VARIAÇÃO MENSAL DO CESTO DE PRODUTOS BÁSICOS DA
FAMÍLIA NO MUNICÍPIO DE CRUZ ALTA - RS, DE 2001 20091
ISRAEL, Ana Lucia Pinheiro2, CORRÊA, José Carlos Severo3
Palavras-Chave: nível de preços, custo de vida, cesta básica.
Introdução
Contemporaneamente, o Brasil tem enfrentado problemas de ordem estrutural e
conjuntural. Basicamente em decorrência dos modelos adotados pelos governos que se
sucederam, tenham sido eles baseados nas doutrinas desenvolvimentistas, ou mais
recentemente centrados no equilíbrio fiscal. E uma das principais características desses
problemas é a alta sistemática dos níveis de preço, a inflação, que no caso brasileiro, segundo
Pinho e Vasconcelos (2003) e (CARNEIRO, 1990), é acentuado a partir da década de 50.
Embora este fenômeno tenha sido arrefecido a partir de 1994, com a implementação do Plano
Real (REGO & MARQUES, 2000), ainda hoje angustia a população devido às
particularidades da economia brasileira, tipicamente não desenvolvida. O fenômeno da
inflação é extremamente nocivo a sociedade, pois gera problemas de distribuição de renda,
déficit no balanço de pagamentos e retração nos níveis de investimentos no mercado de
capitais. No que diz respeito à distribuição de renda gera uma redução no poder aquisitivo da
população que possui rendimentos fixos, os assalariados. Como forma de minimizar esse
efeito, alguns mecanismos de indexação são utilizados, que dariam mobilidade nos
rendimentos, recuperando assim o poder de compra dos salários. Historicamente, no Brasil, os
indexadores de salariais são baseados na medição dos índices de variação dos níveis de
preços. Neste contexto, é que foram desenvolvidos vários métodos de cálculo destas
variações, cada um com o objetivo específico de atender a necessidade do organismo
pesquisador e satisfazem plenamente seus objetivos. Estes índices em geral são
representativos de situações específicas que expressam médias, não demonstrando
1
Projeto vinculado ao Banco de Dados Regional - Grupo de Estudos e Pesquisas em Desenvolvimento Regional
– UNICRUZ
2
Bolsista PIBEX UNICRUZ. Banco de Dados Regional
3
Orientador; professor do Curso de Ciências Econômicas – UNICRUZ; e-mail: [email protected]
particularidades locais. Justamente com o intuito de suprir esta lacuna é que se passou a
calcular o custo do cesto de produtos básicos no município de Cruz Alta, como forma de
subsidiar as decisões de consumo dos trabalhadores e suas respectivas famílias, bem como
estabelecer uma referência na aferição do custo de vida em Cruz Alta. Outra questão que
merece ser ressaltada é o fato de que com a ausência de uma política de controle sobre os
preços dos produtos, como a que vem sendo praticada atualmente, esses apresentam variações
significativas, principalmente entre as diferentes regiões. Isto quer dizer os índices
apresentados por uma determinada região podem não refletir a variação dos preços em outras.
Metodologia
Segundo Vasconcelos; Gremaud & Toneto Junior (2002), número índice é uma
estatística da variação de um conjunto composto por bens fisicamente diferentes. Em outras
palavras, se trata de observar a variação relativa do nível de preços de uma cesta de bens e
serviços em um determinado período de tempo. Vários são os números índices que sevem de
base para indexação no Brasil, sendo os mais conhecidos: Índice de Preços ao Consumidor da
Fundação Instituto de Pesquisa Econômica - Universidade de São Paulo (IPC-FIPE/USP),
Índice Nacional de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (INPC-FIBGE) Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interba da Fundação
Getúlio Vargas (IGP-DI-FGV), entre outros. Cada um dos índices atende um propósito e
seguem uma metodologia específica, mas de um modo geral a diferença básica é na
metodologia de coleta e ponderação dos dados, pois todos eles caracterizam-se por ser médias
ponderadas. Souza (2000, p.227) exemplifica que o IPC-FIPE é calculado especificamente
para a cidade de São Paulo, já o IGP-DI-FGV refere-se a cidade do Rio de Janeiro; enquanto
o INPC-FIBGE é calculado para uma classe social de trabalhadores de 1 a 8 salários mínimos
nas regiões metropolitanas de, Belém Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de
Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Brasília e Goiânia. O cesto de produtos básicos é
composto por 54 produtos que integram o padrão médio de consumo para uma família com
renda entre 1 e 5 salários mínimos, divididos em grupos de acordo com sua origem e/ou
forma de consumo, grãos, farináceos, mercearia, carnes e derivados, óleos e temperos,
hortifrutigranjeiros, higiene e limpeza, bebidas e artigos de uso geral. O cálculo do custo desta
cesta de consumo serve entre outros para estimar o poder aquisitivo das famílias que se
enquadram neste perfil em termos de salários mínimos. Com o objetivo principal de verificar
a variação mensal do nível de preços dos produtos que compõem a referida cesta, este
trabalho possibilitou que se apurasse a variação do poder aquisitivo do salário mínimo oficial
nacional, bem como apresentar a tendência de longo prazo para tal comportamento. Os dados,
de origem primária, foram obtidos através da coleta quinzenal de preços dos produtos nos seis
supermercados de maior fluxo do município de Cruz Alta. O processamento das informações
foi efetuado utilizando-se um índice ponderado do tipo Laspeyres.
Resultados e Discussões
Dos resultados verificados, dividiu-se em quatro análises distintas, acumulado no
período, acumulado no ano, da variação dos preços dos produtos integrantes da cesta básica
da família em Cruz Alta e ainda o número de salários mínimos necessários para adquiri-la. No
período verificou-se uma variação acumulada de 82,78% que é a maior na comparação com o
grupo de indicadores utilizados, que variaram de 41,75%, no caso da Cesta Básica do
Trabalhador, a 78,13%, o IGP-M/FGV. Ainda no período de 108 meses, verificou-se uma
taxa de 0,43% ao mês. Na análise do ano de 2009, se observa uma reversão o comportamento
do nível de preços, todos os indicadores apresentaram uma variação menor em 2009 do que a
doa ano anterior, com alguns apresentando variação negativa. No acumulado do período, a
cesta da família apresentou a maior variação, mas quando observado só o ano de 2009, este
quadro muda, tendo inclusive variado negativamente. Durante o ano de 2009, a cesta da
família variou negativamente em 0,11%, já a cesta do trabalhador apresentou uma redução no
seu custo na ordem de 8%. No caso dos indicadores nacionais, as variações mais
significativas foram a do IGP-M-FGV, com uma variação negativa de 1,25% e o INPC-IBGE,
com aumento de 5,24%.
Na análise da variação específica do cesto, fez-se uma divisão em produtos
alimentares e não alimentares. O grupo dos alimentos é dividido em industrializados, semiindustrializados e in natura, já o outro grupo dos não alimentares é dividido em material de
limpeza, higiene pessoal e de uso diverso. No ano o grupo de alimentos teve uma redução de
5,58%, sendo que a variação do grupo in natura foi de 9,83% negativo acompanhado pelo
grupo dos semi-industrializados, redução de 9,64%, sendo que no caso dos alimentos
industrializados a redução foi bem menor, com apenas 1,57%, o que reduziu o efeito de queda
dos preços. O ano de 2009 foi de boas safras agrícolas e ainda em decorrência da crise
econômica mundial, que resultou na queda dos preços dos produtos alimentares no mercado
internacional. Já no caso dos alimentos industrializados este efeito foi menor, mas
mantiveram-se relativamente constantes. Um produto importante no cômputo da cesta teve
uma alta bastante significativa no período o que provocou esta situação, foi o caso do açúcar
que teve uma alta no ano de 36,6%, anulando todas as reduções dos demais, que foram bem
mais modestas. De outro lado o produto que apresentou a maior redução em seu preço foi o
feijão que diminuiu em 42,97% no ano. O grupo dos produtos não alimentares, ao contrário,
apresentou uma variação positiva de 10,67%, em especial pelo aumento dos produtos de de
uso diverso, em especial, cigarros, cerveja e o gás de cozinha, aumentos de 28,5%, 15,98% e
5,13% respectivamente. Essas altas foram amenizadas por uma queda uniforme no nível de
preços dos produtos de limpeza e higiene pessoal, que reduziram 1,2% e 2,8%
respectivamente. Nesse caso, as maiores reduções foram o papel higiênico, - 10,98% e a
esponja de aço, - 13,7%.
Na avaliação para o período todo, ou seja, desde janeiro de 2001 até dezembro de
2009, observou-se que embora no mesmo sentido, a variação não é semelhante entre os
grupos, os itens alimentares variaram 82,08% e os não alimentares 110,05%. Nos alimentos a
maior variação se deu nos itens industrializados, com 113,37% e a menor ficou com os itens
in natura que variaram 59,37%. Nos itens não alimentares a principal variação foi nos itens de
uso diverso, com 130,29% de aumento, ao passo que nos itens de higiene pessoal e limpeza o
aumento foi semelhante, acumulando respectivamente, 76,81% e 79,76%. Uma outra
comparação que se fez, foi com relação ao número de salários mínimos necessários para
adquirir um cesto de produtos básicos da família. Neste caso, constatou-se que em janeiro de
2001 eram necessários 2,55 salários mínimos nacionais para adquirir o cesto e em dezembro
de 2009 foram preciso apenas 1,59 salários, o que demonstra um avanço no poder aquisitivo
do salário mínimo, decorrente da política governamental de corrigi-lo em índice maior do que
o da inflação no período, mesmo que a variação do custo de aquisição do cesto em Cruz Alta
tenha sido maior do que a inflação.
Conclusão
Como principal conclusão da pesquisa, observou-se certo descolamento no custo de
aquisição do cesto em Cruz Alta e a variação dos índices de preços nacionais, especialmente
na análise de curto prazo, o que não se constata com a mesma intensidade no longo prazo.
Referências
CARNEIRO, D. D. Crise e esperança: 1974-1980. In: ABREU, M. P. A ordem do
progresso: cem anos de política republicana, 1889-1989. Rio de Janeiro: Campus, 1990.
PINHO, D. B. & VASCONCELOS, M. A. S. (org.) Manual de economia. 4. ed. São Paulo:
Saraiva, 2003.
REGO, J. M. & MARQUES, R.M. Economia brasileira. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
SOUZA, N. J. Curso de economia. São Paulo: Atlas, 2000.
VASCONCELOS, M. A. S.; GREMAUD, A. P. & TONETO JUNIOR, R. Economia
brasileira contemporânea. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
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