A SOLIDARIEDADE E A CARIDADE Os bons exemplos são sempre de louvar. E, em época de crise económica, os exemplos de solidariedade e de entreajuda adquirem especial relevância, também por contribuírem para o renovar da esperança naquilo que são os valores mais nobres do homem como os da solidariedade e da partilha. O exemplo que aqui gostaria de realçar é o da Loja Social de Albergaria dos Doze, inaugurada há cerca de ano e meio. Aparentemente igual a qualquer loja - vende roupas, calçado e brinquedos – mas cada peça custa apenas 1 Euro!. A ideia é simples, o desperdício pode e deve ser aproveitado, sobretudo, se for para ser reutilizado em condições dignas e em favor de quem mais precisa. Esta Loja só “vende” produtos que lhe são doados depois de devidamente limpos e tratados. Ao dar este exemplo não o fiz de forma inocente, mas sim porque esta ideia partiu justamente da mão de Teresa Guapo, deputada municipal na Câmara de Pombal, farmacêutica no Concelho de Albergaria dos Doze e porque gostaria de o confrontar com um outro que se tem falado muito ultimamente que é a distribuição gratuita de medicamentos a seis meses de verem expirado o prazo de validade. No nosso ponto de vista, esta medida do Programa de Emergência Social, prometido por Passos Coelho para proteger os mais vulneráveis em tempo de austeridade, já não é um simples e meritório gesto de solidariedade, mas antes de uma certa caridade que importa esclarecer e denunciar. Aparentemente de louvar, para os mais distraídos, esta medida é na verdade inaceitável porque indigna do ponto de vista moral e ético e inaceitável do ponto de vista da nossa cultura civilizacional, a medida rotula e segrega concidadãos, porque mais desfavorecidos, dando-lhes um bem que aos outros já não serve! O problema, aqui, é que neste caso não se trata do casaco ou da camisa, mas sim de um bem essencial como é o medicamento que implica directamente com a saúde dos indivíduos. Num país onde o desperdício de medicamentos é sobejamente conhecido, há recursos e políticas para que todos tenham acesso aos medicamentos por direito próprio, bem como para que esse acesso seja promovido em condições de segurança e de equidade, assim se promovam as políticas necessárias, as quais tenho vindo, reiteradamente, a abordar nestas crónicas, criando-se espaço para a racionalidade terapêutica e para a obtenção de ganhos de eficiência. Coimbra, 19 de Setembro de 2011 Paulo Fonseca Director Geral PLURAL – COOPERATIVA FARMACÊUTICA, CRL