Estrutura da Matéria 2005/2006 Espectroscopia de emissão/absorção com espectrómetro de prisma Objectivo: • • Estudar o espectro de emissão de um sólido incandescente (filamento de tungsténio); Registar e interpretar os espectros de absorção de várias amostras. Material necessário: 1. Espectrómetro de prisma, Pasco mod. OS-8539; 2. Suporte para prisma, Pasco, mod. OS8543; 3. Prisma; 4. Lâmpada de tungsténio, Pasco OS-8542 (Vmax = 10V); 5. Fonte de alimentação DC, 0-10V; 6. Sensor de infravermelhos, Pasco mod. CI-6628; 7. Interface Pasco 7500 8. PC com programa “Science Workshop”; 9. 2 multímetros; Fig. 1 – Esquema do espectrómetro de prisma e percurso da luz através dele. A luz emitida pela lâmpada de tungsténio passa através de uma fenda e incide numa lente que transforma o feixe de luz incidente num feixe de raios paralelos. A luz atravessa então o prisma que deve ser posicionado conforme indica a Fig. 2, e é refractada segundo um ângulo que depende do comprimento de onda da luz incidente. A luz refractada pelo prisma passa então por uma segunda lente e é detectada por sensor de luz (fotómetro), que está colocado no plano focal da Sensor de rotação 2ª lente. Esta lente e o fotómetro estão montados sobre um suporte que pode rodar em torno de um Fig. 2 – Montagem do prisma e do eixo, permitindo a medição da intensidade da luz fotómetro na mesa do espectrómetro. refractada em função do ângulo de refracção. O suporte do prisma está fixo. O sensor de luz e o sensor de rotação do suporte do fotómetro estão ligados a um computador através de uma interface Pasco 7500. 1. Prisma e refracção da luz: O prisma utilizado é um prisma de vidro, de 60º, cujas faces têm 20 mm × 20 mm. O prisma é colocado de forma que o feixe incidente incida conforme se indica na Fig. 3, ou seja, perpendicularmente ao segundo dioptro. Desta forma o ângulo de incidência é θ1 = 60º e φ θ2 θ2 + θ3 = 60º θ4 θ3 θ1 Aplicando a lei de Snell a cada uma das faces do prisma obtêm-se as seguintes relações: φ nar sen 60º= nv sen θ2 Fig. 3 – Esquema do prisma (φ = 60º). nv sen θ3 = nar sen θ4 Ou seja, sen θ2 = sen θ2 = 1 nv 3 2 nv sen ( 60º−θ2 ) = sen θ4 1 3 nv 2 1 3 cos θ2 = 1 − n v2 4 ou 1/ 2 nv ( sen 60ºcos θ2 − cos 60ºsenθ2 ) = sen θ4 Substituindo na 3ª equação o sen θ2 e cos θ2 pelas suas expressões, vem que nv 3 1 3 1− 2 n v2 4 1/ 2 − 1 1 3 = sen θ4 2 nv 2 nv 2 − e 3 4 1/ 2 = 2 1 sen θ4 + 2 3 i.e., nv = 2 1 sen θ4 + 2 3 2 + 3 4 (1) A dependência do índice de refracção com o comprimento de onda é dade pela equação de Cauchy n( λ ) = A + B λ2 (2) em que A e B são constantes que dependem do tipo de vidro de que é feito o prisma. Para este prisma A = 1,689 e B = 13900 nm-2 (ver apêndice I). 2. Lâmpada de tungsténio [1-3]: 2. 1 Teoria: O filamento da lâmpada (de incandescência) utilizada é de tungsténio e quando é percorrido por uma corrente eléctrica aquece, emitindo radiação cuja intensidade depende da temperatura do filamento, de acordo com a lei de Stefan-Boltzmann: R = A ε σ T 4 (W) em que Α é a área do corpo emissor, ε a emissividade do tungsténio, σ = 5,67×10-8 W/(m2.K4) a constante de Stefan-Boltzmann e T é a temperatura absoluta. A energia emitida por unidade de área e por unidade de tempo entre λ e λ+dλ é dada pela expressão c R( λ )dλ = ε λ ρ ( λ )dλ 4 em que ρ(λ) representa a densidade de potência emitida por um corpo negro e é dada pela lei da radiação de Planck (Fig.4): ρ ( λ )dλ = 8π hc ρ(λ) dλ λ 5 e hc/ λ kT − 1 O comprimento de onda para o qual a intensidade da radiação é máxima obedece à lei de deslocamento de Wien, 1 λmaxT = 2,898×10-3 m/K Fig. 4 – Densidade de potência emitida por um corpo negro para várias temperaturas1. 2.2 Determinação da temperatura do filamento: Para pequenas variações de temperatura pode-se considerar que a resistência de um condutor varia linearmente com ∆T de acordo com a expressão: R(T ) = R0 [1 + α (T - T0 )] 120 em que R0 é a resistência a uma dada temperatura de referência T0, α é o coeficiente de temperatura da resistividade do filamento. Para grandes variações de temperatura, como α depende da temperatura, a relação anterior não é válida (Fig.5). Na tabela 2 do Apêndice I estão reunidos os valores da resistividade do tungsténio para temperaturas compreendidas entre 300 e 3600 K. Representando graficamente a relação ρ/ρ0 em função de T-T0 (com 80 1 http://hyperphysics.phy-astr.gsu.edu/hbase/bbrc.html ρ (µΩ .cm) 100 60 40 20 0 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 T (K) Fig. 5 – Variação da resistividade do tungsténio com a temperatura. T0=300 K), verifica-se que ρ/ρ0 e, portanto, R/R0 varia quadraticamente com (T-T0) de acordo com a relação R = 1 + α (T - T0 ) + β (T - T0 ) 2 (3) R0 em que α e β são parâmetros ajustáveis (ver Fig.2 do apêndice I). Uma vez conhecida a resistência do filamento a uma temperatura de referência, pode-se determinar a temperatura do filamento quando ele é atravessado por uma dada corrente I, medindo a sua resistência. Para tal tem de se incluir no circuito de alimentação da lâmpada, um amperímetro para medir a corrente no circuito e um voltímetro para medir a diferença de potencial entre os terminais da lâmpada. 2.3 Tensão de alimentação da lâmpada de tungsténio (Pasco, mod. OS-8542): A diferença de potencial entre os terminais da lâmpada de tungsténio utilizada pode variar entre 0 e 10 V, mas o valor recomendado é de 7 V. 3. Fotómetro – sensor de infravermelho Pasco, mod. CI-6628 (ver ref. 5) ; Procedimento experimental 1. Monte o circuito de alimentação da lâmpada de tungsténio; 2. Determine a resistência do filamento à temperatura ambiente; 3. Ligue o interface PASCO 7500; 4. Ligue o computador e inicialize o programa Science Workshop; 5. Ligue o fotómetro a uma das entradas analógicas do interface Pasco 7500; 6. Ligue o sensor de rotação a uma das entradas digitais do interface Pasco 7500 e seleccione 1440 div/rot; 7. Em “sampling options” escolha uma frequência de amostragem de 20 Hz. 8. Seleccione o modo “graph” para representar os valores recolhidos. Resolução angular: O eixo do sensor de rotação roda cerca de 60 vezes para cada rotação da placa graduada (360º). Uma rotação do eixo do sensor representa 6º de deslocamento da placa graduada. Como a resolução do sensor é de 1440 div/rot, e uma rotação do eixo do sensor corresponde a 6º, a resolução angular das medidas é de 6/1440 = 4,167 × 10-3º = 0,25’ = 15’’ = 7,272 × 10-5 rad. a) Registo de um espectro de emissão do filamento de tungsténio: - Ligue a lâmpada de tungsténio (~7 V); - Registe o valor da intensidade da corrente que percorre o filamento e a diferença de potencial aplicada. - Rode o suporte do fotómetro até que o sensor esteja alinhado com a direcção do feixe incidente; - Bloqueie o feixe de luz , impedindo-o de atingir o fotómetro; - Inicie a aquisição dos dados no “Science Workshop”; - Enquanto a luz está bloqueada prima o botão “tare” no sensor de luz para colocar o sensor a zero; - Comece a rodar devagar o sensor de luz até que o suporte bata no indicador de ângulo fixo à mesa do espectrómetro. - Pressione o botão “tare” do sensor de novo; - Pare a aquisição de dados; b) Repita este procedimento para outras 2 temperaturas do filamento. c) Seleccione uma das temperaturas anteriores e registe de novo o respectivo espectro de emissão. Coloque amostras várias em frente da lâmpada e registe, para cada caso o respectivo espectro de absorção. Análise dos dados Trace os espectros obtidos convertendo a posição angular em comprimento de onda. Determine para cada caso, a temperatura a que se encontava o filamento e o λ para o qual a intensidade da radiação emitida é máxima. Verifique a lei de deslocamento de Wien. Comente os resultados obtidos. Bibliografia: [1] “Física Quântica de átomos, moléculas, sólidos, núcleos e partículas”, R. Eisberg e R. Resnick. [2] “Modern Physics”, R. A. Serway, C. J. Moses e C. A. Moyer, 3rd Ed., Brooks/Cole – Thomson Learning, 2005. [3] http://hyperphysics.phy-astr.gsu.edu/hbase/bbrc.html [4] Intruction Manual and Experiment Guide for the PASCO Scientific mod. OS-8542, 01207105A, ver “recursos lectivos” da disciplina Estrutura da Matéria em http://www.fis.uc.pt [5] Instruction sheet for the PASCO mod. CI-6628, ver “recursos lectivos” da disciplina Estrutura da Matéria em http://www.fis.uc.pt . Apêndice 1. Índice de refracção do prisma nv 1,78 1,77 Data: Data1_B Model: Cauchy 1,76 Chi^2 R^2 = 1.5713E-6 = 0.99723 1,75 A B 1.6886 ±0.0009 3 3 13.9x10 ±0.2x10 1,74 n( λ ) = A + 1,73 B λ2 1,72 1,71 1,70 400 500 600 700 800 900 1000 1100 λ (nm) Fig. 1 – Variação do índice de refracção do vidro (do prisma) com o comprimento de onda. 2. Variação da resistividade do tungsténio com a temperatura Tabela 2 – Resistividade do tungsténio em função da temperatura. T (K) 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 1900 2000 ρ (µΩ.cm) 5.65 8.06 10.56 13.23 16.09 19.00 21.94 24.93 27.94 30.98 34.08 37.19 40.36 43.55 46.78 50.05 53.35 56.67 T (K) 2100 2200 2300 2400 2500 2600 2700 2800 2900 3000 3100 3200 3300 3400 3500 3600 ρ (µΩ.cm) 60.06 63.48 66.91 70.39 73.91 77.49 81.04 84.70 88.33 92.04 95.76 99.54 103.3 107.2 111.1 115.0 25 2 y = 3,61E-07x + 4,69E-03x + 1,00E+00 2 R = 1,00E+00 20 15 ρ/ρo 10 5 0 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 T - To (K) Fig. 2 - Variação de ρ/ρo em função de (T-T0), com T0 = 300 K R = 1 + α (T - T0 ) + β (T - T0 ) 2 R0