ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I Versão Online 2009 O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE Produção Didático-Pedagógica ETNOMATEMÁTICA E A MATEMÁTICA DA CONSTRUÇÃO CIVIL CADERNO PEDAGÓGICO O COTIDIANO DOS PEDREIROS E A ETNOMATEMÁTICA Fonte: Arquivo pessoal ODETE BOING CHAVES GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DE ESTADO DO PARANÁ NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO DE IVAIPORÃ UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL ODETE BOING CHAVES Área de Atuação Matemática Produção Didático-Pedagógica: Caderno Pedagógico apresentada ao Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da Secretaria Estadual de Educação do Estado do Paraná sob a orientação Doutor Túlio Oliveira de Carvalho LONDRINA – 2009/2010 do Professor “Subiu a construção como se fosse máquina. Ergueu no patamar quatro paredes sólidas. Tijolo por tijolo num desenho mágico. Seus olhos embotados de cimento e lágrima”. Chico Buarque SUMÁRIO Apresentação ................................................................................................................5 Problematização............................................................................................................6 Planta Baixa ..................................................................................................................6 O que é uma planta baixa .............................................................................................6 Atividade 1.....................................................................................................................7 Calculando Áreas ..........................................................................................................7 Atividade 2.....................................................................................................................8 Atividade 3.....................................................................................................................9 Calculando Perímetros..................................................................................................10 Atividade 4.....................................................................................................................11 Algumas Figuras Geométricas Planas ..........................................................................11 π Que Número é Esse?...............................................................................................11 Eo π ? O que significa?...............................................................................................12 O Teorema de Pitágoras ...............................................................................................12 Área do Triângulo..........................................................................................................13 Generalizando Áreas.....................................................................................................14 O Teorema de Pitágoras na Prática dos Pedreiros .......................................................14 Retas Perpendiculares ..................................................................................................14 Paredes Perpendiculares ..............................................................................................15 Atividade 5.....................................................................................................................16 A construção de Telhados.............................................................................................16 Atividade 6.....................................................................................................................20 Cálculo de Volume ........................................................................................................21 Alguns Exemplos de Sólidos Geométricos....................................................................22 Como medir um caminhão de areia ..............................................................................23 Atividade 7.....................................................................................................................24 Atividade 8.....................................................................................................................25 Atividade 9.....................................................................................................................25 Considerações Finais....................................................................................................27 Referências Bibliográficas .............................................................................................29 Apresentação Quando passamos por uma casa, contemplamos e comentamos sobre o quanto ela é admirável, mas não nos detemos para nos questionar como ela é construída. O que esteia o teto? Como as paredes são tão alinhadas? Como é edificado o telhado para evitar que a chuva entre? Como se acomodam tão perfeitamente as portas e janelas? Qual o material necessário para levantar uma casa? Qual é a matemática empregada nesta construção? Qual o número de indivíduos envolvidos e como são esses indivíduos que constroem essa e outros milhares de edificações que estão à nossa volta? O fato é que nosso interesse está voltado tão somente para a estética de uma construção, e não paramos para pensar sobre o que está por trás de tanta imponência realizada por pessoas (em geral) simples, que, na maioria das vezes, mal sabem interpretar os códigos da linguagem ensinados nos bancos escolares, pessoas estas que muitas vezes passam despercebidos em nossa sociedade. Este trabalho tem, entre seus objetivos, incluir estas pessoas e apurar seu conhecimento, particularmente na aplicação da matemática. Para conhecermos tais pessoas e seu ofício, fez-se necessário uma coleta de dados, numa empresa da construção civil da cidade de Ivaiporã, aqui denominada L.A.D. Foi realizada através de procedimento etnográfico e envolveu pedreiros, serventes e o mestre-de-obras. A análise qualitativa das informações encaminhou nossos questionamentos, como expomos a seguir. Foram analisados alguns aspectos de maior interesse da pesquisadora como: “Demarcação da planta baixa da casa (escala)”; “O Teorema de Pitágoras”; “Volume”; “As paredes e a área dos tijolos”; “A inclinação do telhado”; “A área das telhas e da cobertura”; “As portas e janelas da casa” e “Os dois pisos da casa”. Estes aspectos contêm segredos matemáticos que podem ser mais facilmente trazidos à tona, comprovando empiricamente os conhecimentos matemáticos praticados pelos pedreiros em contexto profissional. 5 Problematização: • Como os pedreiros resolvem problemas matemáticos no exercício da sua profissão? • Que técnicas utilizam para resolverem problemas matemáticos em suas profissões? • Qual relação que evidencia a matemática ensinada nas escolas com a sua prática? • Prevalece uma desvinculação entre a matemática formal e a matemática praticada no seu trabalho cotidiano? Planta Baixa Fonte: Arquivo pessoal O que é uma planta baixa? É o desenho de uma construção feito, em geral, a partir do corte horizontal à altura de 1,5m a partir da base. É um diagrama dos relacionamentos entre salas, espaços e outros aspectos físicos em um nível de uma estrutura. Nela devem estar detalhadas em escala as medidas das paredes, portas, janelas, o nome de cada ambiente e seu respectivo nível 6 Atividade 1 A foto da planta baixa apresentada na Figura acima representa o primeiro piso de um sobrado de dois andares, nesta planta há uma cozinha, uma sala de TV, um lavabo e a área de serviço. Observem-na, e responda as seguintes questões: Quais as formas geométricas presentes na planta? O que significam os números na planta? Como se traduzem estas informações da planta para o terreno? Obviamente a planta da casa é menor do que a casa. Existe uma proporção? Qual o nome você dá a esta proporção? Há outros conceitos geométricos que você consegue visualizar na planta baixa? Calculando Áreas Fonte: Arquivo pessoal Na construção civil o cálculo de área é muito utilizado no revestimento de pisos, cerâmicas, forro, laje, assoalhos, paredes, entre outros. Na matemática utilizada na escola, temos que área é a medida de superfície. A área de uma figura plana é obtida a partir da multiplicação em que duas quantidades são essenciais: duas medidas de comprimento. Isto vale para retângulos, mas ajuda também em triângulos. 7 Exemplo Lajota 21cm 34cm Fonte: Arquivo pessoal Na figura acima temos uma lajota (semelhante a um pequeno tijolo, é utilizada para assentar a laje, geralmente na construção de uma casa com mais de um piso) de medidas 34 cm de comprimento por 21 cm de largura. Do ponto de vista da área a ser coberta, estas são as medidas importantes na lajota. Para calcularmos a sua área, ou seja, a sua superfície, o que temos a fazer é somente multiplicar essas duas quantidades: A → área A = 34x21 cm² → centímetro quadrado A = 714cm² Observem que a área tem unidade de comprimento ao quadrado. Atividade 2 Assentamento de laje 1m 1m Fonte: Arquivo pessoal 8 Na figura acima observamos a laje de um sobrado sendo assentada. De acordo com a área de uma lajota (cálculo mostrado no exemplo), quantas dessas lajotas são necessárias para recobrir uma área de 1 m²? No assentamento, pode ser necessário quebrar algumas lajotas. Por quê? Durante o assentamento, algumas lajotas podem se quebrar involuntariamente. Como você faz o cálculo aproximado de modo que não sobrem muitas, nem faltem lajotas no assentamento da laje? É preferível sobrar ou faltar lajotas? Por quê? Atividade 3 Tijolo de 6 furos 13cm 9cm 19cm Fonte: Arquivo pessoal A lateral de um tijolo de 6 furos (tijolo mais usado na construção civil) possui 19cm de comprimento por 9cm de altura por 13cm de largura. Parede construída 1m 1m Fonte: Arquivo pessoal As paredes são construídas com tijolos de 6 furos, com medidas 19x9x13 centímetros. As paredes externas são construídas com o lado do tijolo que mede 19x9 centímetros. 9 Na figura acima, observamos uma parede externa construída com tijolos de 6 furos, quantos tijolos de 6 furos são necessários para construir 1 m² de parede? Como calcular a quantidade de tijolos a serem comprados para construir uma casa para que não falte e nem haja sobras desnecessárias? Se as paredes internas forem construídas com a lateral do tijolo que mede 13x19 centímetros, haverá alterações nos cálculos da quantidade de tijolos a serem comprados? Se houver alterações, o construtor comprará mais ou menos tijolos? Qual a margem de sobra de tijolos entre as duas opções de construção de paredes (externas e internas)? Calculando Perímetros No assentamento de piso o raciocínio de cálculo de área se repete, mas, além do assentamento, existe um acabamento que se faz em todos os cômodos, internamente, é a colocação de rodapé, uma espécie de arremate que é necessário para que haja um arremate perfeito no piso. Esse contorno é matematicamente chamado de perímetro. As medidas de perímetro, área e volume são parte do cotidiano dos pedreiros. Medir é comparar. A distância, por exemplo, pode ser medida com passos, como fazem os pedreiros, que muitas vezes, para estimar comprimentos, medem um comprimento com os próprios passos, utilizando o metro somente quando necessitavam medir algo com precisão. Os pedreiros têm a capacidade de realizar estimativas e cálculos aproximados e utilizá-los na verificação de resultados de operações matemáticas. Na discussão dos conceitos de perímetro, área e volume, a escolha da unidade de medida é fundamental, e também a distinção entre as medidas linear (perímetro), de superfície (área) e tridimensional (volume). Uma questão que se coloca: como medir o contorno de uma sala, a superfície (o chão) da sala? É usual trabalhar com o volume de um cômodo? Observamos que os pedreiros utilizam muito o metro e o metro quadrado como medidas de comprimento e área, embora também usem a medida de seus passos como estimativa, quando querem medir comprimentos lineares, em que cada um desses passos equivale a um metro. 10 Atividade 4 A partir dos conceitos acima, como estimar o perímetro de uma sala retangular? Se for preciso cercar o terreno, como saber seu perímetro? Formas circulares são menos usadas em construções, mas muitas vezes elas aparecem. Como calcular o seu perímetro? Nos cálculos de área e perímetro na escola, temos o auxílio das chamadas representações de figuras planas, sendo as mais comuns as que reproduzimos abaixo: Algumas Figuras Geométricas Planas quadrado retângulo losango paralelogramo triângulo círculo π (pi) Que Número é Esse? Com uma corda esticada e uma estaca amarrada em cada uma das extremidades, é simples demarcar uma circunferência no chão para a construção de um poço, uma fossa, uma piscina ou uma construção circular qualquer. O esquema abaixo mostra como isso é possível: estacas . . Corda 11 Fincada uma das estacas no chão, o pedreiro estica a corda e roda a outra estaca em volta sempre com a corda muito bem esticada ele obtém o desenho de um círculo no chão. Será que os pedreiros conseguem fazer construções ou estruturas circulares sem alguma vez terem ouvido falar do π, isto é, sem saber o que este número irracional representa? As partes da circunferência são: • A corda esticada representa o raio, ou seja, a metade do diâmetro; • A estaca central representa o centro; • O desenho obtido é a circunferência, e seu perímetro é proporcional a π. E o π? O que significa? É comprimento da circunferência e dividido pelo seu diâmetro, isto é, aproximadamente 3,14. Os gregos antigos tinham a estimativa π=22/7. Será que nossos pedreiros conhecem esta estimativa? Para calcular o perímetro ou a área de uma figura plana circular sempre nos utilizaremos do valor do π (pi). Em sua prática, o pedreiro diz que não é necessário fazer cálculos, basta medir quatro diâmetros e multiplicar pelo próprio diâmetro e pode-se saber mais ou menos o comprimento de um circulo, e se quiser saber com mais exatidão, é só tirar 20% do quarto diâmetro, e proceder ao mesmo cálculo. Ao ser questionado como se chega neste valor, não argumenta, apenas atribui o cálculo à experiência. Uma atividade interessante é determinar se este procedimento fornece uma boa aproximação. O Teorema de Pitágoras O Teorema de Pitágoras é provavelmente o mais célebre dos teoremas da matemática. Enunciado pela primeira vez por filósofos gregos chamados de pitagóricos, estabelece uma relação simples entre o comprimento dos lados de um triângulo retângulo: 12 Em qualquer triângulo retângulo, o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos. Fonte: http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive Se a designar o comprimento da hipotenusa e b e c os comprimentos dos catetos, o teorema afirma que: a² = b² + c² Área do Triângulo Na área de um triângulo qualquer, muitas vezes não temos de imediato a medida de sua altura, pois ela só poderá ser determinada se houver um ângulo reto, ou seja um dos ângulos deverá medir 90 0 (noventa graus), por isso, devemos calcular esta altura da seguinte forma: x x x h x x 2 Para calcular, traçamos uma reta (pontilhado da segunda figura, é a sua altura h), até a base do triângulo de forma que forme um ângulo reto na base, a partir de então utilizamo-nos do Teorema de Pitágoras. 13 Portanto, concluímos que: x h A∆ = bh 2 x 2 Generalizando Áreas: Para o cálculo de área de quase todas as figuras geométricas planas, basicamente multiplicamos as medidas das medidas do comprimento (base) e da largura (altura) da mesma e para o cálculo de perímetro, somamos todos os comprimentos dos lados da figura. O Teorema de Pitágoras na Prática dos Pedreiros Ao perguntar aos pedreiros se conhecem o Teorema de Pitágoras, provavelmente responderão que não, como a resposta que ouvi de um servente de pedreiro da obra: ”Eu sei que sou bom de matemática, não me lembro das fórmulas que ensinaram na escola, as contas que faço, faço de cabeça, são menos complicadas do que as que aprendi na escola, não uso calculadora porque não gosto de trabalhar com ela, na cabeça é mais rápido.” Mas mesmo sem esse conhecimento, eles fazem uso do mesmo em vários momentos do seu trabalho, como podemos observar na figura abaixo, duas paredes só serão perpendiculares se o ângulo que se forma quando elas se “encontram” mede 90º. Retas Perpendiculares Retas Perpendiculares são duas retas que se cruzam, formando ângulos de 90 graus. 14 Paredes perpendiculares Fonte: Arquivo pessoal No seu trabalho diário, os pedreiros medem regularmente ângulos retos (90º). Estes ângulos tanto podem ser medidos em grandes paredes como em paredes com pequenas dimensões. Às vezes, os pedreiros usam como modelo, para medir um ângulo de 90º um azulejo porque sabem que ele contém quatro ângulos de 90º exatamente iguais; mas quase sempre usam um esquadro (muitas vezes construído por eles mesmos) para garantir que as paredes estão ou não no esquadro (retas), isto é, garantir que dois planos fiquem perpendiculares entre si, formando ângulos retos, o que é imprescindível em qualquer construção, é também usado o mesmo processo nas divisões com uma forma retangular, quadrada, como as divisões internas dos cômodos da construção. Os ternos pitagóricos são triplas de números naturais a, b e c, de modo que a²+b²=c². O fato de obedecerem a esta relação implica que a, b e c são lados de um triângulo retângulo, e que c é o maior lado. Há duas atividades possíveis: sorteie seqüências de três números para grupos e peça que verifiquem (a) se podem ser medidas de lados de um triângulo (b) se o triângulo é retângulo Outra atividade: com triângulos desenhados (alguns retângulos, outros não), peça para medirem com régua os lados, possivelmente transformando por alguma escala. O ideal é que não se use régua milimetrada, mas alguma medida de referência. Os esquadros construídos pelos pedreiros seguem sempre um esquema (um Terno Pitagórico), como representa as figuras abaixo: 15 50 30 60 100 40 80 Atividade 5 Sabendo que Retas Perpendiculares – São retas que se cruzam formando um ângulo reto, ou seja, igual a 90° (noventa graus), conforme mostram as figuras abaixo, dê as soluções possíveis para os problemas apresentados. a) Um construtor tem 100 metros de tela para delimitar um terreno de forma retangular. Quais as dimensões do terreno para que a área cercada seja máxima? b) Um mestre de obras quer construir um recinto cujas paredes sejam perpendiculares entre si. Para isso, deve colocar estacas nos vértices da área a ser construída. Ele conta com apenas um barbante comprido. Como ele poderia, utilizando o Teorema de Pitágoras, saber onde fincar as estacas? A Construção de Telhados Fonte: Arquivo pessoal 16 Existem telhados de diversas formas, de forma geral, são constituídos pela composição de planos inclinados. Um dos mais simples é o telhado de duas águas. Em geral, a cobertura é feita de telhas de barro, mas outros materiais podem ser usados, como o alumínio e a argila. A inclinação de um telhado corresponde às necessidades climáticas da região na qual é construído e da cultura do lugar. Em regiões do Brasil com influência européia, por exemplo, na região sul, o telhado possui cumeeira bem elevada, para que os planos inclinem-se em ângulos superiores a 60 0 , o ângulo de inclinação de tal telhado apenas se justifica por razões estéticas. Mas os mais comuns são os telhados com ângulos de inclinação de 30 0 , o suficiente para o escoamento das águas das chuvas. Ao iniciar a construção do telhado, após escolher o tipo de telha, o pedreiro deve calcular a porcentagem de inclinação do mesmo para a montagem da “tesoura”. A tesoura é uma estrutura de madeira cuja vista transversal é mostrada abaixo. As vigas de madeira formam o desenho de vários triângulos. Muitos deles são triângulos retângulos. Os triângulos são utilizados pelos pedreiros devido ao fato de os mesmos serem polígonos que não possuem mobilidade, e quanto mais triângulos as madeiras formarem no telhado, maior rigidez ele terá. Existem no mercado vários tipos de telhas, no cálculo da porcentagem de inclinação do telhado, vamos usar como exemplo a telha DUPLAN, que exige uma inclinação mínima de 30% para que a água da chuva possa escoar. 17 Telha Duplan Fonte: www.ceramicasantamariaro.com.br A inclinação de 60 0 é obtida pelo pedreiro partindo da extremidade para o topo do telhado. Para cada metro (100 cm) na horizontal, sobe-se 30 cm. Se a tesoura tiver 6 metros de comprimento o pedreiro efetua o cálculo da porcentagem utilizando apenas a metade dessa medida, ou seja, 3 metros. 3m Esse cálculo é efetuado mentalmente e de forma rápida pelo pedreiro, multiplicando essa medida pela porcentagem relativa à inclinação do telhado. Os dois últimos números do produto dessa multiplicação são os centímetros. Veja o cálculo do pedreiro: 3m x 30% ⇒ tan600 ≅ 0,3 3m Temos então as medidas dos dois catetos de um triângulo retângulo: Comprimento = 3m Altura = 3m x 30% = 0.9m Podemos então, através do teorema de Pitágoras calcular o comprimento da viga onde serão colocadas as telhas, ou seja, a hipotenusa do triângulo retângulo. Este é um exemplo que mostra como a Matemática Escolar é importante para a resolução de problemas do cotidiano. 18 Observe nas figuras a seguir que o telhado apresenta várias partes em sua montagem, além da tesoura. Fonte: http://www.ebanataw.com.br/roberto/telhado/tlhcur9.htm Depois de concluir o madeiramento, o pedreiro efetua o cálculo da quantidade de telhas necessárias para cobrir o telhado. Para isso leva em consideração a área útil de cada tipo de telha, ou seja, a área de cobertura real da telha. Cada telha Duplan tem um comprimento de 33,3 cm e uma largura de 20 cm. Observe que cada quinze telhas cobrem 1 m², como mostra a figura a seguir. 1m 33,3cm 20cm 1m Mesmo sabendo que 15 telhas cobrem 1 m², o pedreiro aumenta o comprimento e a largura do telhado na hora de calcular a quantidade de telhas. Ele utiliza múltiplos de 33,3 cm (comprimento da telha) e de 20 cm (largura da telha), aproximando-se ao máximo da quantidade exata de telhas a serem utilizadas na cobertura do telhado. 19 Exemplo Para se calcular a quantidade de telhas necessárias para a cobertura, multiplica-se a metragem do telhado pelo rendimento da telha por m², adicionando 5% que pela prática tornou-se uma regra para eventuais perdas por quebra ou defeitos nas peças. Exemplo: Metragem do telhado = 130 m² Modelo escolhido: Telha Duplan = 15 peças cobrem 1 m² 130 m² x 15 peças = 1950 telhas (quantidade a ser comprada) + 5%. Atividade 6 No cálculo da porcentagem de inclinação do telhado, cada telha determina a inclinação mínima para que não haja problemas com a água das chuvas. TABELA DE INCLINAÇÃO DE TELHADOS TIPO DE TELHA RAZÃO % ÂNGULO APROXIMADO Colonial 25 a 45 19 0 Telhão 20 a 45 18 0 Capanal 30 a 50 22 0 Paulistinha 25 a 45 19 0 Plana 100 45 0 Germânica 42 a 60 27 0 Plan 20 a 45 13 0 Romana 30 a 45 21 0 Francesa 30 a 45 21 0 Calcular para cada tipo de telha da tabela acima a altura da tesoura de um telhado com base de 8 m de comprimento, conforme figura abaixo. 20 8m Cálculo de Volume Fonte: Arquivo pessoal Na experiência com construção civil, é muito importante a distinção entre volume e capacidade. A capacidade de um recinto corresponde ao volume em seu interior. O volume ocupado é, considerando a largura das paredes, um pouco maior. Esta diferença também aparece em regiões planas. Por exemplo, quando se compra um terreno de 300 metros quadrados, a área máxima de um piso de uma casa, levando em conta apenas a largura das paredes é um pouco menor. No caso de existirem leis no município obrigando os moradores a deixarem um vão livre, sem construção de paredes internas, na fronteira do terreno, a área útil é ainda menor. Ao questionarmos um pedreiro sobre como ele calcula quanto argamassa é necessária para construir os pilares de uma obra, a resposta é o que esperamos ouvir: “Primeiro eu preciso saber as medidas, tenho que medir o comprimento, a largura e a altura, depois eu só multiplico”. 21 c V = a.b.c b a Na matemática escolar, o volume de um corpo pode ser calculado pelo produto da área da base pela medida da altura. De uma forma geral, podemos aplicar a seguinte fórmula: V = a.b.c, Onde: V representa volume; a.b representa a área da base; c representa a altura. De acordo como Sistema Internacional de medidas (SI), o metro cúbico é a unidade padrão das medidas de volume. Um metro cúbico (1m³) corresponde a uma capacidade de 1000 litros. Essa relação pode ser exemplificada em conjunto com a Geometria, através de um cubo com arestas medindo 1 metro. 1m 1m 1m Alguns Exemplos de Sólidos Geométricos Fonte: http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive 22 Cubo Cilindro Fonte: Arquivo Pessoal Cone Como medir um caminhão de areia?* Quando se compra a areia com a condição de pagar somente o que for efetivamente entregue, é preciso fazer a medição do caminhão em obra. A medição é feita enfiando-se um ferro de construção no monte de areia, antes dela ser descarregada. Deve-se também medir as dimensões internas da caçamba (comprimento e largura). As medidas com o ferro de construção devem ser feitas em cinco pontos estratégicos, a saber -- no centro do monte (parte mais alta) e em cada um dos cantos (vide figura abaixo). Fonte: http://www.forumdaconstrucao.com.br O volume será a média das alturas, multiplicado pela largura e pelo comprimento da caçamba. Como demonstrado abaixo: M1 + M 2 + M3 + M4 + M5 V = xLxC 5 Sendo: V, o volume; M1, M2, M3, M4 e M5, as medidas verificadas pelo pedreiro; L, a largura da caçamba; C, o comprimento da caçamba. 23 Atividade 7 Esta atividade deverá ser realizada pelos alunos, que se deslocarão até uma construção e farão uma pesquisa de campo. Sabe-se que em uma construção muitas vezes há a necessidade de aterramento, e para isso, são contratados caminhões para transportar toda terra a ser utilizada. Os alunos, de posse de seu material deverão, em grupos, se dirigirem até o local onde houver uma construção e buscarão todas as informações que julgarem necessárias para desenvolverem a atividade abaixo: Fonte: Arquivo pessoal 1. Na obra em questão, houve ou haverá necessidade de aterramento? 2. Se o aterramento é necessário, como é feito? 3. Como saber a quantidade de terra necessária? 4. Como é comprada a terra? 5. Se há a necessidade do transporte em caminhões basculantes, coletar os dados com os pedreiros para calcular o volume da terra transportada pelo caminhão. 6. Há essa mesma lógica na medida de volume de outros materiais como areia ou brita? 7. O pedreiro precisa saber calcular volume? Há relação entre o volume calculado na obra e o volume calculado na escola? 24 Atividade 8 Na figura abaixo estão representados três degraus iguais de uma escada de cimento. Cada degrau é um prisma triangular com as dimensões indicadas: Considere uma escada com 20 degraus idênticos aos da figura. Obtenha o volume de concreto necessário para construí-la. Atividade 9 Fonte: Arquivo pessoal 25 Em uma construção são necessárias 8 colunas de concreto para sustentar o segundo piso, cada coluna tem a base quadrada de 20cmx20cm e com altura de 3m. Obtenha o volume em metros cúbicos para o gasto de concreto para as 8 colunas. 26 Considerações Finais A sociedade atual está em constante mudança, a cidadania e a matemática são consideradas temas fundamentais na educação. É imprescindível que as pessoas, no seu cotidiano utilizem conhecimentos matemáticos, não só para a compreensão do mundo que as rodeia, mas também como meio facilitador de relação social e desenvolvimento de sua civilidade. Tal atitude pode contribuir para a mudança social, especificamente na justiça, na inclusão e na solidariedade. Ao pesquisar os profissionais da construção civil, apesar de observar que a grande maioria possui baixa escolaridade, percebi que desenvolveram capacidade para certos cálculos matemáticos ao longo da vida, acumulando estes esquemas através da experiência profissional e de conhecimentos que os mais antigos lhes ensinaram. Isto não sugere que estes conhecimentos e processos matemáticos, que não foram aprendidos na escola, mas em contexto profissional, não tenham uma forte ligação com a matemática que se aprende e se ensina nas escolas. No trabalho aqui desenvolvido, percebemos que o conhecimento matemático dos pedreiros em sua profissão pode e deve interagir com o conhecimento matemático escolar. É neste sentido que se compreende a matemática como saber universalmente construído, incluindo ali o cotidiano das profissões. O mais interessante na prática profissional dos pedreiros, é que a matemática não é isolada e sim englobada no contexto de suas atividades, não se desvinculam os cálculos, eles emergem no ambiente de trabalho de uma forma natural, sem perder a essência. É considerado um bom pedreiro aquele que utiliza cálculos matemáticos que solucionem os problemas que surgem no decorrer de sua atividade. Percebe-se que na atividade diária dos pedreiros, mesmo que de forma empírica, estão implícitos os mais diversos conteúdos escolares, tais como simetria, geometria, trigonometria, e principalmente os procedimentos de cálculo. Concluímos que a matemática escolar pode ser relacionada com a matemática praticada no cotidiano do grupo envolvido, e que a Etnomatemática está diretamente ligada ao contexto do trabalho, e deve contribuir para o desenvolvimento dos estudantes, tornando-os capazes de reconhecer que a 27 matemática por eles aprendida no âmbito escolar é a mesma utilizada nas práticas sociais. Tudo isso só servirá se conseguirmos com que os alunos percebam na matemática uma via para melhor viverem em sociedade, desenvolvendo a sua criatividade e tornando-se cidadãos críticos e conscientes. 28 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS D’AMBRÓSIO, U. Etnomatemática. Elo entre as tradições e a modernidade. Coleção Tendências em Educação Matemática. 2ª Edição. Belo Horizonte, Autêntica, 2002. _____. – Curso: Um Olhar Etnomatemático para a Educação Matemática, 2001, disponível em: <http://www.fe.unb.br/etnomatematica> - Acesso em 16/02/2010 às 10h55min _____. - Etnomatemática. São Paulo: Ática, 1990. KNIJNIK, Gelsa, et al, Organizadores. Etnomatemática Currículo e Formação de Professores. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2004. PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Básica: Matemática, Secretaria de Estado da Educação do Paraná, 2008. Imagens disponíveis em: <Arquivo Pessoal da Autora> <http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive> - Acesso em 05/04/2010 às 13h12min <www.ceramicasantamariaro.com.br> - Acesso em 05/04/2010 às 13h34min < http://www.ebanataw.com.br> - Acesso em 06/04/2010 às 09h <http://www.forumdaconstrucao.com.br> - Acesso em 05/07/2010 às 13h 29