○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Carlos Resende 104 Resende o novo “mister” Aos 35 anos, Carlos Resende cumpre a sua primeira experiência como treinador da equipa sénior de andebol do FC Porto. O mais conceituado jogador a nível nacional tem agora em mãos o projecto que pretende levar ainda mais longe o nome dos dragões na modalidade, a par de uma forte aposta na formação. Texto: Marta Almeida Carvalho Fotos: Virgínia Ferreira A í está o novo treinador da equipa de andebol do FC Porto, Carlos Resende. O atleta, que já foi distinguido com a medalha de mérito desportivo e duplamente Dragão de Ouro, dispensa apresentações e abraça agora um projecto importante no clube azul e branco. Depois de uma carreira recheada de títulos – “os títulos são sempre bem-vin- dos apesar de efémeros” – Resende espera por muitos mais como técnico. O convite partiu do professor José Magalhães, antecipando uma ideia já construída anteriormente. “Em 2004 fiz o curso de treinadores ministrado pela Federação Portuguesa de Andebol já com algumas perspectivas nesse sentido”, conta. Mas quando lhe dirigiram a proposta confessa que não estava à espera. “O grande prazer da minha vida era o de ser jogador de andebol. O meu sonho não era ser treinador mas isto resulta de uma forma de continuar perto do jogo”, confessa. “O jogo em si é o que me alicia. Todos sabem que adoro andebol e esta vai ser mais uma etapa da minha vida”. Orgulho tem no facto da sua nova carreira começar por um lugar «de topo». “Iniciar estas funções logo no FC Porto é para mim motivo de orgulho”. A grande identificação com o clube, aliada ao seu comportamento e a uma postura sempre correcta foram, de alguma forma, fundamentais para chegar a esta nova posição. E o que mudou da sua condição de jogador para a de técnico? “Agora ando sempre rouco. Tenho de falar bem mais alto para que me ouçam dentro do campo”, conta com humor. A responsabilidade dobrou mas a perspectiva sobre o jogo mantém-se. “Já tinha algumas ideias que resultam da riquíssima experiência com os excelentes treinadores que tive e que fui conhecendo. Claro que agora, no jogo propriamente dito, tenho uma atitude mais estática”. A relação com os outros jogadores, muitos deles seus colegas de equipa, mantém-se boa, muito baseada em vínculos de amizade e confiança já existentes. “Não só eles me compreendem melhor, como eu já os conheço bem. A nossa relação não vai mudar em nada até porque, para mim, a hierarquia não tem de ser dada pelo cargo. O mais importante é que nos reconheçam capacidades de motivação e de liderança e acho que isso já acontecia connosco”. Agora, como líder, não quer uma equipa «moldada» à sua imagem. “A equipa não deve ser a imagem do treinador. O modelo de jogo defendido pelo treinador é que deve ser adaptado às qualidades individuais do plantel”, explica. “Um treinador não é mais do que um gestor de 105 recursos humanos, que tem de rentabilizar esses aspectos”. Viva! Local Viva! Local D E SG P A O DR O T O J O R O curso e a cidade Carlos Resende interrompeu o seu curso de Engenharia Civil e optou, depois por frequentar o de Gestão do Desporto. “Isto coincidiu com uma altura em que Local Local Local Local Local Local Local Local Local Local Local Local Local Local Local Local ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Carlos Resende Viva! Local houve um problema entre a Liga e a Federação e em que os principais jogadores não foram convocados para a Selecção Nacional. Na época de exames tive mais tempo para estudar e verifiquei que era possível, jogando só no FC Porto, ter tempo para o meu curso. Tive uma conversa com o presidente da Federação e foi aí que fiz o meu último jogo ao serviço da equipa nacional”, conta. “Estes dois anos foram muito positivos e consegui terminá-los 106 nas épocas normais de exames, como qualquer outro aluno. Fal- ta-me cerca de ano e meio para conclui-lo”. As mudanças de que a cidade do Porto foi alvo nestes últimos anos são notórias para o técnico. Algumas agradam- lhe, outras nem por isso. “A chegada do Metro é, para mim, um dos factores mais importantes para a região. As acessibilidades melhoraram, em toda a área metropolitana, com esta infra-estrutura”, diz. A construção do Estádio do Dragão e o melhoramento de toda a sua envolvência também agrada bastante ao técnico. “Este estádio é maravilhoso. Tem uma enorme qualidade e é um espaço de dimensão mundial que veio contribuir para o desenvolvimento de toda a zona das Antas”. Agora só falta mesmo a construção de um espaço multifacetado para servir as outras modalidades do clube. “Este é um sonho de todos nós, inclusive da direcção, que tem vindo a demonstrar muito interesse e motivação nesse sentido”, refere. Relativamente a mudanças que não lhe agradaram, a nova face da Avenida dos Aliados é uma delas. “Decididamente não gosto. Transformou-se um espaço agradável e colorido numa avenida completamente “betonada”. Os jardins, o verde e as pombas eram símbolos dos aliados e per- deram-se estes ex-libris da avenida”, lamenta. A relação que mantém com a cidade continua excelente e tem vindo a estreitar alguns laços. As críticas que faz são sempre construtivas. “Tenho uma grande admiração pelo Porto. Com o passar do tempo vamos conhecendo novos pormenores aqui e ali”. Apesar dos poucos tempos livres, Resende gosta de passear e conhecer a cidade. “Os meus momentos de lazer, diminuíram. Mas sempre que posso faço-o”. Também aproveita esses momentos para estar com a família. “Tento passar o tempo livre com minha mulher e as minhas filhas. Em época de escola é tão complicado. O dia-a-dia é passado nos treinos e jogos e sobram poucos momentos de lazer”, diz. As férias são sempre aproveitadas nesse sentido. “São passadas a quatro. O destino tem sido sempre praia e aproveitamos para «estar connosco»”, conta. Desde que chegou de férias os tempos livres são quase nulos. “Havia uma época inteira para planear e um vasto conjunto de situações para definir. A tarefa é mais ambígua e é a primeira vez que estou a realizá-la, daí ter de me empenhar mais a fundo”, explica. Agora vai mostrar o que vale como treinador até porque o seu valor como atleta da modalidade já está mais do que provado. O novo desafio agrada-lhe e promete tudo fazer para continuar na senda de campeão. Viva! Local D E S P O R T O 107 Local Local Local Local Local Local Local Local Local Local Local Local Local Local Local Local