Cura da Aids: Mais próximos de uma geração livre da doença? Assunto: Atualidades, Biologia Eskinder Debebe/UN Photo O diretor do programa das Nações Unidas de combate à aids, Michel Sidibé, apresenta relatório sobre a situacão da doença no mundo. O anúncio de que uma criança havia sido curada do vírus do HIV foi comemorado como um avanço no tratamento de recém-nascidos infectados com a doença. A cura definitiva da Aids, porém, ainda deve demorar a ser descoberta. Direto ao ponto: Ficha-resumo Se os resultados forem confirmados, será o primeiro caso de cura “funcional” (quando o paciente apresenta remissão da doença após a suspensão dos medicamentos) de uma criança. Será ainda o segundo caso de cura da Aids documentado no mundo. O primeiro foi o de Timothy Ray Brown, um homem com leucemia que recebeu transplante de um doador geneticamente resistente à infecção. O bebê nascido na zona rural do Estado de Mississipi, nos Estados Unidos, recebeu doses maciças de antirretroviral apenas 30 horas após o nascimento, procedimento que usualmente é feito – e em dosagens menores – somente a partir dos quatro meses. A mãe, segundo a equipe médica, é portadora do vírus e não tomou medicação antirretroviral ou teve cuidados pré-natais que poderiam ter impedido o contágio. A criança (uma menina) continuou recebendo o tratamento até os 18 meses de vida, quando a família não foi mais ao hospital e a medicação foi suspensa. Cinco meses depois, ao realizar novos testes com amostras de sangue, os médicos constataram que a menina, hoje com dois anos e meio, não apresentava mais sinais da doença. Eles anunciaram o resultado no dia 3 de março. Seis laboratórios confirmaram os testes. Mesmo assim, a comunidade científica vê o caso com cautela, pois o trabalho não foi publicado e nem analisado por fontes independentes. É preciso ainda esperar para ver se novos testes confirmarão a inexistência de focos de infecção na menina. Os remédios, administrados de forma precoce, teriam evitado que o vírus se alojasse em reservatórios de células dormentes, que fazem com que a doença retorne com a interrupção do tratamento com antirretrovirais. Adultos Cientistas devem testar o mesmo tratamento em outras crianças para ver se funciona ou se foi apenas um caso isolado. Se der certo, o método poderá ser adotado mundialmente. Mas não há, segundo especialistas, indícios que apontem a mesma eficácia em adultos. Os remédios só Mas não há, segundo especialistas, indícios que apontem a mesma eficácia em adultos. Os remédios só deram certo porque foram administrados muito cedo e em grande quantidade. No caso de adultos, eles descobrem que são portadores tempos após a infecção, quando o vírus já se instaurou no organismo. O resultado também enfatiza, para a comunidade médica, a importância de pesquisas no campo do diagnóstico precoce. Dados mais recentes da ONU apontam que existiam 330 mil bebês infectados em 2011. Outras três milhões de crianças com idades inferiores aos 15 anos vivem com o vírus da Aids em todo o mundo. Ao todo, 34 milhões de pessoas convivem com o vírus no planeta, dos quais apenas metade foi diagnosticada, de acordo com a ONU. Mais de 25 milhões morreram em decorrência da moléstia nas últimas três décadas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, o último levantamento do Ministério da Saúde aponta 34,2 mil casos em 2010. Cura Aids (sigla em inglês para Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é o estágio final da doença causada pelo vírus HIV. Ela ataca o sistema imunológico, deixando o paciente vulnerável a outras doenças infecciosas e cânceres. O vírus é transmitido através do contato sexual, sangue (transfusão ou uso compartilhado de seringas) e, da mãe para o filho, na gravidez ou durante a amamentação. A partir dos anos 1990, a Aids se tornou uma doença tratável com medicamentos. Hoje não existe uma cura, mas há vários tipos de tratamentos que podem melhorar a qualidade de vida de pacientes que desenvolvem os sintomas. A terapia antirretroviral – melhor tratamento nos últimos 12 anos – fornece um coquetel de drogas que impede que o vírus se espalhe no corpo e ajuda o sistema imunológico a se recuperar da infecção. Pesquisas recentes, por outro lado, deixaram os cientistas mais otimistas com uma cura. Uma das abordagens envolvem drogas experimentais contra o câncer que enfraquecem o vírus HIV no interior da célula, tornando-o suscetível a ser combatido com uma vacina (que ainda não existe). Outro caminho foi aberto pelo anúncio da cura de Timothy Brown, em 2007, graças a uma mutação rara que torna o organismo imune ao vírus. Brown teve o sistema imunológico comprometido em um tratamento contra a leucemia e recebeu um transplante de células-tronco de um paciente que apresentava a mutação genética. Os estudos nessa área objetivam encontrar uma forma de produzir artificialmente essa mutação em pacientes soropositivos. José Renato Salatiel* Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação