SURTOS DE BABESIOSE BOVINA EM PROPRIEDADE DE MATELÂNDIA NO ESTADO DO PARANÁ QUATRIN, Sophie Caroline1 PASTORE, Lucas Maurício2 SILVA, Vanessa Gomes3 RESUMO A babesiose é uma doença parasitária dos eritrócitos sanguíneos que geram anemia hemolítica e os sinais clínicos característicos são febre, mucosas pálidas, icterícia e podendo até causar morte. Um animal utilizado para a produção leiteira de uma propriedade do estado do Paraná foi identificado com os sinais clínicos característicos da doença e no diagnóstico sanguíneo foi identificada a presença do protozoário nos eritrócitos. O tratamento foi feito com Diaceturato de Diminazeno, e outras medicações auxiliares, porém o animal não respondeu ao tratamento e consequentemente o ultimo recurso a ser utilizado foi à transfusão sanguínea. Após dois dias da transfusão sanguínea o animal começou a apresentar sinais de melhora, mas por estar muito debilitado, teve uma infecção bacteriana secundária e veio a óbito. PALAVRAS-CHAVE: Babesiose, tratamento, transfusão sanguínea. OUTBREAKS OF BOVINE BABESIOSIS PROPERTY IN THE MATELÂNDIA STATE OF PARANÁ ABSTRACT Babesiosis is a parasitic disease of the erythrocytes that generate blood hemolytic anemia and characteristic clinical signs are fever, pale mucous, jaundice, and may even cause death. An animal utilized for dairy production of a property of the state of Paraná was identified with clinical signs characteristic of the disease and diagnosis sanguine showed the presence of the parasite in the erythrocytes. The treatment was done with diaceturate of diminazene, and other adjunctive medications, however the animal did not respond the treatment and consequently last resort to be used was to blood transfusion. After two days of blood transfusion the animal began to show signs of improvement, but being very weak, had a secondary bacterial infection and came to death. KEYWORDS: Babesiosis, treatment, blood transfusion. INTRODUÇÃO A infecção por Babesia spp. pode ser chamada de várias maneiras, como babesiose ou tristeza parasitária bovina, se for associada a Anaplasmose causada pela rickettsia Anaplasma marginale (ALMEIDA 2006). A babesiose é causada pelo protozoário Babesia bovis e Babesia bigemina, que são transmitidas pelo carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus, o único vetor conhecido, que é muito comum ser encontrado em climas tropicais e subtropicas (ANTONIASSI 2009, GUIMARÃES 2011). São protozoários hemoparasitas, parasitas sanguíneos de eritrócitos (MARTINS 1996, MADRUGA 2000). A distribuição da doença no Brasil pode ser classificada como instabilidade ou estabilidade endêmica. A instabilidade se refere á regiões que possuem animais com baixo índice de anticorpos, ou que o clima é favorável para a doença, gerando assim surtos da doença. As regiões com estabilidade endêmica demonstra que dificilmente venham a ter surtos (GUIMARÃES 2011). Fazer estudos epidemiológicos de determinadas regiões é de extrema importância, pois pode avaliar a estabilidade endêmica, e revelar a possibilidade de surtos (SOARES 2000). Os sinais clínicos da infecção são febre, mucosas pálidas, icterícia, podendo até causar a morte. Esses sinais são decorrentes da patogenia do parasita, onde ocorrem inúmeras multiplicações dos protozoários dentro dos eritrócitos, que geram hemólise de quantidades significativas de hemácias, gerando uma grave anemia hemolítica, hemoglobinemia e hemoglobinúria (RODRIGUES 2005, ANTONIASSI 2009). Os diagnósticos para a babesiose são sorológicos, como o RIFI, reação de imunofluorescência indireta (GUIMARÃES 2011) e o teste de ELISA, que é imunoadsorção enzimática (JULIANO 2007). Pode-se também identificar através de distensão sanguínea e visualização dos eritrócitos parasitados em microscópio ótico, porém, só é possível em fase aguda da doença (MARTINS 1996). O controle da doença pode ser feita com a exposição leve de animais jovens com o agente, gerando imunidade contra o mesmo (D’ANDREA 2006). Estudos revelam que o combate contra o vetor pode ser negativo, pois o animal não terá contato com o agente, não produzindo anticorpos, e se vierem a entrar em contato com o agente, pode ocorrer surtos graves da doença (D’ANDREA 2006). Com base nos dados elaborados pelo autor Sacco (2001) a vacinação é eficaz no controle da doença, principalmente em regiões de instabilidades endêmicas, porém, os animais podem apresentar os sinais clínicos da doença. 1 2 3 Acadêmica do curso de Medicina Veterinária da Faculdade Assis Gurgacz. Acadêmico do curso de Medicina Veterinária da Faculdade Assis Gurgacz. Médica Veterinária. Mestre em Ciência Animal. Anais do 11º Encontro Científico Cultural Interinstitucional - 2013 ISSN 1980-7406 277 O tratamento é eficaz no diagnóstico rápido da doença. Para a babesiose a diamidina é a escolha padrão, para anaplasmose são as tetraciclinas, e se, não foi possível identificar qual o agente etiológico, ficando em dúvida entre as duas doenças, o correto seria a administração de dipropionato de imidocarb. Se o animal estiver muito debilitado e não responder ao tratamento, o correto é fazer transfusões sanguíneas, fluidoterapia, e manter em local calmo (SACCO, 2001). A babesiose tem um valor importante na produção, pois a mesma causa queda na produção de leite e carne, diminuindo os lucros e aumentando os gastos, com o tratamento. E ainda é uma zoonose de extrema importância (D’ANDREA 2006, MADRUGA 2000). Este trabalho tem como objetivo relatar um quadro de babesiose bovina em um animal de produção leiteira, quais os possíveis tratamentos e quais as alternativas que possam ser tomadas se o animal não responder ao tratamento inicial. Também tem o objetivo de avaliar quais as medidas de controle possam ser tomadas para evitar outros possíveis surtos da doença. RELATO DE CASO Um animal de espécie bovina, fêmea, raça holandesa, com 4 anos de idade, utilizada para a produção de leite, que reside em uma propriedade de Matelândia no estado do Paraná começou a apresentar sinais de apatia, anorexia. Esse animal foi contido para aferição de temperatura, avaliação de mucosa. A temperatura do animal estava em 40 graus e mucosas pálidas, com a suspeita de babesiose, por ser muito comum surtos de babesiose na propriedade, e assim o médico veterinário foi chamado para fazer o diagnóstico. Foi usada a técnica de distensão sanguínea e verificação ao microscópio, aonde foi identificado à presença do protozoário nos eritrócitos. No tratamento foi utilizado oxitetraciclina, administrado 70 ml, no caso de haver infecção também por Anaplasmose. Foi utilizado 40 ml de Mercepton por três dias, que é um antitóxico. Como analgésico, antipirético, antiinflamatório foi administrado 15 ml de Diclofenaco Sódico durante três dias. O Ferro Dextrano associado à vitamina B12 também foi utilizado neste caso, em 10 ml por três dias, para estimular a medula óssea na produção de células sanguíneas. E para o tratamento da babesiose o fármaco de escolha foi Diaceturato de Diminazeno, aplicado 55 ml em uma única dose. Cada animal responde de maneiras diferentes ao tratamento, alguns em 3 ou 4 horas já começam a procurar alimento, outros demoram 8 até 12 horas para apresentarem sinais de melhora. Esse animal não respondeu ao tratamento, e pelo protocolo, se em 48 horas o animal não melhorar, deve-se repetir a Oxitetraciclina e continua-se fazendo a aplicação do Ferro com Vitamina B12. Se tiver febre, aplica-se também o Diclofenaco. Foi repetido a Oxitetraciclina e a aplicação do Ferro com a Vitamina B12, ambos com a mesma dosagem. Aguardou-se 36 horas e o animal não obteve melhora, indicando a última tentativa, que é a transfusão sanguínea. Na transfusão sanguínea foi utilizado o sangue de vacas puras de origem, sadias, que não estavam recém-paridas ou próximas do parto, e com parentesco ao animal doente. Foi utilizada três vacas, e coletado 2 bolsas de cada uma, obtendo no total 6 bolsas de sangue, com 500 ml cada uma. O sangue foi administrado no animal doente pela veia mamaria, junto com um anti-histamínico para evitar qualquer reação alérgica. Para o tratamento de suporte continua-se administrando Ferro com Vitamina B12 e Catosal, que é um composto fosfórico associado à Vitamina B12 que atua com o Ferro, pois auxilia na perda de peso e reidratação do animal, por cinco dias. Com este protocolo o animal apresentou melhora em 2 dias, voltando a se alimentar, mas, infelizmente, no 3º dia pós-tratamento, veio a óbito. E através de necropsia pode-se identificar focos hemorrágicos e infecção bacteriana no pulmão e coração, sendo diagnosticada como pneumonia e endocardite a causa da morte, em decorrência ao animal estar debilitado e imunodeficiente. CONCLUSÃO Normalmente em propriedades onde temos o clima tropical e a presença de carrapatos, é inevitável não existir babesiose. A utilização de transfusões sanguíneas se mostrou eficaz no auxilio do tratamento. O controle nesta propriedade seria a exposição controlada dos animais jovens com o carrapato, para os mesmos adquirirem anticorpos contra a doença ou até mesmo a utilização de vacinas. Como não foi a primeira vez que a propriedade perdeu animais em decorrência a babesiose, ela esta classificada em instabilidade endêmica. 278 Anais do 11º Encontro Científico Cultural Interinstitucional – 2013 ISSN 1980-7406 REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. B.; TORTELLI, F. P.; CORREA, B. R. 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