O segredo de uma vida feliz [estudo 15 – 1pedro 3.8-12] Qual é o segredo de uma vida feliz? Depois de dar instruções sobre como devemos viver em relação aos gentios (2.11-12), às autoridades (2.1317), aos empregadores (2.18-25) e a vida conjugal (3.1-7), Pedro agora apresenta um resumo das qualidades que os crentes devem expressar em seus relacionamentos a fim de desfrutarem de uma vida feliz (v. 10). Enquanto estiverem neste mundo, os crentes não estão isentos de graves e variadas dificuldades que roubam a alegria (1Pe 1.6; 2.11). Aliás, a perseguição e o sofrimento acompanham a vida cristã. Isso não é algo estranho (2.20-21; 3.14-15, 17, 4.1, 12, 19, 5.10). Ainda assim, apesar do sofrimento, Pedro menciona os crentes como àqueles que “amam a vida e desejam viver dias felizes” (v. 10). Mas como isso é possível? Nesta passagem, Pedro cita o Salmo 34 e apresenta aos seus leitores o segredo de uma vida realmente feliz. Concordo com John MacArtur, em 1Pedro 3.8-12 existem, pelos menos, quatro áreas que os crentes devem praticar a fim de viverem dias felizes: uma atitude correta, uma resposta correta, um padrão correto e um incentivo correto.1 I. Uma atitude correta “Finalmente, sede todos de igual ânimo, compadecidos, fraternalmente amigos, misericordiosos, humildes” (1Pedro 3.8). “Finalmente...” (v. 8) – O apóstolo conclui sua discussão sobre a conduta do cristão em um mundo ímpio, que começou em 2.11. Pedro usa a palavra “finalmente” (telos, em grego). Isso não significa o fim da carta, mas a conclusão da seção atual.2 Pedro menciona cinco características da vida que trazem a bênção de Deus e consequentemente uma vida feliz: “sede todos de igual ânimo” (v. 8) – A expressão “de igual ânimo” (homophrōn, em grego) literalmente significa “ter a mesma mente”. Isso não quer dizer que todos devem pensar e agir da mesma forma. Unidade não é o mesmo que uniformidade, onde todo mundo parece e funciona exatamente da mesma forma. Pedro não está nos chamando para cantar em uníssono, mas em harmonia, o que significa que todos nós contribuímos com nossas 1 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (187). Chicago: Moody Publishers. 2 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (186). Chicago: Moody Publishers. 1 notas únicas em um belo coro que ultrapassa de longe qualquer nota individual.3 Desentendimentos na igreja não são novidades. Nem todos possuem o mesmo pensamento “igual ânimo”. Todavia, devemos ter o mesmo objetivo, o Senhor Jesus Cristo (Fp 2.5). A igreja é o corpo de Cristo, e em Cristo e com o Seu poder, caminhamos acima das coisas que nos dividem. Em Cristo temos uma unidade que transcende questões secundárias. Podemos discordar de muitas coisas e ainda viver em harmonia uns com os outros, se mantivermos nosso foco no Senhor Jesus Cristo. “compadecidos” (v. 8) – A palavra grega traduzida como “compadecidos” é sumpathés (“Sun”, com, “pascho”, sofrer) significa literalmente “sofrer com o outro”, a partir da qual obtemos a palavra “simpatia”, em português.4 Pedro nos instrui a sermos simpáticos ou compassivos uns para com os outros. O autor de Hebreus declara que o nosso Salvador se compadeceu de nossas fraquezas (Hb 4.15) e por isso devemos fazer o mesmo. Na verdade, todo crente deve ser sensível aos sofrimentos dos outros. Devemos nos alegrar com aqueles que se alegram e chorar com os que choram (Rm 12.15). “fraternalmente amigos” (v. 8) – A palavra usada por Pedro (philadelphos, em grego) é a mesma utilizada para “amor fraternal” em 1.22. Refere-se a uma amizade carinhosa ou um amor de irmão.5 Essa palavra aponta para o fato de que, como crentes, somos membros de uma mesma família. Philadelphos indica um senso de lealdade tão forte como as relações de uma família natural. “Misericordiosos” (v. 8) – A palavra “misericórdia” (eusplagchnoi, em grego) refere-se aos órgãos internos e às vezes é traduzida como “entranha” ou “intestinos” (At 1.18). Afetos e emoções têm um impacto visceral, portanto, esta palavra significa um tipo poderoso de sentimento (2Co 7.15; 1Ts 2.8).6 Paulo usa este termo em Efésios: “Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou” (Ef 4.32). “humildes” (v. 8) – O último fator na lista de Pedro aprecia a bondade da vida cristã, humildade de espírito (tapeinophrones, em grego). A palavra 3 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (195). Grand Rapids, MI: Zondervan. 4 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words (116–117). Nashville, TN: T. Nelson. 5 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (195). Grand Rapids, MI: Zondervan. 6 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1 Peter. MacArthur New Testament Commentary (188). Chicago: Moody Publishers. 2 “humildade” tem sua origem na raiz da palavra amigo (Filadélfia-Filos; philóphrōn, em grego) significa, literalmente, ser “amigável de mente” ou ser “cortês”.7 A humildade é sem dúvida a virtude mais essencial da vida cristã (Mt 5.3; 18.4, Lc 14.11, 18.14; Ef 4.1-2; Cl 3.12; Tg 4.6; Sl 34.2; Pv 3.34, 15.33, 22.4).8 II. Uma resposta correta “não pagando mal por mal ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo, pois para isto mesmo fostes chamados, a fim de receberdes bênção por herança” (1Pedro 3.9). O versículo 9 nos dá uma aplicação muito específica das cinco ordens no versículo 8. Pedro aplica seus ensinamentos para situações em que foram maltratados por outros. Este versículo contém um mandamento negativo e outro positivo. “Em primeiro lugar, “... Não pagando mal por mal...” (v. 9) – Um relacionamento saudável não é marcado apenas por atitudes corretas, mas também, por respostas ou reações corretas, principalmente, quando somos ultrajados. A palavra “pagar” (apodidomi, em grego) significa devolver ou retribuir. O cristão não deve pagar com a mesma moeda (cf. Lv 19.18; Dt 32.35-36; Pv 20.22; 24.29; Rm 12.19; Hb 10.30). Aa verdade, a vingança é uma resposta inaceitável para os crentes (Ef 4.29; Cl 3.8; Pv 4.24; 19.1; Ec 5.6). “ou injúria por injúria...” – A tentação de responder “na mesma moeda” deve ter sido enorme para os crentes perseguidos, que foram os primeiros leitores desta epístola. Assim, Pedro adverte seus leitores a não revidar. A expressão “injúria por injúria” (loidoria, em grego) significa “ultrajar”, “xingar” ou “falar mal de alguém” (2.23). O apóstolo Paulo declarou: “Quando somos injuriados, bendizemos; quando perseguidos, suportamos; quando caluniados, procuramos conciliação; até agora, temos chegado a ser considerados lixo do mundo, escória de todos” (1Co 4.12-13). Mais adiante Paulo adverte aos crentes a não injuriar (6.10) ou se associar com aqueles que fazem (5.11).9 Em segundo lugar, “bendizendo, pois para isto mesmo fostes chamados” (v. 9) – A palavra “bendizer” (eulogeo, eu: “Bem”, logos: a palavra) significa literalmente falar bem. O ponto do apóstolo Pedro é que o 7 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 3.8). Wheaton, IL: Victor Books. MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1 Peter. MacArthur New Testament Commentary (188–189). Chicago: Moody Publishers. 9 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1 Peter. MacArthur New Testament Commentary (190). Chicago: Moody Publishers. 8 3 crente deve livremente conceder perdão a alguém que o tenha ofendido, uma vez que a ofensa é tão pequena em comparação com a grandeza de Deus e como Ele foi ofendido pelos nossos pecados. Os crentes receberam a bênção imerecida do perdão de uma dívida impagável (Jo 10.28; Rm 5.8-9; 6.23; Gl 1.4; Ef 1.7; Cl 1.14; 2.13-14; 1Ts 5.9; 1Jo 4.9-10), ao invés de vingança merecida pelo pecado.10 III. Um padrão correto “Pois quem quer amar a vida e ver dias felizes refreie a língua do mal e evite que os seus lábios falem dolosamente; aparte-se do mal, pratique o que é bom, busque a paz e empenhe-se por alcançá-la” (1Pedro 3.10-11). Você quer uma vida boa? Pedro proclama quatro orientações sobre desfrutar da verdadeira felicidade. Em primeiro lugar, “refreie a língua do mal...” (v. 10) – A língua é muitas vezes rebelde e propensa ao pecado: “Ora, a língua é fogo; é mundo de iniquidade; a língua está situada entre os membros de nosso corpo, e contamina o corpo inteiro, e não só põe em chamas toda a carreira da existência humana, como também é posta ela mesma em chamas pelo inferno” (Tg 3.6; 1.26; 3.9-10; Sl 12.3; Pv 12.18; 15.2, 4).11 Em segundo lugar, “... evite que os seus lábios falem dolosamente” (v. 10) – Além de abster-se da retaliação verbal, os crentes devem controlar a sua língua, evitando fofocas, calúnias, linguagem crua, engano, exagero, e todos os tipos de maldade e loucura.12 Um falar autêntico e dirigido ao bem de todos significaria, em nosso mundo, uma revolução de imensas proporções.13 Não há lugar para a mentira na vida de alguém que diz amar a Deus. Você tem sido uma fonte de vida para as pessoas? Sua família é abençoada pelas suas palavras? Em terceiro lugar, “aparte-se do mal, pratique o que é bom... (v. 11) – Continuando sua citação do Salmo 34.14, Pedro continua sua exortação para uma vida santa. O verbo “apartar-se” (ekklinatō) denota uma intensa e forte rejeição do que é pecaminoso, neste contexto, o tratamento pecaminoso dos outros, mesmo aqueles que perseguem os santos (cf. Mt 10 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1 Peter. MacArthur New Testament Commentary (191). Chicago: Moody Publishers. 11 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1 Peter. MacArthur New Testament Commentary (192). Chicago: Moody Publishers. 12 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (196). Grand Rapids, MI: Zondervan. 13 MUELLER. Ênio R. 1Pedro, Introdução e Comentário. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1988, p. 189. 4 5.44; Rm 12.14).14 Assim, a palavra “apartar” significa mais do que apenas “evitar alguma coisa”, significa abandonar porque você despreza e detesta.15 Ou seja, devemos evitar o mal, porque odiamos aquilo que é errado. Em quarto lugar, “busque a paz e empenhe-se por alcançá-la” (v. 11) – Os verbos “buscar” e “empenhar” transmitem uma intensa e agressiva ação. Como um caçador que busca vigorosamente sua presa. O termo “paz” (eirēnēn, em grego) indica uma condição constante de tranquilidade que produz alegria e felicidade permanente (cf. Lc 2.14; 8.48; 19.38; Jo 14.27, 16.33, Rm 5.1; 8.6, 15.13; Gl 5.22; Fp 4.7; Cl 3.15; 2Ts 3.16). Os cristãos devem buscar a paz de forma intensa (cf. Rm 12.18; 14.19; 1Ts 5.13; 2Ts 3.16).16 IV. Um incentivo correto “Porque os olhos do Senhor repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos às suas súplicas, mas o rosto do Senhor está contra aqueles que praticam males” (1Pedro 3.12). Manter a paz não é algo fácil. Na verdade, às vezes, é necessário muito esforço. Paulo declarou: “Se for possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens” (Rm 12.18). Às vezes não é possível! Mas a verdade é que a paz não acontece automaticamente. É necessário muito esforço! “Porque os olhos do Senhor repousam sobre os justos...” (v. 12) – Alguém pode argumentar: “Mas se os inimigos nos ultrajarem?”. A frase “os olhos do Senhor” é muito comum no Antigo Testamento, significa uma vigilância especial e carinhosa de Deus sobre o Seu povo (Pv 5.21; Zc 4.10). Às vezes, a frase indica vigilância e julgamento de Deus (Am 9.8; Pv 15.3), mas aqui a ênfase está na sua consciência onisciente de todos os detalhes da vida dos crentes (cf. Sl 139.1-6.).17 Nada escapa aos olhos de Deus. “e os seus ouvidos estão abertos às suas súplicas...” (v. 12) – A palavra “súplica” (deēsin, em grego) significa “petição” ou “oração”, e referese aos crentes “clamando por Deus para suprir suas necessidades (Sl 5.2;. Mt 7.7; Fp 4.6; 1Jo 5.14-15). Deus está sempre e plenamente consciente de tudo 14 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1 Peter. MacArthur New Testament Commentary (192). Chicago: Moody Publishers. 15 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 3.8). Wheaton, IL: Victor Books. 16 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1 Peter. MacArthur New Testament Commentary (192–193). Chicago: Moody Publishers. 17 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1 Peter. MacArthur New Testament Commentary (193). Chicago: Moody Publishers. 5 na vida de Seus filhos.18 É maravilhoso saber que o Senhor está sempre observando e pronto para ouvir e responder nossas orações (1Pe 4.7; Sl 50.15; 65; 2; 138.3; Rm 8.26; Hb 4.16). Podemos confiar em Deus para nos proteger e sustentar, pois somente Ele pode derrotar os nossos inimigos (Rm 12.17-21). “mas o rosto do Senhor está contra aqueles que praticam males” (v. 12) – Em contraste com os olhos do Senhor, Pedro diz que “o rosto do Senhor está contra aqueles que praticam males”. Isto significa que o Senhor está atento para julgar a causa do Seu povo (cf. Gn 19.13; Lm 4.16). Pedro citou estas declarações do Salmo 34.12-15, por isso seria de grande proveito ler todo o Salmo. No Salmo 34, Davi declara que a vida do crente não está livre de temores, “livrou-me de todos os meus temores” (Sl 34.4), problemas (Sl 34.6, 17), aflições (Sl 34.19), e até mesmo um coração quebrantado (Sl 34.18). Ou seja, uma vida feliz não é ausência de dificuldades, mas a certeza da presença de Deus em todas as situações. , por causa dos problemas da vida e provações: 6 Clamou este aflito, e o SENHOR o ouviu e o livrou de todas as suas tribulações. 7 O anjo do SENHOR acampa-se ao redor dos que o temem e os livra. 8 Oh! Provai e vede que o SENHOR é bom; bem-aventurado o homem que nele se refugia. 9 Temei o SENHOR, vós os seus santos, pois nada falta aos que o temem. (Salmo 34.6-9) CONCLUSÃO: Você deseja dias felizes? Então você deve praticar o que está escrito em 1Pedro 3.8-10. Pedro cita o Salmo 34, que diz que se alguém ama a vida e deseja dias bons, então deve cuidar atentamente de suas palavras, ações e reações diante das perseguições. Então, a Escritura promete que a bênção de Deus estará sobre nós (3.12). Se não vivermos assim, o contrário é verdadeiro: A face do Senhor estará contra nós. Aplique essas palavras em seu coração. Você vai ser um canal de bênção para os outros, e você vai herdar uma bênção de Deus. Amém. 18 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1 Peter. MacArthur New Testament Commentary (193–194). Chicago: Moody Publishers. 6