Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho PARTE 2 - ATLAS OPACIDADE DOS MEIOS ÓPTICOS Traduz-se por uma área anatómica ligeira ou totalmente opaca, nos meios ópticos oculares, que dificulta a observação da retina. • CATARATA Opacificação do cristalino. Provoca uma diminuição da acuidade visual e resulta de alterações fisíco-quimicas. A B C D Fig. 2.1 CATARATAS A, C e D – Retinografias- Diferentes aspectos de opacificação do cristalino, que se traduzem por uma maior ou menor dificuldade de visualização da retina. B – Filtro verde – Permite uma melhor visualização dos vasos sanguíneos e hemorragias retinianas. • HEMOVÍTREO Consiste na presença de sangue no vítreo. 1 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho A B Fig. 2.2 HEMOVÍTREO A e B – Diferentes aspectos de hemorragia do vítreo • HIALITE ASTERÓIDE Rara. Unilateral em 75% casos. Consiste em pequenas opacidades esbranquiçadas. Podem provocar raramente uma diminuição da acuidade visual. A B C D Fig. 2.3 HIALITE ASTERÓIDE A, B e C – Retinografia - Partículas esbranquiçadas brilhantes dispersas no vítreo D – Filtro verde – Hialite asteróide suficientemente densa para dificultar a visualização da retina. 2 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho 1. SEMIOLOGIA DA RETINOPATIA DIABÉTICA MICROANEURISMAS É o primeiro sinal oftalmoscópico da retinopatia diabética. É característico da retinopatia diabética, mas não patognomónico. São dilatações na parede capilar, que não apresentam pericitos. Descritos como pequenos pontos avermelhados, de dimensão variável (< a 125 µm ), na região do pólo posterior. O número de microaneurismas aumenta progressivamente no decurso da evolução da retinopatia diabética. Na angiografia fluoresceínica, surgem como lesões punctiformes hiperfluorescentes, de bordos nítidos. ETIOLOGIA: Retinopatia diabética, Isquémia retiniana por estenose carotídea, retinopatia hipertensiva, retinopatia por radiação, oclusões venosas retinianas, telangiectasias perifoveolares idiopáticas. A B C D 3 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho E F Fig. 2.4 MICROANEURISMAS A, C e E – Retinografias – Múltiplos microaneurismas assinalados, dispersos pelo polo posterior. B, D e F – Filtro verde – Diversos microaneurismas assinalados e algumas hemorragias retinianas dispersas. HEMORRAGIAS RETINIANAS Derrame na retina cujo aspecto e o valor semiológico dependem da localização, podendo ser intraretinianas, pré-retinianas ou subretinianas. Pelo seu aspecto, podem distinguir-se 3 tipos de hemorragias retinianas: hemorragias punctiformes (difíceis de distinguir dos microaneurismas), hemorragias superficiais e hemorragias profundas (mais profundas, grande tamanho e bordos irregulares). Desaparecem espontaneamente em alguns meses. O aumento progressivo do número de hemorragias profundas é um critério indirecto de agravamento da isquémia retiniana. A presença de hemorragias profundas nos 4 quadrantes da periferia da retina é um dos 3 critérios da definição de retinopatia diabética pré-proliferativa. A B 4 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho C D E F G H I J Fig. 2.5 HEMORRAGIAS INTRARETINIANAS A, B, C, E, G e I – Retinografias – Hemorragias profundas assinaladas dispersas pelo polo posterior D e F – Angiografia fluoresceínica – Hemorragias intraretinianas com efeito máscara H e J – Filtro verde – Hemorragias retinianas profundas como lesões escuras, maiores ou menores. 5 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho o DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL HEMORRAGIAS RETINIANAS OLCUSÃO VENOSA RETINIANA - Hemorragias retinianas superficiais dispersas num quadrante (oclusão venosa retiniana de ramo) ou nos 4 quadrantes (oclusão da veia central da retina). A B Fig. 2.6 OCLUSÃO VENOSA RETINIANA TEMPORAL SUPERIOR A – Retinografia – Hemorragias retinianas superficiais e profundas dispersas pelo quadrante temporal superior B – Angiografia fluoresceínica – áreas de má perfusão capilar retiniana no quadrante descrito. Lesões efeito máscara correspondentes ás hemorragias retinianas EXSUDADOS DUROS São depósito de lipoproteínas de aspecto amarelado, intraretinianos, resultado dum aumento da permeabilidade vascular e exsudação sérica resultante. São causados por um edema localizado crónico. Desenvolvem-se na zona de união entre a retina normal e a retina com edema. Podem apresentar um aspecto em coroa (circinados) ao redor dos microaneurismas ou dos IRMA. Quando existe uma exsudação maciça e crónica, os exsudados organizam-se com o aspecto de uma placa de exsudados submaculares, causando a destruição dos fotoreceptores. Em angiografia fluoresceínica, os exsudados não são visíveis. Na OCT apresentam-se como lesões hiperreflectivas. Na ausência de tratamento, o número de exsudados aumenta, acumulando-se na área macular. Após fotocoagulação laser, a reabsorção de exsudados é lenta, habitualmente em meses. 6 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho ETIOLOGIA: Retinopatia diabética, neovascularização subretiniana, telangiectasias perifoveais idiopática, D. Coats, retinopatia hipertensiva, macroaneurismas, oclusões venosas retinianas e tumores. A C E B D F 7 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho G I H J L Fig. 2.7 EXSUDADOS DUROS A, C, E, G, H e I – Retinografias – Exsudados duros dispersos pelo polo posterior. Exsudados circinados B, D, F e J – Filtro verde – Os exsudados duros surgem como lesões esbranquiçadas L – OCT scan horizontal – Lesões hiperreflectivas, amareladas na retina externa • DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL EXSUDADOS DUROS Na DMI (degenerescência macular ligada à idade), pode observar-se a presença de exsudados duros subretinianos. 8 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho A B Fig. 2.8 DEGENERESCÊNCIA MACULAR LIGADA À IDADE A – Retinografia – Exsudados duros circinados ao redor da neovascularização subretiniana B – Filtro verde – Lesões esbranquiçadas com disposição circular MANCHAS ALGODONOSAS Consiste num espessamento e opacificação focais da camada de fibras nervosas, traduzindo uma isquémia aguda focal. Apresentam-se como uma lesão esbranquiçada, focal, de bordos fluos na camada de fibras ópticas. Acompanha-se habitualmente de uma hemorragia superficial. Em angiografia fluoresceínica, caracterizam-se por uma zona hipofluorescente São habitualmente transitórios, regredindo espontaneamente em semanas ou meses. Quando se apresentam numerosos na média periferia retiniana, traduzem habitualmente uma agravamento da evolução da retinopatia diabética. A apresentação em coroa ao redor do disco óptico deverá fazer pesquisar uma retinopatia hipertensiva. ETIOLOGIA: Retinopatia diabética, retinopatia hipertensiva, oclusões venosa retinianas isquémicas, retinopatia por HIV, Retinopatia de Purtscher, LED e neuropatia óptica isquémica anterior aguda. A B 9 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho C D E F G H Fig. 2.9 MANCHAS ALGODONOSAS A, C, E, G e H – Retinografias – Lesões branco-amareladas assinadas, bordos fluos e dimensão variável B, D e F – Filtro verde – Lesões de aspecto esbranquiçado nas áreas descritas. IRMA (anomalias microvasculares intraretinianas) Consistem em anomalias capilares localizadas no limite de territórios de oclusão capilar e arteriolar correspondente. Apresentam-se como lesões vasculares arredondadas, de pequeno calibre, forma irregular, com um aspecto de um broto. Calibre maior do que o calibre dos capilares sãos. 10 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho A presença de IRMAnumerosos indica a existência de uma isquémia retiniana grave. Encontram-se habitualmente em retinopatias de evolução rápida particularmente em doentes jovens. Originam-se de uma vénula, estendendo-se progressivamente para as áreas de má perfusão capilar retiniana. A C B D Fig. 2.10 ANOMALIAS MICROVASCULARES INTRARETINIANAS A, C e D – Retinografias – Delicadas ramificações avermelhadas, junto aos vasos sanguíneos B – Filtro verde – Linhas escuras finas e sinuosas ALTERAÇÕES VENOSAS Consistem em irregularidades do calibre venoso retiniano, localizadas, com aspecto em rosário, ansas venosas ou duplicação venosa. As anomalias venosas em rosário caracterizam-se por uma dilatação seguida duma zona de estreitamento. Ocorrem associadas a um agravamento da isquémia retiniana. São preditivas da evolução para a retinopatia diabética proliferativa. As ansas venosas são mais raras. Apresentam um aspecto em ómega. Ocorrem nas áreas de não perfusão capilar retiniana. Não são preditivas de evolução para a neovascularização retiniana. 11 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho A B C D Fig. 2.11 ALTERAÇÕES VENOSAS A, C e D – Retinografias – Ansas venosas, de calibre irregular B – Filtro verde – Ansa venosa no quadrante temporal superior ISQUÉMIA RETINIANA Consiste numa diminuição do débito sanguíneo local, resultando insuficiente para as necessidades metabólicas teciduais. É secundária à oclusão em maior ou menor extensão dos capilares e arteríolas retinianas. Sinais indirectos de isquémia retiniana: hemorragias profundas nos 4 quadrantes, anomalias venosas retinianas, IRMA. A angiografia fluoresceínica evidencia uma hipofluorescência correspondente às áreas de má perfusão capilar retiniana. Inicia-se habitualmente na área nasal da retina, estendendo-se progressivamente. O risco de neovascularização retiniana é proporcional à extensão das áreas de não perfusão capilar retiniana. 12 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho A B C D Fig. 2.12 ISQUÉMIA RETINIANA A, B, C e D – Angiografia fluoresceínica – Extensas áreas de não perfusão capilar retiniana, evidentes como áreas escuras. NEOVASCULARIZAÇÃO RETINIANA Consistem em proliferações neovascularesem resposta à isquémia retiniana, na superfície da retina (préretinianos) ou adiante da papila (prépilares). Apresentam-se com uma rede vascular, que aumenta progressivamente de tamanho a partir de um vaso aferente e se ramificam, ficando com um aspecto em avental. Localizam-se adiante da papila, nas arcadas retinianas e média periferia. O estado do vítreo determina o aspecto da neovascularização. Quando ocorre o descolamento do vítreo, exerce uma tracção sobre o pedículo vascular causando uma hemorragia préretiniana. O tamanho dos neovasos condiciona a gravidade da retinopatia diabética proliferativa. Após a fotocoagulação laser ocorre uma involução da neovascularização. ETIOLOGIA: Retinopatias vasculares (Retinopatia diabética, oclusões venosas retinianas, oclusões arteriais retinianas, síndrome ocular isquémico, síndromes de hiperviscosidade), Oclusões venosas inflamatórias (D.Eales, LED, Sarcoidose, vasculites) e tumores (melanoma da coróide, D. von Hippel-Lindau). 13 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho A B C D E F G H 14 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho I L J M Fig. 2.13 NEOVASCULARIZAÇÃO PRÉ-PAPILAR A, C, E, F, I e L – Retinografias - Neovascularização préretiniana, com graus variados desde ligeira a exuberante. B, D, H, J e M – Angiografia fluoresceínica – Leakage (hiperfluorescência) vascular evidente na área correspondente à neovascularização pré-papilar. G – Filtro verde – Vasos ramificados múltiplos na área papilar. 2. FORMAS CLINICAS A classificação da retinopatia diabética tem como objectivo estabelecer estádios de gravidade, bem como os seus diferentes prognósticos. RETINOPATIA DIABETICA NÃO PROLIFERATIVA MÍNIMA Definida pela presença de poucos microaneurismas e/ou uma hemorragia punctiforme habitualmente no polo posterior. Podem associar-se exsudados duros ou manchas algodonosas. O aumento global do número de microaneurismas é um bom índice de progressão da retinopatia diabética. 15 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho A B C D E F G H 16 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho I J L M N O P Q Fig. 2.14 RETINOPATIA DIABÉTICA NÃO PROLIFERATIVA MÍNIMA A, C, E, G, I, L, N e P – Retinografias–Microaneurismas, hemorragias retinianas superficiais e profundas e exsudados duros. 17 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho B, D, F, H, J, O e Q – Filtro verde – Ponteados escuros correspondentes aos microaneurismas e hemorragias retinianas. Pontos esbranquiçados correspondentes aos exsudados duros. M – Angiografia fluoresceínica – Pontos hiperfluorescentes correspondentes aos microaneurismas RETINOPATIA DIABETICA FUNDOou NÃO PROLIFERATIVA MODERADA Caracterizada pela presença de numerosos microaneurismas e/ou hemorragias superficiais, hemorragias punctiformes, manchas algodonosas e os sinais indirectos de isquémia retiniana: IRMA (1 quadrante), anomalias venosas (2 quadrantes) e hemorragias profundas em pelo menos 2 quadrantes retinianos. A B C D E F 18 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho G H I J L N M O 19 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho P Q R S T U V X 20 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho Z Z1 Z2 Z3 Z4 Z5 Fig. 2.15 RETINOPATIA DIABÉTICA NÃO PROLIFERATIVA MODERADA A, C, E, G, I, L, N, R, T, V, Z, Z2 e Z4 – Retinografias – Diversos aspectos de retinopatia diabética não proliferativa moderada. Microaneurismas, hemorragias retinianas e exsudados duros nos 4 quadrantes retinianos. B, D, F, H, J. O, S, U, X, Z1, Z3 e Z5 – Filtro verde – Hemorragias retinianas e microaneurismas como lesões escuras e exsudados duros como lesões esbranquiçadas. M, P e Q – Angiografia fluoresceinica – Lesões hiperfluorescentes correspondentes aos microaneurismas. RETINOPATIA DIABÉTICA PRÉ-PROLIFERATIVA ou NÃO PROLIFERATIVA GRAVE Existe um risco elevado de progressão para retinopatia diabética proliferativa a curto ou médio prazo. 21 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho Microaneurismas e hemorragias retinianas nos 4 quadrantes retinianos, IRMA num quadrante, anomalias venosas em 2 quadrantes. A angiografia evidencia áreas de não perfusão capilar retiniana. Existe um risco de evolução para retinopatia diabética proliferativa de 51,1% num ano. Indicação de panfotocoagulação laser discutida neste estádio.V A B C D E F 22 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho G H I J L N M O 23 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho P Q Fig. 2.16 RETINOPATIA DIABÉTICA NÃO PROLIFERATIVA GRAVE A, E, G, L e N – Retinografias – Retinografia diabética pré-proliferativa ou não proliferativa grave. Microaneurismas, hemorragias retinianas e exsudados duros. B – Filtro verde – Mircoaneurismas e hemorragias retinianas como lesões escuras e exsudados duros como lesões esbranquiçadas C, D, F, H, I, J, M, O, P e Q – Angiografia fluoresceínica – Extensas áreas de não perfusão capilar retiniana, que só são evidentes na angiografia fluoresceínica. Apresentam-se como áreas escuras, desprovidas de vascularização. RETINOPATIA DIABÉTICA PROLIFERATIVA Caracteriza-se por ser uma retinopatia diabética complicada de neovascularização pré-retiniana e/ou pré-papilar. Pode ser subdividida em mínima, moderada e grave segundo o grau de neovascularização. A neovascularização pode acompanhar-se de fibrose préretiniana. O risco de diminuição da visão é proporcional á gravidade da retinopatia diabética proliferativa. O tratamento é a panfotocoagulação retiniana e/ou injecções intravítreas de antiVEGF. A B 24 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho D C F E G I H J 25 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho L M N O P R Q S 26 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho T U V X Z Z1 Fig. 2.17 RETINOPATIA DIABÉTICA PROLIFERATIVA A, C, E, I, L, N, P, R, V e Z – Retinografias – Rede vascular filiforme e irregular correspondente à neovascularização B e S – Filtro verde – Lesões escuras correspondentes ás hemorragias retinianas e neovascularização. Lesão horizontal esbranquiçada correspondente a fibrose pré-retiniana D, F, G, H, J, M, O, Q, S, T, U, X e Z1 – Angiografia fluoresceínica – Leakage vascular intenso correspondente à neovascularização 3. EDEMA MACULAR Consiste na acumulação de líquido na área extracelular macular, originando um espessamento. Ocorre por ruptura da barreira hematoretiniana interna, com difusão anómala de constituintes plasmáticos. 27 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho Define-se clinicamente por um espessamento retiniano observado ao biomicroscópio. Na angiografia fluoresceínica visualiza-se a difusão de contraste a partir dos capilares retinianos alterados. Distinguem-se: edema macular focal, difuso, associado a maculopatia isquémica e traccional. A degradação da visão, que acompanha o edema macular é lenta e progressiva. o EDEMA MACULAR FOCAL O edema macular focal ou localizado é secundário à difusão anómala a partir dos microaneurismas. Traduz-se clinicamente por um espessamento focal ou localizado. Frequentemente associa-se a exsudados circinados. A sua gravidade depende da sua localização relativamente ao centro da mácula. A B C D 28 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho E F Fig. 2.18 EDEMA MACULAR FOCAL A e C – Retinografias – Edema macular correspondente a um dos lados da mácula, com microaneurismas, hemorragias retinianas e exsudados duros B e D – Filtro verde – Lesões escuras correspondentes aos microaneurismas e hemorragias retinianas e lesões esbranquiçadas correspondentes aos exsudados duros E – Angiografia fluoresceínica – Lesões petalóides (hiperfluorescentes) nos quadrantes nasal e superior da mácula F – OCT scan horizontal – Cavidade cistóide a escuro num dos lados da mácula o EDEMA MACULAR DIFUSO O edema macular difuso é secundário a uma hiperpermeabilidade dos capilares maculares. Apresenta um aspecto em locas não cistóides ou cistóides. Traduz-se por um espessamento macular difuso, de limites mal definidos. Em angiografia fluoresceínica apresenta uma difusão de contraste com aspecto em pétalas de flor. Pode acompanhar-se de um descolamento seroso da retina neurosensorial. A sua evolução é lenta, com degradação da visão progressivamente, sem tratamento. Flutuações nictemerais do espessamento macular, sendo maior de manhã. A B 29 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho C E G I D F H J 30 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho L M N O P Q Fig. 2.19 EDEMA MACULAR DIFUSO A, C, E, G, L, N, P e Q – Retinografias – Edema macular difuso, com exsudados duros ocupando a mácula ou ao seu redor. B, F, H e M – Filtro verde – Visualização de lesões esbranquiçadas a ocupar a área macular D- Angiografia fluoresceínica – Lesões hiperfluorescentes tipo petalóide a ocupar toda a área macular ( edema macular cistóide) I, J e O – OCT – scan horizontal – Cavidades cistóides escuras ocupando toda a área macular , deformando o perfil macular. Aumento da espessura macular. o ISQUÉMICA A maculopatia isquémica corresponde a uma oclusão importante dos capilares maculares. Bresnick define-a como um aumento em duas vezes da zona avascular central. Ocorre habitualmente em retinopatias diabéticas graves, pré ou proliferativas. 31 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho É igualmente evocadora de maculopatia isquémica a presença de inúmeras hemorragias profundas na área macular. A B C E D F Fig. 2.20 MACULOPATIA ISQUÉMICA A, C e E – Retinografias – Área escura macular com um aspecto translucido B, D e F – Angiografia fluoresceínica – Área escura correspondente à área macular (zona avascular central) aumentada de dimensão. 4. PAPILOPATIA DIABÉTICA Pouco frequente. Afecção transitória caracterizada por um edema do disco óptico, que ocorre em doentes diabéticos. Uni ou bilateral. PATOGÉNESE: Desconhecida (anomalia da microcirculação?) 32 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho SINTOMAS: Acuidade visual igual ou superior a 5/10. SINAIS: Elevação hiperémica da papila, associada a telangiectasias na superfície da papila. CAMPOS VISUAIS: Constrição generalizada campos visuais e escotomas centrais. PROGNÓSTICO: Bom, mesmo sem tratamento. A B C D Fig. 2.21 PAPILOPATIA DIABÉTICA A e B – Retinografias – Edema da papila, com apagamento dos bordos. Hemorragia linear na área temporal da papila C – Filtro verde – Apagemanto evidente do bordo nasal, superior e inferior da papila D – Angiografia fluoresceínica – Leakage vascular (hiperfluorescente) da papila 5. ASSOCIAÇÃO DE RETINOPATIA DIABÉTICAS COM OUTRAS PATOLOGIAS RETINIANAS Associação concomitante, com alguma frequência, entre a retinopatia diabética e outras patologias retinianas, nomeadamente outras patologias vasculares (retinopatia hipertensiva, oclusões venosas retinianas) e a degenerescência macular ligada à idade. 33 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho A B C D Fig. 2.22 RETINOPATIA DIABÉTICA E DMI (Degenerescência macular ligada à idade) A e C – Retinografias – Lesões amarelo-esbranquiçadas correspondentes aos drusens (DMI) e lesões avermelhadas (hemorragias retinianas) correspondentes à retinopatia diabética B e D – Filtro verde – Lesões esbranquiçadas no polo posterior correspondentes aos drusens (DMI) e lesões escuras correspondentes ás hemorragias retinianas 6. CICATRIZES CORIORETINIANAS APÓS FOTOCOAGULAÇÃO LASER Após fotocoagulação laser são evidentes lesões esbranquiçadas, de forma arredondadas. Após algumas semanas tornam-se cicatrizes corioretinianas esbranquiçadas ou pigmentadas, por migração. Com a evolução do tempo há um aumento das dimensões das cicatrizes corioretinianas. A B 34 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho C E D F G I H J Fig. 2.23 CICATRIZES CORIORETINIANAS APÓS FOTOCOAGULAÇÃO LASER 35 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho A, C, D, E, F, G, H e J – Retinografias – Em A verifica-se a presença de lesão esbranquiçadas momentos após a aplicação de lesões de laser. Nas outras fotos verifica-se a presença de lesões esbranquiçadas e/ou escuras (com migração pigmentar), ocorrendo meses após a aplicação de fotocoagulação laser. B – Filtro verde – Lesão de fotocoagulação laser, cinzento-esbranquiçadas, momentos após a aplicação das lesões. I – Angiografia fluoresceínica – Lesões com efeito máscara e janela (brancas e escuras) correspondentes ás lesões de laser. 7. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Retinopatia hipertensiva A resposta primária das arteríolas retinianas á HTA é o estreitamento do calibre. O estreitamento das arteríolas é focal ou difuso. A obstrucção das arteríolas pré-capilares origina as manchas algodonosas. O aumento da permeabilidade vascular origina hemorragias e edema da retina (exsudados duros em estrela ao redor da mácula). O espessamento da parede vascular resulta em presença de cruzamentos A-V O reflexo central das arteríolas é mais brilhante e intenso Sinal de Salus (desvio venoso ao nível do cruzamento A-V) e sinal de Gunn (veias afiladas ao nível do cruzamento A-V). COROIDOPATIA (Manchas Elschnig – manchas escuras, envolvidas por um halo esbranquiçado- enfartes coroideus) (Estrias de Siegrist – Manchas lineares, dispostas ao longo do trajecto dos vasos coroideus) (Descolamento exsudativo retina). A B Fig. 2.24 RETINOPATIA HIPERTENSIVA GRAVE A e B – Retinografias – Edema papilar (mais evidente no OE). Hemorragias superficiais e profundas. Manchas algodonosas (esbranquiçadas de tamanho diverso e bordos fluos), sobretudo dispersas ao redor do disco óptico (o que permite fazer o diagnóstico diferencial com a retinopatia diabética) Oclusão venosa retiniana de ramo É uma doença vascular retiniana comum. Ocorre habitualmente na 6ª – 8ª década de vida. Unilateral habitualmente. Risco em 5-10 % de afectar o olho adelfo. 36 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho FACTORES DE RISCO: HTA, doença cardiovascular, diabetes mellitus e glaucoma crónico ângulo aberto. SINTOMAS: Assintomática ou dependente da localização afectada, visão desfocada, metamorfopsia, perda de campo visual periférico e floaters. SINAIS: Ocorre invariavelmente nos cruzamentos A-V. Dilatação e tortuosidade vascular venosa retiniana, hemorragias superficiais da retina, manchas algodonosas e edema da retina. Edema macular associado. Podem ocorrer vasos colaterais venosos e embainhamento vascular. A B C D Fig. 2.25 OCLUSÃO VENOSA RETINIANA DE RAMO (TEMPORAL SUPERIOR) A e C – Retinografias – Hemorragias lineares, confluentes, na área de distribuição de um ramo venoso B e D – Angiografia fluoresceinica – Lesões de efeito masca (escuras) correspondentes às hemorragias retinianas Oclusão veia central retina É uma doença vascular retiniana comum, que ocorre habitualmente em adultos com idade superior aos 50 anos. O sexo masculino é afectado de forma predominante. Factores de risco: HTA, doença cardiovascular, diabetes mellitus e glaucoma primário de ângulo aberto. Classificação: Isquémica e não isquémica. 37 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho SINTOMAS: Assintomática ou perda profunda da acuidade visual. Súbita ou gradual. Outras queixas: Escotoma central, fotopsias, dor e olho vermelho. SINAIS: Acuidade visual inferior a 1/10 e a presença dum defeito pupilar aferente sugere isquémia. Dilatação e tortuosidade venosa, hemorragias intraretinianas dispersas nos quatro quadrantes da retina, manchas algodonosas, edema macular e edema do disco óptico. Sinais tardios: Vasos colaterais do disco óptico, dilatação e tortuosidade venosa persistente, embainhamento vascular, estreitamento arterial, edema macular e anomalias do EPR. A B Fig. 2.26 OCLUSÃO DA VEIA CENTRAL DA RETINA A –Rretinografia - Hemorragias retinianas dispersas por todos os quadrantes da retina B – Angiografia fluoresceínica – Leakage da papila. Lesões efeito máscara (escuras) correspondentes ás hemorragias retinianas. Edema macular cistóide. Retinopatia com anemia Ocorrem mais frequentemente em doentes com episódios de rápido desenvolvimento de anemia ou em doentes idosos com anemia. Habitualmente as alterações retinianas na anemia são insidiosas. São mais frequentes em caso de trombocitopenia concomitante. SINTOMAS: Assintomática, a não ser em presença de hemorragias na área macular. SINAIS: Hemorragias punctiformes ou superficiais, manchas de roth, manchas algodonosas, tortuosidade venosa retiniana e edema do disco óptico. 38 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho A B Fig. 2.27 RETINOPATIA COM ANEMIA A e B – Retinografias – Hemorragias dispersas sobretudo ao redor do disco óptico e ao redor das arcadas vasculares. Manchas de roth (hemorragias com um centro esbranquiçado) características. Retinopatia Radiação Similar clinicamente e patologicamente á Retinopatia diabética. A dose de radiação associada com a Retinopatia é 11 a 35 Gy. INÍCIO: Em média ocorre 1 a 8 anos após a exposição à radiação. SINTOMAS: Estádios precoces assintomática. Com o envolvimento macular ocorre uma redução da acuidade visual por hemorragia macular, edema, isquémia ou hemorragia vítrea. SINAIS: Manchas algodonosas, microaneurismas, telangiectasias retinianas, exsudados duros e hemorragias intraretinianas. Neovascularização da retina ou disco óptico. A B Fig. 2.28 RETINOPATIA POR RADIAÇÃO A – Retinografia – Hemorragias retinianas dispersas. Manchas algodonas. B – Filtro verde – Lesões escuras correspondentes ás hemorragias retinianas. Lesões esbranquiçadas correspondentes ás manchas algodonosas. 39 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho Degenerescência macular ligada à idade (DMI) É a causa mais frequente de cegueira acima dos 50 anos de idade, em países desenvolvidos. Caracteriza-se por apresentar atrofia geográfica do EPR, descolamento do EPR, NVSR, drusens, hemorragias, exsudados e tecido cicatricial fibroglial. DMI ATRÓFICA Consiste numa atrofia lentamente progressiva dos fotoreceptores, do EPR e da coriocapilar. Bilateral, mas assimétrica. APRESENTAÇÃO INICIAL: Diminuição progressiva da acuidade visual, em meses ou anos. SINAIS: Hiperpigmentação focal ou atrofia do EPR associada a drusens. Zonas circulares de atrofia do EPR, bem delimitadas A C B D 40 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho E F G H Fig. 2.29 DMI ATRÓFICA A, B, E e G – Retinografias – Drusens (lesões esbranquiçadas) dispersos pelo polo posterior C, D, F e H – Filtro verde – Lesões esbranquiçadas (drusens) dispersaspela área macular DMI EXSUDATIVA Ocorre devido á neovascularização que tem origem na coriocapilar, que fica localizada sob o EPR só ou invade o espaço subretiniano. APRESENTAÇÃO INICIAL: metamorfópsia, escotoma psoitivo acuidade visual central desfocada. SINAIS: NVSR sob EPR (lesão conzento-esverdeada, elevada), NVSR subretiniana (halo subretiniano ou placa pigmentada). Sinais associados a NVSR (Elevação serosa retiniana, espessamento fóvea, edema macular cistóide, hemorragia subretiniana e exsudados duros). 41 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho A B C D Fig. 2.30 DMI EXSUDATIVA A, B e C – Retinografias – Lesão cinzento- esbranquiçada, de bordos fluos. Hemorragia subretiniana (vermelho mais escuro do que as hemorragias retinianas) ao redor da lesão D – Filtro verde – Lesão escura correspondente à hemorragia subretiniana. Lesão esbranquiçada correspondente ao exsudado subretiniano Macroaneurisma arterial retiniano Consiste em dilatações arteriolares, ovalados ou arredondados. Habitualmente localizados no polo posterior. Ocorre mais comumente no sexo feminino. Tipicamente, são lesões unilaterais e solitárias. HTA sistémica associada em 50-70% dos casos. SINTOMAS: Assintomática, se não houver envolvimento foveal. Pode ocorrer escotoma, visão distorcida e desfocada, floaters. SINAIS: Localização habitual na 1ª divisão da bifurcação arterial. Usualmente temporal superior. Podem apresentar-se envolvidos por hemorragia ou exsudados circinados. 42 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho A B Fig. 2.31 MACROANEURISMA A e B – Retinografias – Hemorragias subretiniana extensa na foto A. Na foto B, macroaneurisma em fase de reabsorção, com exsudadosduros envolventes Fibras nervosas mielinizadas Tipicamente apresentam-se como espessamentos peripapilares branco-amarelados, da camada de fibras nervosas, com bordos fibrilares. Associação com coloboma do disco óptico. Ocasionalmente assumem uma grande dimensão, manifestando-se como leucocoria. SINAIS: Estrias esbranquiçadas em forma de plumas, na camada de fibras nervosas. A B Fig. 2.32 FIBRAS NERVOSAS MIELINIZADAS A – Retinografia – Lesão esbranquiçada, de bordosfluos B – Filtro verde – Lesão esbranquiçada na área correspondente Miopia patológica ou degenerativa A miopia patológica ou degenerativa caracteriza-se por um alongamento anteroposterior progressivo do globo ocular, excessivo, associado a anomalias secundárias de retina, coróide e disco óptico. SINTOMAS: Diminuição progressiva da acuidade visual, associada a alterações miópicas progressivas. SINAIS: Ectasia extensa da esclera origina a formação de estafiloma posterior. 43 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho Aparência tigroide do fundo ocular, resultado de adelgaçamento do EPR e coriocapilaris. Atrofia corioretinianaperipapilar, atrofia corioretiniana afectando o polo posterior, com visualização dos grandes vasos da coróide. A B Fig. 2.33 MIOPIA PATOLÓGICA OU DEGENERATIVA A – Retinografia – Placas esbranquiçadas, de atrofia corioretiniana, de bordos bem delimitados, dispersas no fundo ocular B – Filtro verde – Áreas cinzento-esbranquiçadas Papiledema É um edema do disco óptico, secundário a um aumento da pressão intracraniana. Habitualmente é bilateral e assimétrica. Deve considerar-se a existência duma massa intracraniana, até prova em contrário. Quatro formas clínicas: Precoce, estabelecido, crónico e atrófico. PRECOCE(não há alteração acuidade visual, papila hiperémica, bordos mal definidos). ESTABELECIDO (acuidade visual normal ou reduzida, papila óptica hiperémica, elevação moderada, bordos mal definidos, dilatação venosa, manchas algodonosas). CRÓNICO(acuidade visual variável, papila elevada, elevada em rolha champanhe, shunts opticociliares). A B 44 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho Fig. 2.34 PAPILEDEMA CRÓNICO A – Retinografia – Edema dapapila, bordos mal delimitados. Lesões esbranquiçadas na área elevada papilar testemunho da cronicidade do edema. B – Filtro verde – Edema do disco óptico. Bordos mal delimitados. Lesões esbranquiçadas peripapilar 8. COMPLICAÇÕES A maioria das complicações na R.D., além do edema da mácula, é consequente à fase de reacção e á fase vascular, onde podem surgir hemorragias por microaneurismas ou neovasos retino-vítreos. Entre as complicações mais frequentes citam-se: a maculopatia, o hemovítreo, o descolamento da retina, a rubeosis da íris e o glaucoma neovascular. O glaucoma de ângulo (de ângulo fechado e aberto) é mais frequente na diabetes. António Ramalho e col (1992), referem uma incidência de 4% de glaucomas em pacientes com R.D. A rubeosisiridens ocorre unicamente na R.D. proliferativa. António Ramalho e Col (1992) descrevem uma incidência de 1,4% na R.D. As hemorragias pré-retinianas são os derrames a partir dos neovasos e para o espaço retrohialoideu. As hemorragias intravítreas consistem numa colecção de sangue no gel vítreo. As hemorragias provenientes dos neovasos são secundárias a um descolamento parcial do vítreo. A B Fig. 2.35 EXSUDAÇÃO RETINIANA PROFUNDA E EXTENSA A – Retinografia – Lesões esbranquiçadas extensas resultado de leakage vascular acentuado, sem tratamento B – Filtro verde – lesões esbranquiçadas extensas 45 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho A B C E D F Fig. 2.36 HEMORRAGIA VÍTREA A, C e E – Retinografias – Diversos graus de hemorragia vítrea. B – Filtro verde – Lesão escura anterior, correspondente à hemorragia vítrea D e F – Angiografia fluoresceínica – Lesão de efeito máscara (escura) correspondente á hemorragia vítrea anterior. 46 Enciclopédia de Oftalmologia António Ramalho A C B D Fig. 2.37 HEMORRAGIA PRÉ-RETINIANA OU RETRO-HIALÓIDEIA A e C –Rretinografias – Colecção de sangue no espaço retro-hialóideu. B e D – Filtro verde – Lesões escuras correspondentes ás hemorragias pré-retinianas A B Fig. 2.38 PROLIFERAÇÃO FIBROSA VÍTREORETINIANA A e B – Retinografias – Lesões esbranquiçadas resultado de fibrose extensa vítreoretiniana 47