UNIVERSIDADE PÚBLICA Eliane Maria de Oliveira GIACON 1 UEMS/UNA RESUMO: A universidade como instituição nasceu num momento histórico do século XIV, quando houve a necessidade de uma nova configuração de ensino: a escolástica( fé e razão). Ensino esse, que atendeu a princípio as classes mais favorecidas( Clero, Nobreza , Burguesia). O seu status quo continua até parte do século XX, quando mudanças começam a alterar esse panorama, resultando em novas (os) camadas(grupos), que têm acesso ao terceiro grau, bem como o princípio fundamental do pensar um novo tipo de atividade universitária passa a ser compromisso da sociedade como resposta a muitos problemas, que tumultuam o mundo. PALAVRAS-CHAVES: Universidade, Social, Ensino. 1. Percurso O termo “universidade” significa, “entre outras coisas, a reunião de escolas da ordem mais elevada cujo ensino abrange todos os ramos da instrução superior”, que em termos tenta reunir o conhecimento humano, a fim que o saber possa ser repassado às novas gerações. Contudo essa forma organizada de ensino sofre influências do pensamento de cada época evoluindo de acordo com a forma com que a humanidade se dispõe no contexto histórico de cada época. Assim se desde os gregos, que se reuniam em academias para estudarem e discutirem conceitos de Filosofia, que deram origem a todas as ciências da Linguagem, da Matemática e da Natureza até as Universidades Contemporâneas com sua estrutura, que reúne ensino, pesquisa e extensão, na intenção de levar o conhecimento a diferentes grupos sociais, a forma de fazer o ensino universitário passou por diversas fases das quais destacaremos três, devido ao fato de que algumas das características desses tipos de estrutura universitária permanecerem até hoje. No tipo medieval: as principais faculdades foram a de Teologia e da Direito, a aula era mais oral do que escrita e o curso terminava com uma defesa de tese; no tipo francês estruturado por Napoleão Bonaparte: institui-se as reuniões administrativas, a presença 1 Professora Mestre em Literatura, Coordenadora do Curso de Letras Port/ Inglês da UEMS - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Unidade de Nova Andradina. obrigatória do acadêmico à aula e os exames orais e escritos; no tipo alemão do século XIX: ocorreu a reunião do ensino e da pesquisa; no modelo do século XX: as aulas tendem a serem mistas entre oral e escrito, na maioria dos cursos há a defesa de uma monografia ou de um artigo científico, intensificaram as reuniões administrativas com os conselhos de professores, acadêmicos e funcionários, que recebem diferentes nomes como: Conselhos Superiores, Congregações e Diretórios, a presença obrigatória dos acadêmicos continua, há exames orais em escritos e por fim além de reunir ensino e pesquisa, desponta nas últimas décadas do século a extensão com ações que levem os acadêmicos e seus professores a se interarem com a comunidade. No final do século XX e início do XXI, algumas mudanças são sentidas no fazer da universidade. Uma delas constitui-se na idéia advinda dos movimentos sociais das décadas de 80 e 90, que forçam os dirigentes dos países e das universidades a levarem o ensino até as minorias e as camadas sociais marginalizadas como forma de reparação de muitas estruturas de discriminação, que foram criadas ao longo da História. Se no século XX, as mulheres tiveram acesso aos bancos universitários, no XXI são negros e índios das Américas, que tendem a ocupar o seu lugar nas universidades. Outra forma, que em alguns países da Europa não é inovadora, pois vem ocorrendo desde a década de 70 do século XX, via televisão ou rádio é o Ensino Superior à Distância, também conhecido pela sigla EAD (Educação à Distância), que com o advento da WEB, nas duas últimas décadas do século XX e sua popularização nos primeiros anos do século XXI, tornou-se uma ferramenta para que boa parte das universidades, principalmente as particulares utilizem os mecanismos das mídias (televisão via satélite e a WEB) para difundirem cursos em quase todo o Brasil, contudo é interessante destacar, que se a prática está ficando com as particulares, a pesquisa sobre os usos da multimídia concentras-se em muitos programas das universidades públicas. A evolução da universidade saindo de um conceito fechado para um aberto seja tanto na forma como no conteúdo é um processo que passa pela historiografia de suas origens que remonta ao século X, quando em 970 a primeira universidade El Azhar foi fundada no Cairo. De lá para cá a cada momento ou evolução dentro da História Universal um novo tipo de universidade surge. E assim na Idade Média foram fundadas as universidades de Bologna (1088) e Toulouse (1229). Durante a reforma no século XVI surgiram muitas universidades e entre elas destaca-se a de Marburg em 1527. No século XVIII, durante o Iluminismo, houve a preferência pelas academias de ciências, sendo a mais notável a de Göttingen (1737). No começo do século XIX, Wilhelm Von Humbolt inicia na Prússia uma universidade caracterizada pela combinação de ensino e pesquisa, sendo que a primeira foi a de Berlim (1809). A universidade Moderna, na estrutura, que em termos permanece no século XX até 1968 surgiu em Londres a partir de 1836. Nas Américas, a primeira universidade é a de Lima (Peru) fundada em 1551 pelos espanhóis, seguida pela de Havard (1636) nas colônias Americanas. No Brasil não há fundação de universidade, mas sim de curso jurídicos em São Paulo e Olinda, que datam de 1828. Geralmente até o século XX, os cursos nasciam antes da universidade, só depois um rol de cursos era agrupado sob o termo. A partir do século XIX ocorre a expansão das universidades sejam elas públicas ou privadas. Tomaremos algumas públicas como exemplo: Universidade Federal do Paraná (1912), Universidade Federal de Minas Gerais (1917), Universidade de São Paulo (1934), Universidade de Campinas (1864), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (1962) Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (1994). Observa-se que para a criação de uma universidade a partir das LDBs, implicaram a presença de atos deliberativos tanto do MEC quanto dos Conselhos Estaduais de Educação, para que os cursos fossem oferecidos. E a partir da LDB 9394/96, cujo artigo 43 dispõe sobre as finalidades da Educação Superior, direcionando essa modalidade, no inciso IV, como responsável por “promover a divulgação de conhecimentos cultural, científico e técnicos que constituem o”patrimônio cultural da humanidade”, logo também ocorreu e está ocorrendo um estudo para reformular o Ensino Superior. E entre as mudanças ocorreu a implantação do SINAES (Sistema Nacional do Ensino Superior) a partir de 2003, no qual a universidade se avalia por meio das CPAs (Comissões Próprias de Avaliação) e o ENADE (Exame Nacional de Desempenho do Estudante), cujas avaliações mensuradas de 0 até 5. A partir desses valores, a diferença de conhecimento entre as turmas de primeiro ano propicia aos cursos e à instituição uma forma de dimensioná-lo. A cada ano diferentes cursos são avaliados, dependendo da freqüência dos conceitos, os cursos quando de sua nova autorização para funcionamento passam por uma avaliação para ver quais medidas foram ou devem ser tomadas para que eles funcionem. A UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) passa por essa avaliação desde sua implantação com um setor específico para articular reitorias e coordenadores com o SINAES. Assim as coordenações e os professores estão em 2007, sendo cadastrados no SINAES, o que facilita a articulação com o banco de dados do CNPq de cada pesquisador. O trabalho da CPAs e da PROE (Pró-Reitoria de Ensino) articulado com os coordenadores tem garantido bons resultados nas avaliações tanto do ENADE quanto das Comissões do Conselho Estadual Educação. E entre elas está a primeira nota do ENADE, que foi do Curso de Letras Port/Inglês de Nova Andradina no ano de 2005. Portanto, podemos observar que a evolução significativa do conceito de universidade no mundo passa por estágios diferenciados de acordo com cada época, cada fato histórico e cada forma de governo, contudo há de salientar que estamos numa encruzilhada do fazer universitário, no qual não é mais uma instituição que conta por si só e pelo título histórico que ela ostenta, mas pela vocação que seu corpo de administradores, docentes, funcionários e alunos têm para escolher o tipo de universidade que eles querem ser, logo não há um lugar específico para a institucionalização do saber. 2. Posição das universidades A universidade enquanto instituição, seja ela pública ou privada, constitui-se num espaço privilegiado, no qual a humanidade possa confiar e recorrer em busca de um conhecimento que a aprimore e lhe dá condições de escolha entre a situação atual em que segundo Hobsbawn (1995, p. 357) 2 na cultura ocidental “o desconhecido e o incompreensível se tornaram mais populares do que já tinham sido desde o início da época romântica”, e a busca por uma forma de análise da realidade, na qual o sujeito( homem) está inserido. Lembremos de passagem, que a prática de análise da realidade desde a colonização do Brasil nunca foi difundida, pois os portugueses implantaram uma forma de pensar mercantilista, feudal e patriarcal, no qual acumular bens sob o domínio de poucos, no qual a figura prepotente do homem (macho da espécie humana) prevalecia sobre todos os outros seres, sejam eles filhos, filhas, empregados, escravos, parentes e esposas. Não é de admirar que numa sociedade formada sobre esse molde, que foi difundido até a atualidade sob outros nomes como capitalismo, neocolonialismo e globalização, entre outros termos, que chegam até nós via mídia, e como antes os assimilamos da melhor maneira possível. Sem, contudo, analisarmos de maneira crítica, o que está a nossa volta. E ainda como a produção do conhecimento está saindo do âmbito universitário e se tornando mercadoria dos grandes conglomerados, que é vendida como verdade absoluta, que compramos em nome da saúde, do bem estar, de uma educação melhor para os nossos filhos, enfim de situações, que colocam “em xeque” a capacidade crítica de cada um de nós. 2 HOBSBAWN, Eric. A era dos extremos:o breve século XX. São Paulo: companhia das Letras, 1995. Há um momento em que dimensionar o papel do ensino nas universidades, não apenas como um espaço, no qual o sujeito fica durante alguns anos, a fim de que ao final ele possa ser diplomado e assim consiga melhoria no seu nível de vida, mas sim num espaço, no qual o conhecimento possa ser criticado, estudado, criado, alimentado por uma comunidade acadêmica, que de dentro dos muros de qualquer instituição de ensino superior (pública ou privada) possa expandir-se e chegar até a sociedade, não na utopia de transformá-la, mas como uma opção significativa com alternativas concretas e viáveis de produção de conhecimento. Nas últimas duas décadas do século 20 e na primeira do 21, há uma mobilização dos governos e das entidades sociais e educacionais, no sentido de abrir o acesso ao ensino universitário com algumas intenções interessantes, que propiciam acesso da classe operária ao ensino superior, que se manifesta com bolsas de estudos, o crédito do FIES, o PROUNE, o aumento das vagas em universidades públicas. Uma outra situação de ingresso dois outros grupo étnicos, que foram incluídos no âmbito universitário, são os negros e os índios, nas seguintes formas: o primeiro por meio das cotas; o segundo por meio de programas especiais de muitas instituições e órgãos governamentais, que os estão incluindo aos poucos nos bancos universitários. É interessante notar, que no caso das cotas há muita discussão, muito preconceito e até mesmo discriminação, pois quando os parâmetros para que negros e afro-descendentes começaram a ser implantados, ao se destinar um percentual das vagas para esses grupos; houve uma resistência de certos seguimentos da sociedade brasileira e comunidade universitária, que até então achavam, que o espaço da universidade era um simulacro, no qual apenas aqueles eleitos historicamente como detentores do saber deveriam freqüentá-la. No momento em que há a implantação da lei federal 8213/91 e as universidades iniciam um processo de adequação, a sociedade marcada pelos padrões que citamos no início do texto, se revolta e muitos discursos prós e contra estão à disposição em jornais, nas revistas, em livros e na WEB. 3. A universidade e a universalidade A partir dessa reflexão sobre as formas de acesso a universidade na contemporaneidade, há a possibilidade de iniciarmos um debate, não mais e não apenas sobre reforma universitária como já vendo sendo feita há muitos anos, mas de dentro para fora das salas de aula, das bibliotecas e dos laboratórios no intuito de apreender o conhecimento como instrumento sócio-cultural de fazer uma universidade, que de acordo com (BUARQUE, 2003, p. 6) seus membros chegaram ao século XXI com a responsabilidade de fazer uma escolha. Essa escolha terá de ser feita também pela universidade. Diante da encruzilhada de um mundo em mutação, a universidade terá de escolher entre: • o conhecimento, que antes representava capital acumulado, passa a ser algo,que flutua e que é permanentemente renovado ou ultrapassado por obsolescência; • o ensino, que antes se dava por meio de canais bilaterais diretos, entre aluno e professor, e em locais definidos, como a universidade, agora acontece por outros métodos reconhecidos, como um espraiamento em todas as direções, em meio ao oceano das comunicações; • a formação profissional, que antes representava uma base firme na luta pelo sucesso, é agora, na melhor das hipóteses, um colete salva-vidas a ser usado no conturbado mar em que se chocam as ondas do neoliberalismo, da revolução científico-tecnológica e da globalização. A primeira escolha refere-se ao espaço, pois o conhecimento com o avanço das novas tecnologias ao mesmo tempo, que não precisa fixar-se em somente um local, mas circulando numa velocidade, que fica impossível ao pesquisador acompanhar e ao mesmo tempo ser formador de idéias e pensamentos, que sejam a antena da humanidade. Se por um lado a universidade precisa abrir-se e expuser demonstrar como; ela também sofre e sofrerá da crise de desânimo, que abalou as estruturas das sociedades pósditaduras, pós-ideologias, pós-globalização, visto que quando todos os discursos até então fixados como verdades caíram e com eles a posição social e cultural da universidade. A dúvida maior será entre adaptar-se às mudanças e perder a tradição; adaptar-se às mudanças e manter a tradição ou perder a tradição e não conseguir adaptar-se às mudanças. A segunda escolha fixa-se numa mudança quanto à indefinição do local de ensino, visto que o dueto ensino-aprendizagem, pressupõe a princípio, que haja um emissor e um receptor anacrônicos ou sincrônicos, que compartilhem de uma visão única do objeto estudado. O novo paradigma ensino-meio-aprendizagem remete o professor e a universidade a uma mudança radical sem certezas quando aos resultados, pois no momento em que há esfacelamento dos saberes e um reagrupamento dos mesmos não mais no formato de puzzle, mas de um caleidoscópio, percebe-se, que as marcas das peças laterais do puzzle da modernidade ficaram calcificadas com padrões e comportamentos de professores e dirigentes da academia, que nem pode dizer que são obsoletos, pois se assim o fossem até que era bom, pois o obsoleto mantém nas entrelinhas do seu pensamento substratos mentais, que podem a qualquer momento serem aproveitados. Na era digital, não mais aquela de jogar de computador ou de pesquisas numa biblioteca virtual, mas a da interação com o saber, que circulando on line, cuja propriedade intelectual perde-se em detrimento da multiplicidade de apropriação, reformulação, estruturação e exposição das pesquisas. Visto que na teia tende-se a uma interação do conhecimento com certa concessão de liberdade, que aos poucos pode tornar o indivitecnauta, alguém que interaja não só com a máquina, mas com todas as possibilidades de navegação, associação cognitiva com a informação vinculada numa perspectiva espacial, na qual nem mesmo as máquinas chamadas computadores hoje, necessitem existir, pois implantes em nosso corpo nos farão estar em múltiplos espaços, dispensando aquela dedicação de sentar e escrever, ver e-mails, ler, assimilar, conversar com as outras pessoas, enfim coisas jamais imaginadas. O computador de hoje será o mesmo que o telefone de linha: existe por uma questão financeira, mas poderia ser simplesmente substituído por um celular. A universidade encontra-se num momento crucial, no qual a mudança deve partir não somente da reestruturação de curso e de formato administrativo, e sim da reformulação de sua forma de ver o mundo, pois se ela não atender o mais rápido possível a população; não será terremotos; aquecimento global;era glacial ou bombas que destruirão a humanidade, o que destruirá será a divisão da humanidade em dois grupos: o homem moderno e o homem nanônico. Sendo que o segundo, a princípio com implantes comandará os seus sentidos e depois com o desenvolvimento de potencialidades fenótipas será capaz de ver, ouvir, sentir, falar, ler sem o uso dos sentidos por nós conhecidos, o que desencadeará a separação definitiva dos dois, pois somos sociais, logo quando perdemos o nosso lugar no mundo, a tendência é não nos relacionarmos e por conseqüência não deixarmos descendentes. Somente a adequação da universidade ao momento levará essa a trabalhar questões de ética, que possam não deixar o homem nanônico órfão. Considerações Finais Da definição do termo “universidade” ao contexto de universal, a palavra assume em seu significado mais amplo um modo deferente de entender o saber humano, contudo falta muito para que a humanidade possa conhecer o sabor do saber, pois como bem disse Cristovam Buarque(2003) a universidade necessita assumir o comando da era da informação do século XXI. E ao tomar para si a missão de difundir o conhecimento junto à WEB , o que as particulares estão muito à frente das públicas,a universidade passa a um posicionamento não de baratear a educação como muito se tem visto, mas a ampliar as diversas formas de divulgação dos conhecimentos sem as barreiras geográficas e raciais. O admirável mundo novo tem vantagens e desvantagens, pois ao acelerar as pesquisas, visto que há maior comunicação entre os pesquisadores, também pode ocorrer a exaustão das forças dos mesmos, que passam a viver mais em função da pesquisa do que da sua vida off line. A universidade é um patrimônio da humanidade, cujos gestores do saber não pode ser nenhum grupo político, nenhuma casta, nenhum grupo social, nenhuma filosofia religiosa, ela é antes de mais nada a herança do homem para as próximas gerações. Referências Bibliográficas BUARQUE, C. A Universidade numa encruzilhada, www.dominiopublico.org.br DICIONÁRIO CALDAS AULETE, 5. ed. São Paulo: Delta. 1986. 2003. 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