Expresso 22 de setembro de 2012 bpiexpressoimobiliario.pt 21 ARQUITETURA Jardim na vertical no centro da Lapa Não existe certamente outro edifício como este em Lisboa. Terminada este ano, a moradia de três pisos encaixada na Travessa do Patrocínio, na Lapa, surpreende quem a vê pela primeira vez. Totalmente revestida de vegetação, é um autêntico jardim vertical que produz uma lufada de ar fresco no coração urbano da cidade. De lote pequeno e implantação complexa, este projeto desde cedo suscitou alguns desafios. A necessidade de criar um produto singular para um segmento alto de mercado associado às preocupações com a arquitetura sustentável partilhadas no ateliê Luís Rebelo de Andrade ditaram as bases deste projeto promovido pela BWA Buildings With Art, de Luís Soares Franco. “Neste local existia um edifício de finais do século XIX que estava completamente decrépito, colapsado mesmo, por dentro. Foi esse o nosso ponto de partida. Por um lado tínhamos o nosso cliente, o promotor, que pretendia transformar essa casa numa moradia para venda. Por outro lado, nós, como arquitetos e guardiões da paisagem, com uma responsabilidade muito grande sobre a qualida- de do espaço público, queremos provocar o mercado e chamar a atenção para a questão da sustentabilidade e para a emissão de dióxido de carbono”, diz Luís Rebelo de Andrade, que assina o projeto em parceria com Tiago Rebelo de Andrade e Manuel Tojal. Assim sendo, reforça, propuseram este projeto, um tanto ou quanto “diferente” dos habituais: “Queríamos um jardim para a moradia e este existe mas de outra forma. E até em termos de preservação, o revestimento é sustentável pois é composto por plantas autóctones que necessitam de manutenção três vezes ao ano, o que custa bem menos do que um jardim tradicional”. O pé-direito de nove metros, o betão à vista e a claraboia em vidro que reveste a cobertura marcam o espaço interior Além do impacto visual, o efeito olfativo é também muito interessante. Partindo do princípio que a arquitetura é feita para os cinco sentidos, a escolha das espécies que revestem a habitação foi feita de forma cuidada. Nos quartos sente-se um cheiro delicado a alfazema, na sala inspira-se o aroma do alecrim e junto à piscina cheira a caril, “seguindo um critério de cheiros em função dos espaços a habitar”. “Se for cego, o morador da casa percebe que está no quarto assim que entra no espaço pois tem um cheiro diferente do que aquele que existe na sala ou na cozinha”, exemplifica Luís Rebelo de Andrade. Com três pisos, a casa tem ainda um pátio na cobertura onde se instalou um tanque em jeito de piscina e que possui uma particularidade: a base da piscina tem claraboias que trazem luz ao piso de baixo e também alguma animação visual do ponto de vista de quem está na sala. A atravessar os três andares de forma bem marcada, uma escada surge como um elemento estruturante quer ao nível construtivo quer visualmente. Rentabiliza o espaço e dá graça à forma de o habitar. “Achamos interessante ter uma escada que permita observar quem entra ou quem sai da casa, de qualquer divisão da moradia”, diz Tiago Rebelo de Andrade. O pé-direito de nove metros, as paredes em betão à vista e a claraboia em vidro por cima da escada garantem a luminosidade generosa e, em simultâneo, criam um efeito cénico. Um efeito, aliás, que está subjacente a todo o projeto. Em termos de materialidade, como refere Tiago Andrade, a opção recaiu em “lapidar a forma retangular e conferir ao bloco uma ‘cara’ de árvore, passando o bloco a ser mais um elemento do largo”. Acima de tudo, remata, “queremos que este projeto represente um minipulmão e um exemplo de sustentabilidade para a cidade de Lisboa”. FOTOS FG + SG - FOTOGRAFIA DE ARQUITECTURA Criar um minipulmão no meio do betão foi o objetivo deste projeto. Situada na Lapa, em Lisboa, a casa está revestida de plantas aromáticas Marisa Antunes [email protected] VEJA O VÍDEO EM www.expresso.pt/lapajardimvertical PELAS PAREDES Se não há espaço para conceber um jardim na horizontal porque não fazê-lo na vertical? Foi isso mesmo que foi feito nesta casa situada numa rua discreta da Lapa, em Lisboa. A moradia tem três pisos e um pátio na cobertura onde se instalou um tanque em jeito de piscina, que possui uma particularidade: a base da piscina tem claraboias que trazem luz ao piso de baixo e também alguma animação visual do ponto de vista de quem está na sala. A atravessar os três andares, uma escada surge como um elemento estruturante quer ao nível construtivo quer visual.