Helena, porque é que as nuvens são doces? Era um dia de Primavera. O céu estava azul, com nuvens que formavam mil e uma formas, passarinhos cantavam, as papoilas dançavam a encantadora música do vento, Laguna corria pelos campos verdes e Helena cantava e dançava como se tudo lhe pertencesse. Helena tinha 10 anos, longos cabelos loiros como os das princesas das histórias de encantar, olhos azuis como as águas límpidas e brilhantes do rio que passava perto da sua casa, pele pálida como a de uma holandesa e o típico sorriso de uma criança feliz. Laguna, a cadela da família (e sua melhor amiga), balançava o seu corpo rechonchudo e peludo pelos campos fora… Decerto que ao longe se confundiria com uma ovelha de tão gordinha que era! Laguna parou de correr e começou a ladrar. Um corpinho pequenino e agitado saiu por trás de umas árvores a correr em direção da cadela. - Heuena! Heuena! Era Hugo, um rapazinho de 4 anos e irmão de Helena. Hugo e Helena eram como a noite e o dia: enquanto Helena era tão branquinha e loira, Hugo tinha cabelo tão negro como a noite mais escura do ano e era moreno. Apenas os olhos eram como duas gotas de água: iguais e azuis. Helena amava o seu irmão mais que tudo, mas por vezes achava-o um tolinho com duas perninhas frágeis. Helena ensinava tudo o que sabia ao seu irmãozinho: contar estrelas, cantar como um rouxinol, dançar como uma bailarina, desenhar como “Da Vinci”, falar tão bem como os adultos (e dizer bem o nome Helena), tocar piano e mais tudo o que achava essencial. - Mano, senta-te aqui.- Disse, deitando-se na relva. Hugo correu até à sua irmã e deitou-se ao lado de Laguna, que se tinha já deitado no colo de Helena. Helena disse para ele observar as nuvens: - E aquela ali é uma dociculous nuvius, ou seja uma nuvem doce. Bem, na verdade são todas doces. São feitas de algodão doce sem corantes. - Heuena, que são couantes?-Perguntou Hugo arregalando os olhos. 1 - Corantes, mano, co-ran-tes. São as corzinhas que a mamã põe nos queques que faz aos domingos. - Ah! Heuena, existem dagões que comem nuvens? - Não sei… Dragões acho que não, mas existem fadas gordas que tentam comer as nuvens do céu, mas as nuvens ficam tão zangadas que fazem por vezes grandes tempestades para as afugentar. - Se eu comesse uma nuvem pequenina a mamã dela ficava tiste e zangava-se comigo? - Claro maninho, mas se ela se zangasse contigo eu iria proteger-te! Mas achas que a nossa mamã ia ficar feliz se te comessem? - Hugo abanou a cabeça para os lados.- Então também não podes comer nenhuma nuvem! - Hugo não vai comê, Heuena. Hugo não come. - Ahahaha! - riu-se Helena e Laguna começou a ladrar. Helena fechou os olhos por um breve momento, pois Hugo não parava de se mexer e cantarolar. Mas, quando Helena ia para o mandar calar, Hugo fez uma pergunta interessante… - Heuena, poque é que as nuvens são doces? Helena pensou um bocado… Porque é que as nuvens são doces? Porque é que as nuvens são doces? Ora, porque é que as nuvens são doces? Helena abriu a boca, e, nesse preciso momento começou a chover, a chover e a chover! Um segundinho depois, apareceram os relâmpagos e os trovões! E depressa se formou uma tempestade de arrepiar! - Heuena, tenho medo… A nuvem zangou-se connosco… Helena, desesperada, agarra em Hugo e corre pelos campos fora com Laguna no seu encalce. Mas Hugo, sempre a tremer e a escorregar do colo de Helena, cai no chão e rebola colina abaixo. Helena tenta agarrá-lo mas… Hugo bate numa rocha. Helena chama-o mas tudo o que vê são gotas de água à sua frente. Laguna corre em direção a Hugo e Helena segue-a… --------------//-------------- 2 - Hugo, queres vir dar um passeio? Hugo encolheu os ombros. Depois do acidente raramente falava. Ficou amnésico e, mesmo quatro anos depois, não falava sobre nada do passado, ou até mesmo do dia em que bateu com a cabeça numa rocha. Helena abriu a porta de casa para ele passar. - Espera por mim no portão irmãozinho, já vou ter contigo. -Hugo dirigiu-se ao portão apenas com um aceno de cabeça.- Mãe, vou levá-lo àquele sítio. -Tenho medo filha, tenho medo que ele fique pior. - É o único jeito de saber se ele se lembra de alguma coisa. O Hugo era divertido, único! Ele agora não se parece com nada! Parece um zombie! É meu irmão e vou fazer de tudo para trazer o verdadeiro Hugo de volta. Helena e Hugo subiram os mesmos montes de há quatro anos atrás e, quando subiram ao último monte, “O Monte das Nuvens”. Helena ficou com as lágrimas nos olhos. Tantas recordações… Hugo franze um olho e olha para o céu… O céu estava azul, nuvens brancas decoravam o céu… - Helena, porque é que as nuvens são doces? Helena chorou… Chorou durante um minuto, e com a voz embargada respondeu: - Porque as nuvens são feitas dos nossos maiores sonhos. E esses são sempre doces e com um final feliz. Autora: Rita Tavares 8º Ano 3