A SALA DE AULA COMO AMBIENTE DE INCUBAÇÃO DE IDÉIAS: ENSAIOS
NA PERSPECTIVA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO E SOCIAL
Carla Cristina Dutra Búrigo1
Luiz Henrique Vieira Silva2
RESUMO: O presente artigo tem como objetivo refletir sobre o espaço da sala de aula como um ambiente
de incubação de idéias, na perspectiva do desenvolvimento humano e social, o caso concreto do Curso de
Mestrado Profissional em Administração Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Para maior compreensão do fenômeno estudado, partimos da relação mediada pela concepção de
Desenvolvimento Humano e Social, fruto da filosofia que emana as ações da Pró-Reitoria de
Desenvolvimento Humano e Social (PRDHS), da concepção de Universidade, da Formação do Professor e do
exercício do seu Trabalho Acadêmico. Consideramos que universidade é uma instituição social, e neste
contexto a formação do professor e o exercício do seu trabalho acadêmico, são elementos fundamentais que
mediam as possibilidades concretas de constituir a prática educativa em uma modalidade específica da
prática social. Para tanto, concebemos que a educação é inseparável do processo de formação como o
resultado do pensar sobre a realidade, com fundamentos sólidos, onde a teoria e a prática se inter relacionam
na concepção de que toda teoria entra em um vazio social, caso não seja sustentada na prática e vice-versa.
Palavras chaves: Universidade; Prática Social; Formação; Trabalho Acadêmico.
Considerações Iniciais
O presente artigo tem como objetivo refletir sobre o espaço da sala de aula como
um ambiente de incubação de idéias, na perspectiva do desenvolvimento humano e social,
o caso concreto do Curso de Mestrado Profissional em Administração Universitária da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Para tanto, para maior compreensão do
fenômeno estudado, partiremos da relação mediada pela concepção de Desenvolvimento
Humano e Social, Universidade, Formação do Professor e o exercício do Trabalho
Acadêmico.
Se partirmos do pressuposto que o saber nos dá a possibilidade de sermos mais
livres, e neste contexto, a emancipação está intimamente relacionada também com o
processo de formação (MÉSZÁROS, 2008), poderemos compreender, antagonicamente,
que ao limitarmos a possibilidade de acesso ao saber, estamos limitando o processo de
formação. Estamos alienando a forma de agir e de pensar.
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Brasil. Universidade Federal de Santa Catarina. [email protected].
Brasil.Universidade Federal de Santa Catarina.
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Porém, este cenário não se constitui como causa e efeito, mas pelas relações
contraditórias que o media: entre o singular e o geral; entre a produção e a reprodução do
processo de formação; entre a formação e as condições de realização do trabalho
acadêmico; entre a teoria e a prática; entre a formação e o profissionalismo; e, entre a
prática educativa e a prática social.
Para a organização deste artigo, partimos do que tínhamos de mais concreto, nossa
prática na área de Desenvolvimento Humano e Social, após contextualizamos nossa
concepção de Universidade, de Formação do Professor e do Exercício do Trabalho
Acadêmico. Depois retornamos a nossa prática, buscando desvelar as contradições que este
caminhar possa propiciar possibilitando assim compreender as relações de mediações que
possam vir a concretizar sobre o espaço da sala de aula como um ambiente de incubação de
idéias, na perspectiva do desenvolvimento humano e social.
01. De Recursos Humanos ao Desenvolvimento Humano e Social
Com objetivo de elevar a área de Gestão de Pessoas em nível de órgão executivo
central da Universidade Federal de Santa Catarina, em nível de Pró-Reitoria, nasce no ano
de 2004, a Pró-Reitoria de Desenvolvimento Humano e Social (PRDHS). Esta PróReitoria, tem por objetivo de auxiliar o Reitor em suas tarefas executivas na área de Gestão
de Pessoas, com vistas à melhoria do nível de qualidade de vida no trabalho dos servidores
seja ele da área acadêmica ou técnico-administrativa em educação. O compromisso desta
Pró-Reitoria, ainda que utópico, é com o ser humano, integrante da comunidade
universitária, visando a sua potencialização como agente de transformação social a partir
do contexto no qual está inserido e com a humanização das relações de trabalho.
(BÚRIGO, 2011).
Esta Pró-Reitoria foi criada a partir de um trabalho coletivo, de um ideal de
Universidade de um grupo de servidores, por meio do compartilhamento de experiências,
de distintas áreas de atuação na UFSC. O processo de construção da proposta, foi
consolidado a partir de uma ampla discussão sobre o que se concebia, acreditava e
defendia como ações de desenvolvimento de uma Pró-Reitoria, voltada para a Gestão de
Pessoas.
Que Universidade estamos construindo? Que Universidade queremos construir?
Estes são questionamentos que emanam as ações da PRDHS. Partindo prioritariamente,
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que concebemos por Desenvolvimento: como algo em pleno processo, que passa de uma
fase anterior, para a superior. O que está sempre em movimento; e por Humano e Social: o
homem como um ser social, responsável pelo processo de construção e reconstrução da sua
realidade.
Neste contexto, compreendemos as ações da área de Gestão de Pessoas como algo
em movimento, dinâmico e contextualizado. Não como um recurso isolado, mas como algo
integrado em um processo maior: social, econômico e político. Situando neste contexto, o
trabalhador, como um ser social que ao interagir com sua realidade, a qual conhece,
vivencia, pode mudá-la e quiçá transformá-la. Para tanto, necessita se mesclar a ela,
conhecendo seus desafios, limitações e possibilidades.
Dentre as inúmeras ações que permeiam o fazer diário da PRDHS, no que tange a
área de desenvolvimento humano e social, o processo de formação do servidor é um dos
maiores desafios desta Pró-Reitoria, buscando o equilíbrio entre as necessidades
institucionais e as expectativas profissionais deste trabalhador.
Concebemos que valorizar o ser humano não é tarefa difícil. Potencializá-lo é o
grande desafio. Pois diante das condições de vida e de trabalho que limitam e muitas vezes
imobilizam a ação do ser humano, o processo de potencialização passa, inevitavelmente,
pelo processo de valorização das possibilidades, de respeito às limitações e pela dignidade,
como sujeitos do seu trabalho e não objetos da sua produção.
Para tanto, faz-se necessário preliminarmente um trabalho em equipe, na área de
Gestão de Pessoas. De uma equipe multiprofissional que pense o ser humano em seus
múltiplos aspectos. Que veja os servidores da UFSC, como elos essenciais para sua
manutenção e transformação. Acreditar no ser humano, como agente de transformação
social é acreditar em uma Universidade melhor, em uma Universidade feita por todos que
nela interagem.
Acreditamos que a formação do servidor também é um dos elementos decisivos na
relação que este mantém com o seu trabalho, além das condições de realização desse
trabalho. Ao interagir com o processo de trabalho, o servidor manifesta valores,
significados, perspectivas, esperanças e utopias que são reflexos conscientes da realidade.
Nesse processo de interação, aparecem a linguagem, o pensamento, novas necessidades e
novos modos de satisfação. (TRIVIÑOS, 2003).
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Considerando a relevância do processo de formação do servidor, no seu fazer
diário, a PRDHS, em 2006, constituiu uma Comissão por meio da Portaria n. 568/GR/2006
(UFSC, 2006) com vistas a elaborar uma proposta de Curso de Pós-Graduação em nível de
Mestrado na área de Gestão Universitária.
Esta proposta nasceu da necessidade de formar servidores com uma visão crítica do
processo de desenvolvimento da Universidade, almejando que pudessem romper alguns
paradigmas cristalizados, de modo a propiciar alguns saltos qualitativos do fazer diário
desta Instituição.
Este projeto logrou êxito e em parceria com o Centro Sócio-Econômico da
Universidade, em 2010 foi constituída a primeira turma de alunos do Mestrado Profissional
em Administração Universitária. Nosso objetivo foi ampliado abrigando além dos
servidores da UFSC, qualquer cidadão que tivesse interesse em conhecer e compreender o
dinamismo da gestão universitária, em nível de mestrado.
A participação de nossos servidores no Curso do Mestrado Profissional em
Administração Universitária, em um primeiro momento se consubstancia no esforço
individual do servidor, em passar por um processo de seleção e aprovação para ingresso no
Curso. Por outro lado, também isto reflete, caso haja êxito ao final do Curso, em incentivo
à qualificação na carreira de forma significativa. Mas concebemos que este caminhar é
também essencialmente, uma busca de elementos de formação que possam elevar o
servidor, o trabalhador desta Instituição, como um sujeito do seu trabalho e não um mero
objeto da sua produção. Pois, este processo de formação pode lhe possibilitar, elementos
para pensar sobre sua realidade, saindo apenas da reflexão em uma relação de causa e
efeito.
Como ressalta Eagleton (1999, p.15), o que pensamos e como agimos são práticas
históricas que se constituem a partir da interação com a realidade, porém adverte o autor
que “não há prática humana fora do domínio do significado, da interação e da imaginação.”
A prática do homem, neste estudo, a prática do servidor, no exercício da sua atividade
junto a UFSC, é objeto da sua vontade, da sua consciência, da relação que estabelece com
a realidade, da sua formação e das condições de trabalho a ele propiciada.
Concebemos que a educação é inseparável do processo de formação como
resultado do pensar sobre a realidade. A formação é o resultado da obra do pensamento, da
consciência. Esse processo deve estar fundamentado em um campo teórico e no contexto
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histórico, alicerçado em uma proposta pedagógica sólida da interrogação, da reflexão, da
crítica, da investigação como uma forma de pensar.
Para tanto, com vistas a compreender a sala de aula do Mestrado Profissional em
Administração Universitária como um espaço de incubação de idéias, se faz necessário
definirmos o que concebemos como Universidade, sobre a Formação do Professor e o
Exercício do Trabalho Acadêmico.
02. A Universidade como Instituição Social
No desenvolvimento da prática diária da Pró-Reitoria de Desenvolvimento Humano
e Social, se faz necessário refletir como concebemos a universidade. O próprio processo de
historicidade da UFSC nos faz pensar em seu legado perante a sociedade. Ela vivencia
contraditoriamente a relação de ser legitimadora e opositora, numa relação de identidade
como instituição social.
A universidade, desde seu surgimento, sempre foi uma instituição social cujo
fundamento está no reconhecimento público de sua legitimidade e de suas atribuições, num
princípio de diferenciação, que lhe confere autonomia perante outras instituições sociais,
sendo estruturada por ordenamentos, regras, normas e valores de reconhecimento e
legitimidade internos a ela. (CHAUÍ, 2001).
A instituição universidade encontra na sociedade seu princípio e referência
normativa e valorativa. No seu processo histórico de desenvolvimento da sociedade,
tornou-se um espaço privilegiado para a discussão e para o diálogo. Sua função crítica
historicamente é o fio condutor da sua aventura intelectual, fruto da tradição com variação
de tempo e lugar.
De acordo com Santos (1999, p. 225), a universidade é uma das poucas instituições
que pode pensar até as raízes das razões porque pode agir ou não em conformidade com o
seu pensamento. “É este excesso de lucidez que coloca a universidade numa posição
privilegiada para criar e fazer proliferar comunidades interpretativas.” Essa potencialidade
da universidade em fazer proliferar comunidades interpretativas, por meio do acesso à
criação e à socialização do conhecimento e de suas ações, tem possibilidades de levar as
pessoas a mudarem sua condição na prática.
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A instituição universidade caracteriza-se pela heterogeneidade no processo de
construção do conhecimento e na socialização da experiência cultural e científica da
humanidade. O ensino superior na universidade pública é reconhecido socialmente pela sua
dimensão democrática, na construção de um mundo mais solidário e menos desigual:
social, econômico e culturalmente.
A formação em nível superior pode possibilitar a transformação da sociedade como
conseqüência da formação e qualificação das pessoas. A questão que se coloca é: Quem
são, e como estão as pessoas que contribuem para a formação de pessoas e em que
contexto estas interagem? Tal questionamento aponta e exige uma constante avaliação das
práticas e ações dos servidores que devem ser articuladas, que tornam e/ou possibilitam as
condições para a produção e a socialização do conhecimento em uma realidade concreta,
ou seja, da universidade. O desafio e a articulação de ações voltadas para o
desenvolvimento humano e social reafirmam a dimensão democrática e heterogênea do
ambiente público universitário. (BÚRIGO, 2011).
03. A Formação Professor e o Exercício do Trabalho Acadêmico
Concebemos por trabalho acadêmico, para o contexto deste artigo, aquele
desenvolvido pelo professor no âmbito da universidade pública federal, que se constitui da
indissociabilidade das atividades do ensino, da pesquisa e da extensão. O trabalho
acadêmico está anunciado na Constituição Federal, art.207, (BRASIL, 2011) e legitimado
pela Lei n° 9.394/96, art.52, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, (BRASIL,
2011a) e pelo Decreto n° 2.306/97, art.9° (BRASIL, 2011b) por meio da indissociabilidade
do ensino, da pesquisa e da extensão. Esse trabalho é regulamentado pelo Plano Único de
Classificação e Retribuição de Cargos e Empregos (PUCRCE), (BRASIL, 1987), art.3°, e
normatizado pelas resoluções internas das universidades.
O trabalho acadêmico diferencia o professor universitário do professor de qualquer
outro nível de ensino. Por exemplo, por mais que acreditemos e defendamos que a pesquisa
deve fazer parte do processo de formação do professor e do exercício da sua atividade
acadêmica, independente do nível de ensino no qual atua, ela não está efetivamente
presente em todos os níveis, e tampouco a extensão. (BÚRIGO, 2003).
Essas atividades estão ideologicamente presentes apenas, de acordo com a
legislação vigente que prescreve a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, no
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trabalho acadêmico exercido pelo professor universitário. Os demais professores também
exercem um trabalho acadêmico, porém, como já destacamos, sem o exercício indissolúvel
destas três atividades: o ensino, a pesquisa e a extensão.
Todavia, o ensino, a pesquisa e a extensão, nem sempre estiveram articuladas como
atividades na Universidade, como instituição social, pois o trabalho acadêmico, como um
processo de manifestação ideológico da sociedade, corresponde às necessidades de
determinados contextos, de determinados meios sociais.
A forma como se constitui o trabalho acadêmico é reflexo das condições concretas
de existência da sociedade na qual está inserido. Nas palavras de Wood (2003, p. 65),
podemos pontuar que a atividade produtiva é uma “atividade consciente”, fruto da
realidade da qual faz parte. Ou seja, é a síntese de múltiplas determinações da realidade,
por isso o trabalho acadêmico, é uma atividade social, pois está inserido em uma dada
sociedade, não petrificado, mas em contínuo desenvolvimento.
Por outro lado a formação do professor é um reflexo consciente do seu processo de
formação, dos fundamentos da sua formação (processo objetivo da formação), e as relações
que o professor estabelece com o seu trabalho são reflexo consciente dessa formação, que
constitui o fazer acadêmico do professor. Contudo, essa formação também, em certo
sentido, é determinada pela interação do professor com as condições existentes de trabalho,
a partir das possibilidades concretas, propiciadas ao professor pela sua formação.
Todavia, acreditamos que, se a formação do professor estiver alicerçada nos
ditames cartesiano, fazendo com que este negue alguns fundamentos da sua formação,
como a utopia da investigação, por exemplo, há a partir deste contexto, um revés no
processo de formação do professor que se refletirá no exercício do seu trabalho.
Com base em Chauí (2009, p.08) “(...) a educação significa um movimento de
transformação interna daquele que passa de um suposto saber (ou da ignorância) ao saber
propriamente dito (ou à compreensão de si, dos outros, da realidade, da cultura acumulada
e da cultura no seu presente ou se fazendo)”.
Para tanto a prática do professor, como reflexo do seu processo de formação,
perpassa pelo questionamento: Que aluno queremos formar? Qual a visão de homem, de
mundo e sociedade que queremos construir?
Em nível de mestrado, o processo da investigação, do questionar além do instituído,
faz surgir possibilidades concretas da sala de aula ser uma incubadora de idéias que possa
reverter em ações de modo a fazer conhecer, analisar e quiçá compreender a realidade
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investigada pelo aluno. Todavia, faz-se necessário uma relação de mediação entre o
processo da teoria e a prática, com fundamentos críticos de modo a conceber uma melhor
compreensão sobre o contexto da realidade, ou do fenômeno a ser investigado.
Concebemos que para um efetivo salto qualitativo da sala de aula como espaço de
incubação de idéias com vistas ao desenvolvimento humano e social, é fundamental que a
relação da formação do professor e do trabalho acadêmico, seja uma relação mediada pelo
exercício da prática e da teoria, como um processo inacabado, de constante transformação,
superando o paradigma do meramente instituído.
4. Considerações Finais
Resgatando o inicialmente proposto, para a organização deste artigo, partimos do
que tínhamos de mais concreto, ou seja, a filosofia do processo de formação da área de
Desenvolvimento Humano e Social, consubstanciada por meio do Mestrado Profissional
em Administração Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina.
Todavia, cabe registrar que a Pró-Reitoria de Desenvolvimento Humano e Social,
tem uma forte tônica de ações na área de formação do servidor na UFSC, que perpassa pela
capacitação por meio de módulos que atendem as necessidades pleiteadas pelos servidores
e gestores da Instituição, até cursos de educação formal em nível de pós-graduação de
aperfeiçoamento e especialização, em parceria com as unidades acadêmicas da Instituição.
Isto posto, resgatando o objetivo inicialmente proposto no presente artigo, de
refletir sobre o espaço da sala de aula como um ambiente de incubação de idéias, na
perspectiva do desenvolvimento humano e social, o caso concreto do Curso de Mestrado
Profissional em Administração Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina,
consideramos que a concepção de universidade, a formação do professor e o exercício do
trabalho acadêmico, são elementos essências para que possamos sustentar ou não este
espaço de sala de aula como prática social.
Para tanto, consideramos que a universidade é uma expressão social, uma expressão
histórica da sociedade, consubstanciando-se em uma ação social, uma instituição social,
que essencialmente busca a socialização e a universalização do saber.
Neste contexto, é essencial uma formação do professor com fundamentos sólidos,
onde a teoria e a prática se inter relacionam na concepção de que toda teoria entra em um
vazio social, caso não seja sustentada na prática e vice-versa. Neste sentido, a construção
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do saber, a liberdade acadêmica, o poder de investigar, de ir ao fundo da questão, do pensar
até as raízes das razões, do poder criar e fazer proliferar comunidades interpretativas, são
componentes essenciais, que levam a situar a universidade como uma instituição social,
que se revela no público, na coisa pública.
Se compreendermos que a prática educativa, é uma modalidade específica da
prática social, poderemos situar que o fazer do professor, o seu trabalho acadêmico, a
relação de produção social que estabelece com o seu trabalho constitui a prática social, que
é objeto da sua consciência, da sua vontade.
Em certa medida, este trabalho é legitimador das ações ideológicas da sociedade e
do Estado, pois é uma expressão social. Porém, contraditoriamente, tem possibilidades de
ser legitimador e opositor, principalmente a partir das relações de produção que o professor
estabelece com o seu trabalho, por meio do seu processo de formação e do processo de
autonomia pedagógico-acadêmico do qual é constitutivo.
O professor não é um ser amorfo. Ele tem vontade, opção e formação.
Conscientemente, ele mantém a relação que estabelece com o seu trabalho. Isto posto, se
situarmos este espaço da sala de aula como um ambiente de incubação de idéias, como
uma prática social, entenderemos que não é um fenômeno isolado, pois estabelece relações
com outros fenômenos que o envolvem e com ele interage. Que mestrando queremos
formar? Que cidadão queremos formar? Que trabalhador queremos formar?
Negar a formação como uma prática social, é limitar a prática educativa. É negar a
sua essência, o que se tem de mais prioritário, ou seja, a formação do homem como
opositor e sustentador da sociedade. Possibilitar o espaço da sala de aula como um
ambiente de incubação de idéias, na perspectiva do desenvolvimento humano e social, é
propiciar ao mestrando a construção do conhecimento, afastando-o da capacitação
meramente instrumental e reprodutora de um saber já construído.
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______. Decreto n. 94.664, de 23 de julho de 1987. Aprova o Plano Único de
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