Anais do XVI Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas - 27 e 28 de setembro de 2011 ISSN 1982-0178 ANÁLISE DO DESEMPENHO TÉRMICO DA ENVOLTÓRIA ATRAVÉS DA SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL Juliana de Deus Silva Barbosa Claudia Cotrim Pezzuto Faculdade de Arquitetura e Urbanismo CEATEC [email protected] Grupo de Pesquisa: Eficiência Energética CEATEC [email protected] Resumo: O artigo apresenta um estudo do desempenho termo-energético da envoltória do edifício da Faculdade de Engenharia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. O edifício de estudo é naturalmente ventilado, construído com materiais pré-fabricados, possui três pavimentos que abrigam salas de aula convencionais, foyer do anfiteatro da Universidade, administração, sala dos professores e banheiros. Primeiramente foi elaborado um modelo tridimensional no Plug-in Open Studio no software SketchUp. Na seqüência, o EnergyPlus foi alimentado com informações do clima da região, características dos materiais utilizados, rotinas de pessoas que utilizam os ambientes, rotinas de utilização de equipamentos elétricos e outros fatores que influenciam na avaliação termo-energético do edifício. Com estes dados, o modelo foi simulado gerando análises que apresentam a eficiência e características dos materiais utilizados, consumo energético mensal do edifício, demonstrando parâmetros importantes e que influenciam na análise do desempenho térmico da envoltória do edifício. Palavras-chave: eficiência energética, desempenho térmico de edificações, simulação computacional. Área do Conhecimento: Engenharias – Engenharia Civil – Construção Civil. 1. INTRODUÇÃO Com o avanço da tecnologia nos dias atuais, muitos profissionais da arquitetura e urbanismo e da engenharia civil não tem tido a preocupação de pensar no edifício como um todo e em que meio ele está inserido no momento de tirar o partido arquitetônico, através da iluminação e ventilação natural, tipos de materiais, entre outros. Esse problema normalmente é resolvido com muitas instalações elétricas de iluminação e condicionamento do ar. Figueiredo [1] analisou o potencial de utilização da ventilação natural em edifícios de escritórios na cidade de São Paulo do ponto de vista do conforto térmico. Considerando o ano todo o estudo concluiu que o conforto térmico de 90% dos usuários poderia ser obtido com a ventilação natural nos meses de maio a outubro, totalizando seis meses do ano, desde que nos períodos de clima mais ameno os usuários alterassem sua vestimenta ou pudessem regular as aberturas do edifício. Diminuindo o porcentual de satisfação para 80%, o período aumenta para dez meses, sendo de março a dezembro. Santana e Ghisi [2] através de simulações computacionais no programa Energy Plus avaliam a influência de dois parâmetros construtivos no consumo de energia em edifícios de escritório: percentual de área de janela na fachada e a absortância de paredes externas. O estudo verificou que o aumento no consumo de energia é mais significativo ao se aumentar o percentual de área de janelas na fachada , chegando a uma variação de até 41,6%. Com relação à absortância de paredes externas, mantendo o o percentual de área de janelas na fachada fixo, a variação no consumo de energia alcançou até 21,6%. Dilonardo e Roméro [3] simularam com edifícios de escritório em São Paulo e obtiveram como resultado que independente do tipo de vidro utilizado, com o uso de brises (anteparo solar) consegue-se diminuir em 25% o ganho térmico interno para a mesma proporção de abertura. Segundo Nicoletti e Amorim [4], a fim de se alcançar melhores níveis de eficiência, estratégias de projetos, iniciativas e cooperação tem que surgir por parte de arquitetos, engenheiros, construtores e empreendedores, ou seja, de profissionais ligados à construção de edifícios. O objetivo deste estudo é avaliar o desempenho térmico da envoltória de um edifício através da simulação computacional. Para estudo será avaliada uma edificação naturalmente ventilada, na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCC), no Anais do XVI Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas - 27 e 28 de setembro de 2011 ISSN 1982-0178 CEATEC, Campus I. A simulação será realizada no software EnergyPlus. modelo foi considerado todas as superfícies do edifício, como: aberturas, coberturas e vedação. 2. OBJETIVO O objetivo deste artigo é avaliar o desempenho térmico da envoltória de um edifício através da simulação computacional. Para estudo será avaliada uma edificação naturalmente ventilada, na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCC), no CEATEC, Campus I. A simulação será realizada no software EnergyPlus. Em função da inexistência de um arquivo climático da cidade de Campinas, foi utilizado para as análises o arquivo climático do aeroporto de Congonhas – São Paulo. A escolha foi baseada na proximidade da localização e semelhança das características climáticas. 2. CARACTERIZAÇÃO DO EDIFÍCIO DE ESTUDO O edifício de estudo localiza-se no Campus I da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. A cidade de Campinas se situa na Latitude -22.89° e Longitude -47.06°, seu clima é denominado Tropical Brasil Central. O vento predominante é sudeste [5]. O edifício escolhido possui 3.639,6 m², foi construído em 2002 com materiais pré-fabricados e possui três andares. A edificação abriga os Cursos de Engenharia, possui um bloco com três pavimentos e circulação central feita por rampas e escadas. O projeto visa à ventilação natural, através da ventilação cruzada pelas aberturas localizadas nas fachadas Norte e Sul. As salas estão em volta da circulação central e esta é parcialmente aberta em suas laterais. Todos os pavimentos abrigam salas de aula, banheiro e salas de projeto, o pavimento térreo abriga também uma administração, foyer do teatro, sala dos professores e sala de reuniões. A envoltória da edificação é feita por blocos de concreto de 20 cm de espessura, porém, nas fachadas Norte e Sul, as quais são bem avantajadas com largura igual ao vão entre os pilares da estrutura, foi utilizado painel pré-fabricado de concreto de espessura de 15 cm. Nas fachadas leste e oeste as aberturas são pequenas. Todos os caixilhos são de alumínio. Para o acabamento das paredes, foi utilizada tinta acrílica cor Branco Neve. O sistema de piso é o de laje pré-fabricada alveolar de 11 cm e o sistema de cobertura é de estrutura metálica com telhas metálicas. 3. MODELAGEM DO EDIFÍCIO E ENTRADA DE DADOS NO SOFTWARE ENERGYPLUS Para a execução desta etapa, o edifício foi dividido em trinta e quatro zonas, estas foram modeladas no Plugin Open Studio no Software SketchUp. Para o software de simulação termo-energética, EnergyPlus, a zona térmica é definida como um volume de ar com temperatura uniforme [6]. A versão utilizada neste trabalho foi a V6-0 de maio de 2011. No Quanto aos dados da edificação foram considerados os materiais utilizados na construção do edifício, os equipamentos existentes e a rotina de ocupação. Para o cálculo do consumo total dos equipamentos existentes foi utilizado o valor 78 W para cada ventilador e 135 W para cada conjunto de projetor e CPU [7]. As variáveis analisadas serão: consumo elétrico dos equipamentos durante o mês, temperatura interna das zonas, temperatura externa do ambiente ao ar livre, temperatura interna e externa das superfícies, no dia típico dos meses de fevereiro e agosto. Com o objetivo de verificar o desempenho térmico dos materiais serão utilizados para análises dois tipos de materiais para revestimentos da envoltória: painel de concreto (material original) e tijolo maciço. Assim sendo, a tabela 1 mostra os cenários para os dois tipos de materiais, variando também a cor da pintura externa, para a fachada Sul (Zona 12) e fachada Norte (Zona 18). Tabela 1: Descrição dos cenários para simulação computacional CENÁRIOS MATERIAIS 1 Ambiente sem ocupação e sem cargas de equipamentos. - Painel de concreto - Cobertura metálica - Parede clara 2 Ambiente com ocupação e com cargas de equipamentos. - Painel de concreto - Cobertura metálica - Parede clara 3 Ambiente sem ocupação e sem cargas de equipamentos. - Tijolo maciço - Cobertura metálica - Parede clara 4 Ambiente sem ocupação e sem cargas de equipamentos. - Painel de concreto - Cobertura metálica - Parede Escura 5 Ambiente sem ocupação e sem cargas de equipamentos. - Tijolo maciço - Cobertura metálica - Parede Escura Anais do XVI Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas - 27 e 28 de setembro de 2011 ISSN 1982-0178 3. ANÁLISES DE RESULTADOS Quando comparados os resultados do Cenário 1 e Cenário 2, simulação com cargas de equipamentos e iluminação observou-se que a variação na temperatura foi extremamente baixa, demonstrando assim que apesar do calor liberado pelos equipamentos, as mudanças nas temperaturas internas das zonas e superficiais não foram significativas. Assim sendo, verifica-se na figura 1, conforme Cenário 1, que a maior parcela de contribuição no consumo final é da iluminação do interior. 27.82% Iluminação Interior 72.18% Equipamentos Interiores 3.1 Temperatura interna das Zonas Para as análises serão avaliadas a zona 12, orientação sul e zona 18, orientação norte Nas tabelas 2 e 3 são apresentadas as temperaturas internas das zonas nas diferentes combinações de materiais, concreto e tijolo maciço, argamassa clara e argamassa escura, no decorrer de um dia típico dos meses de agosto (período de inverno) e fevereiro (período de verão). Através das análises verificou-se que as temperaturas internas das zonas 12, orientação sul e 18, orientação norte, considerando os quatro cenários, não apresentaram variações significativas. Verifica-se nas tabelas que as duas orientações, norte e sul, apresentaram a temperatura mais baixa nos cenários de paredes claras. Apesar de apresentar pouca variação, nota-se que o cenário com parede de tijolo apresentou temperaturas mais baixas nas duas análises. Tabela 2: Temperatura Interna da Z12, orientação Sul, dia típico de verão AO AR LIVRE CONCRETO E ARG.CLARA CONCRETO E ARG. ESCURA TIJOLO MACIÇO E ARG. CLARA TIJOLO MACIÇO E ARG. ESCURA . AO AR LIVRE CONCRETO E ARG. CLARA CONCRETO E ARG. ESCURA TIJOLO MACIÇO E ARG. CLARA TIJOLO MACIÇO E ARG. ESCURA TEMPERATURA MÍNIMA 20.125 TEMPERATURA MÁXIMA 27.5833 AMPLITUDE TÉRMICA 7.4583 19.2431 31.5363 6.6467 18.7103 32.3953 6.7595 19.2161 31.7104 6.65 18.5873 32.2277 6.4824 3.2 Temperaturas Superficiais Internas e Externas Figura1: Contribuição dos sistemas no consumo final. TEMPERATURA MÍNIMA 20.125 Tabela 3: Temperatura Interna da Z18, orientação Norte, dia típico de verão. TEMPERATURA MÁXIMA 27.5833 AMPLITUDE TÉRMICA 7.4583 18.7551 25.4018 6.6467 18.2913 25.0508 6.7595 18.7293 25.3793 6.65 18.2043 24.6867 6.4824 As figuras 2 e 3, apresentam as curvas de temperatura superficiais, internas e externas, com as diferentes combinações de materiais, concreto e tijolo maciço, argamassa clara e argamassa escura, no decorrer de um dia típico dos meses de agosto e fevereiro. A zona 12, orientação sul, apresentou temperaturas superficiais mais elevadas, quando comparada a zona 18, orientação norte. Este fato deve-se a incidência do sol de verão nesta fachada, justificado pela localização de Campinas, latitude 22°S. Com relação as temperaturas superficiais as duas zonas apresentaram comportamento semelhantes. Nas duas zonas, 12 e 18, as curvas indicam que a temperatura máxima , em relação às superfícies internas e externas, quando o concreto é utilizado são mais altas, quando combinado com a argamassa escura, esse valor é ainda maior. Já as temperaturas máximas obtidas com a utilização do tijolo maciço com a argamassa escura são menores, em relação à utilização do concreto, o tijolo quando utilizado com argamassa clara obtém temperaturas máximas ainda menores. Anais do XVI Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas - 27 e 28 de setembro de 2011 ISSN 1982-0178 FAPIC/Reitoria pesquisa. 50 45 o desenvolvimento desta REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 40 Temperatura do ar (C ) para Temp do ar Externo 35 30 Temp Sup Ext ZONA 12_Painel de Concreto_Clara 25 Temp Sup Int ZONA 12_Painel de Concreto_Clara 20 Temp Sup Ext ZONA 12_Painel de Concreto_Escuro 15 Temp Sup Int ZONA 12_Painel de Concreto_Escuro 10 Horas Figura2:Temperatura Superficial Interna e Externa, painel de concreto, Zona 12, orientação Sul, dia típico fevereiro [1] Figueiredo, C. M. F (2007).Ventilação natural em edifícios de escritórios na cidade de São Paulo: limites e possibilidades do ponto de vista do conforto térmico / Cíntia Mara de Figueiredo. São Paulo, 221p. :Il. [2] Santana, M. V., GHISI,E (2008) Influência do percentual de área de janela na fachada e da absortância de paredes externas no consumo de energia em edifícios de escritório da cidade de Florianópolis-SC. In: IX Encontro Nacional e V Latino Americano DE Conforto no Ambiente Construído. Anais...Ouro Preto, MG. [3] Dilonardo, L. P.; Romero, M. A.(2001) Dinamic computer simulation with ESP-r in a building model in São Paulo. In: The 18th International Conference on Passive and Low Energy Architecture, 2001, Florianopolis. Anais. Florianópolis, Brasil, p. 725728. [4] Nicoletti, A. M. A; Amorim, C. N. D. (2009) Análise do desempenho térmico de envoltória através da aplicação da metodologia prescritiva da etiquetagem de eficiência energética de edificações. X Encontro Nacional e VI Encontro Latino Americano de Conforto no Ambiente Construído. Natal. Figura 3:Temperatura Superficial Interna e Externa, tijolo, Zona 12, orientação Sul, dia típico de fevereiro 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao analisar todos Cenários de estudo, observa-se que as temperaturas obtidas decorrentes da utilização do tijolo maciço ou concreto, argamassa clara e escura são diferentes. Este fato demonstra a extrema importância da escolha adequada dos materiais que serão utilizados na construção dos edifícios. Assim como os materiais utilizados na construção são importantes, destaca-se o papel dos arquitetos urbanistas e engenheiros civis na construção de um edifício eficiente e de qualidade. Ou seja, de um edifício pensado para os próximos anos e décadas, que consuma energia com responsabilidade, construídos com materiais adequados ao clima e usufruindo ao máximo das condições climáticas naturais. Com todos esses fatores é possível construir um edifício com desempenho térmico adequado. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à Pontifícia Universidade Católica de Campinas, pela bolsa concedia [5] Barbano, M. T., Brunini, O. e Pinto, H. S. (2003) Direção predominante do vento para a localidade de Campinas-SP. Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, v. 11, n. 1, p. 123-128. [6] Energyplus, (2009). Getting Strarted with EnergyPlus – Basic Concepts Manual, Essentail Information you need about running EnergyPlus p. 32-33; 2009. disponível em: http://apps1.eere.energy.gov/buildings/energyplus/ NBR 16401-1 (2008) Instalações de ar condicionado – Sistemas centrais e unitários Parte 1: Projetos das Instalações. ABNT