LINHA DE RUMO
por Nuno da Silva Leal
Uma luz ao fundo do túnel...
Para quem conduz, a luz é essencial: serve não só para vermos como ainda para sermos
vistos. Mas o que é facto é que quem circula, após o sol nos deixar, pelas estradas deste
concelho (e verdade seja dita, na generalidade do País) debate-se com um problema: a
iluminação pública é deficitária, quando existente! E se é grave a luz ser pouca porque nos
priva de vermos buracos - que depois deste rigoroso inverno que parece não ter fim ainda são
mais e maiores do que o costume – obstáculos e peões com a devida antecedência que a
iluminação do automóvel mão alcança, também é grave porque o ser humano precisa da luz
para ter uma sensação de segurança (basta ver que a maioria dos filmes de “terror” passam-se
de noite) e a escuridão faz desenvolver fobias que normalmente implicam uma sensação de
desconforto e de perigo iminente em cada esquina.
Mas onde me parece que mais falta faz a iluminação é nos locais onde há passagem de peões,
vulgo “passadeiras”. Se atentarmos que os médios de um automóvel (em boas condições)
iluminam cerca de 30 metros à sua frente e que com frequência se circula a velocidades na
ordem dos 50 a 90 Km/h, então quando atravessamos uma rua ou estrada à noite estamos a
cometer um acto que é um misto entre um desporto radical e uma tentativa de suicídio, já que
as probabilidades do peão ser visto em tempo útil pelo condutor são bastante reduzidas.
Penso, por isso, que seria muito importante proceder a um levantamento rigoroso e exaustivo
dos locais onde, existindo “passadeiras”, há deficiente iluminação de forma a melhorar as
condições de visibilidade do local, sendo que a solução ideal (mas admito que algo utópica)
seria ter um poste com iluminação potente junto de cada passadeira!
Num conceito mais abrangente, a luz não nos ilumina apenas o caminho por onde andamos. A
luz é, inclusivamente, uma expressão metafórica que é utilizada por religiões, cultos, filosofias
de vida e até em práticas políticas e por políticos!
Assim, é com extrema preocupação que vejo estarmos cada vez mais enterrados num buraco
sem fundo, não vendo a luz que nos indica a saída dele. Para quem ainda não notou, os sinais
de crise na economia já não são meros sinais! São já factos que confirmam uma crise. Basta
ver que o Ministro Pina Moura não percebe qual o motivo da desconfiança dos portugueses na
situação económica, achando injustificados os receios que a situação de 2002 seja pior ainda
que a actual. Senhor Ministro, senão entende, eu, vulgar cidadão que nada mais entendo de
economia que as contas domésticas, posso lhe dar algumas “luzes” sobre o assunto...
A desconfiança deriva de todos os sinais exteriores que o seu ministério deixa transparecer.
Mas dou-lhe alguns exemplos, para tentar perceber o que as grossas paredes do edifício do
Ministério em Lisboa onde se enclausura não lhe deixam vislumbrar, talvez devido a má
iluminação!
As constantes rectificações às previsões conjunturais que vai fazendo. O erro regular e
sistemático nas previsões de inflação, taxas de juro ou PIB que merecem com igual
regularidade “puxões de orelha” do Banco de Portugal e do Banco Central Europeu. A crise na
Bolsa de Valores de Lisboa e Porto, em queda faz agora quase uma ano, fazendo perigar as
economias de muitos pequenos investidores que por propaganda mais ou menos enganosa do
Governo endividaram-se para comprar nas privatizações sem o devido aconselhamento que os
faz agora ver as suas acções valerem menos e as suas contas para com os bancos e cartões
de crédito aumentarem cada vez mais. O constante subir dos preços dos bens de consumo
essenciais para a manutenção de um determinado nível de vida – como a gasolina, os jornais,
os livros, o café, as roupas ou os automóveis – que se fazem sentir nas facturas que no final de
cada mês aparecem em casa. O aumento (ou a manutenção) dos actuais níveis das taxas de
juro. O constante desfasamento do preço dos combustíveis com o preço do petróleo (quando o
barril sobe, em Portugal mantém-se o preço, quando o barril desce, em Portugal o preço sobe
– do preço da gasolina descer é que já não me lembro da última vez...). A cada vez maior
dependência das importações. As criticas dos empresários, cada vez mais duras e mordazes, à
política económica.
Enfim, porque só queria dar algumas luzes, penso que isto já chegaria para um qualquer
ministro perceber o descontentamento da população que governa. Provavelmente, se o
ministro fosse um “iluminado”, até já teria algumas soluções para estes problemas, mas este
não é, claramente, a situação actual...
No entanto, julgo ter uma explicação para esta falta de visão do Ministro Pina Moura. É que
sendo ele do Porto, quando visita o País real, deve servir-se dessa moderna infra-estrutura que
é o Metro do Porto e naqueles fabulosos túneis parece que as coisas têm estado pretas. Como
tal, ainda não terá visto uma luz ao fundo do túnel...
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