8 • SÁBADO, 2 DE JUNHO 2012 Doentes denunciam desigualdades nos tratamentos Em Setembro de 2011, foi assinado um protocolo entre a Ordem dos Médicos (OM) e a Direcção-Geral da Saúde (DGS) com o objectivo de criar regras clínicas que orientem os médicos na hora de prescrever os medicamentos. Paralelamente, alguns hospitais do País têm vindo a criar as suas próprias regras para os fármacos de uso hospitalar, uma realidade que inquieta as associações de doentes, por colocar em causa a equidade de acesso aos tratamentos. «não se podem fazer cortes cegos naquilo que é a qualidade de vida dos doentes, ainda por cima com dúvidas relativamente à m grupo de 14 unidades hospitalaprópria eficácia económica». res do Norte, designado por G14, «O Governo teria muito a aprender com aprovou, há cerca as associações de doentes de três meses, uma lista de relativamente ao modo de medicamentos para o trautilizar os parcos recursos tamento de várias doenças, existentes nas grandes necujo critério principal é secessidades que possuem e rem mais baratos. cortar naquilo que realmenSegundo o Eng.º Vítor Nete são as “gorduras”.» ves, presidente da EuropacoManuela Neves denuncia lon Portugal – Associação de o caso concreto do HospiLuta Contra o Cancro do Intal de Braga, em que, como testino –, «nota-se que não há relata, embora existam no uma igualdade de acesso aos mercado seis medicamentratamentos no País inteiro». Eng.º Vítor Neves tos para a primeira linha O presidente da Europacode tratamento da esclerose lon Portugal lembra que, há cinco ou seis anos, os doentes oncológicos tinham uma Manuela Neves: «Não se vida mais curta e com menor qualidade, nalguns casos, do que têm nos dias de hoje, podem fazer cortes cegos devido aos novos tratamentos disponíveis. naquilo que é a qualidade Para o responsável, é fundamental que existam normas nacionais credenciadas e de vida dos doentes.» justificadas por entidades científicas, como acontece noutros países. Vítor Neves admite que estas possam conter alguns critérios múltipla, por decisão da administração economicistas, contudo, «deve haver uma daquela unidade hospitalar, passou a “coluna vertebral” que seja prescrever-se apenas um igual para todos os doentes». fármaco. «Sabemos, com Na sua opinião, a existência todo o rigor científico, que de normas regionais «não é o todos estes medicamentos rumo para a saúde de pessode primeira linha são difeas com doenças oncológicas, rentes entre si.» que vivem diariamente na Mas esta realidade já não dúvida de quanto tempo vão é exclusiva do Norte do País. resistir». «Em Lisboa, no Hospital Na óptica de Manuela NeGarcia de Orta, temos refeves, membro da Direcção da rência de dois casos em que Sociedade Portuguesa de os doentes foram enviados Esclerose Múltipla (SPEM), Manuela Neves de volta ao seu neurologista Susana Catarino Mendes U para que este prescrevesse outro medicamento mais barato», acrescentou. Em resultado desta situação, há «doentes que não se adaptam ao novo medicamento, aumenta o número de surtos da doença e há relatos de pessoas que desistem do tratamento». Manuela Neves refere que, «se a medicação adoptada não servir, é feito um pedido especial para que o doente possa tomar outro medicamento». Porém, refere saber de casos em que a situação já aconteceu e que o neurologista e o doente de- Vítor Baião sistiram pela demora na obtenção de resposta. Por seu lado, Vítor Baião, presidente da Associação Portuguesa da Psoríase (PSOPortugal), indica que o acesso a medicamentos biológicos em Portugal é menos de metade da média da União Europeia. E nem todos os hospitais cumprem o despacho N.º 18419/2010, que define o acesso, para o caso da psoríase, a seis medicamentos-tipo inovadores. Estes fármacos «proporcionam estágios de satisfação muito bons e, nalgumas situações, até a própria remissão da doença», explica o responsável. O presidente da PSOPortugal recorda que o direito à saúde é constitucional. «Não aceitamos que as medidas estejam embebidas num espírito economicista», finaliza. Disponíveis novas orientações terapêuticas De acordo com o bastonário da OM, Prof. José Manuel Silva, era já uma vontade antiga da DGS, juntamente com os Colégios de Especialidade da OM, emitirem normas nacionais», a que se juntou agora uma exigência da Troika. Para o Dr. Alexandre Diniz, director do Departamento da Qualidade na Saúde da DGS, o balanço é positivo. «Em quatro meses, foram elaboradas 60 normas de orientação à prescrição, começando pelos medicamentos e meios complementares de diagnóstico em ambulatório de utilização mais frequente pelo SNS». Para 2012, «a prioridade será a elaboração de orientações clínicas para a prescrição dos medicamentos hospitalares que geram maior consumo». Sobre a iniciativa dos hospitais do Norte, o responsável garante que os concursos realizados até à data «não contrariaram qualquer das normas clínicas emitidas pela DGS, nem o poderiam fazer, uma vez que é esta entidade que, nos termos legais, possui a competência para normalizar a prática clínica no âmbito da prestação de cuidados no sistema de saúde». Prof. José Manuel Silva José Manuel Silva garante que a OM não tolerará que haja doentes sem acesso aos medicamentos que estão aprovados quando têm uma indicação clínica absolutamente rigorosa. «Se alguém o fizer e for médico sofrerá as consequências disciplinares em termos de violação do código deontológico», adverte. O bastonário da OM entende que «é uma atitude meritória os hospitais juntarem-se para fazer compras em grupo», mas alerta que se corre o risco de transformá-la «numa espécie de normas clínicas». «Tratar mal um doente não é economicamente favorável ao País. Na Saúde, só se poupa apostando na qualidade», conclui. Dr. Alexandre Diniz Director: José Alberto Soares Assessora de Direcção: Helena Mourão Redacção: Andreia Pereira, Bruno Miguel Dias, Cátia Jorge, David Carvalho, Paula Pereira, Sílvia Malheiro, Susana Catarino Mendes Fotografia: Ricardo Gaudêncio (editor), Jorge Correia Luís Agenda: [email protected] Director de Produção: João Carvalho Director de Produção Gráfica: José Manuel Soares Directora de Marketing: Ana Branquinho Director de Multimédia: Luís Soares Redacção: Av. Infante D. Henrique, 333 H, 5.º 1800-282 Lisboa, Tel. 21 850 40 00, Fax 21 850 40 09, [email protected], www.jasfarma.com. 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