1 UNIVERSIDADE DA AMAZONIA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E EDUCAÇÃO CURSO DE BACHARELADO EM MODA MARINA KALIF DOS SANTOS AS TRADIÇÕES CRIADAS PELA RAINHA VITORIA NOS VESTIDOS DE NOIVA DA MONARQUIA BRITÂNICA BELÉM-PARÁ 2012 2 MARINA KALIF DOS SANTOS AS TRADIÇÕES CRIADAS PELA RAINHA VITORIA NOS VESTIDOS DE NOIVA DA MONARQUIA BRITÂNICA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Bacharelado de Moda do Centro de Ciências Humanas e Educação CCHE da Universidade da Amazônia como requisito para a obtenção do título de Bacharel. Orientado pela professora Yorrana Priscila Maia. BELÉM-PARÁ 2012 3 MARINA KALIF DOS SANTOS AS TRADIÇÕES CRIADAS PELA RAINHA VITÓRIA NOS VESTIDOS DE NOIVA DA MONARQUIA BRITÂNICA Trabalho de conclusão de curso apresentado de Bacharelado de Moda do Centro CCHE da Universidade da Amazônia como requisito para a obtenção de título de Bacharelado em moda. Banca Examinadora: __________________________________________ Profa. Esp. Yorrana Priscila Maia – Orientadora –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Profa. Ms. Rosyane Rodriguez - Examinadora __________________________________________ Prof. Msc. Fernando Hage - Examinador Apresentado em: __/__/__ Conceito: _________ BELÉM-PARÁ 2012 4 AGRADECIMENTOS A Deus, meu melhor amigo, que me ajudou, fortaleceu, proveu o que precisei. Mostrou-me o caminho por onde deveria andar e me fez ver que com o poder dEle em minha vida posso alcançar lugares altos. Pelo Seu imensurável amor demonstrado através de Seu Filho Jesus. Aos meus pais, Antonio e Helena pelo amor que me dão a cada dia, por terem me ajudado em tudo que precisei. Pela compreensão da minha ausência nos momentos em família para poder concluir este trabalho. A minha irmã Juliana, por ter me desculpado das vezes em que não pude assistir filmes com ela e nem desenhar as roupas que me pedia. A minha orientadora Yorrana Maia, que ficará guardada em meu coração. Pela ajuda, grande contribuição e pelos momentos em que ela deixou de estar com seus familiares e amigos para poder ajudar a mim e aos meus colegas, de alguma maneira. A minha professora Rosyane Rodrigues pela paciência e considerável contribuição, ajuda e orientação durante o meu pré-projeto. Ao meu examinador, professor Fernando Hage, pela sua grande contribuição e amizade conquistada. A minha colega Diana pela execução da minha peça conceitual. Pelo seu excelente trabalho. A minha colega Marcela Araújo pela disponibilidade em me ajudar. A minha colega Eligilza Salazar pela ajuda com as fichas-técnicas. A professora Lucilene Lobato, também pela ajuda nas fichas- técnicas e pela amizade conquistada ao longo dos três anos de curso. A Socorro, por ter arrumado a bagunça que fiz em meu quarto, ao longo do desenvolvimento deste trabalho. 5 “Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece.” (Filipenses 4: 13, Bíblia Sagrada). 6 RESUMO Este trabalho pretende mostrar as tradições criadas pela Rainha Vitória nos casamentos reais da monarquia inglesa. Nele serão identificadas quais são essas tradições e de que maneira elas influenciam os vestidos usados pelas noivas de cada monarca que ascendeu ao trono inglês depois de Vitória. Observando o contexto histórico, político e econômico em que cada casamento se encontra, será feita uma análise de como acontecimentos como grandes guerras, por exemplo, foram importantes influenciadores na composição dessas roupas, mostrando a tradição como algo que se adequa ao período e ao ambiente em que está inserida. Ele terá uma coleção feita de vestidos de noivas com o título de” Vitória e Albert: o casamento real” que retratará a relação de amor do casal, mas também de muitos conflitos que eles tiveram, referentes a suas posições de príncipe e rainha. Palavras-chave: Rainha Vitória. Vestido de noiva. Tradição. Monarquia Britãnica. Contexto. 7 ABSTRACT This work pretend to show the traditions created by queen Victoria in the England monarchy´s royal weddings. On it will be identificated what is the traditions and how it influenced the dresses used by the brides of which monarch that ascended in the british throne then Victoria. Watching the historic, politic and economic context in which wedding is inserted, will be made an analysis of how events like big wars, for example, were important influencers in this clothe´s compositions, showing the tradition like something that can adapt itself in the environment and in the period that it is inserted. It will have a wedding dress collection called: “Victoria and Albert: the truth marriage” that will show the love relationship of the couple but some conflicts regarding their positions as a prince and queen. Keywords: Queen Victoria. Wedding dress. Tradition. British Monarchy. Contexto. 8 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 11 2 RAINHA VITÓRIA E A MODA 13 3 AS TRADIÇÕES CRIADAS PELA RAINHA VITÓRIA NOS CASAMENTOS REAIS 35 DA MONARQUIA BRITÂNICA 4 COLEÇÃO 67 5 PAINÉIS 72 5.1 CAPA 72 5.2 PÚBLICO ALVO 73 5.3 RELEASE 74 5.4 AMBIÊNCIA 75 5.5 CARTELA DE CORES 76 5.6 CARTELA DE MATERIAIS 77 5.7 LOOK CONCEITUAL 78 5.8 COLEÇÃO 79 6 CONCLUSÃO 81 7 FICHAS TÉCNICAS 83 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 95 9 LISTA DE IMAGENS IMAGEM 1- Quadro pintado por Franz Xaver Witerhalter 14 (1805-1873). IMAGEM 2- Vestido de casamento da rainha Vitória, 1840. 18 IMAGEM 3- Xadrez Balmoral: pintura de Le Follet, 1848. 20 IMAGEM 4- IMAGEM 4: Rainha Vitória na foto de seu jubileu, 1897. 22 IMAGEM 5- Modelo de bicicleta Penny Farthing. 25 IMAGEM 6- Traje de ciclismos para homens e mulheres. 26 1878- 80. IMAGEM 7- Homem burguês. 30 IMAGEM 8- Espartilho de origem britânica ou francesa, 31 1864. Produtor desconhecido. 32 IMAGEM 9- Crinolina de, aprox.1860, V&A Museum. IMAGEM 10- Mulher caindo de um veículo devido a 34 sua grande crinolina; pintura de 1859, aprox. IMAGEM 11- Árvore Genealógica da Monarquia Britânica. 37 IMAGEM 12- Detalhes da renda do vestido de noiva da princesa 41 Alexandra, 1863. IMAGEM 13- Broche com o emblema da ordem de Vitória e Albert 42 dado para a princesa Alexandra na ocasião de seu casamento com o príncipe Eduardo. IMAGEM 14- Princesa Alexandra da Dinamarca, retratada em. 43 seu vestido de casamento em 1863 com o Príncipe Eduardo do Reino Unido. IMAGEM 15- Vestido de casamento da princesa Maria de Teck. 45 IMAGEM 16- Chefe da casa real inglesa, a princesa Vitória com. 46 uma outra dama de honra posam para um retrato, no casamento de 10 Maria de Teck, em 1893. IMAGEM 17- Vestido de noiva de Elizabeth Bowes- Lyon, 1923. 50 IMAGEM 18- Alegoria de primavera (1482), Sandro Botticelli. 53 IMAGEM 19- Elizabeth II vestida em seu vestido de noiva ao lado de 54 seu noivo, o duque de Edinburgo, 20 de novembro de 1947. IMAGEM 20- Vestido de casamento de Lady Di, 1981. 57 IMAGEM 21- Modelo “pirata” de Vivienne Westwood e Malcolm 59 McLaren, V&A Museum. IMAGEM 22- Detalhes do vestido da Duquesa. 61 IMAGEM 23- Vestido de noiva de Catherine Middleton. 62 IMAGEM 24- A atriz Grace Kelly em seu vestido de noiva, quando se casou 63 com o Príncipe Rainier de Mônaco em 1956 . IMAGEM 25- Detalhe das ombreiras do príncipe Albert no filme: “A jovem rainha Vitória. 70 11 1 INTRODUÇÃO Este trabalho tem como título “As tradições criadas pela rainha Vitória nos casamentos Reais da monarquia britânica”. Sua proposta consiste em mostrar quais foram as tradições e modas criadas pela monarca enquanto estava no poder, sua importância para a historia da moda, dando especial ênfase aos vestidos das noivas dos monarcas que subiram ao trono britânico. A rainha Vitória, a partir do casamento com seu primo, o príncipe Albert do reino de Saxe-Coburgo e Gotha foi responsável pela criação de muitas das tradições que cercam o cerimonial dos casamentos reais ingleses, sendo muitas destas usadas na maior parte das festas de casamento ao redor do Ocidente, como o vestido de noiva branco, o qual será o objeto de estudo deste trabalho. Esta pesquisa tem como diferencial fazer uma análise das tradições criadas pela rainha observando o contexto social, econômico e histórico em que o seu casamento e os dos monarcas sucessores estavam inseridos, visto que acontecimentos como revoluções e guerras de cada momento tiveram uma importância e influência considerável na moda de cada época, e, dessa forma, também no vestido de noiva. Portanto, os objetivos consistem em mostrar quem foi a rainha Vitória e a importância de seu governo para a moda, analisando o contexto histórico, econômico e politico em que está inserida; Identificar quais foram as tradições que ela inventou no casamento real inglês e demonstrar como essas foram fortemente influenciadas por acontecimentos do período de cada matrimônio, contando um pouco da história de cada casamento através dos vestidos das noivas de cada um. Para alcançar os objetivos propostos, no primeiro capítulo será contada uma história do tempo em que a rainha permaneceu no poder (de 1837 a 1901), o qual ficou conhecido como “Era Vitoriana”. Usando referências de historiadores de moda, tais como James Laver, no livro “A roupa e a moda: uma historia concisa” e “..ismos: para entender a moda”, da autora Mairi Mackenzie, que descrevem com detalhe a moda do século XIX. Neste capítulo será feito um paralelo entre as vestimentas usadas na época e os acontecimentos históricos como a Revolução Industrial, através de referências de autores como José Jobson de Arruda no livro “Historia Moderna e contemporânea”. 12 Depois da contextualização histórica mostrada no primeiro capítulo, o segundo irá focar no vestido de noiva, inserido no contexto da realeza inglesa. Com referências retiradas de sites como o do Museu Victoria and Albert e do Palácio de Kensington, esta parte do trabalho irá descrever os vestidos das noivas reais, chamando a atenção para cada detalhe das tradições inventadas por Vitória, observando também os principais acontecimentos no mundo que foram fortes influenciadores do corte, do modelo e das formas de cada um. No terceiro capítulo estará presente uma coleção de vestidos de noiva. Essa terá como título “Vitória e Albert: um casamento real”, onde será contada, através das roupas que eles usavam, a famosa, mas também contrastante história de amor do casal devido as suas condições de rainha e príncipe. Portanto, uma parte da vida de Alexandrina Vitória será relatada neste trabalho, que mostrará um pouco do seu lado rainha, esposa, líder e, em especial, criadora e influenciadora da moda do seu tempo. Alguém que deixou uma parte de sua época e seus feitos nas rendas, tecidos e alguns adereços que estão presentes nos casamentos da monarquia britânica. 13 2 A ERA VITORIANA E A MODA De acordo com o site Historic Royal Palaces (s.d)1, na manhã do dia 20 de junho de 1837, Alexandrina Vitória, de apenas 18 anos de idade, recebeu a notícia de que seu tio, o rei William IV havia falecido. Como esse não tinha filhos, Vitória passava a ser a mais nova rainha da Inglaterra, dando início a um reinado que durou de 1837 a 1901. O dia de sua coroação foi muito esperado pela nação inglesa. Uma jovem mulher com menos de vinte anos de idade passaria a ser a autoridade máxima no país. Certamente, Vitória dava início a um novo tempo na monarquia britânica e, no dia de sua coroação, escolheu uma roupa que fazia jus ao seu novo papel. A jovem (princesa Fedora, sua meia irmã) ajustou uma anágua de cetim branco com efeitos dourados à cintura de Vitória e, por cima, assentou o vestido cujo corte na parte da frente permitia entrever a riqueza da anágua bordada. Que depois caia em dobras fartas formando uma longa cauda. Sobre os ombros, Vitoria colocou um manto carmesim forrado com pele de arminho debrudado com renda dourada. O toque final da toalete foi dado por um pequeno diamante de brilhantes, colocado sobre a cabeça da jovem princesa. (SHERMAN, 1987, p. 7) 1 HISTORIC ROYAL PALACES. Victoria awakes: 20 june 1837-Princess Victoria Awakes at Kensington Palace to descover that she is the new Queen. S.d. Disponível em: <http://www.hrp.org.uk/KensingtonPalace/stories/Victoriaawakes>. Acesso em 31 de outubro de 2012. 14 IMAGEM 1: Quadro pintado por Franz Xaver Witerhalter (1805-1873) com o título “ Queen Victória (1819-1901)”, cerca de 1870. Mostra a rainha com as vestes de sua coroação. FONTE: Vitória do Reino Unido: wikipedia.org, 2012 Vitória estava diante de uma grande responsabilidade. Todo reino passaria a ser governado por essa mulher que, a partir de então, precisaria colocar em prática sua autoridade como uma monarca. O tempo em que a rainha permaneceu no poder foi de grande importância para o país. Esse período passou a ser denominado de “Era Vitoriana”. Segundo Sitwell (1946), essa foi considerada uma época notável da classe média, do capitalismo e dos valores comerciais, quando o mundo era repleto de máquinas, os motores eram mais ágeis que os cavalos e os teares mecânicos suplantavam homens, tornando-se, portanto, a idade da indústria. De acordo com a autora, o reinado de Vitória estava fadado a ser testemunha do crescimento do capitalismo e de seus ideais. Em relação à moda, é comum que esta sofra influências do contexto histórico da época em que está inserida, de sua economia e dos anseios das pessoas de tal fase. Durante a Era vitoriana, não foi diferente. Este foi um momento muito marcante 15 na historia do vestuário devido aos grandes acontecimentos que marcaram o período, os quais serão retratados adiante. Segundo Johnstone (s.d), quando a rainha ascendeu ao trono em 1837, a imprensa da época logo a viu com a expectativa de que surgissem novas modas, transformando-a em um ícone para as garotas de sua idade, apesar do fato dela não ter passado, talvez, de uma pessoa que apenas se interessava pelo assunto, como relata a citação abaixo: Em 1837 Vitória subiu ao trono. A imprensa de moda olhou para esta rainha jovem para endossar novas modas e, geralmente, se tornou um ícone para a sua idade. Contrariamente à crença popular, Vitoria foi, até a morte do príncipe Albert, pelo menos, interessada em moda. (JOHNSTONE, s.d)2 Mesmo, talvez, não passando de uma mulher que gostava de saber o que estava se usando na época de seu reinado, é provável que a rainha Vitória tenha sido mais fonte de referências de moda que muitas moças altamente conhecedoras do assunto e empenhadas em lançar novas maneiras de vestir, durante o período em que a monarca esteve no poder. Ao longo deste trabalho, serão mostradas diversas maneiras como a rainha influenciou o vestuário durante o seu reinado, enfatizando a figura da noiva da realeza britânica a qual carrega muitas tradições criadas por Vitória, que identificadas no contexto de cada casamento estudado. Em 10 de fevereiro de 1840, logo no início de seu reinado, a monarca se casa com o seu primo, o príncipe Alberto, do reino de Saxe-Gotha e Coburgo e transforma esse dia em um marco na história da moda. A cor branca se torna uma tradição nos vestidos de noiva da monarquia britânica, conseguindo ultrapassar as fronteiras reais e influenciar grande parte das noivas do mundo ocidental até os dias de hoje. Antes da moda gerada pela rainha, as roupas usadas pelas mulheres da realeza no dia do casamento, como um todo, eram de diversas cores, com o objetivo de 2 In 1837 Victoria ascended to the throne. The fashion press looked to this new young queen to endorse new fashions and generally become an icon for her age. Contrary to popular belief Victoria was, until Prince Albert's death at least, interested in fashion (JOHNSTONE. Corsets & crinolines in Victorian fashion. Sd. Disponível em : <http://www.vam.ac.uk/content/articles/c/corsets-and-crinolines-in-victorianfashion/>. Acessado em 26 de outubro de 2012. Londres, UK. Tradução nossa.) 16 ostentar as riquezas de seus reinos, como demonstra a citação extraída do livro “O vestido de noiva”: [...] em tons de vermelho, roxo ou preto – como sinal de prosperidade. As princesas se casavam em longos vestidos de veludo, seda e cetim e tecidos adamascados adornados com peles, ouro rubis e brilhantes. Mas o luxo tinha uma razão de ser. Os casamentos reais uniam laços entre os Estados e na cerimônia a noiva representava os mais ricos de seu reino (WORSLEY, 2009, p. 257). A noiva da realeza, portanto, através de suas roupas suntuosas, poderia ser considerada uma espécie de vitrine que mostrava o que o seu reino tinha de mais caro. A rainha Vitória, todavia, não quis passar essa imagem ao escolher o branco como a cor de seu vestido de casamento, como relata a curadora Joanna Marschner (2011): Vitória já era rainha quando se casou e quando percebeu, como uma jovem e esperta mulher, que o casamento tinha sido usado muitas vezes como uma ferramenta política. Ela não queria que isso fosse um fator no dia de seu casamento com o príncipe Albert. (MARSCHNER, 2011?)3 A história do casal é muito conhecida pelo forte e recíproco sentimento de amor que eles possuíam. Porém, mesmo querendo mostrar que os fatores principais de seu casamento não eram os interesses políticos e econômicos, tais pontos não foram desprezados e a cor branca passou a significar status, como mostra Worsley (2009) (...) ela endossou o vestido branco como símbolo de status para noivas abastadas. A rainha era vista como uma romântica moderna que se casou por amor, em um vestido adornado por rendas simples para uma integrante da família real (WORSLEY, 2009, p.12) 3 “Victoria was already Queen when she is married and while she realised as a clever young woman that marriage had been used often as a political tool, she didn’t want that to be a factor on her wedding day to Prince Albert”. (MARSCHNER, Joanna. Roayal wedding dress: a history. 2011?. Londres;UK. Entrevista, acessado em: < http://www.hrp.org.uk/learninganddiscovery/discoverthehistoricroyalpalaces/r oyal-wedding-dresses>. Acessado em: 19 de novembro de 2012. Londres, UK. Tradução nossa. Entrevista) 17 Juntar nobreza e uma bonita história de amor poderia parecer conto de filme ou livro, principalmente se tratando de realeza na qual, em grande parte dos enlaces, o amor parece não ser o principal motivo. No caso da rainha, essa não ignorou fatores como a economia e o simbolismo de riqueza. Além de valorizar a indústria inglesa e empregar pessoas, na produção do vestido, como será mostrado adiante, a cor branca era um simbolismo de status, como afirma Worsley: A cor pode ser também um indicativo de classe social. O branco era normalmente associado às classes mais abastadas, já que suja facilmente e era caro mantê-lo sempre bonito”. Logo, não era qualquer mulher que poderia ter uma roupa dessa cor. (WORSLEY, 2006, p. 258) É interessante perceber os vários significados que o branco representa quando se refere aos vestidos de noiva. Uma cor que no século XIX passa a ter um sinônimo de posses, em períodos anteriores como na Grécia antiga e o período da Idade Média, representa pureza e virgindade, como relata a citação a seguir, que afirma que algumas mulheres inglesas e hindus do período vitoriano usavam véu e vestido branco no período de luto. Embora no Ocidente o branco represente pureza e virgindade, ele é associado à morte em outras culturas. É a cor usada nos funerais hindus, por exemplo; até mulheres da Inglaterra do século XIX usavam vestidos brancos e véus quando estavam de luto. Mas a história das noivas de branco remonta à Grécia antiga, quando a cor simbolizava alegria e pureza; na Idade Média, algumas noivas usavam branco para indicar virgindade. (WORSLEY, 2009, p.257). A rainha Victória não foi desse modo, a primeira noiva a se casar de branco, mas, foi a partir de seu casamento que ele ficou tradicionalmente conhecido como a cor de grande parte dos vestidos das noivas ocidentais, os quais se tornaram uma vestimenta que leva muitas mulheres a investirem verdadeiras fortunas para adquirir um, mesmo que seja para usar apenas uma vez. O modelo do vestido da monarca descrevia com detalhes a moda da época, por meio de peças frequentemente usadas no século XIX, como a pelerine4. 4 Elegante capa usada pelas mulheres em meados do século XIX. Tinha extremidades compridas na parte da frente e curtas atrás. (CALLAN, 2007, p.244) 18 Diante da moda lançada por Vitória, pode-se dizer que ela não só foi influenciada pelas roupas do período, mas que essas foram revolucionadas pela rainha, no que se diz respeito ao vestido de noiva. Segundo a descrição feita por Marschner (2011)5, o modelo do vestido era composto por um corpete, com mangas volumosas. Tinha um decote que deixava os ombros à mostra, com o detalhe de uma pelerine ao redor dele. A cintura era pontiaguda com pregas profundas na parte da frente. Possuía seis metros de tecido e foi bordado com flores de laranjeira, combinando com uma tiara feita do mesmo material, ao invés das tradicionais coroas de pedras preciosas. Na imagem que segue, é possível visualizar a roupa descrita retirada do livro “História do vestuário no Ocidente”. IMAGEM 2: Vestido de casamento da rainha Vitória, 1840 FONTE: Boucher, 2010 5 MARSCHNER, Joanna. Factsheet: Historic royal wedding dress at Kensington Palace. 2011. Disponível em: < http://www.hrp.org.uk/Resources/FACTSHEET__royal_wedding_dresses_April_2011_2.pdf.>. Acessado em: 19 de novembro de 2012. 19 Alexandrina Vitória passa a ser uma pessoa muito influente na cultura britânica, desde 1840 até os nossos dias. O vestido usado em seu casamento dava inicio a um reinado repleto de novas modas, das quais, algumas serão mostradas ao longo deste trabalho e que surgiram por diversos motivos, tais como a baixa estatura da rainha e também por motivos de protocolos, como foi o caso do luto. A rainha, assim como inventou a tradição do branco para o casamento, disseminou o preto como cor de luto. Quando o seu marido, o príncipe Albert veio a falecer em 1861, a rainha passou a usar roupa preta para representar o luto pela perda de seu esposo. A partir de então, até certo período, a maioria das viúvas, em grande parte do mundo, adotaram essa cor na triste ocasião. Mackenzie (2010, p.48) relata que, durante o reinado de Vitória, rituais sociais e complexos códigos de etiqueta regiam o período. O uso desses padrões representava distinção da pessoa que os aderia. A autora conta ainda que o luto era dividido em três fases: luto completo ou fechado, segundo luto, luto comum e meioluto, cada um com um período determinado. A mulher vitoriana vivia em meio a rigorosas regras devido ao seu papel na sociedade. Suas roupas eram reflexo disso. Repletas de contrições, essas eram muito mais restritas do que a dos homens, os quais, durante o luto, precisavam usar trajes específicos. Porém, de uma maneira muito menos rígida e por um período de tempo muito mais curto que o das mulheres, como mostra Mackenzie: A viúva, na patriarcal era vitoriana, encarava contrições muito mais rígidas e abrangentes: tinha de passar dois anos e meio publicamente de luto pelo marido. De sua parte, o viúvo devia respeitar um luto ostensivo de apenas três meses, sinalizado pelo uso de uma faixa de crepe negro no braço. (MACKENZIE; 2009, p.48) Portanto, a mulher da Inglaterra do século XIX passava por restrições severas em relação ao seu traje, em especial quando o seu marido falecia. Até detalhes como o tipo de tecido, peças íntimas e acessórios estavam sujeitos a regras sociais, as quais precisavam ser minuciosamente cumpridas. Além disso, para cada fase do 20 luto existiam certos tipos de vestimentas com cores específicas que precisavam ser usadas. As especificações detalhavam elementos como o tecido, o corte, a silhueta, botões, roupa de baixo, penduricalhos e acessórios. O crepe (uma gaze de seda fosca) ou bombazine eram os tecidos permitidos para o luto, permitia-se adicionalmente a meia escura. Quando se alcançava o meio-luto, tonalidades, incluindo cinza, malva e violeta tornavam-se permitidas, além do preto. (MAKENZIE; 2009 p.48) A importância da rainha Vitória para a moda não para por aí. Acontecimentos de sua vida pessoal, como a morte de seu marido, foram motivos para as vestimentas da época serem influenciadas por ela, assim como os momentos de lazer que o casal tinha. Antes da morte do Príncipe, a monarca e seu esposo costumavam ter momentos de lazer em uma propriedade que adquiriram na cidade de Balmoral, no sul da Escócia. Albert supervisionou pessoalmente a decoração do local, no qual se faziam presentes os tecidos tartans, típicos de tal região, tendo até um desenhado por ele e outro por Vitória. A partir de então o uso desses virou moda (STEVENSON, 2012). IMAGEM 3: Xadrez Balmoral: pintura de Le Follet, 1848 21 FONTE: Laver, 2010 Durante a Era vitoriana, até a pequena altura da monarca foi motivo para que as roupas do período sofressem influencia, fazendo com que as moças da época raramente fizessem uso dos saltos altos. Segundo Laver (2006, p.124), as mulheres tentavam parecer menores do que eram, talvez em respeito à pequenez de Vitória. O autor relata que raramente os sapatos tinham saltos e o tipo mais comum era a sapatilha amarrada ao tornozelo, como as de bailarina, as quais eram feitas de seda ou crepe, em cores que combinavam com o vestido; além disso, os pés pequenos eram admirados como sinal de nobreza. O pequeno tamanho da monarca fez também com que ela buscasse alternativas estratégicas que disfarçassem seus defeitos e lhe dessem a ideia de ser menos baixa, como foi o caso da sua coroa miniatura. De acordo com o texto de abertura da exposição denominada de Royal Colection Trust6, a pequena coroa usada pela rainha Vitória, no seu retrato de Jubileu de Diamantes em 1897, foi feita por R&S Garrard em 1870. Ela foi projetada para ser usada sobre um véu, o qual a rainha adotou após a morte do príncipe Albert em 1861. A coroa com 1,187 diamantes media apenas 9 por 10 cm e proporcionava à Vitória uma estatura maior do que a que realmente tinha, disfarçando, assim, seu pequeno tamanho. Segundo o texto, essa joia foi uma de suas favoritas, quando comparada a outras coroas que ela possuía, e foi usada durante trinta anos pela monarca, podendo ser vista na imagem que segue. 6 PALÁCIO DE BUCKINGHAN. Royal Colection Trust. (2012). Disponível em: <http://www.royalcollection.org.uk/sites/default/files/null/diamonds__a_jubilee_celebration_press_rele ase_2012_1.pdf>. Acesso em 11 de outubro de 2012. 22 IMAGEM 4: Rainha Vitória na foto de seu jubileu, 1897. Fonte: Victoria Revealed: www.hrp.org.uk. Sabe-se, além disso, que a Era Vitoriana foi um período importante da História. Muitos acontecimentos de relevância considerável para a humanidade aconteceram nesse momento, tais como o surgimento da energia elétrica, do telefone e de muitos outros inventos, os quais fizeram parte da Revolução Industrial. Durante o século XIX, a Inglaterra exercia grande supremacia na Europa. Esse acontecimento a colocou quase um século à frente de outros Estados Europeus. O avanço industrial desse período causou mudanças tão profundas e radicais na sociedade inglesa que foram consideradas revolucionárias e, por isso, esse acontecimento pode ser também de caráter social. (ARRUDA, 1974) O surgimento das máquinas durante esse período permite que a sociedade seja, de certa forma, reformulada. Surge uma nova maneira de se trabalhar. A partir de então, o trabalho humano é substituído por um maquinário: Embora tenha provocado transformações técnicas, comerciais e agrícolas, a revolução industrial pode ser considerada essencialmente a passagem da sociedade rural para a sociedade industrial, a mudança do trabalho artesanal para o assalariado, utilização da energia a vapor no sistema fabril em lugar da energia humana (ARRUDA, 1974, p. 237) 23 Dessa forma, as mudanças ocorridas no ambiente de trabalho permitiram que várias áreas da sociedade sentissem as mudanças da revolução. A substituição do trabalho manual pelo maquinário implicou também em uma mudança na forma como os trabalhadores passavam a ser remunerados pelo seu ofício. Esses, a partir de então, passaram a receber um salário. Já a passagem da indústria doméstica para a manufatura foi marcada pela transformação do artesão em trabalhador assalariado. Isso ocorreu quando os artesãos deixam de comprar a matéria prima e de possuir sua própria máquina, passando a receber ambas de um grande comerciante. O produto foi produzido a preço fixo, contratado entre o comerciante e o artesão, que nesse caso, recebia apenas um pagamento pelo seu trabalho, o salário. (ARRUDA, 1974, p.120) É possível que a nova maneira de trabalhar e receber pelo trabalho realizado, tenha feito com que os artesãos perdessem a sua autonomia no processo de produção. Estes agora estavam sujeito a uma hierarquia, precisavam obedecer a regras e se sujeitar a um patrão. Ainda que a sua média de produção em certo mês tenha superado a do anterior, esse continuaria a receber o mesmo valor, não recebendo nenhum aumento pela sua produção. Portanto, o salário surgia com prós e contra. Diante das circunstâncias, o comércio inglês no mundo oriental permitiu que os comerciantes passassem a ter acesso à matéria prima, ao produto e ao meio de produção, fazendo com que essa indústria prosperasse, principalmente devido a facilidades como, por exemplo, a grande quantidade de mão-de-obra barata proveniente dos Estados Unidos, como a citação abaixo evidencia: Logo depois que o comércio inglês no Oriente colocou os comerciantes em contato como o algodão e tecido de algodão, a indústria de fiação e tecelagem do algodão prosperou rapidamente, pelas seguintes razões: abundância de matéria-prima, tanto no Oriente quanto nos Estados unidos, então colônia da Inglaterra, disponibilidade de mão de obra barata, mercado consumidor seguro, inexistência de legislação que impedisse a expansão desta indústria, como acontecia com a fabricação de tecidos de lã. (ARRUDA; 1947, p.122) Com base no relato, a Inglaterra passava por um ótimo período industrial e econômico. A manufatura britânica parecia estar em seu melhor momento. A rainha Vitória certamente viu todo esse crescimento de maneira bastante positiva, ao ponto 24 de, no dia de seu casamento com seu primo Albert, querer que todo o material usado em seu vestido de noiva fosse produto inglês. De acordo com Marschner (s.d)7, Vitória fez questão de mostrar as qualidades da indústria da Inglaterra e estava desejosa para que todo material usado em seu vestido fosse produto de seu reino. Sendo assim, usou um cetim de seda, obtido em Spitafields, no leste de Londres, e decorado com rendas da cidade Honiton, no próprio Reino Unido, além de empregar mais de 200 artesãos, durante o período de março a novembro de 1839, para produzirem a renda de seu vestido no condado de Devon no Sudoeste da Inglaterra. Vitória, além de valorizar a indústria de seu país através do uso de matéria prima interna, permitiu também a geração de emprego e renda para uma parte da população deste, em um período muito oportuno, pois, com advento das máquinas, muitos trabalhadores ficaram desempregados, permitindo que não só esses fossem beneficiados com o valor do trabalho, mas, em grande parte, seus familiares também, o que pode ter proporcionado uma melhor qualidade de vida para algumas famílias durante o período da confecção de seu vestido. Diante dos relatos, é possível perceber a maneira como o Contexto histórico, social e econômico de uma época afetam diretamente a moda. A revolução industrial, de uma maneira geral foi uma forte influenciadora, como foi mostrado através do vestido que a rainha usou. As facilidades e novas tecnologias geradas durante o período também permitiram a criação de muitos inventos que foram de fundamental importância para a História, tais como novas fontes de energia como a hidrelétrica, por exemplo, combustíveis derivados do petróleo, além da maioria dos principais meios de transportes utilizados 7 MARSCHNER, Joanna. Factsheet: Historic royal wedding dress at Kensington Palace. 2011. Disponível em: < http://www.hrp.org.uk/Resources/FACTSHEET__royal_wedding_dresses_April_2011_2.pdf.>. Acessado em: 19 de novembro de 2012. 25 até os dias de hoje, tais como o metrô urbano, o automóvel e a bicicleta, sendo esta última uma forte influenciadora da moda do século XIX. (ATTERBURY, sd)8 Segundo a mesma fonte, o uso do automóvel como meio de transporte pessoal foi limitado na Grã-Bretanha antes de 1901, ao contrário da bicicleta, a qual teve o modelo Penny Farthing, como a forma mais popular de transporte durante as décadas de 1870 e 1880. Mesmo que essa tivesse uma instabilidade inerente e que a falta de prática em seu uso oferecesse perigos. O uso das bicicletas na Era Vitoriana passou a ser o meio de transporte pessoal mais disponível. IMAGEM 5: Modelo de bicicleta Penny Farthing Fonte: dallashistory.freeforums.org, 2009 Ela também gerou uma revolução no vestuário feminino, visto que era praticamente impossível pedalar com saias compridas e seus grandes metros de tecido, os quais impediam as mulheres de se locomoverem livremente. Portanto, as roupas começam a se adequar ao novo veículo. Para o novo esporte do ciclismo, que ainda estava no estágio das bicicletas com rodas dianteiras maiores que as traseiras, foi 8 ATERBURY, Paul. Steam & speed: Other forms of Victorian transport & communication. S.d. Disponível em: < http://www.vam.ac.uk/content/articles/s/other-forms-of-victorian-transport-andcommunication/>. Acessado em 2 de dezembro de 2012. 26 concebido um traje extraordinário: calções justos até o joelho, um paletó muito justo com aspecto militar e um boné pill Box. O homem elegantíssimo que usava esse traje levava uma corneta para advertir o pedestre de sua aproximação. Esse vestuário peculiar parece não ter sido adotado na França nem na Alemanha, onde o ciclismo era igualmente popular. (LAVER, 2009, p. 204 e 205) IMAGEM 6: Traje de ciclismos para homens e mulheres. 1878- 80. Fonte: Laver, 2009 Nesse sentido, o uso popular da bicicleta durante a Era Vitoriana foi muito importante. Em relação às mulheres, a necessidade de se criar roupas que as permitissem pedalarem sem os muitos metros de tecidos de suas saias, fez, também, com que surgissem alguns conflitos entre os gêneros masculino e feminino por conta de algumas vestimentas que sugeriam que essas usassem calças, como foi o caso dos bloomers descritos a seguir: Ele consistia em uma versão simplificada do corpete em voga e uma saia razoavelmente ampla bem abaixo dos joelhos. Sob a saia, entretanto, viam-se calças largas até o tornozelo, geralmente com um babado de renda na barra . (LAVER, 2006, p.182) Essa intenção de melhorar o traje feminino causou um grande alvoroço na sociedade e se tornou motivo de sátiras e censuras. A tentativa da mulher de 27 simplificar suas roupas não foi vista com bons olhos. Os homens encararam o traje como uma intenção do sexo oposto de querer se igualar a eles, que acreditavam se encontrar em uma posição social mais vantajosa. O que podemos chamar de complexo das calças veio à tona. As mulheres estavam empenhadas ao que parecia, em “usar as calças”, e o homem de meados do período vitoriano considerava tal atitude um ataque ultrajante a sua posição privilegiada (LAVER, 2006, p.182) Outros fatores que cresceram significativamente durante essa fase foram as artes e o design, principalmente, a partir da Grande Exposição dos Trabalhos da Indústria de Todas as Nações de 1851, realizada no Palácio de Cristal, a qual foi um evento de grande importância para o reinado de Vitória e que culminou com o surgimento do Museu “Vitória e Albert”. Esse acontecimento, segundo o site do mesmo museu (s.d)9, foi a primeira exposição internacional de produtos manufaturados, a qual exerceu influência no desenvolvimento de aspectos da sociedade, tais como a arte, o ensino de design, relações e comércio internacional e o turismo. O site relata que essa deu início a muitas outras exposições internacionais que se seguiram pelos próximos cem anos. Este evento, além dos diversos ramos citados, influenciou também a moda, mesmo que tenha sido de uma maneira indireta. As novas tecnologias, supostamente, fruto do contexto da industrialização, geraram progresso à nação inglesa, e representou, portanto, um avanço no vestuário, como mostra a citação abaixo: Na Inglaterra, a Grande Exposição de 1851, não só mostrou novos tipos de tecnologia, como trouxe a esperança (uma esperança errônea como se viu mais tarde) de que uma era de paz universal estava para começar. O negócio e o comércio prosperavam. [...] 9 MUSEU VITÓRIA E ALBERT. National Art Library Great Exihbition Collection. Sd. Disponível em: <http://www.vam.ac.uk/content/articles/n/national-art-library-great-exhibition-collection/>. Acessado em 26 de outubro de 2012. 28 Prosperidade crescente significa maior elaboração de roupas (LAVER, 2006, p. 177). As roupas mais elaboradas, relatadas pelo autor, repercutiram sobre todas as camadas da sociedade, inclusive as mais pobres, as quais passavam a se vestir melhor. Muitas vezes era difícil de identificar as pessoas que tinham poucos recursos, quando essas usavam suas “roupas de domingo”, pois eram melhores do que as vestimentas de muitas mulheres de classes superiores vinte anos antes é o que conta Laver (2006) na citação que segue: E vemos que R.S Surtees, em um de seus romances (Ask mama [pergunte a mamãe], de 1853), reclama de que “a criada agora se veste melhor – de maneira mais fina, em todo caso – do que a senhora se vestia há vinte anos e é quase impossível reconhecer os trabalhadores quando estão usando suas roupas de domingo” (LAVER, 2006, p. 177). O avanço das máquinas, e consequentemente, os surgimentos do capitalismo e da classe burguesa permitiram que o vestuário, também passasse por uma grande transformação, não só no estilo e no caimento, mas, também, na forma de produção. Até a virada do século XIX, a moda se desenvolvia de forma estável, ao sabor das convulsões políticas, sociais e religiosas que agiam como indicadores de novos modismos. A industrialização têxtil, seguida por avanços na manufatura e na venda de tecidos, revelou novos catalisadores para a evolução da moda: disponibilidade, acessibilidade, mobilidade social e novidades, da parte dos consumidores, e lucro da parte dos fornecedores. (MACKENZIE, 2010, p. 40). As pessoas desse período, portanto, passam a encarar a moda de forma diferente. Diante das mudanças da época, a maneira de fazer, comprar, criar e, portanto, desejar as roupas foi revolucionada. Surge, então, uma nova sociedade de consumo em dois sentidos: o primeiro se dá pelo fato de que as pessoas, em geral, passam a ter uma nova postura diante da vestimenta, a qual ficou mais acessível ao consumidor e rentável ao vendedor, como mostrou a citação; e a segunda é que a burguesia passa a ser uma nova classe consumidora. 29 Segundo Mackenzie (2010), com o surgimento do capitalismo, a riqueza deixava de depender apenas da hereditariedade. O esforço pessoal proveniente do trabalho, o qual ganhou status de religião devido à maneira árdua em que este era executado, passou a ser considerado o único meio para garantir uma vida próspera. A adoção de rígidos códigos morais, tais como o comportamento sóbrio e o ato de poupar passaram a prevalecer, refletindo a necessidade de se por ordem a um período de violentos tumultos sociais. Os valores da classe média passam a influenciar o século XIX. Considerando essas questões, a roupa passa a refletir todo este contexto social, se tornando uma espécie de contadora de história, em que muitos acontecimentos de um período específico passam se fazer presente através da silhueta, do corte e do material utilizado em cada vestimenta. Com o surgimento da burguesia, não foi diferente, essa classe social causou forte transformação no vestuário como mostra a citação a seguir: A figura dominante na vida inglesa era agora o burguês respeitável, que não desejava se exibir, mas simplesmente ter uma aparência distinta tanto no escritório quanto em casa [...] O que estamos assistindo de fato nessa época é o desaparecimento da extravagância e da cor das roupas masculinas, que só retornaram em épocas bem modernas. Todas as roupas vistosas eram consideradas deselegantes. (LAVER; 2006, p. 169) 30 IMAGEM 7: Homem burguês FONTE: Laver, 2010 É interessante observar na moda do século XIX a maneira como a classe média influenciou a vestimenta, a qual, na maioria das vezes é modificada pelas pessoas que possuem mais poder e riquezas, como os monarcas. Agora, os emergentes passam a ditar grande parte dos modismos da época. Conquistar seus bens através do trabalho árduo passa a ser uma virtude admirada e almejada, sendo vista, entretanto, apenas em relação ao sexo masculino. No que se diz respeito às mulheres, a citação que segue mostrará que toda a beleza que o trabalho duro gerava para os homens, para elas, já não era visto da mesma maneira. Seus maridos esperavam que essas soubessem cuidar do lar com maestria e que vivessem no ócio. Isso geraria status para o homem da casa e provavelmente, daria a entender que os maridos ganhavam muito bem, ao ponto de poderem sustentar a desocupação de suas esposas. Influenciadas também pelo romantismo, essas, além da ociosidade, passaram a buscar uma imagem doentia. O estereótipo de beleza passava a ser um rosto com 31 aspecto abatido e, de certa maneira, doentio a ao ponto delas fazerem uso de recurso mirabolante para conseguir uma imagem abatida e fraca. De fato, era chique ser, ou parecer um pouco souffrante; “saúde de ferro" era simplesmente vulgar. O ruge foi totalmente abandonado, uma “palidez interessante” era admirada, e algumas jovens tolas chegavam a beber vinagre para ficar de acordo com a moda. O próspero homem de negócios, que começava a deixar a cidade e a instalar sua família em confortáveis casas recém-construídas nos subúrbios elegantes, esperava duas coisas da esposa: primeiro que fosse um modelo de virtudes domésticas e segundo que não fizesse nada. Sua ociosidade total era a marca do status social do marido. Olhava-se com desprezo para qualquer tipo de trabalho e as roupas que refletiam essa atitude eram extremamente restritivas. De fato, o grande número de anáguas usadas nessa época impedia as mulheres de realizar qualquer atividade sem fadiga (LAVER 2006, p. 170). A mulher do período vitoriano vivia diante de uma sociedade que a restringia sobremaneira. As roupas que usava eram um reflexo de sua condição social. Entre essas vestimentas, estavam a crinolina e o espartilho, os quais foram peças de fundamental importância para a moda da época. Roupas apertadas, pesadas e abafadas eram as que as mulheres costumavam usar, colocando em risco sua saúde e higiene. IMAGENS 8: Espartilho de origem britânica ou francesa, 1864. Produtor desconhecido. FONTE: Acervo do V&A Museum, código: T. 169-1961, colection.van.uk, s.d 32 Segundo Johnstone (s.d)10, os vestidos do século XIX aumentaram de tamanho e tinham que ser estruturadas por camadas de anáguas pesadas as quais eram muito quentes e sem higiene, principalmente durante o verão. As anquinhas eram feitas com almofadas ou ossos de baleia que lhes tornavam rígidas e serviam como suporte. A fonte relata que o tipo mais popular de saia era feito com crina de cavalo (‘crin’ em francês significa crina e ‘lin’ vem do linho com o qual foi tecida), a qual ainda não era a crinolina, feita de aço usada em 1850. É de se imaginar que o incômodo que tais vestimentas causavam era muito grande. Com muitas limitações, as mulheres tinham que se adequar ao rígido ideal de beleza do período, o qual, aos poucos, foi sofrendo mudanças que tentaram melhorar a situação da roupa feminina, mas que ainda estavam longe de serem considerados trajes confortáveis. Ainda segundo Johnstone (s.d), em 1856, surge, portanto, a crinolina. Uma alternativa mais prática, era feita com aros de aço de mola e suspensos com fitas de algodão. Essa nova estrutura era forte o suficiente para suportar as saias e criar o efeito em forma de sino que se tornou tão popular, ao ponto de ser apelidada de “crinolinemania”. 10 JOHNSTONE, Lucy. Corsets & Crinolines in Victorian Fashion. S.d. Disponível em: <http://www.vam.ac.uk/content/articles/c/corsets-and-crinolines-in-victorian-fashion/>. Acessado em 21 de novembro de 2012. 33 IMAGEM 9: Crinolina de, aprox.1860, V&A Museum FONTE: Corset & Crinolines in Victorian Fashion. Código: T. 150.1986 www.van.ac.uk. s.d. Diante dos relatos, é possível perceber a disposição das mulheres em estarem na moda e, portanto, adequadas ao meio em que estavam inseridas, se submetendo ao desconforto, à falta de higiene e também a muitos comentários irônicos feitos pelos veículos de comunicação da época. Muito tem sido escrito e desenhado para criticar e satirizar a crinolina. Os perigos e inconvenientes de se usar a gaiola foram muito divulgados na época, tais como a incapacidade das mulheres de caberem em carruagens ou através de portas estreitas. Algumas imagens satíricas foram tão longe que mostraram as mulheres tendo que deixar suas crinolinas do lado de fora ou em cima do veículo quando viajavam, revelando, assim, mais tornozelos e pernas do que se pensava ser adequado, o qual foi outro problema muito citado. (JOHNSTONE, s.d)11 11 Much has been written and drawn to criticise and satirise the crinoline. The dangers and inconveniences of wearing the cage were much publicised at the time, and included being unable to fit into carriages or through narrow doorways. Some satirical images went so far as to pretend that women had to leave their crinolines outside or on top of the vehicle when travelling. Revealing more ankle and legs than was thought proper was another much cited problem. The above cartoon was aptly named A Windy Day and suggests that women sometimes showed even more underwear by being blown by a sudden gust of wind. ( JOHNSTONE, Lucy. Corsets & Crinolines in Victorian Fashion. S.d. Disponível em: <http://www.vam.ac.uk/content/articles/c/corsets-and-crinolines-in-victorianfashion/>. Acessado em 21 de novembro de 2012. Londres, UK) 34 IMAGEM 10: Mulher caindo de um veículo devido a sua grande crinolina; pintura de 1859, aprox. Fonte: Corset and Crinolines in Victorian Fashion. www.vam.ac.uk, s.d A Era Vitoriana, portanto, foi um momento fundamental para o mundo da moda. A rainha se mostrou uma mulher que, mesmo sendo considerada apenas interessada no assunto, teve a percepção de usar as roupas como instrumento de disciplina, ao criar exigentes regras a respeito do luto; soube também favorecer sua imagem e seu corpo, quando resolveu usar a coroa miniatura e mostrou ser respeitada por seu povo, quando as mulheres inglesas deixaram de usar salto alto, devido à baixa estatura da rainha. No que diz respeito ao vestido de noiva, essa pode ter sido um marco na história da moda. A partir de seu casamento, nasceram tradições que foram usadas no matrimônio de todos os seus sucessores ao trono, as quais conseguiram se adequar ao contexto histórico, político e econômico de cada período e contar a história de épocas, guerras, e também da importante rainha por meio da roupa usada pelas mulheres da monarquia britânica no dia de seus casamentos, e é sobre isso que falará o próximo capítulo. 35 4 AS TRADIÇÕES CRIADAS PELA RAINHA VITORIA NOS CASAMENTOS DA MONARQUIA BRITÂNICA Os casamentos reais, no geral, causam uma grande expectativa em grande parte das pessoas. São muitas as curiosidades do público, em especial das mulheres, para esse momento. Enquanto a noiva não é avistada pelas pessoas, perguntas como: “Quem fez o vestido?”, “Quantos metros de tecido terá a calda?”, “Será que ela vai usar coroa?”, ficam ecoando nas mentes curiosas. Para muitos, os casamentos da realeza podem trazer à memória as histórias de alguns contos infantis, como “Cinderela”, em que a princesa, aparentemente, usa o “vestido mais lindo do mundo” e se casa com o príncipe que julga ser o amor de sua vida, juntos, vivem uma bonita história de amor. Porém, na vida real, nem sempre o amor é o motivo principal da união. No que diz respeito aos casamentos dos monarcas que subiram ao trono inglês a partir da rainha Vitória e dos futuros sucessores, príncipe Charles e Willian, as histórias que relatam esses enlaces são diversas. Segundo Marschner (2011), alguns deles eram “[...] uma questão de política externa. E a maioria desses casamentos estavam ligados a alianças políticas e ao domínio de territórios”. 12 Por muito tempo, em períodos como na Idade Média, por exemplo, muitas uniões, não só referente à realeza, mas também à união de pessoas sem título algum representavam um acordo de interesses políticos e econômicos, nos quais o noivo pagava um dote pela sua futura esposa. Em casos como o anel de noivado, mesmo que esse atualmente não represente uma ideia de posse da mulher, tem sua origem nesse acordo financeiro. Historicamente, o casamento foi por muito tempo fruto de acordo financeiro entre duas famílias [...] O noivado sela um acordo e se encaixa na tradição materialista. A aliança de brilhantes representa a ideia de compra da noiva, já que os casamentos eram fruto de negócios entre as famílias. Ainda hoje, tem-se a ideia de que o anel de noivado deve custar ao noivo um ou dois meses de salário. Na Idade Média, a doação que o homem tinha de realizar para obter a 12 MARSCHNER, Joanna. Royal wedding dresses: a history. 2011?. Disponível em: <http://www.hrp.org.uk/learninganddiscovery/discoverthehistoricroyalpalaces/royal-wedding-dresses >. Acessado em: 07de novembro de 2012. 36 mão da futura mulher incluía pedras preciosas, e o anel era visto como um objeto que a esposa poderia vender se ficasse viúva. (WORSLEY, 2009, p. 206) No que diz respeito à monarquia britânica, seja qual for o motivo da união, a figura da noiva passa a ser, na maioria das vezes, uma das coisas mais esperadas, comentada e copiada por mulheres ao redor do mundo. Em todas elas, é possível perceber a influência da rainha Vitória. A partir de seu casamento com o príncipe Albert, a figura da noiva real inglesa fica repleta de tradições, as quais passam a lembrar e contar a história de tal monarquia. Segundo Hobsbawn (2006, p.12) “a invenção de tradições é, essencialmente um processo de formalização e ritualização caracterizado por referir-se ao passado, mesmo que apenas pela imposição da repetição”. Além de mostrar as tradições criadas por reis e rainhas, como Vitória, essas roupas também se tornam contadoras de histórias da moda e de alguns dos acontecimentos que marcaram a época em que cada casamento aconteceu. O passado representado pelas tradições se une ao presente de cada período, através do contexto histórico, político e econômico que cercava cada casamento. Segundo Marschner (2011) 13 , os vestidos de noiva da realeza sempre foram doadores de mensagens – mesmo o da rainha Vitória que, segundo a autora, era o mais simples deles, pois valorizou o que a indústria inglesa produzia de melhor, durante a Revolução Industrial. Em cada detalhe, o mundo que cerca cada vestimenta se faz presente através de rendas que surgiram em meio à invenção de máquinas, bordados repletos de simbolismos, cortes de roupas típicas de certo período, os quais tornam-se, portanto, fruto de guerras e revoluções que agem diretamente no comportamento das pessoas e, portanto, na moda. 13 MARSCHNER, Joanna. Royal wedding dresses: a history. 2011?. Disponível em: <http://www.hrp.org.uk/learninganddiscovery/discoverthehistoricroyalpalaces/royal-wedding-dresses >. Acessado em: 07 de novembro de 2012. 37 IMAGEM 11: Árvore Genealógica da Monarquia Britânica FONTE: Casamento do príncipe Willian: De Vitória a Willian, g1.globo.com, 2011 38 1863, o filho da rainha, o Príncipe Eduardo, se casa com a princesa Alexandra, filha do rei Cristiano, da Dinamarca. Segundo a Casa Real (2008) 14, ele foi o único rei da Casa Saxe-Coburgo-Gotha, em um reinado que durou de 1901 a 1910. São muitos os motivos que cercam um casamento real. União de reinos, a necessidade de sucessores, como ficaria a credibilidade do monarca diante do povo, ao ser ou não casado, foram questões que tornaram essas uniões assuntos de grande importância. No caso do casamento do rei Eduardo, fazia dois anos da morte precoce do príncipe Albert, portanto, havia um grande interesse no casamento do sucessor de Vitória. (MARSCHNER, 2011)15 Diante desse relato, é interessante perceber que, mesmo a rainha Vitória não querendo que seu enlace com o príncipe Albert fosse visto, apenas com caráter político que, apesar disso, não deixou os interesses econômicos de lado, os casamentos reais continuavam a representar os interesses de Estado, ainda que em épocas diferentes. A união de Eduardo e Alexandra estava inserida em um contexto de muitas mudanças na moda e no mundo como um todo. Como já foi relatado antes, a Revolução Industrial proporcionou um crescimento muito grande na economia da Inglaterra e de todos os países influenciados por ela, além de trazer também uma mudança importante na produção do vestuário, em especial com o surgimento da máquina de costura. O desenvolvimento da máquina de costura no início de 1850 foi uma das inovações mais importantes do século 19, uma vez que levou à produção em massa de roupas, incluindo roupas íntimas. Embora muitos corsets da década de 1850 ainda fossem costurados à mão, a velocidade de costura em uma máquina fez com que os fabricantes produzissem espartilhos em maior número e aumentassem a variedade de modelos. A fabricação de espartilho e roupas íntimas, portanto, tornou-se uma grande indústria, com um 14 CASA REAL. Saxe-Coburg-Gotha. S.d. Disponível em: < http://www.royal.gov.uk/HistoryoftheMonarchy/KingsandQueensoftheUnitedKingdom/Saxe-CoburgGotha/Saxe-Coburg-Gotha.aspx>. Acessado em: 05 de novembro de 2012. 15 MARSCHNER, Joanna. Factsheet: Historic royal wedding dresses at Kensington Palace. Abril de 2011. Disponível em : < http://www.hrp.org.uk/Resources/FACTSHEET__royal_wedding_dresses_April_2011_2.pdf>. Acessado em 19 de novembro de 2012. 39 volume de negócios de milhões de libras por ano. (JOHNSTONE, s.d)16 Dessa forma, a máquina de costura permitiu que uma grande quantidade de roupas fosse produzida em um curto período de tempo. Torna-se, talvez, algo que divide a moda em antes e depois de sua invenção. A produção de vestimentas, a partir de então, viveu transformações, as quais não se deram apenas com o surgimento dessa tecnologia. A criação de corantes sintéticos permite a produção de tecidos com cores impossíveis de serem criadas com os corantes naturais. A industrialização crescente do continente dá espaço para que o químico Perkin, na Inglaterra, produza o primeiro corante sintético chamado de malvena, o qual permite a obtenção de tons arroxeados que só eram possíveis de se obter com um processo químico. (BOUCHER, 2010) Vê-se, assim, que a prosperidade financeira gerada pela Revolução abriu portas para um avanço tecnológico considerável. Quando a economia sofre mudanças, a produção de roupas também é afetada positiva ou negativamente, como foi o caso da Primeira Guerra Mundial, que será discutida mais adiante. Acontecimentos como as guerras da Crimeia e da Itália (1850 a 1868) podem ser considerados um marco no século, mas não têm muita relevância na história do vestuário, pois o dinheiro usado nas batalhas não advinha de reservas, mas de impostos indiretos. O vestuário depende, em especial, do dinheiro, portanto eles são menos afetados com as mudanças políticas do que com as econômicas (BOUCHER, 2010). 16 “The development of the sewing machine in the early 1850s was one of the most important innovations of the 19th century as it led to the mass production of clothes including underwear. Although many corsets of the 1850s were still stitched by hand, the speed of sewing on a machine meant that manufacturers could produce corsets in far greater numbers and increase the variety of designs. Corsetry and underwear manufacture therefore became a major industry with a turnover of millions of pounds per year.” ( JOHNSTONE. Corsets & Crinolines in Victorian Fashion. S.d. Disponível em: <http://www.vam.ac.uk/content/articles/c/corsets-andcrinolines-in-victorian-fashion/>. Acessado em 21 de novembro de 2012. Londres, UK. Tradução Nossa. ) 40 É nesse contexto de grandes invenções e, portanto, de muitas mudanças na moda, na sociedade e na economia, que na manhã do dia 10 de março de 1863 acontecia o casamento do príncipe Eduardo e da princesa Alexandra na Capela São Jorge, no castelo de Windsor. Segundo a Casa Real (2007) 17, a escolha do local foi feita pela Rainha Vitória, que ainda usava um vestido preto, pois estava de luto pela morte do marido. Ela ficou muito emocionada quando o coral cantou músicas compostas por ele. É possível que o casamento de Eduardo tenha sido muito esperado pela nação inglesa. Com a morte de seu pai, ele passava a ser o sucessor da rainha, tornandose, portanto, uma esperança de continuidade e estabilidade da realeza, que acabara de perder um de seus principais membros. No dia do casamento do futuro rei, vestido de sua noiva, segundo Marschner (2011)18, tinha um corte elegante com uma saia com anágua de cetim branco enfeitados com flores de laranjeira e mirto artificiais, feitos de cera presente também no véu. As flores naturais, do mesmo tipo também compunham o buquê da noiva, como sugere a tradição criada por Vitória. Segundo a Casa Real (2007) 19, a rainha teria guardado cuidadosamente, em um envelope, um raminho da grinalda de Alexandra. Vitória marcou seu tempo e a moda. Sua forte influência, presente em cada pequeno detalhe, contava a história de certo período da Inglaterra e da vida pessoal da rainha. Logo, usar um material que se desvirtuasse desse contexto e não valorizasse a indústria britânica, seria inadmissível. 17 CASA REAL. The marriage of Prince and princess of Wales. Abril de 2007. Disponível em: < http://www.royalcollection.org.uk/microsites/royalweddings/default.asp >. Acessado em 01 de dezembro de 2012. 18 MARSCHNER, Joanna. Factsheet: Historic royal wedding dresses at Kensington Palace. Abril de 2011. Disponível em : < http://www.hrp.org.uk/Resources/FACTSHEET__royal_wedding_dresses_April_2011_2.pdf>. Acessado em 19 de novemembro de 2012. 19 CASA REAL. Sprig of artificial orange blossom from Princess Alexandra’s bridal wreath. Abril de 2007. Disponivel em: <http://www.royalcollection.org.uk/microsites/royalweddings/object.asp?exhibs=WedEVIIQA&item=17 &object=54331&row=16&detail=about> . Acessado em 10 de novembro de 2012. 41 Segundo A Casa Real (2007) 20 como presente de casamento, a noiva ganhou uma renda da cidade de Bruxelas, na Bélgica, porém, a rainha Vitória achou inadequada e decretou que todo o material usado no vestido da futura rainha da Inglaterra deveria ser inteiramente inglês. A renda era da cidade Honiton. Produzido pelo costureiro londrino, Mrs. James, o modelo era bordado com desenhos de cornucópia21 com os emblemas das Ilhas britânicas: rosas trevos e cardos. O material fornecido pela família Real britânica foi uma grande oportunidade de impulsionar a manufatura do reino, relata o mesmo arquivo da Casa Real (2007). IMAGEM 12: Detalhes da renda do vestido de noiva da princesa Alexandra, 1863. FONTE: Royal wedding dress 1840-1947; www.royalcollection.org.uk, 2007 É possível perceber que, assim como o vestido da rainha Vitória, o traje da princesa Alexandra também foi uma oportunidade para se valorizar o que a Inglaterra produzia de melhor, além do fato de contratar um costureiro inglês para 20 CASA REAL. Princess Alexandra in her wedding dress. Abril de 2007. Disponível em: <http://www.royalcollection.org.uk/microsites/royalweddings/object.asp?exhibs=WedEVIIQA&item=14 &object=420284&row=13&detail=abou > . Acessado em: 01 de dezembro 2012. 21 Atributo de abundância. É símbolo da agricultura e do comercio, vaso coniforme que se representa cheio de flores e frutos (DICIONARIO AURÉLIO, 1988, p. 180). 42 produzir a peça, tradição, a qual estará presente, também, nos próximos vestidos de noivas reais, cada pequeno detalhe tinha uma razão de estar ali. De acordo com a Casa Real (2007) 22 Para complementar o vestido de Alexandra a rainha Vitória deu a ela um broche camafeu rodeado de pequenos diamantes e vinte e um brilhantes grandes, o qual possuía uma pequena coroa cravejada de rubis, esmeraldas e diamantes. No centro da joia, estava presente o rosto de Vitória e Albert de perfil, como mostra a imagem a seguir: IMAGEM 13: Broche com o emblema da ordem de Vitória e Albert dado para a princesa Alexandra na ocasião de seu casamento com o príncipe Eduardo. FONTE: Royal weddings 1840-1947; www.royalcollection.org.uk, 2007 22 CASA REAL. Queen Alexandra’s badge of the Order of Victoria and Albert (First Class). Abril de 2007. Disponível em: <http://www.royalcollection.org.uk/microsites/royalweddings/object.asp?exhibs=WedEVIIQA&item=15 &object=441446&row=14&detail=about > . Acessado em 01 de dezembro de 2012. 43 IMAGEM 14: Princesa Alexandra da Dinamarca, retratada em seu vestido de casamento em 1863 com o Príncipe Eduardo do Reino Unido. Fonte: Worsley, 2010 O modelo do vestido da princesa condizia bastante com o que estava na moda. Segundo Laver (2006), a crinolina atingia o seu máximo por volta de 1860. Nesse momento, o autor relata que a saia parecia uma colmeia na parte da frente e dos lados e, portanto, começava a se deslocar para a parte de trás. As pequenas mudanças que aconteceram na crinolina não foram o suficiente para que essa deixasse de ser grande e incômoda. As mulheres ainda se encontravam em uma fase em que seus trajes eram desconfortáveis e apertados, porém, considerados a moda na época. O contexto em que o casamento de Alexandra está inserido foi muito importante para o mundo da moda. É interessante perceber a forte influência da Inglaterra nesse contexto, seja diretamente, através da rainha Vitória e suas criações, ou dos grandes acontecimentos que marcaram seu reinado, como o surgimento da máquina de costura. 44 Outra grande revolução que aconteceu na indumentária, especificamente na roupa feminina, durante esse período, foi o surgimento da alta-costura criada, em partes, pela Inglaterra, pois seu criador, Frederich Worth era inglês, mas estabeleceu a nova moda em Paris, a partir de 1858 (BOUCHER 2006, p. 354). Worth causou uma verdadeira transformação na história da moda, em vários aspectos e dentre eles a maneira como as vestimentas eram criadas, além de o fato de um homem criar roupas, o que na época não era comum. Ele conseguiu reconhecimento, fazendo com que as mulheres do período, as que podiam pagar uma roupa sua, fossem até ele para poderem adquirir um modelo exclusivo seu. Em épocas anteriores o estilista, em comparação, era uma pessoa humilde, que visitava as mulheres em suas casas. E, em sua vasta maioria, eram mulheres. Agora M. Worth, que apesar de ser inglês, em dez anos se tornara o ditador da moda de Paris, fazia as mulheres (com exceção de Eugenia e sua corte) irem até ele. (LAVER, 2006 p. 186) Eduardo só se tornou rei em 1901. No dia 3 de maio de 1893, o segundo filho dele e de Alexandra, George V, se casa com a princesa Victoria Maria de Teck, que foi bisneta de George III, que reinou na Inglaterra no período de 1760 a 1820. A história da união do casal é bastante inusitada. Segundo o Marschner (2011)23, a princesa teria sido contratada para o irmão de George, Albert Victor, Duque de Clarence. O casamento estava marcado para o mês de fevereiro de 1892, porém este faleceu, mudando, assim, os planos da família Real. Marschner também relata que, no vestido da noiva, tudo era produto da manufatura inglesa e o desenho consistia em tecidos com cachos de flores de prata, típicos da Grã-Bretanha e Irlanda, os quais foram tecidos pelos Srs. Warner em Spitafields. Os costureiros responsáveis pela sua produção foram os ingleses Linton e Curtis da Rua Albermarle24. Como mostra a ilustração a seguir: 23 MARSCHNER, Joanna. Factsheet: Historic royal wedding dresses at Kensington Palace. Abril de 2011. Disponível em : < http://www.hrp.org.uk/Resources/FACTSHEET__royal_wedding_dresses_April_2011_2.pdf>. Acessado em 19 de novembro de 2012. 24 É uma Rua em Mayfair, área no centro de Londres, localizada dentro da cidade de Westminster, a qual é, principalmente, comercial, com muitas casas antigas transformadas em escritórios para sede de grandes corporações e Embaixadas. (WIKIPEDIA. Albemarle Street. 25 de março de 2012. Disponível em < http://en.wikipedia.org/wiki/Albemarle_Street>. Acessado em 19 de novembro de 2012. 45 IMAGEM 15: Vestido de casamento da princesa Maria de Teck. FONTE: Royal wedding dresses, and what they mean; nationalgeographic.com, 2011 Em cada detalhe do vestido de Maria de Teck, é possível perceber a influência da rainha Vitória. A cor branca e o uso de materiais advindos da própria Inglaterra ainda se faziam presentes, fortalecendo, assim, a tradição inventada pela monarca, a qual soube se adequar à moda do período em que estava inserida. Em 1890 os vestidos eram lisos sobre os quadris e se ajustavam melhor sendo cortados enviesados. As saias eram compridas e em forma de sino, tendo em geral uma cauda. Os vestidos para o dia tinham gola alta com um babado de renda, sendo até as blusas para o dia primorosamente adornadas. (LAVER, 1989, p. 208) A moda da década de noventa do século XIX foi bem diferente, comparada a que regia o casamento da princesa Alexandra. As grandes crinolinas e as abafadas anáguas ficaram para trás, porém, isso não significava que as mulheres passariam a usar roupas confortáveis. Pelo contrário, os espartilhos se faziam bastante presentes, oprimindo e delineando a cintura de quem os vestia. Usado para conseguir a cintura fina que estava em moda no século XIX, o espartilho descendia do corpete do século XV, que era endurecido por dois pedaços de linho colados. Usados sob o vestido, mais frequentemente sobre uma bata fina de algodão ou de musselina, o espartilho costumava ser feito de pedaços de barbatana 46 de baleia inseridos como armação numa peça de tecido. Era amarrado com firmeza na frente ou atrás da cintura, tendo sido assunto de grande controvérsia a partir de mais ou menos1850, quando grupos de reformistas dos dois lados do Atlântico protestaram contra os danos físicos causados pela roupa excessivamente apertada. (CALLAN, 2007, p. 123) Diante do relato, conclui-se que as condições que se encontravam as mulheres da década de 1890, no que se diz respeito à moda, era algo espantoso. As cinturas ficaram muito finas, deformando, portanto, os corpos das mulheres que as vestiam. Na imagem a seguir, podem-se ver as damas de honra deste casamento real. É possível observar o quanto as silhuetas das mulheres da época eram finas, devido aos rígidos espartilhos. IMAGEM 16: Chefe da casa real inglesa, a princesa Vitória com uma outra dama de honra posam para um retrato, no casamento de Maria de Teck , em 1893. FONTE: Worsley, 2010 O casamento da Princesa Maria de Teck aconteceu em um momento em que a economia, representada pelos empresários sul-africanos e pelos novos ricos, passam a influenciar a moda, a qual fica mais extravagante e marca o fim do reinado de Vitória, como mostra a citação a seguir. 47 A década de 1890, como um todo, foi uma época de mudança de valores. A velha e rígida estrutura social estava se desfazendo visivelmente, com milionários sul-africanos e outros nouveaux riches tomando de assalto as cidadelas da aristocracia. Para os jovens, havia uma brisa de liberdade, simbolizada tantos pelos seus trajes esportivos quanto pela extravagância de suas roupas cotidianas. Estava bem claro que a era vitoriana estava chegando ao fim. (LAVER; 1989 p.211) Quando George V se casou, seu pai Eduardo ainda era rei e marcou a década de 1890 com suas milionárias amizades. Os empresários sul-africanos, assim como ricos judeus e atrizes americanas faziam parte de seu seleto grupo de amigos, o qual abriu portas para uma moda feminina que representava status social e financeiro. A dama eduardiana era imponente, e o porte – auxiliado por espartilhos e saltos altos, golas com barbatanas, numerosas anáguas e aulas de dança – era uma marca da boa educação. A sociedade se ampliara, contudo pelo apreço de Eduardo à companhia de milionários judeus, sul-africanos, atrizes e herdeiras americanas tanto quanto a de aristocratas. O dinheiro era quase tão importante quanto a nobreza, e as sais com cauda indicavam fortunas e criadas (STEVENSON, 2012, p. 72) Em meio a um contexto de ostentações, os caros modelos de Frederick Worth permaneciam firmes. Seu grande negócio da alta-costura influenciava não só as mulheres parisienses, mas também as inglesas, como foi o caso de Alexandra, mãe de George V, que teve o estilo linha princesa criado especialmente para ela. A alternativa ao corpete e saia separados era a linha princesa, um vestido de uma só peça sem costura na cintura, mas com costuras verticais para enfatizar a linha e ajustado sobre a anquinha. Consta que Worth inventou o estilo para a princesa Alexandra. (STEVENSON, 2012, p. 67) Worth foi de muita importância para a moda e será citado também no próximo casamento real. Maria de Teck e George V tiveram quatro filhos. George, Henry, George V e Eduardo VIII. Os dois últimos se tornaram reis. Eduardo VIII era o filho mais velho do casal e reinou de janeiro a dezembro de 1936, porém ele se apaixonou por uma mulher casada, Wallis Simpson. Esse preocupou o conselho de ministros quando a senhora Simpson se divorciou em 1936 pela segunda vez. A Inglaterra não admitiria uma rainha nessas circunstâncias 48 e Eduardo teve que escolher entre a coroa e sua esposa, ficando com segunda opção. (CASA REAL,2008)25 Em 16 de março de 1923, George VI, que se tornou rei devido a abdicação de seu irmão, se casou com Elisabeth Bowes-Lyon, conhecida como a “rainha-mãe”. Seu reinado foi do ano de 1936 a 1952. Segundo a Casa Real (2008) 26, esse foi fortemente ajudado por sua esposa a governar o país. Como todos os casamentos, até então citados, foram influenciados por alguns acontecimentos históricos de cada período, com o casamento de George e Elizabeth, não foi diferente. A Primeira Guerra Mundial que aconteceu no ano de 1914 até 1918 causou uma verdadeira revolução na vida e na roupa das pessoas da época. A partir do inicio da 1ª Guerra Mundial (1914-18), uma transformação profunda do guarda-roupa se produziu progressivamente. Inicialmente ligada ás diversas consequências da guerra, ela se prolongou e acentuou em função das condições de vida, de estado de espírito e dos meios de produção. (BOUCHER; 2010, p. 397) Uma grande guerra pode ser considerada um marco na História, como um todo. Na maioria das vezes, conflitos de grande proporção, como foi a Primeira Guerra Mundial, fazem com que um número significativo de pessoas perca suas casas, seus empregos e, muitas vezes, as suas vidas ou de pessoas próximas, causando uma transformação na economia, no comportamento e, portanto, na maneira de se vestir. De acordo com Budot (2002), com a perda de muitos homens nas batalhas, as mulheres passaram a tomar um lugar na sociedade que seria ocupado por esses. Grande parte das linhas de montagens fica agora sob o domínio das mães das esposas e das filhas, as quais precisariam de roupas que se adequassem a sua nova função. O luto gerado pela grande quantidade de mortos também induz as mulheres a usarem tons sóbrios e monocromáticos que não estavam acostumadas a usar. 25 CASA REAL, Edward VIII (Jan-Dez 1936). S.d. Disponível em: <http://www.royal.gov.uk/HistoryoftheMonarchy/KingsandQueensoftheUnitedKingdom/TheHouseofWi ndsor/EdwardVIII.aspx.>. Acessado em 06 de novembro de 2012. 26 CASA REAL. George VI (r.1936-1952). S.d. Disponìvel em: <http://www.royal.gov.uk/HistoryoftheMonarchy/KingsandQueensoftheUnitedKingdom/TheHouseofWi ndsor/GeorgeVI.aspx>. Acessado em 11 de novembro de 2012. 49 Diante dos relatos, é possível perceber a grande necessidade que o vestuário tem de ser adaptável ao meio e às circunstâncias em que está inserido. Grandes acontecimentos se unem à economia, à politica e à moda e contam de maneira coerente a história de uma década. A roupa, a partir de agora, adquire um novo formato. Em 1919, quando a moda retornou ao seu ritmo, a saia ampla que atravessava a guerra foi substituída pela linha “barril”. O efeito era completamente tubular. As saias ainda eram compridas, mas houve uma tentativa de confinar o corpo em um cilindro. O busto era de menino, e as mulheres começaram até a usar “achatadores”, a fim de se adaptarem a moda (LAVER; 1989, p. 230) Os vestidos de noiva, que para muitos leigos em moda nunca mudam e são todos brancos e iguais, também sofrem influência do contexto social, político e econômico ao seu redor. Se as roupas do dia-a-dia se modificam, os vestidos de noiva, certamente vão mudar também, permitindo, assim, que a roupa usada no dia do casamento se molde ao que está sendo usado na moda no momento. O vestido de noiva da “rainha mãe”, como ficou conhecida Elizabeth, estava de acordo com estilo usado na época. Feito pela costureira da corte, Madame Handley27 mostra que a tradição vitoriana de se usar branco continua presente e que esta foi profundamente influenciada pelo período histórico. Segundo a Casa Real (2007)28, vestido de casamento de Elizabeth foi descrito pelo jornal The Times como “o mais simples vestido já feito para um casamento real”. No estilo de uma roupa da realeza, esse tinha duas caldas. Uma era presa na cintura e a outra nos ombros. Feito de chiffon marfim, ele foi tingido para combinar com a cor do véu, que foi emprestado pela rainha Maria e preso a uma tiara composta de mirtos e rosas. A imagem a seguir mostra o vestido da noiva citada: 27 Madame Handley. Costureira que fundou uma empresa em Londres pouco antes da Primeira Guerra Mundial. Recebeu um selo régio de qualidade e foi muito popular na década de 20 e 30. A rainha Mary da Inglaterra foi sua cliente mais popular. (CALLAN, 2007, p.157) 28 CASA REAL. Lady Elizabeth Bowes Lyon leaving for the Abbey. Abril de 2007. Disponível em: <http://www.royalcollection.org.uk/microsites/royalweddings/object.asp?exhibs=WedGVIQE&item=3& object=2584779&row=2&detail=about>. Acessado em 11 de novembro de 2012. 50 IMAGEM 17: Vestido de noiva de Elizabeth Bowes- Lyon, 1923. FONTE: Worsley, 2010 O branco adotado pela rainha Vitória continuava presente no vestido de Elizabeth. Adotando uma tonalidade marfin, a noiva cumpria a tradição estabelecida pela monarca em um estilo medieval italiano, o qual era moda na década de 20, assim como o celta e Art Noveau, que também eram muito usados no período. No início do século XX, os estilos medieval, celta e art nouveau eram as tendências. Na década de 1920, as noivas vestiam-se como Guinevere (a heroína de Lancelot), em vestidos com tecidos trançados, fios prateados, guirlanda de flores e mangas medievais. Para um look mais etéreo, usavam-se vestidos leves e esvoaçantes, bordados com perolas e cristais. A peça usada pela rainha-mãe recebeu influências da estética medieval italiana, com faixas de lamê prateados cruzando um delicado corpete de chiffon (WORSLEY, 2009, p.122). Como foi dito no primeiro capítulo, usar a cor branca era algo caro e, portanto, um simbolismo de status social. Até certo período da década de 20, essa diferença de 51 classes ainda se fazia presente. Mulheres das classes mais baixas costumavam casar com o melhor vestido que tinham no guarda roupa, já as mais abastadas se dispunham a investir verdadeiras fortunas em um vestido feito por Frederick Worth. Na virada do século XX, as garotas se casavam usando o seu melhor vestido; as mais ricas vestiam um modelo parisiense feito por Charles Frederick Worth, o fundador da Alta-costura. Vestidos assinados por ele custavam naquele tempo, mais do que um ano de salário de um trabalhador. (WORSLEY, 2009, p. 15) O vestido de noiva passaria a ser um importante demarcador social, já que não eram todas as mulheres que poderiam se casar como uma princesa, e sim, somente aquelas que tivessem um padrão financeiro semelhante aos das moças da realeza. Em contrapartida, ainda na mesma década, as coisas começaram a mudar. Nesse período, surgem estilistas como Coco Chanel 29 e Jean Patou30. Eles serão responsáveis por democratizar o branco. A partir de então, essa cor passa a ser usada por mulheres das diversas classes. Tanto as senhoras da alta sociedade, quanto as moças que trabalhavam para essas senhoras, agora, poderiam ter acesso ao vestido da cor que virou um padrão no mundo ocidental para o dia do casamento. Somente na década de 1920 a vanguardista Coco Chanel declararia que o branco era a cor essencial para qualquer noiva, pobre ou rica. Foi Coco quem disse “Eu me importo mais com as ruas da cidade do que com os salões de festa”. Antigamente, empregadas jamais sonhariam em usar um vestido de noiva como o de suas patroas. No século XIX, elas teriam, provavelmente, casado de cinza ou preto. A década de 1920 democratizou os vestidos, graças a estilistas como Coco Chanel e Jean Patou, pois as tendências de vestidos simples, que usavam pouco tecido, tornou-os mais acessíveis. (WORSLEY, 2009, p. 257). A união de Elizabeth e do futuro rei George V se encontra em um dos períodos mais importantes da História. Além da grande mudança ocorrida no vestuário como um todo, as transformações que aconteceram, especialmente nos vestidos de noiva, podem ser consideradas um marco na moda da roupa de casamento. 29 Gabrielle Bonheur Chanel nasceu em Samur, na França. Na década de 20 lançou muitas ideias de modas. Combinou sais tweed com suéteres e colares compridos de pérolas e popularizou o “pretinho”. Na década de 60 já havia se tornado um símbolo de elegância tradicional com uma bolsa de corrente dourada e um colar de pérolas, um estilo que dura até os dias de hoje (CALLAN, 2007) 30 Estilista francês, nascido em Normandia. Entre suas criações estão o vestido de saia sino e cintura alta, em estilo pastora. Os modelos esportivos recebiam destaque em suas coleções. (CALLAN, 2007) 52 Foi a partir desse momento que a cor, a qual era apenas privilégio da realeza e das pessoas mais ricas da sociedade, se estendeu para as outras classes, dando início à tradição universal de se usar branco no dia do casamento. No que diz respeito à monarquia britânica, a tradição criada pela rainha Vitória, continuava passando de geração em geração. Em 20 de novembro de 1947, Elizabeth Mary de Windsor, atual rainha Elisabeth II do Reino Unido, se casa com o Príncipe Philip, da Grécia e da Dinamarca. A época e a moda mudaram, mas o contexto pós-guerra permanecia, só que dessa vez era a 2ª Guerra Mundial. Em uma época em que, segundo a citação, abaixo: A moda sobreviveu, enfrentando o desafio de tecidos, processos de fabricação e mão-de-obra limitados, e até o de restrições na confecção. As roupas da época da guerra demonstram com que força a moda reflete a situação econômica e política vigente, a atmosfera do momento. (LAVER; 1989, p. 252) Em momentos como as guerras, os profissionais e as grandes empresas de moda precisam exercer a habilidade de se adequar ao contexto. Nem todos os materiais estão a sua disposição, a mão de obra é escassa e, portanto, a moda precisa economizar e usar o que é viável, porém, o estilista Christian Dior foi de encontro a esse princípio e, no dia 12 de fevereiro do mesmo ano do casamento real, lança a linha Corola. Essa coleção ficou rapidamente conhecida como New Look, nome dado pelo editor de moda americano Carmel Snow. Com saias godês que abriam como flores a partir de corpetes justos, a nova moda era o oposto do racionamento de materiais. Só nas saias se utilizava de 13 a 22 metros de tecidos, além do tule usado para armá-las. Os corpetes eram justos para valorizar o busto e acentuar a cintura (CALLAN, 2007). Christian Dior ousou e conseguiu agradar a muitos. A extravagância logo depois de uma guerra foi um risco que esse correu, mas que deu certo. Em novembro do mesmo ano, Elizabeth se casou. O New Look já estava lançado, porém, seu ideal de exagero não se fez presente no vestido da monarca. 53 O vestido da atual rainha, segundo Marschner (2011) 31 era um documento importante do pós-guerra. Nesse período, o racionamento de roupas e comidas ainda estava em voga na Grã-Bretanha. Dessa forma, o costureiro real, Norman Hartnel, procurou transmitir uma mensagem de esperança para o futuro, encontrando inspiração na pintura de Botticelle “Alegoria de primavera”. IMAGEM 18: Alegoria de primavera (1482), Sandro Botticelli. FONTE: wikipedia.org, 2012 O casamento de Elizabeth pode ter sido considerado uma esperança para a nação, em meio a um contexto de mortes, destruições, perdas. Um casamento de uma, até então, futura rainha poderia ser considerado um novo marco, assim, a mensagem que seu vestido passou tinha bastante sentido. A Casa Real (2011?), 32 relata que ele foi confeccionado pelo costureiro Norman Hartnell e tecido na cidade de Winterhur (no norte da Suíça), Duferline (uma cidade escocesa), na fábrica Canmore (cidade localizada no Canadá). 31 MARSCHNER, Joanna. Royal wedding dresses: a history. 2011?. Disponível em: <http://www.hrp.org.uk/learninganddiscovery/discoverthehistoricroyalpalaces/royal-wedding-dresses>. Acessado em: 19 de novembro de 2012. 32 CASA REAL. 60 Diamond wedding aniversary. 2011? . Disponivel em: <http://www.thediamondjubilee.org/60-diamond-wedding-anniversary-fact > Acessado em 02 de dezembro de 2012. 54 Para produzir a peça, foi usada uma seda vinda de bichos de seda chinesa do castelo inglês de Lullingnstone (uma vila no condado de Kent). O véu da atual rainha foi feito de tule e preso a uma tiara de diamantes reutilizados, retirados de um colar/tiara comprado pela rainha Vitória. A peça foi feita para a rainha Mary em 1919. Em seu buque, estava presente um raminho da árvore plantada por Vitória, descreve a Casa Real (2011?). Elizabeth, de todas as noivas reais citadas, foi, talvez, a que fez menos uso de materiais advindos da própria Inglaterra, mas isso pode ter tido uma justificativa em meio ao contexto histórico em que seu casamento estava inserido. Para Elizabeth, certamente foi muito difícil manter a tradição. Seu casamento aconteceu logo depois de duas grandes guerras. A Inglaterra vivia um momento desesperadamente austero e de forte racionamento de roupas e alimentos. Muitos dos materiais usados nos vestidos das princesas anteriores não estavam disponíveis para ela. (MARSCHNER, 2011).33 Por isso talvez, a utilização de tecidos vindos de outros países. 33 MARSCHNER, Joanna. Royal wedding dresses: a history. 2011?. Disponível em: < http://www.hrp.org.uk/learninganddiscovery/discoverthehistoricroyalpalaces/royal-wedding-dresses>. Acessado em: 19 de novembro de 2012. 55 IMAGEM 19: Elizabeth II vestida em seu vestido de noiva ao lado de seu noivo, o duque de Edinburgo, 20 de novembro de 1947 FONTE: Royal wedding dress 1840-1947 www.royalcollection.org.uk Ao observar esses relatos, é possível perceber que o padrão de vestido branco criado por Vitória se fazia presente no modelo de casamento usado pela atual rainha. A moda da época também é vista, principalmente, através dos ombros largos característicos do período, como mostra a citação a seguir. As saias continuarão retas e os ombros largos, como antes da guerra, até a surpresa do New look, lançado por Cristian Dior em 1947: Alongamento da saia, técnica de tecido revestido e, sobretudo, modificação na silhueta feminina fazem parte dos achados que lhe são tributados (BOUCHER; 2010, p. 405) Essa foi a moda do casamento de Elizabeth. Seu vestido mostrou a importância de uma tradição. A roupa passa a transmitir uma mensagem de esperança e estabilidade para a nação inglesa. Em 1952, ela se torna rainha34 e junto com o príncipe Philip, eles tiveram quatro filhos. Anne, Endrew, Eduard e Charles, seu futuro sucessor. Seu casamento será o próximo a ser analisado. Em julho de 1981, aconteceu um dos casamentos Reais mais famosos da História. Príncipe se casa com Diana Spencer ou “Lady Di”. Segundo a Casa Real (S.d) 35, a noiva foi a primeira inglesa a se casar com um herdeiro do trono depois de 300 anos, quando a Lady Anne Hyde se casou com o futuro James II (reinou do ano de 1685 a 1688), do qual Diana é descendente. A década de 1980 foi muito favorável para o mundo da moda. Nesse período, a mulher passou a ganhar um novo lugar na sociedade, os videoclipes influenciaram as roupas e grupos financeiros investem em grifes que estavam estagnadas. 34 CASA REAL. Accession and Coronation. S.d. Disponível em: <http://www.royal.gov.uk/HMTheQueen/AccessionCoronation/Accessionandcoronation.aspx>. Acessado em 02 de dezembro de 2012. 35 CASA REAL. Marriage and Family. S.d. Disponível em: < http://www.royal.gov.uk/HistoryoftheMonarchy/The%20House%20of%20Windsor%20from%201952/DianaPri ncessofWales/Marriageandfamily.aspx> . Acessado em 14 de novembro de 2012. 56 A MTV (Music Television) ligou a moda e a música, através desses videoclipes. A cultura das boates juntou a moda da rua à alta-costura, agora as roupas usadas na vida noturna viravam influência. (STEVENSON, 2012) A partir dos anos 70, as mulheres ganham uma nova imagem. A ideia da mulher que apenas cuidava da sua casa e era proibida de trabalhar ficava no passado. Agora, elas disputavam os cargos das grandes empresas com os homens. A moda, portanto, sofre influências dessa nova fase. Durante a década de 70, à medida que as mulheres assumiam cargos bem pagos, tradicionalmente ocupados por homens, o traje “executivo” feminino passou a fazer parte do cenário da moda, não se restringindo as mulheres que trabalhavam fora de casa. Consistia em costumes de alfaiataria, de saias e paletós geralmente de tecido risca-de-giz. (CALLAN, 2007, p. 126) A mulher dos anos 80 ainda vivia nesse contexto iniciado na década anterior. Elas continuavam firmes no mundo do trabalho e influenciavam estilistas como Georgio Armani, o qual passava a ter como público alvo mulheres de negócios, ocupadas com seus grandes afazeres no escritório. Os anúncios de Armani para a nova estirpe “yuppie” da força de trabalho feminina mostravam modelos segurando jornais internacionais e layouts de moda levavam a estética Wall Street para as revistas, numa polinização cruzada de glamour e altas finanças. (STVENSON, 2012, p.238) Como mostrado ao longo deste trabalho, a roupa não tem apenas a função de cobrir o corpo, mas ela simboliza status, uma cultura e um tempo. As mulheres de 80 ganharam um espaço no mundo de trabalho, usar roupas que se assemelhassem as dos homens poderia representar uma igualdade de direitos e a ideia de que a mulher também pode sentar a uma mesa de escritório. O contexto do casamento de Lady Di também foi muito importante para o mundo da moda, no sentido de ser valorizado pelos ramos da arte, da cultura e da economia como trata a citação abaixo. Grandes grupos financeiros revitalizam grifes envelhecidas. O ministro da cultura instala um Museu da Moda em pleno Louvre. A partir de 1922, o Carroulssel de La Mode e suas salas construídas no subsolo substituem as tendas erguidas no pátio do Louvre para a apresentação dos desfiles de criadores. Os grandes museus escolhem exposições retrospectivas, como a dedicada a Yves Saint 57 Laurent pelo Metropolitan Museum de Nova York. 2010, p. 430) (BOUCHER, No que diz respeito a noivas, a moda do período tinha um estilo bem definido. O vestido de Diana Spencer, tradicionalmente branco, seguia a opulenta moda das noivas da época, que foi marcada por exageros, com muitos metros de tecidos, rendas e babados, como mostra a citação a seguir. A década de 1980 foi marcada pelo excesso, depois de duas décadas de versões mais sóbrias e sem volume. Elas queriam seda, tafetá, corpetes com armações, mangas bufantes e saias com babados. Usavam decotes amplos, com gargantilha de perolas, ou optavam por golas altas, estilo eduardino. [...] quando a moda era usar terninho no ambiente de trabalho, voltaram a ser usados vestidos nostálgicos nas ocasiões sociais, em um indicio de que fora da vida profissional, ainda predominavam os valores tradicionais [...] Lady Diana Spencer casou com o príncipe Charles em 1981 [...] criado por Elizabeth e David Emanuel. Com um corpete de tafetá marfim, mangas bufantes, renda de chantilly e detalhes em lantejoulas, o vestido foi instantaneamente copiado por noivas que queriam viver um sonho como esse. (WORSLEY, 2010, p. 16) IMAGEM 20: Vestido de casamento de Lady Di, 1981 FONTE: History of the monarchy / background/ releated images; www.royal.gov.uk 58 Durante o período do casamento real, mas especificamente em 1978, surge o chamado Neorromantismo que segundo Mackenzie (2010) foi uma evolução do estilo punk36 londrino. Com o desejo de se diferenciarem do que era considerado comum na época, os neorromânticos adotaram roupas extravagantes, andróginas e personalizadas, relata a autora, que conta também que essa tendência estava presente no vestido de noiva de Diana, que ainda segundo a mesma fonte, era romântico e exuberante. O estilo neorromântico pode ser visto na imagem que segue. 36 Influenciado pela revolta contra o estado das coisas, o punk surge em 1975, manifestando uma postura anticonformista e inovadora por meio do vestuário e da música. Foram definidos pela mídia como jovens rebeldes antissistema, que tinham como objetivo deliberado chocar a sociedade. (MAKENZIE, 2010) 59 IMAGEM 21: Modelo “pirata” feminino , de Vivienne Westwood e Malcolm McLaren incorporado a estética neoromântica, 1980. V&A Museum. FONTE: Mackenzie, 2010. 60 O branco estabelecido pela rainha Vitória atravessou guerras, revoluções, transformações na economia, na sociedade e na moda, conseguindo chegar até a década de 1980 de maneira inabalável. Ainda que o estilo e o contexto se modifiquem, este consegue permanecer, chegando, desta forma ao século XXI, onde o próximo casamento acontece. Charles e Diana tiveram dois filhos, os príncipes Harry e Willian, este último se casou em 2011. Em 29 de abril, o príncipe que é o segundo na linha de sucessão ao trono britânico, depois de seu pai, o príncipe Charles, se casa com Catherine Elizabeth Middleton, mais conhecida como Kate Middleton, atual Duquesa de Cambridge (CASA REAL, 2011?)37. Este casamento foi algo marcante na história da monarquia britânica. A união entre um príncipe e uma plebeia parecia ter saído diretamente dos filmes para a realidade. O vestido da noiva, seguindo esse contexto, era digno de uma princesa. Segundo o Clarence House (2011)38, o modelo usado por Catherine foi confeccionado pela estilista Sarah Burton, da grife Alexander McQueen 39, que teria sido contratada pela beleza de seu trabalho e por respeitar a arte tradicional e a construção técnica da roupa. A fonte relata que Kate Middleton, ao escolher essa grife para confeccionar seu vestido, reafirmava a tradição criada pela rainha Vitória, de que a pessoa responsável pela criação e execução deste e todo o material usado no desenvolvimento da roupa usada no casamento deveria ser da manufatura britânica. A criação do vestido teve grande contribuição da noiva e este era composto de um gazar acetinado marfim e branco. A saia ecoava uma flor aberta e o corpete de cetim marfim baseava-se na tradição vitoriana de se usar espartilho, a qual é marca registrada da grife McQueen. (CLARENCE HOUSE, 2011) 37 CASA REAL. The Duchess of Cambridge. 2011?. Disponível em: <http://www.royal.gov.uk/ThecurrentRoyalFamily/TheDuchessofCambridge/TheDuchessofCambridge.aspx>. Acessado em: 02 de novembro de 2012. 38 ClARENCE HOUSE. The Duchese of Cambridge ´s wedding dress to go on display at Buckinghan Palace this summer. 6 de junho de 2011. Disponível em: <http://www.royalcollection.org.uk/press-release/the-duchessof-cambridges-wedding-dress-to-go-on-display-at-buckingham-palace-this>. Acessado em 14 de novembro de 2012. 39 Estilista londrino que introduziu um estilo rebelde e radical que incluía roupas esfarrapadas. Criou vestidos de renda laminada. Em 1996 foi nomeado estilista chefe da grife Givenchy. (CALLAN, 2007). 61 A parte de trás do vestido tinha 58 botões forrados com gazar de organza, a anágua da saia era de tule de seda enfeitada com rendas cluny. A calda do vestido da duquesa media 2,7 metros de comprimento, descreve Clarence House (2011). IMAGEM 22: Detalhes do vestido da Duquesa FONTE: Pretty as a princess: Kate Middleton´s wedding dress gown goes on display at Buckingham Palace; www.dailymail.co.uk, 2011 O histórico relata ainda que o vestido de Kate reflete o trabalho de artesãos de todo o Reino Unido. O aplique de renda do corpete e a saia foram feitos a mão pela Escola Real de bordado. As flores usadas foram todas cortadas a mão, formando o desenho de rosas, cardos, narciso e trevo, emblemas das Ilhas britânicas, como foi mostrado no vestido da princesa Alexandra. A imagem que segue mostra o modelo usado por Catherine no dia de seu casamento. 62 IMAGEM 23: Vestido de noiva de Catherine Middleton FONTE: Sucessora de McQueen, Sarah Burton fez vestido de Kate Middleton; site g1.globo.com, 2011 Segundo o site da revista Vogue(2011)40 vestido de Kate pode evocar, talvez o modelo de estilo clássico usado pela atriz Grace Kelly, que virou princesa de Mônaco quando se casou com o príncipe Rainier em 1956. Segundo Worsley (2010), seu vestido foi produzido pela figurinista-chefe dos estúdios MGM, Helen Rose e era composto de um corpete de renda fina feita com agulhas, uma saia de seda em forma de sino e detalhes em pérolas. 40 MOWER, Sarah. VOGUE ON CATHERINE MIDDLETON´S WEDDING DRESS. 29 de abril de 2011. Disponível em: < http://www.vogue.com/vogue-daily/article/kate-middletons-wedding-dress/#1>. 63 IMAGEM 24: A atriz Grace Kelly em seu vestido de noiva, quando se casou com o Príncipe Rainier de Mônaco em 1956. FONTE: Worsley, 2010 64 Contrastando a tal comparação, na qual é possível perceber o design atemporal e tradicional dos dois vestidos, o casamento de Kate Middleton é recente e é o primeiro inserido na atual “Era digital”, no contexto das grandes tecnologias touch screen, das redes sociais, blogs de moda e das redes de fast-fashions. Esse é o momento em o que acontece do outro lado do mundo pode ser assistido de maneira praticamente instantânea através dessas tecnologias. Esse contexto exerce, portanto, forte influencia no vestido de Kate. Middleton será a primeira noiva real da era digital. Seu vestido será instantaneamente transmitido para o mundo todo, de todos os ângulos, com alta resolução de detalhes. E, antes mesmo disso acontecer, cada passo que ela der em suas botas de camurça favoritas ou em seu salto alto de festa, será discutido em toda a “blogosfera” e no twitter. (MENKES, 2011)41 Middleton, assim como todas as noivas reais citadas, também é influenciada pelo contexto em que está inserida. O estilo e o material usado em seu vestido podem remeter ao passado, a uma tradição, porém, quando escolhe a estilista Sarah Burton da grife Alexander McQueen para fazê-lo, demonstra que é uma mulher moderna, visto que uma das características trabalho do falecido estilista era a natureza contemporânea de suas coleções, como relata o site da grife42 Os vestidos de noiva da realeza, em sua maioria, são sempre muito clássicos e atemporais. Dificilmente, essas vestimentas terão um estilo conceitual ou rebelde, típicos das roupas de Alexander McQueen. Portanto, a escolha da grife para fazer o vestido de Kate teria sido considerada uma das opções mais improváveis. Foi uma surpresa quando finalmente foi revelado que sim, o modelo era Alexander McQueen. Tanto porque a marca sempre pregou uma estética rebelde que pouco tem a ver com o estilo de 41 Middleton is going to be the first royal bride of the digital age. Her dress will be beamed instantaneously around the world from every angle in high-resolution detail. And even before that, every step she takes in her favored flat suede boots or party high heels will be apart and discussed across the blogosphere and Twitterverse. (MENKES, Suzy. KATE MIDDLETON: FASHION FIT FOR A PRINCESS.12 de janeiro de 2011. Disponivel em: <http://www.harpersbazaar.com/magazine/feature-articles/kate-middleton-fashion>. Acessado em: 14 de novembro de 2012.) 42 LEE ALEXANDER MCQUEEN. Alexander McQueen. 2012. Disponível em: <http://www.alexandermcqueen.com/alexandermcqueen/experience/biography/AAD,en_US,sf.html>. Acessado em: 14 de novembro de 2012. 65 Kate, muito menos de uma futura princesa [...] (VOGUE BRASIL, 2011)43 A estilista Sarah Burton, ao comentar sobre sua criação, fala a respeito do contraste entre os materiais tradicionais, como as rendas, e o design moderno da grife que representa. Relata ainda sobre como foi a experiência de fazer, talvez, um dos mais esperados e comentados vestidos de noiva da História. As criações da Alexander McQueen sempre privilegiaram a união de contrastes para se transformarem em lindas e surpreendentes roupas e eu espero que, ao casar tecidos tradicionais e trabalho em renda com uma estrutura e um design moderno, nós tenhamos criado um vestido lindo para Catherine no dia do seu casamento. Os últimos meses foram muito estimulantes uma experiência incrível para mim e para a minha equipe já que trabalhamos juntos com Catherine para criar esse vestido sob condições de segredo máximo. (VOGUE BRASIL, 2011)44 Em meio a esse contexto contemporâneo, a maquiagem com que Kate apareceu em seu casamento também foi um fruto dos tempos modernos. Ela se maquiou sozinha. Algo relevante, quando se refere a noivas e, principalmente, de um dos casamentos da realeza mais esperado dos últimos tempos. Kate fez sua própria maquiagem – achei o máximo, ela é muito segura e sabe o que quer. E, seguindo sua vontade de “parecer ela mesma” no dia do casamento, foi com o visual que usa sempre: olho com contorno definido e leve esfumado nas pálpebras, um toque de lápis branco dentro do olho pra abrir, sobrancelha marcada (como é naturalmente), pele bem feita [...] (CERIDONO, 2011) 45 No dia da cerimônia, a maioria das mulheres prefere contratar todos os serviços de beleza que estiverem ao seu alcance. Quando uma das futuras rainhas da Inglaterra resolve fazer a sua própria maquiagem em um dos momentos mais importantes e fotografados de sua vida, percebe-se, talvez, a influência da era digital. Atualmente, com o surgimento dos blogs de moda, os quais passam a ser referência de informações do ramo, de aplicativos de celular que dão dicas sobre 43 VOGUE BRASIL. O vestido de Kate Middleton marca a nova fase na Alexander McQueen. 30 de abril de 2011. Disponível em: < http://revista.vogue.globo.com/moda/news/o-vestido-de-kate-middleton-marcainicio-de-nova-fase-na-alexander-mcqueen/>. Acessado em 02 de dezembro de 2012. 44 VOGUE BRASIL. Sarah Burton fala sobre o vestido de noiva de Kate Middleton. 29 de abril de 2011. Disponível em: < http://revista.vogue.globo.com/moda/news/sarah-burton-fala-sobre-o-vestido-de-noiva-dekate-middleton/>. Acessado em 02 de dezembro de 2012. 45 CERIDONO, Vic. A noiva Catherine Middleton. 29 de abril de 2011. Disponível em: <http://revista.vogue.globo.com/diadebeaute/2011/04/a-noiva-catherine-middleton/>. Acessado em 14 de novembro de 2012. 66 estilo e das redes sociais, entender de moda passa a ser algo que não se limita mais às pessoas do ramo. Um celular com internet pode ser o suficiente para poder visualizar as roupas mostrada nos desfiles de grandes grifes, do outro lado do mundo, aprender a se maquiar e fazer penteados sem a ajuda de um profissional. Portanto, a maquiagem de Kate pode ter sido um reflexo disso. Os novos avanços tecnológicos do século XXI influenciam a moda como um todo. A praticidade de se ter uma internet no celular, de estar conectado com vários lugares do mundo ao mesmo tempo, através das redes sociais, por exemplo, fazem com que a facilidade e a rapidez geradas por essas criem soluções rápidas, também na hora de se vestir. Surgem os fast-fashion Essa maneira rápida de se comprar roupas passa a ser reflexo dos tempos modernos. Se o mundo estiver mais agitado, a moda, certamente acompanhará o seu ritmo. No caso dos vestidos de noiva, como esses são fortemente influenciados pelo mundo ao seu redor, também passam a ser encontrados nas araras dos fastfashion. Portanto, Kate Middleton foi uma noiva atual. Mostrou o que acompanha o seu tempo, mas que também não abriu mão da tradição. Mesmo em um contexto atual, o modelo de seu vestido é bastante clássico e atemporal. Se for analisado daqui hà trinta anos, ainda que não seja copiado completamente, talvez esse ainda possa ser uma grande referência para muitas noivas modernas. Muitas das tradições criadas pela rainha Vitória se faziam presente no vestido da duquesa, mostrando que essa conseguiu deixar a sua marca nos casamentos da monarquia britânica. A Era vitoriana, certamente, pode ser considerada um marco nos vestidos das noivas reais. A partir do casamento da rainha o com o príncipe Albert, a Inglaterra passou a usar a figura da noiva para contar sua história, valorizar sua indústria e lançar a moda do vestido branco adotado pela maioria das noivas ocidentais, até os dias de hoje. 67 4 COLEÇÃO Vitória e Albert: o Casamento real A rainha Vitória ficou conhecida não só pelas tradições e modas que inventou, em especial o vestido de noiva, mas também pela sua história de amor com seu primo, o príncipe Albert do reino de Saxe-Coburgo e Gotha. No dia 10 de fevereiro de 1840, eles se casaram e formaram uma bonita história de amor, sendo até tema do filme: “A jovem rainha Vitória” dirigido por Jean-Marc Vallée. Segundo o site oficial da Monarquia Britânica46, o primeiro encontro que eles tiveram foi em 1836, como sugestão do rei Leopoldo I da Bélgica, tio de ambos que considerava que um era adequado para o outro. O site conta que o casal se apaixonou no segundo encontro que tiveram em 1839 e noivaram no dia 15 de outubro do mesmo ano. Vitória e Albert davam início, assim, a uma vida a dois. O sentimento de amor que um nutria pelo outro era forte, mas, a partir de então, precisaria sobreviver em meio a circunstâncias referentes às suas posições de príncipe e rainha, de homem e mulher. Ela era rainha da Inglaterra e ele um príncipe germânico que teve que deixar sua casa e seu povo, para fazer parte de uma nação que temia a influência que esse poderia exercer sobre a monarca e sobre a Inglaterra, como um todo. Certamente, essa mudança foi dolorida, não só para o príncipe, mas também para a nação que este abandonara. Finalmente chegou o dia em que Alberto se viu obrigado a deixar para sempre seu lar e a bem-amada Alemanha. Seu biógrafo, Mr. Hector Boletho, descreve-nos como Coburgo e Gotha lhe acenaram os lenços úmidos de lágrimas. As crianças trepadas em árvores gritavam-lhe o nome e as mulheres gritavam na porta das casas. (SITWELL, 1946, p. 126) Mudar de reino, abandonar a vida e seus costumes, não seria uma tarefa fácil. O príncipe tinha consciência disso, haja vista que se depararia com uma nova nação, novos hábitos, regras e leis. Tudo mudaria na vida do rapaz, o qual se lembrava da 46 SITE OFICIAL DA MONARQUIA BRITÂNICA. Queen Victoria, Diamond Jubilee, Scrapbook, 1897. Ano 2012. Disponível em: <http://translate.google.com.br/translate?hl=ptBR&langpair=en%7Cpt&u=http://www.royal.gov.uk/output/page1.asp>. Acessado em 5 de novembro de 2012 68 necessidade de abandonar seu reino com um forte sentimento de tristeza, como relata em uma carta a sua avó, a Duquesa viúva onde dizia: “Oh, o futuro! Que não traga consigo o momento que serei obrigado a me separar da senhora e do tão querido lar! Não me lembro disso, sem que uma profunda tristeza me invada o coração” (ALBERT, 1839? apud SITWELL, 1946, p. 122). Um consorte alemão em uma nação inglesa poderia parecer algo ameaçador. E se esse trouxesse valores germânicos para a nação? Portanto, o medo de Albert mudar os valores do seu novo país fez com que fosse também proibido de participar das discussões políticas e de exercer seu papel de homem da casa. Toda essa situação deixava o príncipe insatisfeito, afetava a sua posição como o provedor e protetor de sua família. No contexto em que estava inserido, era visto apenas como o esposo da rainha, como relata em uma carta a seu amigo Lowenstein: “Sinto-me feliz e contente, mas a grande dificuldade que encontro na vida é de preencher dignamente o lugar que ocupo, pois aqui, sou apenas o marido e não o chefe da casa.” (ALBERT, 1840, apud SITWELL, 1946, p.130). Albert se via em meio a uma difícil circunstância, porém, mesmo diante dessa situação, o príncipe era intensamente amado por Vitória e essa estava disposta a fazer o que pudesse para retribuir o seu sacrifício de começar a nova vida ao lado dela. Disse-lhe- Escreveu ela em seu diário- que não era merecedora do seu afeto. Replicou-me que se sentiria feliz de partilhar sua vidacomigo. Amo-o mais do que me é possível exprimir, e tudo farei para tornar seu sacrifício (pois é esta a minha opinião) o mais suave que puder (VITÓRIA, 1839? apud SITWELL, 1946, p. 122) Apesar dessa difícil situação que o casal enfrentou, permaneceu unido. Vitória e Albert governaram a nação inglesa juntos. Ele passou a influenciá-la e aconselhá-la, gerando em sua esposa um sentimento de amor e admiração maior do que ela já tinha e, aos poucos, conseguiu reconhecimento e confiança do povo que até então o estranhava. O marido ocupava sempre o primeiro lugar... E pouco a pouco, mas muito lentamente, a massa do povo, que de princípio, receava a influência que o consorte alemão poderia exercer sobre sua rainha e a sociedade em geral, veio a conhecer a admirar, se não, a estimar, suas qualidades de prudência e descrição, aliadas a um firme e nobre senso de dever. (SITWELL, 1946, p.131) 69 Portanto, Vitória e Albert viveram uma história real, em ambos os sentidos, com muito amor, mas também precisaram superar e lidar com os momentos difíceis. O príncipe e a rainha necessitaram se adequar ao marido e à esposa, ao homem e à mulher, construindo assim, uma história de amor que durou até a morte de Albert. Do casamento à viuvez, do branco ao luto, pois com o falecimento do príncipe, Vitória, a partir de então, usou a cor preta até o fim de sua vida. É esse o contexto que envolve a coleção deste trabalho que terá como título: “Vitória e Albert: um casamento real”. Voltada para as noivas, os vestidos terão um papel, não só de compor a coleção, mas de contar a história do casal por meio de peças presentes na figura de cada um. Elas relatarão o grande dia de sua união, alguns momentos de descanso que costumavam ter, a moda da época que os cercava e o triste dia da morte de Albert que lançou o preto como a cor do luto, sendo usado de maneira distinta por homens e mulheres, em meio a uma sociedade na qual a figura feminina era reprimida. Os espartilhos com cintura pontiaguda em formato de “V” farão alusão aos usados por Vitória e as mulheres de século XIX, como um todo. As másculas ombreiras presentes no uniforme de Marechal de campo que o príncipe usou em seu casamento receberão o toque feminino das flores de tecido, como as de laranjeira que compunham a tiara que a rainha usou no grande dia, as quais estarão presentes também no busto, simbolizando os botões duplos das roupas dos homens da época. Para se destacarem, elas também estarão presentes em meio a mangas transparentes de organza brancas ou por cima de pelerines de tule, típicas das mulheres vitorianas. Algumas serão compostas pela gola “padre” presente no uniforme do noivo ou pelas presentes nas sobrecasacas usadas pelos homens do período, as quais serão aplicadas no busto da noiva. 70 IMAGEM 25: Detalhe das ombreiras do príncipe Albert no filme “A jovem rainha Vitória”. FONTE: Were Queen Victória and Prince Albert both illegitimate?, www.dailymail.co.uk, 2009 Ademais, a estampa xadrez retratará os momentos de lazer que o casal tinha na propriedade que adquiriram na cidade de Balmoral, nas terras Altas da Escócia. As rígidas e grandes crinolinas da moda vitoriana se farão presentes através de uma armação de organza anexada à saia. Elas representarão a mulher do século XIX e a rigidez de suas roupas, que são um reflexo do seu papel na sociedade da época. As fitas pretas na cintura e no braço representarão as usadas pelos homens viúvos do período, pois, enquanto as mulheres seguiam um longo e rígido protocolo de roupas de luto pela morte de seus maridos, esses só precisavam usar uma fita preta amarrada ao braço por um curto período de tempo quando suas esposas faleciam. As rendas, como as usadas pela rainha em seu casamento, enfeitarão organzas e tafetás. As cores branca e preta representarão o amor do início ao fim dessa 71 história, retratando também, a influência da rainha, ao estabelecer a cor usada no dia do casamento e no luto. Portanto, a vestimenta passa a remeter a um passado, a marcar momentos felizes e tristes, mostrando a situação do homem e da mulher em determinado período, cada pequeno detalhes passa a ficar repleto de significados. “A roupa tende, pois, a estar poderosamente associada com a memória, ou, para dizer de forma mais forte, a roupa é um tipo de memória” e, por isso será a narradora dessa história. (STALLYBRASS, 2008, p. 14) Tendo como público alvo, consumidoras de 20 a 35 anos, essa coleção será feita para mulheres que estão inseridas no mundo de trabalho, conquistaram seu espaço sem o desejo de ser superior aos homens ou passar uma ideia de autossuficiência. Elas reconhecem que, diante de uma sociedade democrática, mulheres e homens podem trabalhar em uma mesma função sem precisar que esses sejam machistas e repressores, assim como elas podem ser realizadas na vida profissional sem a necessidade de abrir mão de cuidar de seu lar e de sua família. Seus noivos se sentem apaixonados. Encontraram uma mulher doce, inteligente, trabalhadora, que cuida de sua imagem, gosta de viajar e podem ser consideradas suas verdadeiras “co-pilotas” nas obrigações da vida conjugal, inclusive nas despesas. São suas auxiliadoras, mulheres cheias de virtudes, pois aprenderam que esse é o seu papel como uma mulher cristã. Portanto, essa é a vida de Vitória e Albert. Cheia de amor, mas também de difíceis circunstancias, devido ao papel que cada um exercia na monarquia. 72 5 PAINÉIS 5.1 CAPA 73 5.2 PÚBLICO ALVO 74 5.3 RELEASE 75 5.4 AMBIÊNCIA 76 5.5 CARTELA DE CORES 77 5.6 CARTELA DE MATERIAIS 78 5.7 LOOK CONCEITUAL 79 5.8 COLEÇÃO 80 81 6 CONCLUSÃO Esse trabalho objetivou mostrar a importância da rainha Vitória para a história da moda, especificamente, nos vestidos das noivas de seus sucessores ao trono, mostrando que em cada casamento, o contexto histórico, politico e social que regia cada período exerceram uma forte influencia na moda da época, e, portanto, nos vestidos das noivas reais. Através das tradições que a monarca criou, principalmente em relação ao vestido de noiva, foi possível perceber a maneira como essas tradições conseguem se adequar ao contexto histórico, social e político de cada período em que esses casamentos estão inseridos, porém sempre preservando o uso da cor branca. Cobrir o corpo passa a ser um detalhe, diante dos muitos significados que a roupa passou a ter. Essa adquire um papel de marcadora de tempos, torna-se instrumento para valorizar a economia inglesa e gerar esperança para o futuro diante das calamidades causadas pelas grandes guerras, por exemplo. Por meio dessa pesquisa, conclui-se que a roupa, pode ser considerada um documento histórico. Algo que passa a ser uma espécie de testemunha do contexto em que está inserida. Através da análise de cada casamento foi possível perceber que o vestido branco conseguiu se adaptar a tempos e circunstancia diferentes. Estava presente em momentos de prosperidade, como a revolução industrial mostrada no casamento da rainha Vitória, mas também, em outros de escassez e crises, como foi o caso do casamento da atual rainha Elizabeth II. Como resultado disso, a vestimenta contou a história de uma monarquia, que através de sua rainha influenciou o seu tempo e conseguiu que seu reinado fosse um divisor de águas na história dos vestidos das noivas ocidentais. O tempo, as guerras, a política e a economia vão sendo personagens de fundamental importância nessa historia. A tradição passa a se adaptar a eles e, portanto, consegue sobreviver às mudanças de cada período sem perder a sua característica original, dando, assim, uma ideia de continuidade e preservação de 82 seus valores e trazendo a memória do reinado de Alexandrina Vitória, em cada noiva real. 83 7 FICHAS TÉCNICAS Ficha Técnica Estilista: Marina Kalif Modelista: Diana Nº: 01 Coleção: Vitória e Alberto: “um casamento real” Tamanho: 40 Ano: 2012.2 Descrição: Vestido de Tafetá branco marfim, com base; manga de organza, com fita de veludo preto na ponta da manga; gola padre e aplicações de gripir; zíper nas costas. Matéria-Prima: Organza na cor branco marfim; Fita de veludo preto; Gripir. 84 Ficha Técnica Estilista: Marina Kalif Modelista: Diana Nº: 01.2 Coleção: Vitória e Albert: “um casamento real” Tamanho: 40 Ano: 2012.2 Descrição: Capa, na parte superior com tecido de tafetá com estampa xadrez, com 12 flores de tafetá como se fosse abotoamento duplo; ombreira com aplicações de flores de tafetá e miçangas na cor branco marfim; nas costas detalhe em V é de estampa xadrez e na lateral das costas com organza branca e uma fita de veludo preto na cintura; saia armada de organza. Matéria-Prima: Tecido de Organza; Fita de veludo; Flor de tafetá; Miçangas. 85 Ficha Técnica Estilista: Marina Kalif Modelista: Diana Nº: 02 Coleção: Vitória e Albert: “um casamento real” Tamanho: 40 Ano: 2012.2 Descrição: Vestido de tafetá branco, decote e mangas de organza branca; ombreiras com aplicações de flores de tafetá e miçangas na cor branco marfim; saia dupla com tamanhos diferentes, com aplicações de gripir e renda; zíper nas costas. Matéria-Prima: Tecido de tafetá; Tecido de Organza; Flor de tafetá; Miçangas. 86 Ficha Técnica Estilista: Marina Kalif Modelista: Diana Coleção: Vitória e Albert: “O Tamanho: 40 Casamento Real” Nº: 03 Ano: 2012.2 Descrição: Vestido tomara que caia de tafetá branco marfim, com 12 botões dourados; com aplicações de renda na barra do vestido; Saia com estampa xadrez, com aplicações de gripir e renda; zíper nas costas. Matéria-Prima: Tecido de tafetá; Tecido de Organza; Flor de tafetá; Miçangas. 87 Ficha Técnica Estilista: Marina Kalif Modelista: Diana Nº: 04 Coleção: Vitória e Albert: “um casamento real” Tamanho: 40 Ano: 2012.2 Descrição: Vestido, tomara que caia com detalhe em V branco e laterais estampas de xadrez, na saia o centro de cor branco e lateral em xadrez, com uma “capa” na mesma cor xadrez; pelerine de organza com ombreiras com aplicações de flores de tafetá e miçangas na cor branco marfim; zíper nas costas. Matéria-Prima: Tecido de tafetá; Tecido de Organza; Flor de tafetá; Miçangas. 88 Ficha Técnica Estilista: Marina Kalif Modelista: Diana Nº: 05 Coleção: Vitória e Albert: “um casamento real” Tamanho: 40 Ano: 2012.2 Descrição: Vestido todo de tafetá branco, com aplicações de flores de tafetá e miçangas na cor branco marfim; nas laterais aplicações de gripir; zíper nas costas e 2 botões. Matéria-Prima: Tecido de tafetá; Flor de tafetá; Miçangas; Botões. 89 Ficha Técnica Estilista: Marina Kalif Modelista: Diana Nº: 06 Coleção: Vitória e Albert: “um casamento real” Tamanho: 40 Ano: 2012.2 Descrição: Vestido de tafetá na cor branco marfim, tomara que caia com detalhe em V na cor branco, laterais do busto e laterais da saia com estampas de xadrez; decote e mangas de organza branca; 15 aplicações de flores de tafetá; ombreiras com aplicações de flores de tafetá e miçangas na cor branco marfim; fita de veludo preto na cintura; zíper nas costas. Matéria-Prima: Tecido de tafetá; Tecido de Organza; Fita de veludo; Flor de tafetá; Miçangas. 90 Ficha Técnica Estilista: Marina Kalif Modelista: Diana Nº: 07 Coleção: Vitória e Albert: “um casamento real” Tamanho: 40 Ano: 2012.2 Descrição: Vestido de tafetá na cor branco marfim, tomara que caia com aplicação de renda no busto; com meia gola alfaiate na estampa xadrez; Saia de organza com cinto de veludo preto, com aplicação de gripir; zíper nas costas. Matéria-Prima: Tecido de tafetá; Tecido de Organza; Fita de veludo; Gripir. 91 Ficha Técnica Estilista: Marina Kalif Modelista: Diana Nº: 08 Coleção: Vitória e Albert: “um casamento real” Tamanho: 40 Ano: 2012.2 Descrição: Vestido de tafetá na cor branco marfim; com meia gola alfaiate na cor branca e com decote na estampa xadrez e aplicações de gripir na barra do vestido; Saia de tecido estampado xadrez com cinto de veludo preto, com aplicação de gripir; zíper nas costas. Matéria-Prima: Tecido de tafetá; Tecido de Organza; Fita de veludo; Gripir. 92 Ficha Técnica Estilista: Marina Kalif Modelista: Diana Nº: 09 Coleção: Vitória e Albert: “um casamento real” Tamanho: 40 Ano: 2012.2 Descrição: Vestido de tafetá na cor branco marfim, tomara que caia, decote e mangas de organza branca, detalhe na manga direita com um fita de veludo preto; gola padre na cor branco marfim de tafetá e aplicações de gripir; laterais do busto e da saia na estampa xadrez; fita de veludo preto na cintura; zíper nas costas. Matéria-Prima: Tecido de tafetá; Tecido de Organza; Fita de veludo; Gripir. 93 Ficha Técnica Estilista: Marina Kalif Modelista: Diana Nº: 10 Coleção: Vitória e Albert: “um casamento real” Tamanho: 40 Ano: 2012.2 Descrição: Vestido de tafetá na cor branco tomara que caia; aplicações de 15 flores de tafetá; Saia de organza branca com aplicações de gripir e na cintura uma fita de veludo preta; zíper nas costas. Matéria-Prima: Tecido de tafetá; Tecido de Organza; Fita de veludo; Gripir. 94 Ficha Técnica Estilista: Marina Kalif Modelista: Diana Nº: 11 Coleção: Vitória e Alberto : “um casamento real” Tamanho: 40 Ano: 2012.2 Descrição: Vestido de tafetá na cor branco marfim, tomara que caia; decote e mangas de organza branca; aplicações de gripir no decote do busto, e 12 aplicações de flores de tafetá; Saia de tafetá xadrez, fita de veludo na cintura e aplicações de gripir e uma fita de veludo na manga direita; zíper nas costas. Matéria-Prima: Tecido de tafetá; Tecido de Organza; Fita de veludo; Gripir. 95 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ARRUDA, José Jobson de. Historia moderna e contemporânea. São Paulo: Editora Ática s.a, 1974. ATERBURY, Paul. Steam & speed: Other forms of Victorian transport & communication. S.d. Disponível em: < http://www.vam.ac.uk/content/articles/s/other-forms-of-victorian-transport-andcommunication/>. Acessado em 2 de dezembro de 2012. BOUCHER,Françõis. 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