Para Luís Nobre a imagem é uma forma de conhecimento visual com condição operativa. Ao artista interessa-lhe reunir conceitos, envolvê-los no espaço, perceber qual a afinidade que resulta dessa união e concluir o resultado dessa acção. Quase sempre essa afinidade não surge da harmonia mas do conflito - a antítese ou síntese, a ordem ou desordem, o equilíbrio ou desequilíbrio, a harmonia ou desarmonia - são variantes que enformam o campo de análise do artista. Este diálogo aberto entre significados de épocas diferentes, figurações, geometrias ou outros elementos formais, é desenvolvido não no sentido de catalogar mas de articular e estruturar um pensamento. Ao juntar estilos e épocas, colocando-os na mesma “mesa de montagem” (Didi-Huberman), parte do mesmo princípio de raciocínio, desestruturando os encaixes estilísticos dados pelas classificações académicas e sublinhando a inexistência de graus de expressão artística. Esta questão é visível nas suas mais recentes exposições do Museu Nacional Soares dos Reis ou Museu de São Roque em que o artista se apropria de linguagens do passado, incluindo-o no seu próprio corpo de trabalho. O desenho é o fio aglutinador desta operação de convivência das formas e significados: reconecta ideias e conceitos, circunscreve unidades, enuncia complexidades e descreve relações. A subjectividade inerente à prática do desenho, ao processo de apropriação das formas e a sua fase de integração, segue um raciocínio que é próprio deste artista porque só este delimita o campo da obra e decide quando esta está concluída. Deste modo, o trabalho de montagem da exposição é uma acção performativa do artista em diálogo com a experiência do espaço e as vocabulário de formas que dispõe. Ao desenvolver uma linguagem de intersecções, Luís Nobre faz uma reflexão sobre o que é o significado, envolvendo-o numa teia de relações para o desconstruir criando o seu próprio discurso. Ficha técnica da imagem em anexo: Luís Nobre; Long distance call #17, 2009. Técnica mista, 41 x 41 cm