com a criança em decúbito dorsal é solicitado que esta eleve as pernas ate fletir as coxas sobre a bacia sendo observada a extensão máxima das pernas e o grau de resistência dos músculos posteriores da perna e da coxa. Por fim o quadricípite femoral, pedindo à criança que se deite em decúbito ventral e que flita as pernas sobre as coxas, o avaliador afasta lateralmente os pés, verificando a que altura estão os bordos externos dos pés em relação ao chão. Quanto à avaliação dos membros superiores, avalia-se os deltoides anteriores e peitorais, pedindo à criança que se mantenha de pé, com os braços pendentes e descontraídos. O avaliador ajuda na aproximação máxima de cotovelos atrás das costas, verificando se se tocam ou mede a distância que ficam um do outro; os flexores do antebraço, avalia-se através do ângulo formado pelo antebraço e pelo braço após extensão máxima do antebraço e a supinação da mão, ajudada pelo observador; e os extensores do punho, através da flexão máxima da mão sobre o antebraço, estando o avaliador a pressionar suavemente o polegar, verificando se este toca no antebraço ou medindo a que distância fica. De seguida avalia-se a Passividade dos membros inferiores, estando a criança sentada numa cadeira ou mesa com altura suficiente para os pés não tocarem no solo e fazendo mobilizações das pernas no sentido ântero-posterior, observando os movimentos efetuados. De seguida, mobilizar o pé, de forma a fazer uma rotação interna assistida e rapidamente interrompida, observando a amplitude e frequência dos movimentos passivos, a resistência e contrações dos pés. É importante verificar as reações emocionais aos exercícios. Posteriormente, avaliam-se os membros superiores, estando a criança de pé e com os braços pendentes, ao mesmo tempo que o avaliador faz deslocamentos anteriores, balanços e oscilações ântero-posteriores, acima da articulação do punho, avaliando a amplitude, frequência, resistência e contrações. De seguida, mobiliza-se bruscamente as mãos para ver o grau de liberdade e abandono das extremidades. Para se avaliar as Paratonias, pede-se à criança que descontraia o máximo possível, enquanto o observador vai mobilizando os membros superiores e, posteriormente, os membros inferiores, suave e passivamente. A mobilização dos braços deve ser efetuada até à posição vertical, verificando-se possíveis resistências ao movimento e o grau de liberdade existente quando o avaliador os deixa cair. O mesmo procedimento se deve repetir com os antebraços e pernas. Nas Diadococinésias, a criança deve estar sentada, com os antebraços fletidos sobre os braços, com os cotovelos apoiados em cima da mesa e com os braços em extensão anterior sem apoio. Desta forma, deve fazer movimentos rápidos de pronação e supinação, simultâneos e alternados, com e sem apoio dos cotovelos. Por fim, para se avaliar as Sincinésias, a criança deve manter-se sentada com ambas as mãos em cima da mesa e fazer a contração máxima, com a mão dominante, de uma bola de espuma compacta com 5 cm de diâmetro, observando-se movimentos de imitação e crispação contralaterais, peribucais e linguais. O segundo fator é a Equilibração, através de quatro subfactores: Imobilidade, Equilíbrio Dinâmico e Equilíbrio Estático. Na Imobilidade a criança deverá manter-se na posição ortoestática durante 60 segundos, com os olhos fechados e os braços pendentes ao longo do corpo, com apoio palmar das mãos e dedos na face lateral da coxa, com os pés juntos, simétricos e paralelos, desta forma avaliando o seu controlo vestibular e cerebeloso da postura. O Equilíbrio Estático é semelhante ao anterior, tendo mais três provas de 20 segundos cada. As crianças realizam a prova com os olhos fechados, tendo as mãos apoiadas nos quadris. A primeira tarefa é de apoio retilíneo, em que a criança deve colocar um pé à frente do outro, encostando o calcanhar de um pé à ponta do outro. A segunda é de manutenção do equilíbrio na ponta dos pés, em que criança deve colocar-se de pés juntos e manter-se em equilíbrio no terço anterior dos mesmos. A terceira e última tarefa é a de apoio unipedal, estando nas mesmas condições das tarefas anteriores, deve apoiar-se num só pé, fletindo a perna contrária pelo joelho, fazendo um ângulo reto. O Equilíbrio Dinâmico é composto por quatro tarefas: Marcha Controlada, em que a criança deve evoluir no solo em cima de uma linha reta de 3 m de comprimento, de modo a que o calcanhar de um pé toque na ponta do outro, mantendo sempre as mãos nos quadris; Evolução na Trave, em que a criança vai repetir o exercício anterior, mas em cima da trave e fazê-lo para a frente, para trás, para a direita e esquerda; Saltos com Apoio Unipedal, em que a criança percorre 3 m em saltos de apoio unipedal, registando-se o pé escolhido e voltando a repetir-se com o pé contrário; e Saltos com Pés Juntos, fazendo o mesmo procedimento para a frente, trás e de olhos fechados. A Lateralização avalia-se através das seguintes tarefas: Lateralização Ocular, pedindo-se à criança que olhe através de um canudo de papel e depois de uma folha de papel com um buraco no centro, de forma a espreitar com o olho dominante. Para se confirmar esta preferência deve-se pedir à criança que foque um determinado ponto e o siga. Os objetos devem ser entregues na linha média do corpo da criança; Lateralização Auditiva, pede-se à criança que ausculte um relógio de corda e depois simule falar ao telefone, demonstrando qual o seu ouvido dominante; Lateralização Manual, em que se sugere à criança que simule escrever e que depois simule cortar um papel com uma tesoura; e, por fim, Lateralização Pedal, sugere-se à criança que dê um passo à gigante, partindo de uma posição de pés paralelos e depois simule vestir umas calças, registando-se o primeiro pé de enfiamento. A Noção do Corpo, que está dividida em Sentido Cinestésico, Reconhecimento Direitaesquerda, Auto-imagem, Imitação de Gestos e Desenho do Corpo. Para a tarefa de Sentido Cinestésico a criança deve estar em pé, de olhos fechados e nomear os vários pontos do corpo em que o avaliador vai tocando. As crianças devem nomear dezasseis pontos. Na prova de Reconhecimento direita-esquerda, é pedido à criança a resposta motora aos pedidos verbais do avaliador. Por exemplo: “Mostra-me a tua mão direita”. A tarefa de Autoimagem é realizada com a criança de olhos fechados, com os braços estendidos lateralmente, as mãos fletidas e os indicadores estendidos, devendo a criança executar um movimento lento e de flexão do braço até tocar com as pontas dos indicadores na ponta do nariz. Repetir duas vezes com cada mão. Para a Imitação de Gestos a criança deve estar de pé em frente ao avaliador e depois de observar atentamente gestos realizados por este deve imitá-los. Por último, no Desenho do Corpo, pede-se à criança que faça um desenho do seu corpo o melhor que souber. A Estruturação Espácio-Temporal é composta por Organização, Estruturação Dinâmica, Representação Topográfica e Estruturação Rítmica. A tarefa de Organização consiste no deslocamento da criança numa distância de 5 m, contando os passos em voz alta. De seguida, voltar a fazer o mesmo percurso, somando mais três passos. Por último, repetir o exercício, mas com menos três passos respetivamente. Para a Estruturação Dinâmica pede-se à criança que observe durante 3 a 5 segundos as fichas apresentadas de três a cinco fósforos, devendo em seguida reproduzir o que viu, seguindo a orientação da esquerda para a direita. Na Representação Topográfica, o avaliador em conjunto com a criança reproduzem o mais fielmente possível o espaço em que se encontram, identificando os diversos locais através de números. De seguida deve posicionar a criança, desenhando nessa planta o percurso que a criança deve realizar posteriormente. Já para a Estruturação Rítmica, pede-se à criança que ouça com muita atenção a sequência de batimentos produzidos pelo observador, para em seguida imitá-los. A Praxia Global divide-se em quatro tarefas, Coordenação Óculo-manual, que consiste no lançamento de uma bola de ténis, estando a criança em pé, para dentro de um cesto posicionado em cima de uma cadeira a 2,50m; Coordenação Óculo-pedal, onde se pede à criança que chute uma bola de ténis para passar entre as pernas da cadeira, a uma distância igual à tarefa anterior; Dismetria, que se observa durante as duas tarefas anteriores, de forma a percecionar a sua adaptação visuo-espacial e visuo-quinestésica dos movimentos orientados face a uma distância ou alvo; por fim, a Dissociação que é dividida pelos membros superiores em que se pede à criança (em pé) que realize batimentos das mãos em cima da mesa e pelos membros inferiores, pedindo à criança que repita a tarefa anterior, mas com os pés a bater no chão e, coordenação, envolvendo a combinação das duas tarefas anteriores, todas elas segundo as indicações fornecidas pelo avaliador. Por último, surge Praxia Fina, composta por Coordenação Dinâmica Manual, Tamborilar e Velocidade-precisão. A tarefa de Coordenação Dinâmica Manual realiza-se com a criança sentada, onde se pede para montar e desmontar uma pulseira de clips o mais depressa possível. Esta é composta por dez clips. Para a prova de Tamborilar, o avaliador demonstra à criança como é que os dedos devem estar colocados, realizando círculos na transição de dedo para dedo, desde o indicador para o mínimo, seguido do inverso. De seguida, a criança, que está sentada, imita os mesmos movimentos, realizando três sequências separadas e uma em simultâneo, avaliando-se as duas mãos. Para finalizar toda a avaliação, surge a tarefa de Velocidade-precisão, pede-se à criança que se sente e que realize o maior número de pontos e cruzes num espaço de 30 segundos, tendo como referências espaciais o quadriculado do papel e a sequência da esquerda para a direita. ANEXO 3 -Protocolo de aplicação Escala Pictórica da Perceção de Competências e Aceitação Social, para Crianças Adaptado de Mata, Monteiro e Peixoto, (2008). A escala foi aplicada individualmente a cada criança tendo em conta o caderno com as imagens correspondente ao sexo da mesma. No início da avaliação a criança foi questionada sobre os seus dados, a fim de ser preenchido o cabeçalho da folha de respostas. A Aplicação da escala demorou cerca de 15 minutos com cada criança. O avaliador sentou-se em frente à criança de modo a que ao apresentar as figuras pudesse ler as instruções que se encontram atrás. Foi lida à criança uma afirmação sobre cada uma das crianças presentes nas figuras, uma figura é de cariz negativo e a outra positiva, é questionado à mesma em virtude das imagens qual a que esta considera ser mais parecida consigo. A primeira imagem a ser apresentada foi o item de exemplo. Após a criança apontar para a imagem que considerou mais parecida consigo o avaliador apontou para os círculos abaixo da figura, ex: se a criança escolheu o item contente o avaliador deverá dizer “Estás sempre contente” (apontando para o círculo maior) ou “Estas muitas vezes contente” (apontando para o círculo pequeno). Se eventualmente a criança apontasse para o meio dos dois círculos e referisse que é igual aos dois, o avaliador deveria levar a criança a explicar com qual é que ela se parece a maior parte do tempo. - Protocolo de aplicação da Escala de Autoconceito para crianças e Pré- Adolescentes Adaptado de Alves-Martins, Peixoto, Mata, Monteiro, (1995). A escala foi administrada individualmente, demorou cerca de 20 minutos com cada criança. Os itens foram lidos pelo avaliador em voz alta um a um. Inicialmente foi preenchida a informação referente à identificação e explicado às crianças como estas devem responder às questões. Foi referido também que não existem respostas certas ou erradas o que se pretende é apenas saber o que as pessoas pensam e qual a sua opinião, assim como se explicou também que por cada item só existe uma resposta. O avaliador apresentou algumas frases perante a criança que diziam respeito a crianças com características diferentes e questionou a criança a ser avaliada com qual das crianças ela se parecia mais. Posteriormente, o avaliador referiu e leu a pergunta de exemplo e solicitou à criança para pensar com qual das crianças era mais parecida se com a criança da esquerda ou se com a criança da direita. No final o avaliador referiu que uma vez que já sabia com qual das crianças era mais parecida deveria decidir se era “tal e qual assim” ou se “só um bocadinho assim” de acordo com a sua opção a criança foi informada que deveria colocar a cruz debaixo do quadrado que correspondia à sua escolha. Este procedimento foi adotado ao longo de toda a avaliação. ANEXO 4 Questionário Este questionário enquadra-se nas atividades do “Gabinete de Promoção do Desenvolvimento Infantil e Promoção do Sucesso Escolar” e tem como objetivo somente recolher algumas considerações relevantes para o enquadramento do desenvolvimento do seu educando. Nome da criança: __________________________________________________________ Idade da criança: _________________ Profissão Pai: ____________________________________________________ 1.º Ciclo (4.ª classe) ; 2.º Ciclo (até ao 9.º ano) ; Ensino secundário (até 12.º) ; Escolaridade Pai: Ensino superior: Profissão Mãe: _____________________________________________________ Escolaridade mãe: 1.º Ciclo (4.ª classe) ; 2.º Ciclo ( até ao 9.º ano) ; Ensino secundário (até 12.º) ; Ensino superior Como classifica o desenvolvimento do seu educando: Abaixo da média: Média: Acima da média: ANEXO 5 -Programa de intervenção 1.º Período letivo – Número de sessões- 13 Objetivos Gerais Conteúdos Objetivos Específicos Estratégias Recursos -Estruturação Espácio- -Noções e orientações -Desenvolver noções de: á frente, atrás, em - As atividades - Humanos temporal; espaciais e visuo- cima, em baixo, dentro, fora, pequeno, grande, serão realizadas -Técnicos; -Números naturais; espaciais; médio, perto, longe, curto, longo, rápido, lento, quer -Crianças; -Operações com números -Noções temporais e próximo, distante, antes e depois; individualmente - Materiais naturais; corporais; -Fomentar o reconhecimento esquerda / direita, quer em grupo; - Bolas; -Regularidades; -Noção de número e a organização dos diferentes segmentos - Serão também -Arcos; -Números racionais não natural; corporais; realizadas com -Bastões; negativos; -Relações numéricas; -Realizar contagens progressivas, regressivas e recurso a -Cordas; -Cálculo mental. -Adição, subtração, compor, decompor e ordenar números; atividades -Cones; divisão e multiplicação; -Identificar números pares e ímpares; lúdicas e jogos. -Fitas; -Sequências; -Compreender a adição nos sentidos combinar e -Tijolos; -Frações; acrescentar; -Paraquedas; -Resolver problemas envolvendo adições, subtrações, e divisões; -Elaborar sequências de números; -Utilizar estratégias de cálculo mental; 2.º Período letivo- Número de sessões - 19 Geometria e Medida - Composição e -As atividades - Humanos -Figuras no Plano e decomposição de figuras; semelhanças e diferenças; 1/2/3/4 serão realizadas -Técnicos; Sólidos geométricos; -Propriedade e -Distinguir interior, exterior e fronteira; 2/3 quer -Crianças; -Comprimento; classificação das figuras; -Distinguir círculo de circunferência, identificar e relacionar individualmente - Materiais -Medida; -Interior, exterior e raio e diâmetro; 5 /6 quer em grupo; -Bolas diversas; fronteira; - Adquirir conceito de simetria / assimetria; 6 -Serão também -Arcos; -Círculo e Circunferência / -Identificar linhas fechadas, abertas, retas horizontais, realizadas com -Bastões; diâmetro, raio e verticais, oblíquas, curva, paralelas, perpendiculares e recurso a -Cordas; semicircunferência; concorrentes.7 atividades -Cones; - Linhas abertas, - Classificar triângulos quanto ao comprimento.8 lúdicas e jogos. -Fitas; fechadas, curvas, -Comparar e descrever propriedades de sólidos -Tijolos; paralelas, concorrentes e geométricos (n.º de arestas, vértices, faces. - Giz; perpendiculares; - Distinguir entre poliedro e não poliedro; - Reta, Segmento de reta -Identificar, superfícies planas, não plana, em objetos Semirreta, comuns e em modelos geométricos; -Planificação do cubo; - Distinguir e identificar prisma e pirâmide; - Fósforos; -Noção de ângulo; -Distinguir e identificar o cubo e paralelepípedo e realizar -Sólidos - Medida e unidade de as diferentes planificações; geométricos medida; -Compreender, comparar e classificar ângulos;13/14 esponja; -Comparação e - Comparar e ordenar comprimentos; ordenação; -Realizar medições utilizando unidades de medida -Medição; não convencionais. -Perímetro -Realizar o cálculo do perímetro e área das figuras - Área. geométricas. 9,10,11,12, -Comparar e descrever figuras; geométricas através de -Paraquedas -Elásticos; - Papelão, 15,16,17,18,19 - Esteiras; -Transferidor, - Compasso -Régua. de 3.º Período- Número de Sessões –19 Capacidades Transversais: -Compreensão do - Identificar o objetivo e a informação -As atividades - Humanos -Resolução de problemas; problema; relevante para a resolução de um dado serão realizadas -Técnicos; -Raciocínio matemático, -Conceção, aplicação e problema; quer -Crianças; -Comunicação matemática. justificação de estratégias; - Conceber e pôr em prática estratégias de individualmente - Materiais - Revisões - Justificação de resolução de problemas, verificando a quer em grupo; -Bolas; Raciocínio; adequação dos resultados obtidos e dos -Serão também -Arcos; -Interpretação; processos utilizados; realizadas com -Bastões; -Expressão; - Explicar ideias e processos e justificar os recurso a -Cordas; -Discussão. resultados matemáticos. atividades -Cones; -Interpretar informação e ideias matemáticas lúdicas e jogos. -Fitas; representadas de diversas formas. -Tijolos; -Expressar ideias e processos matemáticos -Paraquedas; oralmente, utilizando linguagem e -Elásticos. vocabulário próprio. -Discutir resultados, matemáticos. processos e ideias ANEXO 6 -Exemplos de atividades Exemplo de actividades implementadas Atividades/ Descrição Atividade 1 – “Linhas numéricas” Material -Fita Conteúdos - Contagem crescente - Grandezas; 1.º- As técnicas solicitaram aos participantes que se disponham ao longo de uma linha - Noção de quantidade; de forma crescente da esquerda para a direita (por alturas, identificam o maior, o menor - Linha Numérica; e o meio). -Representação visuo- espacial. A partir da linha inicial os participantes elaboram uma linha numérica dando destaque à - Medida. representação da quantidade referente a cada número. Para isso devem dar sempre um - Noções de maior, menor e médio. passo em frente ao número anterior. Os participantes a fim de representarem a quantidade dos números devem organizar-se em grupo ao longo da linha. Atividade 2 – “ Vai-Vém” - 2 Bola; - Memória de trabalho Dispostos em fila, os participantes devem passar a bola, para o participante que se - Associação; encontra atrás de si, de acordo com a orientação da técnica. O último elemento da fila, - Concentração; quando recebe a bola, desloca-se para o início, levando consigo a mesma, realizando o - Noções espaciais; trajeto pelo qual a bola chegou a si, sendo que o restante grupo deve colaborar (quando - Reconhecimento Esquerda/ Direita em si e a bola vier por cima, o grupo deve agachar-se; se a bola vier por baixo, devem afastar no outro. as pernas). Quando o 1.º elemento se deslocar para o início da fila os restantes devem dar sempre um passo atrás. A orientação da técnica consiste: - Quando esta afastar o braço direito, devem passar a bola pelo lado esquerdo; - Quando afastar o braço esquerdo, devem passar a bola pelo lado direito; - Quando levantar o braço, devem passar a bola por entre as pernas; - Quando colocar a mão por baixo do queixo, devem passar a bola por cima da cabeça. Atividade 3 – “ Medir ângulos” - Transferidor; -Conhecimento e Controlo do corpo; - Cadeira; -Construção e identificação de ângulos; Será solicitado a cada participante que em grupo ou individualmente construam -Medidas de ângulos; diferentes tipos de ângulos, seguidamente devem medir os respetivos ângulos com -Transferência do plano vertical para o plano recurso ao transferidor. horizontal. Os participantes a partir da posição de sentado analisam os ângulos que se formam e -Utilização de material didático referente á devem proceder a sua medição, posteriormente devem tentar reproduzir a mesma figura matemática (Transferidor). deitados no chão identificando os mesmos ângulos e procedendo a sua medição novamente no novo plano. Atividade 4 – “Números cruzados” - Sem material; - Associação; Disperso pelo espaço será pedido a cada participante que memorize (1,2,3,4) a - Memória trabalho; sequência de números que a técnica refere, esta irá criar várias sequências às quais irá - Orientações espaciais; associar uma orientação espacial. Os participantes devem realizar através de um salto a associação da sequência e da orientação. Exemplo: 1,2,3,4/ 3,2,1,4 / 4,3,2,1/ 2,3,1,4 -1-Lado esquerdo - 2 Lado direito -3- Para frente -4- Para trás No final devem proceder à realização no sentido inverso. Atividade 5 – “Geoplano” - Elásticos; -Unidades de medida; -Diferentes tipos de linhas; 1.º -Será pedido aos participantes que de acordo com o seu número (Total) elaborem um -Diferentes tipos de triângulos (isósceles, geoplano de forma a que consigam reproduzir o maior número de figuras solicitadas, escaleno, equilátero); sendo que a unidade de medida entre os participantes nos vários sentidos deverá ser de - Definição e comparação de perímetros; 6 passos à bebé. - Construção do cubo 2-.ºdevem construir diferentes tipos de linhas (horizontais, verticais, diagonais, retas); - Resolução de problemas. -3.º- é pedido aos participantes que elaborem os diferentes tipos de triângulos tendo em - linha de conta o comprimento dos lados. geométricas Distinção entre sólidos e figuras 4.º- Formar figuras geométricas iguais mas com diferentes perímetros (quadrados ou retângulos); 5.º-Resolução do problema: Construir um cubo. Atividade 6 – “Planta da sala” Serão fornecidas aos participantes uma planta da sala com um percurso desenhado, o - Planta; - Representação topográfica; - Material geométrico diverso -Componente visuo- espacial; em esponja; -Descodificação; qual deverá ser memorizado e reproduzido pelos mesmos. Atividade 7 – “1,2,3 Corpo” -Orientação espacial memorizada. - Cartões; - Representação mental do número; - Representação espacial do número; A técnica divide o grupo em dois e propõe aos participantes que construam - Raciocínio; individualmente ou em grupo a representação de números, assim enquanto um dos - Criação de estratégias para atingir o grupos dá corpo aos números os restantes elementos tentam identificar no final quais os objetivo; números reproduzidos. Após esta 1.º fase os grupos invertem os papéis. Os números - Capacidade visuo- construtiva; serão facultados a cada grupo através de um cartão. O A construção dos números decorre com os elementos deitados no chão e somente com recurso ao corpo.