OFICINAS DE MATEMÁTICA: UMA FORMA DE CONTRIBUIR COM A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES Susimeire Vivien Rosotti de Andrade [email protected] Patrícia Sândalo Pereira [email protected] RESUMO: Este artigo tem como objetivo relatar o projeto de extensão intitulado Contribuindo com a formação continuada dos professores de Matemática da Rede Estadual de Ensino de Foz do Iguaçu e região, desenvolvido no ano de 2008, pelo Curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, UNIOESTE, Campus de Foz do Iguaçu, em parceria com o Núcleo Regional de Educação. Este projeto atendeu a cerca de cento cinquenta professores da Rede Estadual de Ensino pertencente ao núcleo de Foz do Iguaçu, propiciando uma aproximação com o curso de licenciatura em Matemática. Destaca-se que esta aproximação permitiu a todos os envolvidos do Curso de Licenciatura em Matemática e aos professores participantes uma troca muito rica de saberes. Este projeto teve inicio no mês de abril de 2008 e seu término foi no mês de novembro, bem como os encontros para realização das atividades foram mensais. PALAVRAS-CHAVE: Educação Matemática; Formação continuada; Rede Estadual de Ensino. INTRODUÇÃO Neste artigo, será relatado o projeto de extensão intitulado Contribuindo com a formação continuada dos professores de Matemática da Rede Estadual de Ensino de Foz do Iguaçu e região, que propiciou a formação continuada dos professores de Matemática da Rede Estadual de Ensino do Município de Foz do Iguaçu e região, no ano de 2008. O projeto visou capacitar os professores de Matemática da Rede Estadual de Ensino para atuarem como investigadores e pesquisadores na sala de aula e apresentar novas maneiras de ensinar e aprender, visando à melhoria do ensino e da aprendizagem de Matemática. Desta forma, serão tecidas algumas considerações a respeito da formação de professores, seguidas do relato do desenvolvimento do projeto e finalizando com as considerações finais. 965 FORMAÇÃO CONTINUADA E O PAPEL DO DOCENTE O professor é quem diretamente sistematiza e planeja as aulas a serem trabalhadas dentro da sala de aula, assim, vislumbra-se ser ele que, dentro de suas possibilidades, organiza sua ação pedagógica dentro da melhor perspectiva de aprendizagem para seus alunos. Diante disso, é fundamental que o professor invista numa formação permanente. Conforme Pereira (1999), as discussões a respeito da formação de professores ganharam mais ênfase com a aprovação da Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Neste sentido, para atender o art. 13 desta lei é de extrema importância que o professor entenda que sua formação deve compreender processos humanos mais globais. D´Ambrósio (2006, p.97), ressalta que: O conceito de formação de professor exige um repensar. É muito importante que se entenda que é impossível pensar no professor como já formado. Quando as autoridades pensam em melhorar a formação do professor, seria muito importante uma idéia que vem sendo aceita como mais adequada é uma formação universitária básica de dois anos, seguida de retornos periódicos à universidade durante toda vida profissional. Ou seja, aponta-se para o entendimento de que a formação inicial é somente o início de sua formação. Esse discernimento é essencial no desenvolvimento da aprendizagem do docente. Lima (2008) enfatiza, ainda, que a formação do professor precisa ser redimensionada ou a escola corre o risco de entrar um processo de esvaziamento de sua função social. É fundamental que ele sinta necessidade de refletir sobre si mesmo – sobre seu saber, seu fazer e seu saber-fazer; porém, precisa não só dessa reflexão, mas que ela ocorra em um espaço coletivo. Para exercer sua função o professor precisa cada vez mais de conhecimento sobre seu trabalho, sobre o trabalho escolar e sobre si mesmo. Nessa concepção, a formação do professor passa a ser entendida como parte do desenvolvimento profissional ou um investimento na sua profissão, nos seus saberes. É importante o professor entender o seu próprio papel na formação, é fundamental que ele esteja revendo constantemente sua prática para se adequar a essa nova realidade de ensino. 966 Sustenta-se aqui a importância do professor entender que no processo de formação ele deve agir como protagonista e não acreditar que deve receber a formação. Enfim, o professor deve entender que é também responsável pela sua formação. Perez (2004, p.252) considera que: (...) a profissão docente exige o desenvolvimento profissional ao longo de toda carreira; a formação é um suporte fundamental do desenvolvimento profissional de cada professor é de sua inteira responsabilidade e visa a torná-lo mais apto a conduzir um ensino da matemática adaptado às necessidades e interesses de cada aluno, contribuindo para melhorar as instituições educativas, assim como a realização pessoal e profissional. Nesta perspectiva, a dinâmica deste trabalho opera no sentido de oportunizar aos professores esse processo de formação continuada. PROJETO DE FORMAÇÃO Este projeto foi sistematizado através de uma parceria entre o Núcleo Regional de Educação e o Curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de Foz do Iguaçu. Enfatiza-se que o projeto foi voluntário e atendeu um número expressivo de professores, esse fato faz com que ele se torne relevante, pois não é uma prática comum na região Oeste, bem como em outras regiões do Estado, principalmente sem possuir órgãos financiadores. A proposta do projeto foi inicialmente apresentada ao representante do Núcleo Regional de Educação de Foz do Iguaçu que cuida da Área de Matemática, que, simultaneamente, repassou as informações aos professores da rede e efetuou as inscrições dos interessados. Em seguida, foi realizada uma pesquisa através do envio de um questionário para selecionar, com os professores inscritos, os temas a serem abordados no decorrer do projeto. Destaca-se que os temas escolhidos foram: a utilização de jogos nas aulas de matemática, lógica, matrizes e trigonometria. Com essa decisão foram preparadas as oficinas pelos professores do Curso de Matemática de Foz do Iguaçu envolvidos no projeto: Patrícia Sândalo Pereira, Susimeire Vivien Rosotti de Andrade, Ana Márcia Fernandes Tucci de Carvalho e Izolete Maria Aparecida Nieradka; e com os acadêmicos Daisy Priscila Bartz,Roberta Rodrigues, Marcelo Casanova, Katiani Pereira da Conceição, 967 Cristiane Costa e Maikon Pavei Boff. Vale dizer que este projeto não foi financiado por nenhuma entidade mantenedora e que, desta forma, todos os participantes eram voluntários. As oficinas trabalhadas no projeto visavam favorecer um melhor entendimento dos conceitos matemáticos e promover uma aproximação da Matemática com a realidade, indo ao encontro das Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Matemática. As Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Matemática (2008) ressaltam que, para sua efetivação ocorrer, é necessário que o professor esteja interessado em desenvolver-se intelectualmente e profissionalmente, sendo fundamental que ele reflita sobre sua prática para tornar-se um educador matemático. De acordo com Fiorentini & Lorenzato (2006), o educador matemático concebe a matemática como um meio e instrumento que auxilia na formação intelectual dos alunos, independente de sua faixa etária, e também auxilia o professor, por isso ele tenta propagar uma educação pela Matemática. Dessa maneira, ele tende a colocar a Matemática a serviço da educação. Nesse sentido, as Diretrizes Curriculares veem a Educação Matemática como um campo de estudos que possibilita ao professor balizar sua ação docente, fundamentado numa ação crítica que conceba a Matemática como atividade humana em construção. Dessa forma, a Matemática deve ser trabalhada interligada com as novas tendências metodológicas, dentre elas: Resolução de Problemas; Modelagem Matemática; uso de mídias tecnológicas; Etnomatemática; História da Matemática e investigações matemáticas. Nessas concepções as diretrizes apresentam como necessidade de mudanças não só no que se ensina, mas, principalmente, como vai se ensinar e organizar as situações de ensino e de aprendizagem. Partindo disso, o projeto foi desenvolvido com encontros mensais nas terças-feiras, iniciando-se no mês de abril e com término no mês de novembro. O local de realização foi o município de Foz do Iguaçu e, para os participantes que não moravam em Foz do Iguaçu, foi intercalado nas cidades de Matelândia, Medianeira e São Miguel do Iguaçu. Ressalta-se que o número de professores inscritos totalizou cento e cinquenta e, por esse motivo, os encontros realizados na cidade de Foz do Iguaçu tiveram que ser divididos em duas turmas, uma no período matutino e outra no período noturno. 968 Destaca-se que, como o projeto foi uma parceria com o Núcleo Regional de Educação, foi solicitado às Escolas Estaduais que colocassem a hora atividade dos professores de Matemática na terça-feira para que, desta forma, houvesse um incentivo maior para os professores se inscreverem no projeto. Neste sentido, depois da organização de datas para aplicar as oficinas e da elaboração das mesmas, foi dado início à aplicação das atividades elaboradas. Desta forma, na primeira oficina foi feita uma apresentação do surgimento da Educação Matemática enquanto campo profissional e científico. Foi ressaltada nesta apresentação cada uma das quatro fases de desenvolvimento da Educação Matemática enquanto campo profissional e área de investigação. Durante a apresentação houve abertura para perguntas e, em seguida, realizamos um debate em torno do tema. Partindo disso, nas oficinas dos meses de maio e junho foi contemplada a proposta dos professores “utilização de jogos nas aulas de matemática”, no início foi realizada uma apresentação visando trabalhar a importância dos jogos no contexto escolar, visto que eles podem ser um facilitador no processo de ensino e aprendizagem, mas estes devem ser trabalhados de forma organizada. Lorenzato (2006) ressalta que: O professor de matemática, ao planejar sua aula, precisa perguntar-se: será conveniente, ou até mesmo necessário, facilitar a aprendizagem com algum material didático? Com qual? Em outras palavras o professor está respondendo as questões: “Por que material didático?”, “Qual é o material didático?” e “Quando utilizá-lo?”. Em seguida, é preciso perguntar-se: “Como este material deverá ser utilizado?”. Está última questão é fundamental, embora não suficiente, para que possa ocorrer uma aprendizagem significativa. (p. 24) Nesta perspectiva, fica clara a importância do professor em escolher e planejar as atividades para que melhor possibilite o aprendizado de seus alunos. Os jogos trabalhados nas oficinas foram: jogo 1 - Batalha Naval, que visa trabalhar o conceito de par ordenado; jogo 2 – Adição e Subtração de Fração; jogo 3 - Frações Equivalentes; jogo 4 - Ensinando Funções; jogo 5 - Jogo do Stop, para ensinar funções compostas; jogo 6 - Baralho das Funções, para melhor compreensão dos coeficientes de uma função do 2º grau, bem como suas raízes; jogo 7 - Construindo Razões; jogo 8 - Memória dos Triângulos Semelhantes; jogo 9 - Trilha Poligonal, visando trabalhar a interpretação de problemas envolvendo polígonos regulares. 969 Ressaltamos que embora muitos dos jogos não fossem novidade, ou seja, são conhecidos no meio acadêmico, a maioria dos professores os desconhecia. No mês de agosto foram trabalhadas atividades com lógica. Antes de iniciar as atividades foram propostos exercícios envolvendo o conjunto dos números irracionais. Estas atividades foram elaboradas na perspectiva de mostrar que muitos conceitos trabalhados em sala de aula, se não forem especificados, acabam não sendo verdadeiros. Em seguida, desenvolveu-se atividades de lógica voltadas para alunos do Ensino Fundamental e Médio, utilizando-se a Resolução de Problemas. Conforme Gazire (1988), “se todo o conteúdo a ser aprendido for iniciado numa situação de aprendizagem, através de um problema desafio, ocorrerá uma construção interiorizada do conhecimento a ser adquirido”. Assim, com esta oficina, propiciou-se uma reflexão da importância desta tendência no contexto escolar, pois ela fornece instrumentos ao professor, de modo que os alunos adquiram autonomia, além de colocá-los em situações desafiadoras. No mês de setembro foi trabalhado no projeto o conteúdo de Trigonometria. Inicialmente foi utilizada a tendência História da Matemática para mostrar a importância da Trigonometria. Essa tendência possibilita aos alunos a compreensão de que a Matemática foi construída por homens e que os conceitos que aparecem de forma mágica nos livros didáticos demoraram muitos anos e até séculos para serem definidos da maneira como estão hoje. Logo após esta etapa foi proposta a construção de um ciclo trigonométrico e uma série de atividades para uma melhor utilização desse material em sala de aula. Também foi construído um teodolito portátil para os alunos, objetivando trabalhar os conteúdos de ângulos, razões trigonométricas, relações métricas num triângulo retângulo e semelhança de triângulo. No mês de outubro foi trabalhada a geometria fractal, utilizando-se materiais manipuláveis e a informática. Ressalta-se que a Geometria Não-Euclidiana faz parte das Diretrizes Curriculares de Matemática e os professores não tem conhecimento desta geometria. Diante disso, foi possível apresentar esta geometria fractal, que é também conhecida como geometria da natureza. Além disso, utilizamos o software para construir o triângulo de Sierpinski e trabalhamos em sala através da construção de cartão fractal. No mês de outubro aconteceu a Semana Acadêmica de Matemática e, desta forma, os professores participantes do projeto puderam prestigiar o evento. No mês de novembro foi encerrado o projeto com uma proposta de atividades para ensinar potenciação com dobraduras e o conteúdo de funções através de um dominó 970 modificado. Foi trabalhada também uma atividade denominada Batalha Naval Circular, visando o aprendizado de localização de pontos em círculos orientados através das medidas dos ângulos notáveis, e uma atividade para ensinar os alunos a construir polinômios a partir de figuras geométricas. Além disso, foi utilizado um termômetro para revisar as operações com números inteiros. Com isso, durante o projeto as oficinas foram elaboradas oportunizando aos professores um contato com as diferentes tendências em Educação Matemática. Mas para que isso ocorresse foi necessário que o professor, no seu dia-a-dia, buscasse conhecer novas perspectivas, vislumbrando novas metodologias e estratégias e, fundamentalmente, não esquecendo que seu papel dentro do processo educativo é grande demais para que este se prive de uma formação continuada e de uma reflexão séria sobre sua prática pedagógica. CONSIDERAÇÕES FINAIS Através deste trabalho foi possível oportunizar aos professores atividades variadas que puderam enriquecer a sua prática pedagógica nas salas de aula das séries finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Enfatiza-se que, durante o desenvolvimento do projeto, houve diversos momentos nos quais observou-se que os trabalhos geraram contribuições para a formação dos professores na medida em que permitiram compartilhar informações e troca de experiências através das tarefas matemáticas e esclarecimentos de dúvidas. É importante ressaltar que no decorrer do desenvolvimento do projeto observou-se que não houve desistência e nem faltas dos professores. Eles mostraram-se muito interessados e participativos, tanto que solicitaram para que neste ano (2009) houvesse uma continuidade no projeto. Destaca-se, no entanto, que um dos fatores desse resultado positivo é devido ao apoio institucional, pois o projeto se desenvolveu no dia em que a grande maioria dos professores cumpria sua hora-atividade. Esta organização ocorreu nas terças-feiras, neste sentido, ficou estabelecido pela grande maioria dos colégios estaduais pertencentes ao Núcleo Regional de Ensino de Foz do Iguaçu que esse é o dia em que os professores de Matemática podem utilizar para fazer sua formação continuada. Essa é uma estratégia fundamental, pois possibilita ao professor realizar sua formação continuada no horário contemplado pela jornada de trabalho, minimizando, assim, a sobrecarga de atividades. 971 Assim sendo, destaca-se a grande importância do apoio institucional, que é um dos fatores de implementação de mudança. Ressalta-se mais uma vez que o sucesso do processo de aprendizagem na área da Matemática não depende somente do professor, mas depende também e fundamentalmente dele. Essa perspectiva torna clara a necessidade de que sejam repensadas as estratégias de formação e capacitação do professor no decorrer do desenvolvimento de suas atividades, visto que este ponto é considerado como chave para que a Educação Matemática passe realmente por uma reformulação e faça-a tornar-se mais atrativa aos educandos. Portanto, a parceria universidade-escola é um caminho promissor. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS D’AMBRÓSIO, U. Educação matemática: da teoria à prática. 13º ed. São Paulo: Papirus, 2006. FIORENTINI, D; LORENZATO, S. Investigações em Educação Matemática: Percursos teóricos e metodológicos. São Paulo: Autores Associados, 2006 GAZIRE, E. S. RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS: PERSPECTIVAS EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA. Dissertação de Mestrado. IGCE-UNESP, RIO CLARO(SP), Brasil.1989 LIMA, E.R. C. A Caminho da Aprendizagem da Docência: os dilemas profissionais dos professores iniciantes. In:.VEIGA, A.P. I.; D´AVILA, C.(orgs) Profissão Docentes Novos Sentidos, Novas Perspectivas.. 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