mulheres ou amanhã, numa nova existência, nascerão em corpos femininos. Portanto, conversar sobre o papel da mulher no matrimônio não é uma exclusividade feminina. Precisamos ter uma visão para além do tempo, muito além do gênero atual (masculinofeminino) e da forma passageira. Já sabemos que Lady Macbeth se equivocou, então, como será a terceira personagem de Shakespeare? Em “A Megera Domada”, William Shakespeare entrega o ensinamento sobre o casamento, em especial sobre a mulher. Catarina é a filha mais velha de um rico banqueiro, o Senhor Batista. De acordo com a tradição, a filha mais nova só poderá casar-se depois do casamento da primeira, porém Catarina já passa da idade de casar-se e não consegue pretendentes devido ao seu péssimo gênio. Até que chega à cidade Petrúcchio, procurando um “bom casamento”. “PETRUCCHIO: Entre amigos, signore Hortênsio, não se fala muito. Se conheces alguém bastante rica para que esposa de Petrucchio seja — pois o ouro deve tilintar na dança do casamento dele — embora seja tão feia como a amada de Florêncio, velha como a Sibila, tão maligna e impertinente como a própria esposa de Sócrates, Xantipa, ou mesmo pior: não poderá deixar-me transformado nem embotar de meu afeto o gume, embora seja como o mar Adriático, quando se altera. Vim para casar-me, para uma noiva rica achar em Pádua; sendo rica, feliz serei em Pádua. GRÚMIO: Ora vede, senhor; ele vos diz francamente o que pensa. Sendo assim, dai-lhe ouro bastante e casai-o com uma boneca, ou com um figurino, ou com uma velha que não tenha um só dente na boca, muito embora tenha tantas doenças como cinquenta e dois cavalos reunidos. Tendo dinheiro, para ele tudo estará bem. HORTÊNSIO: Bom Petrucchio, uma vez que andamos tanto, vou prosseguir no que era, de começo, somente brincadeira. Tenho meios, Petrucchio, de ensejar-te uma consorte bastante rica, mui formosa e jovem, educada no jeito de fidalga. Seu único defeito — e que defeito! — é ser intoleravelmente brava, teimosa e cabeçuda sem medida, a tal ponto que, embora meus haveres fossem menores, não a desposara por uma mina de ouro. Mas apesar da ideia inicial, ao conhecerem-se, passam a sentir certa admiração um pelo o outro, o que se converte em amor. Petrucchio esquecese do interesse financeiro, e Catarina modifica seu caráter, o que, é claro, termina em um casamento feliz e harmonioso. No final da última cena, Catarina expõe para as demais mulheres como deve ser a atitude da esposa ideal. CATARINA: ...Desenruga essa fronte carrancuda e deixa de lançar esses olhares desdenhosos que vão bater em cheio em teu senhor, teu rei, teu soberano. Isso te mancha a formosura como no prado faz a geada, teu bom nome deixa abatido como a tempestade sacode os mais mimosos botõezinhos, sem nunca ser gracioso ou conveniente. A mulher irritada é como fonte remexida: limbosa, repulsiva, privada da beleza; e assim mantendo-se, não há ninguém, por mais que tenha sede, que se atreva a encostar os lábios nela, a sorver uma gota. Teu marido é teu senhor, teu guardião, tua vida, teu chefe e soberano. É ele que cuida de ti; para manter-te, 28