XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. MODULARIZAÇÃO E OS EFEITOS NO PROCESSO PRODUTIVO: UMA AVALIAÇÃO EM UMA FABRICANTE DE ÔNIBUS Fabio Antonio Sartori Piran (Unisinos) [email protected] Daniel Pacheco Lacerda (Unisinos) [email protected] Luis Felipe Riehs Camargo (Unisinos) [email protected] Carlos Frederico Viero (Unisinos) [email protected] Aline Dresch (Unisinos) [email protected] Evidências empíricas que comprovem os benefícios da utilização da modularização são escassas na literatura. Portanto, é necessário avaliar a contribuição da modularização para a melhoria da eficiência de uma área ou de um sistema produtivo, por exemplo. Nesse sentido, este estudo tem como objetivo analisar quais são os efeitos da implementação da modularização sobre a eficiência técnica do Processo Produtivo de uma fabricante de ônibus. Tais efeitos foram avaliados longitudinalmente, em um estudo de caso, com base na utilização combinada de Análise Envoltória de Dados, Análise de Variância e Avaliação do Impacto Causal em Séries Temporais (CausalImpact). Os resultados evidenciam que os efeitos da modularização sobre a eficiência são positivos. Dessa forma, a pesquisa estabelece e suporta, empiricamente, a causalidade entre a modularização e a eficiência do Processo Produtivo na empresa analisada. Palavras-chave: Modularização. Indústria automobilística. Eficiência. Eficiência técnica. Análise envoltória de dados. DEA. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 1. Introdução A modularização pode ser entendida como uma estratégia para o desenvolvimento e para a produção eficiente de produtos e processos complexos (BALDWIN, CLARK, 1997). Além disso, busca apoiar a gestão da variedade de produtos e da variabilidade de processos por meio da decomposição de produtos e processos complexos em partes mais simples. Essas partes mais simples são denominadas módulos e podem ser combinadas para gerar uma ampla variedade de produtos e de serviços (PANDREMENOS et al., 2009). A crescente tendência de adoção da modularização pelas empresas, principalmente na área automobilística, requer a ampliação e o aprofundamento de discussões sobre o tema (CABIGIOSU; ZIRPOLI; CAMUFFO, 2013). Um aspecto central na pesquisa sobre modularização é avaliar os efeitos proporcionados por tal processo nas organizações. Dentre os efeitos da modularização, a literatura aponta melhorias na produtividade e na eficiência das empresas (STARR, 2010; PATEL, JAYARAM, 2014). Apesar de a literatura citar esses resultados positivos, após extensa busca, não foram encontrados estudos de caso que evidenciem, empiricamente, essas melhorias. Assim, o objetivo central deste trabalho é observar os efeitos da modularização de produtos sobre a eficiência do Processo Produtivo de uma empresa fabricante de ônibus. Adicionalmente, a pesquisa analisa se há diferenças significativas entre os projetos de produtos modularizados ou não. Por fim, o estudo procura estabelecer a causalidade entre a modularização e a eficiência. Para contribuir com a pesquisa, foi conduzido um estudo de caso em profundidade por meio de dados primários mensurados e observados. As análises foram realizadas em uma empresa através da investigação de uma linha de produtos modularizados e de uma linha de produtos não modularizados. Observar simultaneamente essas linhas de produtos (modularizada e não modularizada) é condição essencial para melhor averiguar os efeitos da modularização sobre a eficiência. A contribuição deste artigo é, portanto, suportar empiricamente que a modularização produz efeitos sobre a eficiência à medida que viabiliza o aumento da variedade de produtos ofertados ao mercado, comprovando, dessa forma, as proposições existentes na literatura de que a modularização ajuda a resolver o trade-off entre variedade e eficiência. 2. Referencial Teórico A modularização de produção é a capacidade de combinar vários componentes em módulos, que podem ser montados fora da linha de montagem e, posteriormente, utilizados na elaboração final dos produtos (PANDREMENOS et al., 2009). Starr (1965) destaca que, ao atender as solicitações de mercado, uma empresa desenvolve um amplo portfólio de produtos, aumentando a complexidade da produção. Esse fator, por sua vez, pode levar à queda de produtividade e eficiência. Ao utilizar a modularização, a empresa pode produzir um número restrito de peças e as combinar de diferentes formas, a fim de aumentar a possibilidade de configurações de produtos, oferecendo variedade ao mercado sem aumentar custos e sem prejudicar o desempenho da produção. 2.1 Efeitos da modularização 2 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Apesar de os incrementos da produtividade e da eficiência serem apontados como efeitos esperados da modularização (STARR 1965; STARR, 2010; PATEL, JAYARAM, 2014), não se identificam estudos e medições que comprovem tais benefícios. No caso em análise, o aumento de produtividade e eficiência pode ser entendido como otimização de recursos do Processo Produtivo, com o objetivo de obter as melhores práticas na fabricação de ônibus. Buscando verificar se a modularização proporciona melhorias na eficiência, conforme apontado pela literatura, as seguintes hipóteses de pesquisa são testadas: H1a: Não existem evidências dos efeitos da modularização de produto sobre a eficiência técnica do Processo Produtivo. H1b: Existem evidências dos efeitos da modularização de produto sobre a eficiência técnica do Processo Produtivo. 3. Procedimentos Metodológicos A presente pesquisa foi realizada em uma empresa fabricante de carrocerias de ônibus que conta com aproximadamente 3.000 colaboradores e que tem produção média de 15 ônibus/dia. O mercado de fabricantes de ônibus, foco de atuação da empresa, é caracterizado pela personalização de produtos, devido à necessidade de atender diferentes requisitos dos clientes. Essa característica contribui para o aumento da variação de produtos projetados e produzidos. Nesse sentido, entende-se que a ampla possibilidade de variação de produtos e a necessidade de personalização dos clientes, aliadas à baixa escala de fabricação de componentes, tornam o ônibus um produto complexo de ser produzido. O Processo Produtivo pode ser entendido como um sistema, em que existem entradas (inputs) de recursos que são transformados em saídas (outputs) de produtos. Na empresa fabricante de ônibus estudada, os inputs do Processo Produtivo são recursos como matérias-primas, mão-de-obra direta e indireta, entre outros. Os produtos finais (outputs) são os ônibus. A produção da empresa é subdividida nos seguintes setores: Fabricação, Casulo, Chapeamento, Pintura, Acabamento, Rodagem e PDI. Para a execução das atividades, o Processo Produtivo utiliza as técnicas de modularização. Nesse contexto, esta pesquisa busca compreender se a modularização influencia a eficiência técnica do Processo Produtivo. Para tanto, a eficiência dessa área será avaliada ao longo do tempo, contemplando os períodos antes e depois do uso da modularização. A Figura 1 apresenta, sinteticamente, o desenho de pesquisa. 3 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Figura 1 - Desenho da pesquisa do Processo Produtivo Para efetuar a investigação, foram selecionados dois produtos: um modularizado e outro não modularizado. O produto não modularizado foi considerado como a variável de controle, por não ter sofrido a intervenção (modularização) cujos efeitos estão sendo investigados. O produto modularizado foi considerado como a variável de resposta, por se tratar daquele que sofreu a intervenção (modularização). Esse procedimento de considerar variáveis de controle e de resposta aumenta a confiabilidade dos resultados obtidos ao se avaliar os efeitos de uma intervenção (como a modularização) e é um processo comumente utilizado em pesquisa das áreas de economia (ABADIE, 2005), de marketing (BRODERSEN et al., 2014), de ciências da saúde (KLEINBERG, HRIPCSAK, 2011) e outras. 3.1 Projeto do modelo de análise envoltória de dados (DEA) A análise envoltória de dados (DEA) é uma abordagem de programação não paramétrica, utilizada para medir a eficiência das unidades de tomada de decisão (Decision Making Unit) que possuem múltiplas entradas e múltiplas saídas (COOK, TONE, ZHU, 2014). O objetivo da DEA é fornecer um método que, dentro de um 4 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. conjunto de unidades de tomada de decisão (DMU), possibilite identificar aquelas que formam uma fronteira eficiente. A eficiência relativa de cada DMU é definida como a razão da soma ponderada de seus produtos (outputs) pela soma ponderada dos insumos necessários para gerá-los (inputs) (SENRA et al., 2007). Para cada DMU considerada ineficiente, a DEA identifica um conjunto de referências composto por uma DMU eficiente que pode ser utilizada como referência para melhoria. Esse procedimento é conhecido como benchmarking. As Equações 1, 2 e 3 representam o modelo DEA utilizado na análise: Equação 1 – Modelo DEA Sujeito a: Equação 2 – Modelo DEA Equação 3 – Modelo DEA Onde: ui = peso calculado para o output i yi0 = quantidade do output i para unidade em análise vj = peso calculado para o input j xj0 = quantidade do input j para unidade em análise yik = quantidade do output i para unidade k de um determinado setor xjk = quantidade do input j para unidade k de um determinado setor z = número de unidades em avaliação m = número de outputs n = número de inputs Para elaborar o projeto do modelo DEA, buscou-se o apoio de profissionais especialistas da empresa (SENRA et al., 2007), como Engenheiros, Coordenador de TI, Gerente e Diretor de Engenharia e Diretor Industrial. Esses especialistas foram definidos considerando a sua experiência, o seu conhecimento sobre modularização e as suas condições de apoiar o desenvolvimento da DEA. 3.1.1 Definições do modelo de análise envoltória de dados (DEA) Como período de análise, definiu-se o intervalo de tempo de janeiro de 2011 até junho de 2014. A DMU foi definida como o lote mensal de produtos modularizados e não modularizados produzidos. O lote mensal consiste no total de produtos fabricados no período de um mês pelo Processo Produtivo. Para efetuar a listagem das variáveis a serem utilizadas no modelo DEA, buscou-se suporte na literatura. Destaca-se que as variáveis listadas foram devidamente validadas com os especialistas da empresa que auxiliaram a condução da pesquisa. Outro aspecto a ser ressaltado é que foi aplicado o método de seleção de 5 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. variáveis Stepwise, desenvolvido por Wagner e Shimshak (2007), para verificar o impacto de cada variável na eficiência total do modelo desenvolvido. Após a aplicação do método Stepwise, as variáveis consideradas não relevantes foram excluídas do modelo elaborado. As variáveis definidas para análise do Processo Produtivo e os trabalhos que serviram como base estão sintetizados no Quadro 1: Quadro 1 - Lista final de variáveis do Processo Produtivo Variável Embasamento Alumínio PARK, LEE, ZHU, 2014; COOK, 2014 PARK, LEE, ZHU, 2014; COOK, 2014 PARK, LEE, ZHU, 2014; COOK, 2014 PARK, LEE, ZHU, 2014; COOK, 2014 PARK, LEE, ZHU, 2014; COOK, 2014 JACOBS et al., 2011; NAPPER, 2014 JACOBS et al., 2011; NAPPER, 2014 NAPPER, 2014 NAPPER, 2014 DUZAKIN, DUZAKIN, 2007 Fibra Passadeira Tecidos Vidros Lead time de Fabricação Lead time de Montagem Número de itens comprados Número de itens produzidos Número de pessoas utilizadas no processo (Produção) Número de problemas técnicos reportados Número de produtos reclamados pelos clientes Quantidade de produtos produzidos TONE, ZHU, Função no Modelo Input TONE, ZHU, Input TONE, ZHU, Input TONE, ZHU, Input TONE, ZHU, Input Input Input Input Input Input JACOBS et al., 2011; FENG, ZHANG, 2014 Input JACOBS et al., 2011; FENG, ZHANG, 2014 Input COOK, TONE, ZHU, 2014 Output Cook, Tone e Zhu (2014) destacam que os recursos utilizados no processo que está sendo avaliado devem ser definidos como inputs, e que os resultados da utilização/transformação desse recursos devem ser considerados como outputs. Após discussão com os especialistas da empresa, chegou-se ao consenso de que o output a ser utilizado no modelo do Processo Produtivo seria a quantidade de produtos produzidos (ônibus). Quanto às demais variáveis, o consenso foi de que deveriam ser utilizadas como inputs, ou seja, como entradas do modelo. Com base em uma análise interna efetuada na empresa foco do estudo, decidiu-se utilizar, na pesquisa, o modelo CRS. O uso desse modelo é recomendado para cálculo de eficiência, com o objetivo de testar a habilidade do processo em evitar desperdícios de recursos na execução da produção (KLEINE, 2004). Quanto à orientação, o modelo foi orientado a input, o que é recomendado quando os recursos utilizados no processo (inputs) são mais controláveis do que as saídas (outputs) (HAMDAN, ROGERS, 2008). 3.2 Teste estatístico Análise de variância ANOVA Após a obtenção dos índices de eficiência com a DEA, utilizou-se o teste estatístico ANOVA para verificar se existiam diferenças significativas entre os índices segregados considerando os grupos de eficiência relativos aos períodos antes e depois da modularização. A fase anterior à modularização contempla as DMU’s correspondentes aos meses de janeiro de 2011 a outubro de 2013. O período pós-modularização contempla as 6 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. DMU’s correspondentes aos meses de novembro de 2013 a junho de 2014. Como parâmetro, e com base em Hair et al. (2005), estabeleceu-se um intervalo de confiança de 95%, no qual o p-value deve ser menor ou igual a 0,05 (p-value ≥ 0,05) para se afirmar que existe diferença significativa entre as médias. Destaca-se que também foram efetuadas análises para validar o cumprimento dos pressupostos para utilização da ANOVA. Tais testes são: i) normalidade dos dados (Shapiro Wilk) e; ii) homogeneidade dos dados (teste de Levene). 3.3 Análise de uma Inferência Causal em Séries Temporais Os dados primários mensurados longitudinalmente através da análise envoltória de dados (DEA) caracterizam-se em uma série temporal. Uma inferência causal pode ser compreendida como uma intervenção em uma série temporal (BRODERSEN et al., 2014). A análise da inferência causal em uma série temporal é uma forma de medir o efeito de uma causa. Buscando auxiliar gestores e pesquisadores nessas avaliações, Brodersen et al., (2014) apresentam a técnica CausalImpact. Os autores exemplificam a aplicação da técnica analisando o efeito ocasionado por uma campanha publicitária de um dos anunciantes da Google nos EUA. A pesquisa avalia os efeitos causais relacionados à frequência com que um usuário da internet era direcionado ao site do anunciante a partir da página de pesquisa da Google. O estudo também estima como teriam se comportado os cliques nas páginas do mesmo anunciante caso a campanha publicitária não tivesse sido desenvolvida. Esse mesmo procedimento é utilizado para avaliar os efeitos da modularização na eficiência técnica do Processo Produtivo. 3.4 Coleta de dados Os dados relativos à quantidade de produtos fabricados e analisados na pesquisa estão sintetizados na Tabela 1: Tabela 1 - Quantidade de produtos avaliados na pesquisa Período 2014 (jan/jun) 2013 (jan/dez) 2012 (jan/dez) 2011 (jan/dez) TOTAL GERAL Quantidade produzida produto modularizado 211 500 450 645 1.806 Quantidade produzida produto não modularizado 148 296 300 401 1.145 Quantidade total produzida no período 359 796 750 1.046 2.951 4. Análise de Resultados A análise dos resultados foi conduzida considerando o comportamento da eficiência do Processo Produtivo, tanto do produto modularizado quanto do não modularizado. Além disso, foi possível verificar os resultados obtidos por meio do teste de hipóteses. O Gráfico 1 ilustra os dados referente à eficiência do produto modularizado. A análise possibilita visualizar a tendência da evolução dos escores de eficiência ao longo do tempo, e está segregada ao período de transição 7 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. (linha destacada na cor laranja), ou seja, ao período em que o produto passou de integral para modular na empresa. 8 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Gráfico 1 - Evolução de eficiência do produto modularizado Por meio da análise do Gráfico 1, pode-se constatar uma tendência de evolução da eficiência após a utilização da modularização no Processo Produtivo. Percebe-se que os escores de melhor desempenho na eficiência estão localizados no período posterior à modularização (Nov/2013 a Jun/2014). No que diz respeito à abordagem do produto não modularizado foram executados os mesmos procedimentos, sendo que a eficiência do produto está ilustrada no Gráfico 2. Gráfico 2 - Evolução de eficiência do produto não modularizado A série temporal relativa ao produto não modularizado mostra que os melhores escores de eficiência foram obtidos nas DMU’s do período anterior à modularização, referentes ao ano de 2011. O aumento da eficiência 9 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. percebido no produto modularizado e o não aumento da eficiência do produto não modularizado sugerem que houve efeitos relativos ao aumento da eficiência no Processo Produtivo, e que existem evidências de que esse incremento pode ser atribuído à implementação da modularização. Além disso, foram efetuados testes estatísticos para comprovar os efeitos observados. 4.1 Teste estatístico ANOVA no Processo Produtivo Os resultados dos testes de normalidade dos dados (Shapiro Wilk) e de homogeneidade (teste de Levene) mostram que os pressupostos para utilização da ANOVA foram atendidos. Dessa forma, os cálculos da ANOVA foram efetuados e são mostrados na Tabela 2: Tabela 2 - Eficiência média do produto modularizado Período Antes da modularização Depois da modularização Diferença das eficiências (amplitude) F p-value Eficiência média Composta do produto modularizado 0,501 0,533 0,032 6,425552 0,015264 Eficiência média Composta do produto não modularizado 0,498 0,497 -0,001 0,063992 0,80159 Quanto ao produto modularizado, pode-se observar, na Tabela 2, que houve um aumento de 0,032 na eficiência do Processo Produtivo na comparação dos períodos. O escore de F das médias dos períodos considerado no projeto modularizado, que é de 6,425552, e o p-value de 0,015264, permitem afirmar que a diferença detectada é significativa. Dessa forma, é possível rejeitar a hipótese H1a (não existem evidências dos efeitos da modularização sobre a eficiência técnica do Processo Produtivo) e aceitar a hipótese H1b (existem evidências dos efeitos da modularização sobre a eficiência técnica do Processo Produtivo). Quanto ao produto não modularizado, observa-se uma variação de - 0,001 entre os períodos antes e depois da modularização. No entanto, o F de 0,063992 e o p-value de 0,80159 não permitem afirmar que houve diferença entre as médias dos períodos. Nesse sentido, entende-se que a eficiência do produto não modularizado não apresentou variação significativa (nem para melhor, nem para pior) nos períodos pré e pós-modularização. Em resumo, nos dados expostos no Gráfico 1, observa-se um aumento de eficiência do produto modularizado no período posterior à modularização, tendência não apresentada pelo produto não modularizado (Gráfico 2). Também com base nos testes ANOVA, em que o produto modularizado apresenta maior média de eficiência no período posterior à modularização, entende-se que a melhoria do Processo Produtivo observada ao longo do tempo pode ser atribuída à implementação da modularização. 4.2 Dimensionamento dos efeitos da modularização no Processo Produtivo Com a técnica da análise envoltória de dados (DEA) foi possível verificar o efeito da modularização no Processo Produtivo da empresa estudada. No entanto, a técnica não permitiu dimensionar com precisão a amplitude do 10 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. efeito observado, visto que não é possível visualizar como se comportaria a eficiência do produto modularizado nos períodos de novembro de 2013 a julho de 2014 (período posterior à modularização) se a empresa não tivesse implementado a modularização na Produção. Para efetuar esse dimensionamento, analisa-se o impacto causal provocado por um tratamento com a utilização da ferramenta CausalImpact. O impacto causal de um tratamento em uma série temporal pode ser entendido como a diferença entre o valor de resposta observado e o valor que seria obtido sem a utilização do tratamento (BRODERSEN et al., 2014). Neste estudo, o tratamento pode ser entendido como a modularização. Assim, o impacto causal é a diferença entre os escores de eficiência obtidos após a implementação da modularização e os escores de eficiência que seriam obtidos se a modularização não tivesse sido implementada. Entende-se que os escores de eficiência obtidos após a implementação são conhecidos, pois foram calculados nesta pesquisa com a utilização da DEA. Contudo, os escores de eficiência que seriam obtidos caso a modularização não tivesse sido implementada não são conhecidos e, assim, serão calculados pela técnica de análise do efeito de uma inferição causal em séries temporais com a utilização da ferramenta CausalImpact. Para utilizar o CausalImpact é necessário um conjunto de dados relativos a uma série temporal de controle. A série temporal de controle é um conjunto de dados que não sofreu nenhum tratamento. Nesta pesquisa, a série de controle é representada pela eficiência do produto não modularizado ao longo do tempo. Além da série temporal de controle, a técnica necessita de uma série temporal de resposta, ou seja, de um conjunto de dados que sofreu um tratamento. Neste estudo, a série temporal de repostas é representada pela eficiência do produto modularizado ao longo do tempo. Destaca-se que o tratamento pode ser compreendido como a modularização. A partir das variáveis de controle (série não afetada pelo tratamento) e de resposta (série afetada pelo tratamento), e do histórico da variável de resposta no período anterior ao tratamento, a ferramenta CausalImpact efetua cálculos estatísticos que incluem o efeito médio absoluto e o efeito relativo provocado pela intervenção (BRODERSEN et al., 2014). A Figura 2 ilustra o comportamento da eficiência técnica do projeto modularizado ao longo do tempo. Figura 2 - Efeito da modularização no Processo Produtivo 11 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Ao analisar a Figura 2, deve-se considerar que o comportamento “original” contempla o comportamento atual da eficiência técnica do produto modularizado e a projeção desse comportamento caso o produto não tivesse sido modularizado. O comportamento atual, ilustrado pela linha preta, é o mesmo comportamento da eficiência já apresentado em gráficos anteriores. A linha pontilhada entre as DMU’s 30 e 40 representa o ponto em que a série sofreu o tratamento, ou seja, o momento em que foi modularizada. A linha sombreada em azul representa as variações da eficiência ao longo do tempo considerando o período anterior à modularização. A linha azul pontilhada representa o comportamento médio da série de eficiência antes da modularização e estima o comportamento depois da modularização. Portanto, ao analisar o comportamento “original” da série temporal com base na estimativa do período posterior à modularização, deve-se considerar que o comportamento da eficiência atual, marcada pela linha preta que está acima da parte sombreada em azul, é o ganho de eficiência obtido com a implementação da modularização no Processo Produtivo. Caso a modularização não tivesse sido implementada, a variação da eficiência teria permanecido dentro da linha sombreada em azul, e não acima, como observado. Quanto ao comportamento da série de eficiência na Figura 2, como “pointwise” a técnica estima o comportamento do efeito em um intervalo de confiança de 95%. Assim, a linha sombreada em azul mostra como seria a variação para cima e para baixo dentro desse intervalo. Na Tabela 3 está sintetizada a amplitude dos efeitos da implementação da modularização do produto no Processo Produtivo. Tabela 3 - Efeito da modularização no Processo Produtivo Comportamento da eficiência Cenário atual (modularizado) Cenário confractual (caso não modularizasse) Efeito absoluto Efeito relativo Probabilidade do efeito causal Eficiência média 0,533 0,501 0,032 6,3% 99,88901 Ao analisar os resultados dispostos na Tabela 3, pode-se observar o cenário atual, ou seja, a média da eficiência do projeto modularizado no período posterior à modularização, que é de 0,533. Também é possível observar o cenário confractual do mesmo período, ou seja, o comportamento da eficiência composta do Processo Produtivo caso a modularização não tivesse sido implementada. Nesse sentido, se a modularização não tivesse sido implementada, a média de eficiência composta do período considerado posterior à modularização seria de 0,501. Pode-se concluir, assim, que a implementação da modularização no Processo Produtivo gerou um incremento de 0,032 na eficiência composta da Produção. Também é possível observar o efeito relativo, que contempla um aumento de 6,3%. Destaca-se, ainda, que a probabilidade do efeito causal foi de 99,88901%, ou seja, acima dos 95% estipulados como premissa para o modelo. 5. Conclusões 12 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Esta pesquisa objetivou avaliar os efeitos da modularização de produtos sobre a eficiência técnica do Processo Produtivo de uma empresa fabricante de ônibus. Para cumprir o objetivo proposto, foi realizado um estudo de caso em uma empresa brasileira fabricante de ônibus. Os resultados apontam evidências de que a modularização auxiliou, de fato, a melhorar a eficiência do Processo Produtivo da empresa. Apesar de muitos estudos citarem a adoção da modularização como benéfica, são escassas as pesquisas empíricas que comprovam esse fato. Nesse sentido, entende-se que este estudo apresenta contribuições significativas para a teoria, pois mostra evidências empíricas dos benefícios proporcionados pela modularização. Sob a ótica da empresa, o presente trabalho também é relevante, pois a medição efetuada comprova os benefícios esperados com a implementação da modularização. Ressalta-se que tais benefícios ainda não haviam sido medidos pela organização. Para pesquisa futuras, sugere-se que sejam feitas análises que contemplem os efeitos da modularização sob o ponto de vista econômico. Nessa perspectiva a eficiência em custos, conhecida como eficiência alocativa na análise envoltória de dados, pode ser investigada em empresas que utilizam a modularização. REFERÊNCIAS ABADIE, Alberto. Semiparametric difference-in-differences estimators. The Review of Economic Studies, v. 72, n. 1, p. 1-19, 2005. BALDWIN, C. Y.; CLARK, K. B. Managing in an age of modularity. Harvard Business Review, v. 75, p. 8493, 1997. 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