LIDERANÇA EM UMA SOCIEDADE EM TRANSFORMAÇÃO Conclusões do V Fórum Empresarial Liderança em uma Sociedade em Transformação Conclusões do V Fórum Empresarial RESPONSABILIDADE Michal Gartenkraut e Carlos M. Siffert COORDENAÇÃO EDITORIAL C. Adriano Silva PRODUÇÃO EDITORIAL E GRÁFICA Folie Comunicação Redação: Tarcisio Alves Edição: Marisa Meliani e Eder Santin Diagramação: Cátia Rodrigues Barroso e Edson Pazelo IMPRESSÃO Stilgraf - Tiragem: 1.000 exemplares REALIZAÇÃO Fundação Nacional da Qualidade Av. das Nações Unidas 11.857 6º andar cj 62 04578-000 São Paulo SP Brasil - Tel 11 5509 7708 Fax 11 5509 7730 www.fnq.org.br São Paulo, 2007 - COPYRIGHT© 2007, Fundação Nacional da Qualidade © DIREITOS RESERVADOS Proibida a reprodução total ou parcial desta publicação sem o prévio consentimento, por escrito, da FNQ. MISSÃO Disseminar os fundamentos da excelência em gestão para o aumento de competitividade das organizações e do Brasil. VISÃO Ser um dos principais centros mundiais de estudo, debate e irradiação de conhecimento sobre a excelência em gestão. | FNQ • Liderança em uma Sociedade em Transformação AGRADECIMENTOS Esta publicação é fruto de uma reflexão coletiva realizada durante o V Fórum Empresarial, abordando o tema abordou Liderança em uma Sociedade em Transformação. Realizado em junho de 2007, o Fórum reuniu conselheiros da FNQ, acadêmicos e executivos ligados ao universo corporativo, ao terceiro setor e aos programas e prêmios regionais e setoriais que estimulam o desenvolvimento da Excelência em Gestão no País. Planejado e coordenado por Luiz Ernesto Gemignani e Carlos M. Siffert, o evento serviu como plataforma para o aprofundamento do debate sobre o tema Liderança, que a FNQ elegeu para estudo no ano de 2007. A todos que contribuíram para a sua realização, expressamos os nossos agradecimentos. Aluysio Asti, superintendente da Área de Planejamento do BNDES. Clóvis de Barros Filho, professor de Filosofia da Comunicação e Ciência Política da Escola Superior de Propaganda e Marketing e de Ética da ECA/USP Liderança em uma Sociedade em Transformação • FNQ | Participantes do V Fórum Empresarial GOVERNANÇA FNQ Adilson Primo, Siemens Camila Sardenberg, Hospital Albert Einstein Carlos Assmann, Assmann Consultoria Claudio Mattos Zambrano, Gerdau Edson Musa, Caloi Eduardo Kazuo, Serasa Fábio Jorge Celeguim, Subwaylink Iêda Novais, Trevisan Irani Varella, Petrobras Laércio Albino, Bradesco Luiz Antonio Oselame, Fras-le Luiz Ernesto Gemignani, Promon Magda Silveira, Becton Dickinson Mauro Figueiredo, Fleury Murilo Passos, Suzano Ocimar Melloni, Masa da Amazônia Pedro Passos, Natura Roberto Zardo, Natura Rubens Approbato Filho, PQU Sidney Basile, Editora Abril Verner Dittmer, VerDi Consultoria Weber Porto, Degussa Wilson Ferreira Jr., CPFL REDE NACIONAL DA GESTÃO RUMO À EXCELÊNCIA Joal Teitelbaum, Prêmio Gaúcho da Qualidade e Produtividade José Ricardo Roriz, Prêmio Paulista de Qualidade em Gestão PARCEIROS E COLABORADORES Alexandre Sampaio Filho, Fundação Dom Cabral Carlos M. Siffert, Promon Emílio Martos, Instituto Ethos Joaquim Emanuel Santini, Comitê Critério de Excelência / Examinador do PNQ Paulo Veras, Endeavor Regina Pacheco, OMNI Ricardo Motta, Comitê Critério de Excelência / Examinador do PNQ FNQ Antonio Tadeu Pagliuso Carlos Benites Gomes Duvivier Guethi Junior Elton Brasil Michal Gartenkraut Sergio Queiroz | FNQ • Liderança em uma Sociedade em Transformação SUMÁRIO EXECUTIVO Esta publicação relata os principais resultados dos debates ocorridos durante o Fórum Empresarial de 2007, o quinto de uma série de eventos promovidos anualmente pela FNQ - Fundação Nacional da Qualidade, dedicados à reflexão sobre os Fundamentos da Excelência em Gestão à luz da rápida evolução do cenário em que vivem as organizações. Cada encontro representa um esforço coletivo e colaborativo de inovação conceitual, no sentido de garantir a modernidade e atualização dos alicerces do Modelo de Excelência da Gestão®, em linha com as melhores práticas adotadas pelas organizações no País e no mundo. Foi assim no IV Fórum, realizado em 2006, que colocou em debate as conseqüências práticas dos Novos Paradigmas que caracterizam o cenário atual de mudanças significativas, denominadas de Era de Incertezas e Contrastes, e concluiu com uma proposta bastante avançada de revisão dos Fundamentos da Excelência em Gestão. Em conseqüência, a FNQ implementou um processo de adaptação dos critérios, métodos e métricas inerentes ao Modelo de Excelência da Gestão® aos novos conceitos. Em 2007, visando ao aprofundamento das análises, a FNQ definiu como tema prioritário de estudos a Liderança – justamente um dos Conceitos Fundamentais da Excelência em Gestão. Em consonância com essa escolha, o V Fórum focou as discussões no papel desse importante fundamento no cenário dos Novos Paradigmas sob o lema Liderança em uma Sociedade em Transformação. O debate tomou por base os resultados de uma pesquisa inédita, especialmente encomendada para o Fórum, refletindo as opiniões de uma amostra relevante do mundo empresarial brasileiro sobre questões vinculadas ao papel da liderança nesse novo cenário. A abordagem da pesquisa abrangeu temas que vão da aderência dos executivos ao modelo de gestão decorrente dos novos paradigmas a suas visões sobre o perfil ideal e o papel da liderança em tempos de profundas transformações, assim como o estágio atual no ambiente das organizações brasileiras. Momento de transição, tema em rápida evolução: a conclusão do Fórum indica a necessidade da continuidade dos estudos. Como contribuição para estimular o debate, resultou uma série de questões relevantes, a requerer estudos mais aprofundados e a recomendação de esforços da FNQ no sentido da promoção de estudos e debates sobre o perfil do Líder do Século XXI e o seu papel no cenário em transição. Liderança em uma Sociedade em Transformação • FNQ | ÍNDICE FNQ: um Centro de Referência da Excelência em Gestão em constante Aperfeiçoamento I - INTRODUÇÃO II - LIDERANÇA: UMA VISÃO DAS ORGANIZAÇÕES BRASILEIRAS E RESULTADOS DE PESQUISA INÉDITA Áreas de Convergência e Divergência Perfil de Liderança Organizações vivem Momento de Transição 7 10 13 15 23 23 III. TEMAS PARA ESTUDO Desenvolvimento Profissional Desenvolvimento de Lideranças Organizações em Rede Sustentabilidade IV. CONCLUSÃO: A LIDERANÇA NO SÉCULO XXI X. ANEXO Questionário e Respostas da Pesquisa Liderança em uma Sociedade em Transformação | FNQ • Liderança em uma Sociedade em Transformação 24 24 26 28 30 FNQ: UM CENTRO DE REFERÊNCIA DA EXCELÊNCIA EM GESTÃO EM CONSTANTE APERFEIÇOAMENTO A FNQ - Fundação Nacional da Qualidade®, organização não-governamental fundada em 1991 com o objetivo de conceder o Prêmio Nacional da Qualidade® (PNQ), dedica-se, atualmente, a disseminar os Fundamentos da Excelência em Gestão, por meio da mobilização das organizações para a utilização do Modelo de Excelência da Gestão® (MEG). A FNQ acredita firmemente estar, assim, contribuindo de forma significativa para o aumento da competitividade das organizações e do Brasil. Na condição de reconhecida autoridade intelectual sobre a Excelência em Gestão, a FNQ é Centro de Referência sobre o tema e, para tanto, conta com um significativo diferencial: o engajamento de uma ampla rede de colaboradores: membros, parceiros e voluntários. Entre as atividades realizadas pela FNQ, uma das mais importantes são os Fóruns Empresariais, organizados anualmente com o intuito de debater, à luz da experiência das melhores práticas, os principais aspectos conceituais que fundamentam a abordagem metodológica adotada pela Fundação, propiciando assim a sua permanente atualização. Liderança em uma Sociedade em Transformação • FNQ | O IV Fórum Empresarial, realizado em 2006, abordou o tema A Excelência da Gestão numa Sociedade em Transformação e propôs uma discussão sobre os Fundamentos do Modelo de Excelência da Gestão® (MEG). Sob o pano de fundo da Era de Incertezas e Contrastes, o Fórum destacou 11 novos paradigmas mundiais, todos passando por um processo de reposicionamento conceitual: Novos Paradigmas De Para Ambiente Externo Estabilidade, mudança progressiva e linearidade Turbulência, descontinuidade e mudança exponencial Organizações Máquina como metáfora, sistema isolado e independente Sistema vivo, ecossistema, interdependência e adaptabilidade Sociedade e Meio ambiente Restrições sujeitas a considerações de custo/benefício Partes integrantes do ecossistema da organização Interação Competição, regionalidade e relacionamento utilitário Competição e cooperação, “globalidade” e relacionamento de qualidade Estrutura Pirâmide e integração vertical Redes e integração horizontal Percepção de Valor Avaliação objetiva de ativos tangíveis Avaliação subjetiva de ativos intangíveis Liderança Comando e controle, liderança centralizadora e restrita à organização Líder: mentor, focalizador e símbolo. Liderança distribuída e abrangente Inovação Localizada, tarefa de experts Cultural, distribuída e abrangendo o ecossistema Conhecimento Crescimento linear e acesso restrito Crescimento exponencial e acesso universal Aprendizado/ educação Função da escola e que se aprende uma vez para o resto da vida Função da escola e da organização. Aprendizado contínuo para toda a vida Tecnologia da Informação Automação. Mais tecnologia, menos pessoas Maior conteúdo intelectual e o trabalho é uma experiência mais rica e desafiadora | FNQ • Liderança em uma Sociedade em Transformação O Modelo de Excelência da Gestão® (MEG) está alicerçado em um conjunto de Conceitos Fundamentais, reconhecidos internacionalmente, e estruturado em Critérios e Requisitos, que expressam a síntese da compreensão sobre a Excelência em Gestão. Os Fundamentos da Excelência traduzem boas práticas e fatores de desempenho encontrados em organizações líderes de Classe Mundial, que constantemente buscam aperfeiçoar-se e adaptar-se às mudanças. Considerando o desafio do desenvolvimento sustentável, e percebendo o potencial transformador do fenômeno das Redes e dos Novos Paradigmas mundiais, a FNQ revisou os Fundamentos da Excelência, que podem ser encontrados na publicação Conceitos Fundamentais da Excelência em Gestão, produto do Fórum. A seguir, uma breve descrição. Fundamentos da Excelência EM GESTÃO Pensamento sistêmico Entendimento das relações de interdependência entre os diversos componentes de uma organização, bem como entre a organização e o ambiente externo. Aprendizado organizacional Busca e alcance de um novo patamar de conhecimento para a organização, por meio da percepção, reflexão, avaliação e compartilhamento de experiências. Cultura de inovação Promoção de um ambiente favorável à criatividade, experimentação e implementação de novas idéias que possam gerar um diferencial competitivo para a organização. Liderança e constância de propósitos Atuação de forma aberta, democrática, inspiradora e motivadora das pessoas, visando ao desenvolvimento da cultura da excelência, à promoção de relações de qualidade e à proteção dos interesses das partes interessadas. ORIENTAÇÃO POR PROCESSOS E INFORMAÇÕES Compreensão e segmentação do conjunto das atividades e processos da organização que agreguem valor para as partes interessadas, sendo que a tomada de decisões e a execução de ações devem ter como base a medição e a análise do desempenho, levando-se em consideração as informações disponíveis, além de incluir os riscos identificados. Visão de futuro Compreensão dos fatores que afetam a organização, seu ecossistema e o ambiente externo no curto e no longo prazos, visando sua perenização. Geração de valor Alcance de resultados consistentes, assegurando a perenidade da organização pelo aumento de valor tangível e intangível de forma sustentada para todas as partes interessadas. Valorização das pessoas Estabelecimento de relações com as pessoas, criando condições para que elas se realizem profissionalmente e humanamente, maximizando seu desempenho por meio do comprometimento, desenvolvimento de competências e espaço para empreender. Conhecimento sobre o cliente e o mercado Conhecimento e entendimento do cliente e do mercado, visando à criação de valor de forma sustentada para o cliente e, conseqüentemente, gerando maior competitividade nos mercados. Desenvolvimento de parcerias Desenvolvimento de atividades em conjunto com outras organizações, a partir da plena utilização das competências essenciais de cada uma, objetivando benefícios para ambas as partes. Responsabilidade Social Atuação que se define pela relação ética e transparente da organização com todos os públicos com os quais se relaciona, estando voltada para o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras; respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais como parte integrante da estratégia da organização. A publicação Conceitos Fundamentais da Excelência em Gestão está disponível para download gratuito no Portal FNQ - www.fnq.org.br Liderança em uma Sociedade em Transformação • FNQ | I. INTRODUÇÃO FNQ escolhe Liderança como tema de estudo em 2007 Os participantes do IV Fórum Empresarial obtiveram um significativo consenso a respeito dos Novos Paradigmas e seus impactos sobre as organizações. Com base nessas apreciações, a FNQ definiu Liderança em uma Sociedade em Transformação como tema prioritário de estudo para 2007. O conceito de Liderança foi escolhido porque, em um ambiente de negócios globalizado e sujeito a turbulências, a figura do líder emerge como essencial às organizações. Dessa forma, Liderança foi proposta como tema principal de debate no V Fórum Empresarial, realizado em junho de 2007. Como preparação para este evento, a FNQ encomendou uma Pesquisa especialmente desenhada para esse fim. Paralelamente à realização da Pesquisa, foram feitas entrevistas pessoais com executivos selecionados, cujo conteúdo serviu para enriquecer, e de certa forma validar, as análises dos resultados. A Pesquisa visou obter um amplo diagnóstico sobre o tratamento conferido pelas organizações brasileiras à questão da Liderança. Ao aderir à Pesquisa, essas organizações – de diferentes portes e tipos de negócios – contribuíram para o desenho de um painel até então inédito no País. 10 | FNQ • Liderança em uma Sociedade em Transformação Pesquisa envolve público diversificado, não necessariamente vinculado à FNQ O conteúdo da Pesquisa foi elaborado pela FNQ, que confiou sua execução à empresa Omni Marketing. A Pesquisa, realizada em maio de 2007 via Internet, teve alto nível de adesão. Em um prazo de apenas 15 dias, foram coletados 254 questionários de um total de 807. Compuseram a base de respondentes executivos das organizações associadas à FNQ; de empresas não-membros listadas entre as 200 Maiores e Melhores (Revista Exame) e de integrantes da comunidade FNQ (instrutores, examinadores e parceiros). Uma análise dos diversos componentes desse público propicia uma melhor observação da abrangência do estudo. O universo de entrevistados pode ser desagregado em três grandes grupos de executivos: • • • Em um primeiro agrupamento, encontram-se presidentes de organizações membros da FNQ; Em um segundo grupo, há executivos de empresas não-membros da FNQ; O terceiro grupo, ligado à FNQ, apresenta alto grau de conhecimento do Modelo de Excelência da Gestão® (MEG): consultores, gerentes e coordenadores da área da Qualidade de suas empresas (na maioria, engenheiros e administradores). De modo a tornar os resultados mais representativos, as respostas foram ponderadas de acordo com a composição dos públicos envolvidos, como mostra o quadro a seguir: Públicos da Pesquisa Executivos Universo Qtde. / % Total Amostra Qtde. / % Comunidade de relacionamento 246 30% 145 57% Membros* 282 35% 75 30% Outras empresas* 279 35% 34 13% Total 807 100% 254 100% Entre esses dois subgrupos de respondentes (membros e outras empresas), foi feita uma seleção para a formação do chamado Grupo Benchmark*, composto por 21 organizações, com base nos seguintes critérios: • Terem sido finalistas ou vencedoras do Prêmio Nacional da Qualidade ou; • Figurarem entre as dez primeiras posições nas publicações Maiores e Melhores, Melhores Empresas para Trabalhar e Guia da Cidadania Corporativa. Complementando a pesquisa, feita via internet, foram realizadas entrevistas individuais com líderes de empresas benchmark. Ao longo desta publicação estão destacados trechos de depoimentos e reflexões colhidos nessas entrevistas. * É importante ressaltar que o Grupo Benchmark (GB) faz parte do Total da Amostra (TA). Liderança em uma Sociedade em Transformação • FNQ | 11 Quando atingimos um nível, já há outro a buscar “Sempre houve turbulências e descontinuidades no mercado e na economia. Elas aumentam e diminuem dentro de ciclos, e as empresas têm que se adaptar ou não sobrevivem. Não é algo novo, sempre existiu. Mas a globalização trouxe com toda a força a necessidade de interação entre os diversos sistemas. Não há mais fronteiras. Gosto disso. Acredito que manter relacionamentos duradouros traz enormes ganhos. Dentro desse contexto, uma atuação sustentável deve ser a base das políticas das empresas. Cada vez mais, a sociedade se conscientiza e cobra das organizações uma conduta que respeite o meio ambiente e o desenvolvimento da sociedade. Gosto muito do conceito de benchmark, pois acho que, quando atingimos um nível, já há outro a buscar, e assim se consegue mais qualidade. Entendo que há o desafio de aliar e multiplicar boas práticas de trabalho em equipe, diálogo em todos os níveis. Como as pessoas são o principal capital de uma empresa, as lideranças podem estar em qualquer nível e têm a capacidade de promover a transformação e evolução de uma organização. Isso se faz com colaboradores motivados por desafios e oportunidades.” Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do Conselho de Administração da Gerdau Partindo dos Novos Paradigmas, passando pelo Modelo de Gestão, estudo identifica os Perfis de Liderança O questionário da Pesquisa foi organizado em quatro blocos de questões: Perfil da Organização, Novos Paradigmas, Modelo de Gestão e Perfil de Liderança. O primeiro bloco da Pesquisa, relativo ao Perfil da Organização, classifica-a por atividade, porte e tipo de negócio. É interessante notar que houve predominância de organizações de grande porte (52%), de capital fechado (49%) e das dedicadas à prestação de serviços (53%). Esse último dado adere ao perfil do PIB nacional, no qual os serviços representam mais de 50% do total2. Os blocos relativos a Novos Paradigmas e a Modelo de Gestão tinham como objetivo aquilatar o nível de adesão dos respondentes aos Novos Paradigmas que emergiram do IV Fórum Empresarial e, ainda, ao Modelo de Excelência da Gestão® (MEG) adotado pela FNQ. Ao configurar dessa forma o atual quadro nas organizações brasileiras, seria assim possível situar melhor as respostas sobre Perfis de Liderança. Em relação aos Novos Paradigmas, foram apresentadas questões visando testar o nível de concordância dos respondentes com esta nova visão do ambiente externo e sua avaliação sobre o impacto que tais mudanças têm e terão nas suas organizações. Para a elaboração desse tópico, foram aproveitados dez dos 11 novos paradigmas mundiais discutidos no IV Fórum Empresarial da FNQ. O paradigma Liderança foi, naturalmente, tratado de forma especial, por ser justamente o objeto central da Pesquisa. O bloco das questões referentes ao Modelo de Gestão foi elaborado visando testar, com base nos critérios do Modelo de Excelência da Gestão® (MEG), o nível de concordância dos respondentes e sua avaliação quanto ao estágio de desenvolvimento e disseminação de cada prática na organização. Em Perfil de Liderança, os atributos dos líderes foram enunciados – sem que os respondentes soubessem a que modelo conceitual de liderança pertenciam –, solicitando-se aos respondentes que os ordenassem segundo sua importância, visando à construção de um Modelo de Gestão. E, em seguida, foi pedido que avaliassem o estágio de desenvolvimento e disseminação de cada atributo entre as lideranças da organização. 2 Para obter mais detalhes sobre a amostra, consulte o ANEXO. 12 | FNQ • Liderança em uma Sociedade em Transformação II. LIDERANÇA: UMA VISÃO DAS ORGANIZAÇÕES BRASILEIRAS Três conclusões principais fornecem embasamento ao debate no Fórum Com a apresentação dos resultados da Pesquisa, os participantes do V Fórum Empresarial tinham um subsídio inédito e consistente para enriquecer os debates acerca de Liderança em uma Sociedade em Transformação. Vale ressaltar que os participantes do Fórum não pertenciam à massa de respondentes do Estudo. Realizado entre os dias 21 e 23 de junho, no Hotel Fazenda Dona Carolina, em Itatiba, no interior de São Paulo, o Fórum reuniu membros do Conselho da FNQ e executivos ligados à academia, ao universo corporativo, ao terceiro setor e aos programas e prêmios regionais e setoriais que estimulam 3 o desenvolvimento da Excelência em Gestão no País . Uma análise geral dos resultados da Pesquisa FNQ apontou para três conclusões principais, de acordo com os pontos nevrálgicos do levantamento: 1) Elevado nível de concordância com relação aos Novos Paradigmas. 3 Veja a lista completa dos participantes do V Fórum Empresarial na seção Agradecimentos, no início desta publicação. Liderança em uma Sociedade em Transformação • FNQ | 13 2) No que diz respeito ao Modelo de Gestão, na visão dos respondentes, o item Liderança (Desenvolvimento da Governança, de Lideranças e da Cultura da Excelência) encabeça a lista das quatro práticas mais importantes, confirmando o acerto da escolha, pela FNQ, do tema central de estudo em 2007. Outro item que recebe grande destaque é o de Pessoas (Atração, Desenvolvimento, Motivação e Valorização das Pessoas). 3) Finalmente, com relação ao Perfil de Liderança, há uma distribuição entre diferentes atributos. 14 | FNQ • Liderança em uma Sociedade em Transformação III. ANÁLISE DOS RESULTADOS Convergência expressiva, apesar de alguns GAPS Se um primeiro olhar sobre os resultados suscita três conclusões principais, agora é o momento de observar mais atentamente cada uma delas, não apenas intrinsecamente, mas em relação, principalmente, à aplicação das conceituações. De fato, a Pesquisa propicia uma série de interessantes cruzamentos de dados, por meio dos quais foram identificadas algumas aparentes inconsistências. Essas observações constituíram a base conceitual das questões apresentadas para debate no V Fórum, tratadas por grupos de estudo organizados com essa finalidade. Antes, porém, convém ressaltar os pontos em que houve maior concordância entre os respondentes de ambos os grupos. Em Novos Paradigmas 1. A vida é um encadeamento de relações. Desenvolver relações de qualidade é essencial para as organizações; 2. Aprendizado tornou-se uma função também das organizações; 3. Organizações são sistemas vivos. Fazem parte de ecossistemas complexos, com os quais interagem e dos quais dependem; 4. Sustentabilidade é elemento essencial da estratégia das organizações; 5. Ativos intangíveis têm cada vez mais valor. Em Modelo de Gestão 1. Desenvolvimento da liderança, governança e da cultura da excelência; 2. Atração, desenvolvimento, motivação e valorização das pessoas. Podemos reunir estas afirmativas em dois grupos: Um que se refere a pessoas: • Aprendizado tornou-se uma função também das organizações; • Ativos intangíveis têm cada vez mais valor; • Desenvolvimento da liderança, governança e da cultura da excelência; • Atração, desenvolvimento, motivação e valorização das pessoas. Outro que se refere a organizações - do ponto de vista de relações e interações: • A vida é um encadeamento de relações; • Organizações são sistemas vivos; • Sustentabilidade é elemento essencial da estratégia das organizações. Liderança em uma Sociedade em Transformação • FNQ | 15 Vamos considerar, primeiro, as afirmativas relacionadas a pessoas, divididas em dois tópicos: Desenvolvimento Profissional • • Aprendizado tornou-se uma função também das organizações; Ativos intangíveis têm cada vez mais valor. Desenvolvimento de Lideranças • • Desenvolvimento da liderança, governança e da cultura da excelência; Atração, desenvolvimento, motivação e valorização das pessoas. “A educação e o aprendizado deixam de ser algo que ocorre apenas nas escolas e se tornam um processo permanente, renovado continuamente ao longo da vida. A educação também não pode ficar separada do local de trabalho, cabendo às organizações aprender e ensinar.” De acordo com estimativas recentes, o conhecimento (baseado em disciplinas, publicado, reconhecido internacionalmente) dobra a cada cinco anos; no ano 2020, dobrará a cada 73 dias. O acesso ao conhecimento, restrito até há pouco tempo, torna-se cada vez mais fácil e universal. “O sucesso das organizações depende cada vez mais das oportunidades de aprendizado das pessoas que as integram e de um ambiente favorável ao desenvolvimento de suas potencialidades.” “Valorizar pessoas significa assegurar seu desenvolvimento, bem-estar e satisfação, criando práticas mais flexíveis e produtivas para atrair e reter talentos, bem como um clima organizacional participativo e agradável, que propicie um alto desempenho pessoal e organizacional.” FNQ - Conceitos Fundamentais da Excelência em Gestão, 2006 16 | FNQ • Liderança em uma Sociedade em Transformação Se é verdade que os ativos intangíveis (dos quais o principal é o conhecimento) são cada vez mais valiosos e que o aprendizado se tornou uma função também das organizações, então o papel de mentor (que cuida do desenvolvimento profissional e humano de suas equipes) deve ser relevante nas organizações atuais. No entanto, quando analisamos as respostas do Perfil de Liderança, vemos que: • No Total da Amostra, apenas 23% dos respondentes consideraram mentor como uma das três principais atribuições do líder; no ranking de importância, vem em 8º lugar, do total de 11; em termos de estágio de desenvolvimento, está em 10º lugar no ranking, com 40% em relação ao ideal; • No Grupo Benchmark, apenas 19% dos respondentes consideraram mentor como uma das três principais atribuições do líder; no ranking de importância, vem em 6º lugar, em 11; em termos de estágio de desenvolvimento, está em 7º lugar no ranking, com 56% em relação ao ideal. ‘Cuidar do desenvolvimento profissional e humano de suas equipes’ (função de mentor) foi considerado um gap nos perfis de liderança relatados, tanto para a Amostra como um todo como para o Grupo Benchmark. Por isso, foi proposto como Tema para Estudo de Grupo durante o V Fórum, sob o título de Desenvolvimento Profissional. Nossa preocupação com os valores intangíveis é genuína “Antes, as empresas escolhiam as pessoas. Hoje, as pessoas escolhem as empresas. Alguns jovens bem formados não aceitam trabalhar em uma empresa ou porque ela não é ambientalmente responsável ou não cultiva valores éticos. Um dado importante é perceber que o Brasil avançou muito na busca da excelência em gestão, pois a nossa preocupação com os valores intangíveis é genuína. Os americanos, hoje, falam muito de diversity. Ou seja, através da metodologia, eles perceberam que é preciso misturar culturas e, com isso, vêem o aparecimento de uma liderança completamente diferente da tradicional. Isso acaba enriquecendo e criando oportunidades de aprendizado para quem vem de países emergentes ou com empresas menos desenvolvidas no âmbito global. E os brasileiros são muito requisitados, justamente por possuírem esse toque de mais emoção, adaptação, flexibilidade. Os brasileiros e a liderança brasileira são pouco resistentes à mudança. Gostam de novidades. Fazer mudanças nas empresas brasileiras é menos penoso do que em qualquer outra empresa fora do Brasil”. José Carlos Grubisich, presidente da Braskem Liderança em uma Sociedade em Transformação • FNQ | 17 “A liderança não se limita mais às funções tradicionais de planejar, organizar, comandar, coordenar e controlar. Hoje, são reconhecidos outros papéis como os de mentor, guardião da cultura e dos valores da organização, promotor de relações de qualidade com pessoas, clientes, parceiros, fornecedores e concorrentes, e defensor de ações ambiental e socialmente responsáveis. A liderança se exerce em toda a organização e, muitas vezes, transcende suas fronteiras.” FNQ - Conceitos Fundamentais da Excelência em Gestão, 2006 Ainda com relação a pessoas, considerando o alto grau de concordância com relação às proposições: “desenvolvimento da liderança, governança e da cultura da excelência” e “atração, desenvolvimento, motivação e valorização das pessoas”, decorreria que a função de “estimular para que novas lideranças brotem das raízes” deveria estar entre as principais de um líder. A análise das respostas relativas a este item indica, porém, que: • No Total da Amostra, apenas 22% dos respondentes consideraram desenvolvimento de lideranças como uma das três principais atribuições do líder; no ranking de importância, vem em 9º lugar em 11; em termos de estágio de desenvolvimento, está em último lugar do ranking, com 36% em relação ao ideal; • No Grupo Benchmark, 38% dos respondentes consideraram desenvolvimento de lideranças como uma das três principais atribuições do líder; no ranking de importância, vem em 6º lugar em 11; em termos de estágio de desenvolvimento, está em último lugar do ranking, com 48% em relação ao ideal. ‘Estimular para que novas lideranças brotem das raízes’ foi considerado um gap nos perfis de liderança encontrados, tanto para a Amostra como um todo como para o Grupo Benchmark. Por isso, foi proposto como Tema para Estudo de Grupo durante o V Fórum, sob o título de Desenvolvimento de Lideranças. 18 | FNQ • Liderança em uma Sociedade em Transformação “O cenário que se desenha, neste início do século XXI, aponta para uma completa revolução organizacional, no sentido de que as organizações estão operando cada vez mais como redes dinâmicas e abertas. As redes são viabilizadas pela complementaridade de múltiplas atividades e pela comunhão de valores e princípios. Em seu conjunto, constituem verdadeiros ecossistemas em que seus integrantes, cientes de sua interdependência, investem também significativamente na qualidade de suas relações.” “Estruturando-se em redes, as organizações estão cada vez mais interligadas e interdependentes. No lugar das estruturas piramidais, baseadas no modelo de comando e controle, surgem estruturas mais horizontais e intrincadamente entrelaçadas, ligando parceiros, colaboradores, contratados, fornecedores e clientes, em várias formas de colaboração.” FNQ - Conceitos Fundamentais da Excelência em Gestão, 2006 Vejamos, agora, as proposições relativas a Organizações - Relações, Interações. Novamente, partindo da elevada concordância com relação às proposições: “A vida é um encadeamento de relações. Desenvolver relações de qualidade é essencial para as organizações.” “Organizações são sistemas vivos. Fazem parte de ecossistemas complexos, com os quais interagem e dos quais dependem.” Seríamos levados a concluir que haveria também grande concordância com as seguintes proposições: A - Há grande efetividade em redes dinâmicas e abertas, de grande conectividade (Novos Paradigmas). Vejamos as respostas: • No Total da Amostra, embora o nível de concordância tenha sido alto (49+38=87%), o impacto sobre as organizações dos respondentes está em 10º e último lugar no ranking - apenas 41% consideraram que o impacto seria forte; • No Grupo Benchmark, exatamente o mesmo quadro se apresenta, com diferenças de intensidade: total de concordância 96% e avaliação de impacto forte sobre suas organizações 48%; a posição relativa no ranking é a mesma - último. Liderança em uma Sociedade em Transformação • FNQ | 19 Vamos às respostas: • No Total da Amostra, apenas 11% dos respondentes a incluíram entre as práticas mais importantes - está em último lugar no ranking de importância; quanto ao estágio de desenvolvimento, também está em último lugar no ranking - apenas 31% dos respondentes consideram suas empresas bem desenvolvidas neste aspecto; • No Grupo Benchmark, o quadro é o mesmo: apenas 14% dos respondentes a incluíram entre as práticas mais importantes - está em último lugar no ranking de importância; quanto ao estágio de desenvolvimento, também está em último lugar no ranking - 58% dos respondentes consideram suas empresas bem desenvolvidas neste aspecto. Os resultados das duas proposições que acabamos de analisar: “Há grande efetividade em redes dinâmicas e abertas, de grande conectividade” e “Desenvolvimento e dinamização de rede global de rede de fornecedores e parceiros” foram considerados incongruentes em relação a outras constatações da própria Pesquisa, como vimos, e reunidos sob o título Organizações em Rede. Também foram propostos como Tema para Estudo de Grupo durante o V Fórum. “Na visão de organizações como sistemas vivos e interdependentes, a sociedade e o meio ambiente deixam de ser vistos como limites à sua atuação. São dimensões do ecossistema em que as organizações estão inseridas e, portanto, partes integrantes de sua existência e de sua estratégia.” FNQ - Conceitos Fundamentais de Excelência em Gestão - 2006 Finalmente, consideramos a proposição: Sustentabilidade é elemento essencial na estratégia das Organizações (Novos Paradigmas). Dado o elevado grau de concordância (Total da Amostra 81+17=98; Grupo Benchmark = 100%), seria de se esperar que houvesse um nível de concordância compatível em: A - Sustentabilidade é elemento essencial na estratégia das Organizações avaliação do impacto desta necessidade sobre as organizações dos respondentes. No Total da Amostra, a avaliação de impacto forte foi de 47% - 10º lugar em 11 no ranking. No Grupo Benchmark, a avaliação de impacto forte foi de 71% - 8º lugar em 11 no ranking. 20 | FNQ • Liderança em uma Sociedade em Transformação B - Incorporação de requisitos socioambientais na estratégia e na cultura da organização (Modelo de Gestão). No Total da Amostra, apenas 12% dos respondentes incluíram esta prática entre as três mais importantes - 8º lugar em 9, no ranking de importância. Quanto ao estágio de desenvolvimento de suas organizações, apenas 37% as consideraram bem desenvolvidas, também 8º no ranking. No Grupo Benchmark, apenas 10% dos respondentes incluíram esta prática entre as três mais importantes - último lugar no ranking de importância. Quanto ao estágio de desenvolvimento de suas organizações, 67% as consideraram bem desenvolvidas, 7º de 9 no ranking. Os resultados da Pesquisa para as duas proposições que acabamos de analisar: “Sustentabilidade é elemento essencial na estratégia das organizações.” (Novos Paradigmas - Impacto sobre as organizações dos respondentes) e “Incorporação de requisitos socioambientais na estratégia e na cultura da organização” (Modelo de Gestão) mostram inconsistência com os resultados observados para as mesmas proposições quanto à sua importância para a organização do respondente. Esses impactos foram transformados em proposta para Temas para Estudo de Grupo, sob o título de Sustentabilidade Socioambiental. Liderança em uma Sociedade em Transformação • FNQ | 21 Perfil de Liderança A parte mais importante da Pesquisa, do ponto de vista do tema central, trouxe como resultado um mix em que predominam atributos de três diferentes modelos de Liderança, relacionados a - mas não necessariamente exclusivos de - determinados períodos históricos, incluindo o mais atual. Ao optar pelas características que lhes pareciam mais relevantes, os respondentes construíram esse mix naturalmente, já que as tais características não estavam agrupadas por modelo, e sim propositalmente diluídas, por assim dizer, nas perguntas. Havia margem para que se fizesse uma livre associação tanto por atributos semelhantes quanto por atributos díspares, e prevaleceu esta última forma de combinação. Relevante notar que resultados diferentes foram produzidos no Grupo Benchmark e no Total da Amostra. Segue, a título de referência para a análise, a descrição de cada um dos modelos de liderança utilizados na elaboração do questionário: Modelo I (Fayol, 1915) Também conhecido como POCCC (Planejar, Organizar, Comandar, Coordenar e Controlar), este modelo parte da metáfora de organizações como máquinas. Nelas, o líder conduz o processo de planejamento, estabelecendo metas para o futuro, delega responsabilidades pela execução dos planos e exerce controle, identificando desvios e tomando medidas corretivas. Modelo II (Gestão da Mudança, 1980) É o modelo que defende o chamado “líder visionário”. Segundo esse modelo, o líder cria uma visão de futuro, definindo a direção e as estratégias para as mudanças necessárias. É função, ainda, do líder visionário alinhar as pessoas, promovendo coalizões, além de motivá-las e inspirá-las, mantendo a direção, apesar de grandes obstáculos. Modelo III (Sistemas Vivos, 2000) Neste modelo, as organizações são vistas como sistemas vivos. Seus líderes funcionam como símbolos unificadores, articulam suas metas, incorporam seu significado. São catalisadores, ou seja, fazem as coisas acontecerem mais rapidamente e de forma mais fácil. São mentores de suas equipes, cuidando de seu desenvolvimento profissional e humano. Estimulam o surgimento de novas lideranças nas raízes da organização. Buscam desenvolver relações de cooperação e confiança com seus pares e stakeholders. 22 | FNQ • Liderança em uma Sociedade em Transformação Um líder inspirador “Em nossa sociedade, qualquer movimento tem impacto forte. Há milhares de variáveis que influenciam a vida de uma empresa e que nos fazem sobreviver ou morrer. Precisamos ser hábeis nas transformações, na modernização e na gestão. A liderança precisa ser rápida, ativa e flexível, pois qualquer evento pode nos colocar numa posição muito delicada. Necessitamos de uma boa governança, de cultura da excelência, de pessoas motivadas, treinadas, integradas ao ambiente e comprometidas. O restante é uma conseqüência. Esse processo está ligado à liderança e às pessoas. Também não se pode dizer que a empresa é benchmark, pois o processo nunca está pronto, sempre há possibilidades de melhorias. Precisamos de um líder inspirador, que trabalhe com a equipe na definição de metas. O líder precisa fazer com que a equipe acredite nele e siga a sua orientação, mas com liberdade de questionar e disposição para ajudá-lo a encontrar o caminho certo. Isso é o mais difícil: transformar a maior parte da organização em uma empresa ágil. Apesar de complexo, este é um dos pontos em que o Brasil está levando vantagem. Os líderes empresariais brasileiros são mais flexíveis, talvez pelas próprias variações na nossa economia nos últimos anos”. Murilo Passos, membro do Conselho de Administração da Suzano Papel e Celulose Organizações vivem momento de transição O Perfil de Liderança que emergiu da Pesquisa nos dá conta de que as organizações brasileiras vivem um momento de transição: parte-se de uma combinação dos Modelos II e I (no caso do Total da Amostra) para uma combinação entre os Modelos II e III (Grupo Benchmark). Ou seja, nos dois casos predomina o Modelo II, embora seguido por modelos completamente distintos. O quadro a seguir descreve essas situações. As três primeiras afirmações referem-se ao Modelo I, as três seguintes ao Modelo II e as cinco restantes ao Modelo III. Observe que o pico das curvas de importância no Total da Amostra e no Grupo Benchmark se dá no Modelo II, sobretudo no conceito de que o líder deve “criar visão de futuro”. Mas as organizações do Grupo Benchmark enfatizam as características do Modelo III, com nível mais alto de adesão aos cinco conceitos finais – inclusive quanto a “estimular novas lideranças”. A liderança deve alinhar pessoas e estratégias “A liderança deve motivar pessoas, prepará-las e desenvolvê-las para alinhá-las aos planos e estratégias que essa liderança produz. Tem que ter os olhos postos no futuro, mas fazendo a mais criteriosa leitura dos cenários. Há empresas que se perdem ao valorizar em demasia o impacto das turbulências. A cada fato novo, mudam de direção e acabam por perder o rumo. Devemos olhar as transformações do mundo e procurar entendê-las a partir de um período maior de observação. As organizações mais bem-sucedidas são aquelas que sabem formular bem seus planos e suas estratégias para médio prazo. Ao fazer a leitura adequada do cenário, elas sabem estabelecer aonde devem ir e onde se posicionar no futuro. Para isso, é muito importante conhecimento, informação e aprendizado da própria organização. Cada vez mais, a organização pertence a uma rede. Com os novos processos de produção, de conhecimento, de mercado, somos todos elos de um negócio gigantesco e global. O Sebrae, por exemplo, trabalha hoje com mais de 5 mil organizações parceiras. É uma rede imensa. Em termos de formulação e acompanhamento de objetivos estratégicos e planos, e em termos de gestão de recursos públicos, o Sebrae é benchmark no Brasil, embora não seja uma empresa de gestão pública.” Luiz Carlos Barboza, diretor técnico do Sebrae Liderança em uma Sociedade em Transformação • FNQ | 23 III. TEMAS PARA ESTUDO Os apontamentos demonstrados pela Pesquisa no que diz respeito às aparentes incoerências sugeriram temas de estudo para o Fórum. Foram formados quatro grupos que, diante de questões colocadas, fizeram uma análise pós-expositiva do material. Seguem as suas principais conclusões. Grupo 1 Desenvolvimento Profissional Questões propostas Houve grande convergência na Pesquisa em torno dos tópicos: • Os ativos intangíveis têm cada vez mais valor e • O aprendizado tornou-se também função das organizações O atributo “Cuidar do desenvolvimento profissional e humano de suas equipes” foi, no entanto, considerado um gap nos perfis de liderança relatados tanto para a Amostra como um todo como para o Grupo Benchmark (Item III acima). A que fatores devemos atribuir esta incongruência? Como deveriam os líderes agir, caso encontrassem esta situação em suas empresas? Respostas do grupo O grupo fez algumas observações bastante pertinentes a respeito. Partiu do princípio de que a gestão de pessoas é um tema estratégico e, portanto, deve fazer parte da estratégia da organização. Tendo em vista que a gestão de pessoas é um papel indelegável do líder, ele precisa acompanhá-las de perto, de modo a verificar como elas podem trazer resultados para a empresa. Tendo pessoas certas nos lugares certos, haverá um refinamento contínuo e o comprometimento com a organização. Foram apontados, então, quais seriam os principais papéis do líder no desenvolvimento de pessoas. A começar, ele precisa ser um projetista ou construtor de cenários, tendo em mente a necessidade constante de fazer projeções. A figura do mentor ou professor também foi apontada pelo grupo, que ressaltou a importância da sabedoria e da credibilidade para transmitir fundamentos aos liderados e cuidar do desenvolvimento profissional e humano de suas equipes. Aprofundando esse conceito, o líder seria uma espécie de regente, ou seja: tem equipes para reger, como um maestro rege seus músicos. 24 | FNQ • Liderança em uma Sociedade em Transformação Ao mesmo tempo, o grupo sublinhou que o líder deve exercer também o papel de mensurador da efetividade das ações de desenvolvimento. Em outras palavras, deve agir dentro da perspectiva de que um dos fatores-chave para a vantagem competitiva é aprender antes e melhor que a concorrência. Deve ser, por isso, reforçador da cultura de aprendizagem, para que se tenha uma cultura de alta performance. Na manutenção dessa cultura, por sua vez, é necessário focar o “ser” com competências para a empresa, tendo em vista os seguintes pilares: Ter foco no Talento (Target) Ser Mentor (Mentoring) Monitorar seus pupilos (Monitoring) Atrair e reter Talentos (Talent Pull) O líder precisa ser bem resolvido “Nos tempos atuais, o processo de mudanças nunca termina e, para lidar com isso, precisamos atuar nas zonas de conforto das pessoas, suas crenças e acomodações. O bom líder busca o equilíbrio, é bem resolvido consigo mesmo, sabe lidar com o processo de crescimento pessoal de cada indivíduo da organização. Sabe que alinhar equipes é fundamental, e que elas são compostas de pessoas que vivem momentos de vida completamente diferentes. Não existe uma homogeneização na organização. Por outro lado, isso traz a diversidade e novas perspectivas para entender o mercado, os clientes, a missão pela frente. O líder, hoje, é requerido exatamente para criar um link de coesão, preservando a diversidade e, ao mesmo tempo, encontrando um elo comum, uma identidade com o objetivo da corporação. Além de desenvolver sagacidade para alinhar esses pontos, é preciso se preparar para enfrentar os fatores externos, que fogem do nosso controle. Fazendo uma analogia com um veículo, é necessário estar – se não for possível na direção – pelo menos no banco da frente, sendo co-piloto no processo. Não podemos ficar à mercê dos acontecimentos. Diante disso tudo, ou pensamos em um padrão de excelência ou seremos apenas passageiros da transformação.” Geraldo Quevedo Barbosa Junior, presidente da Becton Dickinson Liderança em uma Sociedade em Transformação • FNQ | 25 Grupo 2 Desenvolvimento de lideranças Questões Propostas O exercício da liderança se tornou mais demandante e complexo hoje em dia. Por outro lado, com o reconhecimento de que organizações são sistemas vivos que operam em redes dinâmicas e abertas em seus ecossistemas, o exercício da liderança tornou-se também mais difundido e amplo – a liderança está distribuída ao longo de toda a organização e, por vezes, extrapola suas fronteiras. A Pesquisa nos mostra que o desenvolvimento da governança, de lideranças e da cultura da excelência é o aspecto a que os respondentes atribuem maior importância no Modelo de Gestão. Já a atribuição ‘Estimular para que novas lideranças brotem das raízes’ foi considerada um gap nos perfis de liderança relatados, tanto para a Amostra como um todo como para o Grupo Benchmark (Item III). • • Que fatores poderiam explicar essa distância e essa inconsistência? Como podem as lideranças superá-las? Catalisador de atividades “Teremos sucesso à medida que houver um time realmente de excelência. Se tivermos os melhores do mercado, teremos uma vantagem competitiva brutal. O capital intelectual é absolutamente um dos fatores mais importantes da organização. Na Siemens, governança, liderança e cultura de excelência estão entre os temas principais. A liderança, em uma empresa, é um fator preponderante, catalisador de atividades, que permite a essa empresa ser a número um da sua área de atuação. Ou seja, a liderança é fundamental na definição da estratégia, na inspiração, na busca de excelência na organização. De um lado, temos um ambiente mais complexo, que exige um líder com formação muito mais sólida do que no passado; de outro, temos um grande facilitador que é o conhecimento, hoje acessível, em tese, a qualquer um”. Adilson Primo, presidente da Siemens no Brasil 26 | FNQ • Liderança em uma Sociedade em Transformação Respostas do Grupo Em linhas gerais, o grupo colocou que a empresa precisa ter claro o tipo de líder que quer. Porém, independentemente disso, o ambiente organizacional deve ser propício ao surgimento de novos líderes, mediante um processo de identificação e treinamento de pessoas. O grupo lembrou ainda que a ética deve permear as ações na organização, de maneira que os valores nunca sejam abdicados em favor dos resultados – e o líder deve estar ciente disso em relação a ele e às equipes que comanda. Uma vez que a questão era, na verdade, dupla, o grupo dividiu suas explanações em duas frentes de abordagem: a)Por que esse é um papel importante, mas não está com nível de implementação alto? b) Como os líderes podem atuar para formar novos líderes? Com relação à primeira frente, o grupo alertou para o risco de o líder se considerar “perene” e não planejar sua sucessão. Talvez isso seja fruto do seu próprio ofício, uma vez que, não raro, o líder é cobrado por resultados de curto prazo. Portanto, prioriza ações de impacto imediato, sem dedicar maior atenção a problemas de longo prazo, como, por exemplo, planejar a sua sucessão. Paralelamente a essa colocação, o grupo lembrou que o “sistema” não cobra a formação dos líderes, o que corrobora o baixo nível de implementação. Para encerrar a abordagem dessa primeira parte, o grupo sugeriu que se reveja o processo de avaliação dos colaboradores, uma vez que eles são admitidos e gerenciados pelo conhecimento e pela habilidade técnica, em vez de ser mensurados pelo “como” fazem. No que diz respeito à segunda frente de abordagem, dada a complexidade do tema, o grupo fez uma série mais extensa de considerações. A primeira delas observa que o líder deve ser o modelo para os liderados. Nesse sentido, é necessário ter na organização um modelo claro do líder ideal, descrito com base em características. O ambiente organizacional tem um papel importante nesse processo, para que se destaquem potenciais líderes em unidades de negócios, projetos e outros núcleos. Concomitantemente, é fundamental ter um processo implementado, que leve em conta não só a criação de um ambiente propício ao surgimento de líderes, mas a identificação e formação de pessoas. Mais do que o ambiente, é o líder, na visão do grupo, quem, afinal, exerce o papel de maior envergadura na formação de sucessores. Dessa maneira, ele deve delegar, aplicando o empowerment, e procurar aceitar alguns erros no decorrer da formação. Outra medida relevante é fazer coaching nas pessoas da equipe em desenvolvimento, para que elas não sejam sacadas do time por motivos como ciúmes e, ainda, para não pensarem que estão maduras antes da hora. E a formação de líderes deve focar não só as necessidades presentes: a visão é a de uma espécie de time complementar, composto de pessoas estrategistas, operacionais e formadoras de novos líderes. Na formação da liderança, o grupo concluiu que os líderes devem considerar o tempo ideal para que o potencial líder não seja nem um teórico – que não tenha tempo para implementar o que aprendeu – nem alguém que fique muito tempo implementando, já que, assim, se pode prejudicar a medição ideal da sua performance. E, muito importante, o líder deve formar líderes com características não necessariamente similares às suas, tendo em vista que os desafios serão diferentes no futuro. Liderança em uma Sociedade em Transformação • FNQ | 27 Grupo 3 Organizações em Rede Questões Propostas A Pesquisa revelou grande concordância, especialmente em torno de cinco tópicos, entre os quais estão: • A vida é um encadeamento de relações. • Organizações são sistemas vivos, integrantes de ecossistemas complexos, com os quais interagem e dos quais dependem. Esta alta concordância indicaria uma valorização de duas outras proposições: • Há grande efetividade em redes dinâmicas e abertas, de alta conectividade. • Desenvolvimento e dinamização de redes de parceiros e fornecedores. Não foi o que aconteceu, no entanto, como vimos na análise dos resultados (Item III). • • Que fatores podem explicar esta incongruência? Como devem os líderes agir para superá-las? Organizações são sistemas vivos com propósitos. “As mudanças são cada vez mais velozes e as empresas precisam aprender a conviver com processos de transformação contínuos. Estou de pleno acordo com a frase ‘as organizações são sistemas vivos que interagem’, mas acho necessário acrescentar ‘organismos com propósitos, com identidade’. As empresas possuem muitas faces e elos com diversos atores em permanente comunicação. Elas constituem redes regidas por sistemas de atração e identificação, quer dizer, por interesses mútuos - com propósitos iguais. O conhecimento circula de forma acelerada, o poder se desloca entre vários agentes e as corporações se diluem. É por isso que o líder também está mudando de papel. O profissional que decide em sala fechada, no ápice da pirâmide corporativa, está deixando de existir. Também está mudando a história de produzir mais e mais barato para aumentar o consumo. Carecemos de empresas que busquem sinceramente diminuir as diferenças sociais e comecem a exercer o papel de agentes da transformação. Essa nova organização, com propósitos e comprometida com a sociedade, dependerá de lideranças capazes de agir com autonomia a partir de valores e de orientações gerais, atuando com liberdade, bom senso e discernimento. As organizações que precisam de heróis vão sumir. As lideranças serão mais difusas e o que estará sob o foco dos consumidores serão as causas das corporações. Teremos líderes mais apaixonados pela causa do que pelo poder, mais apaixonados pelo projeto do que pela agenda pessoal. Esse será o encantamento, a ‘química’ necessária para inspirar e motivar os times a construir a rede de relações capaz de conduzir a organização ao futuro.” Pedro Luiz Barreiros Passos, co-presidente do Conselho de Administração da Natura 28 | FNQ • Liderança em uma Sociedade em Transformação Respostas do Grupo O grupo avaliou que as redes sempre existiram. Porém, com a velocidade de transformação do mercado, os impactos delas sobre as organizações estão cada vez maiores. Nota-se isso em várias esferas, via globalização, meio ambiente, marcos regulatórios e fluxo de informações, entre outras. Com isso, as organizações estão mais interdependentes e é preciso ter agilidade para entender e mudar conforme a demanda das partes integrantes. Como a organização está inserida em múltiplas redes, é papel da liderança: • • • Identificar e priorizar seus impactos no negócio, participando e envolvendo a empresa de forma ativa; Mitigar riscos e otimizar resultados; Analisar e inserir tais práticas no ciclo de planejamento estratégico, para que façam parte da cultura da organização e ganhem a importância detectada na Pesquisa. Além disso, não se deve esquecer das demais partes que integram a rede. Conforme frisou o grupo, elas são também partes do negócio de cada uma das organizações que compõem a rede. É preciso manter canais de comunicação para detectar expectativas e necessidades de cada uma das partes, uma vez que elas afetam o ambiente de negócios. Por fim, na visão do grupo, o líder precisa ter uma postura de proatividade. Em vez de esperar uma sinalização das partes da rede, devem partir dele as atitudes de coordenação e alinhamento de prioridades e mesmo de parcerias que possam trazer resultados para todos os atores do ecossistema. Todos devem ser líderes “A liderança tem que ser muito transparente, verdadeira. O líder tem que ser capaz e competente na gestão. Ser racional, mas com uma dose de emoção, para entender as pessoas, a sociedade e a natureza. Eu diria que, na Serasa, todas as pessoas são líderes. Se a pessoa não é líder dentro da estrutura organizacional, pode ser líder no voluntariado ou em um projeto. Todo mundo vai respeitar as orientações dessa pessoa, porque ela se qualificou como líder”. Elcio Aníbal de Lucca, presidente da Serasa Liderança em uma Sociedade em Transformação • FNQ | 29 Grupo 4 Sustentabilidade Questões Propostas Na Pesquisa, houve concordância com a tese de que a sustentabilidade é elemento essencial na estratégia das empresas em geral. Mas a avaliação do impacto sobre as empresas em cada grupo é uma história diferente, como vimos na análise dos resultados (Item III). • • Como explicar essa dissonância? As empresas se percebem tão preparadas e desenvolvidas nesse aspecto que o impacto é mesmo pequeno? Ou esse item não se aplica ao caso da empresa? A(s) causa(s) dessa incongruência pode(m) ser outra(s) mais complexa(s)? Como devem os líderes abordar essa questão? Respostas do Gupo O grupo assinalou que a questão ambiental é relativamente nova e pouco difundida. Portanto, no dia-a-dia das empresas, está alinhada muito mais à gestão de riscos do que à proatividade que o tema impõe. Em suma, falta planejamento para que isso efetivamente ocorra, dentro de uma visão estratégica. O posicionamento do líder é de fundamental importância nesse ponto. Ele precisa alinhar uma série de atributos para colocar a questão em um novo eixo na organização. Para tanto, deve ter, principalmente, visão sistêmica, não se restringindo às hastes que balizam os fatores-chave de sucesso do negócio. A questão ética também foi lembrada, uma vez que ela não pode ser dissociada da idéia de desenvolvimento sustentável, assim como deve permear as atividades da empresa, sempre. Outra observação do grupo fez menção à Global Reporting Initiative (GRI), instituição sediada na Holanda cujo objetivo é elaborar diretrizes para relatórios de sustentabilidade. Já há empresas brasileiras que fazem uso desse modelo para pautar a gestão socioambiental. Ações como essa, afirmou o grupo, ajudam as organizações a gerar diferencial competitivo, uma vez que a questão da sustentabilidade é cada vez mais valorizada pela sociedade. A expectativa é de que, com o advento desse novo modelo de desenvolvimento, uma gama de oportunidades significativas se abra nas mais diferentes áreas. A propósito, o grupo lembrou o tripé de avaliação da performance empresarial e do desempenho de executivos, chamado de Triple Bottom Line (TBL), que considera não só a gestão do negócio em si, mas os interesses dos stakeholders e os impactos no meio ambiente. O tripé formaria, então, o conjunto necessário à sustentabilidade do empreendimento e daria subsídios para que se possa liderar uma rede de sustentabilidade. Mas, para que isso aconteça, as organizações devem tirar o tema do papel e colocá-lo em prática. O líder, especificamente, tem de exercer alguns papéis, tais quais: • Ser educador; • Valorizar e recompensar as ações; • Inspirar e motivar outros líderes; • Fazer com que o tema permeie a organização de forma transversal: do porteiro ao presidente; • Estabelecer metas claras, alinhadas com seu negócio. 30 | FNQ • Liderança em uma Sociedade em Transformação Hora de mudar é quando estamos bem “Exercer a liderança não é tema somente para o mundo empresarial. É tema para o cidadão. Faz parte do desenvolvimento de uma postura global de responsabilidade e comprometimento com o futuro. Sempre digo que a hora certa de fazer mudança é quando estamos bem. Mudar pressionados por resultados ruins traz o risco de perder o controle.” Wilson Ferreira Jr., presidente da CPFL Energia IV. CONCLUSÃO: A LIDERANÇA NO SÉCULO XXI O futuro já chegou, mas está desigualmente distribuído Não há um modelo de liderança único, como não há um modelo de liderança ideal. Por outro lado, os diversos modelos de liderança apresentados não são mutuamente excludentes. Esse é o pano de fundo para a análise dos resultados da Pesquisa, que são extremamente interessantes. Primeiro, porque constituem uma distribuição ponderada dos atributos dos três modelos referidos na seção anterior. Segundo, porque mostram ênfases, apontam prioridades: em ambos os grupos analisados (Amostra Total - AT e grupo Benchmark - BM), destacam-se os atributos “Criar uma visão do futuro” como o principal (importância: AT = 94% , BM = 100%), seguido por “Motivar e inspirar as pessoas”. Nos dois grupos, predominam os atributos do Modelo II. Depois, porque o mix é diferente entre os dois grupos: enquanto na Amostra Total predomina o Modelo II, seguido de atributos do Modelo I, no Grupo Benchmark predomina o Modelo II, seguido de atributos do Modelo III (ver figura na pág. 23 ). Podemos ver nisto uma tendência para o futuro, um deslocamento em direção ao Modelo III, na medida em que as empresas do Grupo Benchmark são, por hipótese, as que estão mais avançadas na reflexão sobre estes temas. Finalmente, porque as auto-avaliações de estágio de progresso com relação ao ideal foram extremamente francas, talvez até excessivamente críticas (média de 43% para a AT e 57% para o BM). Liderança em uma Sociedade em Transformação • FNQ | 31 Os dois primeiros Modelos de Liderança são bem conhecidos. Já o Modelo III, que decorre dos Novos Paradigmas, consolidados no IV Fórum, merece uma breve explanação. Embora tenha sido praticado em comunidades, em circunstâncias especiais, ao longo da história, sua compreensão e formalização são relativamente recentes. Duas de suas premissas básicas são: • • rganizações são sistemas vivos em que a inteligência e a liderança O estão distribuídas; Um sistema vivo, cujos integrantes estão interconectados, tem uma inteligência própria que transcende a dos indivíduos que o compõem e da qual emergem soluções e inovações. Parafraseando os atributos apresentados no Perfil de Liderança da Pesquisa, podemos descrever os atributos deste novo líder: • • • • • er símbolo unificador da organização, articulando sua visão, S incorporando seu significado. Ser catalisador, fazendo acontecer mais rapidamente o que a “seleção natural”, com suas tentativas e erros aleatórios, só pode fazer lentamente. Promover e tornar possíveis iniciativas da base e estimular o sistema em direção a surpresas emergentes. Viabilizar o aproveitamento da inteligência distribuída do sistema, promovendo a conectividade entre seus diversos agentes e o acoplamento eficaz de estruturas, idéias e inovações, assegurando-se que não estejam muito “soltas”, nem excessivamente interdependentes. Buscar relações de cooperação e confiança com seus pares e com os stakeholders da organização. Esta nova visão reconhece o enorme potencial das organizações-sistemas vivos e busca criar condições para sua plena realização, mais pela remoção de entraves, barreiras e preconceitos do que pela pregação de novas soluções. O líder do Modelo III é mais próximo, mais receptivo. Está mais disposto a ouvir do que a falar. Está disposto a ensinar, mas também, e principalmente, a aprender. Será este o líder do Século XXI? O reconhecimento deste novo paradigma de liderança certamente representa um progresso, mas, infelizmente, não há respostas fáceis para essa questão. Na verdade, o exercício da liderança está se tornando cada vez mais complexo. O novo líder terá de incorporar atributos de diferentes modelos e, o que torna a tarefa ainda mais difícil, saber como e quando usá-los. 32 | FNQ • Liderança em uma Sociedade em Transformação Estudar mais é preciso Os Novos Paradigmas impulsionam as organizações para o convívio colaborativo em uma rede dinâmica e aberta, que promove intensa troca de informações e intercâmbio de conhecimento – o ativo mais valioso das empresas, hoje. As ações das organizações, portanto, extrapolam as suas fronteiras. E, dentro delas mesmas, o paradigma dos sistemas vivos propicia o modelo para uma verdadeira integração. Em paralelo, o ambiente no qual as organizações estão inseridas muda cada vez mais rapidamente, freqüentemente com descontinuidades: trata-se de um meio cada vez mais turbulento, que permanentemente coloca novos desafios para a adaptação das organizações às novas configurações. Nesse cenário, a figura do líder emerge como fundamental na perseguição de objetivos da organização em consonância com o seu ecossistema, em que relações colaborativas são tão importantes quanto as competitivas. Em vez de comandar e controlar - funções tradicionais - o novo líder deve entrelaçar parceiros, colaboradores, contratados, fornecedores e clientes. Nesse contexto, o líder é um focalizador, ajustando o foco das ações; um mentor, capaz de envolver as pessoas e disseminar valores; um catalisador, que faz as coisas acontecerem pela sua simples presença; e um símbolo, aquele que representa e evoca a organização, dentro e fora dela. Este perfil ideal para a liderança dos novos tempos foi tema das discussões do V Fórum Empresarial. Constatou-se, como fruto da pesquisa especialmente encomendada, que as organizações brasileiras estão se movendo na direção desse novo modelo - talvez muito lentamente. Este processo de transição representa um enorme desafio para a FNQ, responsável pela atualidade dos conceitos fundamentais da Excelência em Gestão, entre os quais a Liderança. Ficou claro para todos que pesquisas e análises adicionais sobre o tema Liderança são necessárias, razão principal que levou os participantes do V Fórum Empresarial a recomendar à FNQ a continuidade da promoção de estudos e debates sobre o tema. É exatamente esta a intenção da Fundação, que propôs a criação de um Centro de Promoção do Conhecimento em Liderança, uma entidade que, mediante a mobilização de parcerias e de sua rede, dará vida à iniciativa pioneira do Fórum. Liderança em uma Sociedade em Transformação • FNQ | 33