Maria Gabriela: uma vida a ser lembrada Laurita Pacheco Antonialli1 Maria Gabriela Pacheco Pardey nasceu em Uberlândia, na residência da avó materna, Maria das Dores, no dia 2 de setembro de 1921. Seus pais, Laura e Alcides Cotta Pacheco, moravam em Santa Rita do Paranaíba, atual Itumbiara, onde Alcides Pacheco era comerciante. Após o nascimento de Maria Gabriela, seus pais voltaram a Santa Rita onde nasceram os outros filhos, quatro mulheres e dois homens, no total de sete filhos. Santa Rita, cidade pequena, onde as crianças corriam soltas pelos quintais, sob as sombras das árvores frutíferas e muita poeira, o que fazia com que as crianças tivessem sempre carinhas empoeiradas e mãozinhas sujas. Assim Maria Gabriela tornou-se uma auxiliar laboriosa e responsável desde a infância. Quando chegou a idade escolar ela foi enviada a Uberlândia. Lá, longe da mãe e saudosa dos irmãos, tinha dificuldades na adaptação. Ia passar férias em casa. Deixar a casa da avó materna, onde recebia muito carinho e também das tias que eram muitas sempre foi difícil, mas isso, nada era comparado ao abraço da mamãe Laura. Passados mais alguns anos, em 1933, a família mudou-se para Uberlândia, porque as outras crianças também precisavam de escola. Alcides C. Pacheco era um homem que compreendia a necessidade do estudo na hora certa, o que não havia em Santa Rita. Logo após esta mudança, Laura, que já não gozava de boa saúde veio a falecer aos 36 anos de idade em 1936. Foi um tempo triste. As crianças sentiam, mas não compreendiam uma mudança tão brusca em suas vidas. Sr Alcides “perdeu o chão”, precisava recuperar o tempo e as finanças perdidas. Sete filhos ainda para cursar o primário e o ginásio, o cuidado na educação. Maria Gabriela cursava o ginásio e já se destacava em artes. 1 Artista plástica, irmã de Maria Gabriela Pacheco Pardey. Foi um mundo negro em sua vida. Os negócios, que ainda havia em Santa Rita ficaram sem direção. Mas deu-se um jeito. Maria Gabriela parou seus estudos, no curso ginasial, pois devia acompanhar a educação dos irmãos. Foi dedicada naquilo que tomou como obrigação. Até na orientação das atitudes do pai ela estava presente. Alcides Cotta Pacheco Filho, irmão mais velho, foi cursar o ginasial interno em Uberaba. As duas irmãs mais velhas foram para o colégio interno em São Paulo, em 1940, e os menores ficaram sob os cuidados das avós. Maria Gabriela era habilidosa e adquiriu conhecimentos em várias artes. Aprendeu a costurar e assim deu conta de formar a família em bons colégios. Sr Alcides tornou a casar e liberou Maria Gabriela que então começou uma nova vida. Estava sempre alegre, freqüentava festas, dançava muito bem e praticava esportes, como principal a natação. Ela era atenta às atitudes das irmãs e nada saia do seu controle. Por alguns anos voltou a Itumbiara em 1942 e dava aulas de corte e bordado para as companheiras. Em 1950 continuou seus estudos e chegou à faculdade de Belas Artes em Goiânia onde se formou com muito sacrifício, já que não era muito nova. E ainda teve seu casamento realizado. Nesta época residia em Itumbiara onde estava parte de sua família. Márcia, sua irmã caçula, era diretora do Colégio Estadual e levou-a em 1967, para trabalhar como professora de artes e desenho tanto artístico como geométrico. Lecionou também no Colégio Polivalente, onde coordenava os trabalhos da oficina. Hoje, muitas pessoas formadas em Itumbiara, se alegram ao dizer: Tia Belela foi minha professora! Maria Gabriela dirigiu desde 1968, por vários anos, a Casa da Criança: ACAMPI, criada pela direção espírita da cidade. Seu trabalho aí era diretamente ligado às crianças desamparadas. Desse estabelecimento, ela levou duas crianças para sua casa e as criou, como se fossem suas filhas, oferecendo sempre boas escolas até à faculdade de engenharia em Belo Horizonte. Dona Milica, esposa do Dr. Genésio Borges, fundadora do Colégio Francisco de Assis, era sua parceira nesse trabalho assistencial. Em 1970 enfrentou um câncer de mamas o que a afastou pouco tempo do trabalho. Maria Gabriela destacou-se como artista desde jovem. Seus trabalhos eram apreciados na região. Fazia todos os anos cursos de aperfeiçoamento em São Paulo e no Rio de Janeiro. Viajou por todo o Brasil, pelas Américas e toda Europa. Seus últimos anos foram passados entre viagens por vários países. Fez exposições de porcelana e óleo sobre tela. Sua residência era freqüentada pelos que buscavam aulas em qualquer habilidade. Maria Gabriela veio a falecer em 2005, em Itumbiara, após dez dias hospitalizada. Aqui fica uma pequena parte do que foi a vida de Maria Gabriela que deixou, amigos e famílias agradecidas pelo grande exemplo de vida que nos foi dado. Maria Gabriela, a professora e mais do que isto: a educadora. Amiga e amante de leitura de todos os gêneros.