Geração Navio Vs. Geração Submarino
Está cada vez mais comum encontrar pessoas que falam muito bem sobre
generalidades. Elas têm conhecimento sobre todos os assuntos do dia, desde a
queda da bolsa de valores, passando pelas mortes ocasionadas no trânsito e até
quanto custa uma viagem de turismo ao espaço. A internet, uma verdadeira
biblioteca virtual, traz as noticias em tempo real, deixando bem informado qualquer
cidadão durante todo o dia.
Acesso à informação não é mais privilégio de ninguém. Pobre, rico, criança, idoso,
homem, mulher, latino, europeu, estamos todos a um click das noticias,
entretenimento, jogos e o próprio trabalho.
Destaque para a geração digital. Ela é composta por jovens de até 17 anos, onde a
internet é a principal via para suas pesquisas, relacionamentos, comunicação,
estudos, namoros, partilhas e entretenimento. Cedo, pela manhã, já vasculharam
a rede, responderam e-mails, verificaram seus orkuts, assistiram ao ultimo vídeo
do Youtube, fizeram uma rápida busca no Google e se inscreveram no torneio
mundial de matemática a distancia. Tudo que acessam é de maneira rápida, onde
as chamadas são mais importantes que o conteúdo. É uma geração que tem uma
inegável visão de 360º da superfície. É o que chamo de geração navio!
Quem não faz parte desta geração, até os 17 anos pesquisou pela Barsa, se
comunicou por cartas, leu o jornal da banca, assistiu a filmes pela TV e participou
de torneios presenciais e brincou de carrinho ou boneca. Alguns, mais afortunados,
tiveram a oportunidade de trabalhar com a planilha Lótus 123. Lia-se todo o texto,
até o fim. Transcrevia-se à mão a pesquisa para um caderno, recortavam-se
artigos de jornais e revistas com a responsabilidade de debatê-los em sala de
aula. O acesso à informação era restrito, mas o conhecimento do contexto era
maior. Esses são parte da geração que tem uma inegável visão de profundidade. É
o que chamo de geração submarino!
E daí? Você deve estar pensando... E daí que, a geração digital, está começando
sua inserção no mercado de trabalho. São os profissionais da geração
“profundidade”, porém, que contratam. Uma gerente de RH me confidenciou que
durante as entrevistas uma pessoa da geração digital discorre com facilidade sobre
os acontecimentos do mundo inteiro. São versáteis, rápidos e decididos sobre o
que querem.
Porém, quando confrontados com perguntas sobre o contexto dos acontecimentos,
fazem cara de desentendidos ou dão respostas vagas sobre os assuntos. Essa
gerente disse ainda que eles têm dificuldade para analisar as informações e sofrem
com a necessidade de ter que iniciar em uma função que não esteja à altura deles.
Diante de tudo isso, acredito que no futuro, estas duas gerações entrarão em
conflito no ambiente de trabalho. Por um lado, a geração “submarino” . Ela, no
comando das empresas, exigindo analise detalhada do contexto para tomada de
decisões na empresa. E, por outro lado, a geração “navio”, impaciente e
acostumada a respostas na velocidade do Google, exigindo objetividade da
liderança das organizações.
Mas um fato novo está acontecendo a despeito de tudo isso. As empresas estão
chamando de volta muitos daqueles que foram considerados descartáveis: Os mais
velhos! Talvez a resposta não esteja na profundidade ou na superfície, mas na
sabedoria. A sabedoria é a visão de cima.
E daí? Você é submarino ou navio?
Alexandre Freire
Professor do FGV Management e consultor sênior do Instituto MVC
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