Aula Teórica nº 17 LEM-2006/2007 Prof. responsável: Mário Pinheiro Campos Eléctricos de origem não Electrostática Considere-se um condutor fechado sobre si próprio percorrido por uma corrente de densidade J . Se calcularmos o trabalho ao longo da linha de corrente (linha do vector J ) , tem-se [1] Contudo sabemos através da lei de Ohm que J = σ c E e , pelo que as linhas de corrente coincidem com as l. de f. do campo (se o meio for homogéneo) e portanto ter-se-à E e .dp ≠ 0 ∫ também o que é um absurdo pois o campo é conservativo. Isto significa ( ) que não é possível estabelecer uma corrente eléctrica num circuito apenas com campos de origem electrostática, conservativos portanto. Para que haja uma corrente eléctrica num circuito fechado é preciso que em algum ponto do circuito se introduza um campo de origem não electrostática, a que iremos chamar campo aplicado, não conservativo, e que seja responsável pela circulação das cargas no circuito fechado. [2] Quando se introduz dois eléctrodos1 de natureza diferente numa solução electrolítica, vai existir um movimento de cargas de sinais contrários (catiões-iões positivos 2 e aniões-carga positiva3) para cada um dos eléctrodos e esta reacção química pode ser tida em conta, do ponto de vista eléctrico através da introdução do campo E a , não conservativo, com rotE a ≠ 0 portanto. 1 Um eléctrodo (palavra inventada por Michael Faraday e composta de duas palavras gregas elektron e hodos, que significa caminho) é um condutor eléctrico utilizado para fazer uma conexão com um condutor não-metálico, tal como um electrólito, vácuo, semicondutor. 2 É um ião carregado positivamente (por ex., H+) e que se dirige para o cátodo. O cátodo é o eléctrodo para onde se dirigem os electrões numa célula electrolítica, num tubo de descarga ou num diodo. O fluxo de electrões é sempre do anodo para o cátodo no exterior da célula ou dispositivo e do cátodo para o anodo no interior. No interior de uma célula galvânica são os iões que transportam os electrões mas o sentido é o mesmo que o referido anteriormente. 3 É um ião carregado negativamente (por ex. SO4-) e que se dirige para o anodo. 49 Bateria de Bagdad - É possível que esta seja bateria mais antiga inventada pelo Homem e decoberta em Khuyut Rabbou’a, perto de Bagdad, Iraque. Fig. - Esquema de uma célula galvânica. (extraída da Wikipédia) [3] Como só existe campo E a entre os terminais4 (+) e (-) de uma bateria, a f.e.m. de um circuito com uma bateria coincide com a f.e.m. da bateria: E = ∫ E a .dp . −+ ( ) Note-se que como E a é não conservativo, é preciso agora especificar que o trabalho é calculado por um caminho no interior da bateria. Trabalho realizado pelo campo Ea Considere-se uma força F e um deslocamento elementar dp . O trabalho elementar de F no deslocamento dp é dado por 4 Também se diz bornes. 50 [4] Seja agora a força elementar dF devida à acção do campo aplicado E a sobre uma carga elementar dq: [5] Então se tivermos agora um condutor de volume V percorrido por uma corrente de densidade J e onde existam campos aplicados E a , o trabalho por unidade de tempo realizado pelos campos aplicados para movimentar as cargas no circuito é dado por [6] Trabalho realizado pelo Campo Electrostático O trabalho realizado pelo campo electrostático E e , isto é, o integral e ( E ∫ ∫ ∫ .J )dv V Há-de ser obviamente nulo, pois o campo E e não realiza trabalho a movimentar as cargas num circuito eléctrico fechado. Para isso, vamos começar por calcular a divergência do produto VJ : [7] 51 Falta-nos aqui prova ainda que em corrente estacionária não há descontinuidade da componente normal do vector J através da superfície de separação entre dois meios: J 2n − J1n = 0 Assim, no caso que estavamos a estudar de um condutor percorrido por uma corrente (meio 1), envolto por um exterior sem corrente (meio 2), [8] Ora no integral ∫ ∫ VJ n dS , este J S n é a componente normal do J sobre a superfície, pelo que J n = 0 . Está provado assim que e .J )dv = 0 ∫ ∫ ∫ (E V [9] 52 Vamos agora provar que em regime estacionário não há descontinuidade da componente normal do vector J através da superfície de separação de dois meios. [10] Apliquemos agora esta relação ao cilindro elementar com bases dS1 e dS2 em cada um dos meios e de altura dh infinitesimal: [11] O fluxo através da superfície lateral é desprezível pois a altura dh pode ser tão pequena quanto quisermos. A única condição é que as bases estejam cada uma no seu meio, mas como a espessura da superfície de separação tende para zero, também dh → 0 . Escolhendo agora uma única normal à superfície: [12] Efeito de Joule dτ dQ = dt dt As cargas eléctricas no seu movimento colidem com os átomos e moléculas do condutor, transferindo energia cinética dos electrões para energia elástica do meio, produzindo libertação de calor. A relação anterior é conhecida por lei de Joule. O trabalho por unidade de tempo realizado pelo campo eléctrico E a movimentar as cargas eléctricas é igual à potência dissipada sob a forma de calor por efeito de Joule. A lei de Ohm local, toma agora a forma: J = σ c E = σ c (E e + E a ) Pois localmente as cargas são movimentadas pelos dois campos. 53 [13] Seja agora um troço de condutor de comprimento l e secção S, e considere-se ainda um filamento de secção dS e comprimento elementar dl. A potência dissipada sob a forma de calor no elemento de volume dv=dl.dS é dada por [14] Por último, se integrarmos agora sobre toda a secção, podemos escrever por fim: [15] 54 Seja agora uma resistência eléctrica R percorrida por uma intensidade de corrente i, já vimos anteriormente que a d.d.p. aos seus terminais é ∆ V = Ri (lei de Ohm integral). [16] 55