Publicação da
ASSOCIAÇÃO FAMÍLIA DE CANÁ
Ano I- Número 2 - Novembro de 2011
uma vida a serviço das famílias
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Publicação da ASSOCIAÇÃO FAMÍLIA DE CANÁ - Ano I - Número 2 - Novembro de 2011
80 Anos... Por que celebrar?
Celebrar, porque fazer 80 anos é olhar para trás e ver que a
vida é realmente uma grande dádiva de Deus.
Celebrar, porque fazer 80 anos é a própria celebração da vida.
Celebrar porque fazer 80 anos é ser grato, é não deixar de se entusiasmar e experimentar novas cores e novos sabores, e ainda tentar
Em meio às montanhas das Minas Gerais, lá para os lados do
Triângulo Mineiro, no distrito de Macaúbas, zona rural de Patrocínio, nascia o sétimo filho do casal Antônio e Elvira. Seu nome seria
Osvaldo. O ano era 1931, mês de novembro, e o mundo era bem
diferente do de hoje. Osvaldo se juntou aos cinco irmãos, Severino,
Maria, João e Lourdes. Ainda viriam Vanilda e Elza para completar
a escada. A família Gonçalves muda-se para a cidade, começando
aí uma nova etapa na vida. Patrocínio era uma cidade pequena e
acolhedora e, na década de trinta, bem mais romântica e poética.
O FILHO - Osvaldo era um menino obediente, mas “arteiro”,
definição de sua irmã Vanilda. Gostava de nadar no Poção, perto
da fazenda do pai, mas tinha que burlar a vigilância da mãe, Dona
Elvira, muito brava e rigorosa com os filhos, traços herdados pelo
Osvaldo. Já do pai, ele herdou a franqueza, que, diga-se de passagem, é um traço marcante de toda a família.
O IRMÃO - Osvaldo era um irmão divertido e bem humorado. Puxando pela memória de sua irmã Vanilda, descobrimos as
brincadeiras preferidas do menino. Fechar as irmãs e as amigas
num quarto escuro, colocar na boca um tição e depois, como
uma alma do outro mundo, dizer com voz cavernosa: “O que é
que eu vim fazer nesse mundo com essas mãos frias?”.
TRAVESSURAS - Gostava de andar de perna de pau; fazer
armadilhas com lata cheia de água suja amarrada a um cordão, para que as pessoas tropeçassem na corda e se sujassem;
roubar jabuticaba no quintal do vizinho e sair correndo da
cachorra Rolica. Adorava, também, subir no pé de eucalipto
do quintal. Lá nas grimpas, balançava freneticamente o galho,
assustando Maria Ferreira, a empregada doméstica. Apavorada, com medo de Osvaldo cair, ela gritava: “Sai daí de cima
Osvaldo! Ocê ainda vai caí dessa árvore e esborrachá no
chão. Pára com isso menino!”. Um dia ela perdeu a paciência e foi chamar Dona Elvira. Nesse meio tempo, Osvaldo desceu do eucalipto e deitou-se no chão, fingindo-se de morto.
Quando Maria Ferreira voltou da cozinha, esbravejando, por
não ter encontrado Dona Elvira, seu desespero foi ainda maior.
O menino Osvaldo estava “morto”. “Dona Elvira, pelo amor
algo de novo, de novo e de novo. Fazer 80 anos é contar o tempo
não pelos anos vividos, mas pelas sementes que foram plantadas ao
longo dos anos. Fazer 80 anos é colher os frutos dessas sementes...
Fazer 80 anos é isso e muito mais para qualquer pessoa especial, que tem a alegria de celebrar essa data. E para o P.O., que
soube fazer o melhor das oportunidades que apareceram ao longo dos seus 80 anos, soube cultivar e enobrecer os seus projetos,
celebrar 80 anos é ter a certeza de que se está bem mais perto
da bondade de Deus.
Celebra teus 80 anos, P.O., não pela quantidade dos que te amam,
mas pela medida de seu coração, capaz de amar, preocupar-se, trabalhar e ajudar a todos. Celebra teus 80 anos, não pelos anos que completas, mas por aquilo fizeste nesses anos.
Alguém disse: “Não sei se a vida é curta ou longa, sei apenas
que nada do que vivemos tem sentido se não tocamos o coração
das pessoas”. Padre Osvaldo, mesmo aos 80 anos, sempre soube
como tocar nossos corações.
Celebra, porque os anos passam e ficam as lembranças. E é
nosso dever torná-las sempre vivas.
Parabéns querido P.O.! Vamos celebrar!
Ariádina e José Afonso
o, gente!
ge
de Deus, o Osvaldo morreu! Socorro,
Nossa Senhora da Abadia, São Jerônimo, Santa Bárbara Virgem...” Até
que Osvaldo não se conteve e soltou
uma gargalhada gostosa. Maria Ferreira, correu atrás do menino, tentando
lhe dar um corretivo. Mais tarde, ele
não ficaria livre da reprimenda da mãe,,
sempre brava e exigente com os filhos.
A VOCAÇÃO - Osvaldo já demons-trava, naquela época, sua vocação sacer-dotal. Reunia as irmãs mais novas e ass
o
amigas e improvisava um altar, enfeitando-o
com flor de jabodi. E ali celebrava a missa a
seu modo. Na falta da hóstia, ele utilizava
“beiju” de farinha de milho. Seu destino era
mesmo o sacerdócio.
O MITO - O tempo passou, a família
cresceu com a chegada dos netos, e Osvaldo, que se tornara Padre em 1957, era um
mito para todos.. Periodicamente, os familiares recebiam em Patrocínio a visita do Padre
Osvaldo, que morava em Belo Horizonte. Era o
orgulho de Dona Elvira e um mistério para todos
os sobrinhos. Essas visitas criavam grande expectativa em todos. A rotina, na casa dos
avós, sofria grande alteração. O almoço
o
era servido na sala principal, que nor-malmente não era utilizada para essa
finalidade. A comida, já farta, dobrava
em variedades. Os sobrinhos deliravam
com aquelas novidades, que a chegada
do “Tio Padre” provocava.
A trajetória do menino de Macaúbas, faz com que o sentimento de
todos os familiares seja único.
“Padre Osvaldo honrou o compromisso assumido perante Deus”. - Paulo Rezende
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Traçar o perfil do Padre Osvaldo é construir um mosaico multicolorido e multifacetado.
A começar pela aparência física. Para além das mudanças que o tempo imprime na face, muitas pessoas conservam a mesma fisionomia a vida inteira. Quase sempre por falta de coragem de mudar. O Padre Osvaldo teve essa ousadia. Durante alguns
anos, cultivou uma longa barba, que já começava a agrisalhar. Ninguém, que eu saiba, nunca lhe perguntou por quê. Fica o
mistério. Mas é um sintoma do seu temperamento independente, que não se deixa influenciar pelo que dizem ou pensam.
TEMPERAMENTO
Não há dúvidas de
que é um introvertido.
Embora tenha uma satisfação evidente de
estar com, não é fácil
fazer render uma conversa com ele. Mas já foi
mais difícil. Hoje, ele de
vez em quando conta
até piadas, que na sua
boca adquirem uma
graça inesperada. E nessa situação se permite,
raaaramente alguns palavrões. Não obstante, é
uma pessoa cordial, que
faz questão de apertar a
mão de um a um, mesmo que seja uma multidão; com a ponta dos
dedos, mas olhos nos olhos. Não costuma elogiar as pessoas em
público; não por “economia”, mas pela preocupação de não melindrar nem cometer injustiça por omissão.
SACERDOTE E RELIGIOSO
É admirável seu amor pela Igreja, pela Congregação dos Sagrados Corações e pela sua vocação. Não sei se devo contar... Por
mais de uma vez, percebendo que o afeto de alguma pessoa por
ele resvalava para o lado pessoal, buscava salvaguardar-se confidenciando a alguém com quem tivesse mais intimidade. Dedicação generosa e radical à sua missão de pastor é um traço saliente,
bem visível. Quantas vezes, ultimamente, com tristeza sincera,
tem manifestado preocupação com o minguar das vocações
na sua Congregação. E não fica apenas na lamentação, mas tem
tentado reiteradamente desenvolver um trabalho vocacional em
favor de sua comunidade religiosa.
UM PEDAGOGO
Aquele que assume a missão de ensinar por palavras e
exemplos. Não compactua com o erro. Com estilo às vezes rude,
corrige, repreende, corta na carne, o que não raro melindra quem
acabou de conhecê-lo. Ao mesmo tempo, porém, reconhece que
ele mesmo precisa de correição. “O Padre Osvaldo não tem jeito,
veio com defeito de fabricação”, se penitencia para logo em seguida cometer outros deslizes.
APEGO AO MAGISTÉRIO DA IGREJA
O torna exigente com o que os serventes pregam nos encontros. Ninguém estreia palestra sem passar pelo “crivo” de pessoas com mais experiência. Quando dispunha de mais tempo e o
cansaço e a deficiência auditiva ainda não o obrigavam a cochilar,
participava do ritual. Quantas vezes escutamos o julgamento cirúrgico: “Rasgando as cinco primeiras páginas, a sua palestra começa
a melhorar”. Um teste para a humildade e o desapego de si em prol
do Reino de Deus. Na preparação para o segundo encontro de Revisão, um casal nunca mais voltou ao Caná depois da corrigenda.
A seu exemplo e estímulo, a Família de Caná se esmera em preparar os seus serventes para o trabalho de apostolado. Por exigência
dele, ninguém começa a trabalhar – nem que seja na cozinha - sem
passar pela “escolinha de formação”. Há alguns anos, em uma carta
convite aos serventes, disparou para escândalo de muitos: “Se dependesse de mim, quem não fizer o Encontro de Espiritualidade (que anualmente abre as atividades do Caná) não trabalharia durante o ano”.
UM VISIONÁRIO
A sua obra em prol da Família, que cobre todo o espectro
do grupo familiar – casais, jovens, senhoras – e sua sensibilidade
em perceber a gravidade do problema das drogas, ressalta a sua
característica de visionário. Na flor dos seus 80 anos, quando muitos já jogaram a toalha, ele está mirando no futuro. Quem for à
Fazenda, pouco antes da entrada, descobre uma área terraplenada. E já dentro, uma turma de residentes atarefados em fabricar
tijolos de cimento para o seu novo sonho: as Aldeias do Caná,
para crianças e pais dependentes.
Nos seus aspectos contraditórios, a ele, mineiro da gema,
bem se aplica a definição “Dentro de um peito de ferro, um grande coração de ouro”.
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Atendendo a uma imperiosa necessidade do espírito, o ato de escrever nos revela, nos desnuda.
Os livros do Padre Osvaldo trazem à luz as facetas da sua personalidade e as preocupações de uma pessoa atenta
à realidade e comprometida até o âmago com as causas em que acredita e às quais dedica a sua vida.
de sabedoria do Padre Osvaldo, que dedicou sua
vida ao compromisso de “fazer famílias felizes”.
Apóstolo leal de Cristo, Padre Osvaldo transmitiu a Danilo, a mim e aos nossos filhos os ensinamentos de Jesus - amar, perdoar, construir
nossa união alicerçados em Cristo, rocha que
nos sustenta. Quantas palavras pacientemente
repetidas, quanto olhar vigilante de quem cuida, quantas ricas lições, nas palestras, livros, pregações, na sua coerência como pastor.
Tenho presenciado tantos exemplos
desse apóstolo, que me sinto privilegiada por haver encontrado
tamanha confiança e dedicação, nestes tempos de aridez, secularismo, caminhos controversos e individualismo.”
(Zeneida Rena Pereira)
É fruto desse zelo apostólico o pequeno catecismo EM BUSCA DE COMUNHÃO. Para viver em consonância (=comunhão)
com a Igreja de que você é membro, você precisa conhecer a fé
que ela professa. Quantas vezes o vimos nos Encontros, brandir o
livrinho e proclamar com voz inusitadamente inflamada: “Se você
não sabe pelo menos o que está neste livrinho, você não pode se
considerar cristão verdadeiro!”
A VEIA POÉTICA
“O genial Chico Buarque de Holanda
define: “O poeta é como o cego, pode ver na
escuridão”. Poeta menor que sou, desenvolvi
admiração pelos grandes poetas da língua
portuguesa. Poeta se encontra em todo lugar. Há poetas líricos, políticos, intelectuais,
populares e até guerreiros. Há também os
poetas que dedicam a vida ao cumprimento da árdua missão de trabalhar pelo Reino
de Deus. É o caso do poeta Padre Osvaldo
Gonçalves, nosso amado P.O.
Entre seus profícuos trabalhos literários, a sua veia poética
resplandece no livro O MILAGRE DO CASAMENTO, reflexões em
torno do episódio das bodas de Caná, João 2,1-11. Nele, Padre
Osvaldo demonstra de forma vigorosamente poética que no
casamento se podem realizar milagres, bastando que se aceite
a orientação de Maria: cumprir a ordem de Jesus, enchendo as talhas de água, que se transformará no melhor dos vinhos. Ao fazer
a sua parte (encher as talhas) o casamento (vinho) será transformado em uma vida feliz e equilibrada.
O padre poeta transita pelo texto de São João com desenvoltura ímpar através de pura e profunda poesia, que nos traz
à lembrança a estética dos Salmos e os maravilhosos versos do
padre francês Michel Quoist no livro Poemas Para Rezar. Milagre
do Casamento contém orações em versos livres. Porque o poeta
Padre Osvaldo sabe muito bem que oração em forma de poesia é
oração em dobro.” (Danilo dos Santos Pereira)
O CATEQUISTA
Para quem convive com o Padre Osvaldo fica clara a sua vocação
de catequista. Ele insiste, “oportuna e inoportunamente”, que não é
cristão autêntico quem não busca aprender sobre a sua religião.
“Há quase vinte e um anos, quando a convite dos amigos João e
Neli, fizemos o Encontro de Revisão Matrimonial, bebemos da fonte
O MÍSTICO E HOMEM DE ORAÇÃO
É fato corriqueiro vê-lo na capela, ajoelhado diante do sacrário, absorto na oração. E em
todos os encontros que levam a sua marca há
uma tônica: aprender a orar a experimentar várias maneiras de orar.
Traduzem essa preocupação, os livros
O MILAGRE DO CASAMENTO, o recente
EM ORAÇÃO COM A BÍBLIA NA MÃO e
o opúsculo HORA DE ORAÇÃO NO LAR.
Todos eles estimulam o hábito da oração
em família e a prática de várias formas de
oração: inspirada pela palavra de Deus,
de adoração e louvor, de agradecimento,
de reparação e de súplica.
PREOCUPAÇÃO COM O SOCIAL
É evidente que a sua opção pasttoral pela Família é um reflexo da sua
percepção
p
da importância do papel
dessa
d
“rede humana” no contexto social,
como sua célula primária e oric
ginal. E, a partir disso, a gravidade do
g
problema das drogas como ameaça ao
p
indivíduo, à família e à sociedade como
in
um todo. Veio daí toda a inspiração e a
u
força para o trabalho de atenção ao defo
pendente químico.
pe
No livro EU ME ENVOLVI COM OS DROGADOS, o Padre Osvaldo narra a saga pioGA
neira da Fazenda Recanto de Caná e dos seus desdobramentos, a
Comunidade Feminina Padre Eustáquio e a Comunidade “Eu Quero a Vida”. Nele se revela um narrador de linguagem colorida, espontânea e coloquial, capaz de captar o lado pitoresco e anedótico
mesmo em situações delicadas e até mesmo trágicas.
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O apóstolo da família
350 associados, nos termos do Estatuto Social. Cerca de 350 voluntários, nas mais diversas áreas de serviço. 30 funcionários, na Administração e na equipe técnica. Mais de 1.700 contribuintes financeiros. Um total de mais de 2.400 pessoas.
Esse é o batalhão que responde ao comando decidido e firme do Padre Osvaldo. A um aceno dele, saem dos pontos mais distantes
da Grande BH e de outras cidades, deixando casa, família, roda de amigos, lazer, e respondem presente aos desafios da Família de Caná.
Ninguém é forçado a nada, todos cerram fileiras em nome de uma causa pela qual se apaixonaram, movidos pela paixão, pela abnegação, pela incondicional entrega dele, o líder, Padre Osvaldo Gonçalves. A causa é FAZER FAMÍLIAS FELIZES. Sem mencionar os incontáveis
amigos e empresários, sempre prontos a socorrê-lo nos momentos de aperto.
Onde reside o poder de sedução deste homem, franzino, caladão, de semblante sereno mas normalmente sério, de reações bruscas
e rudes, de uma franqueza chocante?
O que cativa neste homem? Fizemos esta pergunta a algumas pessoas que o acompanham fielmente há muitos e muitos anos.
“Não é difícil responder. Em 1974, em freqüentes reuniões preparando-nos para o 1º Encontro de Revisão Matrimonial, cresceu por ele
grande admiração e respeito. Mas... ainda em 1974, no decorrer do
2º Encontro, aquele tombo! Durante uma experiência de oração (eu
ainda estava aprendendo), na presença de todos, aquela chamada
de atenção seca e direta. Tudo ruiu. Tranquei-me por muito tempo, o
respeito deu lugar ao medo, não conseguia abrir a boca perto dele.
Desistir? Nem pensar! Aprendi com ele que estava ali não a serviço do
Padre Osvaldo, mas de Deus. E experimentei, ao vivo e em cores, a perfeição que ele exige de si e dos outros nas coisas de Deus.
Continuamos firmes e fomos descobrindo tantos aspectos da sua personalidade: firme, determinado, ousado,
corajoso, sincero, autêntico, leal, dedicado inteiramente à sua vocação, para
citar alguns. Aprendi a conviver com o
seu jeito de ser e amo-o tal e qual ele é.
E testemunhamos, em contrapartida, o
quanto ele nos ama. Wagner e eu nos
sentimos privilegiados por Deus pelo
que o Padre Osvaldo nos ensinou a ser,
a viver e a construir famílias.”
Ângela do Wagner
1º Encontro de Revisão Matrimonial (1974)
“Eu teria muito para dizer: a garra, a luta, a fé inabalável (“Deus
provê”, ele diz sempre), a capacidade de perdoar, o seu jeito humano,
atencioso (da maneira dele, que tão bem entendemos), carinhoso
(sem muito blábláblá), coisas que só um pai amoroso possui.
Mas, o que mais me cativou nestes últimos tempos, foi sua
proposta de mudança. Hoje é mais comunicativo, chega e cumprimenta, pegando na mão de cada um, sorri e até conta piadas. E isto, amigo, para nós da velha guarda, que o conhecemos
carrancudo (seu sorriso era quase
uma careta), é uma grande vitória. Ele
conseguiu vencer a si próprio. Ele ensina sempre a lutarmos contra nossos
vícios, nossos problemas, vencendo
os obstáculos: ele conseguiu isso. É
exemplo que temos que seguir para
sermos felizes. Afinal não é esse nosso ideal? Queremos ser felizes, não
é mesmo? E, por tudo isso, eu posso
dizer de sã consciência: EU SOU FELIZ!
Adelina Blasi Baracat – Encontro de Senhoras
Ter por perto um homem como o PO no período da adolescência foi um privilégio meu e de vários outros jovens do Prodes. Seus
exemplos nos moviam para um caminho que nos tornavam pessoas
melhores. Percebíamos, através das atitudes coerentes e da sobrie-
dade diante do trabalho que ele realizava, que sem seriedade não se
conquista o respeito do semelhante.
Convivendo com o Padre Osvaldo, fomos conhecendo-o melhor.
Vimos muitas vezes a expressão séria e as palavras duras e diretas com
que nos chamava atenção, mas também conhecemos o sorriso satisfeito com uma boa atitude nossa. Hoje, já mãe, percebo que este sorriso
era um sorriso de pai, contente com o crescimento de seus filhos; afinal,
o Padre Osvaldo sempre foi para todos nós um pouco o “pai Osvaldo”.
Tenho o privilégio de ainda continuar a aprender com ele, pois parte
daquele grupo de amigos ainda está ativo no Caná. A cada trabalho que
fazemos na Fazenda é possível amadurecer um pouco com as observações que ele faz. Algumas vezes severas, outras bem-humoradas, mas
sempre com a intenção de nos fazer crescer, de aperfeiçoar o trabalho,
de tornar as coisas melhores. Diante de situações temerosas, lá vem ele com a velha
expressão que não cansamos de escutar:
“Coragem”. Escutar isso dele e pensar em
tudo o que ele construiu é como uma injeção de força e entusiasmo, e nos mostra
quão pouco ainda fazemos.
Por isso e por toda a admiração e
carinho que tenho por ele, rogo a Deus
que lhe dê muitos e muitos anos de saúde e nos conceda a graça de aprender
muito ainda com ele.
Carla Pena (Jurassic Prodes)
Conheci o Padre Osvaldo em meados de 1987... Jamais esquecerei a
primeira vez que o vi, numa noite de terça-feira, de pé, diante de umas15
pessoas, no Recanto de Caná, um senhor quase raquítico, cabelos grisalhos, óculos quadrados e enormes, olhar extremamente disciplinado, fazendo uma reflexão sobre o Evangelho. Entre um caso e outro sobre o dia
a dia na recém-inaugurada Fazenda de Caná éramos surpreendidos com
gargalhadas do próprio Padre Osvaldo que, mesmo entre as dificuldades
de manter o programa de recuperação, sorria surpreendentemente!
Querido “P.O.”, na comemoração dos seus 80 anos, quero agradecerlhe por tantas boas iniciativas! Muito obrigado e parabéns!!! Lembre-se,
meu querido: uma de suas iniciativas mudou para sempre a minha existência; tive a oportunidade de ir viver na
Fazenda de Caná em 11/08/1987, uma
manhã de segunda-feira, como 13º pioneiro daquele lar e permaneci os nove meses
de tratamento. Hoje, passados mais de
duas décadas, encontro-me com 43 anos,
livre de qualquer tipo de escravidão, muito bem empregado e prestes a aposentar;
e, o mais importante, casado e com uma
família maravilhosa. Continuo sonhando
com o futuro!!! Vida longa a você, querido
e insubstituível Padre. Osvaldo!
Adão Eustáquio Vieira
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O sacerdote e o religioso
“Contemplar, viver e anunciar ao mundo o Amor Reparador de Deus!”
Lembro de uma música muito conhecida, cujo refrão traduz
bem o significado da Vida Religiosa inspirada nos Corações de Jesus
e de Maria: “UM CONSAGRADO PARA AMAR, UM CONSAGRADO
PRA SE DOAR, UM AMOR QUE NÃO BUSCA INTERESSES SEUS, É
O MAIS PURO AMOR, O AMOR DE DEUS!”
Encontrei este meu
querido irmão, o P.O., como
é chamado na Família de
Caná, em 1995, quando
conheci a Fazenda Recanto de Caná e a realidade
daqueles que buscam
resgatar sua vida tomada
pelas drogas. Não posso
deixar de recordar o meu
noviciado, na Fazenda, em
companhia dos padres
Henrique Baltussem e Ricardo Gomes, em 1996,
precioso tempo de graça,
de alimento dos valores fundamentais da Vida Religiosa dos Sagrados
Corações e aprendizado de como vivê-los na vida e na missão.
Quando falamos em “consagração” à vocação religiosa, pensamos em duas coisas fundamentais: dedicação e entrega! O
testemunho de vida do P.O. sintetiza os valores fundamentais do
carisma Sagrados Corações, porque seu testemunho de vida diz
algo muito real da pessoa de Jesus Cristo para as famílias de hoje.
1. CONSAGRAÇÃO AOS SAGRADOS CORAÇÕES: “Nossa consagração está em procurarmos Jesus como a fonte primeira e mais profunda de sua identificação com a vontade do Pai...
Nossa devoção deve levar-nos a contemplar com frequência o
amor do Pai revelado em Jesus e a presença fiel de Maria nos desígnios de salvação”. Então, por sua contemplação e vivência
da vontade salvadora de Deus na vida de nosso povo, eterna gratidão, bom Deus!
2. REPARAÇÃO: “A reparação deve chegar também ao pecado social, que aparece pela ação dos homens nas estruturas da sociedade... Contém amor, bondade, zelo, simplicidade, fraternidade,
solidariedade diante das situações concretas das pessoas e grupos”. Então, por seu testemunho do Amor reparador de Deus
na vida de nosso povo, eterna gratidão, bom Deus!
3. ZELO APOSTÓLICO: “Nossa opção pela Obra de Deus é
uma opção pelo ser humano tal como Deus quer; não é uma fuga
do que interessa ao ser humano, mas um novo sentido para sua
vida... Nossa comunidade religiosa é chamada a ser cúmplice do
Bom Samaritano e abrir uma pousada para cada ser humano que
encontra ferido em seu caminho”. Então, por sua opção radical
pela Sua Obra, eterna gratidão, bom Deus!
4. EUCARISTIA: “A renovação da doação de Jesus, lembrada
na celebração eucarística, obriga-nos a reafirmar nossa vontade
de doação em conformidade com a dele... Somos chamados a
‘ser para o outro’; lutar contra a violência com a força do amor
e do direito; buscar e servir preferencialmente os pobres e marginalizados”. Então, por ser a Eucaristia o centro de sua vida e
missão, eterna gratidão, bom Deus!
5. FRATERNIDADE CORDIAL: “Num mundo desconfiado,
que separa as pessoas, o seguimento do amor manifestado em
Cristo deve nos levar a acentuar a comunidade vivida em relacionamentos simples, de íntima comunhão, para que sejam um testemunho e um chamado a realizarmos a fraternidade”. Então, por
valorizar a humanidade de Jesus em sua relação com as pessoas, eterna gratidão, bom Deus!
Pela DEDICAÇÃO E ENTREGA do Padre Osvaldo, muitos podem dizer: Aos Sagrados Corações de Jesus e de Maria toda
honra e toda glória!
Pe. Eribaldo Pereira Santos ss.cc. (irmão de Congregação)
Dar testemunho sobre a vida e do Padre Osvaldo é poder ser e
estar consciente de que a nossa vocação de religiosos não consiste em
trabalhar para, mas em pertencer a Jesus. Uma vez que pertencemos
a Ele, o trabalho se torna um meio para traduzir na prática o seu amor
por Ele. O trabalho incansável, portanto, não é um fim, mas um meio.
O Padre Osvaldo não somente faz, ele busca fazer concretamente, pois é um homem de oração constante, fiel às suas obrigações e convicções de religioso, sacerdote dos Sagrados Corações,
homem de Eucaristia diária e adoração diária, faça chuva ou faça
sol. Homem do silêncio, sempre aberto e disponível para acolher,
confortar, animar e ajudar jovens, casais, famílias repletas de dores,
a encontrar o caminho verdadeiro.
Vivendo, durante dez anos, a experiência de participar do carisma do Padre Osvaldo, posso afirmar que tem a sua vida traduzida
na prática do amor: o amor traduzido na prática é serviço. Aprendi
com ele que a fé em ação através da oração, e a fé em ação através
do serviço, são a mesma coisa: o mesmo amor, a mesma compaixão.
Não me sai da lembrança um fato: após a celebração de Natal,
na Fazenda Recanto de Caná, Padre Osvaldo, numa noite fria, com
certeza cansado, sai com seu carro pelas ruas de Belo Horizonte com
cobertores e comida para amenizar o sofrimento dos irmãos de rua.
Isso manifesta a grandeza da solidariedade que brota do coração
deste filho dos Sagrados Corações, animado pelos exemplos de São
Damião de Molokai e do bem-aventurado Eustáquio.
Obrigado ao Senhor, por ter se servido
de você, Padre Osvaldo, para realizar grandes coisas, porque você creu mais no amor de
Deus que na própria fraqueza.
Que os Sagrados Corações continuem
abençoando sua vida, sua vocação, seu trabalho. Saúde e Paz!
Com carinho, Pe. Geraldo Abílio Ribeiro
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O grande desafio
conseqüências dos seus atos.
d - Não existem milagres, solução mágica, sem esforço e
trabalho. É necessário muito estudo, perseverança e
determinação para restituir o equilíbrio emocional e a
sobriedade à família.
e - Estabelecer limites e confrontos, normas e regras para o
bom funcionamento da casa.”
Para entender o tamanho do desafio que o Padre Osvaldo
assumiu ao “se envolver com os drogados”, nada melhor do alguns “flashes” da própria narrativa dele.
“Um dia no Recanto de Caná, apareceu-me a mãe do Marcos,
trazendo o problema do filho dependente de drogas; achava que
eu tinha o remédio e podia fazer um milagre. Pouco depois vem o
próprio Marcos. Mulato de bom porte, não tinha 18 anos, trazia verdadeiras chagas, muito feias e rebeldes. Havia lugar para o Marcos,
nos barracões velhos onde tínhamos iniciado o trabalho do Caná.
Então, a notícia começou a espalhar-se como correm notícias
de milagre. E vieram outras mães chorando, e mais jovens com a
esperança de um “toque de mágica”... No final de 1979, estávamos
com uma pequena comunidade. Estava dado o primeiro passo.
Ousado e imprudente, mas com a maior boa vontade do mundo.
E agora, o que fazer com esse pessoal? Pensei em desistir, pois
não estávamos preparados para um trabalho como esse. Paguei
caro, acreditei que o fracasso fora total e que o assunto estava encerrado. Fora uma aventura, em minha vida, um sonho impossível!
No entanto, aqui vai mais da metade da minha vida. Uma dedicação sem tréguas, um cotidiano sempre repetido, das 6 às 22 horas, durante anos a fio, carregando pessoas boas, mas cheias de problemas
difíceis. Podia ter feito de outra maneira e não ter colocado tanto peso
nas minhas costas, mas eu não soube fazer diferente.”
Não menores são os desafios, para o dependente e sua família.
O segundo desafio é completar
os 9 meses de tratamento. Cerca de
30% apenas conseguem a façanha.
Geraldo Magno Possa, Supervisor Administrativo da Fazenda Recanto de Caná, pesquisou entre os
residentes os maiores obstáculos.
Bem sinteticamente: 1º - aceitação da doença, fissura, saudades
da droga, convívio com os colegas,
dificuldades de aceitar as regras; 2º
- saudades da família e preocupações com pendências, tempo que
resta para término do tratamento, achar que está pronto pra
sair; 3º - ansiedade pela primeira saída de visita, autossuficiência, medo da recaída e de ter faltado aprender mais coisas.
Cláudio Martins Nogueira,
Supervisor Terapêutico da Fazenda de Caná, Psicólogo Clínico, e
especialista em dependência química, comenta o primeiro desafio:
a adesão ao tratamento.
“A família passa por alguns
obstáculos: aceitar a doença; aceitar ajuda; aderir ao tratamento.
Isso se faz nas reuniões de convencimento. O objetivo é munir a
família de ferramentas para sensibilizar e convencer o dependente a
se tratar. O Amor Exigente propõe uma posição clara e direta: “Não
aceitar mais o uso da droga do seu familiar e deixar clara a disposição
de todos em ajudar no tratamento.”
O dependente também é encaminhado para a reunião de
partilha com outros recuperandos, em que a troca de experiências
é fundamental para entender a doença e possibilitar o apoio mútuo.
São mudanças essenciais para sensibilizar o dependente a
se tratar:
a - Não facilitar as coisas para o dependente, como pagar as
contas, emprestar dinheiro.
b - Focar no tratamento: os membros da família também estão doentes e precisam de tratamento.
c - Viver e deixar viver: a vida da família gira em torno do
dependente; ela precisa voltar a viver e deixar que o dependente assuma as suas responsabilidades e sofra as
O terceiro grande desafio é manter a sobriedade. Julio Cezar Monnerat, especialista em Dependência
Química pela UFSJ, responsável pelo
Programa de Prevenção da Recaída
da Família de Caná, esclarece: “Quanto
empenho é necessário para se livrar
da dependência das drogas! A internação resulta em desintoxicação, mas
nem sempre em abstenção definitiva
da droga. A manutenção da sobriedade é uma tarefa que depende de vários fatores, entre os quais:
a - O encontro de um sentido para vida, através de uma espiritualidade integrada numa comunidade de fé (participação nas atividades de sua Igreja);
b Autodisciplina no seguimento de um plano de modificação de vida;
c - Frequência e participação nos grupos de autoajuda;
d - A convivência e o afeto familiar, partilhando e cooperando no lar;
e - O cuidado com a autoestima, integrando-se e se relacionando com pessoas de boa índole, evitando a solidão e
fazendo atividades esportivas em grupo.
Além disso, é necessário deixar a ansiedade de lado e viver
cada dia, valorizando as pequenas mudanças, lembrando que a
felicidade é um estado de espírito, e reside no sentido que se imprime à própria vida.”
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Publicação da ASSOCIAÇÃO FAMÍLIA DE CANÁ - Ano I - Número 2 - Novembro de 2011
Pode-se afirmar que o Padre Osvaldo é um construtor por vocação: a construção de tijolo e cimento
complementando uma sólida construção humana e espiritual, duas faces da mesma moeda. Em meados da
década de 90, após terminar mais uma obra na Fazenda, descarregou: “Nunca mais ponho a mão em um tijolo”.
Depois disso, muita parede ele já fez subir e, ao que tudo indica, vem mais coisa por aí.
O RECANTO DE CANÁ, A SEDE
Tudo começou aqui. Os encontros funcionavam de maneira precária em desconfortáveis
barracões, nuns beliches mambembes. Capacidade pequena,
cerca de trinta pessoas. Tempo
de chuva, nem pensar em qualquer atividade. Sob a liderança
do Mundinho, foi organizada a
rifa de uma Brasília, na época,
“top” de linha da Volkswagen. Formaram-se equipes, todo o pessoal do Caná – pouca gente então - saiu vendendo carnês e correndo
atrás do pagamento. O Padre Osvaldo desdobrava-se, fabricando
tijolos de cimento e, com as próprias mãos, revestindo de marmorite todo o piso. O certo é que, em 1978, inaugurava-se a nossa
casa. Modesta, mas para quem a viu nascer, um monumento...
A FAZENDA RECANTO DE CANÁ
O “gênio” construtor permaneceu hibernando quase dez anos.
Em 1977, inicia-se a saga da assistência aos dependentes químicos,
aqui mesmo no Recanto de Caná. Os “drogados” meio que misturados
ao pessoal dos encontros, todo mundo no Caná preocupado com a
segurança do Padre Osvaldo, até mesmo com a possibilidade do seu
envolvimento com a polícia. Esse cara é um louco!...
A certa altura ele mesmo percebe que a situação era insustentável e que o atendimento aos dependentes pedia um ambiente rural.
Ele mesmo conta, no seu livro “Eu me envolvi com os drogados”:
A COMUNIDADE PADRE HENRIQUE
“Fiquei de olho em um imóvel distante 23 km da nossa sede,
uma área com pouco mais de 17
hectares, com belas paisagens,
bosque muito precioso, com um
riacho deslizando em cascatas, sobre pedras recobertas de musgo.
Em 1984, a Congregação dos Sagrados Corações fez uma doação
à nossa entidade. Com os seis mil dólares corri ao proprietário do terreno que eu já vinha namorando. Ele se dispôs a vendê-lo, recebendo
aquele dinheiro como parte do pagamento. Decidimos construir ali
uma casa modesta, para abrigar um caseiro com a família. Já estávamos com alguns internos quando terminou a construção da “casa do
caseiro”. Então nos transferimos para lá. Os internos mesmos escolheram o nome: FAZENDA RECANTO DE CANÁ. A inauguração oficial
ocorreu no dia 31 de maio. Estávamos no ano de 1987”.
“Bem depressa a casa estava pequena demais, tivemos que
construir cozinha e refeitório maiores, sala de recreio e dormitório. Não podia faltar uma capela. Mesmo sem dinheiro, colocamos
o problema nas mãos de Deus e fomos dando passos. O dinheiro
“caía do céu” na medida do necessário. A sala de recreio ficou sendo dormitório, e a construção deste foi adiada. Em setembro de
1988, já foi inaugurada oficialmente a parte construída. Convidamos Dom Serafim para celebrar a Eucaristia e trazer a bênção da
Igreja, para o nosso trabalho.”
A CASA DA ACOLHIDA
“Em 1992, a Associação
Feminina de Assistência Social,
por iniciativa de sua Presidente, Maria Ângela de Queiroz,
doou à Família de CANÁ uma
área, anexa ao nosso terreno.
Havia diversas benfeitorias e
uma sede grande, adequada
ao nosso trabalho. Lá instalamos imediatamente a Casa da Acolhida.” A Comunidade da Acolhida, na medida das necessidades, foi sendo acrescida de novos
módulos para ampliar a capacidade e o conforto.
COMUNIDADES DOM BOSCO
E SÃO DAMIÃO
“Comecei a sonhar com uma
casa para abrigar menores. Compartilhando esse ideal com um
empresário simpático às minhas
idéias, ele se dispôs a ajudar financeiramente sob três condições: dar à casa o nome de Dom
Bosco, preservar o seu anonimato e apressar a construção. Juntamente com a Casa Dom Bosco e,
aproveitando o projeto arquitetônico e ‘dinheiro que cai do céu’,
construímos a Casa São Damião. Pouco mais tarde, o mesmo empresário financiou inteiramente uma capela, com bancos e tudo,
para 100 pessoas, que atende às comunidades da Acolhida, Dom
Bosco e São Damião”. Por falta de recursos financeiros e de pessoal preparado, a experiência com menores acabou sendo suspensa, e a Casa Dom Bosco passou a abrigar dependentes adultos.
COMUNIDAD
EU QUERO A VIDA
“Paramos, mas não deixamos de sonhar. E fizemos um
desafio, esperando um sinal de
Deus: Se aparecerem os recursos para uma construção mais
adequada, em lugar separado
das outras comunidades, acreditamos que é para ir em frente.
E o sinal veio. Em 2001, o INSTITUTO MARISTA DE SOLIDARIEDADE ofereceu-nos uma doação para
construir uma casa para 30 internos. Recebemos a oferta com alegria e
entusiasmo, sempre com o sonho de criar uma comunidade exclusiva
para menores. A construção foi feita. Demos à casa o nome de “Eu
quero a vida”, mas a criação da comunidade foi sendo adiada, pela
dificuldade de encontrar pessoas para dirigir e recursos para manter”.
Uma, duas, três, quatro, cinco, seis... Pronto? Que nada! Já
existe uma área terraplanada, na Fazenda, e vários milheiros
de tijolos de cimento já prontos e em fabricação, para o projeto das Aldeias de Caná. E o projeto de erguer na sede um
centro de difusão da Entronização do Sagrado Coração. E que
mais? Só Deus sabe!...
Publicação da ASSOCIAÇÃO FAMÍLIA DE CANÁ - Ano I - Número 2 - Novembro de 2011
FAMÍLIA DE CANÁ, O MAIOR EMPREENDIMENTO
Um rápido olhar sobre a atuação da Família de Caná no âmbito da promoção da Família e o seu papel de protagonismo e
referência na área da atenção aos dependentes de álcool e outras
drogas dá a medida do espírito empreendedor do Padre Osvaldo,
criador e motor incansável de toda essa ciranda de atividades. É
uma roda gigantesca, que tem o seu eixo no Caná, estende seus
raios pela Grande BH e atinge o interior e até outros estados.
São mais de cinco mil casais que, a partir de 1974, se abasteceram nos Encontros de Revisão Matrimonial, Renovar, de Outono, de Espiritualidade e na Escola de Formação de Serventes, somente na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em Patrocínio
e Iguatama. A partir de Ipatinga, onde a equipe do Caná implantou a Revisão Matrimonial, mais de quatro mil casais tinham sido
beneficiados, já no longínquo 1991. Igualmente uns três milhares
de jovens aprenderam a satisfação de “ser útil” nos encontros de
Adolescentes e Parada PRODES.
A Fazenda Recanto de Caná, fazendo uma estimativa pelos
números atuais, terá acolhido para tratamento nos seus vinte e
quatro anos de existência bem uns três mil dependentes químicos. Sem mencionar as cerca de trezentas pessoas que, semanalmente, lotam a sede da Associação em busca de ajuda.
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Os carros-chefes da Editora eram as revistas REINO
– de formação religiosa e
promoção da Entronização
do Sagrado Coração – e A
TURMA – totalmente dedicada à catequese, ambas
de boa penetração no
meio paroquial. A Editora lançou também numerosos títulos de boa
aceitação, na área da catequese. Alguns, porém,
de literatura infantil, por
motivos vários, ficaram
encalhados nos depósitos. Até bem pouco
ava sem sucesso, distribuindo
tempo o Padre Osvaldo tentava
até gratuitamente, desencalhar os famigerados TURMINHA DA
DONA CYNARA e AS VALENTIAS DO COELHO. Afinal, os múltiplos encargos assumidos depois, inviabilizaram a Empresa. A
revista Reino foi desativada e A Turma passou para a administração da Arquidiocese, sobrevivendo até hoje.
PROMOÇÃO DA FAMÍLIA EDITORA
Mas o Padre Osvaldo resolveu se aventurar também no campo
empresarial. Sempre em
vista da causa maior, a
promoção do Reino de
Deus através do serviço
à Família. Jovem padre,
em 1967, veio do interior para a Capital com a
incumbência de implantar a PROMOÇÃO DA FAMÍLIA EDITORA.
Quem conta é o
nosso irmão Ronan da
Teresinha. Aparece um
dia, no banco em que
trabalhava, o Padre
Osvaldo, convocandoo para ir até a sua gráfica paginar as revistas da Editora, REINO e A TURMA. Na oficina instalada no prédio do antigo Cine
Padre Eustáquio, o Ronan Viglione encontrou nada mais que
uma ou duas impressoras, alguma composição de linotipo e
uns clichês. “Onde estavam as caixas de tipos, componedores,
entrelinhas”...? “É preciso essas coisas todas”? perguntou um
surpreso Padre Osvaldo. Pelo jeito, ele sabia bem pouco de
tipografia. Saíram às pressas, ele e o Ronan, para comprar o
equipamento indispensável. Conta o Ronan que tiveram que
improvisar um fio com uma lâmpada na ponta para que ele
pudesse trabalhar, na gráfica às escuras.
A equipe cresceu, com a chegada do Sílvio, José Carlos, Hamilton, Gesualdo, Vicente, o Paulo motorista, o Pedro de Mercês
do Pomba, e a gráfica se modernizou com a compra de impressoras offset, linotipo e outros equipamentos de ponta.
A CONFECÇÃO DE JEANS
Na mente uma idéia: o Lar
das Crianças, espaço onde, sob
os cuidados de uma mãe social,
se pudesse acolher crianças, digamos, sem lar. Para variar, e os
recursos materiais? Dono de um
largo círculo de amigos e admiradores, o Padre Osvaldo recebe
do senhor Itaci, empresário do
ramo de confecções, uma proposta de parceria.
Em galpão, nos fundos de
uma casa de propriedade da
Congregação, na Rua Vereador
Geraldo Pereira, anexa ao Caná,
foram instaladas as oficinas de
confecção, sob a batuta da Ivone do Oldack, costureira experiente. As peças de jeans – calças e casacos – já eram mandadas
cortadas pelo senhor Itaci. Era só costurar, entregar e faturar.
A certa altura, o Padre Osvaldo foi convencido de que poderia alçar “voo solo”, sem a tutela do Itaci. Na mesma ocasião,
a Ivone se vê obrigada a deixar a oficina, para cuidar do marido doente. Há uma mudança de gestão e dos rumos do negócio. Resolve-se confeccionar a chamada “modinha”, destinada
ao público feminino. Monta-se uma lojinha nas dependências
da casa, sob a responsabilidade da Nilza do Mundinho. Sem
orientação de uma estilista, as peças não caíram no gosto do
exigente mercado feminino. As vendas despencaram, um volumoso estoque de tecidos encalhou e os prejuízos se acumularam. E terminou mais um sonho.
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Publicação da ASSOCIAÇÃO FAMÍLIA DE CANÁ - Ano I - Número 2 - Novembro de 2011
químicos. Certamente inspirado pelo Espírito Santo, ele enxergou, muito
além, o sofrimento das famílias vitimadas e desfiguradas pelas drogas.
Isso num tempo em que não se dava destaque ao assunto, um bicho-desete-cabeças, que hoje ocupa as manchetes e as redes sociais.
Não conheci meu pai biológico. O Padre Osvaldo é o pai que eu ganhei. Um pai diferente, que me acolheu e me ensinou, não com sermões
e castigos, mas com muito carinho, valores muito fortes: a importância
de um lar, a educação e, sobretudo o maior patrimônio que uma pessoa
pode ter - a caminhada com Deus, a presença de Deus no lar.
Eu choro à toa; mas hoje é só alegria, pelo privilégio de ter o
senhor como referência. Não esqueço as suas palavras: “Alegria e
coragem só têm sentido quanto a gente conhece a intimidade com
Deus”. Parabéns! Mais 80 anos de vida!”
Cássio de Jesus
“Me pediram para falar sobre o nosso projeto para salvar os
menores dependentes ou a caminho das drogas. Disse que era ainda um sonho. Alguém procurou motivar-me: “Sonho que se sonha
só é só um sonho; sonho que se sonha a dois é realidade”. Mas, na
verdade, o trabalho com os menores não é apenas um sonho.”
“Quem está mais próximo de nós, no trabalho do CANÁ, sabe
que já fizemos uma tentativa anterior de ajudar os menores com
menos de 14 anos. (Para isso foi construída a Casa Dom Bosco). E
sabe também que paramos por nos sentirmos sem recursos: de estrutura material, de educadores e de um projeto pedagógico.”
Na realidade, porém, o sonho data de mais tempo e se concretizou no Lar das Crianças. Sob os cuidados de uma mãe social, até
14 crianças conviviam como numa família, freqüentando escola
pública, recebendo assistência médica, odontológica e pedagógica de voluntários. Após alguns anos, o Lar das Crianças foi transferido para outra instituição, sobretudo por falta de “mães sociais” à
altura da tarefa. Mas os frutos foram muitos e gratificantes.
Com a palavra o Cássio de Jesus, que passou pelo Lar e hoje, casado e pai, é cameraman na RedeTV e dono da HEMIAH, empresa de
Photo & Vídeo.
“Falar dos 80 anos de
vida do Padre Osvaldo é fácil
para mim. Tendo recebido
sua ajuda, torna-se até agradável falar dessa ajuda e da
intimidade do pai que ele foi
para mim. Mas eu quero hoje
revelar um aspecto do Padre
Osvaldo que muita gente desconhece, a intimidade que ele
tem com Deus.
Todo mundo sabe que eu vim da periferia, de um ambiente muito
pobre e sofrido. Além de ter me resgatado dessa situação, o Padre Osvaldo me proporcionou uma oportunidade maior, me deu uma noção
de vida e uma caminhada de fé. Nada foi forçado, por obrigação. Tudo
a partir da sua intimidade com Deus, que a gente enxergava no dia a dia.
Posso testemunhar a coragem com que enfrentou os desafios, até mesmo de fé, ao encarar a missão nova e visionária de lidar com dependentes
Os laços, firmados numa relação intensa de amor, não se
romperam até hoje, como provam as mensagens abaixo.
“Boa tarde. Eu morei em uma creche que o Padre Osvaldo
mantinha aí em frente, entre 1982 e 1987. Ainda existe esta creche? Como anda o Padre Osvaldo? Como faço para falar com
ele? Foi uma emoção muito forte achar esse site e ver algumas
fotos; está um pouco mudado, mas ainda tem muitos detalhes
da minha época. Passamos muitos momentos bons aí; o Padre
Osvaldo era como um pai pra nós. Mande abraços a ele por mim;
tenho certeza que ele se lembrará.”
Robson Ribeiro
“Oi, tudo bem? Meu nome é Cristiano. Morei no Caná na rua Henrique
Gorceix,17, no ano de 1987. Gostaria de
saber se vocês têm fotos dos meninos
dessa época. Alguns nomes destes meninos: Cristiano Oliveira, Cássio de Jesus,
Lucas de Jesus, Ana Paula Guilherme,
Orlândia da Silva Neves, Agenor da Silva Neves, Marcos Aurélio da Silva Neves,
Paulo Pinto Ramos, e Conceição. Um
grande abraço, aguardo respostas!”
Cristiano de Oliveira
“Paramos, mas não deixamos de sonhar”, diz o Padre Osvaldo. Em 2001, uma
doação dos Irmãos Maristas
possibilitou a construção da
Casa “Eu Quero a Vida”, que,
entretanto, ficou incompleta e
desocupada. Em 2008 a Prefeitura de Ribeirão das Neves celebrou convênio para abrigar
menores em situação de risco
Honório e Conceição
social, aproveitando a disponibilidade da “Eu Quero a Vida”. A nova tentativa durou pouco mais
de um ano.
O sonho mais uma vez se concretizou em 2010. A Comunidade atualmente recebe dependentes da faixa etária de 12 a 17
anos, funcionando, porém, abaixo da sua capacidade. E o Padre
Osvaldo conclui:
“Nunca sonhei sozinho; tudo o que existe de concreto, no
meu trabalho, foram outros que realizaram comigo. Mas agora
que lhe falei, e você ouviu atentamente, o meu sonho passa a ser
seu. E eu desejo isso ardentemente.”
Publicação da ASSOCIAÇÃO FAMÍLIA DE CANÁ - Ano I - Número 2 - Novembro de 2011
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Eu visto
esta camisa
* Ano I * Número 2 * Novembro de 2011
Publicação da
ASSOCIAÇÃO FAMÍLIA DE CANÁ
Rua Henrique Gorceix, 80
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de utilidade pública
* Decreto Federal – Proc. MJ 2042/97
de 20/06/97
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* Lei Municipal 6.372 de 18/08/93
(Belo Horizonte)
* Lei Municipal 2.958, de 30/11/06
(Ribeirão das Neves)
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Certificado nº 28.984.016095/94-01
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de coração, a todos aqueles
que contribuíram para tornar realidade
esta edição da revista
EU VISTO ESTA CAMISA
Presidente: José Afonso Pinto de Assis
Diretor: Padre Osvaldo Gonçalves
Redator: José Wagner Leão
Colaboradores:
- Adão Eustáquio Vieira
- Adelina Blasi Baracat
- Ângela Dolores L. de Carvalho
- Carla Pena
- Cássio de Jesus
- Cláudio Martins Nogueira
- Danilo dos Santos Pereira
- Padre Eribaldo Pereira Santos
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Tiragem:
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ASSOCIAÇÃO FAMÍLIA DE CANÁ
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uma vida a serviço das famílias