Expresso
22 de setembro de 2012
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ARQUITETURA
Jardim na vertical
no centro da Lapa
Não existe certamente outro edifício como este em Lisboa. Terminada este ano, a moradia de três
pisos encaixada na Travessa do
Patrocínio, na Lapa, surpreende
quem a vê pela primeira vez. Totalmente revestida de vegetação,
é um autêntico jardim vertical
que produz uma lufada de ar fresco no coração urbano da cidade.
De lote pequeno e implantação
complexa, este projeto desde cedo suscitou alguns desafios. A necessidade de criar um produto
singular para um segmento alto
de mercado associado às preocupações com a arquitetura sustentável partilhadas no ateliê Luís
Rebelo de Andrade ditaram as
bases deste projeto promovido
pela BWA Buildings With Art,
de Luís Soares Franco.
“Neste local existia um edifício
de finais do século XIX que estava
completamente decrépito, colapsado mesmo, por dentro. Foi esse
o nosso ponto de partida. Por um
lado tínhamos o nosso cliente, o
promotor, que pretendia transformar essa casa numa moradia para venda. Por outro lado, nós, como arquitetos e guardiões da paisagem, com uma responsabilidade muito grande sobre a qualida-
de do espaço público, queremos
provocar o mercado e chamar a
atenção para a questão da sustentabilidade e para a emissão de dióxido de carbono”, diz Luís Rebelo
de Andrade, que assina o projeto
em parceria com Tiago Rebelo
de Andrade e Manuel Tojal.
Assim sendo, reforça, propuseram este projeto, um tanto ou
quanto “diferente” dos habituais: “Queríamos um jardim para a moradia e este existe mas de
outra forma. E até em termos de
preservação, o revestimento é
sustentável pois é composto por
plantas autóctones que necessitam de manutenção três vezes ao
ano, o que custa bem menos do
que um jardim tradicional”.
O pé-direito de nove
metros, o betão à vista
e a claraboia em vidro
que reveste a
cobertura marcam
o espaço interior
Além do impacto visual, o efeito olfativo é também muito interessante. Partindo do princípio
que a arquitetura é feita para os
cinco sentidos, a escolha das espécies que revestem a habitação
foi feita de forma cuidada. Nos
quartos sente-se um cheiro delicado a alfazema, na sala inspira-se o aroma do alecrim e junto à
piscina cheira a caril, “seguindo
um critério de cheiros em função dos espaços a habitar”.
“Se for cego, o morador da casa
percebe que está no quarto assim que entra no espaço pois
tem um cheiro diferente do que
aquele que existe na sala ou na
cozinha”, exemplifica Luís Rebelo de Andrade.
Com três pisos, a casa tem ainda um pátio na cobertura onde
se instalou um tanque em jeito
de piscina e que possui uma particularidade: a base da piscina
tem claraboias que trazem luz
ao piso de baixo e também alguma animação visual do ponto de
vista de quem está na sala.
A atravessar os três andares de
forma bem marcada, uma escada
surge como um elemento estruturante quer ao nível construtivo
quer visualmente. Rentabiliza o
espaço e dá graça à forma de o habitar. “Achamos interessante ter
uma escada que permita observar
quem entra ou quem sai da casa,
de qualquer divisão da moradia”,
diz Tiago Rebelo de Andrade.
O pé-direito de nove metros,
as paredes em betão à vista e a
claraboia em vidro por cima da
escada garantem a luminosidade generosa e, em simultâneo,
criam um efeito cénico. Um efeito, aliás, que está subjacente a
todo o projeto. Em termos de
materialidade, como refere Tiago Andrade, a opção recaiu em
“lapidar a forma retangular e
conferir ao bloco uma ‘cara’ de
árvore, passando o bloco a ser
mais um elemento do largo”.
Acima de tudo, remata, “queremos que este projeto represente
um minipulmão e um exemplo
de sustentabilidade para a cidade de Lisboa”.
FOTOS FG + SG - FOTOGRAFIA DE ARQUITECTURA
Criar um
minipulmão
no meio do betão
foi o objetivo deste
projeto. Situada
na Lapa, em Lisboa,
a casa está revestida
de plantas
aromáticas
Marisa Antunes
[email protected]
VEJA O VÍDEO EM
www.expresso.pt/lapajardimvertical
PELAS PAREDES Se não há espaço para conceber um jardim na
horizontal porque não fazê-lo na vertical? Foi isso mesmo que foi feito nesta casa situada numa rua discreta da Lapa, em Lisboa. A moradia tem três pisos e um pátio na cobertura onde se instalou um tanque em jeito de piscina, que possui uma particularidade: a base da
piscina tem claraboias que trazem luz ao piso de baixo e também
alguma animação visual do ponto de vista de quem está na sala. A
atravessar os três andares, uma escada surge como um elemento
estruturante quer ao nível construtivo quer visual.
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