Comitê Brasileiro de Barragens
Por Aurélio Alves, Conselheiro do CBDB
Uma vida de
dedicação à CHESF
Aurélio Alves deVasconcelos é engenheiro civil, empregado
da CHESF, Diretor Regional PE e membro do Conselho
Deliberativo do CBDB.
“Concluí o curso de Engenharia Civil em dezembro de
muito criticada pela mídia pelo fato de a demanda inicial ser
1969, pela Escola Politécnica da Universidade Federal da
de apenas 20 mW. A verdade é que essa obra deu um grande
Paraíba. Em março seguinte já iniciava a minha trajetória
impulso no desenvolvimento do Nordeste, uma vez que a
na Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF).
demanda foi sempre crescente. Quando iniciei na CHESF, a
Durante o período do curso trabalhei no Banco do Brasil,
potência instalada era de 623 mW e hoje totaliza 10.615 mW.
onde aprendi muito sobre gestão financeira e administrativa.
As Usinas Hidrelétricas de Paulo Afonso I, II, III estão em
A década de 70 foi marcada pela construção de estradas e
um mesmo represamento, constituído de uma barragem do
grandes hidrelétricas. Durante o curso optei pela ênfase em
tipo gravidade em concreto armado, com altura de cerca de
“estradas”; a outra opção seria em “abastecimento de água
20 metros e comprimento total da crista de 4.707 metros,
e saneamento”.
associado às estruturas de concreto tais como: um vertedouro
Foi um privilégio ter começado pela CHESF quando
do tipo Krieger, com descarga livre; quatro vertedouros de
iniciava a construção da UHE Paulo Afonso III. A obra estava
superfície, com comportas vagão; um descarregador de
na fase de escavação subterrânea da casa de força. No meu
fundo; dois drenos de areia; tomada d’água e casa de força
primeiro dia de trabalho desci até a área de montagem em
subterrâneas, e escavada em rocha sólida, com profundidade
uma caçamba dependurada nos cabos de um guindaste.
aproximada de 80 metros.”
Senti que a minha vida profissional começava naquele
instante. Até a construção de Paulo Afonso III, a CHESF
projetava e construía com recursos próprios as suas obras de
DO RIO DE JANEIRO PARA RECIFE
geração e transmissão, a exemplo do que ocorreu nas Usinas
Paulo Afonso I e II. A CHESF chegou a ter em seu quadro
“Em 1975 houve a transferência da sede da CHESF do Rio
de pessoal mais de 15 mil empregados - hoje temos cerca
de Janeiro para Recife. Estava ainda em Paulo Afonso, quando
de 4,6 mil. Em Paulo Afonso havia uma oficina mecânica,
fui convidado para trabalhar na área de estudos e projetos,
bem moderna para os padrões da época, para atender a
em Recife, na função de Gerente de Projetos (inicialmente da
manutenção dos equipamentos de construção.
UHE Moxotó e depois das UHE’s Paulo Afonso IV, Xingó e do
executados
Projeto Básico da Geração de Pedra do Cavalo). Em 1990, passei
predominantemente de forma manual. A partir de Moxotó,
a chefiar a Divisão de Estudos e Projetos Civis de Geração até
os trabalhos passaram a ser com equipamentos. Na UHE
2010. Depois passei a atuar na Assessoria do Departamento de
Paulo Afonso IV foi projetada uma galeria para permitir
Engenharia e Construção de Geração. Por último, faço o papel
acesso aos equipamentos de transporte à área de montagem
de Coordenador de Projeto da UHE Sinop, a qual está situada
da casa de força.
próximo à cidade do mesmo nome, no estado do Mato Grosso,
No
princípio,
os
trabalhos
eram
A Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso I foi projetada
projetada para 400 mW.
e construída com três unidades geradoras de 60 mW,
Toda a minha vida foi dedicada aos estudos de viabilidade,
totalizando 180 mW. As obras foram iniciadas em 1948.
projetos básicos, projetos executivos, “como construído”,
A inauguração da primeira máquina ocorreu em 1954 (as
memória técnica e construção, executada diretamente ou
demais em 1955). É importante lembrar que essa obra foi
através de terceiros. A construção de usinas hidrelétricas
permitiu vivenciar contratações por administração em
conhecimento de técnicas recentes através de especialistas
Moxotó; preços unitários nas demais usinas da CHESF, e
e consultores de nossa Engenharia de Barragens. Em 2013,
participação em obras por preços globais, principalmente
a convite da NESA, o NRPE realizou, na história do CBDB,
aquelas associadas às Sociedades de Propósito Específico
o primeiro curso na obra, em Belo Monte. Foi o Curso de
onde a CHESF é acionista.
Barragens de Terra e Enrocamento, com os professores
Participei de vários grupos de trabalho formados pelas
empresas do Grupo Eletrobrás e outras instituições, tais
como Manual de Estudos de Inventário, Instruções para
Paulo Cruz e Regina Moretti.”
SUGESTÕES PARA O COMITÊ
Elaboração de Estudos de Viabilidade Técnica de Usinas
Hidrelétricas, Instruções Básicas para Elaboração de Projeto
“Acho que o CBDB deveria se “aproximar” mais das
Básico. Como titular ou em parceria fiz vários artigos técnicos
obras facilitando um melhor intercâmbio de conhecimentos
que foram publicados em revistas, livros e eventos técnicos
e experiências. O CBDB deveria promover cursos de curta
nacionais e internacionais.”
duração na obra e visitas técnicas com grupos de associados.
NO CBDB DESDE 1975
Quando ainda era adolescente, o CBDB realizou o
seu I Seminário de Grandes Barragens, em julho de 1962,
no Rio de Janeiro, cinco meses após a sua fundação, em
“Meu primeiro contato com o CBDB, na época Comitê
24 de fevereiro. Desde então, o CBDB vem cumprindo a
Brasileiro de Grandes Barragens (CBGB), foi participando
sua missão de estimular o desenvolvimento, a aplicação
do X Seminário Nacional de Grandes Barragens, em abril
e a disseminação das melhores tecnologias e práticas de
de 1975, em Curitiba. Participei da Comissão Organizadora
engenharia de barragens e obras associadas.
dos seguintes eventos: XIV Seminário Nacional de Grandes
Considerando as mudanças ocorridas nos processos e
Barragens, em agosto de 1881, em Recife; XIX Seminário
tecnologias, principalmente aquelas associadas à informação
Nacional de Grandes Barragens, em março de 1991, em
e à internet, o CBDB deverá rever sua forma de atuação para
Aracajú; IV Simpósio Brasileiro sobre Pequenas e Médias
continuar se modernizando e estimulando a comunidade de
Centrais Hidrelétricas, em setembro de 2004, em Porto de
barrageiros.
Galinhas; XXIX Seminário Nacional de Grandes Barragens,
em abril de 2013, também em Porto de Galinhas.
HOMENAGENS
Quando da realização do IV Simpósio Brasileiro sobre
Pequenas e Médias Centrais Hidrelétricas fui estimulado
“Finalmente, gostaria de registrar meu respeito e
a criar o Núcleo Regional de Pernambuco (NRPE). Até o
admiração ao grande empreendedor Delmiro Gouveia,
presente ocupo a função de Diretor Regional. Depois, passei
precursor dos aproveitamentos hidrelétricos de Paulo Afonso.
a integrar o Conselho Deliberativo. No período de 2010 a
A seguir transcrevo alguns parágrafos do artigo sobre a Usina
2012 desempenhei a honrosa função de Diretor Secretário
Angiquinho, publicada no livro 50 Anos do CBDB, sobre a
do CBDB.
primeira usina hidrelétrica do Nordeste, localizada na margem
O Núcleo Regional PE realizou em Recife vários cursos
alagoana da cachoeira de Paulo Afonso, no Rio São Francisco,
de curta duração, permitindo aos associados da região obter
próximo ao atual Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso,
“O CBDB deverá rever sua
forma de atuação para
continuar se modernizando
e estimulando a comunidade
de barrageiros.”
Mercantil, localizada na cidade de Pedra (hoje Delmiro
Gouveia). Sua energia era bastante também para alimentar
uma bomba d’água que abastecia a mesma cidade, distante
aproximadamente 24 km da cachoeira. A usina de Angiquinho
fica a poucos quilômetros de Paulo Afonso, na Bahia.
Houve reações contrárias à implantação desse
aproveitamento hidrelétrico da cachoeira, sobretudo por
parte das imprensas alagoana e carioca que publicavam
operado pela CHESF. Sua potência instalada era de 2.460 kW.
manchetes com veementes protestos sobre o assunto.
Inaugurada em 26 de janeiro de 1913 pelo então
Finalizo, prestando uma homenagem aos pioneiros da
empresário Delmiro Gouveia, a primeira hidrelétrica da
construção de Paulo Afonso I, em especial ao Diretor Técnico
cachoeira de Paulo Afonso (e a primeira do Nordeste)
Marcondes Ferraz e ao Presidente da CHESF, Alves de Souza,
tinha como objetivo fornecer energia elétrica a uma
pela dedicação e coragem na superação das dificuldades da
grande indústria têxtil chamada Companhia Agro Fabril
época e pela ousadia do desvio do Rio São Francisco.”
Usina hidrelétrica de Angiquinho, Alagoas
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Uma vida de dedicação à CHESF - Comitê Brasileiro de Barragens