1
UNIVERSIDADE DA AMAZONIA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E EDUCAÇÃO
CURSO DE BACHARELADO EM MODA
MARINA KALIF DOS SANTOS
AS TRADIÇÕES CRIADAS PELA RAINHA VITORIA NOS VESTIDOS DE NOIVA
DA MONARQUIA BRITÂNICA
BELÉM-PARÁ
2012
2
MARINA KALIF DOS SANTOS
AS TRADIÇÕES CRIADAS PELA RAINHA VITORIA NOS VESTIDOS DE NOIVA
DA MONARQUIA BRITÂNICA
Trabalho de conclusão de curso
apresentado ao curso de Bacharelado
de Moda do Centro de Ciências
Humanas e Educação CCHE da
Universidade da Amazônia como
requisito para a obtenção do título de
Bacharel. Orientado pela professora
Yorrana Priscila Maia.
BELÉM-PARÁ
2012
3
MARINA KALIF DOS SANTOS
AS TRADIÇÕES CRIADAS PELA RAINHA VITÓRIA NOS VESTIDOS DE NOIVA
DA MONARQUIA BRITÂNICA
Trabalho de conclusão de curso apresentado de
Bacharelado de Moda do Centro CCHE da
Universidade da Amazônia como requisito para a
obtenção de título de Bacharelado em moda.
Banca Examinadora:
__________________________________________
Profa. Esp. Yorrana Priscila Maia – Orientadora
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Profa. Ms. Rosyane Rodriguez - Examinadora
__________________________________________
Prof. Msc. Fernando Hage - Examinador
Apresentado em: __/__/__
Conceito: _________
BELÉM-PARÁ
2012
4
AGRADECIMENTOS
A Deus, meu melhor amigo, que me ajudou, fortaleceu, proveu o que precisei.
Mostrou-me o caminho por onde deveria andar e me fez ver que com o poder dEle
em minha vida posso alcançar lugares altos. Pelo Seu imensurável amor
demonstrado através de Seu Filho Jesus.
Aos meus pais, Antonio e Helena pelo amor que me dão a cada dia, por terem me
ajudado em tudo que precisei. Pela compreensão da minha ausência nos momentos
em família para poder concluir este trabalho.
A minha irmã Juliana, por ter me desculpado das vezes em que não pude assistir
filmes com ela e nem desenhar as roupas que me pedia.
A minha orientadora Yorrana Maia, que ficará guardada em meu coração. Pela
ajuda, grande contribuição e pelos momentos em que ela deixou de estar com seus
familiares e amigos para poder ajudar a mim e aos meus colegas, de alguma
maneira.
A minha professora Rosyane Rodrigues pela paciência e considerável contribuição,
ajuda e orientação durante o meu pré-projeto.
Ao meu examinador, professor Fernando Hage, pela sua grande contribuição e
amizade conquistada.
A minha colega Diana pela execução da minha peça conceitual. Pelo seu excelente
trabalho.
A minha colega Marcela Araújo pela disponibilidade em me ajudar.
A minha colega Eligilza Salazar pela ajuda com as fichas-técnicas.
A professora Lucilene Lobato, também pela ajuda nas fichas- técnicas e pela
amizade conquistada ao longo dos três anos de curso.
A Socorro, por ter arrumado a bagunça que fiz em meu quarto, ao longo do
desenvolvimento deste trabalho.
5
“Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece.”
(Filipenses 4: 13, Bíblia Sagrada).
6
RESUMO
Este trabalho pretende mostrar as tradições criadas pela Rainha Vitória nos
casamentos reais da monarquia inglesa. Nele serão identificadas quais são essas
tradições e de que maneira elas influenciam os vestidos usados pelas noivas de
cada monarca que ascendeu ao trono inglês depois de Vitória. Observando o
contexto histórico, político e econômico em que cada casamento se encontra, será
feita uma análise de como acontecimentos como grandes guerras, por exemplo,
foram importantes influenciadores na composição dessas roupas, mostrando a
tradição como algo que se adequa ao período e ao ambiente em que está inserida.
Ele terá uma coleção feita de vestidos de noivas com o título de” Vitória e Albert: o
casamento real” que retratará a relação de amor do casal, mas também de muitos
conflitos que eles tiveram, referentes a suas posições de príncipe e rainha.
Palavras-chave: Rainha Vitória. Vestido de noiva. Tradição. Monarquia Britãnica.
Contexto.
7
ABSTRACT
This work pretend to show the traditions created by queen Victoria in the England
monarchy´s royal weddings. On it will be identificated what is the traditions and how
it influenced the dresses used by the brides of which monarch that ascended in the
british throne then Victoria. Watching the historic, politic and economic context in
which wedding is inserted, will be made an analysis of how events like big wars, for
example, were important influencers in this clothe´s compositions, showing the
tradition like something that can adapt itself in the environment and in the period that
it is inserted. It will have a wedding dress collection called: “Victoria and Albert: the
truth marriage” that will show the love relationship of the couple but some conflicts
regarding their positions as a prince and queen.
Keywords: Queen Victoria. Wedding dress. Tradition. British Monarchy. Contexto.
8
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
11
2 RAINHA VITÓRIA E A MODA
13
3 AS TRADIÇÕES CRIADAS PELA RAINHA VITÓRIA NOS CASAMENTOS REAIS
35
DA MONARQUIA BRITÂNICA
4 COLEÇÃO
67
5 PAINÉIS
72
5.1 CAPA
72
5.2 PÚBLICO ALVO
73
5.3 RELEASE
74
5.4 AMBIÊNCIA
75
5.5 CARTELA DE CORES
76
5.6 CARTELA DE MATERIAIS
77
5.7 LOOK CONCEITUAL
78
5.8 COLEÇÃO
79
6 CONCLUSÃO
81
7 FICHAS TÉCNICAS
83
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
95
9
LISTA DE IMAGENS
IMAGEM 1- Quadro pintado por Franz Xaver Witerhalter
14
(1805-1873).
IMAGEM 2- Vestido de casamento da rainha Vitória, 1840.
18
IMAGEM 3- Xadrez Balmoral: pintura de Le Follet, 1848.
20
IMAGEM 4- IMAGEM 4: Rainha Vitória na foto de seu jubileu, 1897.
22
IMAGEM 5- Modelo de bicicleta Penny Farthing.
25
IMAGEM 6- Traje de ciclismos para homens e mulheres.
26
1878- 80.
IMAGEM 7- Homem burguês.
30
IMAGEM 8- Espartilho de origem britânica ou francesa,
31
1864. Produtor desconhecido.
32
IMAGEM 9- Crinolina de, aprox.1860, V&A Museum.
IMAGEM 10- Mulher caindo de um veículo devido a
34
sua grande crinolina; pintura de 1859, aprox.
IMAGEM 11- Árvore Genealógica da Monarquia Britânica.
37
IMAGEM 12- Detalhes da renda do vestido de noiva da princesa
41
Alexandra, 1863.
IMAGEM 13- Broche com o emblema da ordem de Vitória e Albert
42
dado para a princesa Alexandra na ocasião de seu casamento com o príncipe
Eduardo.
IMAGEM 14- Princesa Alexandra da Dinamarca, retratada em.
43
seu vestido de casamento em 1863 com o Príncipe Eduardo do Reino Unido.
IMAGEM 15- Vestido de casamento da princesa Maria de Teck.
45
IMAGEM 16- Chefe da casa real inglesa, a princesa Vitória com.
46
uma outra dama de honra posam para um retrato, no casamento de
10
Maria de Teck, em 1893.
IMAGEM 17- Vestido de noiva de Elizabeth Bowes- Lyon, 1923.
50
IMAGEM 18- Alegoria de primavera (1482), Sandro Botticelli.
53
IMAGEM 19- Elizabeth II vestida em seu vestido de noiva ao lado de
54
seu noivo, o duque de Edinburgo, 20 de novembro de 1947.
IMAGEM 20- Vestido de casamento de Lady Di, 1981.
57
IMAGEM 21- Modelo “pirata” de Vivienne Westwood e Malcolm
59
McLaren, V&A Museum.
IMAGEM 22- Detalhes do vestido da Duquesa.
61
IMAGEM 23- Vestido de noiva de Catherine Middleton.
62
IMAGEM 24- A atriz Grace Kelly em seu vestido de noiva, quando se casou
63
com o Príncipe Rainier de Mônaco em 1956 .
IMAGEM 25- Detalhe das ombreiras do príncipe Albert no filme:
“A jovem rainha Vitória.
70
11
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como título “As tradições criadas pela rainha Vitória nos
casamentos Reais da monarquia britânica”. Sua proposta consiste em mostrar quais
foram as tradições e modas criadas pela monarca enquanto estava no poder, sua
importância para a historia da moda, dando especial ênfase aos vestidos das noivas
dos monarcas que subiram ao trono britânico.
A rainha Vitória, a partir do casamento com seu primo, o príncipe Albert do reino
de Saxe-Coburgo e Gotha foi responsável pela criação de muitas das tradições que
cercam o cerimonial dos casamentos reais ingleses, sendo muitas destas usadas na
maior parte das festas de casamento ao redor do Ocidente, como o vestido de noiva
branco, o qual será o objeto de estudo deste trabalho.
Esta pesquisa tem como diferencial fazer uma análise das tradições criadas pela
rainha observando o contexto social, econômico e histórico em que o seu casamento
e os dos monarcas sucessores estavam inseridos, visto que acontecimentos como
revoluções e guerras de cada momento tiveram uma importância e influência
considerável na moda de cada época, e, dessa forma, também no vestido de noiva.
Portanto, os objetivos consistem em mostrar quem foi a rainha Vitória e a
importância de seu governo para a moda, analisando o contexto histórico,
econômico e politico em que está inserida; Identificar quais foram as tradições que
ela inventou no casamento real inglês e demonstrar como essas foram fortemente
influenciadas por acontecimentos do período de cada matrimônio,
contando um
pouco da história de cada casamento através dos vestidos das noivas de cada um.
Para alcançar os objetivos propostos, no primeiro capítulo será contada uma
história do tempo em que a rainha permaneceu no poder (de 1837 a 1901), o qual
ficou conhecido como “Era Vitoriana”. Usando referências de historiadores de moda,
tais como James Laver, no livro “A roupa e a moda: uma historia concisa” e “..ismos:
para entender a moda”, da autora Mairi Mackenzie, que descrevem com detalhe a
moda do século XIX. Neste capítulo será feito um paralelo entre as vestimentas
usadas na época e os acontecimentos históricos como a Revolução Industrial,
através de referências de autores como José Jobson de Arruda no livro “Historia
Moderna e contemporânea”.
12
Depois da contextualização histórica mostrada no primeiro capítulo, o segundo irá
focar no vestido de noiva, inserido no contexto da realeza inglesa. Com referências
retiradas de sites como o do Museu Victoria and Albert e do Palácio de Kensington,
esta parte do trabalho irá descrever os vestidos das noivas reais, chamando a
atenção para cada detalhe das tradições inventadas por Vitória, observando também
os principais acontecimentos no mundo que foram fortes influenciadores do corte, do
modelo e das formas de cada um.
No terceiro capítulo estará presente uma coleção de vestidos de noiva. Essa terá
como título “Vitória e Albert: um casamento real”, onde será contada, através das
roupas que eles usavam, a famosa, mas também contrastante história de amor do
casal devido as suas condições de rainha e príncipe.
Portanto, uma parte da vida de Alexandrina Vitória será relatada neste trabalho,
que mostrará um pouco do seu lado rainha, esposa, líder e, em especial, criadora e
influenciadora da moda do seu tempo. Alguém que deixou uma parte de sua época e
seus feitos nas rendas, tecidos e alguns adereços que estão presentes nos
casamentos da monarquia britânica.
13
2 A ERA VITORIANA E A MODA
De acordo com o site Historic Royal Palaces (s.d)1, na manhã do dia 20 de junho
de 1837, Alexandrina Vitória, de apenas 18 anos de idade, recebeu a notícia de que
seu tio, o rei William IV havia falecido. Como esse não tinha filhos, Vitória passava a
ser a mais nova rainha da Inglaterra, dando início a um reinado que durou de 1837 a
1901.
O dia de sua coroação foi muito esperado pela nação inglesa. Uma jovem mulher
com menos de vinte anos de idade passaria a ser a autoridade máxima no país.
Certamente, Vitória dava início a um novo tempo na monarquia britânica e, no dia de
sua coroação, escolheu uma roupa que fazia jus ao seu novo papel.
A jovem (princesa Fedora, sua meia irmã) ajustou uma anágua de
cetim branco com efeitos dourados à cintura de Vitória e, por cima,
assentou o vestido cujo corte na parte da frente permitia entrever a
riqueza da anágua bordada. Que depois caia em dobras fartas
formando uma longa cauda. Sobre os ombros, Vitoria colocou um
manto carmesim forrado com pele de arminho debrudado com renda
dourada. O toque final da toalete foi dado por um pequeno diamante
de brilhantes, colocado sobre a cabeça da jovem princesa.
(SHERMAN, 1987, p. 7)
1
HISTORIC ROYAL PALACES. Victoria awakes: 20 june 1837-Princess Victoria Awakes at
Kensington Palace to descover that she is the new Queen. S.d. Disponível em:
<http://www.hrp.org.uk/KensingtonPalace/stories/Victoriaawakes>. Acesso em 31 de outubro de 2012.
14
IMAGEM 1: Quadro pintado por Franz Xaver Witerhalter (1805-1873) com o título “ Queen
Victória (1819-1901)”, cerca de 1870. Mostra a rainha com as vestes de sua coroação.
FONTE: Vitória do Reino Unido: wikipedia.org, 2012
Vitória estava diante de uma grande responsabilidade. Todo reino passaria a ser
governado por essa mulher que, a partir de então, precisaria colocar em prática sua
autoridade como uma monarca. O tempo em que a rainha permaneceu no poder foi
de grande importância para o país. Esse período passou a ser denominado de “Era
Vitoriana”.
Segundo Sitwell (1946), essa foi considerada uma época notável da classe média,
do capitalismo e dos valores comerciais, quando o mundo era repleto de máquinas,
os motores eram mais ágeis que os cavalos e os teares mecânicos suplantavam
homens, tornando-se, portanto, a idade da indústria. De acordo com a autora, o
reinado de Vitória estava fadado a ser testemunha do crescimento do capitalismo e
de seus ideais.
Em relação à moda, é comum que esta sofra influências do contexto histórico da
época em que está inserida, de sua economia e dos anseios das pessoas de tal
fase. Durante a Era vitoriana, não foi diferente. Este foi um momento muito marcante
15
na historia do vestuário devido aos grandes acontecimentos que marcaram o
período, os quais serão retratados adiante.
Segundo Johnstone (s.d), quando a rainha ascendeu ao trono em 1837, a
imprensa da época logo a viu com a expectativa de que surgissem novas modas,
transformando-a em um ícone para as garotas de sua idade, apesar do fato dela não
ter passado, talvez, de uma pessoa que apenas se interessava pelo assunto, como
relata a citação abaixo:
Em 1837 Vitória subiu ao trono. A imprensa de moda olhou para
esta rainha jovem para endossar novas modas e, geralmente, se
tornou um ícone para a sua idade. Contrariamente à crença popular,
Vitoria foi, até a morte do príncipe Albert, pelo menos, interessada
em moda. (JOHNSTONE, s.d)2
Mesmo, talvez, não passando de uma mulher que gostava de saber o que estava
se usando na época de seu reinado, é provável que a rainha Vitória tenha sido mais
fonte de referências de moda que muitas moças altamente conhecedoras do
assunto e empenhadas em lançar novas maneiras de vestir, durante o período em
que a monarca esteve no poder.
Ao longo deste trabalho, serão mostradas diversas maneiras como a rainha
influenciou o vestuário durante o seu reinado, enfatizando a figura da noiva da
realeza britânica a qual carrega muitas tradições criadas por Vitória, que
identificadas no contexto de cada casamento estudado.
Em 10 de fevereiro de 1840, logo no início de seu reinado, a monarca se casa com
o seu primo, o príncipe Alberto, do reino de Saxe-Gotha e Coburgo e transforma
esse dia em um marco na história da moda. A cor branca se torna uma tradição nos
vestidos de noiva da monarquia britânica, conseguindo ultrapassar as fronteiras
reais e influenciar grande parte das noivas do mundo ocidental até os dias de hoje.
Antes da moda gerada pela rainha, as roupas usadas pelas mulheres da realeza
no dia do casamento, como um todo, eram de diversas cores, com o objetivo de
2
In 1837 Victoria ascended to the throne. The fashion press looked to this
new young queen to endorse new fashions and generally become an icon
for her age. Contrary to popular belief Victoria was, until Prince Albert's
death at least, interested in fashion (JOHNSTONE. Corsets & crinolines
in
Victorian
fashion.
Sd.
Disponível
em
:
<http://www.vam.ac.uk/content/articles/c/corsets-and-crinolines-in-victorianfashion/>. Acessado em 26 de outubro de 2012. Londres, UK. Tradução
nossa.)
16
ostentar as riquezas de seus reinos, como demonstra a citação extraída do livro “O
vestido de noiva”:
[...] em tons de vermelho, roxo ou preto – como sinal de
prosperidade. As princesas se casavam em longos vestidos de
veludo, seda e cetim e tecidos adamascados adornados com peles,
ouro rubis e brilhantes. Mas o luxo tinha uma razão de ser. Os
casamentos reais uniam laços entre os Estados e na cerimônia a
noiva representava os mais ricos de seu reino (WORSLEY, 2009, p.
257).
A noiva da realeza, portanto, através de suas roupas suntuosas, poderia ser
considerada uma espécie de vitrine que mostrava o que o seu reino tinha de mais
caro. A rainha Vitória, todavia, não quis passar essa imagem ao escolher o branco
como a cor de seu vestido de casamento, como relata a curadora Joanna Marschner
(2011):
Vitória já era rainha quando se casou e quando percebeu, como
uma jovem e esperta mulher, que o casamento tinha sido usado
muitas vezes como uma ferramenta política. Ela não queria que isso
fosse um fator no dia de seu casamento com o príncipe Albert.
(MARSCHNER, 2011?)3
A história do casal é muito conhecida pelo forte e recíproco sentimento de amor
que eles possuíam. Porém, mesmo querendo mostrar que os fatores principais de
seu casamento não eram os interesses políticos e econômicos, tais pontos não
foram desprezados e a cor branca passou a significar status, como mostra Worsley
(2009)
(...) ela endossou o vestido branco como símbolo de status para
noivas abastadas. A rainha era vista como uma romântica moderna
que se casou por amor, em um vestido adornado por rendas simples
para uma integrante da família real (WORSLEY, 2009, p.12)
3
“Victoria was already Queen when she is married and while she realised as
a clever young woman that marriage had been used often as a political tool,
she didn’t want that to be a factor on her wedding day to Prince Albert”.
(MARSCHNER, Joanna. Roayal wedding dress: a history. 2011?.
Londres;UK.
Entrevista,
acessado
em:
<
http://www.hrp.org.uk/learninganddiscovery/discoverthehistoricroyalpalaces/r
oyal-wedding-dresses>. Acessado em: 19 de novembro de 2012. Londres,
UK. Tradução nossa. Entrevista)
17
Juntar nobreza e uma bonita história de amor poderia parecer conto de filme ou
livro, principalmente se tratando de realeza na qual, em grande parte dos enlaces, o
amor parece não ser o principal motivo. No caso da rainha, essa não ignorou fatores
como a economia e o simbolismo de riqueza.
Além de valorizar a indústria inglesa e empregar pessoas, na produção do vestido,
como será mostrado adiante, a cor branca era um simbolismo de status, como
afirma Worsley:
A cor pode ser também um indicativo de classe social. O branco
era normalmente associado às classes mais abastadas, já que suja
facilmente e era caro mantê-lo sempre bonito”. Logo, não era
qualquer mulher que poderia ter uma roupa dessa cor. (WORSLEY,
2006, p. 258)
É interessante perceber os vários significados que o branco representa quando se
refere aos vestidos de noiva. Uma cor que no século XIX passa a ter um sinônimo
de posses, em períodos anteriores como na Grécia antiga e o período da Idade
Média, representa pureza e virgindade, como relata a citação a seguir, que afirma
que algumas mulheres inglesas e hindus do período vitoriano usavam véu e vestido
branco no período de luto.
Embora no Ocidente o branco represente pureza e virgindade, ele é
associado à morte em outras culturas. É a cor usada nos funerais
hindus, por exemplo; até mulheres da Inglaterra do século XIX
usavam vestidos brancos e véus quando estavam de luto. Mas a
história das noivas de branco remonta à Grécia antiga, quando a cor
simbolizava alegria e pureza; na Idade Média, algumas noivas
usavam branco para indicar virgindade. (WORSLEY, 2009, p.257).
A rainha Victória não foi desse modo, a primeira noiva a se casar de branco, mas,
foi a partir de seu casamento que ele ficou tradicionalmente conhecido como a cor
de grande parte dos vestidos das noivas ocidentais, os quais se tornaram uma
vestimenta que leva muitas mulheres a investirem verdadeiras fortunas para adquirir
um, mesmo que seja para usar apenas uma vez.
O modelo do vestido da monarca descrevia com detalhes a moda da época, por
meio de peças frequentemente usadas no século XIX, como a pelerine4.
4
Elegante capa usada pelas mulheres em meados do século XIX. Tinha extremidades compridas na
parte da frente e curtas atrás. (CALLAN, 2007, p.244)
18
Diante da moda lançada por Vitória, pode-se dizer que ela não só foi influenciada
pelas roupas do período, mas que essas foram revolucionadas pela rainha, no que
se diz respeito ao vestido de noiva.
Segundo a descrição feita por Marschner (2011)5, o modelo do vestido era
composto por um corpete, com mangas volumosas. Tinha um decote que deixava os
ombros à mostra, com o detalhe de uma pelerine ao redor dele. A cintura era
pontiaguda com pregas profundas na parte da frente. Possuía seis metros de tecido
e foi bordado com flores de laranjeira, combinando com uma tiara feita do mesmo
material, ao invés das tradicionais coroas de pedras preciosas. Na imagem que
segue, é possível visualizar a roupa descrita retirada do livro “História do vestuário
no Ocidente”.
IMAGEM 2: Vestido de casamento da rainha Vitória, 1840
FONTE: Boucher, 2010
5
MARSCHNER, Joanna. Factsheet: Historic royal wedding dress at Kensington Palace. 2011.
Disponível em: < http://www.hrp.org.uk/Resources/FACTSHEET__royal_wedding_dresses_April_2011_2.pdf.>. Acessado em: 19 de novembro de 2012.
19
Alexandrina Vitória passa a ser uma pessoa muito influente na cultura britânica,
desde 1840 até os nossos dias. O vestido usado em seu casamento dava inicio a
um reinado repleto de novas modas, das quais, algumas serão mostradas ao longo
deste trabalho e que surgiram por diversos motivos, tais como a baixa estatura da
rainha e também por motivos de protocolos, como foi o caso do luto. A rainha, assim
como inventou a tradição do branco para o casamento, disseminou o preto como cor
de luto.
Quando o seu marido, o príncipe Albert veio a falecer em 1861, a rainha passou a
usar roupa preta para representar o luto pela perda de seu esposo. A partir de então,
até certo período, a maioria das viúvas, em grande parte do mundo, adotaram essa
cor na triste ocasião.
Mackenzie (2010, p.48) relata que, durante o reinado de Vitória, rituais sociais e
complexos códigos de etiqueta regiam o período. O uso desses padrões
representava distinção da pessoa que os aderia. A autora conta ainda que o luto era
dividido em três fases: luto completo ou fechado, segundo luto, luto comum e meioluto, cada um com um período determinado.
A mulher vitoriana vivia em meio a rigorosas regras devido ao seu papel na
sociedade. Suas roupas eram reflexo disso. Repletas de contrições, essas eram
muito mais restritas do que a dos homens, os quais, durante o luto, precisavam usar
trajes específicos. Porém, de uma maneira muito menos rígida e por um período de
tempo muito mais curto que o das mulheres, como mostra Mackenzie:
A viúva, na patriarcal era vitoriana, encarava contrições muito mais
rígidas e abrangentes: tinha de passar dois anos e meio
publicamente de luto pelo marido. De sua parte, o viúvo devia
respeitar um luto ostensivo de apenas três meses, sinalizado pelo
uso de uma faixa de crepe negro no braço. (MACKENZIE; 2009,
p.48)
Portanto, a mulher da Inglaterra do século XIX passava por restrições severas em
relação ao seu traje, em especial quando o seu marido falecia. Até detalhes como o
tipo de tecido, peças íntimas e acessórios estavam sujeitos a regras sociais, as
quais precisavam ser minuciosamente cumpridas. Além disso, para cada fase do
20
luto existiam certos tipos de vestimentas com cores específicas que precisavam ser
usadas.
As especificações detalhavam elementos como o tecido, o corte, a
silhueta, botões, roupa de baixo, penduricalhos e acessórios. O
crepe (uma gaze de seda fosca) ou bombazine eram os tecidos
permitidos para o luto, permitia-se adicionalmente a meia escura.
Quando se alcançava o meio-luto, tonalidades, incluindo cinza, malva
e violeta tornavam-se permitidas, além do preto. (MAKENZIE; 2009
p.48)
A importância da rainha Vitória para a moda não para por aí. Acontecimentos de
sua vida pessoal, como a morte de seu marido, foram motivos para as vestimentas
da época serem influenciadas por ela, assim como os momentos de lazer que o
casal tinha.
Antes da morte do Príncipe, a monarca e seu esposo costumavam ter momentos
de lazer em uma propriedade que adquiriram na cidade de Balmoral, no sul da
Escócia. Albert supervisionou pessoalmente a decoração do local, no qual se faziam
presentes os tecidos tartans, típicos de tal região, tendo até um desenhado por ele e
outro por Vitória. A partir de então o uso desses virou moda (STEVENSON, 2012).
IMAGEM 3: Xadrez Balmoral: pintura de Le Follet, 1848
21
FONTE: Laver, 2010
Durante a Era vitoriana, até a pequena altura da monarca foi motivo para que as
roupas do período sofressem influencia, fazendo com que as moças da época
raramente fizessem uso dos saltos altos.
Segundo Laver (2006, p.124), as mulheres tentavam parecer menores do que
eram, talvez em respeito à pequenez de Vitória. O autor relata que raramente os
sapatos tinham saltos e o tipo mais comum era a sapatilha amarrada ao tornozelo,
como as de bailarina, as quais eram feitas de seda ou crepe, em cores que
combinavam com o vestido; além disso, os pés pequenos eram admirados como
sinal de nobreza.
O pequeno tamanho da monarca fez também com que ela buscasse alternativas
estratégicas que disfarçassem seus defeitos e lhe dessem a ideia de ser menos
baixa, como foi o caso da sua coroa miniatura.
De acordo com o texto de abertura da exposição denominada de Royal Colection
Trust6, a pequena coroa usada pela rainha Vitória, no seu retrato de Jubileu de
Diamantes em 1897, foi feita por R&S Garrard em 1870. Ela foi projetada para ser
usada sobre um véu, o qual a rainha adotou após a morte do príncipe Albert em
1861. A coroa com 1,187 diamantes media apenas 9 por 10 cm e proporcionava à
Vitória uma estatura maior do que a que realmente tinha, disfarçando, assim, seu
pequeno tamanho. Segundo o texto, essa joia foi uma de suas favoritas, quando
comparada a outras coroas que ela possuía, e foi usada durante trinta anos pela
monarca, podendo ser vista na imagem que segue.
6
PALÁCIO DE BUCKINGHAN. Royal Colection Trust. (2012). Disponível em:
<http://www.royalcollection.org.uk/sites/default/files/null/diamonds__a_jubilee_celebration_press_rele
ase_2012_1.pdf>. Acesso em 11 de outubro de 2012.
22
IMAGEM 4: Rainha Vitória na foto de seu jubileu, 1897.
Fonte: Victoria Revealed: www.hrp.org.uk.
Sabe-se, além disso, que a Era Vitoriana foi um período importante da História.
Muitos acontecimentos de relevância considerável para a humanidade aconteceram
nesse momento, tais como o surgimento da energia elétrica, do telefone e de muitos
outros inventos, os quais fizeram parte da Revolução Industrial.
Durante o século XIX, a Inglaterra exercia grande supremacia na Europa. Esse
acontecimento a colocou quase um século à frente de outros Estados Europeus. O
avanço industrial desse período causou mudanças tão profundas e radicais na
sociedade inglesa que foram consideradas revolucionárias e, por isso, esse
acontecimento pode ser também de caráter social. (ARRUDA, 1974)
O surgimento das máquinas durante esse período permite que a sociedade seja,
de certa forma, reformulada. Surge uma nova maneira de se trabalhar. A partir de
então, o trabalho humano é substituído por um maquinário:
Embora tenha provocado transformações técnicas, comerciais e
agrícolas, a revolução industrial pode ser considerada
essencialmente a passagem da sociedade rural para a sociedade
industrial, a mudança do trabalho artesanal para o assalariado,
utilização da energia a vapor no sistema fabril em lugar da energia
humana (ARRUDA, 1974, p. 237)
23
Dessa forma, as mudanças ocorridas no ambiente de trabalho permitiram que
várias áreas da sociedade sentissem as mudanças da revolução. A substituição do
trabalho manual pelo maquinário implicou também em uma mudança na forma como
os trabalhadores passavam a ser remunerados pelo seu ofício. Esses, a partir de
então, passaram a receber um salário.
Já a passagem da indústria doméstica para a manufatura foi
marcada pela transformação do artesão em trabalhador assalariado.
Isso ocorreu quando os artesãos deixam de comprar a matéria prima
e de possuir sua própria máquina, passando a receber ambas de um
grande comerciante. O produto foi produzido a preço fixo, contratado
entre o comerciante e o artesão, que nesse caso, recebia apenas um
pagamento pelo seu trabalho, o salário. (ARRUDA, 1974, p.120)
É possível que a nova maneira de trabalhar e receber pelo trabalho realizado,
tenha feito com que os artesãos perdessem a sua autonomia no processo de
produção. Estes agora estavam sujeito a uma hierarquia, precisavam obedecer a
regras e se sujeitar a um patrão. Ainda que a sua média de produção em certo mês
tenha superado a do anterior, esse continuaria a receber o mesmo valor, não
recebendo nenhum aumento pela sua produção. Portanto, o salário surgia com prós
e contra.
Diante das circunstâncias, o comércio inglês no mundo oriental permitiu que os
comerciantes passassem a ter acesso à matéria prima, ao produto e ao meio de
produção, fazendo com que essa indústria prosperasse, principalmente devido a
facilidades como, por exemplo, a grande quantidade de mão-de-obra barata
proveniente dos Estados Unidos, como a citação abaixo evidencia:
Logo depois que o comércio inglês no Oriente colocou os
comerciantes em contato como o algodão e tecido de algodão, a
indústria de fiação e tecelagem do algodão prosperou rapidamente,
pelas seguintes razões: abundância de matéria-prima, tanto no
Oriente quanto nos Estados unidos, então colônia da Inglaterra,
disponibilidade de mão de obra barata, mercado consumidor seguro,
inexistência de legislação que impedisse a expansão desta indústria,
como acontecia com a fabricação de tecidos de lã. (ARRUDA; 1947,
p.122)
Com base no relato, a Inglaterra passava por um ótimo período industrial e
econômico. A manufatura britânica parecia estar em seu melhor momento. A rainha
Vitória certamente viu todo esse crescimento de maneira bastante positiva, ao ponto
24
de, no dia de seu casamento com seu primo Albert, querer que todo o material
usado em seu vestido de noiva fosse produto inglês.
De acordo com Marschner (s.d)7, Vitória fez questão de mostrar as qualidades da
indústria da Inglaterra e estava desejosa para que todo material usado em seu
vestido fosse produto de seu reino. Sendo assim, usou um cetim de seda, obtido em
Spitafields, no leste de Londres, e decorado com rendas da cidade Honiton, no
próprio Reino Unido, além de empregar mais de 200 artesãos, durante o período de
março a novembro de 1839, para produzirem a renda de seu vestido no condado de
Devon no Sudoeste da Inglaterra.
Vitória, além de valorizar a indústria de seu país através do uso de matéria prima
interna, permitiu também a geração de emprego e renda para uma parte da
população deste, em um período muito oportuno, pois, com advento das máquinas,
muitos trabalhadores ficaram desempregados, permitindo que não só esses fossem
beneficiados com o valor do trabalho, mas, em grande parte, seus familiares
também, o que pode ter proporcionado uma melhor qualidade de vida para algumas
famílias durante o período da confecção de seu vestido.
Diante dos relatos, é possível perceber a maneira como o Contexto histórico,
social e econômico de uma época afetam diretamente a moda. A revolução
industrial, de uma maneira geral foi uma forte influenciadora, como foi mostrado
através do vestido que a rainha usou.
As facilidades e novas tecnologias geradas durante o período também permitiram a
criação de muitos inventos que foram de fundamental importância para a História,
tais como novas fontes de energia como a hidrelétrica, por exemplo, combustíveis
derivados do petróleo, além da maioria dos principais meios de transportes utilizados
7
MARSCHNER, Joanna. Factsheet: Historic royal wedding dress at Kensington Palace. 2011.
Disponível em: < http://www.hrp.org.uk/Resources/FACTSHEET__royal_wedding_dresses_April_2011_2.pdf.>. Acessado em: 19 de novembro de 2012.
25
até os dias de hoje, tais como o metrô urbano, o automóvel e a bicicleta, sendo esta
última uma forte influenciadora da moda do século XIX. (ATTERBURY, sd)8
Segundo a mesma fonte, o uso do automóvel como meio de transporte pessoal foi
limitado na Grã-Bretanha antes de 1901, ao contrário da bicicleta, a qual teve o
modelo Penny Farthing, como a forma mais popular de transporte durante as
décadas de 1870 e 1880. Mesmo que essa tivesse uma instabilidade inerente e que
a falta de prática em seu uso oferecesse perigos. O uso das bicicletas na Era
Vitoriana passou a ser o meio de transporte pessoal mais disponível.
IMAGEM 5: Modelo de bicicleta Penny Farthing
Fonte: dallashistory.freeforums.org, 2009
Ela também gerou uma revolução no vestuário feminino, visto que era
praticamente impossível pedalar com saias compridas e seus grandes metros de
tecido, os quais impediam as mulheres de se locomoverem livremente. Portanto, as
roupas começam a se adequar ao novo veículo.
Para o novo esporte do ciclismo, que ainda estava no estágio das
bicicletas com rodas dianteiras maiores que as traseiras, foi
8
ATERBURY, Paul. Steam & speed: Other forms of Victorian transport & communication. S.d.
Disponível em: < http://www.vam.ac.uk/content/articles/s/other-forms-of-victorian-transport-andcommunication/>. Acessado em 2 de dezembro de 2012.
26
concebido um traje extraordinário: calções justos até o joelho, um
paletó muito justo com aspecto militar e um boné pill Box. O homem
elegantíssimo que usava esse traje levava uma corneta para advertir
o pedestre de sua aproximação. Esse vestuário peculiar parece não
ter sido adotado na França nem na Alemanha, onde o ciclismo era
igualmente popular.
(LAVER, 2009, p. 204 e 205)
IMAGEM 6: Traje de ciclismos para homens e mulheres. 1878- 80.
Fonte: Laver, 2009
Nesse sentido, o uso popular da bicicleta durante a Era Vitoriana foi muito
importante. Em relação às mulheres, a necessidade de se criar roupas que as
permitissem pedalarem sem os muitos metros de tecidos de suas saias, fez,
também, com que surgissem alguns conflitos entre os gêneros masculino e feminino
por conta de algumas vestimentas que sugeriam que essas usassem calças, como
foi o caso dos bloomers descritos a seguir:
Ele consistia em uma versão simplificada do corpete em voga e
uma saia razoavelmente ampla bem abaixo dos joelhos. Sob a saia,
entretanto, viam-se calças largas até o tornozelo, geralmente com
um babado de renda na barra . (LAVER, 2006, p.182)
Essa intenção de melhorar o traje feminino causou um grande alvoroço na
sociedade e se tornou motivo de sátiras e censuras. A tentativa da mulher de
27
simplificar suas roupas não foi vista com bons olhos. Os homens encararam o traje
como uma intenção do sexo oposto de querer se igualar a eles, que acreditavam se
encontrar em uma posição social mais vantajosa.
O que podemos chamar de complexo das calças veio à tona. As
mulheres estavam empenhadas ao que parecia, em “usar as calças”,
e o homem de meados do período vitoriano considerava tal atitude
um ataque ultrajante a sua posição privilegiada (LAVER, 2006,
p.182)
Outros fatores que cresceram significativamente durante essa fase foram as artes e
o design, principalmente, a partir da Grande Exposição dos Trabalhos da Indústria de
Todas as Nações de 1851, realizada no Palácio de Cristal, a qual foi um evento de
grande importância para o reinado de Vitória e que culminou com o surgimento do
Museu “Vitória e Albert”.
Esse acontecimento, segundo o site do mesmo museu (s.d)9, foi a primeira
exposição internacional de produtos manufaturados, a qual exerceu influência no
desenvolvimento de aspectos da sociedade, tais como a arte, o ensino de design,
relações e comércio internacional e o turismo. O site relata que essa deu início a
muitas outras exposições internacionais que se seguiram pelos próximos cem anos.
Este evento, além dos diversos ramos citados, influenciou também a moda, mesmo
que tenha sido de uma maneira indireta. As novas tecnologias, supostamente, fruto
do contexto da industrialização, geraram progresso à nação inglesa, e representou,
portanto, um avanço no vestuário, como mostra a citação abaixo:
Na Inglaterra, a Grande Exposição de 1851, não só mostrou novos
tipos de tecnologia, como trouxe a esperança (uma esperança
errônea como se viu mais tarde) de que uma era de paz universal
estava para começar. O negócio e o comércio prosperavam. [...]
9
MUSEU VITÓRIA E ALBERT. National Art Library Great Exihbition Collection. Sd. Disponível em:
<http://www.vam.ac.uk/content/articles/n/national-art-library-great-exhibition-collection/>. Acessado
em 26 de outubro de 2012.
28
Prosperidade crescente significa maior elaboração de roupas
(LAVER, 2006, p. 177).
As roupas mais elaboradas, relatadas pelo autor, repercutiram sobre todas as
camadas da sociedade, inclusive as mais pobres, as quais passavam a se vestir
melhor. Muitas vezes era difícil de identificar as pessoas que tinham poucos
recursos, quando essas usavam suas “roupas de domingo”, pois eram melhores do
que as vestimentas de muitas mulheres de classes superiores vinte anos antes é o
que conta Laver (2006) na citação que segue:
E vemos que R.S Surtees, em um de seus romances (Ask
mama [pergunte a mamãe], de 1853), reclama de que “a criada
agora se veste melhor – de maneira mais fina, em todo caso – do
que a senhora se vestia há vinte anos e é quase impossível
reconhecer os trabalhadores quando estão usando suas roupas de
domingo” (LAVER, 2006, p. 177).
O avanço das máquinas, e consequentemente, os surgimentos do capitalismo e da
classe burguesa permitiram que o vestuário, também passasse por uma grande
transformação, não só no estilo e no caimento, mas, também, na forma de produção.
Até a virada do século XIX, a moda se desenvolvia de forma
estável, ao sabor das convulsões políticas, sociais e religiosas que
agiam como indicadores de novos modismos. A industrialização
têxtil, seguida por avanços na manufatura e na venda de tecidos,
revelou novos catalisadores para a evolução da moda:
disponibilidade, acessibilidade, mobilidade social e novidades, da
parte dos consumidores, e lucro da parte dos fornecedores.
(MACKENZIE, 2010, p. 40).
As pessoas desse período, portanto, passam a encarar a moda de forma
diferente. Diante das mudanças da época, a maneira de fazer, comprar, criar e,
portanto, desejar as roupas foi revolucionada.
Surge, então, uma nova sociedade de consumo em dois sentidos: o primeiro se dá
pelo fato de que as pessoas, em geral, passam a ter uma nova postura diante da
vestimenta, a qual ficou mais acessível ao consumidor e rentável ao vendedor, como
mostrou a citação; e a segunda é que a burguesia passa a ser uma nova classe
consumidora.
29
Segundo Mackenzie (2010), com o surgimento do capitalismo, a riqueza deixava
de depender apenas da hereditariedade. O esforço pessoal proveniente do trabalho,
o qual ganhou status de religião devido à maneira árdua em que este era executado,
passou a ser considerado o único meio para garantir uma vida próspera. A adoção
de rígidos códigos morais, tais como o comportamento sóbrio e o ato de poupar
passaram a prevalecer, refletindo a necessidade de se por ordem a um período de
violentos tumultos sociais. Os valores da classe média passam a influenciar o século
XIX.
Considerando essas questões, a roupa passa a refletir todo este contexto social, se
tornando uma espécie de contadora de história, em que muitos acontecimentos de
um período específico passam se fazer presente através da silhueta, do corte e do
material utilizado em cada vestimenta. Com o surgimento da burguesia, não foi
diferente, essa classe social causou forte transformação no vestuário como mostra a
citação a seguir:
A figura dominante na vida inglesa era agora o burguês respeitável,
que não desejava se exibir, mas simplesmente ter uma aparência
distinta tanto no escritório quanto em casa [...] O que estamos
assistindo de fato nessa época é o desaparecimento da
extravagância e da cor das roupas masculinas, que só retornaram
em épocas bem modernas. Todas as roupas vistosas eram
consideradas deselegantes. (LAVER; 2006, p. 169)
30
IMAGEM 7: Homem burguês
FONTE: Laver, 2010
É interessante observar na moda do século XIX a maneira como a classe média
influenciou a vestimenta, a qual, na maioria das vezes é modificada pelas pessoas
que possuem mais poder e riquezas, como os monarcas. Agora, os emergentes
passam a ditar grande parte dos modismos da época. Conquistar seus bens através
do trabalho árduo passa a ser uma virtude admirada e almejada, sendo vista,
entretanto, apenas em relação ao sexo masculino.
No que se diz respeito às mulheres, a citação que segue mostrará que toda a
beleza que o trabalho duro gerava para os homens, para elas, já não era visto da
mesma maneira. Seus maridos esperavam que essas soubessem cuidar do lar com
maestria e que vivessem no ócio. Isso geraria status para o homem da casa e
provavelmente, daria a entender que os maridos ganhavam muito bem, ao ponto de
poderem sustentar a desocupação de suas esposas.
Influenciadas também pelo romantismo, essas, além da ociosidade, passaram a
buscar uma imagem doentia. O estereótipo de beleza passava a ser um rosto com
31
aspecto abatido e, de certa maneira, doentio a ao ponto delas fazerem uso de
recurso mirabolante para conseguir uma imagem abatida e fraca.
De fato, era chique ser, ou parecer um pouco souffrante; “saúde de
ferro" era simplesmente vulgar. O ruge foi totalmente abandonado,
uma “palidez interessante” era admirada, e algumas jovens tolas
chegavam a beber vinagre para ficar de acordo com a moda. O
próspero homem de negócios, que começava a deixar a cidade e a
instalar sua família em confortáveis casas recém-construídas nos
subúrbios elegantes, esperava duas coisas da esposa: primeiro que
fosse um modelo de virtudes domésticas e segundo que não fizesse
nada. Sua ociosidade total era a marca do status social do marido.
Olhava-se com desprezo para qualquer tipo de trabalho e as roupas
que refletiam essa atitude eram extremamente restritivas. De fato, o
grande número de anáguas usadas nessa época impedia as
mulheres de realizar qualquer atividade sem fadiga (LAVER 2006, p.
170).
A mulher do período vitoriano vivia diante de uma sociedade que a restringia
sobremaneira. As roupas que usava eram um reflexo de sua condição social. Entre
essas vestimentas, estavam a crinolina e o espartilho, os quais foram peças de
fundamental importância para a moda da época. Roupas apertadas, pesadas e
abafadas eram as que as mulheres costumavam usar, colocando em risco sua
saúde e higiene.
IMAGENS 8: Espartilho de origem britânica ou francesa, 1864. Produtor
desconhecido.
FONTE: Acervo do V&A Museum, código: T. 169-1961, colection.van.uk, s.d
32
Segundo Johnstone (s.d)10, os vestidos do século XIX aumentaram de tamanho e
tinham que ser estruturadas por camadas de anáguas pesadas as quais eram muito
quentes e sem higiene, principalmente durante o verão. As anquinhas eram feitas
com almofadas ou ossos de baleia que lhes tornavam rígidas e serviam como
suporte. A fonte relata que o tipo mais popular de saia era feito com crina de cavalo
(‘crin’ em francês significa crina e ‘lin’ vem do linho com o qual foi tecida), a qual
ainda não era a crinolina, feita de aço usada em 1850.
É de se imaginar que o incômodo que tais vestimentas causavam era muito
grande. Com muitas limitações, as mulheres tinham que se adequar ao rígido ideal
de beleza do período, o qual, aos poucos, foi sofrendo mudanças que tentaram
melhorar a situação da roupa feminina, mas que ainda estavam longe de serem
considerados trajes confortáveis.
Ainda segundo Johnstone (s.d), em 1856, surge, portanto, a crinolina. Uma
alternativa mais prática, era feita com aros de aço de mola e suspensos com fitas de
algodão. Essa nova estrutura era forte o suficiente para suportar as saias e criar o
efeito em forma de sino que se tornou tão popular, ao ponto de ser apelidada de
“crinolinemania”.
10
JOHNSTONE, Lucy. Corsets & Crinolines in Victorian Fashion. S.d. Disponível em:
<http://www.vam.ac.uk/content/articles/c/corsets-and-crinolines-in-victorian-fashion/>. Acessado em
21 de novembro de 2012.
33
IMAGEM 9: Crinolina de, aprox.1860, V&A Museum
FONTE: Corset & Crinolines in Victorian Fashion. Código: T. 150.1986
www.van.ac.uk. s.d.
Diante dos relatos, é possível perceber a disposição das mulheres em estarem na
moda e, portanto, adequadas ao meio em que estavam inseridas, se submetendo ao
desconforto, à falta de higiene e também a muitos comentários irônicos feitos pelos
veículos de comunicação da época.
Muito tem sido escrito e desenhado para criticar e satirizar a
crinolina. Os perigos e inconvenientes de se usar a gaiola foram
muito divulgados na época, tais como a incapacidade das mulheres
de caberem em carruagens ou através de portas estreitas. Algumas
imagens satíricas foram tão longe que mostraram as mulheres tendo
que deixar suas crinolinas do lado de fora ou em cima do veículo
quando viajavam, revelando, assim, mais tornozelos e pernas do que
se pensava ser adequado, o qual foi outro problema muito citado.
(JOHNSTONE, s.d)11
11
Much has been written and drawn to criticise and satirise the crinoline. The
dangers and inconveniences of wearing the cage were much publicised at
the time, and included being unable to fit into carriages or through narrow
doorways. Some satirical images went so far as to pretend that women had
to leave their crinolines outside or on top of the vehicle when travelling.
Revealing more ankle and legs than was thought proper was another much
cited problem. The above cartoon was aptly named A Windy Day and
suggests that women sometimes showed even more underwear by being
blown by a sudden gust of wind. ( JOHNSTONE, Lucy. Corsets &
Crinolines
in
Victorian
Fashion.
S.d.
Disponível
em:
<http://www.vam.ac.uk/content/articles/c/corsets-and-crinolines-in-victorianfashion/>. Acessado em 21 de novembro de 2012. Londres, UK)
34
IMAGEM 10: Mulher caindo de um veículo devido a sua grande crinolina; pintura de
1859, aprox.
Fonte: Corset and Crinolines in Victorian Fashion. www.vam.ac.uk, s.d
A Era Vitoriana, portanto, foi um momento fundamental para o mundo da moda. A
rainha se mostrou uma mulher que, mesmo sendo considerada apenas interessada
no assunto, teve a percepção de usar as roupas como instrumento de disciplina, ao
criar exigentes regras a respeito do luto; soube também favorecer sua imagem e seu
corpo, quando resolveu usar a coroa miniatura e mostrou ser respeitada por seu
povo, quando as mulheres inglesas deixaram de usar salto alto, devido à baixa
estatura da rainha.
No que diz respeito ao vestido de noiva, essa pode ter sido um marco na história
da moda. A partir de seu casamento, nasceram tradições que foram usadas no
matrimônio de todos os seus sucessores ao trono, as quais conseguiram se adequar
ao contexto histórico, político e econômico de cada período e contar a história de
épocas, guerras, e também da importante rainha por meio da roupa usada pelas
mulheres da monarquia britânica no dia de seus casamentos, e é sobre isso que
falará o próximo capítulo.
35
4 AS TRADIÇÕES CRIADAS PELA RAINHA VITORIA NOS CASAMENTOS DA
MONARQUIA BRITÂNICA
Os casamentos reais, no geral, causam uma grande expectativa em grande parte
das pessoas. São muitas as curiosidades do público, em especial das mulheres,
para esse momento. Enquanto a noiva não é avistada pelas pessoas, perguntas
como: “Quem fez o vestido?”, “Quantos metros de tecido terá a calda?”, “Será que
ela vai usar coroa?”, ficam ecoando nas mentes curiosas.
Para muitos, os casamentos da realeza podem trazer à memória as histórias de
alguns contos infantis, como “Cinderela”, em que a princesa, aparentemente, usa o
“vestido mais lindo do mundo” e se casa com o príncipe que julga ser o amor de sua
vida, juntos, vivem uma bonita história de amor. Porém, na vida real, nem sempre o
amor é o motivo principal da união.
No que diz respeito aos casamentos dos monarcas que subiram ao trono inglês a
partir da rainha Vitória e dos futuros sucessores, príncipe Charles e Willian, as
histórias que relatam esses enlaces são diversas. Segundo Marschner (2011),
alguns deles eram “[...] uma questão de política externa. E a maioria desses
casamentos estavam ligados a alianças políticas e ao domínio de territórios”.
12
Por muito tempo, em períodos como na Idade Média, por exemplo, muitas uniões,
não só referente à realeza, mas também à união de pessoas sem título algum
representavam um acordo de interesses políticos e econômicos, nos quais o noivo
pagava um dote pela sua futura esposa. Em casos como o anel de noivado, mesmo
que esse atualmente não represente uma ideia de posse da mulher, tem sua origem
nesse acordo financeiro.
Historicamente, o casamento foi por muito tempo fruto de acordo
financeiro entre duas famílias [...] O noivado sela um acordo e se
encaixa na tradição materialista. A aliança de brilhantes representa a
ideia de compra da noiva, já que os casamentos eram fruto de
negócios entre as famílias. Ainda hoje, tem-se a ideia de que o anel
de noivado deve custar ao noivo um ou dois meses de salário. Na
Idade Média, a doação que o homem tinha de realizar para obter a
12
MARSCHNER, Joanna. Royal wedding dresses: a history. 2011?. Disponível em:
<http://www.hrp.org.uk/learninganddiscovery/discoverthehistoricroyalpalaces/royal-wedding-dresses
>. Acessado em: 07de novembro de 2012.
36
mão da futura mulher incluía pedras preciosas, e o anel era visto
como um objeto que a esposa poderia vender se ficasse viúva.
(WORSLEY, 2009, p. 206)
No que diz respeito à monarquia britânica, seja qual for o motivo da união, a figura
da noiva passa a ser, na maioria das vezes, uma das coisas mais esperadas,
comentada e copiada por mulheres ao redor do mundo.
Em todas elas, é possível perceber a influência da rainha Vitória. A partir de seu
casamento com o príncipe Albert, a figura da noiva real inglesa fica repleta de
tradições, as quais passam a lembrar e contar a história de tal monarquia. Segundo
Hobsbawn (2006, p.12) “a invenção de tradições é, essencialmente um processo de
formalização e ritualização caracterizado por referir-se ao passado, mesmo que
apenas pela imposição da repetição”.
Além de mostrar as tradições criadas por reis e rainhas, como Vitória, essas
roupas também se tornam contadoras de histórias da moda e de alguns dos
acontecimentos que marcaram a época em que cada casamento aconteceu. O
passado representado pelas tradições se une ao presente de cada período, através
do contexto histórico, político e econômico que cercava cada casamento.
Segundo Marschner (2011)
13
, os vestidos de noiva da realeza sempre foram
doadores de mensagens – mesmo o da rainha Vitória que, segundo a autora, era o
mais simples deles, pois valorizou o que a indústria inglesa produzia de melhor,
durante a Revolução Industrial.
Em cada detalhe, o mundo que cerca cada vestimenta se faz presente através de
rendas que surgiram em meio à invenção de máquinas, bordados repletos de
simbolismos, cortes de roupas típicas de certo período, os quais tornam-se,
portanto, fruto de guerras e revoluções que agem diretamente no comportamento
das pessoas e, portanto, na moda.
13
MARSCHNER, Joanna. Royal wedding dresses: a history. 2011?. Disponível em:
<http://www.hrp.org.uk/learninganddiscovery/discoverthehistoricroyalpalaces/royal-wedding-dresses
>. Acessado em: 07 de novembro de 2012.
37
IMAGEM 11: Árvore Genealógica da Monarquia Britânica
FONTE: Casamento do príncipe Willian: De Vitória a Willian, g1.globo.com, 2011
38
1863, o filho da rainha, o Príncipe Eduardo, se casa com a princesa Alexandra,
filha do rei Cristiano, da Dinamarca. Segundo a Casa Real (2008) 14, ele foi o único
rei da Casa Saxe-Coburgo-Gotha, em um reinado que durou de 1901 a 1910.
São muitos os motivos que cercam um casamento real. União de reinos, a
necessidade de sucessores, como ficaria a credibilidade do monarca diante do povo,
ao ser ou não casado, foram questões que tornaram essas uniões assuntos de
grande importância. No caso do casamento do rei Eduardo, fazia dois anos da morte
precoce do príncipe Albert, portanto, havia um grande interesse no casamento do
sucessor de Vitória. (MARSCHNER, 2011)15
Diante desse relato, é interessante perceber que, mesmo a rainha Vitória não
querendo que seu enlace com o príncipe Albert fosse visto, apenas com caráter
político que, apesar disso, não deixou os interesses econômicos de lado, os
casamentos reais continuavam a representar os interesses de Estado, ainda que em
épocas diferentes.
A união de Eduardo e Alexandra estava inserida em um contexto de muitas
mudanças na moda e no mundo como um todo. Como já foi relatado antes, a
Revolução Industrial proporcionou um crescimento muito grande na economia da
Inglaterra e de todos os países influenciados por ela, além de trazer também uma
mudança importante na produção do vestuário, em especial com o surgimento da
máquina de costura.
O desenvolvimento da máquina de costura no início de 1850 foi
uma das inovações mais importantes do século 19, uma vez que
levou à produção em massa de roupas, incluindo roupas
íntimas. Embora muitos corsets da década de 1850 ainda fossem
costurados à mão, a velocidade de costura em uma máquina fez com
que os fabricantes produzissem espartilhos em maior número e
aumentassem a variedade de modelos. A fabricação de espartilho e
roupas íntimas, portanto, tornou-se uma grande indústria, com um
14
CASA
REAL.
Saxe-Coburg-Gotha.
S.d.
Disponível
em:
<
http://www.royal.gov.uk/HistoryoftheMonarchy/KingsandQueensoftheUnitedKingdom/Saxe-CoburgGotha/Saxe-Coburg-Gotha.aspx>. Acessado em: 05 de novembro de 2012.
15
MARSCHNER, Joanna. Factsheet: Historic royal wedding dresses at Kensington Palace. Abril
de
2011.
Disponível
em
:
<
http://www.hrp.org.uk/Resources/FACTSHEET__royal_wedding_dresses_April_2011_2.pdf>. Acessado em 19 de novembro de 2012.
39
volume de negócios de milhões de libras por ano. (JOHNSTONE,
s.d)16
Dessa forma, a máquina de costura permitiu que uma grande quantidade de roupas
fosse produzida em um curto período de tempo. Torna-se, talvez, algo que divide a
moda em antes e depois de sua invenção. A produção de vestimentas, a partir de
então, viveu transformações, as quais não se deram apenas com o surgimento
dessa tecnologia.
A criação de corantes sintéticos permite a produção de tecidos com cores
impossíveis de serem criadas com os corantes naturais. A industrialização crescente
do continente dá espaço para que o químico Perkin, na Inglaterra, produza o
primeiro corante sintético chamado de malvena, o qual permite a obtenção de tons
arroxeados que só eram possíveis de se obter com um processo químico.
(BOUCHER, 2010)
Vê-se, assim, que a prosperidade financeira gerada pela Revolução abriu portas
para um avanço tecnológico considerável. Quando a economia sofre mudanças, a
produção de roupas também é afetada positiva ou negativamente, como foi o caso
da Primeira Guerra Mundial, que será discutida mais adiante.
Acontecimentos como as guerras da Crimeia e da Itália (1850 a 1868) podem ser
considerados um marco no século, mas não têm muita relevância na história do
vestuário, pois o dinheiro usado nas batalhas não advinha de reservas, mas de
impostos indiretos. O vestuário depende, em especial, do dinheiro, portanto eles são
menos afetados com as mudanças políticas do que com as econômicas (BOUCHER,
2010).
16
“The development of the sewing machine in the early 1850s was one of
the most important innovations of the 19th century as it led to the mass
production of clothes including underwear. Although many corsets of the
1850s were still stitched by hand, the speed of sewing on a machine meant
that manufacturers could produce corsets in far greater numbers and
increase the variety of designs. Corsetry and underwear manufacture
therefore became a major industry with a turnover of millions of pounds per
year.” ( JOHNSTONE. Corsets & Crinolines in Victorian Fashion. S.d.
Disponível
em:
<http://www.vam.ac.uk/content/articles/c/corsets-andcrinolines-in-victorian-fashion/>. Acessado em 21 de novembro de 2012.
Londres, UK. Tradução Nossa. )
40
É nesse contexto de grandes invenções e, portanto, de muitas mudanças na
moda, na sociedade e na economia, que na manhã do dia 10 de março de 1863
acontecia o casamento do príncipe Eduardo e da princesa Alexandra na Capela São
Jorge, no castelo de Windsor. Segundo a Casa Real (2007) 17, a escolha do local foi
feita pela Rainha Vitória, que ainda usava um vestido preto, pois estava de luto pela
morte do marido. Ela ficou muito emocionada quando o coral cantou músicas
compostas por ele.
É possível que o casamento de Eduardo tenha sido muito esperado pela nação
inglesa. Com a morte de seu pai, ele passava a ser o sucessor da rainha, tornandose, portanto, uma esperança de continuidade e estabilidade da realeza, que acabara
de perder um de seus principais membros.
No dia do casamento do futuro rei, vestido de sua noiva, segundo Marschner
(2011)18, tinha um corte elegante com uma saia com anágua de cetim branco
enfeitados com flores de laranjeira e mirto artificiais, feitos de cera presente também
no véu. As flores naturais, do mesmo tipo também compunham o buquê da noiva,
como sugere a tradição criada por Vitória. Segundo a Casa Real (2007) 19, a rainha
teria guardado cuidadosamente, em um envelope, um raminho da grinalda de
Alexandra.
Vitória marcou seu tempo e a moda. Sua forte influência, presente em cada
pequeno detalhe, contava a história de certo período da Inglaterra e da vida pessoal
da rainha. Logo, usar um material que se desvirtuasse desse contexto e não
valorizasse a indústria britânica, seria inadmissível.
17
CASA REAL. The marriage of Prince and princess of Wales. Abril de 2007. Disponível em: <
http://www.royalcollection.org.uk/microsites/royalweddings/default.asp >. Acessado em 01 de
dezembro de 2012.
18
MARSCHNER, Joanna. Factsheet: Historic royal wedding dresses at Kensington Palace. Abril
de
2011.
Disponível
em
:
<
http://www.hrp.org.uk/Resources/FACTSHEET__royal_wedding_dresses_April_2011_2.pdf>. Acessado em 19 de novemembro de 2012.
19
CASA REAL. Sprig of artificial orange blossom from Princess Alexandra’s bridal wreath. Abril
de
2007.
Disponivel
em:
<http://www.royalcollection.org.uk/microsites/royalweddings/object.asp?exhibs=WedEVIIQA&item=17
&object=54331&row=16&detail=about> . Acessado em 10 de novembro de 2012.
41
Segundo A Casa Real (2007) 20 como presente de casamento, a noiva ganhou uma
renda da cidade de Bruxelas, na Bélgica, porém, a rainha Vitória achou inadequada
e decretou que todo o material usado no vestido da futura rainha da Inglaterra
deveria ser inteiramente inglês.
A renda era da cidade Honiton. Produzido pelo costureiro londrino, Mrs. James, o
modelo era bordado com desenhos de cornucópia21 com os emblemas das Ilhas
britânicas: rosas trevos e cardos. O material fornecido pela família Real britânica foi
uma grande oportunidade de impulsionar a manufatura do reino, relata o mesmo
arquivo da Casa Real (2007).
IMAGEM 12: Detalhes da renda do vestido de noiva da princesa Alexandra, 1863.
FONTE: Royal wedding dress 1840-1947; www.royalcollection.org.uk, 2007
É possível perceber que, assim como o vestido da rainha Vitória, o traje da
princesa Alexandra também foi uma oportunidade para se valorizar o que a
Inglaterra produzia de melhor, além do fato de contratar um costureiro inglês para
20
CASA REAL. Princess Alexandra in her wedding dress. Abril de 2007. Disponível em:
<http://www.royalcollection.org.uk/microsites/royalweddings/object.asp?exhibs=WedEVIIQA&item=14
&object=420284&row=13&detail=abou > . Acessado em: 01 de dezembro 2012.
21
Atributo de abundância. É símbolo da agricultura e do comercio, vaso coniforme que se representa
cheio de flores e frutos (DICIONARIO AURÉLIO, 1988, p. 180).
42
produzir a peça, tradição, a qual estará presente, também, nos próximos vestidos de
noivas reais, cada pequeno detalhe tinha uma razão de estar ali.
De acordo com a Casa Real (2007)
22
Para complementar o vestido de Alexandra a
rainha Vitória deu a ela um broche camafeu rodeado de pequenos diamantes e vinte
e um brilhantes grandes, o qual possuía uma pequena coroa cravejada de rubis,
esmeraldas e diamantes. No centro da joia, estava presente o rosto de Vitória e
Albert de perfil, como mostra a imagem a seguir:
IMAGEM 13: Broche com o emblema da ordem de Vitória e Albert dado para a
princesa Alexandra na ocasião de seu casamento com o príncipe Eduardo.
FONTE: Royal weddings 1840-1947; www.royalcollection.org.uk, 2007
22
CASA REAL. Queen Alexandra’s badge of the Order of Victoria and Albert (First Class). Abril
de
2007.
Disponível
em:
<http://www.royalcollection.org.uk/microsites/royalweddings/object.asp?exhibs=WedEVIIQA&item=15
&object=441446&row=14&detail=about > . Acessado em 01 de dezembro de 2012.
43
IMAGEM 14: Princesa Alexandra da Dinamarca, retratada em seu vestido de
casamento em 1863 com o Príncipe Eduardo do Reino Unido.
Fonte: Worsley, 2010
O modelo do vestido da princesa condizia bastante com o que estava na moda.
Segundo Laver (2006), a crinolina atingia o seu máximo por volta de 1860. Nesse
momento, o autor relata que a saia parecia uma colmeia na parte da frente e dos
lados e, portanto, começava a se deslocar para a parte de trás.
As pequenas mudanças que aconteceram na crinolina não foram o suficiente para
que essa deixasse de ser grande e incômoda. As mulheres ainda se encontravam
em uma fase em que seus trajes eram desconfortáveis e apertados, porém,
considerados a moda na época.
O contexto em que o casamento de Alexandra está inserido foi muito importante
para o mundo da moda. É interessante perceber a forte influência da Inglaterra
nesse contexto, seja diretamente, através da rainha Vitória e suas criações, ou dos
grandes acontecimentos que marcaram seu reinado, como o surgimento da máquina
de costura.
44
Outra grande revolução que aconteceu na indumentária, especificamente na roupa
feminina, durante esse período, foi o surgimento da alta-costura criada, em partes,
pela Inglaterra, pois seu criador, Frederich Worth era inglês, mas estabeleceu a nova
moda em Paris, a partir de 1858 (BOUCHER 2006, p. 354).
Worth causou uma verdadeira transformação na história da moda, em vários
aspectos e dentre eles a maneira como as vestimentas eram criadas, além de o fato
de um homem criar roupas, o que na época não era comum. Ele conseguiu
reconhecimento, fazendo com que as mulheres do período, as que podiam pagar
uma roupa sua, fossem até ele para poderem adquirir um modelo exclusivo seu.
Em épocas anteriores o estilista, em comparação, era uma pessoa
humilde, que visitava as mulheres em suas casas. E, em sua vasta
maioria, eram mulheres. Agora M. Worth, que apesar de ser inglês,
em dez anos se tornara o ditador da moda de Paris, fazia as
mulheres (com exceção de Eugenia e sua corte) irem até ele.
(LAVER, 2006 p. 186)
Eduardo só se tornou rei em 1901. No dia 3 de maio de 1893, o segundo filho
dele e de Alexandra, George V, se casa com a princesa Victoria Maria de Teck, que
foi bisneta de George III, que reinou na Inglaterra no período de 1760 a 1820.
A história da união do casal é bastante inusitada. Segundo o Marschner (2011)23,
a princesa teria sido contratada para o irmão de George, Albert Victor, Duque de
Clarence. O casamento estava marcado para o mês de fevereiro de 1892, porém
este faleceu, mudando, assim, os planos da família Real.
Marschner também relata que, no vestido da noiva, tudo era produto da
manufatura inglesa e o desenho consistia em tecidos com cachos de flores de prata,
típicos da Grã-Bretanha e Irlanda, os quais foram tecidos pelos Srs. Warner em
Spitafields. Os costureiros responsáveis pela sua produção foram os ingleses Linton
e Curtis da Rua Albermarle24. Como mostra a ilustração a seguir:
23
MARSCHNER, Joanna. Factsheet: Historic royal wedding dresses at Kensington Palace. Abril
de
2011.
Disponível
em
:
<
http://www.hrp.org.uk/Resources/FACTSHEET__royal_wedding_dresses_April_2011_2.pdf>. Acessado em 19 de novembro de 2012.
24
É uma Rua em Mayfair, área no centro de Londres, localizada dentro da cidade de Westminster, a
qual é, principalmente, comercial, com muitas casas antigas transformadas em escritórios para sede
de grandes corporações e Embaixadas. (WIKIPEDIA. Albemarle Street. 25 de março de 2012.
Disponível em < http://en.wikipedia.org/wiki/Albemarle_Street>. Acessado em 19 de novembro de
2012.
45
IMAGEM 15: Vestido de casamento da princesa Maria de Teck.
FONTE: Royal wedding dresses, and what they mean; nationalgeographic.com,
2011
Em cada detalhe do vestido de Maria de Teck, é possível perceber a influência da
rainha Vitória. A cor branca e o uso de materiais advindos da própria Inglaterra ainda
se faziam presentes, fortalecendo, assim, a tradição inventada pela monarca, a qual
soube se adequar à moda do período em que estava inserida.
Em 1890 os vestidos eram lisos sobre os quadris e se ajustavam
melhor sendo cortados enviesados. As saias eram compridas e em
forma de sino, tendo em geral uma cauda. Os vestidos para o dia
tinham gola alta com um babado de renda, sendo até as blusas para
o dia primorosamente adornadas. (LAVER, 1989, p. 208)
A moda da década de noventa do século XIX foi bem diferente, comparada a que
regia o casamento da princesa Alexandra. As grandes crinolinas e as abafadas
anáguas ficaram para trás, porém, isso não significava que as mulheres passariam a
usar roupas confortáveis. Pelo contrário, os espartilhos se faziam bastante
presentes, oprimindo e delineando a cintura de quem os vestia.
Usado para conseguir a cintura fina que estava em moda no século
XIX, o espartilho descendia do corpete do século XV, que era
endurecido por dois pedaços de linho colados. Usados sob o vestido,
mais frequentemente sobre uma bata fina de algodão ou de
musselina, o espartilho costumava ser feito de pedaços de barbatana
46
de baleia inseridos como armação numa peça de tecido. Era
amarrado com firmeza na frente ou atrás da cintura, tendo sido
assunto de grande controvérsia a partir de mais ou menos1850,
quando grupos de reformistas dos dois lados do Atlântico
protestaram contra os danos físicos causados pela roupa
excessivamente apertada. (CALLAN, 2007, p. 123)
Diante do relato, conclui-se que as condições que se encontravam as mulheres da
década de 1890, no que se diz respeito à moda, era algo espantoso. As cinturas
ficaram muito finas, deformando, portanto, os corpos das mulheres que as vestiam.
Na imagem a seguir, podem-se ver as damas de honra deste casamento real. É
possível observar o quanto as silhuetas das mulheres da época eram finas, devido
aos rígidos espartilhos.
IMAGEM 16: Chefe da casa real inglesa, a princesa Vitória com uma outra dama de
honra posam para um retrato, no casamento de Maria de Teck , em 1893.
FONTE: Worsley, 2010
O casamento da Princesa Maria de Teck aconteceu em um momento em que a
economia, representada pelos empresários sul-africanos e pelos novos ricos,
passam a influenciar a moda, a qual fica mais extravagante e marca o fim do
reinado de Vitória, como mostra a citação a seguir.
47
A década de 1890, como um todo, foi uma época de mudança de
valores. A velha e rígida estrutura social estava se desfazendo
visivelmente, com milionários sul-africanos e outros nouveaux riches
tomando de assalto as cidadelas da aristocracia. Para os jovens,
havia uma brisa de liberdade, simbolizada tantos pelos seus trajes
esportivos quanto pela extravagância de suas roupas cotidianas.
Estava bem claro que a era vitoriana estava chegando ao fim.
(LAVER; 1989 p.211)
Quando George V se casou, seu pai Eduardo ainda era rei e marcou a década de
1890 com suas milionárias amizades. Os empresários sul-africanos, assim como
ricos judeus e atrizes americanas faziam parte de seu seleto grupo de amigos, o
qual abriu portas para uma moda feminina que representava status social e
financeiro.
A dama eduardiana era imponente, e o porte – auxiliado por
espartilhos e saltos altos, golas com barbatanas, numerosas
anáguas e aulas de dança – era uma marca da boa educação. A
sociedade se ampliara, contudo pelo apreço de Eduardo à
companhia de milionários judeus, sul-africanos, atrizes e herdeiras
americanas tanto quanto a de aristocratas. O dinheiro era quase tão
importante quanto a nobreza, e as sais com cauda indicavam
fortunas e criadas (STEVENSON, 2012, p. 72)
Em meio a um contexto de ostentações, os caros modelos de Frederick Worth
permaneciam firmes. Seu grande negócio da alta-costura influenciava não só as
mulheres parisienses, mas também as inglesas, como foi o caso de Alexandra, mãe
de George V, que teve o estilo linha princesa criado especialmente para ela.
A alternativa ao corpete e saia separados era a linha princesa, um
vestido de uma só peça sem costura na cintura, mas com costuras
verticais para enfatizar a linha e ajustado sobre a anquinha. Consta
que Worth inventou o estilo para a princesa Alexandra.
(STEVENSON, 2012, p. 67)
Worth foi de muita importância para a moda e será citado também no próximo
casamento real. Maria de Teck e George V tiveram quatro filhos. George, Henry,
George V e Eduardo VIII. Os dois últimos se tornaram reis.
Eduardo VIII era o filho mais velho do casal e reinou de janeiro a dezembro de
1936, porém ele se apaixonou por uma mulher casada, Wallis Simpson. Esse
preocupou o conselho de ministros quando a senhora Simpson se divorciou em
1936 pela segunda vez. A Inglaterra não admitiria uma rainha nessas circunstâncias
48
e Eduardo teve que escolher entre a coroa e sua esposa, ficando com segunda
opção. (CASA REAL,2008)25
Em 16 de março de 1923, George VI, que se tornou rei devido a abdicação de
seu irmão, se casou com Elisabeth Bowes-Lyon, conhecida como a “rainha-mãe”.
Seu reinado foi do ano de 1936 a 1952. Segundo a Casa Real (2008) 26, esse foi
fortemente ajudado por sua esposa a governar o país.
Como todos os casamentos, até então citados, foram influenciados por alguns
acontecimentos históricos de cada período, com o casamento de George e
Elizabeth, não foi diferente. A Primeira Guerra Mundial que aconteceu no ano de
1914 até 1918 causou uma verdadeira revolução na vida e na roupa das pessoas da
época.
A partir do inicio da 1ª Guerra Mundial (1914-18), uma
transformação
profunda
do
guarda-roupa
se
produziu
progressivamente. Inicialmente ligada ás diversas consequências da
guerra, ela se prolongou e acentuou em função das condições de
vida, de estado de espírito e dos meios de produção. (BOUCHER;
2010, p. 397)
Uma grande guerra pode ser considerada um marco na História, como um todo.
Na maioria das vezes, conflitos de grande proporção, como foi a Primeira Guerra
Mundial, fazem com que um número significativo de pessoas perca suas casas,
seus empregos e, muitas vezes, as suas vidas ou de pessoas próximas, causando
uma transformação na economia, no comportamento e, portanto, na maneira de se
vestir.
De acordo com Budot (2002), com a perda de muitos homens nas batalhas, as
mulheres passaram a tomar um lugar na sociedade que seria ocupado por esses.
Grande parte das linhas de montagens fica agora sob o domínio das mães das
esposas e das filhas, as quais precisariam de roupas que se adequassem a sua
nova função. O luto gerado pela grande quantidade de mortos também induz as
mulheres a usarem tons sóbrios e monocromáticos que não estavam acostumadas a
usar.
25
CASA
REAL,
Edward
VIII
(Jan-Dez
1936).
S.d.
Disponível
em:
<http://www.royal.gov.uk/HistoryoftheMonarchy/KingsandQueensoftheUnitedKingdom/TheHouseofWi
ndsor/EdwardVIII.aspx.>. Acessado em 06 de novembro de 2012.
26
CASA
REAL.
George
VI
(r.1936-1952).
S.d.
Disponìvel
em:
<http://www.royal.gov.uk/HistoryoftheMonarchy/KingsandQueensoftheUnitedKingdom/TheHouseofWi
ndsor/GeorgeVI.aspx>. Acessado em 11 de novembro de 2012.
49
Diante dos relatos, é possível perceber a grande necessidade que o vestuário tem
de ser adaptável ao meio e às circunstâncias em que está inserido. Grandes
acontecimentos se unem à economia, à politica e à moda e contam de maneira
coerente a história de uma década. A roupa, a partir de agora, adquire um novo
formato.
Em 1919, quando a moda retornou ao seu ritmo, a saia ampla que
atravessava a guerra foi substituída pela linha “barril”. O efeito era
completamente tubular. As saias ainda eram compridas, mas houve
uma tentativa de confinar o corpo em um cilindro. O busto era de
menino, e as mulheres começaram até a usar “achatadores”, a fim de
se adaptarem a moda (LAVER; 1989, p. 230)
Os vestidos de noiva, que para muitos leigos em moda nunca mudam e são todos
brancos e iguais, também sofrem influência do contexto social, político e econômico
ao seu redor. Se as roupas do dia-a-dia se modificam, os vestidos de noiva,
certamente vão mudar também, permitindo, assim, que a roupa usada no dia do
casamento se molde ao que está sendo usado na moda no momento.
O vestido de noiva da “rainha mãe”, como ficou conhecida Elizabeth, estava de
acordo com estilo usado na época. Feito pela costureira da corte, Madame
Handley27 mostra que a tradição vitoriana de se usar branco continua presente e que
esta foi profundamente influenciada pelo período histórico.
Segundo a Casa Real (2007)28, vestido de casamento de Elizabeth foi descrito pelo
jornal The Times como “o mais simples vestido já feito para um casamento real”.
No estilo de uma roupa da realeza, esse tinha duas caldas. Uma era presa na
cintura e a outra nos ombros. Feito de chiffon marfim, ele foi tingido para combinar
com a cor do véu, que foi emprestado pela rainha Maria e preso a uma tiara
composta de mirtos e rosas. A imagem a seguir mostra o vestido da noiva citada:
27
Madame Handley.
Costureira que fundou uma empresa em Londres pouco antes da Primeira
Guerra Mundial. Recebeu um selo régio de qualidade e foi muito popular na
década de 20 e 30. A rainha Mary da Inglaterra foi sua cliente mais popular.
(CALLAN, 2007, p.157)
28
CASA REAL. Lady Elizabeth Bowes Lyon leaving for the Abbey. Abril de 2007. Disponível em:
<http://www.royalcollection.org.uk/microsites/royalweddings/object.asp?exhibs=WedGVIQE&item=3&
object=2584779&row=2&detail=about>. Acessado em 11 de novembro de 2012.
50
IMAGEM 17: Vestido de noiva de Elizabeth Bowes- Lyon, 1923.
FONTE: Worsley, 2010
O branco adotado pela rainha Vitória continuava presente no vestido de Elizabeth.
Adotando uma tonalidade marfin, a noiva cumpria a tradição estabelecida pela
monarca em um estilo medieval italiano, o qual era moda na década de 20, assim
como o celta e Art Noveau, que também eram muito usados no período.
No início do século XX, os estilos medieval, celta e art nouveau
eram as tendências. Na década de 1920, as noivas vestiam-se como
Guinevere (a heroína de Lancelot), em vestidos com tecidos
trançados, fios prateados, guirlanda de flores e mangas medievais.
Para um look mais etéreo, usavam-se vestidos leves e esvoaçantes,
bordados com perolas e cristais. A peça usada pela rainha-mãe
recebeu influências da estética medieval italiana, com faixas de lamê
prateados cruzando um delicado corpete de chiffon (WORSLEY,
2009, p.122).
Como foi dito no primeiro capítulo, usar a cor branca era algo caro e, portanto, um
simbolismo de status social. Até certo período da década de 20, essa diferença de
51
classes ainda se fazia presente. Mulheres das classes mais baixas costumavam
casar com o melhor vestido que tinham no guarda roupa, já as mais abastadas se
dispunham a investir verdadeiras fortunas em um vestido feito por Frederick Worth.
Na virada do século XX, as garotas se casavam usando o seu
melhor vestido; as mais ricas vestiam um modelo parisiense feito por
Charles Frederick Worth, o fundador da Alta-costura. Vestidos
assinados por ele custavam naquele tempo, mais do que um ano de
salário de um trabalhador. (WORSLEY, 2009, p. 15)
O vestido de noiva passaria a ser um importante demarcador social, já que não
eram todas as mulheres que poderiam se casar como uma princesa, e sim, somente
aquelas que tivessem um padrão financeiro semelhante aos das moças da realeza.
Em contrapartida, ainda na mesma década, as coisas começaram a mudar.
Nesse período, surgem estilistas como Coco Chanel 29 e Jean Patou30. Eles serão
responsáveis por democratizar o branco. A partir de então, essa cor passa a ser
usada por mulheres das diversas classes. Tanto as senhoras da alta sociedade,
quanto as moças que trabalhavam para essas senhoras, agora, poderiam ter acesso
ao vestido da cor que virou um padrão no mundo ocidental para o dia do casamento.
Somente na década de 1920 a vanguardista Coco Chanel
declararia que o branco era a cor essencial para qualquer noiva,
pobre ou rica. Foi Coco quem disse “Eu me importo mais com as
ruas da cidade do que com os salões de festa”. Antigamente,
empregadas jamais sonhariam em usar um vestido de noiva como o
de suas patroas. No século XIX, elas teriam, provavelmente, casado
de cinza ou preto. A década de 1920 democratizou os vestidos,
graças a estilistas como Coco Chanel e Jean Patou, pois as
tendências de vestidos simples, que usavam pouco tecido, tornou-os
mais acessíveis. (WORSLEY, 2009, p. 257).
A união de Elizabeth e do futuro rei George V se encontra em um dos períodos
mais importantes da História. Além da grande mudança ocorrida no vestuário como
um todo, as transformações que aconteceram, especialmente nos vestidos de noiva,
podem ser consideradas um marco na moda da roupa de casamento.
29
Gabrielle Bonheur Chanel nasceu em Samur, na França. Na década de 20 lançou muitas ideias
de modas. Combinou sais tweed com suéteres e colares compridos de pérolas e popularizou o
“pretinho”. Na década de 60 já havia se tornado um símbolo de elegância tradicional com uma bolsa
de corrente dourada e um colar de pérolas, um estilo que dura até os dias de hoje (CALLAN, 2007)
30
Estilista francês, nascido em Normandia. Entre suas criações estão o vestido de saia sino e
cintura alta, em estilo pastora. Os modelos esportivos recebiam destaque em suas coleções.
(CALLAN, 2007)
52
Foi a partir desse momento que a cor, a qual era apenas privilégio da realeza e
das pessoas mais ricas da sociedade, se estendeu para as outras classes, dando
início à tradição universal de se usar branco no dia do casamento. No que diz
respeito à monarquia britânica, a tradição criada pela rainha Vitória, continuava
passando de geração em geração.
Em 20 de novembro de 1947, Elizabeth Mary de Windsor, atual rainha Elisabeth II
do Reino Unido, se casa com o Príncipe Philip, da Grécia e da Dinamarca. A época
e a moda mudaram, mas o contexto pós-guerra permanecia, só que dessa vez era a
2ª Guerra Mundial. Em uma época em que, segundo a citação, abaixo:
A moda sobreviveu, enfrentando o desafio de tecidos, processos de
fabricação e mão-de-obra limitados, e até o de restrições na
confecção. As roupas da época da guerra demonstram com que
força a moda reflete a situação econômica e política vigente, a
atmosfera do momento. (LAVER; 1989, p. 252)
Em momentos como as guerras, os profissionais e as grandes empresas de moda
precisam exercer a habilidade de se adequar ao contexto. Nem todos os materiais
estão a sua disposição, a mão de obra é escassa e, portanto, a moda precisa
economizar e usar o que é viável, porém, o estilista Christian Dior foi de encontro a
esse princípio e, no dia 12 de fevereiro do mesmo ano do casamento real, lança a
linha Corola.
Essa coleção ficou rapidamente conhecida como New Look, nome dado pelo
editor de moda americano Carmel Snow. Com saias godês que abriam como flores a
partir de corpetes justos, a nova moda era o oposto do racionamento de materiais.
Só nas saias se utilizava de 13 a 22 metros de tecidos, além do tule usado para
armá-las. Os corpetes eram justos para valorizar o busto e acentuar a cintura
(CALLAN, 2007).
Christian Dior ousou e conseguiu agradar a muitos. A extravagância logo depois
de uma guerra foi um risco que esse correu, mas que deu certo. Em novembro do
mesmo ano, Elizabeth se casou. O New Look já estava lançado, porém, seu ideal de
exagero não se fez presente no vestido da monarca.
53
O vestido da atual rainha, segundo Marschner (2011) 31 era um documento
importante do pós-guerra. Nesse período, o racionamento de roupas e comidas
ainda estava em voga na Grã-Bretanha. Dessa forma, o costureiro real, Norman
Hartnel, procurou transmitir uma mensagem de esperança para o futuro,
encontrando inspiração na pintura de Botticelle “Alegoria de primavera”.
IMAGEM 18: Alegoria de primavera (1482), Sandro Botticelli.
FONTE: wikipedia.org, 2012
O casamento de Elizabeth pode ter sido considerado uma esperança para a
nação, em meio a um contexto de mortes, destruições, perdas. Um casamento de
uma, até então, futura rainha poderia ser considerado um novo marco, assim, a
mensagem que seu vestido passou tinha bastante sentido.
A Casa Real (2011?),
32
relata que ele foi confeccionado pelo costureiro Norman
Hartnell e tecido na cidade de Winterhur (no norte da Suíça), Duferline (uma cidade
escocesa), na fábrica Canmore (cidade localizada no Canadá).
31
MARSCHNER, Joanna.
Royal wedding dresses: a history. 2011?. Disponível em:
<http://www.hrp.org.uk/learninganddiscovery/discoverthehistoricroyalpalaces/royal-wedding-dresses>.
Acessado em: 19 de novembro de 2012.
32
CASA REAL. 60 Diamond wedding aniversary.
2011? . Disponivel em:
<http://www.thediamondjubilee.org/60-diamond-wedding-anniversary-fact > Acessado em 02 de
dezembro de 2012.
54
Para produzir a peça, foi usada uma seda vinda de bichos de seda chinesa do
castelo inglês de Lullingnstone (uma vila no condado de Kent). O véu da atual rainha
foi feito de tule e preso a uma tiara de diamantes reutilizados, retirados de um
colar/tiara comprado pela rainha Vitória. A peça foi feita para a rainha Mary em 1919.
Em seu buque, estava presente um raminho da árvore plantada por Vitória, descreve
a Casa Real (2011?).
Elizabeth, de todas as noivas reais citadas, foi, talvez, a que fez menos uso de
materiais advindos da própria Inglaterra, mas isso pode ter tido uma justificativa em
meio ao contexto histórico em que seu casamento estava inserido.
Para Elizabeth, certamente foi muito difícil manter a tradição. Seu casamento
aconteceu logo depois de duas grandes guerras. A Inglaterra vivia um momento
desesperadamente austero e de forte racionamento de roupas e alimentos. Muitos
dos materiais usados nos vestidos das princesas anteriores não estavam disponíveis
para ela. (MARSCHNER, 2011).33 Por isso talvez, a utilização de tecidos vindos de
outros países.
33
MARSCHNER, Joanna. Royal wedding dresses: a history. 2011?. Disponível em: <
http://www.hrp.org.uk/learninganddiscovery/discoverthehistoricroyalpalaces/royal-wedding-dresses>.
Acessado em: 19 de novembro de 2012.
55
IMAGEM 19: Elizabeth II vestida em seu vestido de noiva ao lado de seu noivo, o
duque de Edinburgo, 20 de novembro de 1947
FONTE: Royal wedding dress 1840-1947 www.royalcollection.org.uk
Ao observar esses relatos, é possível perceber que o padrão de vestido branco
criado por Vitória se fazia presente no modelo de casamento usado pela atual
rainha. A moda da época também é vista, principalmente, através dos ombros largos
característicos do período, como mostra a citação a seguir.
As saias continuarão retas e os ombros largos, como antes da
guerra, até a surpresa do New look, lançado por Cristian Dior em
1947: Alongamento da saia, técnica de tecido revestido e, sobretudo,
modificação na silhueta feminina fazem parte dos achados que lhe
são tributados (BOUCHER; 2010, p. 405)
Essa foi a moda do casamento de Elizabeth. Seu vestido mostrou a importância
de uma tradição. A roupa passa a transmitir uma mensagem de esperança e
estabilidade para a nação inglesa. Em 1952, ela se torna rainha34 e junto com o
príncipe Philip, eles tiveram quatro filhos. Anne, Endrew, Eduard e Charles, seu
futuro sucessor. Seu casamento será o próximo a ser analisado.
Em julho de 1981, aconteceu um dos casamentos Reais mais famosos da História.
Príncipe se casa com Diana Spencer ou “Lady Di”. Segundo a Casa Real (S.d) 35, a
noiva foi a primeira inglesa a se casar com um herdeiro do trono depois de 300
anos, quando a Lady Anne Hyde se casou com o futuro James II (reinou do ano de
1685 a 1688), do qual Diana é descendente.
A década de 1980 foi muito favorável para o mundo da moda. Nesse período, a
mulher passou a ganhar um novo lugar na sociedade, os videoclipes influenciaram
as roupas e grupos financeiros investem em grifes que estavam estagnadas.
34
CASA REAL. Accession and Coronation. S.d. Disponível em:
<http://www.royal.gov.uk/HMTheQueen/AccessionCoronation/Accessionandcoronation.aspx>. Acessado em
02 de dezembro de 2012.
35
CASA REAL. Marriage and Family. S.d. Disponível em: <
http://www.royal.gov.uk/HistoryoftheMonarchy/The%20House%20of%20Windsor%20from%201952/DianaPri
ncessofWales/Marriageandfamily.aspx> . Acessado em 14 de novembro de 2012.
56
A MTV (Music Television) ligou a moda e a música, através desses videoclipes. A
cultura das boates juntou a moda da rua à alta-costura, agora as roupas usadas na
vida noturna viravam influência. (STEVENSON, 2012)
A partir dos anos 70, as mulheres ganham uma nova imagem. A ideia da mulher
que apenas cuidava da sua casa e era proibida de trabalhar ficava no passado.
Agora, elas disputavam os cargos das grandes empresas com os homens. A moda,
portanto, sofre influências dessa nova fase.
Durante a década de 70, à medida que as mulheres assumiam
cargos bem pagos, tradicionalmente ocupados por homens, o traje
“executivo” feminino passou a fazer parte do cenário da moda, não
se restringindo as mulheres que trabalhavam fora de casa. Consistia
em costumes de alfaiataria, de saias e paletós geralmente de tecido
risca-de-giz. (CALLAN, 2007, p. 126)
A mulher dos anos 80 ainda vivia nesse contexto iniciado na década anterior. Elas
continuavam firmes no mundo do trabalho e influenciavam estilistas como Georgio
Armani, o qual passava a ter como público alvo mulheres de negócios, ocupadas
com seus grandes afazeres no escritório.
Os anúncios de Armani para a nova estirpe “yuppie” da força de
trabalho feminina mostravam modelos segurando jornais
internacionais e layouts de moda levavam a estética Wall Street para
as revistas, numa polinização cruzada de glamour e altas finanças.
(STVENSON, 2012, p.238)
Como mostrado ao longo deste trabalho, a roupa não tem apenas a função de
cobrir o corpo, mas ela simboliza status, uma cultura e um tempo. As mulheres de 80
ganharam um espaço no mundo de trabalho, usar roupas que se assemelhassem as
dos homens poderia representar uma igualdade de direitos e a ideia de que a mulher
também pode sentar a uma mesa de escritório.
O contexto do casamento de Lady Di também foi muito importante para o mundo
da moda, no sentido de ser valorizado pelos ramos da arte, da cultura e da
economia como trata a citação abaixo.
Grandes grupos financeiros revitalizam grifes envelhecidas. O
ministro da cultura instala um Museu da Moda em pleno Louvre. A
partir de 1922, o Carroulssel de La Mode e suas salas construídas no
subsolo substituem as tendas erguidas no pátio do Louvre para a
apresentação dos desfiles de criadores. Os grandes museus
escolhem exposições retrospectivas, como a dedicada a Yves Saint
57
Laurent pelo Metropolitan Museum de Nova York.
2010, p. 430)
(BOUCHER,
No que diz respeito a noivas, a moda do período tinha um estilo bem definido. O
vestido de Diana Spencer, tradicionalmente branco, seguia a opulenta moda das
noivas da época, que foi marcada por exageros, com muitos metros de tecidos,
rendas e babados, como mostra a citação a seguir.
A década de 1980 foi marcada pelo excesso, depois de duas
décadas de versões mais sóbrias e sem volume. Elas queriam seda,
tafetá, corpetes com armações, mangas bufantes e saias com
babados. Usavam decotes amplos, com gargantilha de perolas, ou
optavam por golas altas, estilo eduardino. [...] quando a moda era
usar terninho no ambiente de trabalho, voltaram a ser usados
vestidos nostálgicos nas ocasiões sociais, em um indicio de que fora
da vida profissional, ainda predominavam os valores tradicionais [...]
Lady Diana Spencer casou com o príncipe Charles em 1981 [...]
criado por Elizabeth e David Emanuel. Com um corpete de tafetá
marfim, mangas bufantes, renda de chantilly e detalhes em
lantejoulas, o vestido foi instantaneamente copiado por noivas que
queriam viver um sonho como esse. (WORSLEY, 2010, p. 16)
IMAGEM 20: Vestido de casamento de Lady Di, 1981
FONTE: History of the monarchy / background/ releated images; www.royal.gov.uk
58
Durante o período do casamento real, mas especificamente em 1978, surge o
chamado Neorromantismo que segundo Mackenzie (2010) foi uma evolução do
estilo punk36 londrino. Com o desejo de se diferenciarem do que era considerado
comum na época, os neorromânticos adotaram roupas extravagantes, andróginas e
personalizadas, relata a autora, que conta também que essa tendência estava
presente no vestido de noiva de Diana, que ainda segundo a mesma fonte, era
romântico e exuberante. O estilo neorromântico pode ser visto na imagem que
segue.
36
Influenciado pela revolta contra o estado das coisas, o punk surge em 1975, manifestando uma postura
anticonformista e inovadora por meio do vestuário e da música. Foram definidos pela mídia como jovens
rebeldes antissistema, que tinham como objetivo deliberado chocar a sociedade. (MAKENZIE, 2010)
59
IMAGEM 21: Modelo “pirata” feminino , de Vivienne Westwood e Malcolm McLaren
incorporado a estética neoromântica, 1980. V&A Museum.
FONTE: Mackenzie, 2010.
60
O branco estabelecido pela rainha Vitória atravessou guerras, revoluções,
transformações na economia, na sociedade e na moda, conseguindo chegar até a
década de 1980 de maneira inabalável. Ainda que o estilo e o contexto se
modifiquem, este consegue permanecer, chegando, desta forma ao século XXI,
onde o próximo casamento acontece. Charles e Diana tiveram dois filhos, os
príncipes Harry e Willian, este último se casou em 2011.
Em 29 de abril, o príncipe que é o segundo na linha de sucessão ao trono
britânico, depois de seu pai, o príncipe Charles, se casa com Catherine Elizabeth
Middleton, mais conhecida como Kate Middleton, atual Duquesa de Cambridge
(CASA REAL, 2011?)37.
Este casamento foi algo marcante na história da monarquia britânica. A união entre
um príncipe e uma plebeia parecia ter saído diretamente dos filmes para a realidade.
O vestido da noiva, seguindo esse contexto, era digno de uma princesa.
Segundo o Clarence House (2011)38, o modelo usado por Catherine foi
confeccionado pela estilista Sarah Burton, da grife Alexander McQueen 39, que teria
sido contratada pela beleza de seu trabalho e por respeitar a arte tradicional e a
construção técnica da roupa.
A fonte relata que Kate Middleton, ao escolher essa grife para confeccionar seu
vestido, reafirmava a tradição criada pela rainha Vitória, de que a pessoa
responsável pela criação e execução deste e todo o material usado no
desenvolvimento da roupa usada no casamento deveria ser da manufatura britânica.
A criação do vestido teve grande contribuição da noiva e este era composto de um
gazar acetinado marfim e branco. A saia ecoava uma flor aberta e o corpete de
cetim marfim baseava-se na tradição vitoriana de se usar espartilho, a qual é marca
registrada da grife McQueen. (CLARENCE HOUSE, 2011)
37
CASA REAL. The Duchess of Cambridge. 2011?. Disponível em:
<http://www.royal.gov.uk/ThecurrentRoyalFamily/TheDuchessofCambridge/TheDuchessofCambridge.aspx>.
Acessado em: 02 de novembro de 2012.
38
ClARENCE HOUSE. The Duchese of Cambridge ´s wedding dress to go on display at Buckinghan Palace this
summer. 6 de junho de 2011. Disponível em: <http://www.royalcollection.org.uk/press-release/the-duchessof-cambridges-wedding-dress-to-go-on-display-at-buckingham-palace-this>. Acessado em 14 de novembro de
2012.
39
Estilista londrino que introduziu um estilo rebelde e radical que incluía roupas esfarrapadas. Criou vestidos
de renda laminada. Em 1996 foi nomeado estilista chefe da grife Givenchy. (CALLAN, 2007).
61
A parte de trás do vestido tinha 58 botões forrados com gazar de organza, a
anágua da saia era de tule de seda enfeitada com rendas cluny. A calda do vestido
da duquesa media 2,7 metros de comprimento, descreve Clarence House (2011).
IMAGEM 22: Detalhes do vestido da Duquesa
FONTE: Pretty as a princess: Kate Middleton´s wedding dress gown goes on display
at Buckingham Palace; www.dailymail.co.uk, 2011
O histórico relata ainda que o vestido de Kate reflete o trabalho de artesãos de
todo o Reino Unido. O aplique de renda do corpete e a saia foram feitos a mão pela
Escola Real de bordado. As flores usadas foram todas cortadas a mão, formando o
desenho de rosas, cardos, narciso e trevo, emblemas das Ilhas britânicas, como foi
mostrado no vestido da princesa Alexandra. A imagem que segue mostra o modelo
usado por Catherine no dia de seu casamento.
62
IMAGEM 23: Vestido de noiva de Catherine Middleton
FONTE: Sucessora de McQueen, Sarah Burton fez vestido de Kate Middleton; site
g1.globo.com, 2011
Segundo o site da revista Vogue(2011)40 vestido de Kate pode evocar, talvez o
modelo de estilo clássico usado pela atriz Grace Kelly, que virou princesa de
Mônaco quando se casou com o príncipe Rainier em 1956. Segundo Worsley
(2010), seu vestido foi produzido pela figurinista-chefe dos estúdios MGM, Helen
Rose e era composto de um corpete de renda fina feita com agulhas, uma saia de
seda em forma de sino e detalhes em pérolas.
40
MOWER, Sarah. VOGUE ON CATHERINE MIDDLETON´S WEDDING DRESS. 29 de abril de 2011. Disponível
em: < http://www.vogue.com/vogue-daily/article/kate-middletons-wedding-dress/#1>.
63
IMAGEM 24: A atriz Grace Kelly em seu vestido de noiva, quando se casou com o
Príncipe Rainier de Mônaco em 1956.
FONTE: Worsley, 2010
64
Contrastando a tal comparação, na qual é possível perceber o design atemporal e
tradicional dos dois vestidos, o casamento de Kate Middleton é recente e é o
primeiro inserido na atual “Era digital”, no contexto das grandes tecnologias touch
screen, das redes sociais, blogs de moda e das redes de fast-fashions. Esse é o
momento em o que acontece do outro lado do mundo pode ser assistido de maneira
praticamente instantânea através dessas tecnologias. Esse contexto exerce,
portanto, forte influencia no vestido de Kate.
Middleton será a primeira noiva real da era digital. Seu vestido será
instantaneamente transmitido para o mundo todo, de todos os
ângulos, com alta resolução de detalhes. E, antes mesmo disso
acontecer, cada passo que ela der em suas botas de camurça
favoritas ou em seu salto alto de festa, será discutido em toda a
“blogosfera” e no twitter. (MENKES, 2011)41
Middleton, assim como todas as noivas reais citadas, também é influenciada pelo
contexto em que está inserida. O estilo e o material usado em seu vestido podem
remeter ao passado, a uma tradição, porém, quando escolhe a estilista Sarah Burton
da grife Alexander McQueen para fazê-lo, demonstra que é uma mulher moderna,
visto que uma das características trabalho do falecido estilista era a natureza
contemporânea de suas coleções, como relata o site da grife42
Os vestidos de noiva da realeza, em sua maioria, são sempre muito clássicos e
atemporais. Dificilmente, essas vestimentas terão um estilo conceitual ou rebelde,
típicos das roupas de Alexander McQueen. Portanto, a escolha da grife para fazer o
vestido de Kate teria sido considerada uma das opções mais improváveis.
Foi uma surpresa quando finalmente foi revelado que sim, o
modelo era Alexander McQueen. Tanto porque a marca sempre
pregou uma estética rebelde que pouco tem a ver com o estilo de
41
Middleton is going to be the first royal bride of the digital age. Her dress will be beamed
instantaneously around the world from every angle in high-resolution detail. And even before
that, every step she takes in her favored flat suede boots or party high heels will be apart and
discussed across the blogosphere and Twitterverse. (MENKES, Suzy. KATE MIDDLETON:
FASHION FIT FOR A PRINCESS.12 de janeiro de 2011. Disponivel em:
<http://www.harpersbazaar.com/magazine/feature-articles/kate-middleton-fashion>.
Acessado em: 14 de novembro de 2012.)
42
LEE ALEXANDER MCQUEEN. Alexander McQueen. 2012. Disponível em:
<http://www.alexandermcqueen.com/alexandermcqueen/experience/biography/AAD,en_US,sf.html>.
Acessado em: 14 de novembro de 2012.
65
Kate, muito menos de uma futura princesa [...] (VOGUE BRASIL,
2011)43
A estilista Sarah Burton, ao comentar sobre sua criação, fala a respeito do
contraste entre os materiais tradicionais, como as rendas, e o design moderno da
grife que representa. Relata ainda sobre como foi a experiência de fazer, talvez, um
dos mais esperados e comentados vestidos de noiva da História.
As criações da Alexander McQueen sempre privilegiaram a união
de contrastes para se transformarem em lindas e surpreendentes
roupas e eu espero que, ao casar tecidos tradicionais e trabalho em
renda com uma estrutura e um design moderno, nós tenhamos
criado um vestido lindo para Catherine no dia do seu casamento.
Os
últimos meses foram muito estimulantes uma experiência incrível
para mim e para a minha equipe já que trabalhamos juntos com
Catherine para criar esse vestido sob condições de segredo máximo.
(VOGUE BRASIL, 2011)44
Em meio a esse contexto contemporâneo, a maquiagem com que Kate apareceu
em seu casamento também foi um fruto dos tempos modernos. Ela se maquiou
sozinha. Algo relevante, quando se refere a noivas e, principalmente, de um dos
casamentos da realeza mais esperado dos últimos tempos.
Kate fez sua própria maquiagem – achei o máximo, ela é muito
segura e sabe o que quer. E, seguindo sua vontade de “parecer ela
mesma” no dia do casamento, foi com o visual que usa sempre: olho
com contorno definido e leve esfumado nas pálpebras, um toque de
lápis branco dentro do olho pra abrir, sobrancelha marcada (como é
naturalmente), pele bem feita [...] (CERIDONO, 2011) 45
No dia da cerimônia, a maioria das mulheres prefere contratar todos os serviços de
beleza que estiverem ao seu alcance. Quando uma das futuras rainhas da Inglaterra
resolve fazer a sua própria maquiagem em um dos momentos mais importantes e
fotografados de sua vida, percebe-se, talvez, a influência da era digital.
Atualmente, com o surgimento dos blogs de moda, os quais passam a ser
referência de informações do ramo, de aplicativos de celular que dão dicas sobre
43
VOGUE BRASIL. O vestido de Kate Middleton marca a nova fase na Alexander McQueen. 30 de abril de
2011. Disponível em: < http://revista.vogue.globo.com/moda/news/o-vestido-de-kate-middleton-marcainicio-de-nova-fase-na-alexander-mcqueen/>. Acessado em 02 de dezembro de 2012.
44
VOGUE BRASIL. Sarah Burton fala sobre o vestido de noiva de Kate Middleton. 29 de abril de 2011.
Disponível em: < http://revista.vogue.globo.com/moda/news/sarah-burton-fala-sobre-o-vestido-de-noiva-dekate-middleton/>. Acessado em 02 de dezembro de 2012.
45
CERIDONO, Vic. A noiva Catherine Middleton. 29 de abril de 2011. Disponível em:
<http://revista.vogue.globo.com/diadebeaute/2011/04/a-noiva-catherine-middleton/>. Acessado em 14 de
novembro de 2012.
66
estilo e das redes sociais, entender de moda passa a ser algo que não se limita mais
às pessoas do ramo.
Um celular com internet pode ser o suficiente para poder visualizar as roupas
mostrada nos desfiles de grandes grifes, do outro lado do mundo, aprender a se
maquiar e fazer penteados sem a ajuda de um profissional. Portanto, a maquiagem
de Kate pode ter sido um reflexo disso.
Os novos avanços tecnológicos do século XXI influenciam a moda como um todo.
A praticidade de se ter uma internet no celular, de estar conectado com vários
lugares do mundo ao mesmo tempo, através das redes sociais, por exemplo, fazem
com que a facilidade e a rapidez geradas por essas criem soluções rápidas, também
na hora de se vestir. Surgem os fast-fashion
Essa maneira rápida de se comprar roupas passa a ser reflexo dos tempos
modernos. Se o mundo estiver mais agitado, a moda, certamente acompanhará o
seu ritmo. No caso dos vestidos de noiva, como esses são fortemente influenciados
pelo mundo ao seu redor, também passam a ser encontrados nas araras dos fastfashion.
Portanto, Kate Middleton foi uma noiva atual. Mostrou o que acompanha o seu
tempo, mas que também não abriu mão da tradição. Mesmo em um contexto atual, o
modelo de seu vestido é bastante clássico e atemporal. Se for analisado daqui hà
trinta anos, ainda que não seja copiado completamente, talvez esse ainda possa ser
uma grande referência para muitas noivas modernas.
Muitas das tradições criadas pela rainha Vitória se faziam presente no vestido da
duquesa, mostrando que essa conseguiu deixar a sua marca nos casamentos da
monarquia britânica.
A Era vitoriana, certamente, pode ser considerada um marco nos vestidos das
noivas reais. A partir do casamento da rainha o com o príncipe Albert, a Inglaterra
passou a usar a figura da noiva para contar sua história, valorizar sua indústria e
lançar a moda do vestido branco adotado pela maioria das noivas ocidentais, até os
dias de hoje.
67
4 COLEÇÃO
Vitória e Albert: o Casamento real
A rainha Vitória ficou conhecida não só pelas tradições e modas que inventou, em
especial o vestido de noiva, mas também pela sua história de amor com seu primo,
o príncipe Albert do reino de Saxe-Coburgo e Gotha. No dia 10 de fevereiro de 1840,
eles se casaram e formaram uma bonita história de amor, sendo até tema do filme:
“A jovem rainha Vitória” dirigido por Jean-Marc Vallée.
Segundo o site oficial da Monarquia Britânica46, o primeiro encontro que eles
tiveram foi em 1836, como sugestão do rei Leopoldo I da Bélgica, tio de ambos que
considerava que um era adequado para o outro. O site conta que o casal se
apaixonou no segundo encontro que tiveram em 1839 e noivaram no dia 15 de
outubro do mesmo ano.
Vitória e Albert davam início, assim, a uma vida a dois. O sentimento de amor que
um nutria pelo outro era forte, mas, a partir de então, precisaria sobreviver em meio
a circunstâncias referentes às suas posições de príncipe e rainha, de homem e
mulher.
Ela era rainha da Inglaterra e ele um príncipe germânico que teve que deixar sua
casa e seu povo, para fazer parte de uma nação que temia a influência que esse
poderia exercer sobre a monarca e sobre a Inglaterra, como um todo. Certamente,
essa mudança foi dolorida, não só para o príncipe, mas também para a nação que
este abandonara.
Finalmente chegou o dia em que Alberto se viu obrigado a deixar
para sempre seu lar e a bem-amada Alemanha. Seu biógrafo, Mr.
Hector Boletho, descreve-nos como Coburgo e Gotha lhe acenaram
os lenços úmidos de lágrimas. As crianças trepadas em árvores
gritavam-lhe o nome e as mulheres gritavam na porta das casas.
(SITWELL, 1946, p. 126)
Mudar de reino, abandonar a vida e seus costumes, não seria uma tarefa fácil. O
príncipe tinha consciência disso, haja vista que se depararia com uma nova nação,
novos hábitos, regras e leis. Tudo mudaria na vida do rapaz, o qual se lembrava da
46
SITE OFICIAL DA MONARQUIA BRITÂNICA. Queen Victoria, Diamond Jubilee, Scrapbook, 1897.
Ano
2012.
Disponível
em:
<http://translate.google.com.br/translate?hl=ptBR&langpair=en%7Cpt&u=http://www.royal.gov.uk/output/page1.asp>. Acessado em 5 de novembro
de 2012
68
necessidade de abandonar seu reino com um forte sentimento de tristeza, como
relata em uma carta a sua avó, a Duquesa viúva onde dizia: “Oh, o futuro! Que não
traga consigo o momento que serei obrigado a me separar da senhora e do tão
querido lar! Não me lembro disso, sem que uma profunda tristeza me invada o
coração” (ALBERT, 1839? apud SITWELL, 1946, p. 122).
Um consorte alemão em uma nação inglesa poderia parecer algo ameaçador. E se
esse trouxesse valores germânicos para a nação? Portanto, o medo de Albert mudar
os valores do seu novo país fez com que fosse também proibido de participar das
discussões políticas e de exercer seu papel de homem da casa.
Toda essa situação deixava o príncipe insatisfeito, afetava a sua posição como o
provedor e protetor de sua família. No contexto em que estava inserido, era visto
apenas como o esposo da rainha, como relata em uma carta a seu amigo
Lowenstein: “Sinto-me feliz e contente, mas a grande dificuldade que encontro na
vida é de preencher dignamente o lugar que ocupo, pois aqui, sou apenas o marido
e não o chefe da casa.” (ALBERT, 1840, apud SITWELL, 1946, p.130).
Albert se via em meio a uma difícil circunstância, porém, mesmo diante dessa
situação, o príncipe era intensamente amado por Vitória e essa estava disposta a
fazer o que pudesse para retribuir o seu sacrifício de começar a nova vida ao lado
dela.
Disse-lhe- Escreveu ela em seu diário- que não era merecedora do
seu afeto. Replicou-me que se sentiria feliz de partilhar sua
vidacomigo. Amo-o mais do que me é possível exprimir, e tudo farei
para tornar seu sacrifício (pois é esta a minha opinião) o mais suave
que puder (VITÓRIA, 1839? apud SITWELL, 1946, p. 122)
Apesar dessa difícil situação que o casal enfrentou, permaneceu unido. Vitória e
Albert governaram a nação inglesa juntos. Ele passou a influenciá-la e aconselhá-la,
gerando em sua esposa um sentimento de amor e admiração maior do que ela já
tinha e, aos poucos, conseguiu reconhecimento e confiança do povo que até então o
estranhava.
O marido ocupava sempre o primeiro lugar... E pouco a pouco, mas
muito lentamente, a massa do povo, que de princípio, receava a
influência que o consorte alemão poderia exercer sobre sua rainha e
a sociedade em geral, veio a conhecer a admirar, se não, a estimar,
suas qualidades de prudência e descrição, aliadas a um firme e
nobre senso de dever. (SITWELL, 1946, p.131)
69
Portanto, Vitória e Albert viveram uma história real, em ambos os sentidos, com
muito amor, mas também precisaram superar e lidar com os momentos difíceis. O
príncipe e a rainha necessitaram se adequar ao marido e à esposa, ao homem e à
mulher, construindo assim, uma história de amor que durou até a morte de Albert.
Do casamento à viuvez, do branco ao luto, pois com o falecimento do príncipe,
Vitória, a partir de então, usou a cor preta até o fim de sua vida.
É esse o contexto que envolve a coleção deste trabalho que terá como título:
“Vitória e Albert: um casamento real”. Voltada para as noivas, os vestidos terão um
papel, não só de compor a coleção, mas de contar a história do casal por meio de
peças presentes na figura de cada um.
Elas relatarão o grande dia de sua união, alguns momentos de descanso que
costumavam ter, a moda da época que os cercava e o triste dia da morte de Albert
que lançou o preto como a cor do luto, sendo usado de maneira distinta por homens
e mulheres, em meio a uma sociedade na qual a figura feminina era reprimida.
Os espartilhos com cintura pontiaguda em formato de “V” farão alusão aos usados
por Vitória e as mulheres de século XIX, como um todo. As másculas ombreiras
presentes no uniforme de Marechal de campo que o príncipe usou em seu
casamento receberão o toque feminino das flores de tecido, como as de laranjeira
que compunham a tiara que a rainha usou no grande dia, as quais estarão presentes
também no busto, simbolizando os botões duplos das roupas dos homens da época.
Para se destacarem, elas também estarão presentes em meio a mangas
transparentes de organza brancas ou por cima de pelerines de tule, típicas das
mulheres vitorianas. Algumas serão compostas pela gola “padre” presente no
uniforme do noivo ou pelas presentes nas sobrecasacas usadas pelos homens do
período, as quais serão aplicadas no busto da noiva.
70
IMAGEM 25: Detalhe das ombreiras do príncipe Albert no filme “A jovem rainha
Vitória”.
FONTE: Were Queen Victória and Prince Albert both illegitimate?,
www.dailymail.co.uk, 2009
Ademais, a estampa xadrez retratará os momentos de lazer que o casal tinha na
propriedade que adquiriram na cidade de Balmoral, nas terras Altas da Escócia. As
rígidas e grandes crinolinas da moda vitoriana se farão presentes através de uma
armação de organza anexada à saia. Elas representarão a mulher do século XIX e a
rigidez de suas roupas, que são um reflexo do seu papel na sociedade da época.
As fitas pretas na cintura e no braço representarão as usadas pelos homens
viúvos do período, pois, enquanto as mulheres seguiam um longo e rígido protocolo
de roupas de luto pela morte de seus maridos, esses só precisavam usar uma fita
preta amarrada ao braço por um curto período de tempo quando suas esposas
faleciam.
As rendas, como as usadas pela rainha em seu casamento, enfeitarão organzas e
tafetás. As cores branca e preta representarão o amor do início ao fim dessa
71
história, retratando também, a influência da rainha, ao estabelecer a cor usada no
dia do casamento e no luto.
Portanto, a vestimenta passa a remeter a um passado, a marcar momentos felizes
e tristes, mostrando a situação do homem e da mulher em determinado período,
cada pequeno detalhes passa a ficar repleto de significados. “A roupa tende, pois, a
estar poderosamente associada com a memória, ou, para dizer de forma mais forte,
a roupa é um tipo de memória” e, por isso será a narradora dessa história.
(STALLYBRASS, 2008, p. 14)
Tendo como público alvo, consumidoras de 20 a 35 anos, essa coleção será feita
para mulheres que estão inseridas no mundo de trabalho, conquistaram seu espaço
sem o desejo de ser superior aos homens ou passar uma ideia de autossuficiência.
Elas reconhecem que, diante de uma sociedade democrática, mulheres e homens
podem trabalhar em uma mesma função sem precisar que esses sejam machistas e
repressores, assim como elas podem ser realizadas na vida profissional sem a
necessidade de abrir mão de cuidar de seu lar e de sua família.
Seus noivos se sentem apaixonados. Encontraram uma mulher doce, inteligente,
trabalhadora, que cuida de sua imagem, gosta de viajar e podem ser consideradas
suas verdadeiras “co-pilotas” nas obrigações da vida conjugal, inclusive nas
despesas. São suas auxiliadoras, mulheres cheias de virtudes, pois aprenderam que
esse é o seu papel como uma mulher cristã.
Portanto, essa é a vida de Vitória e Albert. Cheia de amor, mas também de difíceis
circunstancias, devido ao papel que cada um exercia na monarquia.
72
5 PAINÉIS
5.1 CAPA
73
5.2 PÚBLICO ALVO
74
5.3 RELEASE
75
5.4 AMBIÊNCIA
76
5.5 CARTELA DE CORES
77
5.6 CARTELA DE MATERIAIS
78
5.7 LOOK CONCEITUAL
79
5.8 COLEÇÃO
80
81
6 CONCLUSÃO
Esse trabalho objetivou mostrar a importância da rainha Vitória para a história da
moda, especificamente, nos vestidos das noivas de seus sucessores ao trono,
mostrando que em cada casamento, o contexto histórico, politico e social que regia
cada período exerceram uma forte influencia na moda da época, e, portanto, nos
vestidos das noivas reais.
Através das tradições que a monarca criou, principalmente em relação ao vestido
de noiva, foi possível perceber a maneira como essas tradições conseguem se
adequar ao contexto histórico, social e político de cada período em que esses
casamentos estão inseridos, porém sempre preservando o uso da cor branca.
Cobrir o corpo passa a ser um detalhe, diante dos muitos significados que a
roupa passou a ter. Essa adquire um papel de marcadora de tempos, torna-se
instrumento para valorizar a economia inglesa e gerar esperança para o futuro
diante das calamidades causadas pelas grandes guerras, por exemplo.
Por meio dessa pesquisa, conclui-se que a roupa, pode ser considerada um
documento histórico. Algo que passa a ser uma espécie de testemunha do contexto
em que está inserida.
Através da análise de cada casamento foi possível perceber que o vestido branco
conseguiu se adaptar a tempos e circunstancia diferentes. Estava presente em
momentos de prosperidade, como a revolução industrial mostrada no casamento da
rainha Vitória, mas também, em outros de escassez e crises, como foi o caso do
casamento da atual rainha Elizabeth II.
Como resultado disso, a vestimenta contou a história de uma monarquia, que
através de sua rainha influenciou o seu tempo e conseguiu que seu reinado fosse
um divisor de águas na história dos vestidos das noivas ocidentais.
O tempo, as guerras, a política e a economia vão sendo personagens de
fundamental importância nessa historia. A tradição passa a se adaptar a eles e,
portanto, consegue sobreviver às mudanças de cada período sem perder a sua
característica original, dando, assim, uma ideia de continuidade e preservação de
82
seus valores e trazendo a memória do reinado de Alexandrina Vitória, em cada noiva
real.
83
7 FICHAS TÉCNICAS
Ficha Técnica
Estilista: Marina Kalif
Modelista: Diana
Nº: 01
Coleção: Vitória e Alberto:
“um casamento real”
Tamanho: 40
Ano: 2012.2
Descrição: Vestido de Tafetá
branco marfim, com base; manga
de organza, com fita de veludo
preto na ponta da manga; gola
padre e aplicações de gripir; zíper
nas costas.
Matéria-Prima:
 Organza na cor branco
marfim;
 Fita de veludo preto;
 Gripir.
84
Ficha Técnica
Estilista: Marina Kalif
Modelista: Diana
Nº: 01.2
Coleção: Vitória e Albert:
“um casamento real”
Tamanho: 40
Ano: 2012.2
Descrição: Capa, na parte superior
com tecido de tafetá com estampa
xadrez, com 12 flores de tafetá
como se fosse abotoamento duplo;
ombreira com aplicações de flores
de tafetá e miçangas na cor branco
marfim; nas costas detalhe em V é
de estampa xadrez e na lateral das
costas com organza branca e uma
fita de veludo preto na cintura; saia
armada de organza.
Matéria-Prima:
 Tecido de Organza;
 Fita de veludo;
 Flor de tafetá;
 Miçangas.
85
Ficha Técnica
Estilista: Marina Kalif
Modelista: Diana
Nº: 02
Coleção: Vitória e Albert:
“um casamento real”
Tamanho: 40
Ano: 2012.2
Descrição: Vestido de tafetá
branco, decote e mangas de
organza branca; ombreiras com
aplicações de flores de tafetá e
miçangas na cor branco marfim;
saia
dupla
com
tamanhos
diferentes, com aplicações de gripir
e renda; zíper nas costas.
Matéria-Prima:
 Tecido de tafetá;
 Tecido de Organza;
 Flor de tafetá;
 Miçangas.
86
Ficha Técnica
Estilista: Marina Kalif
Modelista: Diana
Coleção: Vitória e Albert: “O Tamanho: 40
Casamento Real”
Nº: 03
Ano: 2012.2
Descrição: Vestido tomara que caia
de tafetá branco marfim, com 12
botões dourados; com aplicações
de renda na barra do vestido;
Saia com estampa xadrez, com
aplicações de gripir e renda; zíper
nas costas.
Matéria-Prima:
 Tecido de tafetá;
 Tecido de Organza;
 Flor de tafetá;
 Miçangas.
87
Ficha Técnica
Estilista: Marina Kalif
Modelista: Diana
Nº: 04
Coleção: Vitória e Albert:
“um casamento real”
Tamanho: 40
Ano: 2012.2
Descrição: Vestido, tomara que
caia com detalhe em V branco e
laterais estampas de xadrez, na
saia o centro de cor branco e
lateral em xadrez, com uma “capa”
na mesma cor xadrez; pelerine de
organza com ombreiras com
aplicações de flores de tafetá e
miçangas na cor branco marfim;
zíper nas costas.
Matéria-Prima:
 Tecido de tafetá;
 Tecido de Organza;
 Flor de tafetá;
 Miçangas.
88
Ficha Técnica
Estilista: Marina Kalif
Modelista: Diana
Nº: 05
Coleção: Vitória e Albert:
“um casamento real”
Tamanho: 40
Ano: 2012.2
Descrição: Vestido todo de tafetá
branco, com aplicações de flores
de tafetá e miçangas na cor branco
marfim; nas laterais aplicações de
gripir; zíper nas costas e 2 botões.
Matéria-Prima:
 Tecido de tafetá;
 Flor de tafetá;
 Miçangas;
 Botões.
89
Ficha Técnica
Estilista: Marina Kalif
Modelista: Diana
Nº: 06
Coleção: Vitória e Albert:
“um casamento real”
Tamanho: 40
Ano: 2012.2
Descrição: Vestido de tafetá na cor
branco marfim, tomara que caia
com detalhe em V na cor branco,
laterais do busto e laterais da saia
com estampas de xadrez; decote e
mangas de organza branca; 15
aplicações de flores de tafetá;
ombreiras com aplicações de flores
de tafetá e miçangas na cor branco
marfim; fita de veludo preto na
cintura; zíper nas costas.
Matéria-Prima:
 Tecido de tafetá;
 Tecido de Organza;
 Fita de veludo;
 Flor de tafetá;
 Miçangas.
90
Ficha Técnica
Estilista: Marina Kalif
Modelista: Diana
Nº: 07
Coleção: Vitória e Albert:
“um casamento real”
Tamanho: 40
Ano: 2012.2
Descrição: Vestido de tafetá na cor
branco marfim, tomara que caia
com aplicação de renda no busto;
com meia gola alfaiate na estampa
xadrez;
Saia de organza com cinto de
veludo preto, com aplicação de
gripir; zíper nas costas.
Matéria-Prima:
 Tecido de tafetá;
 Tecido de Organza;
 Fita de veludo;
 Gripir.
91
Ficha Técnica
Estilista: Marina Kalif
Modelista: Diana
Nº: 08
Coleção: Vitória e Albert:
“um casamento real”
Tamanho: 40
Ano: 2012.2
Descrição: Vestido de tafetá na cor
branco marfim; com meia gola
alfaiate na cor branca e com
decote na estampa xadrez e
aplicações de gripir na barra do
vestido;
Saia de tecido estampado xadrez
com cinto de veludo preto, com
aplicação de gripir; zíper nas
costas.
Matéria-Prima:
 Tecido de tafetá;
 Tecido de Organza;
 Fita de veludo;
 Gripir.
92
Ficha Técnica
Estilista: Marina Kalif
Modelista: Diana
Nº: 09
Coleção: Vitória e Albert:
“um casamento real”
Tamanho: 40
Ano: 2012.2
Descrição: Vestido de tafetá na cor
branco marfim, tomara que caia,
decote e mangas de organza
branca, detalhe na manga direita
com um fita de veludo preto; gola
padre na cor branco marfim de
tafetá e aplicações de gripir;
laterais do busto e da saia na
estampa xadrez; fita de veludo
preto na cintura; zíper nas costas.
Matéria-Prima:
 Tecido de tafetá;
 Tecido de Organza;
 Fita de veludo;
 Gripir.
93
Ficha Técnica
Estilista: Marina Kalif
Modelista: Diana
Nº: 10
Coleção: Vitória e Albert:
“um casamento real”
Tamanho: 40
Ano: 2012.2
Descrição: Vestido de tafetá na cor
branco tomara que caia; aplicações
de 15 flores de tafetá;
Saia de organza branca com
aplicações de gripir e na cintura
uma fita de veludo preta; zíper nas
costas.
Matéria-Prima:
 Tecido de tafetá;
 Tecido de Organza;
 Fita de veludo;
 Gripir.
94
Ficha Técnica
Estilista: Marina Kalif
Modelista: Diana
Nº: 11
Coleção: Vitória e Alberto
: “um casamento real”
Tamanho: 40
Ano: 2012.2
Descrição: Vestido de tafetá na cor
branco marfim, tomara que caia;
decote e mangas de organza
branca; aplicações de gripir no
decote do busto, e 12 aplicações
de flores de tafetá;
Saia de tafetá xadrez, fita de
veludo na cintura e aplicações de
gripir e uma fita de veludo na
manga direita; zíper nas costas.
Matéria-Prima:
 Tecido de tafetá;
 Tecido de Organza;
 Fita de veludo;
 Gripir.
95
- REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
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Marina Kalif dos