DESIGN DE CADEIRA / PARÂMETROS PROJETUAIS
Sob a ótica da Ergonomia, o ato de sentar é tido como uma postura humana natural procurada
para aliviar a fadiga da postura em pé. Essencialmente, a cadeira significa a existência de um plano para
apoio das nádegas e um plano para apoio das costas.
Amarrada a esta definição, tem-se o conceito de posição. Isto é, da postura natural do ato de
sentar adotada pelo usúario, que deve manter suas costas eretas, de maneira a se posicionar numa
postura tal, que minimize as pressões nos seus discos intravertebrais, sem com isso criar tensões nos
músculos eretores do tronco, preservando-se a curvatura da coluna tanto quanto possível.
O ato de sentar, ocidental contemporâneo, pressupõe a melhor relação de acomodação entre o
usuário e a cadeira, tendo como ponto de referência básica o conceito de conforto corporal aliado ao de
segurança. Esta conceituação é válida tanto para as situações de uso doméstico em situações de
permanência de curta duração como para a de uso mais prolongado em situações de trabalho.
O projeto de uma cadeira ideal é condicionado a um estudo ergonômico complexo, relacionado
principalmente a dados antropométricos e fisiológicos referidos aos diversos biotipos de usuários. Tem
como ponto de referência principal o conceito de conforto e, diretamente proporcional a este, o tempo em
que a pessoa permanecerá sentada executando uma determinada tarefa e, ainda de modo mais sutil, o
tipo de assento e encosto em termos de especificação dos materiais a serem utilizados na sua
configuração como madeira, aço, plástico, elastômero, tecido (estofamento, por exemplo) etc. ou
mesclados.
As tarefas de uso doméstico são, via de regra, muito mais simples do que as tarefas
desempenhadas em situações de uso no trabalho.
Geralmente as funções de uso doméstico estão ligadas às tarefas de realizar refeições à mesa,
eventuais leituras, assistir televisão, conversar, e assim por diante. Normalmente gastando-se pouco
tempo nestas atividades - uma vez que para permanência mais demorada o usuário pode optar por uma
poltrona ou sofá.
Já para as condições de uso em situações de trabalho às tarefas são mais diversificadas variando desde as mais simples, realizadas em cadeiras comuns (rigidas) até as mais complexas com o
uso de cadeiras mais sofisticadas (flexiveis).
Oportuno destacar que nas situações de trabalho, o uso de uma determinada cadeira é,
predominantemente, inserido num contexto de postos de trabalho. Como por exemplo, mesas de
recepcionistas, secretárias, de pessoal administrativo em geral, pranchetas de desenho, cadeiras
escolares, estações de computadores e, assim por diante.
Feita essas considerações, alinhamos a seguir alguns dados ergonômicos considerados os mais
importantes envolvendo estas duas classes de cadeiras:
Segurança
Do ponto de vista físico, relacionado à sua estrutura formal, a cadeira deve ser dimensionada
com adequado coeficiente de segurança para garantir sua resistência ao peso das pessoas, (inclusive
levando-se em conta o sentar abrupto), e com soluções projetuais que garanta sua estabilidade no piso,
levando também em conta seus deslocamentos e movimentação. O design da cadeira deve garantir
segurança suficiente contra quebras, desequilibrios, deslizamentos, etc., que possam por em risco a
integridade física e psicológica do usuário.
Postura
Na utilização de qualquer cadeira tem-se como certo que a postura ideal para o usuário é a da
postura ereta, onde a coluna vertebral assume a sua posição mais adequada contra constrangimentos
físicos pois, como se sabe, o principal problema de postura localiza-se na coluna vertebral. Quando em
posição sentada a bacia do usuário inclina-se para trás, a coluna curva-se e os discos intravertebrais são
comprimidos pelas vertebras lombares, provocando tensões desagradáveis e temerárias.
Entretanto, tal postura é difícil de ser mantida permanentemente, uma vez que solicita muito o
trabalho dos músculos para mantê-la reta por muito tempo. Assim, de vez em quando é necessário
relaxar os músculos, e ai o tronco se curva naturalmente e a postura saí da posição ereta. Dessa
maneira, o ideal é o usuário adotar variações na postura de vez em guando, sempre que julgar
necessário.
Ângulos de Conforto
Definitivamente os planos do assento e encosto não devem ser ortogonais. O ângulo formado
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entre eles deve ser necessariamente maior que 90 . Ângulos ortogonais a 90 faz com que o usuário
naturalmente escorregue para frente, ou seja, seu tronco automaticamente sempre se curva para frente
trazendo evidente desconforto.
Assim, recomenda-se para o assento e para o encosto uma pequena reclinação para trás, como
forma de impedir o corpo de deslizar para frente. A propósito, a famosa cadeira Mackintosh é um
exemplo marcante da aplicação do ângulo reto, o que a torna muito desconfortavel e, portanto,
ergonomicamente incorreta, apesar de sua suposta beleza.
Revestimento
O revestimento individual do assento e do encosto (ou da concha - quando os dois formam uma
peça única) é configurado por diversos tipos de recobrimentos. Por apenas um tipo de tecido ou por
tecido envolvendo um determinado tipo de estofamento. Feito por variados materiais, acabamentos e
graus de densidade .
Sua utilização ou não, depende de muitos fatores como, nível de conforto desejado ou necessário
para a execução de determinadas tarefas, configuração e estilo estético-formal, linguagem simbólica,
composição formal com outros móveis no contexto de ambientes, custo do produto, e assim por diante.
De qualquer modo, alguns parâmetros são irrefutáveis e condicionam necessariamente o uso do
estofamento como, por exemplo, para as tarefas de longa duração sobretudo em situações de trabalho.
Nesse caso, sua especificação é quase que obrigatória. Já para as situações de uso simples, este
parâmetro passa a ser um tanto quanto relativo e o seu uso se enquadra nos fatores acima mencionados.
Dados Antropométricos
O design de uma cadeira está condicionado ao atendimento dos atributos antropométricos de
seus ocupantes. Assim, o projeto deve levar em conta o biotipo dos usuários (tamanho e peso). Para que
o seu dimensionamento seja o mais adequado possível, deve-se contemplar os percentis situados na
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faixa do 5 e 95 percentil da população brasileira (que é a faixa antropométrica normalmente utilizada
pela indústria para a fabricação de produtos de modo geral) que abrange, por exemplo, as estaturas de
155cm (feminino) a 181cm (masculino) dos respectivos percentis mencionados.
CADEIRAS DE USO DOMÉSTICO
A maioria das cadeiras tradicionais de uso simples não dispõe de possibilidades de ajustes, são
cadeiras absolutamente rígidas. Neste caso, as normas ergonômicas recomendam que se deve atender
aos requisitos de reclinação, (a partir do Plano de Referência do assento PRA), para trás com ângulos
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o
variando entre 2 a 5 para o assento e entre 5 a 15 para o encosto, e com altura popliteral (borda
frontal do assento até o piso) de 42,7cm (média das alturas popliteais) compartilhando ligeiros
o
desconfortos abaixo e acima do percentil 50 , já que é impossivel estabelecer um valor confortavel para
todo mundo. Sobretudo, em termos de produção em grande escala.
A definição desta altura popliteal, por exemplo, se justifica, para evitar que o usuário sofra
pressões demasiadas na parte inferior das coxas, evitando assim o seu adormecimento ou o inchaço das
pernas, nas condições de uso demorado em situações de trabalho, principalmente por não dispor de
ajustes.
Aquí o conceito de conforto está novamente sujeito à questionamentos, pelo fato de se transferir
o peso do corpo para a região do cóccis e do cóccis para o assento. Inclusive, em se tratando de postos
de trabalho, vale lembrar que existe também uma outra interface problemática com o plano de trabalho
(superfícies de mesas, por exemplo) que é a altura do assento em relação a este plano, que deve
igualmente estar compatibilizado ergonomicamente para se garantir um mínimo de conforto. De qualquer
forma pensamos ser esta a melhor solução para a maioria das situações de postura.
Algumas cadeiras de uso doméstico dispõe de apoio para braços, o que reforça o conforto, uma
vez que ajuda a descançar os músculos do tronco, dos braços e, inclusive, em algumas situações facilita
e torna prático o ato de realizar algumas tarefas ou ainda simplesmente de interrompê-las por instantes
para uma pausa.
CADEIRAS DE USO NO TRABALHO
Já as cadeiras de uso no trabalho, dispõe de possibilidades amplas de ajustes. Variando desde
as mais singelas (ajuste apenas de alturas e angulações) até cadeiras que são autenticas “máquinas” de
sentar que são dotadas, em grande parte, de total flexibilidade de ajustes e mobilidade.
Possibilita amplo espectro de regulagens: angulares, verticais e horizontais de assento, encosto e
braços de apoio; ajustes da altura do assento em relação à base de apoio dos pés (podendo, inclusive,
se ajustar ao plano de trabalho, quando for o caso); regulagens de apoio lombar, de apoia-cabeça;
ajustes giratórios e base dotada de rodízios nos pés (patas) de apoio para movimentação e, ainda,
sistema de amortecimento.
Em resumo, cobre praticamente todas as necessidades ergonômicas em direção a um máximo
de conforto. Principalmente, quando se sabe que não existe uma posição única, anatomicamente correta,
que favoreça a saúde do usuário.
Outro dado de suma importância que o designer tem de levar em consideração é o de que a
maioria das cadeiras de uso no trabalho está inserida, predominantemente, em postos de trabalho. O que
implica, necessariamente, o estudo do sistema homem-máquina.
Em resumo, o projeto da cadeira deve se subordinar à determinados conceitos ergonômicos que
regula este sistema, como por exemplo, o dimensionamento adequado das superfícies de trabalho em
temos dos envoltórios de conforto para os alcances físicos do usuário, previsão de espaços para inserção
e movimentação das pernas sob o referido plano, de condições operacionais, de visualização do posto e
visibilidade do entorno.
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