A IMAGEM NA SALA DE AULA:
UMA PROPOSTA DE PROJETO DE TRABALHO
Gabriela Gonçalves da Silva1
Jonney Gomes de Freitas Abreu2
Marielli Gomes Mendonça3
Mônica Mitchell de Morais Braga4
Murilo Raphael Dias Cardoso5
RESUMO: Este trabalho é resultado das discussões realizadas na disciplina de Núcleo Livre:
Projetos de Trabalho para o Ensino Fundamental da Universidade Federal de Goiás. Na tentativa de
encontrar respostas para alguns questionamentos surgidos no decorrer da disciplina, o grupo,
constituído por uma professora de arte e acadêmicos das áreas de geografia, química e educação
física, partiram da seguinte pergunta: Há possibilidade da construção de um projeto interdisciplinar
unindo áreas de conhecimento aparentemente tão diferentes? Para tentar responder a este
questionamento e como resultado dessas reflexões, apresenta-se uma proposta de projeto de
trabalho com foco na cultura visual, que tem como objetivo contribuir para o processo de ensino e
aprendizagem no ensino fundamental.
PALAVRAS-CHAVE: Imagem, Cultura visual, Projetos de trabalho, Ensino fundamental.
Este artigo é resultado das discussões realizadas na disciplina de Núcleo Livre Projetos de
trabalho para o Ensino Fundamental oferecida pela Faculdade de Artes Visuais da Universidade
Federal de Goiás.
A partir da variedade nos cursos dos alunos inscritos na referida disciplina, surgiu o
interesse em elaborar um projeto de trabalho onde fossem contempladas estas diversas áreas.
Primeiramente, apresentamos como surgiu nosso interesse pelo tema. Em seguida, a base
conceitual que delineou essa proposta pedagógica. Mais adiante descrevemos a proposta do projeto
de trabalho. Por fim, ressaltamos pontos de reflexões para intervenções futuras.
1
Acadêmica do 6º período do curso de Educação Física da UFG. [email protected]
Acadêmico do 8º período do curso de Química da UFG. [email protected]
3
Acadêmica do 4º período do curso de Educação Física da UFG. [email protected]
4
Mestre em Cultura Visual/UFG. [email protected]
5
Acadêmico do 6° período de Geografia da UFG. [email protected]
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1
O contexto da pesquisa
Oferecida pela Faculdade de Artes Visuais (FAV) da Universidade Federal de Goiás
(UFG), os encontros da disciplina de Núcleo Livre Projeto de Trabalho para o Ensino
Fundamental aconteciam nas quintas-feiras com carga horária total de 32 horas no primeiro
semestre de 2009.
Os alunos presentes nesta disciplina eram advindos dos seguintes cursos: Geografia,
Química e Educação Física, todos da modalidade licenciatura. Com essa variedade de áreas de
conhecimento, surgiu a proposta de elaborarmos um projeto de trabalho que fossem contempladas
estas áreas. A pergunta principal era: Há possibilidade da construção de um projeto interdisciplinar
unindo áreas de conhecimento aparentemente tão diferentes?
Para tentar responder a essa pergunta nos fundamentamos principalmente nos autores
Fernando Hernández e Montserrat Ventura que em seu livro A Organização do Currículo por
Projetos de Trabalho (1998), abordam aspectos a serem levados em conta no desenvolvimento de
um projeto.
As discussões partiram inicialmente dos estudos destes autores, avançando para os estudos
da cultura visual. A cultura visual nesse contexto surge como “um campo de conhecimento mestiço
sobre o qual poderia contribuir para construção de uma história do olhar [...]. Isso significa aceitar
que os objetos não têm vida, mas sim adquirem sentido pela experiência de quem os olha e os
possui” (HERNANDEZ & VENTURA, 1998 p. 128). Ainda segundo estes autores,
As imagens são mediadoras de valores culturais e contêm metáforas nascidas da necessidade social
de construir significados. Reconhecer essas metáforas e seu valor em diferentes culturas, assim
como estabelecer as possibilidades de produzir outras, é uma das finalidades da educação para a
compreensão da cultura visual (p.133).
Com intuito de conhecer as áreas de conhecimento de cada um dos integrantes foi proposto
um seminário que abordasse como as imagens eram representadas nessas áreas.
O passo seguinte foi à elaboração do projeto de trabalho a partir desses conhecimentos.
Como a proposta da disciplina era o ensino fundamental optamos pelo 9º ano.
Segundo as Diretrizes Curriculares para a Educação Fundamental da Infância e da
adolescência: ciclos de desenvolvimento humano da prefeitura de Goiânia:
A adolescência se constitui como um momento importante no desenvolvimento da criatividade, do
raciocínio e formulação de hipótese. Para o adolescente é fácil imaginar soluções para os
problemas da humanidade, nem sempre levando em conta a distancia entre o possível e o sonhado.
É este exercício que estimula o potencial criativo, tornando-se assim desejável e necessário.
(GOIANIA, 2009, p.86)
2
Os estudantes precisam ser estimulados a desenvolver o intelecto e a imaginação, para
desafiar as representações sociais, políticas e econômicas que permeiam suas vidas. Para isso os
estudantes devem ser trabalhados a pensar criticamente. Os jovens devem aprender a justapor
diferentes perspectivas do mundo contra o caráter inquestionável que algumas verdades supõem ter
(BRAGA, 2006).
Foram propostos projetos envolvendo cada área do conhecimento. Cada proposta deveria
abordar a imagem como “fio condutor”. O objetivo foi apresentar imagens que representassem a cultura
na qual foram produzidas e favorecessem a interpretação dos diversos pontos de vista, questionando a
idéia de versão única de representação da realidade. A intenção era refletir como professores e alunos
estão sujeitos a construir maneiras de ver e de elaborar interpretações sobre as imagens.
Os projetos de trabalho: uma proposta possível?
Segundo Hernández,
A função do projeto é favorecer a criação de estratégias de organização dos conhecimentos
escolares em relação a: 1) O tratamento da informação, e 2) A relação entre os diferentes
conteúdos em torno de problemas ou hipóteses que facilitem aos alunos a construção de seus
conhecimentos, a transformação da informação procedente dos diferentes saberes disciplinares em
conhecimento próprio (1998, p.61)
O exercício que construímos na sala de aula foi o de percorrer os aspectos a serem levados
em conta no desenvolvimento de um projeto sugerido por Hernandez e Ventura. É o que faremos a
seguir:
A escolha do tema
O tema surgiu a partir da pergunta: Há possibilidade da construção de um projeto
interdisciplinar unindo áreas de conhecimento tão diferentes? A escolha recaiu sobre a imagem.
Explorar as representações visuais que os indivíduos, constroem da realidade era o objetivo desse
projeto de trabalho.
A atividade do docente após a escolha do projeto
A partir dos projetos apresentados no seminário pela professora e por cada
aluno/pesquisador, definimos que o foco seria como as imagens são construídas culturalmente.
Começamos então, a realizar uma primeira previsão dos conteúdos. Escolhemos nos guiar a partir
das Diretrizes Curriculares para a Educação Fundamental da Infância e da adolescência – Ciclos de
desenvolvimento humano, da Prefeitura de Goiânia.
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De posse desse documento, analisamos os objetivos contidos no ciclo III. A organização
em ciclo de formação e desenvolvimento humano é pensada com base nos tempos da vida e
possibilita o desenvolvimento dos estudantes nas especificidades dos seus tempos por ciclos:
infância, pré-adolescência e adolescência. Cada ciclo corresponde a três anos.
A seleção deu-se a partir dos seguintes objetivos:
Na área de Arte – Compreender a arte em suas diversas manifestações como produto
cultural e histórico em evolução, sua relação com as sociedades e com o trabalho, bem como os
valores e funções estéticas que foram a ela atribuídos por diferentes povos em diferentes
épocas.
Na área das Ciências – Compreender que a ciência utiliza-se de modelos para explicar
fenômenos e que tais modelos estão necessariamente relacionados ao contexto histórico, político,
econômico e cultural.
Na área da Geografia – Ampliar noções de lateralidade e proporcionalidade,
desenvolvendo habilidades básicas para a elaboração de plantas, mapas, croquis, gráficos, tabelas e
interpretá-los; Compreender os diferentes processos de regionalização, situando-os temporal e
espacial em diferentes perspectivas sociais.
Na área da Educação Física – Refletir de forma crítica acerca da cultura corporal e de suas
inter-relações com a sociedade; Construir experiências acerca da dança a partir da auto-organização
e participação coletiva, superando tabus e preconceitos.
A atividade dos alunos após a escolha do projeto
Inicialmente a proposta seria a discussão do projeto através de um seminário com os
estudantes. Nesse momento todos os pesquisadores envolvidos, explicitariam seus saberes com
propostas articuladas entre as áreas citadas. A participação dos alunos opinando diretamente no
desenvolvimento deste projeto propicia um clima de envolvimento e de interesse no grupo.
A busca da fonte de informação
Cada disciplina, a partir deste tema gerador – a imagem, buscaria os recursos necessários
para o desenvolvimento do projeto.
Na Educação Física – Dança como manifestação cultural, estudo sobre os diversos tipos de
danças. Dança moderna, dança folclórica. Pesquisa sobre as influências da cultura na dança. Ida ao
teatro para assistir uma apresentação de dança, aula com professor de hip-hop. Divididos em grupos
apresentar um tipo de dança. Apresentação dos trabalhos sobre cultura e dança.
Na Geografia – Estudo do Espaço por Sensores Remotos. Dar noções de proporcionalidade,
para que o estudante tenha uma visão da Terra em um todo; Noções de cartografia, fusos, paralelos e
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meridianos. Promover no laboratório de informática atividades relacionadas ao estudo do planeta por
meio de imagens de satélite.
Na Química – a utilização de imagens na construção de modelos moleculares. Modelos
químicos. Modelo termodinâmico. Transmitir ao estudante noções sobre os variados graus de
agitação que uma molécula possui quando a sua temperatura é alterada. Definir o conceito de calor
através interações moleculares, em que os alunos utilizem do seu corpo para representar os estados
físicos da matéria. Modelo molecular - confecção de modelos, melhorando a visualização de
moléculas representativas do nosso cotidiano. Representar as principais reações químicas
envolvidas no fenômeno efeito estufa, agravado por diversas ameaças ecológicas (produtos tóxicos,
que são compostos químicos).
Na Arte – a análise de imagens da história da arte e da publicidade e propaganda. Imagem
de René Magritte Dois mistérios de 1966. Propagandas escolhidas pelos alunos. A representação
visual enquanto cultura.
Todos estes conteúdos seriam tratados a partir da pergunta: Como se constroe uma
imagem? Por que vemos o que vemos? Como são criadas as representações de um objeto?
Fernando Hernández, no prefácio do livro de Teresinha Franz (2003), nos diz que “é
importante pensar sobre as perguntas quando se pretende facilitar atos de compreensão” pois “uma
pergunta que não problematiza não ajuda a compreender” (p.10).
O que Hernández propõe é uma compreensão crítica da Cultura Visual. Isto significa que
devemos levar em conta que as imagens são discursos que constroem relatos do mundo social. Para
compreendermos melhor esses discursos é preciso desenvolver estratégias que permitam
posicionamentos críticos diante deles. Não podemos esquecer, todavia, que a construção do
conhecimento ou da sua interpretação é determinada pelas características da cultura em que o
indivíduo vive (BRAGA, 2006).
O estudo que apresentamos é uma proposta de um percurso possível para um projeto de
trabalho que tem como referência o aporte teórico e as posições expostas até aqui, e se fundamenta
na necessidade de oportunizar a compreensão das diversas interpretações que damos as imagens.
Não será possível colocar todas as questões que podemos suscitar nessa pesquisa. Como
nos lembram Hernández e Ventura, “talvez porque a busca de um equilíbrio entre a explicação e a
reflexão sobre a prática tenha que significar forçosamente (e pela novidade da tentativa) o deixar no
ar alguns detalhes importantes (1998, p.147)”.
Conscientes das infinitas dificuldades, que possamos encontrar ao propor um projeto com
áreas disciplinares tão diferentes, acreditamos que é preciso pensar e experimentar mudanças no
modo de organizar os saberes escolares.
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Referências Bibliográficas
BRAGA, Mônica Mitchell de Morais. Representações do trabalhador no modernismo brasileiro
dos anos 30 e 40: um projeto de trabalho em ensino de arte. Dissertação (Mestrado em cultura
visual). Universidade Federal de Goiás, Faculdade de Artes Visuais, 2006.
FRANZ, Teresinha Sueli. Educação para uma compreensão crítica da arte. Florianópolis, SC:
Letras Contemporâneas, 2003.
HERNÁNDEZ, Fernando. Cultura visual, mudança educativa e projeto de trabalho. Porto
Alegre: Artes Médicas, 2000.
HERNÁNDEZ, Fernando; VENTURA, Montserrat. A organização do currículo por projetos de
trabalho: o conhecimento é um caleidoscópio. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.
PREFEITURA DE GOIÂNIA. Diretrizes curriculares para a educação fundamental da
infância e da adolescência: ciclos de formação e desenvolvimento humano. Goiânia: Rede
Municipal de Educação, 2009.
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a imagem na sala de aula: uma proposta de projeto de trabalho