MUROS, PRÉDIOS E ESCADAS Cícero de Oliveira Holmer, São Paulo – SP ♦ Nível Avançado. Há um clássico problema de máximos e mínimos cujo enunciado envolve um prédio (tão alto quanto se queira) e um muro de altura h, à uma distância d deste prédio. Pretende-se colocar uma escada, apoiada no muro, a partir do solo e alcançando o prédio, conforme o esquema: h d Pergunta-se então o seguinte: Qual é o comprimento mínimo da escada? Vamos montar um modelo, considerando um triângulo retângulo ABC e um retângulo APQR inscrito neste triângulo: C Q R θ B P A Sendo PQ = a, QR = b e m( ABˆ C ) = θ , temos: a b + BC = BQ + QC = Assim, . senθ cos θ a. cos θ b ⋅ senθ + f ' (θ ) = − sen 2θ cos 2 θ BC = f (θ ) Para termos BC mínimo, é preciso que f ' (θ ) = 0, isto é, − ⇔ b ⋅ senθ a ⋅ cos θ sen 3θ a a = ⇔ = ⇔ tgθ = 3 2 2 3 b sen θ cos θ cos θ b (I). e a ⋅ cos θ b ⋅ senθ + =0 sen 2θ cos 2 θ Pelo teorema de Pitágoras, BC 2 = BA2 + AC 2 ⇔ BC 2 = ( BP + PA) 2 + ( AR + RC) 2 = 2 a = + b + ( a + b ⋅ tgθ ) 2 . Como BC deve ser mínimo, de (I), temos: tgθ 2 2 2 2 a a + b + a + b ⋅ 3 = 3 a 2 ⋅ b + b + a + 3 a ⋅ b 2 = BC 2 = b 3 a b = a ⋅ 3 a ⋅ b2 + 2 ⋅ b ⋅ 3 a2 ⋅ b + b2 + a2 + 2 ⋅ a ⋅ 3 a ⋅ b2 + b ⋅ 3 a2 ⋅ b = 3 3 = a 2 + 3 ⋅ a ⋅ 3 a ⋅ b 2 + 3 ⋅ b ⋅ 3 a 2 ⋅ b + b 2 = 3 a 2 + 3 b 2 ⇔ BC = 3 a 2 + 3 b 2 . 3 3 h 2 + 3 d 2 . Vamos agora considerar uma situação com valores numéricos (talvez você possa aproveitar melhor o que vem a seguir tendo em mãos papel, caneta e, se possível, uma boa calculadora). A partir de um triângulo retângulo bem conhecido, de lados 3, 4 e 5, e outro triângulo semelhante, por exemplo o de lados 9, 12 e 15, podemos montar a figura: Portanto, o comprimento mínimo da escada deve ser C 10 m 9m Q 5m 3m B 4m P 8m A Formulamos, então, o seguinte problema: Se o muro tem 3 metros de altura, a distância do muro ao prédio é igual a 8 metros e a escada tem 15 metros de comprimento, poderíamos afirmar que a distância do pé da escada ao muro é igual a 4 metros? Vejamos: O menor comprimento possível da escada é de metros. ( 3 ( 9 + 4) 32 + 3 8 2 = 3 3 ) 3 Pode-se verificar que 3 9 + 4 < 15, e isto quer dizer que há duas maneiras distintas de posicionarmos a escada e, portanto, existem duas distâncias possíveis do pé da escada ao muro. Vamos então, novamente, montar um modelo: C 15 Q 3 B P X 8 A Uma solução possível, claro, é x = 4 metros. Busquemos a outra solução: 15 ⋅ x BP BA x x+8 = ⇔ = ⇔ BQ = 15 BQ BC BQ x+8 ∆PBQ ~ ∆ABC , logo No ∆BPQ temos 2 15 ⋅ x 4 3 2 x = BQ − 3 ⇔ x = − 9 ⇔ x + 16 ⋅ x − 152 ⋅ x + 144 ⋅ x + 576 = 0 x+8 Aplicando-se o algoritmo de Briot-Ruffini, obtemos: 2 2 2 2 1 1 16 20 –152 –72 144 –144 576 0 4 Assim, a outra solução é raiz de x 3 + 20 x 2 − 72 x − 144 = 0. É possível mostrar que essa equação tem duas raízes reais negativas e uma raiz real positiva, que é aproximadamente 4,3274534… e pode ser escrita como − 1567 arccos 4 154 154 − 5 (ver por exemplo [3] para um método de 154 ⋅ cos 3 3 resolução de equações do terceiro e quarto graus). Assim, as possíveis distâncias do pé da escada ao muro, são de 4 metros e de 1567 arccos − 4 154 ⋅ 154 5 4,3274534... metros. − = ⋅ 154 . cos 3 3 Referências Bibliográficas [1] Piskunov N., Cálculo Diferencial e Integral, Tomos I e II, Ed. Mir 1977 [2] Demidovitch B., Problemas e Exercícios de Análise Matemática, Ed. Mir 1978 [3] Moreira, C.G., Uma solução das equações do terceiro e quarto graus, RPM 25, pp. 23-28.