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Uma linha de continuidade.
A exposição que é hoje inaugurada na Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva,
Transitions: Honoring the past, moving ahead (Transições: Honrar o passado, seguir
em frente) convoca uma reflexão sobre as transformações que o nosso modus
vivendi tem incorporado desde os acontecimentos trágicos de 11 de Setembro de
2001. O seu epicentro, localizado nos Estados Unidos da América, afectou o mapa
global que hoje constitui a nossa geografia cultural e política, recolocando a
insegurança e a precariedade na vivência do quotidiano em detrimento da
estabilidade e do que é transitório e transformador mas perene.
É neste sentido que a exposição de obras da colecção da Fundação LusoAmericana, organizada em estreita colaboração com a Embaixada dos Estados
Unidos da América, reflecte uma atitude consciente da necessidade de
reinterpretar o passado sem perder de vista a produção cultural e artística do
seu tempo, expressa nas obras dos artistas escolhidos.
A exposição, a primeira da colecção de arte contemporânea da Fundação LusoAmericana realizada nas instalações do museu da Fundação Arpad Szenes-Vieira
da Silva, é também um momento de celebração entre estas duas instituições, que
têm colaborado, desde a criação da segunda em 1990, na promoção de exposições,
colóquios, conferências e outras manifestações artísticas que têm como objectivo
contribuir para o conhecimento da arte contemporânea e para o desenvolvimento
da cultura e educação artísticas.
A escolha das obras incidiu sobre pequenos núcleos da produção de quatro
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autores portugueses – Joaquim Bravo, Fernando Calhau, José Pedro Croft e
Álvaro Lapa – e do norte-americano Joel Shapiro, exemplificando a presença e a
importância do desenho no corpo da colecção da Fundação iniciada sob este
postulado na década de oitenta.
Com esta exposição não se pretende dar a ver a amplitude do acervo
coleccionado ou unificar o trabalho dos autores sob a égide de uma disciplina ou
tema, mas permitir uma relação tão próxima quanto possível – num espaço
concentrado – com obras que representam uma prática artística assumidamente
autónoma, e por isso singular, do trabalho que cada um dos artistas desenvolveu
no período de três décadas – da década de setenta à década de noventa – que se
revelou vital para o desenvolvimento do contexto artístico, com especial relevo
para o desenho, entre outras formas de expressão contemporânea.
No texto do catálogo da exposição realizada no Museum of Modern Art (MoMA)
em Nova Iorque no ano de 2005, “Drawing from the Modern, 1975-2005”, Jordan
Kantor refere-se de forma peculiar a este momento recente da história da arte na
seguinte passagem:
The years of the mid-1970s offer a particularly pointed case study
because the previous generation had provided precious few obvious
paths for younger artists to follow. This may help explain why the
second half of the decade was such a productive time for the practice of
drawing in particular. Typically considered the most immediate for
artistic mediums, drawing is usually associated with sketching – with
first ideas and provisional forays – and, indeed, this transitional time
witnessed a flourishing of works on paper. Not only was a younger
generation of artists literally trying to draw themselves out of a moment
of relative artistic stasis, the medium was attaining a hitherto
unprecedented public profile.1
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Cf. Jordan Kantor, After the Endgames, Drawing from the Modern, 1975- 2005, Museum of Modern Art, New
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Neste sentido, a noção de transição, de passagem de um momento ao seguinte,
como uma transformação em contínuo progresso (work in progress), pode ler-se
– amplificando a pregnância dos factos históricos – como indício de
experimentação e de liberdade no interior de cada obra exposta e na relação
destas com o legado dos movimentos artísticos do pós-guerra, dos quais estes
artistas presentificam uma linha firme de continuidade.
João Silvério
Setembro 2011
York, 2005, p.14.
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