bem-estar
B
Ter amigos
faz bem a saúde!
Poder contar com alguém, de verdade, tem
desdobramentos positivos que vão muito além do
âmbito emocional. Fatores desencadeantes de doenças
perdem espaço, a imunidade fica reforçada
e tendemos a viver mais e melhor
por | Bianca Donatto
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rindar a sonhada promoção do trabalho, assistir
àquela comédia romântica pela milésima vez, se
desfazer em lágrimas pelo término de um relacionamento, comemorar o teste de gravidez positivo depois
de tantas tentativas, dividir os segredos, as angústias, a conta
do bar, a barra de chocolate... Em todas essas situações, e em
tantas outras, a pessoa que está do outro lado da mesa, do
sofá ou da linha telefônica atende pelo mesmo título: amigo.
É aquele indivíduo que nos acolhe, consola e compartilha conosco os mais diversos momentos e experiências, trazendo
mais significado para a nossa vida. “O ser humano possui estruturas cerebrais que fazem com que ele busque e necessite dos relacionamentos para viver, se desenvolver e se sentir
realizado. É como diz a canção: é impossível ser feliz sozinho”,
diz o psicobiólogo Ricardo Monezi, especialista em medicina
do comportamento e pesquisador da Universidade Federal de
São Paulo. Para começar, podemos falar da importância dessas
figuras para a estruturação da nossa autoestima. “As amizades
influenciam diretamente na forma como uma pessoa se vê, já
que remetem ao fato de ela ser aceita e querida por um grupo,
garantindo mais segurança emocional”, relata a psicóloga Ana
Maria Rossi, de Porto Alegre (RS), presidente da International
Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR). E é comprovado cientificamente que as emoções não afetam apenas o
humor, mas também desencadeiam reações no organismo e,
portanto, têm ligação direta com nosso estado de saúde. Nesse
contexto, acredite: ter amigos resulta em tantos benefícios que
não seria de se estranhar se, dia desses, a recomendação de
cultivá-los passasse a constar nas receitas passadas pelos médicos. “Estar na companhia de pessoas queridas faz nosso corpo liberar substâncias como a dopamina e a serotonina, que
provocam a sensação de bem-estar e de relaxamento, além de
encefalinas, que possuem ação anestésica e analgésica e, por
isso, aliviam as dores físicas”, completa Ricardo.
Laços poderosos
Uma das principais razões para a amizade ser considerada
um bálsamo para o corpo e para a alma se deve ao fato de ela
ajudar a manter sob controle um dos principais vilões da atualidade: o estresse. Como você já deve saber, se vivenciado em
excesso, ele pode causar uma sobrecarga nociva ao organismo
e, assim, deixar o caminho aberto para o desenvolvimento de
diversos males, como transtornos psicológicos, fibromialgia,
doenças cardíacas e respiratórias, entre
outras. “Os amigos, no entanto, dividem
conosco o peso das vivências difíceis. A
convivência reduz os níveis de ansiedade e os riscos de depressão, até mesmo
quando estamos diante de uma das
situações mais difíceis que a vida nos
impõe, que é a perda de alguém que
amamos. Pesquisas apontam que as
amizades podem ajudar a diminuir o
impacto dessa situação dolorosa em até
60%”, diz Ricardo Monezi.
É coisa para se
guardar...
Da próxima vez que referir-se a alguém como amigo do peito, saiba que
a expressão pode ter raízes mais profundas do que se possa imaginar. É que o
coração é, sem dúvida, um dos órgãos
mais beneficiados pelo convívio social
positivo: pessoas com menos amigos
têm quase o dobro de chance de morrer
de doenças cardiovasculares, por exemplo. Isso porque o simples fato de saber
que podemos contar com alguém, para
qualquer coisa, auxilia no controle da
pressão arterial, reforça a proteção dos
vasos sanguíneos contra possíveis lesões e equilibra os batimentos cardíacos. A importância disso? Essa gama de
doenças está entre as principais causas
de morte em todo o mundo.
A convivência com os amigos
amplia o nosso repertório para
a resolução de problemas
e permite que situações de
conflito sejam resolvidas mais
facilmente
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bem-estar
A amizade tem poder sobre a dor.
O motivo? Quando estamos ao lado
de uma pessoa querida, nosso corpo
libera substâncias que causam
uma sensação de bem-estar e,
consequentemente, agem como uma
espécie de analgésico, aliviando
o desconforto
Prontos, para o que der e vier
Mas, se ainda assim algo sair do controle e um problema
de saúde aparecer? Bem, mesmo neste caso, os amigos são
de grande valia. Estudos comprovam que pessoas que contam com uma boa rede de apoio tendem a se recuperar mais
rápido das enfermidades e levam menos tempo para observar a cicatrização de uma lesão. Uma das explicações para esses feitos é que a existência de afeto promove a descarga de
substâncias, como as interleucinas, que reforçam o sistema
imunológico, deixando o corpo mais forte e preparado para
lidar com os problemas que possam surgir. Quer uma prova?
Um estudo realizado em 2006, com quase 3 mil enfermeiras
com câncer de mama, descobriu que mulheres sem amigos
próximos tinham uma probabilidade quatro vezes maior de
morrer da doença do que aquelas com dez ou mais amigos.
Agindo em comunhão com um corpo mais forte, a mente
de quem se relaciona bem com seus pares também se mostra uma poderosa arma: reage com mais otimismo frente à
adversidade e reúne coragem para impulsionar seu enfrentamento. “Existe um termo chamado resolutividade, que se
refere à capacidade que uma pessoa tem de resolver problemas. Todos nós nascemos com um conjunto de estratégias
de enfrentamento. É comprovado que a convivência com os
amigos amplia o nosso repertório e nos deixa mais preparados para reagir ao que nos tira do eixo, sejam questões de ordem física ou psicológica”, diz Ricardo. Resumindo: ao mesmo
tempo em que diminui o tamanho e o temor diante de um
problema, já que o divide conosco, um amigo aumenta a nossa capacidade de responder à situação de forma satisfatória.
“Devido a isso, manter laços com alguém também influencia
na nossa longevidade e pode prolongar a nossa vida em até
dez anos”, diz o psiquiatra Leonard F. Verea, de São Paulo (SP).
E você, já deu um alô para aquele amigo hoje?
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Elas X Eles
Os especialistas são unânimes
em afirmar: homens e mulheres
precisam de amigos na mesma
intensidade e proporção. No
entanto, quando prestamos
atenção por aí, é comum que
a ala feminina pareça mais
conectada com suas amizades,
enquanto os homens aparentam
ser mais desencanados. Eles
até brincam que as mulheres
não largam das amigas nem
para ir no banheiro. “Uma das
razões para os laços femininos
serem mais estreitos é biológica:
as mulheres têm uma reserva
maior de oxitocina no organismo.
Esse é o hormônio que regula
as interações afetivas e fortalece
a sensação de vínculo. Mas
existem também motivos
culturais, que felizmente já
estão sendo deixados para trás.
Antigamente, o homem não podia
demonstrar muita sensibilidade
e era criado para esbanjar
autossuficiência”, afirma Ricardo
Monezi. No que diz respeito a
números, as realidades já estão
bastante próximas. De acordo
com pesquisa da ISMA-BR,
realizada com mil participantes
de Porto Alegre e São Paulo, 47%
das mulheres e 39% dos homens
recorrem aos amigos para lidar
com situações estressantes.
“A grande diferença é que
durante o contato com seus
amigos, as mulheres focam
no problema que as aflige e
os homens falam sobre outros
assuntos, como futebol e
trabalho, justamente para
tirar o foco da adversidade”,
diz Ana Maria Rossi.
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